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ARMAZENAMENTO E DESCARTE DE MEDICAMENTOS NO BAIRRO SÃO MIGUEL EM JUAZEIRO DO NORTE-CE Geórgia Gualberto Clemente 5 , Eduardo da Silva Pereira¹, Mellyssa Ayêska Custódio Sobreira Macêdo¹, Adriana Pinheiro Gomes¹, Terentia Batista Sá 6 . Correspondência para: [email protected] Palavras-chave: Armazenamento. Descarte. Medicamentos. Epidemiologia. 1 INTRODUÇÃO A assistência farmacêutica tem o importante compromisso com a saúde pública de prestar conhecimento sobre o uso racional de medicamentos, no que diz respeito não só a sua dispensação, mas ao seu armazenamento e descarte. Tendo o medicamento como um insumo essencial, a preservação de sua qualidade deve ser garantida levando em consideração as boas práticas de estocagem. Na tentativa de promover a saúde, foi realizado um trabalho no Bairro São Miguel, na Cidade de Juazeiro do Norte, que teve como objetivo geral verificar o acondicionamento e o descarte de medicamentos pela população. De acordo com Ministério da Saúde, todos os produtos devem ser armazenados obedecendo às condições técnicas ideais de luminosidade, temperatura e umidade, com o objetivo de assegurar a manutenção das características e qualidade necessárias à correta utilização. Além dos órgãos oficiais, atribui-se à sociedade uma parcela de responsabilidade em relação à vigilância da qualidade dos medicamentos. Essa atenção se justifica pelo fato de que medicamentos descartados em suas formas intactas podem 5 Discentes da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) 6 Docente da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN)

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ARMAZENAMENTO E DESCARTE DE MEDICAMENTOS NO BAIRRO SÃO

MIGUEL EM JUAZEIRO DO NORTE-CE

Geórgia Gualberto Clemente5, Eduardo da Silva Pereira¹, Mellyssa Ayêska Custódio

Sobreira Macêdo¹, Adriana Pinheiro Gomes¹, Terentia Batista Sá6.

Correspondência para: [email protected]

Palavras-chave: Armazenamento. Descarte. Medicamentos. Epidemiologia.

1 INTRODUÇÃO

A assistência farmacêutica tem o importante compromisso com a saúde pública

de prestar conhecimento sobre o uso racional de medicamentos, no que diz respeito não

só a sua dispensação, mas ao seu armazenamento e descarte. Tendo o medicamento

como um insumo essencial, a preservação de sua qualidade deve ser garantida levando

em consideração as boas práticas de estocagem. Na tentativa de promover a saúde, foi

realizado um trabalho no Bairro São Miguel, na Cidade de Juazeiro do Norte, que teve

como objetivo geral verificar o acondicionamento e o descarte de medicamentos pela

população.

De acordo com Ministério da Saúde, todos os produtos devem ser armazenados

obedecendo às condições técnicas ideais de luminosidade, temperatura e umidade, com

o objetivo de assegurar a manutenção das características e qualidade necessárias à

correta utilização. Além dos órgãos oficiais, atribui-se à sociedade uma parcela de

responsabilidade em relação à vigilância da qualidade dos medicamentos. Essa atenção

se justifica pelo fato de que medicamentos descartados em suas formas intactas podem

5 Discentes da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN)

6 Docente da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN)

ser usados indevidamente, e quando são armazenados de maneira incorreta o fármaco

perde na maioria das vezes sua eficácia.

O acondicionamento e descarte dos mesmos são de suma importância, visto que

a própria população deve guardar adequadamente os restos dos medicamentos em suas

embalagens originais, lacrá-los e entregar para o descarte correto em farmácias e demais

unidades de saúde. Todo estabelecimento farmacêutico, segundo a legislação vigente,

deve ter um contrato firmado com empresas de descarte destes materiais.

Dados epidemiológicos sobre armazenamento e descarte de medicamentos são

escassos na literatura e quando encontrados são descritos apenas em regiões isoladas do

país. Infere-se que a maioria das autoridades, dos profissionais de saúde e da população

não tenham refletido sobre as consequências da não observação e correção das atitudes

praticadas. É com essa visão que iniciamos esse estudo em nossa cidade com uma

parcela da população, mostrando a importância da necessidade de levantar dados sobre

essa temática, para posterior análise e discussão com a sociedade e entidades de classe.

Este trabalho tem como objetivo específico analisar o acondicionamento

doméstico de medicamentos, bem como o seu descarte, observando a classe de

medicamento, o perfil e o nível de informação dos sujeitos da pesquisa.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

1. Armazenamento Doméstico

Estudos tiveram em comum o questionário. Um deles com partes preenchidas

pelo profissional de saúde e outra pelo responsável pela farmácia doméstica (LIMA et

al, 2013).

Outro estudo optou por questões abertas e fechadas, incluindo para análise idade,

sexo e escolaridade (SILVA et al, 2005). Num deles a escolaridade majoritária foi o

Ensino Médio completo, correspondendo a 46% (SILVA et al, 2012). As condições

socioeconômicas e culturais de uma população estudada foram consideradas fator

significativo na orientação terapêutica e medicamentosa por um estudo, que também

discutiu o mesmo fator como ampliador para os resultados encontrados (LIMA et al,

2013), e para outros estudos serviu para mensurar a consciência dos moradores em

relação ao assunto (MAIA e GIORDANO, 2012; LIMA et al, 2013).

Os objetivos foram comuns a Ribeiro et al (2011) e Silva et al (2012): avaliar

estoque domiciliar de medicamentos, as condições de armazenamento, prazo de

validade, forma de aquisição, e descarte de medicamentos em uma população urbana

dos respectivos município, além de orientar a população urbana de como armazenar e

descartar os medicamentos.

Mastroianni et al (2011) encontraram estoques de medicamentos em 91,1%

domicílios, em média, os domicílios tinham 10,9 medicamentos estocados e Ribeiro e

Heineck (2010) verificaram uma média de medicamentos por domicílio foi de 8,4, e

93,5% das famílias entrevistadas apresentaram pelo menos um medicamento em

estoque. Enquanto Silva et al (2012) na quantificação da presença de medicamentos nos

domicílios, mostram que 98,55% possuíam pelo menos um e 1,45% não os possuíam, o

que comprova a prevalência da farmácia domiciliar.

Foram avaliadas 2 578 especialidades farmacêuticas, para Mastroianni et al

(2011) nos quais a dipirona foi o medicamento de venda livre mais comum (53 casos,

37,3%), seguida dos anti-hipertensivos (13 casos, 9,2%) e dos antibióticos (9 casos,

6,3%). Enquanto outro estudo, o de Ribeiro e Heineck (2010), teve uma porcentagem

menor: analgésicos (11,15%), seguidos dos diuréticos (6,42%), antibacterianos param

uso sistêmico (5,82%), antiinflamatórios (5,08%) e antiácidos (4,10%). Dos 532

medicamentos encontrados por Silva et al em 2012, 68% são genéricos, onde o grupo

mais encontrado foi dos analgésicos, dentre estes se destaca o paracetamol (SILVA et

al, 2012). Já Ribeiro et al (2011), encontrou 25 frascos de medicamentos da classe

farmacológica Anti-inflamatórios não Esteróidais (AINE’s) nas residências estudadas o

que corresponde a 13,89% do total de casas pesquisadas. Já no estudo de Lima et al

(2013), destacou-se a classe dos antimicrobianos, e que consistem em medicação de

prescrição criteriosa, com indicação e controle de posologia regulado por lei, ao passo

que Ribeiro et al (2011), não encontaram nenhum em seu estudo.

Para dificuldade de porcentagem observou-se, em alguns domicílios, que o

armazenamento de medicamentos era feito em mais de um local, havendo geralmente

um local para medicamentos em uso e outro local para as sobras de antigos tratamentos.

Em 212 casos (65,1%), o local de armazenamento foi a cozinha. Apenas um em cada

quatro locais foi considerado seguro e adequado (MASTROIANNI et al, 2011).

Com relação a Ribeiro e Heineck, 2010 nesses cômodos, ficavam armazenados

em diferentes locais e a quanto a guarda dos medicamentos não é feita corretamente,

perdendo a estabilidade e tornando os medicamentos inadequados para uso. Os

resultados de Lima et al (2013) mostraram que 50% estavam no armário, 37% expostos

(como "expostos" representam aqueles encontrados em paredes, balcão da pia, sobre a

geladeira, sobre a mesa, estando, portanto, sem abrigo contra luz, calor e umidade), e

17% em sacola. Diz ainda que a qualidade para o uso depende da manutenção de sua

estabilidade pelas condições corretas de armazenamento e manuseio.

2. Descarte

De acordo com Alvarenga / Nicoletti (2010), o Brasil está entre os maiores

consumidores mundiais de medicamentos e com a sua economia estável agregada ao

maior acesso a medicamentos, estabelecido pelas políticas governamentais adotadas,

contribuem para o aumento do consumo que trará como consequência, maior quantidade

de embalagens e sobras de medicamentos que terão como destino o lixo comum. Além

da geração de resíduos o descarte doméstico de medicamentos são questões para ser

amplamente discutidas e estudadas em nível de saúde pública em que é necessária a

responsabilidade coletiva para minimizar o uso excessivo de medicamentos pela

população.

De acordo com Silvestri (2006), até os medicamentos que não são descartados e

são consumidos acabam sendo eliminados no meio ambiente. Fármacos de diversas

classes terapêuticas têm sido detectados em esgoto doméstico, águas superficiais e

subterrâneas.

Segundo Alvarenga / Nicoletti (2010), a legislação existente sobre o descarte de

medicamentos se direciona aos estabelecimentos de saúde e não engloba a população

em geral o que dificulta o entendimento sobre os impactos decorrentes do descarte

doméstico, no qual a população elimina os medicamentos no lixo comum gerando

resíduos.

Ainda, conforme Gasparini (2010), “o descarte inadequado é feito pela maioria

das pessoas por falta de informação e divulgação sobre os danos causados pelos

medicamentos ao meio ambiente e por carência de postos de coleta”. Para tal, a falta de

informação faz com que as pessoas descartem esses medicamentos no lixo comum ou

em vasos sanitários, mas conforme Sottoriva (2009), o sistema de esgoto brasileiro não

está preparado para fazer o tratamento adequado de resíduos tóxicos provenientes de

medicamentos que são atirados na pia ou no vaso sanitário, podendo esse descarte

causar sérias intoxicações no ser humano e também no meio ambiente. “Os remédios

têm componentes resistentes que se não forem tratados acabam voltando para nossa casa

e a gente pode até consumir água com restos de remédios. Eles sãoprodutos químicos e

não podem ser jogados no lixo comum”. (NASCIMENTO, 2008, p. 01)

A destinação final dos resíduos de medicamentos ainda se resume na adoção de

soluções imediatas, em que quase sempre são fundamentadas no simples descarte,

predominando o descarte no lixo comum, pois conforme Silva (2005), “lixo nada mais é

do que o reflexo da sociedade que o produz, quanto mais industrializada, rica tem-se

mais resíduos pelo fato de consumir mais”, e assim contribuindo na contaminação do

meio ambiente.

A incineração de resíduos sólidos seria o destino adequado para os

medicamentos que necessitam ser descartados, pois segundo Bidone (2005) a

incineração é um processo de oxidação à alta temperatura que destrói ou reduz o volume

ou recupera materiais ou substâncias, ou seja, transformar os rejeitos em materiais

inertes, reduzindo peso e volume.

De acordo com Alvarenga / Nicoletti (2010), a incineração é atualmente a

maneira indicada para destino e diminuição do volume dos medicamentos inutilizados,

como método de evitar que estes sejam descartados indevidamente no ambiente,

trazendo como consequências a poluição de água e solo, devemos considerar que a

incineração por sua vez não é o método ideal, uma vez que gera emissão de gases

tóxicos à atmosfera.

Na Resolução n° 44 de 17 de agosto de 2009, a ANVISA dispõe no artigo 93

que fica permitido às farmácias e drogarias participar de programas de coleta de

medicamentos a serem descartados pela comunidade com o intuito de preservar a saúde

pública e a qualidade do meio ambiente. Porém, não há legislação específica para cobrar

desses estabelecimentos à realização destas campanhas, atribuindo então a

responsabilidade para a comunidade em devolver a esses lugares os medicamentos não

utilizados. Conforme a legislação brasileira, as farmácias não têm a obrigação de

receber remédios que não serão mais usados. Já os postos de saúde não podem aceitar os

medicamentos, mesmo dentro da data de validade, porque não é possível saber como

eles foram armazenados. Os órgãos de saúde sabem que o problema existe, mas pouco

fazem para solucioná-lo. As normas existentes dizem respeito aos estabelecimentos de

serviços de saúde, porém, ainda não foram editadas normas que abranjam o consumidor

final com relação ao descarte de medicamentos, pois os estados e municípios têm

autonomia para criar as próprias leis que estabeleçam a forma correta de se descartar os

remédios.

Uma prática a ser adotada seria realizar a incineração, pois os compostos

formados ficam inertes, ou seja, não reagem e dessa forma não acarretam riscos à

natureza. Para que esta fosse uma solução, os medicamentos descartados deveriam ser

encaminhados a empresas autorizadas pela vigilância sanitária, embora, de acordo

Sottoriva (2009), o problema do descarte incorreto de medicamentos vencidos pelos

cidadãos se dá pela falta de divulgação sobre os problemas causados ao meio ambiente e

também da carência de postos de coleta.

Infelizmente ainda são restritos nas cidades brasileiras e algumas unidades de

saúde ainda não estão preparadas para lidar com essa situação.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa descritiva onde será possível proporcionar informações

sobre ocorreto armazenamento e descarte dos fármacos, facilitando a exposição desse

tema frente à população e autoridades públicas.

O projeto sobre a importância do armazenamento e descarte correto de

medicamentos foi realizado nas residências da cidade de Juazeiro do Norte, a 528 km da

capital Fortaleza, região Cariri, no sul do Ceará, Brasil, com área territorial de 248.832

km² e 261.289 habitantes (IBGE, 2013).

O referido município tem 34 bairros, mas somente um foi escolhido: o São

Miguel, pela proximidade com a Faculdade de Juazeiro do Norte para melhor acesso a

pesquisa, já que trabalhos da área da saúde vinham sendo realizados pelos alunos da

mesma instituição educacional em conjunto com a Unidade Básica de Saúde da Família.

A amostra foi composta de 100 pessoas sem distinção de sexo ou escolaridade,

com idade a partir de 18 anos, em plenas faculdades mentais, excluindo as que não se

dispuseram a participar, ou não se apresentaram em casa.

Um questionário foi elaborado a fim de obter dados para atingir o objetivo da

pesquisa. As perguntas foram elaboradas com linguagem informal, para melhor

entendimento do sujeito da pesquisa. O questionário é apoiado nos objetivos específicos

da pesquisa e embasado em trabalhos realizados em outras cidades brasileiras.

Os sujeitos da pesquisa foram inicialmente informados da importância do nosso

trabalho. As perguntas foram lidas e assinaladas pelo aplicador(a) do questionário, na

forma de entrevista, adaptadas no ato da leitura ao nível de entendimento das pessoas

sobre o assunto, instruídos a responder de forma concisa e em caso de incerteza

poderiam consultar sua farmácia domiciliar com a perspectiva de assinalar a resposta

que mais cabe na verdade de suas ações.

Os dados foram coletados no período das duas primeiras semanas de setembro

de 2014. De acordo com o cronograma elaborado no projeto, nos primeiros dias foram

preparados os questionários e materiais, e no tempo restante foi realizada a aplicação do

questionário.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estudos optaram por questões abertas e fechadas, incluindo para análise idade,

sexo e escolaridade (SILVA et al, 2005). Num deles a escolaridade majoritária foi o

Ensino Médio completo, correspondendo a 46% (SILVA et al, 2012), enquanto no

nosso 28% tinha 2º grau completo, e os outros níveis estavam bem distribuídos. Em

outro estudo, observou-se baixa escolaridade da população e baixa renda, para eles:

fatores agravantes na efetiva orientação terapêutica e acesso aos fármacos (LIMA et al,

2013), embora na amostra aqui estudada a renda foi balanceada para renda média e alta,

enquanto a baixa (até dois salários mínimos) resultou num percentual de 55%.

“A prática da guarda de medicamentos em domicílio é de longe conhecida no

seio da população brasileira” (LIMA et al, 2013). Mastroianni et al (2011) encontraram

estoques de medicamentos em 91,1% dos domicílios. Ribeiro e Heineck (2010)

verificaram que 93,5% das famílias entrevistadas apresentaram pelo menos um

medicamento em estoque. Silva et al (2012) na quantificação da presença de

medicamentos nos domicílios, mostram que 98,55%possuíam pelo menos um e 1,45%

não os possuíam, o que comprova a prevalência da farmácia domiciliar. Das 100

pessoas entrevistadas no presente estudo, 95% possui medicamentos em casa,

corroborando com os demais estudos.

Os medicamentos encontrados eram a maioria de utilizados continuamente

(43%), e para estoque (40%). Ainda contendo sobras de medicamentos com um

percentual de 13%, sendo apenas 4% para tratamento atual. Nas residências urbanas em

Anápolis, dos medicamentos presentes, 51,51% são de uso esporádico, sendo utilizados

casualmente, muitas vezes devido a um sintoma comum, enquanto 34,14% deles são de

uso continuo e 14,34% está sem uso (SILVA et al, 2005). É notório que o medicamento

passou a ser utilizado como uma simples mercadoria, e deixando de lado sua real

finalidade, que é o da ação preventiva e curativa.

Todos os estudos mostraram que o armazenamento de medicamentos em

domicílio é prática comum da população brasileira, representando um potencial risco de

agravo a saúde.

Em relação ao local de armazenamento dos medicamentos, assim como Ribeiro

e Heineck (2010), encontramos-os em diferentes locais, logo obtivemos 141 respostas:

7% dos resultados foram em locais abertos, e 93% foram em locais fechados, enquanto

Lima et al (2013) mostraram que 50% estavam no armário e 37% expostos (paredes,

balcão da pia, sacola, sobre a geladeira, sobre a mesa, estando, portanto, sem abrigo

contra luz, calor e umidade), evidenciando uma disparidade nos resultados. Isso quer

dizer que a população do bairro São Miguel está sendo de alguma forma bem informada

quanto aos locais apropriados para os acondicionamentos dos medicamentos.

Na cidade de Santos-SP foi realizado um estudo sobre o descarte de

medicamentos por Maia e Giordano (2012). Eles constataram que 71% dos

medicamentos eram descartados em lixo doméstico, 9,5% no esgoto e 19,5% nos postos

de coleta. Porém deparamos com um menor percentual para o descarte nos postos de

coleta (5,81%). Nos demais tivemos resultados semelhantes: 82,5% no lixo doméstico;

8,14% no esgoto e 3,55% em outros locais (entrega para empresa de incineração, não

sabe ou não lembra).

Abordamos também a questão da obtenção de informações sobre os

medicamentos que vão utilizar. A minoria (21,6%) não obtinha estas informações por

nenhum meio, e a maioria (78,4%) obtiveram estas através de Médicos (48,3%),

Farmacêuticos (19,1%), Bula (12%) e Enfermeiros (0,83%). Fator importante, pois é

indispensável que o mesmo saiba a posologia, o ambiente adequado para o

armazenamento, e, quando há sobras, o local apropriado para o descarte. Hoppe e

Araújo (2011) em uma escola do município de Agudo-RS diagnosticaram que 70% dos

participantes nunca foram orientados quanto ao armazenamento e descarte de

medicamentos.

Ao final da entrevista, foi perguntado se eles acreditavam que o descarte de

medicamentos poderia trazer impactos ambientais, 82% acreditavam que sim, 14%

acreditavam que não e 4% não souberam responder. Contudo 90,6% das pessoas

entrevistadas descartavam de maneira incorreta.

Um estudo analisou que 100% dos entrevistados tinham a consciência que o

descarte de medicamentos poderia causar problemas ambientais (HOPPE e ARAÚJO,

2011). Relacionando esse estudo no Rio Grande do Sul com o presente trabalho

verifica-se disparidades. Vale ressaltar que a simples menção da pergunta nos dois casos

induz o entrevistado a um resultado positivo.

5 CONCLUSÕES

Com base nesses dados, discutem-se os riscos à saúde proporcionada pelo

acondicionamento e o descarte de medicamentos. Analisamos que 95% dos

entrevistados tinham medicamentos em casa e apesar de 93% do total mantê-los

guardados de forma adequada, o descarte dos mesmos ocorrem de maneira incorreta

(90,6%).

Apesar do nível de escolaridade ter sido relativamente balanceado, uma pequena

parcela não obtinha informações sobre os medicamentos. E os que adquiriam

informações pelo médico não eram suficientes, pois sabiam apenas informações simples

como posologia e indicação.

Os participantes que comentavam sobre a justificativa de seu local de

armazenamento, mesmo quando guardados de forma incorreta, pensavam ser o modo

certo, como por exemplo ao abrigo de luz, embora não arejado. Outro ponto é que nas

casas que não moravam crianças, alegava-se não haver necessidade de cuidado.

Ocorreram ainda pessoas que armazenavam seus medicamentos de acordo com a

orientação médica, acreditando nas medidas repassadas, nas quais havia erros parciais

como o já citado.

Grande parte dos entrevistados, ao responder sobre o tipo descarte e os seus

impactos ambientais, alegava não conhecer modo correto, embora tivesse ciência das

consequências a saúde e ao ambiente.

Portanto, conclui-se que mesmo diante dos resultados positivos grande parte da

amostra mantém hábitos prejudiciais a temática em questão. Sendo assim é necessário

um maior rigor na instrução dos usuários e desenvolvimento de campanhas informativas

através da atenção básica e da mídia.

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