ÁREADEPROJECTO: UMA EXPERIENCIADEEDUCA9AO … · como qualitativa, com base no paradigma des...

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REVISTA GALEGO-PORTUGUESA DE PSICOLOXIA E EDUCACIÓN 9 (Vol. 11) Ano 8°-2004 ISSN: 1138-1663 ÁREA DE PROJECTO: UMA EXPERIENCIA DE EDUCA9AO SEXUAL NA ESCOLA Helena Maria de Oliveira Gonralves Escola l EB 2,3 de Lamafiies (Braga) Judite Maria Zamith-Cruz Universidade do Minho 2 Instituto de Estudos da Crianfa (Braga) RESUMO A presente comunica<;ao relata urna experiencia de Educa<;ao Sexual, realizada na Área de Projecto com alunos do ano de escolaridade do Ensino Básico, no ano de 2001/2002, na Escola de Ensino Básico EB 2,3 de Lama<;aes, em Braga, Portugal. Os objectivos da interven<;ao foram os seguintes: (1) Ampliar e consolidar saberes em Educa<;ao Sexual, numa perspectiva de desenvolvimento e de promo<;ao da saúde e bem-estar psicológico; (2) Fomentar atitudes de aceita<;ao de orienta<;6es sexuais e consoli- dar o auto-conhecimento, em termos de mudan<;as (e estabilidade) psico-fisiológicas, próprias da idade; (3) Reflectir sobre cren<;as e valores, com que as diferentes sociedades encararam e encaram sexualidade, amor, reprodu<;ao e rela<;ao entre sexos; (4) Aprofundar conhecimentos sobre tipos de 1Instituirao da primeira autora: Escola EB 2,3 de Lamaraes Rua Egídio Guimaraes - 4710 Braga. Portugal E-mail de contacto: [email protected] 2Instituirao da segunda autora: Universidade do Minlzo - Instituto de Estudos da Crianra Avenida Central n. o 100 - 4710 Braga Portugal E-mail decontacto:judite 7 [email protected] abusos sexuais e estratégias de agressores; e (5) Dar a conhecer, preventivamente, riscos relacionados com a saúde sexual e reproduti- va. Realizaram-se actividades estruturadas, ao langa do ano lectivo, que passaram por pes- quisa bibliográfica, debates em grande e pequeno grupo, jogos dramáticos, procuran- do-se estabelecer transversalidade com outras áreas curriculares, nomeadamente, Ciencias da Natureza, Portugues, Educa<;ao Visual e Tecnológica e Educa<;ao Moral e Religiosa. Alcan<;ou-se como produto final a elabo- ra<;ao de um texto e posterior encena<;ao de urna pe<;a de teatro «História de urna miúda, que foi vítima de abuso sexual», apresentada a comunidade escolar. 311

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REVISTA GALEGO-PORTUGUESA DEPSICOLOXIA E EDUCACIÓN

N° 9 (Vol. 11) Ano 8°-2004 ISSN: 1138-1663

ÁREA DE PROJECTO: UMA EXPERIENCIA DE EDUCA9AOSEXUAL NA ESCOLA

Helena Maria de Oliveira Gonralves Escolal

EB 2,3 de Lamafiies (Braga)Judite Maria Zamith-Cruz Universidade do Minho2

Instituto de Estudos da Crianfa (Braga)

RESUMO

A presente comunica<;ao relata urnaexperiencia de Educa<;ao Sexual, realizada naÁrea de Projecto com alunos do 6° ano deescolaridade do Ensino Básico, no ano de2001/2002, na Escola de Ensino Básico EB2,3 de Lama<;aes, em Braga, Portugal.

Os objectivos da interven<;ao foram osseguintes: (1) Ampliar e consolidar saberesem Educa<;ao Sexual, numa perspectiva dedesenvolvimento e de promo<;ao da saúde ebem-estar psicológico; (2) Fomentar atitudesde aceita<;ao de orienta<;6es sexuais e consoli­dar o auto-conhecimento, em termos demudan<;as (e estabilidade) psico-fisiológicas,próprias da idade; (3) Reflectir sobre cren<;as evalores, com que as diferentes sociedadesencararam e encaram sexualidade, amor,reprodu<;ao e rela<;ao entre sexos; (4)Aprofundar conhecimentos sobre tipos de

1Instituirao da primeira autora: Escola EB 2,3 de LamaraesRua Egídio Guimaraes - 4710 Braga. PortugalE-mail de contacto: [email protected]

2Instituirao da segunda autora: Universidade do Minlzo ­Instituto de Estudos da CrianraAvenida Central n. o 100 - 4710 BragaPortugalE-mail decontacto:judite 7 [email protected]

abusos sexuais e estratégias de agressores; e(5) Dar a conhecer, preventivamente, riscosrelacionados com a saúde sexual e reproduti­

va.

Realizaram-se actividades estruturadas, aolanga do ano lectivo, que passaram por pes­quisa bibliográfica, debates em grande epequeno grupo, jogos dramáticos, procuran­do-se estabelecer transversalidade com outrasáreas curriculares, nomeadamente, Cienciasda Natureza, Portugues, Educa<;ao Visual eTecnológica e Educa<;ao Moral e Religiosa.

Alcan<;ou-se como produto final a elabo­ra<;ao de um texto e posterior encena<;ao deurna pe<;a de teatro «História de urna miúda,que foi vítima de abuso sexual», apresentada acomunidade escolar.

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INTRODUf;Jo

No ano Lectivo de 2001/2002, em Braga ­Portugal, na Escola de 2° e 3° Ciclos doEnsino Básico de Lamac;aes, realizou-se umTrabalho de Projecto em Investigac;ao-Acc;ao­Educa~ao Sexual, circunscrito a Área deProjecto, numa turma de 6° ano de escolarida­de, constituída por 28 alunos.

A investigac;ao empreendida assumiu-secomo qualitativa, com base no paradigma des­critivo e analítico/interpretativo do Projectoconsolidado.

o objectivo geral da Área de Projecto é oenvolvimento dos alunos na concepc;ao, reali­zac;ao, participac;ao e avaliac;ao de Projectos,permitindo-Ihes articular saberes de diversasáreas curriculares, em torno de problemas deintervenc;ao e de investigac;ao. No projecto«Educac;ao para a sexualidade», além dosobjectivos específicos dessa área curricularnao disciplinar, enquadraram-se as seguintesintenc;6es: (1) Desenvolvimento de competen­cias pessoais-sociais (expressao e comuni­ca~ao públicas, auto-estima... ); (2) Trabalhoem equipa, o que implica resoluc;ao e gestaDde conflitos, tomada de decis6es; (4)Promo~ao da aplicac;ao de saberes de formacontextualizada; (5) Aprofundamento dos sig­nificados pess?ais e sociais da aprendizagemsobre sexualidade, nomeadamente na sua ver­tente de saúde sexual e reprodutiva; e (6)

Cria~ao de espírito de interven~ao, reflexao einvestiga~ao, por recurso a express6es artísti­cas e tecnologias da informa~ao e da comuni­ca~ao.

Após a explorac;ao teórico-prática dossaberes implicados em diferentes disciplinas,pretendeu-se a sua integra~ao e relacionamen­to no Trabalho de Projecto adiante apresenta­do.

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1. EDUCA9AO SEXUAL NA ESCOLAPORTUGUESA

Falar de Educac;ao Sexual na educac;aoformal nao é abordar, apenas, a vertentebiológica, mas também componentespsicossociais, culturais e éticas envolvidas,para urna abordagem interdisciplinar(MINISTÉRIO DA EDUCA<;ÁO E MINIS­TÉRIO DA SAÚDE, 2001; MINISTÉRIODA EDUCA<;ÁO 2000).

A Educac;ao Sexual constitui, também, umdesafio educativo, na medida em que énecessário questionarmos os nossos própriosvalores, atitudes e tabus, dependentes danossa idade, classe social, sexo, cultura,ausencia/presenC;a de experiencias sexuais eda forma como encaramos a própriasexualidade (Lopez & Fuentes, 1993; Moita &Santos, 1998). Nós, professores, naopretendemos suscitar conflitos de valores nosalunos, mas sim alargar perspectivas deliberdade, tolerancia e respeito pelo outro,urna posic;ao delicada e difícil.

Quando nos referimos a sexualidade,entendemo-Ia como libido e sensualidade, queinfluencia o equilíbrio biopsicológico e arelac;ao com o outro, de acordo com aexpressao de Júlio Machado Vaz (1996):

(... ) a energia que nos motiva a procuraramor, contacto, ternura e intimidade, que seintegra no modo como nos sentimos, nosmovemos, nos tocamos e somos tocados; éser-se sensual e, ao mesmo tempo, sexual;influencia pensamentos, sentimentos, acriJes einteracriJes e, por isso, influencia também anossa saúde física e mental (Vaz, 1996).

Falamos das vertentes biológica (seres comcorpo sexuado), psicológica (identidade degenero, atitudes e comportamento, orienta~aosexual, auto-imagem, relac;6es afectivo­sexuais...), social (normas e modelos) e, aindareligiosas e culturais (valores).

A sexualidade depara-se com percal~os,

evitáveis e inevitáveis. Inevitáveis sao os queresultam da própria complexidade dos afectose emo<;oes, das expectativas e das frustra<;oes«sentimentais», dos amores e desamores e daforma como vamos vivenciando (desdecrian<;as) os cambiantes emocionais referidos.Evitáveis sao, por exemplo, as gravidezes naodesejadas na adolescencia, os abortosclandestinos (muito vezes fruto de gravidezesescondidas, um grave problema de saúde), asdoen<;as sexualmente transmissíveis (DST),nomeadamente a SIDA, e os abusos sexuaisde menores.

A Educa<;ao Sexual tem como grandefinalidade ajudar as crian<;as e os jovens atomarem decisoes livres e responsáveis nasrela<;oes humanas e a desenvolverem umsentido «positivo» de si próprios.

2 METODOLOGIA

A Investiga<;ao-Ac<;ao (Lewis, 1946;Corey, 1953) constitui a metodologiapreferencial para um Trabalho de Projecto, ummétodo e modo de trabalho na escola, em quese mesclam ac<;ao e pesquisa. O escrutínioprático de situa<;oes críticas (ex.: sexualidadena adolescencia) e de alternativas identificamodelos de investiga<;ao «para discernirmodelos, sujeitos a limita<;oes». Saoinvestiga<;6es dirigidas a finalidades activas eformativas, participadas e realizadas emcolabora<;ao.

Na escola portuguesa, nao existe urnaprática consequente de Educa<;ao Sexual.

Intencionalmente dirigidas a promover a«inteligencia» de alunos e/ou professores, aInvestiga<;ao-Ac<;ao consuma a aproxima<;ao«crítica» ainvestiga<;ao educativa - CienciaEducativa Crítica (Tesch, 1990, p. 48), queprocure dar vida aInvestiga<;ao-Ac<;ao comoempowerment (Carr & Kemmis, 1986). Esse eoutros modelos posteriores a concep<;ao de

Investiga<;ao-Ac<;ao sao dirigidos aomelhoramento e ao meio envolvente (Carr &Kemmis, 1986). Melhoranlento relaciona-secom urna situa<;ao (portuguesa) em que umaprática social é corrente (ex.: abuso sexual) eos intervenientes tem uma compreensaoacrescida dessa prática. Também a Ciéncia­Ac<;ao (Angyris et al., 1985; Schon, 1983)consuma urna forma de Investiga<;ao-Acs;ao(Schwandt, 1997) em que sao realizadasobservas;oes «reais», simulas;6es,entrevistas/textos escritos, experiéncias deac<;ao, relatos e casos passados ao papel. Porsua vez, a Investigas;ao em Colaboras;ao émais urna prática de discurso do que umametodologia de investigas;ao. Exige aestabilidade do grupo, ao langa do tempo. Emtodas as práticas reflexivas destacadas ­Investiga<;ao-Ac<;ao (Emancipatória) - seorganiza urna «investiga<;ao emcolabora<;ao/ac<;ao», ou seja, se intentamelhorar processos em cooperas;ao com osactores sociais (Tesch, 1990, p. 50).

Em termos de implicas;6es educativas, aPedagogia de Projecto (Castro & Ricardo,2002) tem por objectivo último transformarum problema em projecto e concretizá-lo. OTrabalho de Projecto constitui um método detrabalho, que requer a participas;ao de cadainterveniente, de acordo com as suaspossibilidades, com o objectivo de efectuaralgo em conjunto, sendo decidido, planificadoe organizado de comum acordo (Thines &Lempereur, 1984). Procura-se resolver umproblema pertinente, para os seus membros,constituindo um momento para novasaprendizagens e ter uma ligas;ao asoc iedadeem que os alunos vivem.

Dividiu-se o Projecto de Educas;ao Sexualem duas partes: (1) organizas;ao do trabalho erecolha da informas;ao e formas;ao necessá­rias, acria<;ao de urna produs;ao estética - dra­matiza<;ao de urna história; e (2)Dramatiza<;ao e resolus;ao de eventuais pro­blemas decorrentes.

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Os alunos do 6° ano de escolaridade defini­ram grande parte dos problemas abordados,escritos sub-temas, proposta e seleccionada aacc;ao em drama... Constituíram-se (sub-)gru­pos, segundo dinamicas, ritmos e concepc;6esde encenac;ao. Efectuou-se o levantamento demateriais e recursos existentes na escola; recol­heu-se informac;ao e adquiriu-se conhecimento;planearam-se encontros entre os elementos dosgrupos, dentro/fora da sala de aula e em temposextra-escolares; dividiram-se tarefas e papéis;elaboraram-se textos individuais e o textocolectivo; apresentaram-se trabalhos.

No final dos dois primeiros períodos,alcanc;ou-se o ponto da situac;ao, isto é, a ava­liac;ao do processo inicial e intermédio. Nofinal da representac;ao pública, sugeriu-se o seucomentário e discussao ampla.

3. MÉTODO DE TRABALHO DEPROJECTO - ACTNIDADES DESENVOL­VIDAS AO LONGO DO ANO LECTNO

Foram realizadas oito actividades, divididasem diversas sess6es, durante o 1° e o 2° perío­dos. No 3° período, criou-se urna encenac;aocolectiva de urna pec;a de teatro, subordinadaao tema «abuso sexual», seleccionada pelosalunos - «História de urna menina, que foi víti­ma de abuso sexual». O texto dramático foirecriado por eles, a partir de urna narrativa emlíngua estrangeira e com contexto diverso.

3.1. Desenvolvimento de competencias pesso­

ais e sociais

De acordo com os objectivos específicosdefinidos, o desenvolvimento de competenciaspessoais-sociais integrou a expre-ssao/comuni­cac;ao públicas da seguinte forma explícitas: (1)Apresentar-se e relacionar-se, com intimidade;(2) Falar e ouvir, atentamente; (3) Respeitar econfiar nos outros; (4) Trocar perspectivas ecooperar em grupo; (5) Expressaremoc;6es/sentimentos, defendendo os seus pon­tos de vista; (6) Conhecer o corpo (saber utili-

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zá-Io, com adequac;ao, harmonia, flexibilida­de... ); e (7) Identificar diferenc;as corporais.Nao se descurou outro objectivo, abrangente daexplorac;ao de atitudes de aceitac;ao deopc;6es/orientac;6es sexuais e do aprofunda­mento do (auto-)conhecimento, para momentosde estabilidade e de mudanc;a física e psicológi­ca, partilhados na idade.

3.1.1. Preparafiio - primeiras actividades dediagnóstico

No primeiro período, foram realizadas acti­vidades conducentes ao diagnóstico dos conhe­cimentos, competencias e atitudes depré-adolescentes, face aEducac;ao Sexual.

Na primeira actividade, deu-se início aapre­sentac;ao de situac;6es, nem sempre identifica­das como relacionadas com Educac;ao Sexual(Davis, sem data). Foram fornecidas fichas detrabalho individual, com situac;6es problemáti­cas, que deviam ser avaliadas como relaciona­das (ou nao) com Educac;ao Sexual, de acordocom os exemplos:

• «Durante urna aula de Ciencias da Natureza,a professora omite ou evita falar sobre osórgaos sexuais externos, dos sistemas repro­dutores humanos.»;

• «No recreio da escola, o Luís chora rodeadopor colegas, porque caiu e raspou os joelhos.Aproxima-se urna funcionária que, depoisde verificar os ferimentos, lhe diz o seguin­te: «Nao foi nada, vamos lá tratar disso, maspára de chorar, porque um homem nao chorae nao queremos cá mariquinhas!»;

• «Numa aula, um aluno pergunta aprofesso­ra:

• Ó Stora, viu ontem aquilo que deu no tele­jornal, sobre a prostituic;ao de crianc;as?

• A professora responde:

• Por acaso até vi, mas agora nao é a alturamais oportuna para falar do assunto. Sequiseres, no intervalo, podes colocar algu­ma dúvida que te tenha surgido ou, estandoos teus colegas de acordo, podemos reser­var algum tempo da próxima aula paradebater essa questao.».

Posteriormente, efectuou-se um debate econfronto das respostas individuais, tendo aprofessora a func;ao de moderadora.Pretendeu-se levar os alunos as suas própriasdefinic;6es de Educac;ao Sexual.

Na Actividade número dois, colocou-se aquestao: «O que é a sexualidade?». Fez-seurna recolha de noc;6es prévias dos alunos epromoveu-se a discussao das suas opini6es,quando nao consensuais.

Foi efectuada a divisao da turma em gruposde trabalho, para a elaborac;ao de quest6esanónimas sobre o tema que, posteriormente,foram colocadas numa «caixa de perguntas»,a responder.

A actividade seguinte (terceira) foiconstituída por um jogo de apresentac;ao ­«Quebra gelo» - role play e dramatizac;6es,que consistiram na simulac;ao de breves casosou histórias, concebidos de notícias dejornais, revistas, etc .. Intervém um númerosempre variável de personagens. Assimulac;6es nao podiam ser longas (cerca de 5minutos) e completavam-se com debate, empequeno ou em grande grupo. Os actores erampersonagens e público, altemadamente.

A partir destas actividades lúdicas,ampliaram-se concepc;6es dos alunos sobresexualidades, que foram o quadro de referenciapara o confronto com as posic;6escientificamente aceites e para a avaliac;ao dosprogressos, em termos de competenciaspessoais-sociais dos alunos.

Os materiais utilizados foram fichas de

trabalho, vídeos da Associac;ao para oPlaneamento da FamIlia (<<Jogos de crescer» e«Ah! Entao é assim») e livros de consulta - «Sópara jovens: Juventude, afectos e sexualidadede Nuno Miguel e Ana Maria ABen Gomes(1989), «Enciclopédia da vida sexual- 10/13»(Kahn et al., sem data), «Já te apareceu operíodo?» (Thompson, 1980, trad. port. semdata), entre outros.

Estas actividades constituíram odiagnóstico dos sub-temas que suscitamcuriosidade, hesitac;ao e dúvida nos jovens, afim de ser feita a selecc;ao dos assuntos maisrelevantes para a turma.

3.1.2. Desenvolvimento dos sub-temas selec­cionados

Ao langa do segundo período, foramseleccionados tres sub-temas: «Express6es dasexualidade», «Papéis sexuais» e «O corpo emcrescimento».

De acordo com os objectivos específicosdefinidos, procurou-se continuar a desenvolvero trabalho em equipa, o que implica resoluc;aode conflitos e tomada de decis6es.

Na actividade subsequente (identificadacom o número quatro), após urna introduc;aoteórica de algumas das manifestac;6es desexualidade, ao langa da nossa vida, consoantea fase etária em que nos encontramos,solicitou-se aos alunos, que referissemmanifestac;6es sexuais na infancia, naadolescencia e na idade adulta, sendo colocadaa questao seguinte: «Como nos manifestamos,sexualmente?».

Foram dados alguns exemplos: Mamar,chupar nos dedos até aos tres anos; manipularos órgaos genitais, dos tres aos cinco anos;«beijos roubados» e apalpoes, dos seis aos dozeanos; carícias erotizadas, petting (amimar,acarinhar), dos treze aos dezoito anos; relac;6essexuais...

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Primeiro, em pequenos grupos de trabalho e,depois, em grande grupo, elaborou-se urnalistagem de todas as manifesta96es desexualidade (consideradas pelos alunos),fazendo a análise da categoriza9ao e salientandoque existem diversas formas de nosmanifestarmos sexualmente; as diferentesexpress6es da sexualidade podem estarintegradas numa ou mais fases etárias; todas asexpress6es da sexualidade podem ser aceites,desde que nao colidam com direitos dos outros;as express6es da nossa sexualidade fazem partedo nosso crescimento e devem ser encaradas deurna forma positiva.

A actividade cinco partiu da divisao da turmaem pequenos grupos de trabalho e foi feito olevantamento de outra questao: «Quem faz oque em minha casa?».

Foi fornecida urna ficha de observa9ao, parapreenchimento individual, com quest6es diver­sas sobre as tarefas desempenhadas em casa,pelo pai e pela mae, como por exemplo: «Emcasa, a minha mae faz...»; «Em casa, o meu paifaz ...».

Depois da recolha de toda a informa9ao,foram analisados os dados. A ila9ao foi que, namaioria das famílias, é a mae quem realiza amaior parte das tarefas domésticas e cuida dosfilhos. Solicitou-se aos alunos a reflexao sobreas causas para tal facto, tendo em atenc;ao valo­res sócio-culturais em Portugal. Novamente, foicolocada urna questao: «Será assim em todas associedades?».

Através de investiga9ao em livros, revistas,filmes, telenovelas e publicidade, encontraram­se diferenc;as nos papéis desempenhados porambos os sexos, ao longo de sucessivas épocashistóricas e culturais, em múltiplas sociedades ereligi6es. Foi elaborado urna pesquisa, salien­tando os seguintes aspectos: Papel do homem,em casa, no trabalho e em sociedade; papel damulher em casa, no trabalho e em sociedade.Como produc;ao resultante, efectuou-se a elabo-

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ra9ao de desdobráveis, distribuídos a colegas,professores, pais e encarregados de educa9ao.

Este trabalho foi concretizado com a inter­ven9ao dos professores das disciplinas deHistória e Geografia de Portugal e de Educa9aoVisual e Tecnológica.

No final do segundo período, realizou-seurna actividade relativa aos papéis de homem ede mulher, que mantém urna rela9ao amorosa.Com esse intuito, foi analisado o livro Ocavaleiro da Dinamarca (Andersen, 2000, 5a

ed.), de onde foram retirados extractos de duas«narrativa romantica» - as história amorosas deVanina e Guidobaldo e de Beatriz e Dante(Dante Alighiéri). O grupo reflectiu, nosseguintes aspectos: «Quais os papéis daspersonagens femininas?»; «Quais os papéis daspersonagens masculinas?»; «Quem decide ahistória - o homem ou a mulher?»; «Que valor éconferido ao respeito mútuo?»; «Qual é oretrato físico e o retrato psicológico daspersonagens?».

No terceiro sub-tema, «O corpo emcrescimento» (ASSOCIAc;Ao PARA OPLANEAMENTO DA FAMÍLIA, 2000; Fradeet al., 1995; Sanders & Swinden, 1995)efectuaram-se aC96es conducentes ao apoio aconstru9ao de um sentido «positivo» de simesmo auto-estima e autoconceito«positivos». Os alunos foram confrontados coma reflexao sobre «Quem sou eu?», «Como meapresento, fisicamente?», «De que gosto maisem mim?», «De que gosto menos em mim?»...

Posteriormente, foi dada enfase atomada dedecis6es sobre mim mesmo(a), realizadosContratos, para a mudan9a.

Relativamente ao crescimento e auto­imagem sexuada (Actividade n.o 6), os pré­adolescentes trouxeram fotografias deinfancia, com vista a servirem de reflexaosobre a forma como mudaram. Ascaracterísticas em que se incidiu foram, entre

outras, «gordo»/«magro», «giro»/«chato»,

«alto»/«baixo»...

A turma foi dividida em quatro gruposmistos, em que dois grupos se dedicaram aoestudo do «corpo feminino» (mulher,rapariga, menina... ) e outros dois grupos ao«corpo masculino» (homem, rapaz, menino,bebé, embrüio, feto... ).

Desenharam os contornos do corpo de umaluno, por grupo, em papel de cenário, após oque foi completado com órgaos e caracteressexuais externos, diferenciados nos doissexos, para diferentes etapas de crescimento.

A apresenta9ao do trabalho dos grupos foianalisada em conjunto, avaliadastransforma90es ocorridas e apontadas, até aofim da puberdade. A clarifica~ao peloprofessor de dúvidas e hesita~oes surgidas,ocorreu nessa fase dos trabalhos.

o objectivo tra~ado de aprofundamentodos significados pessoais e sociais daaprendizagem sobre sexualidade,nomeadamente na sua vertente de saúde físicae psicológica foi alcan~ado, quando sesalientou o relacionamento interpessoal,através da actividade n.o 7 (<<Manifesta~ao desentimentos») e da actividade n.o 8(<<Cuidados de higiene com o meu corpo»).

Nesse ambito, no que diz respeito asétimaactividade, pensou-se em «pessoassignificativas» (namorado/a, amigo/a,marido/mulher - papéis), «o que é urnafamília?», as novas famílias, qualidades deum amigo; conviver com os amigos e respeitopelo outro.

Para essa actividade, foi escrito no quadro ­«Amizade», «Amor» e «Sexualidade», sendopedida a escrita de palavras associadas eelabora~ao de esquemas/diagramas. Foiefectuada a constru9ao de conceitos

definidores dos termos identificados pelogrupo/turma, a partir das palavrasdescobertas. Conceberam-se cartas comtermos-chave: Amor (pedido de namoro,manifesta9ao de saudade de namorado/a... );Amizade (troca de informa~oes e deconhecimentos, partilha de aspectos temáticoscomuns, fortalecimento de amizade eesclarecimento de mal-entendidos... );Sexualidade (troca de informa90es sobrecrescimento e desenvolvimento, identifica~ao

e esclarecimento de dúvidas...).

Relativamente a actividade n.O oito, estaconsistiu num aprofundamento dosconhecimentos adquiridos sobre reprodu9aohumana e higiene pessoal, na disciplina deCiencias da Natureza, mediante o recurso ahistórias ficcionais e didácticas, editadas pelaAssocia~ao para o Planeamento da Família,em vídeos (<<Um amor de Cupido» e «Salvavidas»), seguindo-se a resolu9ao de fichas detrabalho, individualmente e em pequenogrupo (MINISTÉRIO DA EDUCAC;Ao EMINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998; Uslander& Weiss, 1997, Harris, sem data), a exemplo,podendo sugerir-se as seguintes questoes:

Assinala com um V as afirmafoes verdadei­ras e com um F as falsas:

Os espermatozóides formam-se napróstata.

Os testículos sao órgaos reprodutoresfemininos.

O primeiro período menstrual chama-semenarca.

Um banho semanal é suficiente para aminha higiene pessoal.

As axilas, as maos, os pés, os órgaos genitaisexternos sao as zonas do corpo, quedevemos lavar com mais frequencia.

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A apresenta~ao de cartas e poemas aturma ea professor(es) ocorreu, no final do segundoperíodo.

3.1.3. Conclusao dos trabalhos de pesquisa edramatizafao

No terceiro período, foi proposta aos alunosa realiza~ao de trabalhos, sobre os sub-temasexplorados, ao longo do ano lectivo.Concretizaram-se estudos sobre mudan~as napuberdade, o desenvolvimento embrionário efetal e o abuso sexual de menores, traduzido namontagem de urna pe~a de teatro (<<História deurna menina, que foi vítima de abuso sexual»),cuja encena~ao foi colectiva e em que os alunosadaptaram um texto narrativo a texto dramáticoe criaram um desdobrável, real~ando anecessidade da precau~ao e o modo de sedefenderem contra este tipo de situa~ao.

A pe~a foi videogravada, paraaperfei~oamento do trabalho de «actor»(durante os ensaios) e apresentada acomunidade escolar, no final do ano escolar.

As personagens sao o Narrador, a Sara (8anos, 14 anos e 18 anos), o André, a Joana, oSr. António, o Juiz, o Advogado de Defesa e oAdvogado de Acusa~ilo. ASarafoi desdobradaem quatro personagens diferentes, consoante aidade, cada urna delas representada por urnaaluna diferente. Os «Conselhos» foram dadospor outros alunos da turma, que seencontravam na assistencia. No total, actuaram16 alunos.

Apresenta-se o texto completo adaptado alíngua portuguesa, contexto local e nível etário,com algumas indica~6es da encena~ao

colectiva, realizadas pela turma de pré­adolescentes e professores.

laCena

Narrador (boca de cena) - A Sara tem quasedezoito anos e foi vítima de abuso sexualaos oito. Quando fez catorze anos, reuniu

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for~as e a coragem necessárias para contara uma professora e agora quer partilhar asua história para encorajar outras vítimas afalarem.

Tribunal

Juiz: Declaro aberta a audiencia! Estamosaqui para julgar o Sr. António Soares, que éacusado de ter violado a Sara, uma meninade 8 anos. Que a vítima conte a suahistória...

Sara (1 a personagem - 14 anos):

Depois do meu pai nos ter deixado, eu, aminha mile e o meu irmilo André mudámospara Braga, quando eu tinha 7 anos.

A minha mile tornou-se muito amiga da D.Maria e do Sr. António, que já tinham 60anos e que eram nossos vizinhos. A Clara,jilha deles, já era adulta e já tinha saído decasa. A minha mile estava sempre a ir a casadeles, por tudo e por nada.

Sara (2a personagem - 8 anos):

A D. Maria levava-nos as compras e avisitar a filha, que vivia no campo. Nessaaltura, eu nilo conseguia compreenderporque é que a Joana.nilo gostava do pai!

Narrador: Quem silo as vítimas de abusosexual?

Primeiros «conselhos» dados por um aluno,que se encontra na «Plateia»:

- Ninguém merece ser vítima de abusosexual. Nunca penses que a culpa é tua.

Nilo importa como te vestes, como ages oucomo te relacionas com a pessoa, queabusou de ti.

Procura um psicólogo que poderá ajudar-tea ultrapassar os sentimentos de dor e deculpa e ajudar-te a reconhecer que és avítima e nlio a responsável pelo abuso deque foste alvo.

Sara (8 anos):

Era demasiado nova para compreender queaquilo que ele me fazia estava errado.

Nesse dia, eu estava no jardim e fui a casado Sr. António e da D. Maria perguntar sepodia beber um copo com água. A minhamlie tinha saído e tinha pedido ao Sr.António que tomasse conta de mim e do meuirmilo.

Ele deitou o pó do sumo num jarro eperguntou-me se eu queria por a água.Quando me inclinei no lava-loi~a, parachegar a torneira, ele colocou a milo emcima de mim e come~ou a meter os dedos naminha roupa.

Eu nilo queria acreditar no que me estava aacontecer! Achei que estava a imaginarcoisas mas, quando ele come~ou a mexer­me, percebi que nlio estava a imaginarnada. Nilo compreendia o que ele estava afazer, mas achei que nilo devia falar sobreisso a ninguém, porque era falta deeduca~ilo da minha parte. Pensei que aculpa tinha sido minha. Já nessa altura, euinventava desculpas para o que o Sr.António me fazia.

Sara (14 anos):

A partir daí, comecei a ter sempre medo doSr. António e a evitar estar com ele.

Nem queria acreditar quando a minha mileme disse que os Soares tinham marcadoumas férias num centro de férias e nostinham convidado. A minha mile tinhaaceite o convite com o maior prazer.

Logo na segunda noite em que jantámostodos juntos no chalé, o Sr. António sugeriuaminha mile e aD. Maria, que fossem darum passeio, pois ele ficava a jogarMonopólio comigo e com o André. Deixou­nos ficar acordados até tarde, mas euestava com medo de ir para a cama antesda minha mile chegar. Ao fim de muitotempo, o André adormeceu e, apesar deestar a dormir no beliche por cima do meu,o Sr. António entrou no quarto e come~ou afazer-me festas, apesar da minharesistencia.

Sara (18 anos):

Ele estava sempre a dizer que, se eucontasse a alguém, me levavam para umcolégio e ficava interna. Dizia que iaacusar-me de ter inventado todas ashistórias.

Mas os abusos eram cada vez maiores emais ousados e come~ou a obrigar-me afazer-lhe festas também. A única razliopara o Sr. António nao ir mais longe foi porcausa do meu irmilo André andar por pertoou por causa da minha mile poder chegar aqualquer momento.

Mas que pena que eu tenho das crian~as

em que os pais abusam delas e elas tem deestar com eles todos os dias.

Segundos «conselhos» dados por urnaaluna, que se encontra na Assistencia:

Deves contar a alguém?

Mesmo que a situa~ao se prolongue hávários anos, nunca vai acabar, se nilofizeres alguma coisa. As pessoas que saocapazes desses actos nunca silo capazes deparar. Em geral, nilo silo capazes de secontrolar. Pensa bem nisso!

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Podes ser a única pessoa aficar com a vidadestruída. Para que as coisas melhoremdefinitivamente,. podem ter de piorar, poralgum tempo, e podes ter de fazer a coisamais difícil que alguma vezfizeste, mas épara teu bem.

lÍá pessoas capazes de te ajudar, mas épreciso que lhes pe~as.

Sara (12 anos):

Foi difícil para mim estar com os meuscolegas na escola, porque estava semprepreocupada e nao conseguia divertir-me.

Quando fiz 12 anos, comecei a ter medo detudo e, uma vez, entrei em histeria quandome perdi da minha mae, durante 5 minutos.Nao havia um único dia em que naopensasse na próxima vez em que ia ficarsozinha com o Sr. António.

Narrador: Como podes ser ajudada?

Terceiros «conselhos» dados por um aluno,que se encontra na «Plateia»:

Nao importa que os abusos tenhamocorrido há muito tempo.

o primeiro passo para ultrapassar asitua~ao é contar a alguém e só tu podesdecidir a quemo Em situa~i5es como esta hápessoas, fora da tua família, que podemajuda, dando um conselho e que podemacreditar mais em ti. Podes ir fa lar com umprofessor da escola, com o Médico doCentro de Saúde, com pessoas deorganiza~i5es de apoio e aprópria polícia.

Sara (14 anos):

Quando a minha mae come~ou a trabalharaos Sábados, ele come~ou a levar-nos aofutebol e, enquanto íamos no carro,

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acariciava-me, mesmo de dia, sempre com oAndré no banco de trás. Eu ficavaaterrorizada e tentava pensar noutrascoisas.

Lembro-me de pensar que, se ele era capazde se arriscar daquela maneira, era porqueestava preparado para dizer que a culpa eraminha. Nunca me ocorreu contar a ninguém,porque achava que me era dada a culpa.

Sr. António: Mentirosa!

Juiz: Calma! Continue o seu depoimentomenina Sara.

Sara (14 anos):

Quando cheguei ao Secundário, nao fizamigos novos, além das raparigas que jáconhecia desde pequena. Nao queria ternamorados, nao suportava que uma pessoame tocasse e nunca compreendi as piadasdas minhas colegas sobre os apalpi5es de quegostavam tanto. Nao me pareciam para rir.

Aos bocados, eu percebi que o sexo nao eravergonha como eu pensava e que nao erapreciso sentir-me culpada do que tinhaacontecido.

Um dia, num programa na televisao, eu ouviuma vítima de abuso sexual do sexomasculino dizer que devia ter falado comalguém mais cedo do quando o fez. Aquilofez-me pensar. ..

Decidi contar a minha situa~ao a umaprofessora, o que foi das coisas mais difíceisque tive de fazer. Contei-lhe tudo. Ela disse­me, que tínhamos de falar com a minha mae,para a por a par de tudo.

A minha mae, quando soube, ficou histéricae até queria matar o Sr. António. Acreditouem mim, que era aquilo que eu mais queria.

Passei por tudo isto como se fosse um susto,perguntas e mais perguntas, examesmédicos... Tinha medo de sair arua, mesmoa saber que a D. Maria tinha ido para casadafilha e o Sr. António tinha desaparecido.

Juiz: O que é que o Advogado de Acusa(:aotem a dizer sobre o depoimento da suaCliente?

Advogado de Acusa~ao: A minha Clientetem exames médicos, que provam que houveviola(:ao. Tem duas Testemunhas deAcusa(:ao, que sao o irmao André e a filhado acusado, a Joana.

Juiz: Que entre a primeira Testemunha.

Joana:

Eu sou a Joana e sou a filha do Arguido evenho testemunhar contra ele. Eu tambémfui vítima do seu assédio e, depois, abusosexual.

Em pequena, quando ia deitar-me, ele diziaque ia contar-me histórias para euadormecer, mas em vez disso acariciava-mee chegou mesmo a violar-me. Por isso eu,logo que pude, fui trabalhar para poder sairde casa.

Juiz: Entre o André, a segunda Testemunha.

André:

Eu sou o André, o irmao da vítima e o queposso testemunhar é que o Sr. Antónioandava sempre atrás da minha irma Sara,para tentar ficar sempre sozinho com ela.

Juiz: O que é que o Arguido tem a dizer emsua defesa?

Sr. António:

SÓ tenho a dizer que tudo isto sao mentiraspara caluniar o meu bom nome e que jamaiseu abusaria da minhaprópria filha.

Juiz: O que tem o Advogado de Defesa adizer?

Fala antes o Advogado de Acusa~ao:

Vossa Excelencia permita que diga queconsidero que as Provas apresentadas saosuficientes, para que o Arguido sejacondenado.

Juiz: Tem a palavra o Advogado de Defesa.

Advogado de Defesa:

Queria reafirmar a inocencia do meu clientee pe(:o a Vossa Excelencia a pena mínima de3 meses de prisao efectiva, sujeita a cau(:aoa determinar.

Juiz:

A cau(:ao é recusada e o réu é obrigado acumprir urna pena de prisao efectiva de tresanos. Meus senhores e minhas senhoras, estáencerrada a sessao.

3a cena

Fora do tribunal:

Sara (18 anos) :

Foi o pior dia da minha vida, mas nao foi taomau como a ideia de que ele podia voltar atocar-me. Nao me olhou durante todo ojulgamento e a D. Maria nao estavapresente.

Espero que ele se arrependa.

Já tenho 18 anos e ainda me sinto mal, porcausa de tudo o que me aconteceu. Estou a

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ser acompanhada por uma psicóloga, queme tem ajudado muito, que me fez ver que aculpa nito foi minha. A minha mite tambémsente uma grande culpa, por nito se terapercebido de nada mas, apesar de tudo,julgo que conseguiremos ultrapassar isso ecome{:ar a viver a nossa vida com alegria

Narrador: Como podes ajudar um amigo ouuma amiga afalar do seu caso?

Quintos «conselhos» dados por urna aluna,que se encontra na Assistencia:

Se apenas suspeitas, que um amigo ou umaamiga é vítima de abuso sexual, tens de termuito cuidado na forma como falas com eleou com ela.

Será melhor nito lhe perguntaresdirectamente, porque a sua reac{:ito maisnatural é dizer que nito foi nada.

Podes puxar o assunto numa conversa, falarde casos que conheces, dizer maneiras deajuda e deixar o teu amigo ou a tua amigadecidir a altura e a maneira mais certa deagir.

A banda sonora de «Carmina Burana» (CarlOrlf) foi seleccionada pelos alunos, para a últi­macena.

CONCLUSAO FINAL

o Trabalho de Projecto alcan90u finalidadesexplícitas de co-constru<;ao de conhecimento,tendo sido colocadas em prática competenciasafectivo-sociais, tais comoexpressao/comunica<;ao, trabalho em grupo eorganiza<;ao de métodos e modos de ensino­aprendizagem inovadores. Também seaprendeu Educa9ao Sexual, fazendo ExpressaoDramática.

No VII Congresso Galaico-Portugues dePsicopedagogia, expoe-se urna possívelliga<;ao

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de teoria sobre a sexualidade e abordagenseducativas transdisciplinares, abrangentes deorienta<;oes actuais para o Ensino Básico, naÁrea de Projecto.

Partiu-se da situa9ao existente dedesconhecimento, por parte de jovens de 11 e12 anos, para as situa90es que pretenderamabordar, na época, encontradas na internet ­abusos sexuais. Foram eles a resolverproblemas, ao langa de um ano escolar, para aconcretiza<;ao de um planeamento tra9ado ­aquisi9ao de conhecimento, aprofundamentotemático e concep9ao de urna performance.Mais importante do que o «produto final»,desenvolveram eles próprios atitudes ecomportamento relativos a sexualidade,reflectiram e questionaram saberes cruzados(Ciencias da Natureza, Portugues e Educa9aoVisual e Tecnológica, História e Geografia dePortugal, Educa<;ao Moral e ReligiosaCatólica), pesquisaram e confrontaram-se comsitua90es problemáticas, tornando-se maisautónomos, críticos e criativos, mais capazesde estabelecerem e manterem rela<;oes íntimas.Essa é urna missao do professor.

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