Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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arquvo
admnsração
PUBLICAÇÃO OFICIAL
DA
ASSOCIAÇÃO
DOS
ARQUIVISTAS
BRASILEIROS
V . 5, n.2
jul./dez.
2006
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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arquvo dmnsração
jul./dez.2006
.
5,
n.
2
EDITORIAL
aulino
Lemes
de Sousa
Cardoso
ARTIGOS
olíticas públicas arquivísticas:
princípios,
atores e
processos
José
Maria
Jardim
17
ormação
do
arquivista
contemporâneo
numa
perspectiva
histórica:
mpasses e
desafios
atuais
Georgete
Medleg
Rodrigues
43
ois
aspectos da
ormação em preservação
documental
Ingrid
Beck
53
s
usuários
da
nformação arquivística
Lúcia
Maria
Velloso de Oliveira
Arq.
&
Adm.
R io
de
Janeiro
v .
5
n. 2 p . -76
jul./dez.
2006
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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Copyr ight
c
2004
by Associação dos
Arquivis tas
Brasi le i ros
É p ro ib ida
a
reprodução total
o u parc ia l desta
obra sem autorização expressa
da
Edito ra .
Coordenação e revisão:
aulino
L em es de Sousa Cardoso
Catalogação
na
publicação (CIP)
Arquivo
&
Administ ração/Associação
do s
Arquivistas Brasileiros.
Ano
1, n.O
(1972)
-
R io
de
Janei ro:
AAB,
1972
-
ISSN
0100-2244
ASSOCIAÇÃO
DOSARQUIVISTAS
BRASILEIROS
Membros da
Diretoria
e
do
Conselho Editorial
Direto r i a
Conselho
Edi to r ia l
Presidente: Lúcia
Maria Velloso de Oliveira
Vice-presidente:
Eliana
Balbina Flora
Sales
1 Tesoureiro:
Renata
Silva
Borges
2"
Tesoureiro:
Carolina
da Conceição Braga Machado
Paulino
Lemes
de Sousa
Cardoso
José
Maria
Jardim
Lúcia Maria Velloso de Oliveira
Maria Odila Fonseca
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EDITORIAL
A Revista Arquivo & Administração está lançando o seu segundo número do ano de 2006,
sempre co m temas atuais e or ig inados da discussão acadêmica em t o m o
do
c a mpo da Arquivologia
Contemporânea
O s
artigos
do s
professores
José
Mar ia
Jardim,
doutor
em
Ciência
da
Informação
e
professor
da
Universidade
Federal
Fluminense,
bem
com o
da
professora
Georgete
Medleg Rodrigues, doutora
em
História
pela
Université
de
Paris,
Arquivista,
Pesquisadora
e
Gerente
Cultural
do Arquivo
Público
do
Distrito
Federal, foram
apresentados no
X T V Congresso
Brasileiro
de
Arquivologia,
realizado
de
23 a
28
de abril
de
2006,
na cidade do
R io
de
Janeiro,
e q ue teve c om o tema
"A
Arquivologia
e
a Construção
Social
do Conhecimento".
O art igo Dois aspectos da formação em preservação documental, de Ingrid Beck,
museológa
e
conservadora,
apresenta
algumas
reflexões
q ue fazem parte
da
dissertação
de
mestrado
da
autora,
Ensino
da
Preservação
Documental
nos
Cursos
de
Arquivologia
Bibl io teconomia:
Perspectivas paraf o r m a r um
novo
prof iss ional . A dissertação
fo i
orientada pela
Profa.
Dra. Maria
Odila
Fonseca
e
defendida
junto à Universidade
Federal
Fluminense
em
convênio co m
o
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
-
IBICT,
em
abril de
2006.
Lúcia Mar ia
Velloso
de
Oliveira, graduada em
História e
em
Arquivologia,
escreveu
o artigo
O s usuários da informação arquivística, tendo c o m o base sua dissertação de m est rado,
usuário
c o m o
agente o processo
e
transferência
dos
conteúdos
informacionais
arquivísticos.
Sua
dissertação
fo i
elaborada
so b
a
orientação
do
professor
José
Mar i a
Jardim
e
dentro
do p rog rama
de
pós-graduação
em
Ciência
da
Informação, convênio Universidade Federal Fluminense e
IBICT. Adefesa
da
dissertação ocorreu
em
agosto
de
2006.
Paulino Lemes de Sousa Cardoso.
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POLÍTICAS
PÚBLICASARQUIVÍSTICAS:
PRINCÍPIOS,
ATORES
E PROCESSOS
José
Maria
Jardim
Doutor em Ciência
da
informação
Professor
do Dept. de
Ciência da
Informação
da
Universidade
Federal
Fluminense
jardimbr@ gmail.com
RESUMO
O tema
políticas
públicas
arquivísticas
vem
encontrando
um espaço cada vez maio r como objeto de
pesquisa
na Arqui
vologia.
Nesse sentido,
o
artigo aborda quais seriam
as
possíveis razões
pa ra
o
crescente
interesse
pelas políticas públicas de informação
e
pelas políticas públicas arquivísticas,
o
terri tório
das
políticas
públicas;
as
políticas
públicas
de
info rmação;
as
políticas
públicas
arquivísticas;
as
dimensões
técnica
e
política; e
o s
l imites
e
possibilidades
de um a
política
pública
arquivística.
Palavras-chave:
Política públ ica; Arquivística;
In f o rmação .
Introdução
Políticas
públicas
arquivísticas
é
um
tema
freqüente
num
certo
discurso
oficial
presente
em
vários
países,
na
legislação, no s
relatórios, no s planos
de
trabalho
de
arquivos públicos,
etc. De certa
f o rma ,
a
incidência
desse
discurso,
especialmente
no s úl t imos
dez
anos,
p romoveu
a
naturalização
do
tema, acirrada p o r
um a
escassez de
reflexões
mais
profundas
a
respeito.
Falamos sobre
a
necessidade
de políticas
públicas
arquivísticas,
procuramos
ensinar
a
respeito,
m as encontramos este tema
pouco
aprofundado na literatura arquivística. O u então tendemos
a
reconhecê-
lo
associado
a um conjunto
de
prescrições
q ue
colidem
diretamente
co m
a dinâmica
do
mundo
político.
Nessas circunstâncias, a polít ica
arquivística
tende
a
ser
muito
m a i s
um a peça de
retórica do
q ue
um a
realidade
q ue
se
plasma
a
partir
de
princípios,
ações
e
atores
concretos.
Apesar
disso,
ainda
q ue
t imidamente,
o
tema
políticas
públicas
arquivísticas
vem
encontrando
um
espaço
cada vez
m a i o r c om o
objeto
de pesquisa
na Arquivologia.
A política
arquivística, reconhecida
na
sua complexidade e
variadas fo rmas de
ser conceituada e
operacionalizada,
está
presente
não
apenas
no
cotidiano de nossas instituições
e
serviços
arqui
vísticos,
m as
também
-e
cada
vez
mais
- no ensino,
na
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procuram
novos
parâmetros
para seus
norteamentos
polít icos em
curso
o u voltam-se para o
tema
pela
pr imei ra
vez.
Quais
as
possíveis razões para
este interesse
crescente
pelas políticas
públicas
de
informação
e,
no
nosso
caso,
pelas
políticas
públicas
arqui
vísticas?
De
um
lado, como
sugere
a
UNESCO
desde o s
anos
80, o
insucesso
do s
mega-sistemas
nacionais
de
informação. Do outro,
a
comprovação de
q ue sistemas, p rogramas o u
ações
informacionais tendem
a
melhores resultados quando precedidos pela formulação
e
implementação de políticas informacionais.
Nos anos 90, dois fenômenos talvez tenham contribuído também para
um a
ma io r
preocupação
co m as
políticas
públicas
informacionais.
Um deles
é
a
ampliação do s novos m o do s de produção, conservação e uso da informação so b
a
crescente utilização das tecnologias da
informação
de comunicação. Me s m o
em
países
do capitalismo
periférico,
co m maiores
dificuldades
de acesso
às
tecnologias
da
informação
e
comunicação,
há um
profundo
impacto nas organizações e, é claro, nas administrações públicas. Não
p o r
acaso, o
tema do s documentos
eletrônicos
e
das novas f o rmas de
uso
da
informação arquivística no ambiente w eb tem ocupado tanto
a
agenda
arquivística
internacional.
Um
outro
aspecto
a
influir
na ampliação
do
debate sobre as políticas públicas informacionais
refere-se, no s últimos anos, ao s novos parâmetros de gestão política e científica da informação mostraram-
se necessários. Esses novos delineamentos vêm emergindo, entre outros exemplos, a
partir
de
experiências
recentes
de
governo
eletrônico,
gestão
do
conhecimento
e
gestão
da
inteligência
nas
administrações
públicas,
além das pesquisas acadêmicas sobre o
tema.
Um outro
aspecto
impor tante
nas novas
abordagens
do tema
são
as
t ransformações
q ue
vê m
ocorrendo no Estado, especialmente na
Amér ica
Latina.
A part i r do s anos 90, vivenciamos o modelo
neoliberal
c om o norteador
das políticas de
diminuição do
Estado
e
de novos métodos de gerenciamento
- nem sempre
eficientes
-
das organizações
públicas.
Esse modelo, caracterizado pela vilanização
do
Estado
e
o
endeusamento
do
mercado
c om o
regulador das relações
sociais,
comprometeu fortemente
as políticas
públicas
em
geral.
Ma i s
recentemente,
constatamos
o
reconhecimento,
até
mesmo
pelos
o rgan ismos
internacionais, q ue o
modelo
neoliberal esgotou-se.
O q ue er a
antes
consenso,
já
não
o é
mais .
O
saldo
informacional
resultante da
privatização
de
funções, q ue
até
então
eram
consideradas
estratégicas nas administrações
públicas,
ampl iou o
débito
histórico do Estado em relação à sociedade.
Ainda no caso da Amér ica Latina, o
reencontro
co m a democracia e discussão do direito à
informação favoreceu
em
alguns casos um debate
renovador sobre
a
função do s arquivos c om o recurso
social .
C o m o
tal,
as
políticas
púb l i cas
arquivísticas
ganharam
m a i o r
espaço
de
reflexão
e
concretização.
Vale
lembrar q ue
em
diversos outros aspectos
da
vida social, constata-se
recentemente
um a
m a io r preocupação co m as políticas públicas. Essa tendência
reflete
a
emergência de novos
valores
na
cultura política c o m o a busca pela
transparência
nas
decisões
e
a
ma i o r
distinção
entre
o
público
e
o
privado
(Melo, 1999).
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erritório das políticas públicas
Análise de Políticas Públicas é
um a área
de
conhecimento,
de
matr iz anglo-saxônica
e oriunda
Ciência Política, co m caráter
multidisciplinar. Para Bardach (1998), trata-se
de
um
"conjunto
de
p ropo rc ionado pordiversas
disciplinas
das
ciências
humanas utilizados para buscar
o u
analisar
p roblemas
concretos
em
política
(policy)
pública".
Segundo Dye (apud
Dagnino,
2002),
fazer
"Análise
de
Política
é
descobrir
o
q ue
o s
governos
po r que
fazem
e
q ue
diferença isto
faz... é
a
descrição
e
explicação
das causas
e
conseqüências
da
do governo".
A
análise
de
políticas
públicas,
conforme
Wildavsky
(apud
Dagnino,
2002),
visa
"interpretar
as
e conseqüências da ação do governo, em particular, ao
voltar
sua
atenção
ao processo de formulação
política".
As
políticas
públicas
tendem
a
serem
compreendidas
como
o
"Estado
em ação",
o u
seja,
o
Estado
um
projeto
de
governo.
Trata-se
de ações
procedentes
de
um a
autoridade
dotada de
poder
e de
legitimidade
governamental q ue afeta um o u ma i s setores da sociedade.
Muller e Surel (2004, p .
11), numa
perspectiva
cognitiva,
entendem
a
ação
do
Estado
co m o um
privilegiado
"
no
qual
as
complexas
sociedades
modernas
"vão
colocar
o
problema
crucial
de
sua
co m
o
mundo
através
da
construção
de
paradigmas
o u
de
referenciais". O s instrumentos
q ue
da í
favorecem a ação social "e o s espaços de
sentido
no
inter ior das quais o s grupos sociais vão
Confo rme
Dagnino (2002), um a política
é
constituída
de
um conjunto
de
medidas
concretas
ue
f o rmam
a
sua
"substância"
e
anuncia
claramente
seus
objetivos
e
metas. "Normalmente
impl ica
em
a
série de decisões.
Decidir q ue
existe
um problema.
Decidir
q ue
se
deve tentar
resolver.
Decidir a
maneira de
resolver"
(Subirats,
J.
in
Ferr i
Dura,
2004).
Po r
isso,
um a
política pública deve
ser
mplamente
identificada
enquanto
tal
e
comunicada
à
sociedade
civil.
A relação
entre
sociedade
e
Estado, o
grau
de
distanciamento o u ap rox imação , as
f o r m a s
de
utilização
o u
não de canais de comunicação entre o s
diferentes
grupos da
sociedade
e o s
órgãos públ icos-que refletem
e incorporam
fatores
culturais
[...]-estabelecem
contornos
p r ó p r i o s
para
as
polít icas
pensadas
para a sociedade. Indiscutivelmente, as
f o r m a s de
organização,
o
pode r
de
pressão
e
articulação
de
diferentes
grupos
sociais
no
processo
de
estabelecimento e reivindicação de demandas sã o
fatores
fundamentais na conquista de
novos
e
mais
amp lo s
direitos sociais,
inco rpo rados ao exercício da
cidadania. ( H O F U N Q
2001,
p . 39).
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Um a política pública é
necessariamente
um
processo
dinâmico sujeito a alterações
diversas.
Po r isso
a impo r t ânc ia da
sua
avaliação
p o r distintos
atores,
de
f o r m a a
favorecer
as inevitáveis
modificações
q ue
sobre
ao longo do
tempo.
Dagnino
(2002,
p .
3)
aponta
alguns
elementos
q ue
no s
auxiliam
compreendermos
a
amplitude
do conceito
de
políticas públicas:
l -adist inçãoentrepolí t icaedecisão:apolí t icaégeradapor
um a série de interações entre
decisões
mais
o u
menos conscientes de
diversos atores
sociais (e
não somente
do s
tomadores
de
decisão)
2
-
a
distinção
entre
política
e
administração
3
-
q ue
política
envolve
tanto
intençõesquanto
compor tamentos
4
- tanto ação
co mo
não-ação
5 - q ue
pode
determinar
impactos não
esperados
6
-
q ue
o s
propós i tos podem
ser
definidos
ex
post , racionalização
7 - q ue
ela
é um processo q ue se
estabelece
ao longo do tempo
8 - q ue envolve
relações intra e inter
organizações
9
-
q ue
é
estabelecida
no
âmbito
governamental,
m as
envolve
múlt iplos
atores
10
-
q ue é definida
subjetivamente
segundo
as
visões
conceituais
adotadas.
Da
m e sm a
fo rma ,
vale
ressaltar
alguns
pontos
destacados
p o r Muller (2004, p . 22):
. a
existência de um
conjunto
de medidas concretas;
.
a
inserção
da
política
pública
num
um quadro
geral
de
ação,
o
q ue significa
af i rmar
q ue nunca
é
um a
ação
isolada;
. toda
política
pública possui sempre um
público
e objetivos definidos.
Algumas políticas
são
mais explícitas
o u
latentes
o u
tomam
a
f o rma
de
um a "não-decisão". Po r
isso o
estudo
de
políticas
deve
deter-se, também, no
exame
de não-decisões.
Em
alguns
casos, a
não-tomada de
decisão assume
a
f o rma
de
decisão.
Analisando políticas
públicas
de
informação
no
Brasil,
chama-nos
a
atenção,
preliminarmente,
a
aparente
falta
de
decisão.
A
"não-decisão", po rém , é
um
ato de poder.
É
diferente da
decisão
q ue não se
t o ma
p o r
falta de poder
o u p o r
inércia
o u
p o r inépcia.
A análise
de
polít icas
tende a se r a se r
dividida
em
t rês fases
sucessivas -F o r m u l a ç ã o ,
Imp lemen t ação e
Avaliação
-
q ue con fo rmam
um
ciclo
q ue se
real imenta.
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públicas
de
informação
A literatura voltada
ao s
estudos
da informação
não dispõe de um quadro conceituai mais denso
sobre
polít icas
públicas
de
i n f o rmação .
Normalmente
essa
literatura
ignora
o s
aspectos
teór icos
e
metodológicos da análise de políticas
públicas.
A
noção de "polít ica
de
i n fo rmação"
tende
a ser
naturalizada e a designar
diversas
ações e
processos
do
campo
informacional: arquivos,
bibliotecas,
internet,
tecnologia
da
informação,
governo
eletrônico,
sociedade
da
informação,
informação
científica
e
tecnológica,
etc.
Um conjunto de decisões governamentais no campo da informação não resulta necessariamente
na
constituição
de
um a
política
pública
de informação. Um a
política
de
informação
é
mais
q ue
a
s oma
de
um
determinado
número
de
programas
de
trabalho,
sistemas
e
serviços.
É necessário q ue se defina o universo geográfico, administrativo, econômico, temático, social
e
informacional
a
ser
contemplado
pela
política
de
informação.
Da
mes ma
f o rma ,
devem
ser
previstos
o s
diversos atores do
Estado
e da
sociedade
envolvidos
na
elaboração,
implantação,
controle
e
avaliação
dessas
políticas.
Políticas
públicas
de
informação
são
norteadas
p o r
um
conjunto
de
valores
políticos
q ue
atuam
como
parâmetros
balizadores
à
sua
formulação
e
execução.
Podem
estar "difusas" no âmbito de
outras
políticas
públicas,
m as
não
implícitas.
O
Estado
democrático
é,
p o r
pr incípio,
incompatível
co m
políticas
públicas
de
saúde,
educação,
habitação
o u
informação,
q ue
não
sejam explícitas.
Alguns elementos
tendem
a estar presente
nas
políticas públicas de
informação:
a)
O
alcance
e
o
conceito
de
informação
identifica
a
política de
informação
b)
O
alcance
de
ações
da
política
de informação:
Ações
no
Estado
Ações
na
Sociedade
Ações Estado-Sociedade
Ações
Sociedade-Estado
c)
O
equilíbrio
entre
atividades
normativas e operacionais
na
sua
execução;
d) A
relação
da
polí t ica da in fo rmação co m
as demais polít icas
públ icas ,
o u seja,
a
sua
transversalidade:
Políticas
de
cultura
Políticas de saúde
Políticas
de educação
Políticas
de transportes
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e)
A part icipação do s diversos atores
sociais
q ue são
contemplados
p o r
essas polít icas de
informação
Políticas
públicas
arquivísticas
De
f o r ma
sintética, entende-se p o r políticas públicas arquivísticas o conjunto de
premissas,
decisões
e
ações - produzidas
pelo
Estado
e
inseridas
nas
agendas
governamentais
em
n o me
do
interesse
social - q ue
contemplam o s diversos aspectos (administrativo, legal,
científico,
cultural, tecnológico,
etc.) relativos
à
produção, uso e preservação
da
informação arquivística de
natureza
pública
e
privada.
Políticas
públicas
arquivísticas
podem ser setoriais
(em
função
das
características
de
produção
do s
arquivos,
tipologia,
utilização,
demarcaçãQ.administrativa,
etc.)
e
podem
apresentar
um a
configuração
nacional,
regional
o u
local.
Espera-se, em
qualquer
circunstância,
q ue apresentem
alto
grau
de transversalidade
o u seja,
intersecção
co m
outras políticas públicas, tendo em vista
a
importância
da
informação para
a
execução de
cada
um a
delas. Em outras palavras, políticas públicas, nas áreas de saúde, ciência o u habitação, contam
-
co mo
um
do s fatores
a
influenciar
seus
resultados -
co m o s
diversos impactos
das
políticas
arquivísticas
na
atuação
das
organizações
governamentais naquelas
áreas.
Um
aspecto muito freqüente
é
confundir
legislação arquivística
co m
política
arquivística.
A legislação
arquivística
fornece
elementos normalizadores à política
arquivística, m as não
é
em
si
m e sm a
um a
política.
Muitas
vezes
a
legislação
arquivística
tende
a
ser
considerada
o
marco
zero
de um a nova
er a
arquivística.
É compreensível
tal
expectativa
já q ue um a
legislação
adequadamente concebida pode
ser um
poderoso
instrumento
a
favor
da gestão, uso e
preservação do s
arquivos.
A
viabilidade dessa
legislação
toma-se comprometida
se
não fo r
simultaneamente
instrumento
e
objeto
de
um a
política
arquivística.
C o m o
assinala
Couture
(1998),
"a
existência
da
lei
não
garante
a
sua
aplicação... A
legislação
não
pode
ser confundida
co m
aação
concreta".
A s
políticas
arquivísticas
no
quadro das políticas públicas
de
informação
Políticas públicas arquivísticas constituem um a
das
dimensões
da s polí t icas públicas
informacionais.
Em
função da
realidade
observada,
é
possível
detectar
situações
nas
quais
políticas
públicas
arquivísticas
são
concebidas
e
implementadas
-
normalmente
sem
muito
sucesso
-
ignorando-se
as
demais
políticas
públicas
de
infonnação
existentes. Da mesma fo rma , são
freqüentes
situações
nas quais
políticas
públicas
de informação
- muitas vezes em nível
nacional
- desconhecem p o r completo as peculiaridades
do
universo
arquivístico. Em alguns
casos,
p o r exemplo, políticas arquivísticas e
políticas de
governo
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perdem
co m
essa
ausência
de
interfaces,
especialmente
o
campo
arquivístico,
normalmente
visível
q ue aquele
relacionado
co m
as
questões
inerentes
ao s
projetos de
governo
eletrônico.
s
dimensões
écnica
e
política
As
ações
resultantes
das
decisões
q ue
constituem
as
políticas
públicas
arquivísticas
revestem-
na
maio r i a
do s
casos,
de
um
caráter
técnico-científico. N o
entanto, políticas
arquivísticas
existem
responder
a
problemas polít icos do campo
do s
arquivos. Isto pressupõe, inicialmente,
a
necessidade
identificar
e
analisar
estes
problemas.
Reconhecê-los
exige
um
conjunto de
conhecimentos
simultaneamente técnico-científicos e
Assim,
a
demanda
p o r
um
plano
de
classificação
de
documentos
pa ra
ampl ia r
a
qualidade
da
de um organismo governamental
é
um
problema
político.
As
decisões de produzir
e
implantar o
de
classificação
de
documentos
também.
Este,
po rém ,
é
um
recurso
técnico-científico,
referido
à
arquivística,
cuja
qualidade na
concepção
pode
comprometer
sua
aplicabilidade técnica
co m
graves
onseqüências
políticas.
As dimensões
política e
técnica
encontram-se,
portanto,
visceralmente
associadas
esde
a
concepção
à
execução
das
suas
diversas
facetas.
H á
freqüentes associações
entre
as
concepções
de
políticas arquivísticas e
sistema
nacional
(ou
local
e
regional)
de
arquivos.
A
Fundación
Histórica
Tavera
recomenda,
p o r
exemplo ,
q ue
países
c o m o
Chile,
Paraguai
e
Uruguai
adotem
um
"Sistema
Nacional
de
Arquivos
q ue
articule
e
normal ize
a
política
arquivística nacional".
So b
tal
concepção, o sistema é anterior à política e
esta
é um a instância controlável
pelo
Sistema.
Num plano
mais
geral, a
mesma perspectiva
é
assumida
p o r
Molino
ao
anahsar
políticas
de
informação
na
Amér ica
Latina
o u no
Caribe,
o u
seja,
a
compreensão
teórica
e operacional
da
polít ica
informacional
parece
inevitavelmente
associada,
sem
justificativa
pa ra tal, a um a concepção sistêmica.
Neste sentido, diversas iniciativas
têm
fracassado
po rque sistemas
arquivísticos
são
produtos
e
não
causas
de
políticas
arquivísticas.
A
política
arquivística
tende,
po rém,
a
ser
influenciada
pelo
sistema
arquivístico,
desde
q ue
este efetivamente
funcione.
O
sistema,
neste
caso, é
um
modelo
de
gerenciamento,
entre
outros q ue podem
ser
tomados
c o m o
ferramenta na
condução
de políticas
arquivísticas.
Seja qual
fo r a
anatomia
do sistema, da rede
o u
do s programas de ação,
sua
concepção
e operacionalização
decorrem
da política arquivística.
Levando
todos
esses
aspectos em conta
e,
sobretudo, tentando
transcender
a
dicotomia
entre
as
dimensões
política
e
técnico-científica,
p o r
q ue
políticas
públicas
arquivísticas
exigem
tantos
esforços
na sua formulação, implementação
e
avaliação?
Alguns aspectos
merecem
serem contemplados
se
quisermos
no s
ap rox ima r
de um a resposta
a
essa
questão.
De
imediato,
um aspecto
relevante
é a relação Estado e
Sociedade
no
âmbi to
da
qual
são
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porém
parece
favorecida pela
visibilidade
do universo de
questões
envolvidas.
È
o caso
das
políticas
públicas de
saúde,
educação,
emprego, etc. No caso das políticas
informacionais,
o alcance do s
intentos
de políticas públicas mostra-se visceralmente associado a aspectos tais como:
• o
compromet imento
do Estado co m o uso adequado
-
em todos o s
sentidos - da informação
pela administração pública e pela sociedade
•
as
condições da
sociedade
civil
em
reconhecer a
informação governamental co mo
direito,
utilizá-la e gerar novas demandas
a part ir dessa utilização
Verticalizando essa
percepção pa ra
o
universo
arquivístico,
alguns
obstáculos
tendem a
serem
freqüentes:
•
grau
de
reconhecimento
da
importância
da
informação
arquivística
e
das
instituições
e
serviços arquivísticos pelo Estado e a sociedade civil
•
capacidade
polí t ica
e técnico-científica
da s
instituições arquivísticas públicas
identificarem
e lograrem
formular ,
executar
e
avaliar políticas
públicas
arquivísticas.
Os
imites e
possibilidades
de uma política pública
arquivística
Considerando
tais
aspectos,
parece
evidente
q ue
as
políticas
públicas
arquivísticas
pressupõem
profundo conhecimento político, gerencial e técnico-científico p o r parte do s seus formuladores.
Trata-se
de
um
conhecimento q ue
emerge
de
olhar multidisciplinar,
a
part i r não
apenas
da
Arquivologia,
m as também da Análise das Políticas
Públicas, da Ciência
Política
e da Administração.
Além
disso,
requer um
conhecimento
extensivo
da
realidade
sobre
a
qual
o
Estado -
na
f igura
da s
instituições
arquivísticas -pretende
agir em
relação
ao s arquivos.
Nessa
realidade
incluem-se
as
f o rmas
de
produção,
uso
e
conservação
do s
arquivos
públicos
e
privados q ue se inserem
no
raio de alcance da política buscada, bem
co mo
o s atores que, no Estado e na
sociedade, podem
ser
tocados direta o u
indiretamente
p o r
essa política. Po r isso, instituições arquivísticas
abertas à
realidade
social
q ue as envolve
f o rmam
um a
condição fundamental
pa ra
o s intentos
de
políticas
arquivísticas.
Do
ponto
de
vista democrático,
diversos
setores
devem
estar envolvidos também
na
formulação,
implantação e
avaliação
da s
políticas públ icas arquivísticas.
Supõe-se q ue mecanismos legais
e
institucionais
sejam
foijados
e
concretizados
de
f o rma
a
garantir
a
representati
vidade
de
agentes
do
Estado
e da Sociedade
Civil
nesse processo.
Prevê-se
a presença, nesse processo, de agentes
públicos
das áreas de
ciência,
tecnologia,
administração,
educação e cultura,
bem c om o do s poderes
Executivo,
Legislativo e
Judiciário em distintos níveis
de
governo. Numa cultura política
permeada
p o r valores
co mo
participação
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quantitativamente,
em
grau
q ue
impeça a
hipertrof ia a
favor
do
Estado no processo político decisório.
Agentes
representantes do s diversos t ipos
de
usuários do s arquivos,
bem
c omo
do s arquivos privados,
de
instituições
de ensino
e
pesquisa
fo ra do
aparelho
de Estado
e
de
organizações
profissionais
arquivísticas
devem
ter
assegurado
a
sua
participação.
Entre o desenho político-juridico ideal e a sua realização há distâncias maiores ou menores q ue
são identificadas ao longo de
tempo.
A
superação
da
retórica
participativa
p o r um a
prática
efetiva,
capaz
de legitimar um a propos ta
de
política
arquivística,
já
é em si um terri tório
de
ação
política.
Enfim,
se é
preciso
avaliar freqüentemente o alcance das políticas executadas, mostra-se
também
relevante a análise
do processo
de formulação
das políticas, procurando-se
a
correção de
aspectos
q ue
possam
comprometê-
l o .
Instituições
arquivísticas,
cujo
modelo
organizacional
ressalta
a
sua
invisibilidade
política
e
social, são
incompatíveis
co m
políticas
públicas
arquivísticas.
Isto
não
significa
necessariamente q ue
tais
instituições
gozem
de excelentes
condições
de
infra-estrutura
tecnológica, legal,
física
o u
humana.
No
entanto,
é
necessário que,
mesmo não dispondo
do
melhor
nesse
sentido, o s
arquivos
públicos
tenham
um mín imo
de
norteamentos
políticos
e científicos
sobre
suas funções contemporâneas..
Face ao
expos to , ao ana l i sa rmos um a
polít ica
públ ica
arquivíst ica,
alguma
perguntas
fundamentais merecem ser
respondidas:
'
xiste um a
política
arquivística?
'
enãoexisteumapolítica,porquetalocoire?Foifonnulada,publicizadaenãoexecutada?
•
Não fo i
formulada? Fo i
anunciada,
m as não
formulada?
> e existe um a
política
arquivística,
o
q ue
faz
a
administração
pública
federal, estadual
o u municipal em
te rmos
da
execução
dessa
política?
r
uais
o s
atores,
do
Estado
e
da
sociedade
civil,
envolvidos
na
formulação,
execução
e
avaliação dessa
política?
r
uais
o s
atores
do Estado
e
da
sociedade
civil
q ue
são objeto
da
política
arquivística?
'
uais
são as conseqüências
dessa
política
junto à
administração
pública e
à
sociedade?
'
ua l
a
pr incipal
autoridade,
do Estado,
envolvida
nessa
política?
>
uais
as
medidas
concretas
q ue
expressam
a política
arquivística?
Quais
e como são
comunicados
seus objetivos
ao
conjunto da sociedade?
'
uais
as
ações
potencialmente
relacionadas
co m
a política arquivística e q ue não são
objeto de decisões p o r
parte da
autoridade
governamental?
Quais
os
textos
legais
q ue
constituem
referências pa ra
essa política?
Além do
aspecto
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'
uais
os
conceitos
q ue norteiam
a formulação,
execução e avaliação da política
arquivística?
>
o m o a
política
arquivística expressa
transversalidade
em relação ao outras políticas
públicas
no
campo
da
informação
e
de
outros
setores
do
Estado?
Essas
e
outras
perguntas, além de
várias
possibilidades
de respostas, sugerem
q ue
o
debate
sobre políticas públicas arquivísticas ainda merece um a ma io r verticalização seja p o r parte das instituições
arquivísticas
o u
do mundo acadêmico.
O s
atores
públicos
e
privados
envolvidos em
processos
de
formulação,
execução
e
avaliação
de
políticas arquivísticas
necessitam
ampl ia r
ainda
ma is
o
espaço
público
sobre
o
tema.
Trata-se
de
um a
demanda
polít ica
e
científica
que,
exercida
pelo
Estado
e
a
sociedade
civil,
pode
favorecer
e
ampl ia r
nossas
experiências
em
te rmos
de políticas
públicas arquivísticas.
O
q ue
não
podemos ,
definitivamente,
é
no s
da rmos
ao luxo de
não conta rmos
co m
políticas
públicas arquivísticas
regidas
pelos
parâmet ros
polít icos
e
científicos
da contemporaneidade na qual
o s
arquivos
se
inserem (o u
deveriam
se
inserir)
co mo recurso fundamental à construção
social
do
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A
FORMAÇÃO
DO
ARQUIVISTA
CONTEMPORÂNEONUMA
PERSPECTIVA
HISTÓRICA:
IMPASSES E DESAFIOSATUAIS.
Georgete Medleg Rodr igues
Doutora em
H i s t ó r i a .
Professora
do
Cureo
de
Aiquivologiaedo
Programa de P ó s - g r a d u a ç ã o em C i ê n c i a
da
I n f o r m a ç ã o
da
Univerádade
de
B r a s í l i a (UnB).
g e c rg e £ @ u n b . b r
RESUMO
Co m
base
na
literatura
e
em
pesquisas empíricas, traça-se o
percurso
histórico internacional da fo rmação
do
arquivista, desde o
surgimento
do s
pr ime i ros cursos voltados pa ra essa fo rmação específica,
a
busca
de
um a harmonização
do s currículos
de
arquivologia,
ciência da
informação
e
biblioteconomia
apoiada
pela
Unesco.
F az
um a descrição da s
disciplinas
de
f o rmação do
arquivista ,
segundo a l i teratura
especializada
em língua
inglesa
e francesa, e,
especificamente,
essa formação
no s
países de
língua francesa
da
Europa
e
no
Canadá,
na
atualidade.
Aborda
a
formação
em
arquivística
no s
Programa
de
Pós-graduação
no
Brasil, o
seu
percurso da graduação
à
pesquisa
e
discute
as
perspectivas da profissão
e
da disciplina
contemporaneamente no Brasil
e no
mundo.
Palavras-chave:Arquivologia
-
Aspectos históricos;
Arquivologia
-
Brasil; Arquivista; Fo rmação
profissional; Pesquisa.
Introdução
As
pr imeiras
escolas
de
Arquivologia surgem no
século
X IX na Europa.
Dessas
escolas,
umas
têm
c om o
eixo um ensino voltado para
a
erudição histórica, c o m o
a
École Nationale des Chartes, França,
enquanto
outras
são prior i ta r iamente ligadas
à
administração do s
arquivos
estatais, c om o
é
o caso das
escolas
italianas
(EVANS,
1988 apud
COUTURE, 2000)
1
. N o geral, a
história
domina
o s
currículos
dessas
escolas
e
é,
portanto,
esse
modelo
de
ensino
q ue
se
expandirá
pa ra
outros
países,
incluindo
o s
Estados Unidos
(LAJEUNESSE,
1986
e
E A S T W O O D ,
1988 apud COUTURE , 2000). Devemos
1
No
éculo
X IX
ssiste-se
ambém
criação
as
eguintes escolas
a
Europa: 854
Escola
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 19/78
lembrar
q ue
esse vínculo estreito entre a história e
o
ensino de arquivologia é, em certa medida,
conseqüência do forte empi r i smo, apoiado em fontes documentais, predominante na historiograf ia do
século
XK.
No
século
X X ,
sobretudo
a
part i r
do s
anos
30,
assiste-se
a
inúmeras
mudanças
econômicas,
técnicas
e
científicas
q ue repercutem
na
Arquivologia, quais sejam: maio r intervenção do
Estado
resultando
numa produção massiva de documentos; aceleração do s desenvolvimentos
tecnológicos,
desenvolvimento
da
teoria
arquivística e a expansão das
atividades
do s
serviços
de arquivo (EVANS,
1988
e DELMAS,
1988a
apud
COUTURE 2000).
O s
fundamentos
da
Arquivologia
tradicional
ampl iam-se e
tem-se, agora,
um a formação
dita
"multifiincional"
(MENNE-HARTTZ,
1992 apud COUTURE,
2000).
A partir
do s
anos
1940,
- em função da
realidade
descrita anteriormente -tem início um questionamento sobre o lugar da
história
na
f o rmação
do s arquivistas. Em
1975,
Hugh
Taylor desenvolve
o
seu conceito
de
"abordagem
contextual", o qual requer
do arquivista um
saber
histórico específico
2
;
em 1993,
um
grupo
de
estudos
questiona-se
sobre
o
papel do
conhecimento
histórico
na
formação arquivística
(NESMTTH,
1992
e
H A M ,
1993
apud
COUTURE, 2000). Um debate sobre
a
f o rmação
de
um
"arquivista-historiador"
o u
um
"arquivista profissional da informação"
começa
a delinear-se. Na verdade, três disciplinas apresentam-se,
então,
c om o
responsáveis
pela formação de
profissionais da
informação:
Arquivologia,
Biblioteconomia
eCiência
da Informação.
AUnesco entra
em
cena,
na
década
de
1970,no
sentido de
buscar
um a
harmonização
das três formações.
De
fato,
em
1974,
a
Unesco,
co m
o
apo io
do
Conselho
Internacional
de
Arquivos
(CIA),
da
Federação Internacional de Informação e documentação (FID) e da Federação Internacional
das
Associações
de
bibliotecários
e
de
bibliotecas (IFLA), patrocinaria inúmeros
encontros
e
estudos
co m o
objetivo
de
estabelecer p r inc íp ios
q ue
orientassem um conceito de harmonização
e
orientasse estratégias
q ue
favorecessem sua
implementação
( C O O K,
1986 ;BOWDON,
1987;TEES,
1988
apud COUTURE
2000).
Esse
movimento culminaria co m
o
Colóquio
de
Londres,
em 1987,
organizado
pelas
instituições
citadas
acima,
tendo
c o m o
tema a questão
da
harmonização
das três
formações.
Paralelamente,
um a
formação
específica
e
harmonizada
do s
arquivistas
começaria
a
ser
objeto
de preocupação da Unesco no s anos 1970. Co m a
finalidade
de entender esse processo, examinamos o s
estudos
publicados pela Unesco no âmbito
do
Prog ramme
géneral
d' information (PGI). Isso
no s
most rou
que,
desde o final do s
anos
1970, aquela organização internacional preocupava-se co m o tipo de formação
desses
prof issionais. O britânico Michael
Cook (1979) e o francês Bruno Delmas
(1979)
-este últ imo
professor
na
École Nationale
des Chartes
-
foram
o s
autores
p ionei ros nesse sentido. Em 1980, a
Unesco,
finalmente, lançaria um
relatório
de
síntese
sobre a harmonização
da
formação
do s
arquivistas (UNESCO,
2
Esse onceito ecuperado em
NESMITH,Tom.
Hugh Taylor's ontextual dea o r archives
and
he
oundation f graduate education n rchival
tudies.
n:
CRAIG,
Barbara
L., diteur
. he rchival magination: ssays n
onour
f
Hugh
.
aylor. ttawa: ssociation f
Canadian Archivists,
992b.
.
3-37 .
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 20/78
1980).
Entretanto,
no bojo do movimento em
t om o
da
harmonização
da
formação envolvendo
as
três
áreas
citadas, a Unesco patrocinaria, a partir
de
meados do s anos
1980,
estudos
sobre a aprox imação
entre
o s
arquivistas e outros profissionais
da
informação. É nesse contexto q ue são publicados, so b o s auspícios
da
Unesco,
em
1985,
dois
do s
mais
importantes
estudos
sobre
o
tema:
o
de
Aurélio
Tanodi
(1985)
pa ra
a
América Latinae o de Jacques d'Orleans
(1985),
pa ra a África.
Em
1988,
co mo
conseqüência
do s
estudos
anteriores,
a
Unesco finalmente publicaria
-sempre
no âmbito do PG I -
um a
espécie de manual
de
orientação pa ra
o
ensino
de
Biblioteconomia,
de Ciências
da Informação e de Arquivologia.
De autoria de
France
Fontaine
e Paulette Bemhard
3
, o estudo - intitulado
Príncipes
directeurs
p o u r la rédaction d 'objectifs d'apprentissage en bibliothéconomie,
en
sciences
4
de
I 'i n fo rm ati on e t
en
archivistique (Pr incíp ios diretores pa ra
a
redação de objet ivos
de
ensino de
Biblioteconomia,
de
Ciências
da
Informação
e
de
Arquivologia)
-
fo i
produzido
no
quadro
de
um
acordo
entre
a Unesco e o
Serviço
Pedagógico
da
Universidade
de Montreal (FONTAINE; BERNHARD, 1988).
No prefácio da
obra
é possível vislumbrar,
na
perspectiva da Unesco, a possibilidade
de
fo rmação
de
"especialistas da informação":
Sabe-se
q ue
a
prá t ica
pro f i ss ional
em Arquivologia,
em
Ciências
da In fo rmação
e
em
Biblioteconomia evolui
rapidamente e
as novas
especialidades
q ue
devem
ser
doravante
ensinadas se multiplicam
(...).
É
p a r a
facili tar
a introdução
desses domínios q ue
esta série
p r o p õ e
e
cont inuará
a
propor
títulos
sobre
t emas
especial izados
da
f o r m a ç ã o
do s
especialistas
da
informação
(FONTAINE ;
B E RN HARD, 19 88 ,
p . , tradução
e
grifas
nossos).
O
f i rme engajamento
da Unesco
na
aprox imação
entre as
três
áreas é
anunciado
também
no
prefácio da referida obra:
A
única
orientação
importante
q ue
será
mant ida
em
todas
as
obras
da
série
diz
respeito
à
harmonização
da
f o r mação . Isso
significa
q ue na
medida
do
possível,
a
f o r m a ç ã o do s
arquivistas, do s
bibliotecários
e do s
especialistas
da
in fo rmação
deve
ser
concebida de
mane i ra
concertada
pelas
diferentes
instâncias
encarregadas
dessa
f o rmação . As
razões
teóricas
e
as vantagens
prát icas
dessa abordagem f o ram estudadas e
reconhecidas
não
apenas durante o s trabalhos
empreendidos
pela Unesco, m as igualmente pelas organizações
não
governamentais co mo
a
IFLA,
a F ID e o
CIA
(FONTAINE;
BERNHARD, 1988,
p .
i i ,
tradução e grifas nossos).
1
A
p r imei ra ,
ocente
a
Escola de
Biblioteconomia e
Ciências da Informação
da
Universidade
de
Montreal egunda,
onselheira
edagógica
a
mesma
niversidade.
4
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 21/78
Couture
(2000) - co m base em estudos de Lajeunesse
(1986),
Couture (1988)
Unesco
(1984),
Blouin (1986), Warner (1986) e Saunders (1987)
sobre
o
movimento
de harmonização
da
formação
da s
três
áreas
-
sintetiza
assim
o s
rumos
do s
debates:
Nessa
data [anos 1980] certas
noções
teóricas
sã o
consenso.
A
concepção integrada da
Arquivística
defendida pela Unesco
é ,
geralmente,
admitida, assim como
o
pr incíp io
de
inscrever
a
Arquivística
no
domínio
das disciplinas
da
in fo rmação . O
conjunto
dessas
disciplinas enfrenta, de fato, o s mesmos problemas: aumento do volume de mater ial a tratar,
diversificação do s
usuários,
adaptação
às mesmas
novas
tecnologias e
o
número restrito
de
prof issionais.
A
harmonização
da s
fo rmações
permit i r ia ,
então, evitara duplicação
do s
recursos
e
da s
infra-estruturas. (COUTURE,
2000).
Apesar
desse
aparente
consenso,
o pesquisador canadense no s
lembra q ue
autores
como
Michael
Cook ,
um
defensor da
harmonização,
mostrava-se,
à
época,
reticente
sobre
o
verdadeiro
alcance
desse
movimento. "O
respeito à
especificidade
das
profissões,
a
inevitável
resistência
à
mudança
e a
adaptação
às
condições históricas e sociais
nacionais"
seriam,
dentre
outros
aspectos, barreiras à aplicação
"cega"
do
conceito
de harmonização.
( C O O K ,
1986;
SAUNDERS,
1987;
COURRIER ,
1988
apud
COUTURE,
2000).
Entretanto,
independentemente
dessas
reticências,
prossegue
Couture,
organizações
e
pessoas
envolvidas
no
movimento
pela
harmonização
elaboram
um a lista
das
disciplinas
curriculares
q ue
poderiam
se
constituir
num
tronco
comum
das
três
formações.
Inicialmente,
foram
definidas,
no
âmbito
da
Unesco,
três
disciplinas
curriculares comuns às três;
gestão,
tecnologia
e
estudos de usuários,
às quais
seriam acrescentadas, nos anos seguintes,
dentre
outras: conservação/preservação,
análise
documentária,
metodologia da pesquisa e uso da informação (LAJEUNESSE,
1986;
W A R N ER ,
1986;
UNESCO,
1987;
VALLEJO,
1987; C O UR R I E R , 1988
apud
COUTURE, 2000).
Ao
final da
década
de 1980,
continua
Couture,
obtém-se
um
consenso
sobre as disciplinas curriculares
-
e o s seus respectivos
conteúdos
- do
tronco comum das três
formações,
reconhecendo-se, contudo, q ue a "importância relativa das
matérias
e
o
nível
de
aprofundamento
de
seu
estudo
deveria
variar
segundo
a
especificidade
de
cada
disciplina"
(TEES,
1987;
SAUNDERS,
1987 apud COUTURE,
2000).
Em
termos práticos,
observa
Couture,
somente
duas
escolas
adotaram
o
modelo
de
formação
harmonizada: um a
no
Senegal
e
outra
em
Gana.
Aparentemente,
o
debate
produzira
muitos
frutos,
m as
apenas no nível
das
propos ições
teóricas. Isso ficaria evidente,
prossegue
o autor, no
X II
Congresso
Internacional de Arquivos,
realizado
em
Montreal,
Canadá,
em
1992. Um
trabalho
apresentado
p o r
Menne-
Haritz (1992 apud COUTURE, 2000) demonstra q ue "o movimento pela harmonização das três formações
se
enfraquecia
em
função
de
um a
busca
pela
identidade
profissional
específica da Arquivística". Nessa
direção, Schaeffer
(1994
apud COUTURE,
2000)
argumentaria
q ue
somente depois q ue a "base teórica da
Arquivística
fosse
definida
é
q ue
a fo rmação
acadêmica
poderia
se
integrar
judiciosamente
às
outras
disciplinas da informação".
Out ros autores, p o r outro lado, defendiam
um a abordagem convergente
das
disciplinas
da
informação
e,
nesse
caso,
a formação
passaria
p o r
um a
base
teórica comum
a
todas,
cuja
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 22/78
pedra
de
toque
seria o conceito abrangente
de
in fo rmação ta l
c o m o
desenvolvido,
dentre
outros,
p o r
Paul
Otlet
(DESCHATELETS,
1995;
PEMBERTON,
1995;
PIGGOTT,
1995
apud
COUTURE,
2000).
As disciplinas
formativas
do
arquivista
segundo
a literatura especializada
em íngua nglesa
e
francesa
Num
estudo
desenvolvido
p o r
nós
no âmbi to
do Programa
de
Bolsas
de
Iniciação
científica
(PIBIC) -
cujos resultados
fo ram
apresentados no V
Encontro
Nacional
de Pesquisa
em
Ciência da
Informação
(ENANCIB)
e publicado
no s
Anais
do
referido
congresso (SOUSA; RODRIGUES,
2003)
-
buscamos identificar o s
conteúdos
curriculares
e
as definições
do s
papéis
e
funções
da
prof issão
de
arquivista na
literatura em
língua inglesa
e francesa no
período
compreendido entre
1960
e 2000
5
. Nessa
pesquisa, partia-se
da
premissa segundo
a
qual
um a
mudança
radical
vinha ocorrendo quanto
às
exigências
informacionais da
sociedade
contemporânea,
seja no
âmbi to
de
empresas
e
instituições públicas o u
privadas
o u simplesmente
do s
cidadãos
e
que, conseqüentemente,
essas mudanças
teriam
repercussão nos
t i pos
de
funções
e
atividades
exigidas
do s profiss ionais da
área
de
info rmação,
part icularmente
do s
arquivistas. Havia também o pressuposto
de
q ue
as
novas
necessidades
de
tratamento,
recuperação
e
disseminação
das informações teriam
implicações no s conteúdos
curriculares
e,
até
mesmo , na
definição
e
objetivos
da Arquivologia,
tanto no seu
campo
teórico
c om o
prático.
A bibliografia analisada
fo i
considerada
qualitativamente relevante
p o r
trazer um a série
de
valiosas reflexões acerca da profissão de arquivista no s países desenvolvidos, bem
c om o
as reflexões de
organismos internacionais
(Conselho
Internacional
de
Arquivos
e
UNESCO) .
Po r
outro
lado, convém
esclarecer
q ue
grande
parte
do s
periódicos
pesquisados
tem
c o m o origem
a
Sociedade
do s
Arquivistas
do s Estados Unidos.
Do s
textos
inicialmente
levantados
(132),
foram
selecionados
32 textos
agrupados
confo rme
os
países
e
instituições
internacionais
(UNESCO
e
Conselho
Internacional
de
Arquivos
-
CIA)
e
as
décadas
de publicação. Optou-se
p o r
dividir
os
quadros do s
EUA em
arquivista
e
records
manager
tendo
em
vista
as
especificidades
da
profissão naquele país. N o s
EU A,
existe
a
profissão
de
arquivista (archivist)
e
a de
records
manager,
sendo q ue
as
duas profissões
têm
o
mesmo
objeto
de
estudo (o s arquivos) co m a
diferença
de
q ue a
p r ime i r a
trata
do s
arquivos
na
fase
permanente
e
a
segunda,
do s
arquivos
na
fase corrente
e
intermediária.
A maior i a do s
textos
consultados
origina-se, portanto,
do s
Estados
Unidos
e
concentra-se
na
década de
1980.0
Conselho
Internacional
de Arquivos/UNESCO
vem
logoem
seguida,
co m
12,50%,
o
Canadá
co m
9,37%
e
o
Reino
Unido
co m
6,25%.
Em
termos
de
t ipos
de
publicação,
tem-se
q ue
56%
do s
textos
foram
publicados em
periódicos
(90%
desses
periódicos
pertencem
à
Sociedade do s
Arquivistas
1
O s uadros etalhados
om
s
esultados
a
esquisa
encontram-se
m
ousa
e
odrigues
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 23/78
do s Estados
Unidos),
22% em
livros;
as
teses
e as
publicações
da
UNESCO tiveram
participação
de
12,50% da amostra.
O s
resultados
da
década
de
1960,
para
as
publicações
do s
Estados
Unidos,
apontaram
para
o
seguinte:
as
funções
delineadas
são
de
caráter
técnico,
englobam
um
conjunto
de
habilidades
intelectuais
gerais (gosto pelo detalhe, senso de ordenamento,
gosto
pela precisão, pensamento analítico, dentre
outras).
Dentre
as habilidades tratadas, citam-se
o
atendimento ao
usuário, a
criação
de instrumentos
de
pesquisa,
as operações técnicas ( remoção de clips, alfinetes, g rampos e adesivos), as operações de arquivamento e
acompanhamento de
trâmite,
a
verificação
das
características
diplomáticas
do s
documentos.
Não
há
propostas
de
disciplinas
para a fo rmação
do
arquivista. Em
relação
às
publicações
da
UNESCO/ CIA,
aparecem
co mo
funções
o
tratamento
das
massas
documentais,
a conservação
das
fontes históricas,
o
acesso
e a
conservação
do s
documentos
do
país. As disciplinas
tratam
da formação
cultural,
o estudo da
his tór ia ,
o
trabalho
prático,
o
estudo
da
teoria arquivística
e
a
restauração
e
conservação
do s
documentos.
Para a década de 1970,
o s resultados apresentaram-se da seguinte
maneira:
a)
EUA: as
funções
tratadas
relacionam-se
às
atividades
arquivísticas
típicas
(classificação,
avaliação, preservação, acesso, custódia), ao
atendimento
ao
usuário,
à
realização
de
exposições
e
de
publicações.
As
disciplinas
recomendadas
não
chegam
a
ter
diferenças
significativas
daquelas
que,
tradicionalmente,
fazem
parte
do cuirículo
do arquivista.
b)
França:
o per f i l q ue se delineia
é
resultado de um a f o r mação
altamente
erudita.
As
disciplinas
tratam
do s
diversos
níveis
de
estudo
da
história
(regional, local e
nacional)
e suas
ciências
auxiliares
(inclusive
co m
o
estudo
do latim
e
do
latim
medieval),
a
teoria
e
técnica
arquivísticas,
a
arqueologia,
a
legislação
arquivística
e
o
trabalho
co m
material audiovisual.
Ressalte-se
que,
neste
caso
específico,
trata-se
da
fo rmação
clássica
na
École
Nationale
des
Chaites.
Para a
década
de 1980, o
quadro
configurava-se da seguinte maneira:
a)
EUA: a maior ia (61,90%) do s
textos
concentra-se nessa década. Analisando-se
as
disciplinas
recomendadas
pelos
especialistas,
verifica-se
a
predominância
da s
funções
voltadas
para
o
atendimento ao usuário de arquivos, pa ra a
pesquisa
e pa ra a
gestão
de recursos
humanos
e
materiais.
As
disciplinas
recomendadas
seguem
essa tendência,
inclusive co m
a
orientação de
se incluir um a disciplina voltada exclusivamente pa ra o atendimento de genealogistas. A
novidade
fica p o r conta da pesquisa on-line
(o q ue
indica o
interesse
despertado
pela Internet).
O s títulos do s artigos
indicam o
interesse
pelo
debate
sobre a
teoria
arquivística,
a
importância
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 24/78
da
pesquisa
no s arquivos,
o s
p r oblemas
relacionados
co m o direito autoral, o
papel
da s
associações profissionais
e a formação
do arquivista. Quanto
ao s
textos
q ue
tratam
da
profissão
de
records
manager,
verifica-se
a
preocupação co m a
gestão
e
recuperação de
documentos e
a
gestão
de
equipamentos
e
de
tecnologia. O s
textos
não p ropõem
novos
papéis
pa ra
o records
manager
subtendendo-se
q ue
a
profissão
está
mais consolidada
se comparada
à
de arquivista.
b)
U N E S C O / CIA: semelhantemente ao q ue acontece co m as
publicações originárias do s
EUA, a maio r ia
do s textos concentra-se nessa
década
(75%), m as tratam mais especificamente
da
profissão
de
arquivista.
De
todos
os
textos
estudados,
o
de
Michael
Cook,
encomendado
pela
UNESCO / CIA
{Guidelines
fo r curriculum, 1982), é
o único
q ue
apresenta
um
currículo
global
para
a
formação dearquivistasedo records
manager.
O autor
não
faz
um a separação
rígida
entre
as
funções
de
arquivista
e
de
records
manager ,
critica
a
existência
de
duas
profissões
q ue
tratam
do
mesmo objeto (o s
arquivos)
e p ropõe a
fusão das duas profissões em um a só.
Um a
das
disciplinas
propos tas
e q ue
merece
destaque
é a "ciência da in fo rmação" o q ue demonstra a
preocupação
de
Cook em
incluir
a
Arquivologia
no ro l das Ciências
da
Informação.
As outras
disciplinas
sugeridas no s demais textos
também
destacam
a necessidade da pesquisa, introduz
o
controle
de
qualidade
no s arquivos
e
traz
preocupações co m
a gestão
do s
documentos
eletrônicos
e o uso de
sistemas
automatizados de recuperação da
informação.
As
disciplinas
relacionadas
à
ética
profissional
são
bastante
recomendadas. O
estudo
da
História
em
vários
níveis
(regional,
local e nacional) e
t ipos (história administrativa) é
objeto de
preocupação do s
especialistas
bem c om o as disciplinas
voltadas pa ra o atendimento ao
usuário.
Verifica-se a
preocupação
co m
o estudo das
fontes
orais
de
informação
e
co m
o s direitos, a
preservação
da
memór ia
nacional
ou
institucional; a
proteção
aos
direitos, a
posse da
terra e
a
delimitação das
fronteiras.
c)
Reino
Unido:
as
disciplinas
tradicionais
do
currículo
de
arquivista
são
basicamente
as
mesmas sugeridas
no s EUA
e
pela
UNESCO/
CIA.
Destacam-se
as
disciplinas
relacionadas
às
técnicas
de
exposição
e
ao
estudo
de
usuários. A
recomendação
de
novas disciplinas limita-se
àquelas
relativas ao
market ing,
o
q ue pode
sugerir o
interesse
em
se
divulgar o s serviços
arquivísticos
e
o
prof iss ional
de
arquivos.
Quanto ao s resultados
pa ra
a
década
de
1990, obteve-se o seguinte:
a)
EUA:
as
preocupações
fundamentais
são
a
busca
de
um a
garantia
da
autenticidade
do s
documentos
de
arquivo
q ue
possibilitem determinar
quais
atividades
organizacionais
serão
documentadas;
garantam
a
criação
e
a retenção de
documentos
autênticos
e
providenciem
seu
uso,
possibilitem o acesso e criem me ios alternativos pa ra a conservação de
documentos.
As
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 25/78
discipl inas recomendadas focalizam a operacional ização de
um conjunto de regras e
procedimentos
q ue
visam
a
manter
a
capacidade
de
o
documento
servir de
p rova
de
ações
e
garantia
de
direitos.
Assim, o
arqui vista
deve criar
um
conjunto
de
regras
pa ra a
criação
de
documentos e estabelecer as atividades da organização
q ue
serão documentadas. Além disso,
recomenda
q ue
o arqui vista deve
prestar
assessoria às organizações no q ue diz respeito à
adoção
de políticas
de
segurança
na
criação de
documentos
de
arquivo.
Outras
disciplinas tratam
do s
dados
comunicados
nas
redes e
da
necessidade
de
se
criarem
regras
para
o
arquivamento
o u
retenção automáticos
desses
dados.
H á
um a
inovação
quanto
à
função
"descrição" um a vez
q ú e
se recomenda a descrição das atividades geradoras e não
apenas
do s documentos resultantes. O
atendimento
ao usuário
completa-se
co m o
papel proposto ao
arquivista
de
criar
serviços de
fax
e de sites de ftp
q ue
possam entregar o s documentos eletronicamente ao usuário conforme suas
necessidades.
Procura-se,
nesse
contexto,
entender
o s
diversos
usos
do s
arquivos
para
facilitar
a produção
do s
instrumentos de pesquisa. A produção de metadados é um a
das
disciplinas
citadas
para
facilitar
o
acesso.
b) Canadá: a disciplina
ciência
da informação faz parte do s currículos de formação, a influência
das
tecnologias
da
informação faz-se sentir
nas
práticas
arquivísticas
e
as
disciplinas
da história
continuam
a
fazer parte
do
currículo.
O
perf il
delineado
indica
um
arquivista preocupado
em
integrar o
valor pr imár io
e
o
valor
secundário
do s documentos de arquivo
e capaz de
intervir em
todos
o s
estágios
do
ciclo
de
vida documental.
A
avaliação
da
informação continua sendo
um a
preocupação,
incluindo-se
a
avaliação da informação administrativa.
Quanto aos resultados relacionados à bibliografia produzida no ano de 2000, obteve-se o seguinte
quadro:
a)
EUA:
não há recomendações para um a formação futura para o s profissionais de arquivo.
O s
textos
limitam-se
a
descrever
as
disciplinas
q ue
tradicionalmente
fazem
parte
do
currículo.
As
disciplinas citadas most ram um
prof iss ional
voltado pa ra o s
métodos
de
preservação
e
conservação
de documentos
de
arquivo, o s
métodos
de
arquivamento ,
o
uso
do
computador
c o m o instrumento
de trabalho,
a
avaliação, o
desenvolvimento
de
coleções
e
a
gestão de
documentos de arquivo.
Além
disso, o profissional
é
treinado para enfrentar desastres q ue
possam
afetar o acervo.
b) Canadá:
há
indicações
de
um
interesse
crescente em se
discutir
a
ciência
e o
prof iss ional
de
Arquivologia.
O
perf il
definido
mostra
um
prof issional
q ue
preserva
o
autêntico
registro
da
me mó r i a da sociedade, serve de mediador entre o
criador
e o pesquisador de
documentos
de
arquivo, administra
pessoas
e
recursos
de
todos
o s
t i pos—tais
co mo
restauradores,
estatísticos
e
projetores
de
bancos
de
dados—e
preserva
o s
documentos
de
arquivo
autênticos
pa ra
as
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 26/78
próx imas
gerações. Além dessa formação
acadêmica,
delineia-se
q ue
o
arquivista deva ser
neutro
e
objetivo,
não
aderindo
a
qualquer
ideologia
o u
a
quaisquer
interesses pessoais.
O
quadro
atual
da
formação
nos
países
de
língua
francesa
da
Europa
e
no
Canadá
Nesta seção, apresentaremos
um
panorama
de
um a
pesquisa
ainda
em
fase
de
levantamento.
Buscamos traçar
um
panorama
de
com o se encontra distribuída,
atualmente,
a
fo rmação
do
arquivista,
em
nível universitário,
na Europa de língua
francesa
e
no Canadá e quais
são
as suas características
principais.
Esse
recorte
-
ainda
prel iminar
-
é
parte
de
um a
pesquisa
m a i o r
sobre a
constituição
da Arquivologia
como
disciplina
científica
q ue
inclui
a
sua
institucionalização
na
Academia,
portanto
a
formação
acadêmica.
Para
tanto,
real izamos
um a
pesquisa
bibliográfica
sobre
o
tema
em
língua
francesa, selecionando
as
indicações
de
instituições de ensino e um
levantamento
na
Internet
utilizando com o descritores
o s
termos
archivistique,
enseignement, fo rmat i on ,
universités; archival science; archival training; archivist;
universities. Para o levantamento das informações sobre
as
universidades de língua inglesa
do
Canadá,
utilizamos também dados
da
Associação do s
Arquivistas
do
Quebec. O s resultados foram
sintetizados
em
quadros
6
, co m a seguinte
estrutura:
país, universidade/outros (para contemplar a formação q ue se dá
numa
parceria
entre
a
universidade
e
associações
de
classe,
p o r
exemplo),
data
de
criação
do
curso,
unidade
acadêmica de vinculação, duração
do
curso, t ipo de
d ip loma
oferecido, características
do
curso
(projeto
pedagógico, objetivos, etc.).
Pode-se
constatar,
co m base no
levantamento, que,
hoje, a formação em
arquivística
rià
França,
Bélgica,
Suíça
e
Canadá
é
um a
responsabilidade
das
universidades,
seja
em
nível
de
especialização
o u
de
ensino
profissionalizante.
Em te rmos de
um a
fo rmação voltada mais para a pesquisa, tem-se, tanto na
França, c o m o
no
Canadá,
a
possibil idade de
se desenvolver
um
mestrado e/ou doutorado co m
temas
arquivísticos.
Observa-se
um a
forte
influência
da s
associações
de
arquivistas
nacionais
no
sentido
de
incentivar
um a
f o rmação
nas
universidades,
seja
de f o r m a isolada
o u
em
parcer ia
co m
as
p r óp r i a s
associações.
A
configuração da pesquisa em Arquivística no plano internacional
7
Um do s estudos
mais
importantes
sobre
o
estado
atual
da pesquisa
em
Arquivística
no
mundo
é
o
do s
professores
e
pesquisadores
canadenses
Couture,
Martineau
e
Ducharme
(1999),
da
Universidade
de
Montreal .
O p r og rama
de
pesquisa - financiado pelo Conseil Nat ional de Recherche
en
Sciences
'Por
uestão
e
spaço, s
uadros
ão
ão
presentados
este
exto.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 27/78
Humaines du Canada (CRSHC) - tinha,
na
verdade, c om o objetivo geral, traçar um amplo panorama da
Arquivística
no
mundo,
estruturado em
três
etapas,
executadas
em tempos diferentes:
legislação e políticas
nacionais
arquivísticas, realizada entre 1988 e 1991;
o s
princípios
e
as
funções
arquivísticas, o u seja, o s
fundamentos da disciplina,
de
1 9 9 1 a
1994
e,
de
1994
a 2000, fo i
realizado
um
estudo sobre
a
situação do
ensino e
da
pesquisa
em
arquivística
(COUTURE,
2001-2002).
Um a
parte importante da pesquisa
consistiu
numa
revisão
da
literatura
co m
o
objetivo
de
mapea r
o
estado
da
arte sobre
o
tema
da
"pesquisa
em
arquivística".
Das
conclusões
anunciadas
-
tanto
na obra t raduzida no
Brasil,
em 1999
(COUTUftE;
DUCHARME; MARTINEAU) - quanto
no
artigo
de Couture (2001-2002), destacaremos alguns aspectos
relacionados
especificamente à
pesquisa
em Arquivística. O pr imeiro diz
respeito
à
importância atribuída
à
pesquisa
pela
maior ia do s
autores
referenciados:
A
pesquisa em
arquivística
se
desenvolve
pouco apouco,
ao
m od o
da
disciplina. A m a i o r
par te
do s
autores
está
de
acordo
paraa f i rma r
q ue
ela
é
essencial
ao
seu
desenvolvimento.
[...]
demo-nos
conta
da im po r tâ nci a
q ue
se reveste
a
f o r m a ç ã o
e
a
pesquisa
para
a
arquivística
contemporânea (COUTURE;
MARTINEAU;
DUCHARME, 1999,
p .
71-72).
Dois
outros
aspectos,
bastante
interessantes,
apontados
no artigo de
síntese
de Couture
(2001-
2002) sinalizam
pa ra
dois
problemas que,
parece-nos,
estão
bem p róx imos
da
realidade brasileira, isto é,
a
deficiência numérica
de
pesquisadores,
além da natureza ainda
marginal
das atividades de pesquisa e das
dificuldades
de
se obter f inanciamento institucional
para
desenvolver
pesquisas:
Do
ponto de vista
da
pesquisa, aameaça
é
igualmente
de ordem
quantitativa.
O
leque de
temas
a
ser
estudado é
de ta l
m on ta
q ue
um núme ro
restrito
de
pesquisadores trabalha
sobre
cada
um
deles. A
isso se
acrescentam out ros fatores
de precariedade,
tais
c om o
a
natureza marg ina l
das
atividades
de
pesquisa
e
as dificuldades de seu f inanciamento.
(COUTURE, 2001-2002, p .
43-44,
tradução
nossa).
Outro
estudo
q ue
deve
ser
destacado,
po is
também
buscou
compreender
o
desenvolvimento
da
Arquivística
no
âmbito acadêmico,
na
Espanha,
é o
de
Bonal
Zazo
(2003)
8
.
Embo ra
co m
objetivos
ma is
l imitados
q ue
o s
de
Couture e sua
equipe,
esse
trabalho é
interessante
po rque
buscou
"identificar
as
universidades
espanholas
mais produtivas
na
área,
os
principais
temas de
interesse
de pesquisa e a evolução
cronológica da
produção"
(p .
351,
tradução
nossa).
Algumas
de
suas
conclusões,
c o m o
veremos
a
seguir,
vão
ao
encontro de
algumas
de
nossas
hipóteses co m relação a algumas características da disciplina
arquivística
no
Brasil.
Bonal
Zazo parte
do
pressuposto
de
q ue
a
Arquivística,
c o m o
disciplina científica,
sofreu
um a
transformação
radical
na
Espanha
nos
últimos
anos
e
ocupa, naquele
país,
um lugar
"adequado"
no
cenário
nacional
das
ciências
da
documentação.
O
autor
atribui
essa
situação
favorável
a
alguns
fatores,
Trabalho
presentado
o r ime r Congreso Universitário e Ciências e a
Documentación
.Espanha,
003.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 28/78
tais co mo :
legislação do s
arquivos,
desde 1985;
o
elevado
grau de
associativismo
profissional,
co m
o
surgimento,
em
meados
do s
anos
1980,
início
do s
90,
de
novas
associações;
a
constituição
de
inúmeros
grupos
de
trabalho. Mas, destaca, fo i
a
introdução
da
disciplina
no
meio
acadêmico,
no
início do s anos
1980,
no
contexto
do s
estudos
universitários
de
Biblioteconomia
e
Documentação
que,
de
fato,
prop ic iou
o
seu
desenvolvimento (BONAL
Z A Z O ,
2003,
p .
351).
9
O s
estudos
arquivístícos,
na
Espanha,
estão,
na
verdade,
distribuídos
entre
várias universidades, m as ainda sem diploma
específico
em
nível
de
graduação
(RODRÍGUEZ
B
ARREDO, 2001; VERHELST; SCHEEUNGS, 2000).
Dentre as conclusões do
estudo de Bonal
Zazo,
dois
aspectos
se
destacam.
Um
deles, relacionado
diretamente
à
natureza
das
pesquisas
desenvolvidas
em
Arquivística
nas
universidades
espanholas;
o
outro, diz respeito às diferenças
de
enfoque do s trabalhos originados nas universidades e aqueles
cuja
origem
encontra-se
no
meio
profissional.
Quanto
ao
p r ime i ro
aspecto,
o
autor
constatou
q ue
há
um a
predominância
da
multidisciplinaridade
nesses
estudos.
Segundo ele, a maio r ia das pesquisas
produzidas
nas universidades procede
do
campo das humanidades
e
são também inúmeros os estudos procedentes de
disciplinas
como
o
direito,
a info rmát ica e
as
ciências
da
i n fo rmação ,
dentre outras.
Um a
segunda
característica geral desses trabalhos acadêmicos é
a
presença
de um a
diversidade de metodologias de
pesquisa e de enfoques
de
análise. O
autor
conclui ser isso resultante do
caráter
multidisciplinar
da
disciplina.
Em
relação
ao s
art igos
publicados
p o r
prof issionais
f o ra
das
universidades,
ele
constata
q ue
estes
úl t imos
estão
mais
preocupados
co m
questões
pontuais
e
técnicas.
Em linhas gerais, há , segundo Bonal Zazo, uma:
[...] notável diferença
de
interesse
entre
o s
temas
de
pesquisa universitários e o s realizados
p o r
profissionais: enquanto
o s
p r ime i ros
se
orientam
p a r a
questões
teóricas
relacionadas,
sobretudo, co m
o
estudo
do
pat r imônio
documental,
o s
segundos
centram
sua atenção
no
estudo de
temas de
caráter
prát ico,
relacionados
co m
o desenvolvimento
do
exercício
profissional. (BONAL
ZAZO, 2003,
p .
358 ,
tradução
nossa).
O percurso da formação
em
Arquivologia no
Brasil:
da graduação à pesquisa
A
fo rmação
de
nível
superior
em
Arquivologia,
no
Brasil,
ocorreu
na
década
de
70
do
século
X X
10
,
quando da
criação do s p r ime i ros
cursos
de
graduação
nas
universidades
públicas:
em
1977,
na
Universidade
Federal
de
Santa
M ar i a
e na
Universidade
do
R io
de
Janeiro
-
UNIRIO
e,
em 1979,
na
Universidade Federal Fluminense
-
UFF. Além disso, é
naquela
década q ue o
movimento
associativo
congregando
os
profissionais
da
área
tem
início,
co m
a
criação
da
Associação
do s
Arquivistas
Brasileiros,
O
utor
observa,
contudo,
ue
ntes
a
ntrodução da Arquivística como disciplina,
lgumas
universidades
spanholas á
aviam
ncorpo rado
studos
elacionados
om
s
rquivos
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 29/78
em
20
de
outubro
de
1971
(BOTTINO, 1994,
p . 12).
No
início
do s
anos 2000, o Brasil já
contabilizava
nove cursos de
graduação
em
Arquivologia
(RODRIGUES;
MARQUES,
2005).
Até
a
criação do s
cursos
de graduação
em
Arquivologia,
as
reflexões
sobre a área or ig inavam-
se
basicamente nas
instituições
arquivísticas e
estavam estreitamente vinculadas às
necessidades
de
resolução
do s problemas q ue
se
impunham
no
cotidiano
dessas instituições
quanto ao tratamento
do s
seus
acervos arquivísticos.
Nesse
aspecto,
o
Arquivo
Nacional desempenhou um
papel fundamental:
f o rmou
técnicos
de
alto
nível,
produziu
um a
bibliograíia
técnica
importante; traduziu
e
divulgou
autores
essenciais
para
a Arquivologia
11
. Entretanto, c o m o
destacado p o r Rousseau
e
Couture (1998, p .
257),
a
formação
e
a pesquisa em Arqui vística
não
é
a
finalidade do s
Arquivos
Nacionais.
À
semelhança
de
outras
discipl inas,
prosseguem
o s
autores,
é essencial
q ue
tanto
a
f o rma ção
quanto
a
pesquisa
em
Arquivística devam ser confiadas
"às
instituições q ue
sã o
as
únicas
a
dispo r de exper iência, do s
instrumentos
e
da
credibilidade
social
pa ra
o
fazerem,
isto
é,
o s
estabelecimentos
de
ensino
superior,
universidades o u
instituições
do me smo
t ipo ,
con fo rme
o s
países".
Da m e s m a f o rma ,
ponderam
o s
autores,
essas
não
sã o
tarefas
das
associações pro f i ss iona is . Pelo
m e n o s
não
i so ladamente,
acrescentaríamos.
As raízes
essencialmente
práticas
da
disciplina,
mesmo no
plano
internacional,
c o m o alguns
autores jádemonstraram (ROUSSEAU; COUTURE,
1998;SILVAetal,
1999),
pode
ser
um a
das razões
que,
no
caso brasileiro, explicaria o
fato
de
a
pesquisa
em
Arquivística
ainda ser
pouco
desenvolvida. Po r
outro
lado,
a
criação
e
a
ampliação
do s
cursos
de
graduação
em
Arquivologia
são
um
do s
fatores
q ue
podem
explicar a existência, sobretudo a part ir
do s
anos
1990,
de
pesquisas
na
área,
pela
presença
de, p o r
exemplo ,
professores
do s
Cursos
de
Arquivologia no s
Programas
de
Pós-graduação em
Ciência
da
Informação.
O s
prof iss ionais
co m
graduação
em
outras disciplinas (história, na sua
grande
maio r ia )
e
co m
destacada
atuação na prát ica
arquivística,
também
se
sentiram
mot ivados
a
apro fundar
suas
experiências
na
Academia, agora
na
Pós-graduação.
O
documento Avaliação & Perspectivas
1 2
(CNPq,
1978,
p .
57)
já
constatava:
Reconhece-se,
po rém , que
o
desenvolvimento
da
pós-graduação
está
diretamente
ligado
ao
ensino da
graduação,
p o i s
é
a
necessidade
deformação
de
docentes
qualif icados
em
nível
(1988,
.
7),
m
972,
ntão Conselho
ederal
e
ducação oncedeu
s
niversidades
brasileiras
oder
e rganizar
rogramas
e raduação
m
rquivologia,
o r eio o
Decreto
12, e
e março , ue
ugere r iação
e
m a Escola
uperior
de
Arquivo.
"
Dois
o s
mais
mpor tantes
esquisadores
ras i lei ros
a
rea
êm ua rigem rof iss ional
no Arquivo
Nacional azem tualmente arte
o
o r p o
ocente
o
Curso
e Arquivologia
e o rograma e ós-graduação
m
Ciência a
nformação
a UFF.
11
Trata-se
e
m
ocumento
ublicado
elo
CNPq,
esultado
a
valiação
e
rupos
e
trabalhos
ompos t o s
e specialistas
as
iversas
reas
o onhecimento. Todas s i tações
às uais os efe r imos
q ui
stão o apítulo Ciência a nformação , ibl ioteconomia
Arquivologia" CNPq,
978,
. 6-67).
articiparam da laboração do
documento
os
eguintes
especialistas:
Abigail e liveira Carvalho
Coordenadora,
CNPq),
Afrânio
Carvalho Aguiar
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 30/78
de mestrado
q ue
tem
atuado,
principalmente, como motivação
p a r a
criação
do s
cursos
de
pós-graduação.
E,
mais
adiante,
o
documento ressaltava que:
Entre o s obstáculos à pesquisa
e
ao desenvolvimento destaca-se a carência de recursos
humanos especializados, tanto
em
termos
de qualidade quanto
de
quantidade (...).
No caso
da Arquivologia, o quadro é muito nutis grave,
po i s
somente ago ra se inicia o processo de
implantação
do s
cursos
de
graduação
em
instituições
universitárias.
(CNPq, 1978, p . 63 ,
grifos nossos).
O
m e s m o
estudo,
nas
suas
recomendações
finais,
indicava
a
necessidade
de
se
implanta r
p rogramas de doutoramento
q ue
atraíssem candidatos co m
"graduação
diversificada",
m as
q ue
tivessem
"condições e interesse em voltar-se pa ra pesquisa em Bibl ioteconomia , Arquivologia e
Ciência
da
Informação"
(CNPq, 1978,
p .
66).
Gostaríamos,
ainda,
de
destacar
q ue
essas
recomendações
alertavam,
também,
para
a
necessidade
de
se "desenvolver
um
projeto específico
para
formação de mestres e doutores
em
Arquivologia" (p .
66).
Em
outro
volume de
Avaliação &
Perspectivas
(CNPq, 1983), novo
Grupo
de
Trabalho
1 3
traçou o
percurso
e tentou esboçar um retrato
das
Ciências da
Informação
no
Brasil.
Num
intervalo
de
cinco
anos
desde
a
publicação
da
primeira
avaliação
das
áreas,
novamente,
no
q ue
diz
respeito
a
Arqu ivo log ia ,
ressaltou-se
a ba ixa
f o r m a ção de
especial istas
no
âmbi t o
da pós-graduação
e
pesquisa.
Assim, do q ue
fo i dito
anteriormente,
pode-se observar
q ue o s
diagnósticos
apontam
pá ra
um
vínculo
entre
a
graduação
e a
pós-graduação, fato
q ue
gostar íamos de
destacar
no caso
particular
da
Arquivologia.
Então,
a
criação do s
cursos de
graduação
talvez
seja
o grande marco definidor
do s rumos
da
pesquisa
em
Arquivística
no País.
O u,
segundo Garon (1990, apud COUTURE; MARTINEAU;
D UCHARME ,
1999, p . 51) isso
p rop ic iou
a
emergência
de
um a "cultura
de
pesquisa"
na
área.
De
(Programa
e nformação m iência ecnologia undação entro ecnológico e
Minas
erais),
na aria thayde olke Escola e ib l io teconomia/UFMG), ntônio
Agenor riquet e
emos
Redator ,
nB, poca epartamento e
ibl ioteconomia/
Faculdade e studos
ociais
Aplicados), annice e Mello Monte-Mór
(Biblioteca
Nacional/
MEC), Mar ia Lúcia Andrade Garcia Index
- nformações ientíficas écnicas /C,
G),
erezine
rantes
erraz Divisão e
Informação
Documentação
Científica/Instituto
e
nergia
Atômica),
ila
a
Costa
Mamede
(Biblioteca
Central/UFRN). Deve-se otar
ue
a ompos ição
esse Grupo
e
Trabalho
ão
havia
inguém
a
Arquivologia ,
ato,
liás,
ssinalado
o
ocumento
p .
1).
ntretanto,
ressaltamos
ue,
pesar
disso,
ntendimento
a
rea,
e
eu
bjeto,
eus
roblemas
uas
perspectivas
stão em
valiados.
esmo
orque
Grupo
tilizou ocumento
s
mpor tantes
undamentais
roduzidos
ela
Unesco obre ema.
1 1
s
edatoras
essa
valiação
o ram:
rofessora uzana inheiro Machado
Mueller
UnB,
do
ntão
epartamento
e
Bibl ioteconomia ,
o je epartamento
e
Ciência
a
nformação
Documentação) ilza eixeira oares à poca,
ervidora
a
âmara
o s
eputados/
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 31/78
fato,
para
esses
autores,
a
pesquisa
é
um a atividade
q ue
necessita
não
apenas
de
"dinheiro
e
cérebros",
m as "ex ige
também
um a
cultura,
um a
amb iênc ia
e
um
m e i o
q ue
favoreça
ao
m á x i m o
seu
resplendoi".
Na verdade, Couture,
Martineau e
Ducharme
(1999, p .
51)
corroboram
o q ue já é consenso entre
o s
cientistas, isto
é, o
de
q ue
"a
pesquisa tem a necessidade de
q ue
se
registrem
seus
resultados,
q ue sejam
transmitidos,
difundidos co m
a
ajuda
de
diferentes meios,
tais
como
revistas
especializadas,
o s congressos,
o s
encontros
e o ensino
universitário". Quanto
a isso,
não é p o r acaso q ue a produção científica
e
a
sua
comunicação
é um
do s
objetos de
estudo
da
Ciência
da Informação
( M E A D O W S , 1999;
MUELLER;
PASSOS,
2000).
N o
caso
da
Arquivologia,
pelas
razões jáapontadas
anteriormente,
as
publicações
especializadas
têm sua origem
nas
instituições arquivísticas
e
servem,
co m
poucas exceções,
para
divulgar
os trabalhos desenvolvidos
na própr ia instituição,
incluindo-se
avaliações
relacionadas
aos seus
usuários.
São
essas
instituições
q ue
publicam
periódicos
especializados,
como
é
o
caso
da
revista
Acervo,
editada
pelo
Arquivo Nacional o u
de
publicações de associações
profissionais,
a
exemplo
da
revista Arquivo < 6
Administração,
publicada pela
Associação
do s
Arquivistas
Brasileiros (AAB), apenas
para
lembrar
duas
das
publicações
mais antigas.
Nesse aspecto,
precisamos
lembrar
o
trabalho
de Jardim (1998) o
qual,
pela
pr imei ra
vez, buscou sistematizar
e
analisar
a produção e comunicação
do conhecimento arqui
vístico
no
Brasil,
p o r meio
de
um
levantamento do s
art igos
publicados
no
País
em
per iódicos de
Ciência
da
Informação, Biblioteconomia, Administração e História.
Reconhecida,
no
plano
da
fo rmação
acadêmica,
c o m o
um
bacharelado,
a
Arquivologia
seria
poster io rmente
também reconhecida p o r um a
Agência
nacional
de
fomento
à pesquisa. Co m efeito,
o
Conselho Nacional
de
Desenvolvimento
Científico
e
Tecnológico
(CNPq)
incluiria,
em 1981 , a
Arquivologia
c o m o
um a
subárea da
área
de
Ciência
da
Informação,
ambas
abrigadas
na
grande
área
"Ciências
Sociais
Aplicadas"
14
contribuindo,
dessa
f o rma ,
no
processo
de
reconhecimento
institucional
da
disciplina. Tal decisão seguia a tendência preconizada internacionalmente pela Unesco no s anos
1980,
c o m o
assinalado
anteriormente. Sinal
do s novos
tempos, hoje, a Tabela de
Classificação das
áreas
do
CNPq
está
sendo
revista p o r um a
comissão
específica
para
esse
f im.
Na proposta
preliminar
do
CNPq
15
a
Arqui
vologia
passa
a
ser
um a
área
independente,
vinculada
à
grande
área
"Ciências
socialmente
aplicáveis"
(terminologia
controversa, criada
nessa
nova
tabela),
ficando
assim
subdividida:
11. Área - Arquivologia:
Fundamentos da
Arquivologia
14
essa
rea
ncont ram-se
lassificados: i reito, conomia ,
rquitetura rbanismo,
Planejamento
egional
rbano;
emograf ia ,
iência
a
nfo rmação ,
useologia,
Comunicação,
erviço
ocial,
conomia
oméstica,
esenho ndustrial
ur i smo . m
Ciência
a
nfo rmação ,
ncontram-se eoria a nfo rmação ,
ibl ioteconomia
Arqu ivologia .
"Acessível m t tp://www.cnpq.br/areas/cee/proposta.htm
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 32/78
Gestão
Arquivística
Técnicas
Arquivísticas
Arquivologia
Especializada
Dessa
f o rma ,
considerando-se
a
situação
atual
da
Arquivologia
no
Brasil
-
q ue já
conta co m
9
de
graduação, co m
pesquisadores
e
estudos
nas
universidades
e
um a
crescente
presença
profissional
o
mercado
de
trabalho,
além
de um a
forte participação das
instituições arquivísticas
no s debates
e
reflexões
q
fazer
da
área -
acredita-se
q ue
é
o
momento
de
um a reflexão
mais aprofundada
sobre
a
sua
trajetória
o q ue
diz
respeito
à
pesquisa,
part icularmente
aquela
realizada
no
âmbito
do s
Programas
de
Pós-
É
o momento buscarmos desvincular
a
imagem
q ue normalmente se tem da
disciplina,
isto
é,
sendo
eminentemente
técnica
1 6
.
Nesse
sentido,
convém
evocar
novamente
o
documento
do
CNPq
&
Perspectivas (CNPq,
1978, p . 52):
O
fato de
a Biblioteconomia
eaA
rquivologia
estarem
voltadas pa r a
a
aplicação de
técnicas
não
quer
dizer
q ue no seu âmbi t o
não
se realizem pesquisas o u se produzam novos
conhecimentos, da
mesma f o r m a
q ue
a
Ciência
da
Informação
não
é
exclusivamente
teórica
e
desvinculada
de
aplicações
práticas
(gr i fos
nossos).
ormação
m
Arquivística
os
Programa e
ós-graduação
Brasil
Segundo
González
de
Gomes
(2003,
p . 41), a partir das
reflexões
de
Lenoir
(1997), o s
programas
pesquisa -q ue
se
concentram na
resolução
de problemas, são
atrelados a nichos institucionais
de
possuem
grande
influência de
técnicas
e
descobertas
de outras
áreas,
são
fortemente
associados
um a
base
instrumental
e
têm
seu
sucesso
explicado
somente
em
parte
pelo
poder
cognitivo
da
base
de
desenvolvida
-
constituem
"uma
complexa ecologia
de
agentes,
instituições,
processos
e
do s
conhecimentos". Nesse
sentido,
julgamos
pertinente eleger
c o m o universo
de
pesquisa -
ara
compreender
o
status da Arquivologia como
um a disciplina também
voltada
para
a pesquisa científica,
logo,
pa ra
a
produção de conhecimento
-
o s
espaços
institucionais
universitários. Deve-se
ressaltar,
também,
q ue
essa
opção passa
pelo conceito
de
"campo
científico"
de
Bourdieu
(1983), isto é,
estamos
inscrevendo a nossa análise
partindo
do
pressuposto de q ue
a Arquivologia
passou
-e passa -p o r
um a
A formulação
o
r incípio
e espeito os undos m 841, a rança,
i r ia
demonstrar
que,
e ato, Arquivologia oderia e onstituir um a disciplina específica,
esvinculando-
se
os r incíp ios ib l io teconômicos. ela
r ime i ra
ez, e f i rmava ue
s
ocumentos e
arquivos ram roduzidos cumulados e o r m a
totalmente
iferente e utros
documentos,
inclusive
s
e
iblioteca. sso eria
epercussões
a
bordagem o s
rquivos,
a
ua
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 33/78
"luta
pela autoridade
científica"
(BOURDIEU, 1983, p . 127).
O acalorado debate recentemente veiculado
na Internet
sobre
se
a Arquivologia deveria se
t omar
o u
não
independente da Ciência da Informação
é um
indicador dessa
premissa.
Em últ ima
instância,
dentre
outros
aspectos,
é a
disputa
pelos
recursos financeiros
das
agências
financiadoras
q ue
está
em
jogo.
No
nosso
recorte
metodológico,
portanto , identif icamos
inicialmente o s
p rogramas
de
pós -
graduação
no
Brasil q ue poderiam,
em
princípio,
abrigar linhas
de pesquisa
o u
temáticas próx imas da
Arquivística, distribuídos em universidades federais.
De antemão, esclarecemos
que,
embora
o s cursos dê
pós-graduação
lato
sensu
pareçam
ocupar
um
papel
considerável
na
fo rmação do s
arquivistas,
não o s
consideramos, p o r enquanto,
no
universo
pesquisado
pela
dificuldade
de
mapeá- los
e
qualificá-los,
particularmente quanto às monograf ias produzidas
nesses cursos
1 7
. Alguns aspectos
abordados
no
nosso
p rog rama
de pesquisa já
foram
recentemente objeto
de
um a
tese
de doutorado cujos
resultados
também
foram publicados
em
livro (FONSECA,
2005).
Para a
nossa pesquisa, identificamos
o s seguintes
Programas
de
Pós-graduação: Ciência da
Info rmação ,
Comunicação,
Biblioteconomia
e
História,
num
total
de 1 3 Programas.
A
inclusão
do
Programa
de Pós-graduação em História
Social da
US P
deve-se
à
representatividade
da
Arquivística
numa
linha
de
pesquisa desse
Programa. Po r
outro lado,
numa
etapa
posterior
da
pesquisa, identificamos mais
um
Programa
-
o
mestrado em
Administração
da
UFSC -q ue
também
se
enquadrava
no
tema pelas suas
linhas
de
pesquisa. É
importante ressaltar
q ue
o locus institucional da Arquivística, o
porquê
de
a
disciplina
estar
num
o u
noutro
departamento
o u
faculdade/instituto
é
um
debate
em
aberto,
como
nos
lembra
Couture,
Martineau
e Ducharme
(1999, p .
33):
[...]
aquestão da instituição
de
vinculação
-departamento
de
história,
bibliotecono m ia/ciências
da
in formação -fez
co m q ue
se
gastasse bastante tinta desde
o
início do século
X X .
Na
década
de
80,
chegou-se
a
um 'consenso apáticooqual consiste
em
aceitar,
indiferentemente,
todas as
fó rmulas
possíveis.
A
constatação
ac ima
fo i
apresentada
de
um a
maneira
mais
detalhada
pelo
Coordenador
da
pesquisa,
Couture
(2001-2002),
num
artigo
publicado
na revista
Archives. Nesse texto,
o autor most ra
q ue das 67
instituições pesquisadas
(7 0 países), cujas respostas
ao s
questionários puderam
ser
analisadas
quanto
ao
vínculo
departamental
e
de
Escolas
q ue
ofereciam fo rmação
em Arquivística,
percebeu-se,
de
fato,
um a dispersão da fo rmação entre
diferentes
departamentos/Escolas.
M as
f icou
claro,
pelos
dados,
"
ela
ua
egularidade,
ntigüidade,
ínculo
nstitucional
erfil
o
o rpo
ocente,
Curso
e
specialização
m
Arquivos
a
Universidade
e ão
aulo,
ue
unciona
esde
1986, o EB Instituto e studos Brasileiros), everá
er
ncluído o niverso da
pesquisa,
assim om o mestrado rof issionalizante a FGV/CPDOC ue briga m a
inha
de
esquisa
denominada
acervo nformação" , uja escrição emonst ra laramente
ue
eu
bjeto
são s
rquivos .
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 34/78
que essa
formação
se
concentra
em :
Biblioteconomia
e
em
Ciência da Informação
(17=25%); Arquivística
( 21=31
% ) e História ( 1 3 =19%) '
8
.
Esse
resultado fez o autor tecer as seguintes considerações:
Defendida
por
vários
autores,
a
cor rente
q ue
apó i a
a
integração
[da
arquivíst ica]
às
ciências
da i n fo rmação é
majo r i t á r i a
em relação às
out ras
tendências
e
se
assiste
p ro gressivam ente, nesses últ imos
anos, à
inserção
do termo
arquivística
na
denominação
desses
departamentos. (COUTURE, 2001-2002, p . 23 , tradução nossa)
Para
nós, parece evidente q ue o vínculo institucional da
Anquivologia,
como curso de graduação,
num ou noutro departamento/instituto/faculdade, pode ter
implicações no tipo de desenvolvimento das
pesquisas na
Pós-graduação:
os temas, t ipos de
abordagem,
o s
métodos,
os autores, etc.
Parte do
nosso
p r og r am a
de
pesquisa
precisa
identificar,
então,
o
locus
institucional
da
Arquivologia
e,
pa ra
isso,
elaboramos
um a
pr ime i ra planilha
q ue identifica
esses espaços,
co m
base
no
mapeamento
do s
seguintes
dados:
a) identificação
do s cursos
de Arquivologia
no
Brasil, o s departamentos
e
os institutos/faculdades/
centros de vinculação, o ano de criação do curso e o estado da federação
onde
se encontra a
universidade.
Em
seguida,
buscou-se
verificar
se
há
ou não
programa
de
pós-graduação
no
departamento
ao
qual o curso
de
Arquivologia
está
vinculado
e a participação,
em
número ,
de
docentes
de
Arquivologia
no s
respectivos
Programas
de Pós".
Foram mapeados o s
Programas
de Pós-graduação
20
, o s níveis do s cursos (mestrado
/
doutorado),
an o
de
criação,
área
de
concentração
e
as
linhas
de
pesquisa.
A
identificação
das
linhas
de
pesquisa tem
c o m o objetivo
verificar se elas
sugerem,
pelo
título,
a
possibilidade
de
pesquisas
co m
temas arquivísticos
2 1
. Embo ra
co m
algumas
ressalvas, consideramos q ue
as
in fo rmações
levantadas
espelham
a
inserção do s Programas em determinada área
do
conhecimento e, dentro
desta,
co m
recortes
específicos.
Po r
outro lado, pensa-se q ue ao longo da pesquisa será necessário ampliar
o levantamento de
dados,
p o r exemplo,
para
todos os
p rogramas
de Pó s em
Comunicação,
se
quisermos
ter
um pano rama
mais
real
da
produção
científica em Arquivística
na
Pós-graduação.
De
toda
fo rma, é importante
destacar
q ue
as
informações
relacionadas
ao
enquadramento
das
teses
e
dissertações
ainda
devem
ser
relativizadas,
embora
sejam bastante próx imas
da
realidade.
Um
do s problemas
é
a
dificuldade
de
classificá-las apenas
pelos
títulos
22
.
"
s
utros o r a m :
Documentação
4
% );
at r imônio
1 % )
o ra
e
epartamentos
(3
% ).
utor explica q ue stes l t imos ão iretamente igados
um a
aculdade
u
Direção
a
Universidade.
1 9
Como sses ados inda ão muito nconsistentes,
p t amos
o r
ão ncluí-los qui .
2 0
ar a
dentificação
nicial os rogramas
e
ós-graduação m Ciência
a
nformação
fo i
mpor tante
esquisa
e
oblación
2005),
uando
oram
dentificados
ove
ursos:
IBICT/UFRJ,
UCCAMP,
FBA,
FMG,
FPB, FSC, nB, NESP
SP. embramos
q ue urso
o
B1CT
gora
stá
a
niversidade
ederal
luminense
FF,
on f o rm e
convênio i rmado
m
003.
2 1
s
uadros ão constam
este
texto
o r alta
de
espaço. ara
maiores detalhes,
onsultar
Rodrigues Marques 2005).
2 2
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 35/78
Considerações
inais
A fo rmação do arquivista
passou
p o r
mudanças significativas
e
fundamentais,
desde o século
XIX. Estas transformações
passam seja pelo deslocamento o u
pela ampliação do s
locais
de fo rmação ,
assim
como
pelas
disciplinas
e
conteúdos curriculares
exigidos.
Ainda
q ue
permaneça
um
"núcleo"
erudito
na
fo rmação ,
o
advento
das
novas
tecnologias
da
informação e comunicação
(TIC)
e
as exigências
da
denominada
sociedade
da
informação
parecem
ter
um
papel
decisivo
nessas
transformações.
A pesquisa
na
literatura especializada da área,
em
língua
inglesa e
francesa, apontou
para algumas
questões
interessantes. O profissional
de
Arquivologia teve
seu papel, sua denominação e
sua fo rmação
revistos
confo rme
as
influências
das
mudanças
ocorridas
nas teorias
da
administração
e no s
problemas
surgidos
co m
a
maio r
difusão
douso
da
informática
e
do registro
da
in formação
em
suporte
eletrônico.
Contudo,
a
base
fundamental
sobre
a
qual
está
assentada
a
Arquivologia
e
o
papel
de
seu
profissional
continua
co m o mesmo núcleo
central:
fornecer
a informação orgânica
e registrada ao
seu
usuário
gerador
(n a
fase
corrente
e
intermediária)
e
t omá- la
acessível
ao
usuário pesquisador
(n a fase
permanente
o u
histórica),
além
da
manutenção da
integridade
e
segurança dessa
informação
co m
o s
menores
custos
possíveis. A tendência
apontada para o
futuro,
segundo
a literatura
pesquisada,
é
a de
q ue
o
arquivista
deveria
ser
um profissional co m
competência
para
organizar
cientificamente e tomar acessível um
conjunto
dinâmico de informações
registradas em suportes
diversos—sejam
eles
o s
suportes
tradicionais
(papel
e
micro f i lme)
o u
o s
suportes
surgidos
co m
a
informát ica
( C D -R O M ,
disquete,
DV D
etc.)
— ;
tenha
capacidade de lidar co m o usuário final
e seja capaz de elaborar projetos e calcular o s custos do s
serviços
arquivísticos e
trabalhar
em
equipe
junto
co m
outros especialistas.
Além
dessas características, espera-
se
q ue
o
profissional
exerça
suas
funções de modo ético,
neutro
e
transparente
e
garanta
a
salvaguarda do s
direitos autorais
e
da privacidade
e
a
acessibilidade
ao s documentos
cuja
consulta
é
franqueada
ao público.
Examinando-se
a maior ia
das
descrições
do s
cursos
nas universidades européias estudadas
neste
t rabalho,
constata-se q ue há um a
tentativa
de
responder
ao s
desafios i mpo s t o s à Arquivolog ia
contemporânea,
o
q ue
inclui
as
demandas
do mundo
do
trabalho,
às
expectativas
do s
profissionais
p o r
um
ensino
técnico
q ue
alie
tradição
e
modernidade.
A
razoável
oferta
de
cursos
abordando
temáticas
arquivísticas
demonstra,
de
fato,
um a expansão da profissão. Um
outro
aspecto interessante é
a
preocupação
co m o tema da
memór ia
q ue
também
contribui
para
esse florescimento
da profissão,
ao
qual
se
acrescentam
as
necessidades da "sociedade da informação". À
profissão associam-se,
ainda,
responsabilidades c o m o
procedimentos
de
certificação e
de qualidade
nas organizações, implicando numa
gestão
r igorosa
do s
documentos
e
de
seu
arquivamento.
O s
arquivistas,
pela
p róp r i a
descrição
de
suas
atividades, são
responsáveis pela memór i a futura.
O desenvolvimento acelerado da informática nas organizações e nas
instituições
leva
a
um a obsolescência
sem
precedentes
do s
suportes
tradicionais o
q ue traz
problemas
contraditórias.
uitas nformações oram omplementadas o r
eio
e
elefonemas
s
inst i tuições.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 36/78
cruciais
pa ra
o arquivista: autenticidade da info rmação,
domín io
do
fluxo do s
documentos
e de sua
transmissão, perenidade do s
dados.
Nesse
sentido,
a
formação
do
arquivista,
hoje,
deveria
estar
centrada
no
domínio
de
um
saber
q ue
o
habilite
a
se
desincumbir
de
suas
funções
tradicionais,
m as
também
q ue
o
prepare
para
enfrentar
o s
desafios
do
século
X X I .
Essa
fo rmação,
p o r
outro
lado,
não
deve
se
restringir
a
preparar
"técnicos"
em
arquivos, m as também
para
a
pesquisa,
ou
seja,
f o rma r
pessoas
críticas.
Percebe-se,
nas
universidades
q ue
têm
graduação
em
Arquivologia,
um a
tendência
ao
desenvolvimento
de
pesquisas
em
arquivística
nos
programas
de
pós-graduação.
O u
mesmo -c omo
é
o
caso,
p o r
exemplo,
da
École
Nationale
des
Chartes
-
de
encaminhar
o s alunos q ue obtêm o
dip loma
a
prosseguir
o s
seus
estudos
pós-graduados
em outras
universidades,
co m
as quais
aquela
Escola
já
estabeleceu
parceria.
De
toda
maneira,
se
há
um
consenso
quanto
à
formação
do
arquivista
pelas
universidades,
não
se
pode
dizer
o
mes mo
quanto
ao s vínculos institucionais da
disciplina,
sobre
a sua inserção em
qual
campo
disciplinar
e
quais
diálogos
privilegiar.
N o
caso
do
Brasil, a maior ia
do s
cursos
de
Arquivologia
(6 )
está
vinculada
ao s
departamentos
de
Ciência
da Informação, o q ue parece, de
fato,
indicar
um a
acomodação acadêmica
(o u
o "consenso apático" ao qual se refere Couture)
da Arquivologia
c omo
um a
subárea da
Ciência
da
Informação. Podemos observar
também q ue os cursos
de
graduação
em Arquivologia
estão
distribuídos
em
duas
grandes
áreas
do
conhecimento
(conforme
classificação
do
CNPq
ainda
em
vigor):
Ciências
Humanas
e
Ciências
Sociais
Aplicadas.
Esse
dado
parece
refletir
o u
um a
busca
de
i r l p n f i r l a r t p
da
área
ou,
ainda,
um a
reafirmação
do
caráter
interdisciplinar/multidisciplinar da
Arquivologia,
o q ue nos
remete
às conclusões
da
pesquisa
de Bonal Zazo, apresentadas anteriormente. Po r
outro
lado,
segue
de
certa
f o rma ,
a
tendência
apontada
p o r
Couture
(2001 -2002), de
um a
ap rox imação entre a
Arquivística
e a Ciência
da
Informação.
Entretanto,
como
já
indicado
anteriormente,
do
ponto
de
vista
das
agências financiadoras estatais (CNPq e CAPES)
2 3
caminha-se
para
um a desvinculação "automática"
entre a
Arquivologia
e
a
Ciência
da
Informação.
Isso,
p o r
si
só ,
não
seria
ruim, pois ,
c o m o
vimos
também,
esse
vínculo
decorreu,
de
certa
fo rma ,
de
um a
inércia,
apesar
de
refletir
um a
tendência
e
um a
recomendação
de
órgãos
c omo
a Unesco e
o
própr io Conselho
Internacional
de Arquivos.
Em contrapartida,
do
ponto
de
vista prático,
vemos
q ue
a
profissão
de
arquivista, segundo a
últ ima
edição
da
Classificação
Brasileira
de
Ocupações
(CBO),
não está entre
o s
"prof issionais de
i n f o rmação" , c o m o
o são o bibliotecário , o
documentalista
e o
analista
de
informação
2 4
Quanto
à
inserção da
Arquivologia
nos
Programas
de
Pós-graduação
stricto
sensu,
pode-se
constatar
q ue
do s
nove
Cursos
de
Arquivologia,
quatro
estão
em
departamentos
q ue têm
Pós-graduação
em
Ciência
da
In fo rmação .
Supõe-se
então
q ue
a
trajetória
natural
do s
docentes
da
graduação
em
Arquivologia ,
desde
q ue
tenham
doutorado,
seja
o
seu
credenciamento
nesses
Programas.
Do s
outros
2 3
Isso
ale,
videntemente,
ar a
utras
gências
inanciadoras
que eguem
abela
e
reas
do
NPq,
om o
INEPm
NDES,
lém
as gências
staduais
FAPESP,
AP-DF,
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 37/78
cinco restantes, um deles está num departamento q ue tem um p rog rama co m afinidade co m a Ciência
da
Informação, a Pó s em Comunicação e Informação da UFRGS em q ue a linha de pesquisa "Informação,
Tecnologias
e
Práticas
Sociais ermite perfeitamente
desenvolver
pesquisas
co m temas
arquivísticos e
q ue
tem
um docente
do
Curso
de
Arquivologia
credenciado. Dois
outros
c imos (UELe UFES)
ainda
estão
em
departamentos
q ue
não
têm
p rograma de
Pós-graduação stricto sensu.
Finalmente,
o
curso
da
UNIRIO
q ue
estó num departamento cujo
Programa
de
Pós-graduação
está
classificado
c o m o sendo
de
natureza
multidisciplinar.
neste Programa
foram
identificadas
dissertações
co m temas
arquivísticos,
embora ,
na
ocasião
do
levantamento
de
dados, não
tenhamos
identificado
professores
do Curso
de
Arquivologia
credenciados
no
Programa.
Quanto
ao s
vínculos, um a
variável
a
ser
investigada
é
a razão
histórica de
o s
Cursos
de
Arquivologia estarem num o u noutro departamento , nas
ciências
humanas
o u
nas
ciências
sociais
aplicadas.
Para
isso
seria
necessário
pesquisar
no s
documentos
de
criação
e
implantação
desses
cursos.
25
A
esse núme ro ,
poder-se-ia acrescentar
ma i s
um ,
po i s o
departamento
de
vinculação
do
Curso
da
Universidade
Federal
de
Santa
Mar ia
denomina-se "Documentação".
Fo i possível
constatar,
também, q ue as linhas de
pesquisa,
cujos títulos indicam ser possível
produzir
teses
ou
dissertações
co m
temas arquivísticos,
concentram-se
majori tar iamente
no s
p rogramas
de
pós-graduação
em
Ciência
da
Informação
(IBICT/UFRJ,
UNESP,
UFMG/ECI,
PUCCAMP/FABI,
UFPB/CCS/DBD
e
UnB/FACE/CID).
As universidades q ue possuem o ma i o r número de dissertações e
teses
co m
temáticas
voltadas
pa ra
a
Arquivologia
são
a USP/História/ECA
(16) e a
UFRJ/IBICT
(14).
Examinando-se
os títulos das pesquisas
2 6
,
observou-se
q ue a maior ia dessas teses
e
dissertações
relaciona-
se aos
temas
clássicos
da Arquivística,
tais
como:
o
tratamento/organização
de documentos
(classificação,
avaliação,
t ipologia documental, elaboração
de
instrumentos
de
pesquisa, recuperação
da
informação/
acesso)
e
co m
as
novas
tecnologias
da
in formação
(principalmente
documentos
eletrônicos).
Temas
relacionados à memór i a e à
história
de
instituições
arquivísticas
também foram
identificados.
Esses
dados parecem
indicar um
delineamento
de
um espaço
de
pesquisa
co m
temas
propr iamente
arquivísticos. M as
isso pode ser
explicado também
pelo
fato de
a
Arquivologia
se r
um a
disciplina
ainda,
digamos,
em
construção,
cuja
identidade
parece
não
se r
muito
clara.
Evidentemente
,
não
estamos
defendendo aqui q ue essa
identidade
se
faça
às
custas
do
seu
isolamento. Ao q ue tudo indica,
hoje,
mesmo
para as ciências
consolidadas,
isso
não é
mais possível.
As questões
postas
pela
sociedade
contemporânea
exigem cada vez
mais
olhares
múlt ip los e,
no caso
da
Arquivologia, suas relações
tradicionais
co m a
2 5
No aso
specífico
o
Curso
e Arquivologia a
Universidade
e Brasília,
m a
pesquisa
realizada
para
produção do Manual
do
Curso
evelou
ue s
egociações
niciais
ar a ua
criação correram om
epartamento
e istória,
as
ão
iveram
rosseguimento,
aparentemente ela alta
de
entusiasmo
da
Histór ia . Fo i
justamente
pelo fato
de
Curso
de
Arquivologia
er
ido
mplementado
o
Departamento
e
Bibl ioteconomia
ue
ste
eve
ua
denominação
lterada ar a Ciência
a
nformação ocumentação".
u
Numa etapa
poster ior
pretende-se
consultar
o
texto integral
das
teses
e
dissertações
ou o
menos
s esumos.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 38/78
e
depo is
co m
a
Ciência
da
Info rmação ,
a
Bibl io teconomia,
a Info rmát ica ,
o
Direito,
a
p o r
exemp lo ,
demonst ram
q ue
a abordagem
da
i n f o rmação
orgânica
-
objeto
da
-
não
se
pode fazer co m apenas
um
viés
de análise.
O s
resultados
obtidos
até
o
momen to
no s
permitem
concluir
que,
no
Brasil,
a
Arquivologia,
disciplina do conhecimento,
já
começa
a
delinear
um a "comunidade
científica".
Aidentificação
de
de
pesquisa
congregando pesquisadores da área poderá
no s
apontar se caminhamos pa ra um a
dessa
comunidade.
O número de dissertações
e
teses,
co m
temática
propr iamente arquivística, num total de 73
pode
parecer insignificante
apenas
se
este
fo r
comparado
ao
de
outras
disciplinas
já
consolidadas.
tratando-se
de um
campo
recente na área
acadêmica,
esse
resultado
adquire
outra dimensão.
O s
no s
apontam
também pa ra outra reflexão. A
maior ia do s
Cursos
de
Arquivologia
funciona apenas
o horário
noturno
e
isso
provavelmente
se
reflete
no
número
de
estudantes
q ue
podem,
futuramente,
se
à
pesquisa.
Esse
fato
no s
leva
a
pensar
se,
num
p r ime i ro
momento ,
as
Pós-graduações
tenham
traído
prioritariamente
prof issionais
q ue
játrabalham em
instituições
arquivísticas
o u
similares. Além
isso, devido
à
graduação em Arquivologia ser recente,
podemos
avançar
a
hipótese segundo
a
qual os
alunos fo rmados na
área
ainda estão
em
fase de amadurecimento.
Outro
aspecto
a
ser
apontado
diz
respeito
às
observações de Couture
(2001-2002)
segundo as
quais
ainda
há
um a
deficiência
de docentes
e
pesquisadores
em
Arquivologia. A
realidade
do Brasil parece
cor robora r
isso.
O s resultados, embora
parciais,
demonstraram a
existência
de
docentes
vinculados,
de
fato,
ao s
Cursos
de
Arquivologia
m as
também
ao s
Programas de
Pó s
de
seus
departamentos,
po rém
em número
ainda
pequeno.
Além
disso,
deve-se
considerar
q ue
as
pesquisas
em
Arquivística
parecem
se
desenvolver
independentemente
da
existência
de docentes da
Arquivologia
nos Programas, o u seja, há orientadores capazes de orientar
teses
e dissertações
co m
temáticas
arquivísticas o
que,
c o m o
já
havíamos
destacado
anteriormente,
pode
repercutir
nos
recortes temáticos
e
nos métodos. Futuramente, quando
ciuzarmos
o perfil
do s
orientadores
co m o
do s
orientandos,
quem sabe
poderemos
concluir que, muitas
vezes,
os
orientandos
co m graduação
o u especialização em
Arquivística
- o u
prof iss iona is
da
área
-estariam
influenciando o s p r ó p r i o s
orientadores
e até,
confo rme
o
caso,
redirecionando
o u
ampliando
o s
interesses
destes
últimos.
Gostaríamos,
ainda,
de
destacar
q ue
a formação
do arquivista,
no
Brasil,
parece seguir,
em grandes
linhas,
o
modelo
internacional
guardando,
é
claro, certas
particularidades. O q ue
há em
c omum,
parece-
nos, é o deslocamento do s locais
de
formação:
das
instituições arquivísticas públicas para as universidades.
A
particularidade
brasileira
deve-se
ao
fato
de
q ue
-
ao
contrário
do
q ue
ocorreu
e
ocor re
na
maio r ia
do s
países pesquisados
-
a formação universitária
no
Brasil priorizou
um a
formação acadêmica integral, segundo
o
modelo tradicional
do
bacharelado.
São poucas
as
fo rmações
profissionalizantes
o u de
especialização
oferecidas pelas universidades. N as universidades públicas temos o já tradicional curso
de
especialização
do Instituto
de
Estudos
Brasileiros
(IEB)
da
USP.
Um
levantamento
prel iminar
-
realizado
p o r nós
pa ra
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 39/78
criado
em
2003
27
e
um
na
Universidade
Federal da
Bahia,
onde
se encontra
em
fase
de
tramitação
um a
proposta de um
curso
de especialização
intitulado Atualização
em Informação arquivística
2
* . 0mesmo
levantamento most rou
a
criação
de
um M BA em
Arquivologia e
Gestão
Documental na
Universidade
Paulista
(Unip),
numa
parceria
co m
a
Fundação
Arquivo
e
Me m ór i a
de
Santos
(FAMS).
Esse
curso,
de
fato, já
está
no
site
da Unip,
co m o s objetivos, carga horár ia
e
grade curricular
2 9
. Ainda nas faculdades
privadas, um curso
de especialização
(MBA)
é
oferecido pelo
CPDOC/FGV co m
o
título
de M BA
Bens
culturais:
cultura,
economia
e
gestão
q ue possui na
sua
grade
curricular
disciplinas
relacionadas à
Arquivologia,
embora
a
terminologia não apareça.
Finalmente,
a
título
de
síntese,
poderíamos
dizer
que,
hoje,
alguns aspectos
devem ser destacados
quanto
à
situação
da
Arquivologia -no Brasil
e
no m undo: a)
assist imos
ao
nascimento
e
consolidação
de um a profissão, subjacente àquela de arqüivista,
q ue
é a do "professor
de
Arquivologia"
-
profissão
esta
que,
aliás,
já
consta
na
CBO
de
2002
o s
p rogramas
de
pós-graduação
das
universidades
contribuirão
cada
vez
mais
para
consolidá-la
também no
campo
científico;
b) há, de
certa
fo rma , um a
demanda -ainda
q ue
difusa
- da sociedade pelo
trabalho do Arqüivista.
No
caso
brasileiro, bastaria
fazer um levantamento
do s concursos pa ra arqüivista realizados no s úl t imos anos: constata-se
a
necessidade do prof issional,
m as a "oferta
de
emprego
é ainda
comumente
m al
definida"
[vide
o s
editais,
às
vezes
confusos
na
definição
do
prof iss ional]
e,
em
certas
ocasiões,
ainda se
quer
um
simples técnico,
fato
lembrado,
no
plano
internacional,
p o r
Elisabeth
Verry
(2003);
c)
a
institucionalização acadêmica da Arquivologia parece
contr ibui r
f i rmemente
pa ra
credenciar
o
pro f i ss ional
f o rmado
na
disciplina
a
disputar
o s
espaços
intelectuais
legit imados
para
analisar
questões
complexas,
c o m o
aquelas
relacionadas
à
memór i a ,
ao
pa t r imôn io
documental
e
à
gestão
documental , enfim
às
políticas
públ icas de
gestão e
acesso
às
informações.
Pensamos
q ue
a Universidade tem um papel fundamental a desempenhar nesse processo de
reconhecimento de
fato -
e de
direito
-
da
Arquivologia
e do s
arquivistas,
mediante
pesquisas
q ue
identifiquem
as
demandas sociais, analisem
o s currículos
e
o s métodos de
ensino
no s cursos de graduação,
dentre
outros.
Além
disso,
é na universidade,
como
no s
lembra
Co x
(1998)
q ue
se
encontram
as
palavras-
chave
para
a formação de um profissional
crítico:
"ensino
-
pesquisa -quest ionamento" (COX,
1998, p .
61). Paralelamente, as associações prof iss ionais também poder iam colaborar, no sentido de q ue elas,
hoje, compõem-se, em
sua
grande
m a io r i a - refer imo-nos
aqui
especialmente
ao Brasil
-
de
egressos
do s
cursos
de graduação
em
Arquivologia,
ao
me n o s em
suas
diretorias.
Percebe-se,
igualmente,
um
amadurecimento
da
categoria -
a
exemplo
do
q ue
ocor re
no
plano
internacional
-
no sentido de
considerar
importante
um a
parceria co m as
universidades.
"Con fo rme
esolução
CONSEPE
0
94/03
a
UFMA
disponível
m
ttp://www.ufma.br/)
2 1
Confo rme
nfo rmações
o
ite a UFBA
em :
t tp : //ww w .prp p g.ufba.br/especializacao.htm l
.Acesso m
bril
e
006.
"Disponível m ttp://www3.unip.br/ensino/pos_graduacao/latosensu/index.asp. cesso m
abril e
006.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 40/78
O s debates sobre o papel do arquivista -ainda q ue este papel não seja claramente
explicitado
são
cada
vez
mais
freqüentes
no s
jornais:
quando
se
discute
o
acesso
a
documentos
sigilosos;
quando
noticiam
sinistros
q ue
destroem arquivos da administração pública; quando
se
fala
em
terceirização
o s
serviços
de
arquivo
nas
instituições
públicas;
quando
se
privatizam
estatais;
quando
as
CPIs
documentos c o m o prova, etc.
Em todas essas circunstâncias, um arquivista
co m
um a
bo a
de
base
universitária, fo rmado no
espírito
crítico
e investigativo, será
um
profissional
capaz
de
ações,
assessorar
e
p r o p o r polít icas de t ratamento, preservação
e
acesso às
in formações
e
arquivísticos.
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7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 44/78
DOIS
ASPECTOS DA
FORMAÇÃO
EM
PRESERVAÇÃO DOCUMENTAL
BECK,
ngrid
Museóloga,
Mestre
em
Ciência
da
M o r m a ç ã o
Consultora
pa ra
projetos de preservação
documental
Apresenta
o s
resultados
de
um a
pesquisa
sobre
o
ensino
da
discipl ina
de
Preservação
no
campo
da
Ciência
da
Informação.
Identifica
a
necessidade
da
atuação
interdisciplinar
do s
de
informação.
Propõe
um
novo
modelo
de
disciplina
de
Preservação
Documental
pautado
a conservação preventiva do s
diferentes
suportes documentais e enfatiza a necessidade de formação de
para
o
ensino
desta disciplina
dentro
de
linhas
de pesquisa da Ciência da
Informação.
Preservação documental;
Formação
profissional;
Suporte
de
informação;
Nova
mídia.
O
presente estudo
subsidiou
a
pesquisa de
Mestrado da autora,
defendida
em
abril
de
2006,
à
Universidade
Federal
Fluminense
em
convênio
co m o
Instituto
Brasileiro de
Informação,
Ciência
Tecnologia
-
IBICT.
Teve
c o m o
objetivo
refletir
sobre
a
atualidade
da
disciplina
de
Conservação
e
de Documentos,
oferecida no s cursos de
Arqui vologia
e Biblioteconomia,
considerando as
conceituais
q ue
redirecionaram
a
preservação
documental
na s
últimas
décadas.
Este processo de mudanças
está
relacionado
às
constatações alarmantes sobre a fragilidade
do s
recentes
suportes
documentais
e
o
conseqüente
risco de
perda
de
grandes
massas
de
in fo rmação
Nu m a
tentativa
de
anteceder-se à perda, a
conservação
preventiva
assume um
caráter gerencial,
a gestão documental e a gerência
de
coleções.
Ao
lado de ações
estratégicas,
iniciadas
na
década
1990, para
salvar
em
microf i lme
a
informação
em
risco sobre
papéis
quebradiços,
surgem
questões
sobre
o acesso à informação, cada vez
mais
requisitado pela
sociedade da informação.
Po r
outro
lado,
o
uso
cada
vez
ma is
corriqueiro
das
tecnologias
de
informação
na
produção
e
da
informação passou
a
requerer
procedimentos
padronizados
para preservar
a
integridade
e
probatór ia
do s
documentos
em
mídias
ainda
ma i s
vulneráveis
ao
uso e à
obsolescência
Terry
Cook
most ra
q ue neste processo
de
mudanças
se faz necessária
um a
nova atitude
em
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 45/78
A
noção
confortável
de valor permanente de documentos arquivísticos
únicos,
ao longo do
tempo, precisa se r
modificada,
simplesmente po rque o
documento
eletrônico
f icará ilegível
ou
incompreensível,
se
não
fo r copiado e q ue sua estrutura efuncionalidade
re-configurada
em um
novo
software, a
cada curto p razo
de
poucos
anos.
Isto
substitui
a
preservação
arquivística
tradicional,
q ue
indica
procedimentos
adequados
ao
reparo,
à
restauração e
ao armazenamento, e uso
do
meio
físico
q ue fo i o
documento.
(COOK,
2000,
p .
10).
O
fato
é q ue o s
documentos
em papel, quando bem organizados e acondicionados em
ambientes
adequados à
preservação
podem
permanecer
inalterados p o r
décadas,
sem exigir
um a intervenção
ativa
para q ue se mantenham íntegros em seu conteúdo.
Po r
outro lado, o s documentos eletrônicos dependem
de atenção
permanentemente
e de ações reiteradas contra a
obsolescência
do s
p rog ramas
e do s sistemas
onde
estão
armazenados.
No s
dois
casos
a
conservação
preventiva
é
mais
eficaz
e
racionaliza
custos,
desde
q ue integrada
no processo de
gestão,
q ue permi te
planejar,
estabelecer
prioridades e,
de
acordo
co m a
temporalidade
de
cada
conjunto documental, estabelecer o s prazos
de
custódia
e
acessibilidade.
Desta
f o rma , tão importante
c o m o
resguardar
a
evidência
do s
registros do passado em seus
suportes de papel,
de
f i lme o u de material fotográfico é assegurar a sobrevida do s registros em mídias
magnéticas e
digitais.
Po r
esta razão, preservar informação relevante
requer
o
envolvimento
de
equipes
multidisciplinares
na
seleção de
preservação,
no
estabelecimento
de
prioridades
co m
base
no
valor
informacional,
na
demanda
de
uso
e
na
vulnerabilidade
de
cada
t ipo
de
suporte.
A
part i r
destes
dados
podem ser
definidas
políticas
de custódia e acesso.
A
interlocução interdisciplinar é
ampl iada. Já
não são
apenas
o s conservadores
em suas
especialidades
q ue decidem o
que,
c om o
e
quando
preservar.
As
equipes de gestão, acesso
e
preservação
devem estabelecer
conjuntamente
as prerrogativas de valor e temporalidade, c om o elementos essenciais
no processo decisório, q ue levam em conta
questões
de
custo-beneficio
para definir o s investimentos de
conservação preventiva, objetivando assegurar a integridade e acessibilidade do conteúdo informacional.
Esta
nova
postura
também
ap rox ima
a
Preservação
Documental
da
Ciência
da
Informação.
De acordo
co m
Fonseca
(2005),
"a
part ir
de
um
novo paradigma
na
Arquivologia
toma-se mais
visível a aproximação do
campo
co m a Ciência da
Informação",
no momento em q ue hoje a informação se
refere
à
"análise das relações
entre o s documentos e
seus
geradores",
visando
"a autenticidade,
a segurança
e
a
fidedignidade desses
documentos".
(FONSECA, 2005, p .
59). Este
é também
mais
um
ponto de
interseção destes
campos
co m
o da
Preservação
Documental:
O s
métodos
t radicionais
de
preservação
de
documentos
de arquivo baseados em
padrões
ap rop r i ados
de
restauração,
armazenagem
e
uso
do s
suportes
físicos
tomam-se
irrelevantes
na
medida
em q ue o s documentos devem
migra r
seus conteúdos muito antes da deterioração física de suportes, o
q ue
está
p romovendo um a impor tante reformulação no s
pressupostos
de
proveniência, originalidade e
funcionalidade
do s
documentos. (FONSECA, 2005, p . 62)
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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O
profissional
de
informação
de
hoje
agrega
conhecimentos
e
responsabilidades, interagindo
o processo decisório de
gerência
e preservação.
Sua
participação
no
planejamento
de
preservação
não
ser confundida co m
as
atividades
específicas
do s
profissionais
de
conservação,
entretanto precisa
o s
diferentes
suportes
documentais
e
o s
meios
necessários
pa ra
assegurar
sua
integridade
e
associados a um coerente plano de gestão documental.
aspecto
gerencial
da
preservação
- Neste
processo
de
mudanças,
a
relação de
custo-benefício
em décadas
passadas,
de restaurar
únicas,
levando-se
em
conta
o valor
de
artefato
e a
antigüidade histórica,
deu lugar
a um a
leitura
q ue
o
documento
dentro
de
seu
contexto
informacional.
O s
programas
passam
a
ser
redirecionados,
ações
abrangentes de
conservação
preventiva,
contemplando
o s acervos
de
f o r ma
global.
Fo i Gael
de
quem definiu da melhor manei ra
o
q ue
pode ser considerada um a verdadeira mudança de
no cam po
da preservação
do
patr imônio
cultural c omo um
todo.
A conservação
preventiva
é
um velho conceito no mundo do s museus, m as só no s últ imos 10
anos
q ue
ela
começou
a
se
t o m a r
reconhecida
e
organizada.
Ela
requer
um a
mudança
profunda
de
mentalidade. Onde ontem
se
viam
artefatos,
hoje
devem
se r
vistas coleções.
Onde
se
viam
depósitos
devem ser vistos edifícios. Onde se pensava em dias, agora
se
deve
pensar
em anos. Onde
se
via um a pessoa,
devem
ser vistas
equipes.
O nde se
via
um a despesa
de
curto
p razo ,
deve-se
ver um investimento de longo p razo . Onde se most r am ações
cotidianas,
devem
ser
vistos
p r o g r a m a s e prior idades.
A
conservação
preventiva
significa
assegurar
a sobrevida das coleções. (GUICHEN,
1995, p . 4).
Esta mudança está associada à visão de
q ue
a preservação
só é
eficiente quando envolve
um
de
ações
planejadas
q ue
contribuem
para
a
salvaguarda
das
coleções
co mo
um
todo.
Quanto
mais
e
vulneráveis
o s acervos, maio r a prioridade
de
preservação.
A
vulnerabilidade do s
novos
suportes
informação
redireciona
prioridades
e
passa a exigir ações
preventivas
contra
a perda
da
informação.
O gerenciamento
no
desenvolvimento das coleções deve
fazer
pa r te
do s planejamentos de
[...]A
escolha
política
e
tecnológica
q ue
éfeita agora ,
direcionada
apenas
paraatender
um a possibilidade
futura, é
determinada
poresses mes mo s valores de
relativismo
ético, humanístico
epistemológico
vigentes. (ALBITE S I L V A , 1998,
p .
9).
A
preservação
passa
assim
a
assumir
um a função
gerencial
central, junto ao processo de gestão
Helen Forde recomenda o fortalecimento de um a consciência política sobre a importância
da
de
preservação.
"A administração
estratégica
de
um
arquivo
tem
q ue
incluir
a
administração
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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O ensino de preservação
na
formação do profissional de
nformação
O vertiginoso avanço das novas tecnologias
permeando
todas as áreas relacionadas co m a
informação
justificou
um a
verdadeira
revolução
nos
p rog ramas
de
ensino
em
vários
países.
A
part ir
da
década de
1990 foram
realizados
estudos
e
pesquisas
no
campo
da Ciência da M o rmaç ã o ,
para
avaliar a
adequação
do s currículos acadêmicos, condizentes
co m
o novo o
novo
perfil
do
profissional
de
informação
do século XXI .
Um importante
exemplo
destas
iniciativas
fo i o
Projeto
KELLOGG-ALISE,
realizado entre o s
anos 1998
a
2000,
q ue
avaliou
a
r e f o rm a
educacional
de
p r o g r amas curriculares de
26
cursos
Bibl ioteconomia e Ciência
da
Info rmação do s Estados Unidos e no Canadá. "Entre as tendências
identi f icadas,
nota -se
u m a m a i o r flexibilidade nos currículos dos
cursos
e
a
a mp l i a ção
da
interdisciplinaridade".
(P EHG R EW;
DURRANCE,
2001,
p .
170).
No
Brasil,
realizou-se um a
pesquisa entre
novembro
de 2005
e
março
de 2006 (BECK, 2006,
p .
78-89)
junto
ao s
coordenadores
do s cursos de Bibl ioteconomia
e
de Arquivologia, p o r
meio de um
questionário
encaminhado
o n
line
(p .
109-110).
Esta
pesquisa
objetivou
avaliar
o conteúdo,
a
bibliografia
recomendada,
a
carga
horária
e a
obrigatoriedade,
colhendo
também
relatos sobre
mudanças
q ue
ocorreram
nestes aspectos,
no s
úl t imos anos. O s dados
foram complementados
p o r
um a
outra
coleta
nas páginas
virtuais do s cursos,
na
Internet.
A
consulta
às
pág inas
virtuais
objet ivou
identificar
o s
cursos
de
Bibl io teconomia
e
de
Arquivologia
q ue oferecem a
disciplina
de Preservação Documental , e identificar as diferentes
nomenclaturas. O s dados quantitativos colhidos a part i r das consultas às páginas destes cursos foram
fundamentais
neste
caso. São eles:
• Número de cursos de Biblioteconomia em funcionamento: 24
•
Oferecem
a
Disciplina de Conservação:
J L Q
•
Obrigatoriedade:
2
•
Número
de
cursos
de
Arquivologia
em
funcionamento:
2
• Oferecem a
Disciplina
de
Preservação
Documental: 2
•
Obrigatoriedade: 2 (BECK, 2006, p . 79)
O s dados colhidos puderam ainda ser
respaldados
e
confrontados co m a pesquisa
de mestrado
de
Neide
G o m es
(UNB,
2000),
q ue
mapeou
as
condições
de
ensino
em
conservação
e
restauração
de
documentos no país,
levantou
dados sobre
a disciphna
de Preservação Documental oferecida
na
época,
no s
cursos
de
Biblioteconomia
e
Arquivologia.
Estas
fontes
pe rmi t i ram
estabelecer
um a
relação
entre
o s cursos
e
a
oferta
da
disciplina
de
Preservação Documental, entre
2000
e 2005. O s cursos de
Arquivologia
mantiveram
sua
taxa
(6/6 e 9/9)
de 100%. Já
no s
de
Biblioteconomia,
a
relação
caiu da
anterior
(19/12) de 63% para
(34/10)
29 % .
O
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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impressionante
decréscimo
desta relação
pode estar
relacionado
a vários
fatores. O
fator central
é
cer tamente
o
impac to q ue as novas
tecnologias
vêm
causando
sob re
o
currículo do s
cursos
de
Biblioteconomia,
fazendo co m q ue muitas disciplinas desaparecessem,
dando
lugar
a
um
novo
conteúdo.
Alguns cursos de Biblioteconomia também mudaram a sua
denominação
p a r a
Ciência da
Info rmação e outros
se
t ransfo rmaram em cursos
de
Ciência
da
Computação .
Surgem
disciplinas
co m
diferentes
nomes:
"Tecnologia
da
In fo rmação" ;
"Gestão
de
Sistemas
Informacionais Planejamento de Sistemas de Informação Produção de Documentos
Eletrônicos" e
ainda
"Produção, Armazenamento , Conservação e Disseminação de
Documentos
Eletrônicos ntre
outros.
As grades
curriculares destes cursos parecem
atender à
forte
pressão
do mercado
de
trabalho.
Em
sua
maio r ia ,
entretanto, deixam
de
te r
um
compromisso
co m
a
questão
da
preservação,
e
isto
é
muito
preocupante.
(BECK,
2006,
p.93).
Do
questionário
encaminhado
o n
Une ao s coordenadores do s 34 cursos
de
Biblioteconomia e
9 de Arquivologia, retomaram:
•
Biblioteconomia: (1 0 respondentes,
29%): 3
do
Nordeste,
4
do
Centro-Oeste
e
3
do
Sudeste,
faltando
respostas
das
regiões
Norte
e
Sul.
•
Arquivologia:
(4
respondentes, 44%): 1
do
Nordeste,
1
do
Centro-Oeste,
1
do
Sudeste
e
1
do
Sul.
As
amostras
obtidas
podem
ser
consideradas
adequadas,
considerando-se
o
objetivo, q ue
fo i
a
busca
de
tendências.
O
questionário encaminhou
9
perguntas.
As
duas
pr imeiras perguntas identificaram o s cursos
e
seus
coordenadores.
As
respostas
das
outras
7
perguntas
forneceram
importantes
indicadores.
Co m relação ao s fatores q ue
dificultam
a implantação
da
Disciplina
de
Preservação Documental,
o s respondentes indicaram,
em
p r imei ro lugar, a falta
de
professores habilitados
ao
ensino da disciplina.
Nota-se
também um a
falta
de
clareza sobre qual
deveria ser
o
conteúdo da
disciplina,
podendo-se
chegar
ainda mais longe: ainda
não
há um a
compreensão
da
importância
da
conservação
preventiva
para
assegurar
o
acesso
continuado
à informação, em
seus diferentes suportes.
A
nomenclatura
adotada
para
a
disciplina,
bastante
diferenciada,
denota
q ue
também
não
há
um
consenso
em
relação
ao
seu
conteúdo.
Além
do
conteúdo,
cada
curso
estabelece
seus
própr i os
parâmetros
em
relação
à
carga
horária ,
à relação
entre
teor ia
e
prát ica, e
à obrigatoriedade
da disciplina.
Este
descompasso já fo i
notado p o r
Gomes
(2000).
Além
disto,
persiste ainda o
ensino
de
práticas
de
restauração
sem um a fundamentação teórica adequada,
considerando
as limitações da
carga
horária de
60
horas. Po r
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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Cresceu, desde G o m e s
(2000),
a
tendência da adoção, parcial o u total, da bibl iografia
disponibilizada
pelo projeto Cooperativo
Conservação Preventiva em Bibliotecas
e
Arquivos - CPB
A.
O
Projeto
Conservação
Preventiva
em
Bibliotecas
e
Arquivos
q ue
dissemina in fo rmações
técnicas
através
da
distribuição
de
textos
traduzidos
às
instituições
cadastradas
no
projeto.
Apesar
de
sua
impor tância
e
de
ser o único trabalho
no
gênero
desenvolvido no
país,
apenas
quatro
universidades
responderam
q ue
mantêm a cooperação co m o projeto e/ou
usa
o s
textos
divulgados
pela comissão.
(GOMES,
2000,
p .
59).
Esta
bibliografia,
abordando
as
questões
centrais
do
planejamento
de
preservação
do s
diferentes
suportes documentais e
de
microfilmagem
e
digitalização,
vem complementando o u
mesmo
redirecionando
os
conteúdos
desta
disciplina
no s ú l t imos
anos,
m as não
alcança
ainda
um a
unanimidade sobre um
p rograma
condizente
co m
as necessárias mudanças.
Um
outro
conjunto
de
dados fundamentais, para
o
estudo
em
questão, fo i coletado paralelamente
utilizando o
mesmo
instrumento de pesquisa, junto ao s coordenadores do s cursos de pós-graduação
Lato
e Stricto Sensu em Ciência
da
Informação para levantar
a ocorrência
de
disciplinas o u de linhas de pesquisa
em Preservação Documental. Note-se
q ue
a Ciência da
Informação
já
aparece
na
denominação
da
grande
maior ia do s
Departamentos
ao s
quais
estão
vinculados
o s
cursos
de Biblioteconomia
e
Arquivologia.
Esta pesquisa fo i encaminhada a 8 instituições de ensino q ue mantêm cursos de especialização,
mestrado
e
doutorado. Das
quatro
respostas,
apenas
um
curso
de
especialização
em
Gestão
de
Arquivos
respondeu positivamente.
As três
respostas negativas justificaram:
1 )
"a
falta
de linhas de
pesquisa, apesar
da
possibilidade de o tema ser
verticalizado
em
alguma
delas";
2)
"a
desvinculação do tema à
Ciência
da
Informação";
e
3)
"a
ausência de professores
capacitados
para
oferecer tal conteúdo". (BECK, 2006,
p
89).
A
ormação
profissional
de
preservação documental
Nos
Estados
Unidos
o s
programas
dirigidos
à
formação
em
preservação
documental
enfrentam
o s
novos desafios do ensino
de preservação
do s meios audiovisuais
e
digitais, enquanto q ue
é
observada
um a
queda
de interesse
pelos
cursos
conservação-restauração.
Note-se
q ue
o s
cursos são
de
pós-graduação,
o
q ue
favorece a
concentração
de
disciplinas
e
de
linhas
de
pesquisa
específicas,
pa ra
a
fo rmação
de
conservadores
e
gerentes de preservação
dentro
do
campo
da
Ciência
da Informação.
Gracy
e
Crof t
realizaram entre
1999
e
2003 um a pesquisa
abrangente a
todos
o s
cursos
de
Biblioteconomia
e de
Ciência
da
Informação (LIS), co m
o
apoio da
Universidade de
Pittsburg.
Apesquisa
objetivou
levantar as
condições
atuais
do ensino de preservação
no s
Estados Unidos e avaliar se estes
cursos
preparam
conservadores
e
gerentes
de
preservação
de
f o r m a
adequada,
contemplando
o s
acervos
digitais e audiovisuais.
A pesquisa procurou
obter,
entre outras informações, respostas sobre o s cursos,
a
compos ição
do s
currículos
e
c o m o o s currículos
mudaram na
úl t ima
década.
Apesquisa
fo i
dirigida
a
todas as
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instituições acadêmicas q ue
fornecem
estes cursos. N o total,
foram
enviadas
102 pesquisas e a taxa
de
resposta fo i de 71.9%. A análise do s dados mostrou
o
crescente interesse
em
preservação, pelo aumento
do
nú me ro
de
matrículas
no s
cursos,
em especial no s de preservação de novos
suportes
documentais.
(GRACY;
CROFT,
2005a,
p .
1 ) .
Já
no s
cursos
de
conservação-restauração
ocorreram quedas
de
interesse em relação
ao s
demais
cursos.
Enrollment
m Conservation Courses.
1999-2003
K :
o . i f
n o ;
a > .
Fig.
1 :
Gráfico
indicando
o
número de
matrículas
nos
cursos de
Conservação-Restauração
(EUA),
entre
1999
e 2003.
(GRACY;
CROFT,
2005b, slide 15).
No s
cursos
Gerência
de
Preservação
(PM)
houve
um a
recuperação,
a
part i r de um a
tendência
anterior
de decréscimo.
Enrollment
i n
P M
Courses.
1999-2003
t i
I
: u
M i
s
;
> ,
H I <
' .
I . li
Fig. 2: Gráfico indicando
o
número
de
matrículas no s cursos
de
Gerência
de
Preservação (EUA),
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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O
interesse
pelos
cursos
de
preservação
digital fez
co m
q ue
o
número
de
cursos
dobrasse e
as
matrículas triplicassem,
em
apenas 4 anos.
Enrollment i n Digital Preservation
Courses.
999-2003
i
o : » o
r c i
x .
3 0 ;
Fig.
3:
Gráf ico indicando o núme ro
de
matrículas no s cursos
de
Preservação Digital
(EUA),
entre 1999
e
2003.
(GRACY; CROFT,
2005b,
süde 13).
Também
o s
cursos
direcionados à preservação
audiovisual
(AV)
tiveram um a
taxa
de
crescimento
semelhante.
De
nenhum
curso
em
1999,
o
número
saltou
para
5
cursos,
até
2003.
Enrollment i n Photographic
and
A V Preservation
Courses, '99- '03
\
W *
O C O
r i f V .
X i .
l \ t i
Fig. 4:
Gráfico indicando
o
núme ro de
matrículas
no s cursos de Preservação
de
Fotograf ias
e
Material
Audiovisual
(EUA),
entre
1999 e 2003.
(GRACY;
CROFT, 2005b, slide
14).
Sobre
o
futuro
do
ensino
de
preservação
na
perspectiva
acadêmica,
o s
entrevistados
indicaram
prior itar iamente
a
necessidade
de
ma io r
concentração
de
conteúdos de preservação
em
cursos de
Ciência
da
Info rmação
e
Tecnologia
da
Info rmação e a
necessidade
de
estimular estudos de
doutorado em
preservação.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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No Brasil, o ensino acadêmico
em
preservação tem preocupado a classe
profissional
há
décadas.
Apesar de várias tentativas para implantar programas regulares de pós-graduação,
o
único
p rog rama
de
especialização
q ue
se
mantém,
desde 1978,
é
o
curso
do
Centro de Conservação e
Restauração
de
Bens
M ó v e i s
-
C EC O R ,
da
Univers idade
Federal
de
M i n a s
Gera is .
Este
curso
especializa
prof issionais
em
conservação-restauração
de
pintura
e imaginár ia,
e
em
conservação-restauração
de
papel
Conclusão
A
preservação
deve
estar
presente
em todas as
atividades
do s
profissionais
de
informação.
O s
cursos
q ue
f o rmam
esses
pro f i ss iona is
no
Brasil
ainda
se
encontram
defasados
em
relação
a
esta
necessidade. Deveriam ser reavaliados, tanto o s conteúdos do s cursos, c o m o a distribuição destes na
grade
curricular
de ensino, para abranger o s diferentes suportes documentais. O
planejamento
de
preservação
poderia
ser
integrado
ao
processo de
gestão
documental.
Fica também cada
vez
mais visível a
necessidade
da f o rmação acadêmica
específica
de prof iss iona is pa ra a preservação do s suportes tradicionais
o u
digitais.
Um a outra questão crucial é a f o rmação de professores
pa ra
o ensino acadêmico destes
conteúdos,
no s
cursos
de
graduação
e
pós-graduação.
Atualmente,
analisando
o
conteúdo
das
disciplinas
oferecidas no s cursos de pós-graduação em Ciência da Informação no Brasil, a preservação documental só
é
contemplada
tangencialmente nas questões relacionadas à
produção
e recuperação da informação em
ambiente digital. Estes p rogramas
precisam estabelecer
linhas de
pesquisa
específicas,
tal
com o
acontece
nas
instituições
acadêmicas de
outros
países.
Nota-se ainda um a falta
de
consenso
no
encaminhamento das t ransformações metodológicas
q ue se fazem necessárias
no
ensino
de
preservação documental. Arazão pode estar ligada ao fato de esta
disciplina
ainda
não
ser
suficientemente
compreendida pelos
p róp r i os
prof issionais
da
área,
enquanto
q ue
há
mais
de um a
década o
mundo
vem
assistindo
a
um a
verdadeira
revolução
conceituai
no s
campo s
da informação e da preservação. M es mo considerando q ue em alguns cursos já ocorrem mudanças, co m a
adoção
da
conservação
preventiva no conteúdo
da disciplina de
preservação
e
abordando a preservação
de
meios não textuais, co mo fotografias, filmes e magnéticos.
Já
co m relação à preservação digital ainda não
fo i
integrada
ao s
programas
do s
cursos.
Permanece certa imobilidade
frente
às
mudanças q ue precisam acontecer contra
o
risco de se
criar
um a
lacuna
intransponível,
co m
o passar
do
tempo,
em relação
às perdas q ue estão p o r
vi r
em nossos
acervos,
especialmente o s
digitais.
Para q ue as mudanças se concretizem no conteúdo desta disciplina é preciso q ue se construa um
consistente
referencial
teórico,
q ue deve i r
além
do
conhecimento do s materiais e das diferentes mídias,
fundamentado
na
construção
do
pensamento
atual,
q ue
orienta
a Preservação
Documental para o contexto
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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3,170-180,2001.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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OS USUÁRIOS DA INFORMAÇÃO ARQUIVÍSTICA
Lucia
Maria
Velloso
de
Oliveira
Mestre
em
Ciência
da
Informação, Programa
de
Pó s
-
graduação
em
Ciência
da
Informação
UFF/IBICT, graduada
em
História e
em
Arquivologia.
Chefe do Serviço de Arquivo Histórico e Institucional da Fundação Casa de R ui Barbosa
RESUMO
As
inovações
em tecnologia da
informação
e
comunicação propic iam novos meios de
intermediação
entre
as
unidades
arquivísticas
e
seus
usuários.
Para
q ue
o s
serviços
arquivísücos
possam
atender
às
demandas
de seus usuários
em
consonância co m a
contemporaneidade,
é necessário q ue estes sejam reconhecidos
c o m o agentes no processo e a pluralidade
de
suas
necessidades de informação analisadas co m um a
abordagem flexível, capaz de atender às demandas ma i s tradicionais e às novas necessidades de
informação.
PalavrasChave: Info rmação
arquivística;
Usuário;
Uso
da
in fo rmação;
Acesso à
in fo rmação.
As inovações tecnológicas
de informação e
comunicação, em
especial
o ambiente
W EB provocam
no s
serviços
arquivísticos
um a
ampliação de
suas
perspectivas,
para
além de
seus
depósitos
e
salas
de
consulta.
Inserem-se
nesse
contexto
os usuários tradicionais e
ocasionais
destes
serviços,
co m
expectativas
e
demandas inerentes à contemporaneidade.
M e s m o não
adotando
um a
percepção
determinista em relação ao impacto da s inovações
tecnológicas no s processos de gestão e de comunicação na prática arquivística, devemos reconhecer q ue
tais fatores t rouxeram um a nova problemática no q ue se
refere
ao s procedimentos da área e à produção
científica.
Para
Rousseau e Couture, as inovações tecnológicas e o s novos suportes
t rouxeram
novos
desafios
para
o s
arquivos
e
para
o s arquivistas:
[...]
As
tecnologias da informação desenvolvem-se para
responder
às novas necessidades
de troca,
de
acesso
e de difusão.
As
telecomunicações
simplificam-se e
popularizam-se.
A
velocidade
de
transmissão
aumenta.
Novos
suportes
vão
surgindo.
O s
arquivos
mudam
de
f o rma .
A
arquivística
situa-se
no
cruzamento
de
novos
contextos culturais,
do s novos m od os
de
gestão ta l
co mo
das
novas
tecnologias.
Ela está na confluência
de vár ias
disciplinas:
informát ica, ciências
da
in fo rmação , história, lingüística, arqueologia , etnologia, etc.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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Partimos
do
pressuposto
de
q ue
o s
usos
da
informação
arquivística
e
as
relações
entre
o
usuário
e o s serviços
arquivísticos
vê m sendo modificados, especialmente
a
partir
do s anos 90, co m
a
introdução
de
novos
recursos tecnológicos de mediação
c om o
a
Internet
e
a
comunicação
eletrônica.
A
inserção
do
universo
W EB
ao
cotidiano, apesar
de não retratar
um a realidade única, produz um novo
fluxo
e novos
usos
indicando
ao s
serviços arquivísticos
e
ao s
prof iss ionais q ue
reconstruam o s instrumentos de
recuperação
da
informação, as
representações do s
conteúdos
do s
seus acervos e as
fo rmas
de comunicação
co m seu
usuário.
As possíveis
conexões
entre
o s usuários,
o s arquivistas
e
o s
acervos
passam
a
ser objeto
de
interesse do s serviços arquivísticos. A transferência
do conteúdo informacional assume
relevância,
na
medida
em
q ue o processo
tende
a se r
mais
au tônomo , sem o
contato
presencial e imediato
co m
o
profissional.
O
relacionamento
remoto
entre
o s
agentes
arquivista
e
usuário
também
possibilita
ao
segundo
um a condição de interferência
na
comunicação,
sem
a
inibição
q ue
o
contato
direto co m o prof issional
pode
provocar .
O
usuário nesse contexto
assume
um papel
central: de receptor para co-produto r da
infonnação e agente no processo de transferência da informação.
Fonseca
e
Jardim
(2004),
ao analisarem
a
terminologia arquivística, constatam
q ue
o
termo
usuário é pouco contemplado.
De
maneira
geral,
o s
conceitos
de
"usuário
" encontrados
não se
colocam
distantes
daquele
difundido
pelo
Conselho
Internacional
de Arquivos:
"An
individual
who consults
records
(1)/archives
( ), usually
in
a search
r o om .
Also
called
reader,
researcher,
searcher".
Nesta
perspectiva, o
usuário
é um
indivíduo
q ue busca a informação e , portanto , a comunicação
arquivo-usuár io só se
manifesta
quando este últ imo, pora lguma razão, p r o v o ca esse
processo.
(FONSECA; JARDIM,
2004,
p.5).
N o Dicionário Brasileiro
de
Terminologia Arquivística,
p ublicado p e lo
Arqu ivo
Nacional em
2005,
o termo usuário é definido c o m o "pessoa física o u jurídica q ue consulta
arquivos.
Também
chamada
consulente,
leitor
o u
pesquisador".
(DICIONÁRIO... ,
2005,
p.169).
Estamos
adotando
o
conceito de usuário
propos to p o r Le
Coadic:
o
usuário da
informação
é
"aquele
q ue
busca
um a
informação
para
suprir
um a
demanda
de
informação".
(LECOADIC,
1997, p.59,
tradução nossa).
O processo
de
comunicação
do s conteúdos in fo rmaciona is arquivísticos
se
dá
a
part i r da
descrição arquivística
consolidada
em
instrumentos de recuperação da in fo rmação ,
c o m o
inventários
analíticos,
sumár ios , catálogos, bases de dados, etc. N a elaboração desse conteúdo, o arquivista
segue
procedimentos
q ue
visam
contemplar
o s
aspectos
documentários
e
contextuais
da
unidade
de
descrição
de
f o r m a a
possibilitar
a
difusão do s conteúdos
e
do s
documentos.
Entendemos
q ue um
do s fundamentos para o
desenvolvimento
desse
processo
de
comunicação
deve
prever
a
inserção
do
usuário
não só
c om o
um
receptor
do s
conteúdos
elaborados pelo arquivista, m as
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co mo
um agente
essencial, co m
a
possibilidade
de
interferir
inclusive
na política de
descrição
e difusão
adotadas nas
unidades
organizacionais arquivísticas.
Segundo
Gagnon-Arguin
(1998),
a
análise
do processo
de
pesquisa
do s acervos
arquivísticos
pode
acrescentar
ao
tratamento
arquivístico,
e
em
especial,
à
descrição
e
à
análise,
e
q ue
o s
usuários
tem
adquir ido
m a i o r independência pa ra
a
realização
de
suas
pesquisas co m a
utilização do s
recursos
tecnológicos. Ressalta q ue
esse
fator, p o r
um lado,
impl ica
em revisão
de
práticas arquivísticas.
O s usuários
adquirem
m a i o r
independência em seu trabalho
de
pesquisa. Porum lado,
se
t o m a m
m a i s
dependentes
das
estruturas
subjacentes às
bases
de
dados disponíveis.
A
qualidade
de
respostas
q ue eles obtêm
é
condicionada pela organização do acesso
e
pela
indexação
das
descrições fornecidas.
Daí
a
necessidade
do s
arquivistas modelarem
o s
processos
de
busca
defo rma
mais
produtiva
de
m od o
a
ajustar,
de
um a
parte,
o
tratamento
do s
fundos arquivísticos descritos
e,
por
outro,
de
cr iar
as
estruturas
de
acesso
p r ó p r i a s
p a r a
pesquisa.
(GAGNON-ARGUIN,
1998,
p . 87, tradução
nossa).
Gagnon-Arguin
(1998) afi rma
q ue
o
uso das
perguntas
do s
usuários
ao
arquivista
de
referência
apresenta
vantagens
metodológicas,
po i s
são
fáceis
de recolher,
não
é
necessária utilização de
infra-
estrutura complexa
para
compilá-las, a
validade do
uso
das
informações
independe das
condições
de
coleta,
as
informações
já
são
conhecidas
pelos arquivistas
de
referênciae
é
um
material vasto
e
significativo.
Em
sua
perspectiva,
a ligação
entre
o arquivista
de
referência e o arquivista responsável
pela
descrição,
deve
ser sistematizada,
um a
vez
q ue
pode orientar a política
de
descrição
e
de
acesso.
No
processo
de
comunicação
das
informações
arquivísticas,
em
geral, elaboramos
instrumentos
de
pesquisa
assumindo
q ue
o
usuário
está
familiarizado
co m
te rmos
c o m o
proveniência,
fundos, série,
etc.
H á
casos
em
q ue
no s
atemos
às
considerações sobre
a
f o rm a
do
documento
em
detrimento
às
outras
possibil idades
de pon tos
de
acesso q ue podem
ser oferecidas. Enquanto
existe
a
perspectiva de um
atendimento
presencial,
essas
questões
podem ser supridas
co m
a
negociação entre o
arquivista
e
o
usuário.
Contudo,
ao
configurarmos
a
pesquisa
remota p o r meio
de
ferramenta
para
WEB,
faz-se
necessário
olhar
de maneira distinta esse processo.
Duff e Stoyanova (1998)
publicaram artigo
no
periódico
da
área
editado
pela Associação
do s
Arquivistas
Canadenses, Archivaria , apresentando
resultados de
estudos
feitos co m
grupo
de
usuários
sobre
conteúdos
e
fo rmatos
de
visualização
em
bases
de
dados, em
relação
ao
R AD
-Rules forArchival
Description. O
R AD
fo i
amplamente
utilizado
na
década
de
90
pelos arquivistas
canadenses
e
tinha
co mo
objetivos normalizar
a
prática
de
descrição e
capacitar
usuários a
ter
acesso à
informação.
Iniciam o
trabalho
reconhecendo
que:
o objetivo da
descrição é
multifacetada. A
descrição
tem
pape l
impor tante
no
controle
de
um
arquivo,
emfunções
de
suporte
como
acesso,
processamento, [...].Descrição
oferece ao s
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entenda
e use o s arquivos
em
todas as etapas de
trabalho
de pesquisa.
(DUFF;
S T O Y A N O V A ,
1998, p . 45,
tradução nossa).
Duff
e Stoyanova (1998)
concluem
q ue o s usuários preferem q ue a f o r m a de visualização das
informações
sobre
o s
acervos
arquivístícos,
seja
desenvolvida
especificamente
para
esse
f im,
em
vez
de
se
utilizar
um
produto
já
disponível
e
adaptado
às
especificidades
da
informação
arquivística.
De
acordo
co m
o s
autores,
o s
pesquisadores
sabem
quais
os
conteúdos
e
fo rmatos para
t omar
as
informações
arquivísticas disponíveis.
Ainda,
apesar
do s modelos existentes e jáutilizados atenderem
em
sua m a i o r i a às
necessidades
do s usuários, o s usuários gostariam q ue fossem incluídos outros
disposit ivos
c om o "glossários,
funções
de ajuda on-line,
instrumentos
de busca
eletrônicos,
e índices,
q ue são
comumente
ausentes
em
sistemas
descritivos" (DUFF; STOYANOVA,
1998,
p .
66, tradução
nossa).
Munn
e
Rioux
(1998)
apresentam
um a
síntese
das
discussões
q ue
surgiram
durante
um a
jornada
organizada
pela
Divisão de
Serviços
ao s
Pesquisadores do s
Arquivos
Nacionais
do
Canadá
1
,
Les archivistes
et
leurs publics. Nouveaux
moyens,
nouvelksapproches, em 1997.Foi
constatado
no
decorrer
do
evento que:
Deve-se reconhecer q ue o s centros arquivísticos estão vivendo um per íodo de transição
impor tante
t ratando-se
das
fe r ramentas de busca,
seja
pormeio
da
normal ização das
descrições,
da elaboração
de
sistemas de
indexação
m a i s
precisos ,
de
um a grande
informatização
o u
pela m a i o r
colaboração
entre
prof iss ionais .
E a
ocasião
é
favorável
para
se
engajar
o s
debates
necessários
para
melhor
definir
o
pape l
da
referência
e
das
necessidades
do s
pesquisadores,
prel iminarmente
ao desenvolvimento
de
melhores
meios
de
acesso
ao s
documentos
de arquivo. (MUNN;
RIOUX,
1998, p . 110, tradução
nossa).
Na percepção
de
Aubin
(1999-2000),
as
inovações
tecnológicas
de
informação
e
de
comunicação
provocam
no s
arquivistas
um
desafio
em
suas
práticas
de
difusão
do s
acervos
q ue
gerenciam. "Nós
devemos
simplif icar
o acesso ao s instrumentos de pesquisa
e
ao seu conteúdo, po i s toda pessoa deverá sentar-se
diante de seu terminal
e
ser
capaz
de lidar co m facilidade
e
rapidamente
co m
o menu
q ue lhe
fo r
oferecido,
[...]".(AUBIN,
1999-2000,
p .
1 5 ,
tradução
nossa).
Segundo
M c
Laughlin
(2003), diretor
de Desenvolvimento
e
Acesso do
Arquivo Nacional
da
Austrália,
o s usuários do Arquivo Nacional querem utilizar
o catálogo on-line
da
m es m a f o r m a
em
q ue
navegam
na
WEB,
sem
fazer uso
de
manuais.
Co m base
em
três
anos
de observação do s usuários da
instituição
fo i possível estabelecer, no
caso do
Arquivo Nacional da Austrália, dez regras
básicas
para
o desenho de
interface
de bases de dados,
a saber:
1
Canadá
ossui o is
Arquivos
acionais
efletindo
rocesso
istórico
nvolvendo
colonização
nglesa
rancesa.
s o is
aíses
utaram o r
erca
e
0
no s
elo
aís.
Inglaterra aiu i tor iosa ,
as
os
o lonos
ranceses o i ermitido
reservar
íngua,
s
costumes
ei s
ivis,
e
cordo
o m
Lei Québec.
Disponível
m :
www.histor ianet .com.br .
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1 - Conhecer
o
usuário e
o
q ue
ele
deseja.
Observa
q ue
apesar
do
ambiente W EB estar
relacionado à
ampliação
e a
um
atendimento
mais abrangente,
a
tendência
é
o
desenvolvimento
de
pesquisas
personalizadas
e
individualizadas. Cita recente
estudo
do
For reste r
Research
(USA)
q ue
"aconselha
a
construção
de
um
perfil
fictício
de
usuário
baseado
em
extensas
entrevistas co m usuários reais" (M C LAUGHLIN, 2003,
p .
2,
tradução nossa);
2- N ão pressupor q ue ocorreu
o
entendimento. Nesse sentido, a língua pode ser um a barreira
no processo de comunicação, especialmente se a interface fizer uso de termos especializados
da área e q ue não são parte do vocabulário do pesquisador;
3- Assumir q ue
o
usuário pode não conhecer as coleções;
4- Simplicidade.
Segundo
M c Laughlin, a maio r ia do público não gosta de
ler
instruções
para operar um
sistema;
5-
As pessoas devem
ser ajudadas
em
suas
pesquisas
e,
assim,
o
custo
co m
viagens pode
não
mais se justificar
co m
a
utilização
da
tecnologia
da
Internet;
6-
Criar
mecanismos de
busca
adequados a diferentes usuários. "O s usuários gostam de
pesquisar
pelo
nome, lugar,
evento
o u
pessoas.
Eles
também se interessam pelos temas. C o m o
podemos
t omar
isso
possível
em
um a coleção arquivística?" (M C LAUGHLIN,
2003,
p.5,
tradução
nossa). Para tal,
é importante q ue o thesaurus elaborado retrate o s te rmos relevantes
pa ra a coleção;
7- O usuário deve ser
auxiliado
a navegar, e de acordo co m M c Laughlin muitas opções e
muitos
campos
podem
se
t omar
dificultadores
durante
a
navegação;
8- O usuário deve ser capaz de
solicitar
o
item pa ra
consulta
o u imp r im i - l o p o r
me io
do
sistema. Exclusão de lápis e papel
com o
meios para efetuar-se
o
pedido a consulta;
9-
Um a bo a interface não resolve
o
problema de falta de qualidade do s dados disponíveis;
1 0 -
O s
usuários
devem
se
sentir
capazes
e
confiantes
em
lidar
co m
as
bases
de
dados.
Na perspectiva de Craig (1998), o documento arquivístico deve ser colocado
à
disposição do s
usuários,
seja c o m o fonte de in fo rmação dentro de um contexto social mais am p lo ,
o u
c o m o fonte de
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M as
quem
são
esses
usuár ios? Cer tamente
essa
categor ia
deve
incluir
pessoas
já
habitualmente consumidoras de nossos
serviços
-genealogistas, estudantes, acadêm ico s,
servidores
públicos.
Usuários podem
também legit imamente incluir, outros clientes em
potencial, p o r
exemplo, pessoas
q ue
trabalhem em redes de
difusão
o u em
novas
indústrias
culturais.
O u
pode
serum
tipo
de
usuário
completamente
novo
q ue
nós
tenhamos
encontrado
muito
raramente
no passado, um visitante recreador
q ue
chega eletronicamente,
talvez
p a r a
visitar o site oufazer um a
pergunta
eletronicamente.
De
fato,
no
futuro
todas as
categorias
de
usuários,
real
o u virtual, atual
o u potencial, necessitarão se r
incluídos em nossa equação
de
serviço
ao público. (CRAIQ1998,
p .
122,
tradução
nossa).
Craig (1998) destaca q ue as expectativas do s usuários em relação ao s serviços remotos do s
arquivos receberão influências de sua relação-com a Internet e co m
bibliotecas,
q ue
em
grande
parte
já
oferecem
serviços
automatizados.
Considera
q ue
a
Internet
e
a
W EB
possibilitam
ao s
serviços
de
arquivos
oportunidade
para
o
atendimento
ao s usuários
ma is
tradicionais
do s arquivos
e
ao s
usuários
remotos,
de
modo
mais
diversificado.
Assinala, também
q ue essa
realidade
pode
facilitar
a transformação
do s
usuários
ocasionais
em
usuários
regulares.
Mart in
(2001)
publica no periódico The American Archivist,
editado pela
Associação do s
Arquivistas
Americanos, artigo
q ue
analisa
o
atendimento
remoto
no Southern Histor ical
Collection
e
General
and
Literacy Manuscr ipts
na
Universidade
do Norte Carolina, no período
de
1995
a
1999.
O
artigo
q ue
recebeu
o
p rêmio
Theodore
Calvin Pease Award
2
,
em 2000, apresenta
resultado da
pesquisa realizada para
a
conclusão
do
mestrado
da
autora,
na
Escola de
Informação
e
Biblioteconomia
da
Universidade
de
Norte
da
Carolina.
Foram
quatro as principais conclusões
do
trabalho:
o
tomou-se
o pr inc ipal
meio de demanda,
m a i s
perguntas
sã o
feitas
porusuários
casuais em busca de respos tas para q uestões pessoa is ,
m a i s usuár ios se utilizam
de
in f o rmações
on- l ine
para
m o l d a r suas perguntas de referência, e a
proporção
de
usuár ios
r emo t o s
visitarem
o
local
diminuiu.
(MARTIN,
2001, p . 17,
tradução
nossa).
A
escolha
do
campo empírico
para
a realização
da pesquisa
da
autora deveu-se
ao
fato
da
instituição
te r sido um a das p r ime i ras
a
fazer
uso da tecnologia da Internet,
a
ma i o r parte de suas coleções possui
instrumentos de recuperação da informação
na
rede
e
também
p o r
ser
um a
instituição de referência
em
especial para o s pesquisadores da História
do Sul.
A
pesquisa part iu de quatro hipóteses: o
tomou-se o principal veículo de atendimento
r emo to ; o s
usuários
q ue fazem uso do recurso do e-mai l não
são
especializados e sim pessoas q ue
simplesmente
estão
navegando
no
ambiente
WEB,
sem
um
objetivo
específico
de
pesquisa;
as
perguntas
J
rSmio ease
Award
ado o melhor rabalho laborado o r studantes ecidido
p o r
comitê
residido pelo editor da
evista
American Archivist.
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formuladas pelos usuários, na medida q ue mais informações são disponibilizadas na
W EB,
t omam-se
mais
específicas;
e
a
Internet
favoreceu
a
ampliação do interesse
pelos
arquivos.
Segundo
Martin (2001,
p .
24),
além
das
vantagens popularmente conhecidas na utilização de
e-
mai l
co mo
canal
de
comunicação:
velocidade,
acesso
à
outra
ponta
24
horas
p o r
dia,
permite
a
construção
de bases de dados de perguntas mais freqüentes,
etc,
aponta q ue a consulta p o r e-mail permite ao arquivista
tempo para elaborar um a resposta ao usuário mais completa.
A
pesquisa
se
baseou
em
quatro
categorias de usuários
3
: usuários pessoais o u p o r recreação,
co m
intèresses
referentes
ao
p róp r i o
o u
a alguma
curiosidade; usuários
prof issionais ,
o s
jornalistas,
advogados, cineastas, q ue
recortem
ao s arquivos co m vistas ao
atendimento
de um a necessidade de trabalho;
pesquisadores acadêmicos, q ue
desenvolvem
pesquisas co m temáticas mais amplas, podem ser estudantes
ou
membr o s
das
Universidades;
e
os
q ue
pesquisam
p o r
hobby.
De
acordo co m o s resultados, as categorias q ue mais utilizam
o
e-mai l c o m o instrumento de
comunicação
são
os
usuários
pessoais
o u p o r recreação
e
o s
pesquisadores
acadêmicos,
nesta
ordem.
O estudo
apresentado
sinalizou algumas tendências:
o
uso do e-mail como meio
para
comunicação
tende
a
crescer
em
relação à
correspondência
tradicional; a
tecnologia
da
Internet
e
o
uso
de
e-mails
permitem q ue
pessoas
q ue
nunca
utilizaram
arquivos entrem em
contato co m esse contexto;
o
usuário
remoto
tende
cada vez mais a
refinar
sua
pesquisa
no
ambiente
W EB
antes
de recorrer ao s arquivos; o
usuário r emo to tende a diminui r suas visitas ao s arquivos ; e devido à info rmal idade peculiar da
comunicação p o r e-mail , o usuário r emoto
fornecerá
informações insuficientes pa ra
o
arquivista de
referência ao efetuar um a
consulta.
O
crescimento da
variedade
de usuários q ue descobrem o s arquivos
pelos
Websites
cria
um
novo
conjunto
de desafios.
Se
um
repositório W e b
representa
o
pr ime i ro
contato
do
usuário
co m
o s
arquivos,
o
Website deve
fornecer
informações sobre o s arquivos,
sua missão,
para
atender
ao usuário
iniciante.
O
repositório deve também oferecer ao s usuários experientes
um a
valiosa
visão
da s
coleções
de
f o r m a
a
ajudá-los
a
definir
quais
coleções
correspondem
ao s seus interesses. (MARTIN, 2001, p.40, tradução nossa).
O estudo de Martin (2001) corrobora co m a tendência observada na revisão de literatura sobre
o
processo
de
comunicação
entre
o
usuário e
o s
serviços arquivísticos,
no
sentido em
q ue
as
inovações,
uso
do
e-ma i l
e da Internet, impelem mudanças no s
procedimentos
de
atendimento
ao
usuário
e na
construção
do s
discursos
do
arquivista
para potencializar esse atendimento
cada
vez menos presencial.
Para Duff e
Johnson,
"o conteúdo e o s meios de acesso às
descrições
arquivísticas eram baseadas
nas
percepções
e
modelos
do s
arquivistas
e
não
no
ponto de
vista
do
usuário" (DUFF;
J O H N S O N ,
2001,
3
Em eu r t igo, Mart in 2001),
i ta
ue tilizou s ategorias efinidas
o r ONWAY,
Paul.
artners
n esearch:
mprov ing
ccess
o he
ation's rchive.Pittsburgh:
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 61/78
p .
43 ,
tradução
nossa).
O s autores também
concordam
q ue
o
ambiente
W EB a p r o x i m a
usuários
inexperientes
do s arquivos, e
para
q ue
estes usuários possam
te r suas expectativas
atendidas faz-se
necessário
q ue
o s
mesmos tornem-se
independentes
e autônomos
face
à informação arquivística.
Bons
sistemas
de
arqu ivos
devem
responder
às
demandas
do s
usuários
sem
q ue
haja
a
intervenção
do arquivista.
Para
isto, o s
arquivistas
devem
conhecer
quais
as informações
o
usuário
considera
impor tante
ao elaborar a
pesquisa
no sistema,
assegurando
q ue esses
elementos
estejam incluídos
na
descrição do s mater ia is
e
nas
interfaces de
busca.
(DUFF;
JOHNSON,
2001,
p . 44, tradução
nossa).
O s autores
(2001,
p .
58-59), co m base
em
sua
pesquisa,
constataram
q ue o s usuários efetuam
suas
pesquisas utilizando c om o
pontos de
acesso nomes, datas,
assuntos,
f o r m a
e
eventos, desta
f o r m a
o s
sistemas
de
recuperação
da
informação
devem
possibilitar
a
busca
a
part ir
destes
elementos.
Blais
(1995)
analisa
a
utilização
do s
arquivos
pelos
histor iadores
no s
países
da Europa ,
principalmente
após o século X I X , e progressivamente p o r outros
usuários
denominados
c om o
usuários-
cidadãos, exemplificando-os c om o o s genealogistas,
jornalistas,
magistrados,
q ue
buscam
no s arquivos
respostas a
questões
muito
específicas
o u
particulares
a
q ue
raramente
r e tomam,
e também pelos
usuários
amadores
4
,
co m
demandas
variadas
e em
busca
de respostas
para
atender
sua
curiosidade.
De
acordo co m
Blais
(1995),
parte
do
conjunto
de usuários
do s
arquivos
constitui-se
pelos
p róp r ios
arquivistas,
q ue
fazem
uso
do s
acervos
para
a
realização
de
seu
trabalho.
Ao
fazer
um a
retrospectiva
de iniciativas
de
estudos
sobre
usuários, a
autora
indica
q ue
o s
arquivistas americanos são
o s precursores na
temática, contudo
cita
o trabalho
do s Arquivos Nacionais do
Canadá, realizado
em
1984,
c om o trabalho de grande
relevância.
As
pesquisas
apontaram
para questões
pertinentes
co m
esse estudo,
como
a prática
de
elaboração
de instrumentos de busca q ue
atendem às necessidades do
processo
de
pesquisa, desde
q ue
oco r r a
a
intermediação
do
arquivista
e a
gradual
modif icação
das
modalidades
da pesquisa arquivística.
Cada
vez
mais ,
o s
usuários
preferem
consultar
o s
fundos
a
partir
de
seu
domicíl io .
Em
certos
casos,
a
utilização
de
instrumentos
de
telecomunicação
é necessária;
em outros,
as
técnicas
clássicas
do
recurso
da s micro fo rmas pode
atender
essas necessidades.
De
qualquer
modo ,
o s pesquisadores
gostariam
de pode r l imitar aduração
de
sua
visita ao
arquivo
ao
mín imo e de prepará-la .
Certos
usuários
se preocupam menos em consultar
o s
documentos
do
q ue
acessar a
informação
q ue o s documentos contém. Nesses casos, o s serviços do s arquivos são chamados pa ra manipular a
informação
para
se
adaptar
às
necessidades
do pesquisador. (BLAIS,
1995,
p .
1 1 ,
tradução
nossa).
4
Assim
omeados
o r
aul
Conway.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 62/78
Christopher
J.
Prom
publicou
os
resultados de pesquisa desenvolvida
co m
objetivo
de analisar
a interação
do
usuário co m bases
de
dados
on-line,
no
âmbito do
Arquivo
da
Universidade de
Illinois,
durante o
verão
de
2003.
A
pesquisa
demonstrou,
dentre
outros
resultados,
q ue
as
bases
de
dados
on-l ine
são
m a i s
eficientes
para
o s
arquivistas e
para
o s
especialistas
em
computação.
Este
dado
remonta
para
a necessidade
de
conhecermos
os
usuários, estabelecer
um
canal de comunicação viável e, conseqüentemente, atingirmos
a
meta
de
potencializar
o
acesso
às
informações
arquivísticas.
De acordo
co m
Fox,
os
usuários
do sistema
americano "esperam
q ue
a informação
esteja
on-line
e
à
sua
disposição
imediata"
( F O X ,
2003,
p .
3,
tradução
nossa); e
o s
sistemas
deveriam
levar
o
usuário
direto
ao
seu ponto de interesse,
evitando-se um a
navegação em círculos.
Tibbo
e
Meho
(2001,
p .
61)
elaboram
um
estudo
sobre
mecanismos
de
buscas
em
ambiente
W EB
e
escolhem:
Alta
Vista,
Excite,
Fast Search,
Google,
Hotbot
e Northern
Light.
A
escolha deveu-se,
dentre outros aspectos,
ao
bo m
nível
de
resultados
q ue
essas ferramentas apresentam e à
sua
popularidade.
O s pesquisadores
assumiram
que,
devido
às
iniciativas
muito recentes de disponibilização de
informações arquivísticas na
WEB,
ainda
não há
produção
de
conhecimento
significativa
sobre
a
eficácia
do s
buscadores
para
o s
materiais
arquivísticos.
Além
disso,
constatam
q ue
apesar
do s
avanços tecnológicos
os
serviços
arquivíst icos
ainda
tê m um
longo
caminho
a
seguir
em direção
à
divulgação de
seus
instrumentos
de
pesquisa.
Enquanto
perto
de
dois
m il
reposi tór ios
de
arquivos
na
América
do
Norte
tenham
páginas
na
W E B ,
de
acordo
co m
os
dados
levantados,
até fevereiro
de
2000,
aproximadamente
oito
porcento
o u
cento
e sessenta,
possuem
número
significativo
de
instrumentos
de
pesquisa
completos em
seus
sites.
(TIBBO;
M E H O ,
2001,
p .
7 0 ,
tradução nossa).
O s autores,
Tibbo
e
Meho (2001, p . 77) , recomendam
ao s arquivistas q ue
coloquem
o s
instrumentos
de
pesquisa
na
W EB
e
q ue
se
t omem
especialistas
em
pesquisas,
assegurando
a
elaboração
de instruções
para
busca
q ue
atendam ao s usuários.
Jardim
(2003)
indica
a
necessidade
de pesquisas constantes
sobre usuários de arquivos dentro
de um a
perspectiva
estratégica.
O
envolvimento
do s
usuários da
in fo rmação
arquivística nas políticas
arquivísticas
é
de
fundamental
importância,
embora
nem
sempre
fácil
de
ser
construído.
Isso
requer,
p o r
par te
do s
agentes
públicos,
p r omo to res
da
legislação
arquivística,
não
apenas
um
conhecimento
extensivo do universo
do s
usuários do s
arquivos,
c om o
também
a
oferta
de
mecanismos
acessíveis de
comunicação
entre
ambas
as partes.
As
instituições
e serviços arquivíst icos
devem
manter atualizadas
as
informações
não
apenas sobre o s
seus
usuários, bem
c om o
sobre
aparcela
da
sociedade
que,
p o r diversas
razões,
não
usufrui
os
serviços
arquivísticos.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 63/78
devem
serestimulados
a
atuarna
definição
e
desenvolvimento
das
polít icas
públ icas
arquivísticas.
(JARDIM,
2003, p . 43).
Dollar
(2005),
ao
apontar
as mudanças
q ue
o s recursos tecnológicos
provocam
no âmbito
do s
serviços de referência do s arquivos,
enumera
as perguntas
q ue
o
arquivista deve responder
para q ue
o s
usuários tenham
suas
demandas atendidas:
"Quais
são
as características comuns
ao s
g rupos
de
pesquisadores?
Quais elementos do serviço
de
referência
são
de
maio r importância para eles?"
(DOLLAR,
2005, p . 16).
Tibbo (2003) apresenta resultados sobre c om o historiadores
q ue
ensinam
Histór ia
Americana
em sessenta
e
oito instituições
buscam
as fontes
pr imár ias
para
a
realização de suas pesquisas. Este trabalho
faz parte do
Projeto
The
Pr imar i ly History . ~
Segundo
o s
resultados
obtidos,
o s
histor iadores
amer icanos
estão
utilizando
o s
recursos
eletrônicos para localizar
as fontes primárias, priorizam as visitas ao s W EB sites de
repositórios conhecidos
(em busca de
informações
como
telefone
e
horár io de
funcionamento), m as
ao
mesmo
tempo fazem
uso de
instrumentos
de pesquisa tradicionais.
A
mensagem para bibliotecas
e
arqu ivos
é clara. O s arquivistas
e
bibliotecários
devem
manter o
acesso
ao s meios tradicionais de localização de fontes enquanto constroem W EB
sites mais fáceis de navegar co m informações úteis.fTIBBO, 2003, p . 28 ,
tradução
nossa).
Também
indica
q ue
o material
ma is utilizado
e
ma is impor tante são o s
jornais
e,
em
seguida,
a
correspondência
não publicada, o s
diários
e
os manuscritos. Esta informação
deve ser considerada
ao se
estabelecer
um a
polít ica
de mic ro f i lmagem
o u de
digitalização, tendo em vista
a
ampl iação
de
possibilidades de acesso.
O s historiadores
q ue
part iciparam da
pesquisa
responderam
q ue
ainda
utilizam
o s meios mais
tradicionais para a realização de suas
pesquisas,
apesar de
utilizarem
as
possibilidades
eletrônicas.
Noventa e oito por
cento
do s histor iadores
indicaram
q ue
acham
o s
mater ia i s
seguindo
indicações
e
citações
em fontes
impressas; 79 p o r
cento
buscam
em
bibliografias publicadas;
57porcento consultam edições documentárias
impressas;
76 porcento pesquisam em
instrumentos
de busca impressos; 65 porcento
usam
arquivos
de jornais p a r a achar outros
materiais;
[...]
(TIBBO,
2003,
p .
20 ,
tradução
nossa).
5
Projeto
ue
nalisa
ompor tamento
os
istor iadores
ara
esquisar
s
ontes
r imár ias
co m
dvento
a
WEB,
nstrumentos
e
ecuperação
letrônicos oleções igitais.
projeto nvolve olaboração a scola e nformação Bibl ioteconomia a Universidade
da arolina
o
orte
nstituto
e
umanidades Alta ecnologia nformação a
Universidade e Glasgow Escócia).
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 64/78
O projeto demonstrou q ue 63% do s historiadores americanos visitam repositórios
em
ambiente
W EB e
44
%
fazem uso
de
fe r ramentas
de
busca. M as ,
pa r a
a
autora, a
navegação
em
ambiente
W EB
não
significa a recuperação de
informações
significativas
sobre
coleções
e
materia is
m e n o s
visíveis.
Visitar
coleções
em
W EB sites
e
seus
instrumentos de busca, não
representa
o
pode r da
W E B , po r que apenas apresenta
em
conjunto
de
materiais de diversos
lugares,
e
simplesmente
t o m a
mais acessíveis materiais
q ue
o
historiador acharia de
qualquer
f o r ma
co m
um
pouco
mais de esforço. (TIBBO, 2003, p . 23 , tradução nossa).
O s
historiadores
antecedem
suas
visitas
aos arquivos
utilizando
o s meios
de
comunicação:
na
categoria
solicitação
de
assistência,
50
%
do s
participantes
usa
o
e-mail,
44%
o
telefone,
e
40
%
o
correio.
Ainda, no
local
da
consulta,
90 %
pesquisam
em
instrumentos impressos, enquanto
menos
de 55 %
utilizam
instrumentos de recuperação da
informação
eletrônicos.
O historiador Georges
Duby
em sua obra, A Histó r ia
contínua
(1993), relata a elaboração
de sua tese
de
doutoramento. Para fins desse trabalho
de
pesquisa, é relevante perceber as
impressões
do
historiador, enquanto
usuário
da informação arquivística, seja em sua percepção
acerca
do profissional
responsável
pela guarda e acesso
aos
documentos,
seja
p o r
sua
relação
co m a própr ia
fonte.
A
questão
q ue
se
coloca,
no
quadro
apresentado
p o r
Duby,
refere-se
à
relevância,
q ue
a
contraposição q ue a pesquisa
em
bases
de
dados- arquivos
já
digitalizados-
e
o
acesso ao
documento
digital podem
gerar
no
processo da
pesquisa
do usuário em si, bem co mo em
suas
relações
co m
o s
acervos
arquivísticos.
Ao narrar a etapa de consulta ao s
manuscr i tos
de
documentos transcritos, etapa essa
q ue
se
desenvolveu
na Biblioteca
Nacional,
em
Dijon,
menciona
a
imagem
do
guardião
do s
documentos
e sua
pouca
disposição
em dar
acesso
ao s
mesmos.
A í peças originais,
muito
ma i s raras, estão em sua m a i o r i a recolhidas ao s arquivos de
Saône-et-Loire.
Seu
conservador julgava-se então,
como acontece às
vezes,
prop r ie tár io
do
depósito do qual tinha a guarda, e tratava de afastar co mo pod i a o s intrusos. [...]
Eu estava
sozinho.
Conseguira finalmente q ue trouxessem um a
caixa
de
papelão,
q ue fo i
depositada
sobre
um a mesa. Abri-a.que encontrar ia lá dentro? Retirei
um
p r ime i ro
maço
de
documentos.
Desamarrei-o,
enfiando
a
m ão
p o r
entre as peças de pergaminho.
Tomando
um a
delas,
desenrolei-a,
e toda esta
operação
já
implicava
um
certo prazer :
não
r a r o essas
peles
sã o
de
contato
extraordinar iamente
suave.
Soma-se
a
impressão
de
estar
entrando
num
local reservado,
secreto.
(DUBY, 1993, p .
27).
Segue
em
suas
impressões,
agora
sobre
o
processo
de busca e
o
impacto
q ue p rovoca
no
usuário,
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 65/78
Quem mais terá
posto
o s
olhos
nessas
palavras desde então? Quatro o u cinco
pessoas,
no
máx imo . H a p p y few. Outro prazer, este excitante: o
prazer
de decifrar, q ue não passa na
verdade
de um
jogo de paciência.
Terminada a
tarde,
um
punhado de dados,
quase nada.
M as
sã o
exclusivamente
nossos,
de quem
soube
ir
a
seu
encontro,
e
acaçada
fo i
muito
ma is
impor tante
q ue
o
animal
capturado.
( D U B Y ,
1993,
p .
28).
Continuando
co m
a
linha
de
considerarmos
a
perspectiva do s
usuários
de arquivos,
recorremos
ao s
relatos
de
Sônia
C o m b e
e
Aríete
Farge, amb as
histor iadoras , sobre
suas
exper iências
c o m o
pesquisadoras
do s
arquivos franceses.
O s
relatos
fo ram
publicados, respectivamente, em
Archives
interdites:
les
peurs
f rança ises
face à
I histoire
con tempo ra i ne
6
, e m La atracción
dei
archivo
7
.
Combe
(1994,
p .
16-17),
ao
descrever
sua
compreensão
sobre
as
características
do
trabalho
para
t om a r o s
documentos arquivísticos disponíveis, menciona
q ue
o s
arquivos
demandam
um
trabalho
delicado
de
identificação
e
organização
de
dossiês
e reconhece
q ue
sua
natureza oficial
im p õ e
q ue sejam
liberados
ao
público após
a
conclusão
do período
de
uso no
âmbito
administrativo.
Tal
questão
se
coloca,
po is o
trabalho
da
autora
apresenta
sua trajetória
pelos
arquivos
departamentais
da França, em busca de
material sobre
a
ocupação durante
a
Segunda
Guerra
Mundial.
A pesquisa
fo i
marcada p o r
dificuldade
de
acesso
ao s
documentos arquivíst icos
e
ao s
instrumentos
de
pesquisa. No s
arquivos
departamentais de Gard,
a
autora
tem
acesso
a
um inventário
sumário
da
série
W H, m as c o m o
a
pessoa
encarregada
da
série
passa
o
di a
todo
em
reunião
ela
f icou
impossibilitada
de consultar
outros
inventários. "Em Lyon,
capital
da
Resistência,
o
presidente
da
sala
não se preocupa
co m precauções de oratória: o acesso aos arquivos da
Ocupação
é
proibido. Inútil
pedir
o
inventário,
ele não
existe".
(COMBE,1994, p . 39).
[ . . . ]
no s vinte
centros
de arquivos
departamentais visitados,
um
apenas coloca
a disposição de
seus
leitores o s
inventários
da
série
W
sobre o s arquivos
da
Ocupação,
enquanto isso deveria ser
a
regra
para
todos o s
centros.
Lembremo-nos
q ue não
estamos
falando
da
consulta
ao conteúdo do s arquivos, m as
ao
direito
de
conhecer
a
sua
existência. (COMBE,
1994,
p .
43 ,
tradução
nossa).
A expectativa do
usuário
de obter
livre
acesso
às
informações
arquivísticas se
confronta
co m
questões
regidas
pela
legislação
c om o
proteção à intimidade e
as
categorias
de
sigilo,
q ue
não
são
objeto
de
detalhamento
nessa
pesquisa,
m as
q ue
devem
ser mencionadas. Outras questões
c o m o
agilidade
na
organização de acervos, recursos humanos, infra-estrutura
para
atendimento
local e à
distância,
também
são
relevantes
para
se
considerar
a
capacidade
de
um serviço
arquivístico
em acompanhar
as demandas de
seus
usuários.
'Trabalho que narra sua pesquisa sobre a ocupação francesa durante a Segunda Guerra Mundial.
'A utora
escreve ua xperiência om o esquisadora
o s rqu ivos udiciais eunidos
o
Arquivo
Nacional,
a
Biblioteca do Arsenal
a
Biblioteca
Nacional
a
rança, o período
do
éculo
XVIII.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 66/78
A inserção de informações sobre o s acervos na
rede tende
a
criar
no usuário
um a
indicação de
possibilidade
de acesso
ilimitado, o q ue
pode
não
traduzir
a
realidade.
As
instituições, ao
tomarem
públicas
inframaçoes
sobre
seus
acervos,geram um
aumento
de demanda
e,nesse
caso,devem
estar
prqa radas
para
o
enfientamento
em
relação
às
expectativas
criadas.
da história
e,
nesse
sentido, sem restrições
de
acesso
às
informações,
me smo
tratando-se de
documentos
judiciais.
"E n
el siglo
XVHI,
el archivo no falta, crea un vacío y una carência q ue ningún saber puede
colmar.
Utilizar
ho y el
archivo
significa
traducir
esa carência,
significa
en
principio
examinarlo".
(FARGE,
1991,
p .
46).
Farge
(1991)
relata
um fato q ue demonstra
um
certo distanciamento entre o arquivista
de
referência
e
um
usuário
do
serviço.
A
narrativa
evoca
um
certo
receio
p o r
parte
do
usuário
em
aprox imar -
se do arquivista. É interessante o b s e r va r m o s esse quadro c o m o um a representação do
distanciamento
entre esses
dois agentes
do
processo
de
comunicação
do s
conteúdos
do s
acervos
arquivísticos.
Hoje, um
jovem
intimidado pede conselho ao
arquivista
de
serviço
na sala. Deseja realizar,
para
seu
pai enfermo,
a
genealogia famil ia r . [...] O
arquivista falamuito
baixo,
pega um
registro
e
co m a
pon t a
do s
dedos
segue
as
l inhas
impressas em q ue
estão escritos un s
números
precedidos
de
um a
letra
maiúscula.
Depois,
suavemente,
conduz
o
jovem
a
umafi la
m a i o r
onde
estão
ordenados
o s
registros.
Pega
seis
o u
sete,
escolhidos
sem
vacilar.
Abre
suavemente,
segue
co m
o s
dedos
as largas colunas
de cifras, fecha-os, coloca o s livros, pega
outros, explica, volta a
sua
mesa
para
consultar
acaixa de fichas em um a caixa de
sapatos
bege.
(FARGE,
1991,
p .
89-90,
tradução
nossa).
A
inserção
das tecnologias
de informação e
comunicação
tende
a
oferecer
um a
perspectiva de
q ue esse distanciamento, representado na citação acima, será suprido co m a
inclusão das informações
em
bases
de
dados
na
WEB,
um a
vez
q ue
as
ferramentas
oferecem
um a
certa
interatividade.
Contudo,
devemos
reconhecer
que,
assim
c om o
no
ato
do
atendimento local, pode-se
configurar
um a
distancia
entre esses
agentes
(arquivista
e usuáno), co mo citado
acima,
o me smo pode acontecer
co m o uso da tecnologia
c om o
mediação,
um a
vez q ue seu uso não assegura soluções de comunicabilidade de
conteúdos. Esse
é
um
trabalho q ue deve
se r
desenvolvido
co m
um a
m a i o r
part ic ipação do s
usuários,
e
pa ra
ta l
prec isamos
identificá-los,
assim c o m o
suas
expectativas.
Um
do s
fatores
a
se
considerar
durante
a
elaboração
e
implantação
de
bases de
dados para
o
acesso
às
informações
arquivísticas
refere-se
ao
quanto
do
conhecimento
arquivístico
o s
prof issionais
continuam
a
exigir do s usuários. A linguagem utilizada
permi te
um a
ma i o r comunicabilidade
entre
o
usuário
e
o
sistema de
recuperação
da
informação
adotado.
M as
efetivamente quantos usuários
entendem
o
conceito
do termo
fundo? O u
de instrumentos
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 67/78
de
um a área de
conhecimento, q ue reflete a cientificidade
da Arquivologia
é fundamental
para
o
resultado
de um a pesquisa?
N o entanto, no ambiente W EB o s usuários são distintos, especialistas
em
diversas áreas,
usuários
q ue navegam movidos
p o r curiosidade,
etc.
Ao utilizarmos
a
linguagem
especializada,
co m vistas
a divulgar
o s acervos,
devemos
pensar em construir
mecanismos q ue facilitem
a
comunicação e
aprox imem
o
usuário.
Thomassen
(2004) aponta o q ue
considera
ser o principal aspecto a ser
observado
no contexto
dedefinição de estratégias de acesso ao s arquivos:
A
questão
central não écomo o s
arquivistas
podem
auxiliar o s
usuários
aencontrar o q ue
buscam
o
mais
rápido
possível.
Aquestão
central
écomo
eles
devem
oferecer
ao s
usuários
as
fe r ramentas
para
q ue
façam
su a
pesquisa
de
seu
modo ,
para
q ue
achem
o
q ue
estão
buscando assim como
o
q ue
não
estão
buscando
e
q ue
possam
interpretar
seus achados
de
acordo
co m
sua
vontade.
O
discurso ésobre
af o r m a mais eficiente de p r ove r informação,
m as deveria
se r mais
sobre
a
liberdade
de
pesquisa
e
de
interpretação.
(THOMASSEN,
2004,
p . 36,
tradução
nossa).
As
impressões
descritas pelo
historiador Duby,
carregadas
co m
a
emoção da
busca,
da descoberta,
do encontro
co m
a
informação
e também
co m
o documento, suas
características, seus detalhes,
dificilmente
poderão
ser
substituídas
pela
interação
co m
sistemas
informat izados
de
in fo rmação .
Estes
sistemas
produzem
emoções
e encontros
distintos
mediados
na virtualidade.
O s historiadores, genealogistas, administradores, cidadãos
em
busca
de documentos probatórios
são usuários
jáconhecidos do s serviços
arquivísticos.
A
utilização
da tecnologia W EB pa ra difusão de
informações
sobre
o s
acervos
arquivísticos
possibilita
um a
ampliação
nesse
espectro
de
usuários.
O s
serviços e os arquivistas precisam conhecer esse novo visitante do s
arquivos.
Menou (1999) a f i rma
q ue
é
muito
difícil
a definição
do
perf il
do
usuário da
Internet.
N ão
fossem
as
coisas
suficientemente
complicadas,
identificar
e
rastrear
o s
usuários
da
Internet é tudo,
menos
um a tarefa fácil. Muitos estudos opta ram porconsiderar usuários
pertencentes a um a
configuração
institucional part icular ,
porexemplo, faculdades
e
estudantes de
instituições
acadêmicas.
Out ros
se vinculam a
um serviço particular, por
exemplo,
visitantes
de
um
certo
website
o u
assinantes de
um
grupo
part icular
de
notícias
o u
de discussão. Poder íamos
tentar
observar um a
comunidade m a i s
aberta,
isando o s
assinantes
de
um serviço
de
acesso
à
Internet, o u
pelo
tratamento
de
um a
amostragem
de
pessoas o u instituições
em um a área
geográfica
o u setor particular.
Pode-se
mesmo tentar
observar o s
usuár ios
em um
país o u
região
específica
em
qualquer
combinação
das
abordagens
ac ima
(MENOU,
1999,
p .
9).
Thomassen
(2004)
a f i rma
q ue o usuário - o historiador
-
até
então
adotado c om o modelo pelos
arquivistas
para
a
elaboração
de instrumentos de pesquisa,
modif icou
sua opinião
em
relação
ao s arquivos.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 68/78
Destaca
o
historiador
pós-modemista,
q ue já
"não
considera
mais
o s arquivos
co mo um a
reflexão
direta
do s
eventos
passados"
(THOM AS S E N ,
2004,
p . 3 8 ,
tradução
nossa). Prossegue
indicando
q ue
agora
dividem o s espaços de pesquisa co m outros pesquisadores, inclusive os amadores.
O
auto r
insere
a
questão
da
compe tênc ia
i n f o rmac i on a l
do
usuár io
c o m o
um
aspecto a se r considerado c o m o alternativa
pa r a
a ampl iação de frontei ras entre as categor ias de
usuários.
Um
usuário
somente
consegue
efetivamente
consultar e
interpretar
o s
arquivos quando
conhece algo e quando pode
fazer
algo. O q ue exatamente ele deve saber é em q ue ele precisa
se r
capacitado depende do arquivo q ue quer consultar,
apergunta
q ue fo rmula e
o
suporte
q ue precisa.
(THOMASSEN,
2004,
p . 39, tradução
nossa).
A abordagem do autor,
sem
dúvida, é pertinente,
m as
está
inserida
em
um contexto de competência
informacional
excluindo do
âmbito
do s
arquivos:
o
usuário
ocasional;
o
curioso do ambiente WEB; e
o
cidadão q ue apresenta restrições informacionais e q ue busca, no s arquivos, p o r exemplo ,
informações
para fins probatórios.
C o m o
em
um país
ainda
co m alta incidência de analfabetos
podemos
vislumbrar
um serviço
arquivístico
q ue
exclua
esse
usuário?
No
nosso
entendimento
o s
serviços
arquivísticos
e
o s arquivistas
devem buscar oferecer
serviços q ue atendam
tanto
ao usuário especializado,
fami l ia r izado
co m
instrumentos
de
busca, sistemas informatizados, m as também deve incluir
o
cidadão comum q ue recorre
ao s
serviços, seja pa ra fins de p rova o u informacional.
Alguém q ue quer
efetivamente
consultar
e interpretar um arquivo deve
ser
competente em
diferentes campos .
Deve
te r um
determinado
nível
educacional e
às
vezes
em
determinado
campo
relevante.
Deve
te r
conhecimento
suficiente
sobre
o
campo
de
pesquisa em
questão
para
f o rmula r
perguntas
relevantes,
aval iar
o s
resultados
de
sua
pesquisa
e
esboçar
conclusões
a
partir
disso.
Ele
deve
saber
com o recuperar
o s
documentos
relevantes do
arquivo.(THOMASSEN,
2004,
p . 39, tradução nossa).
Na
perspectiva de Thomassen,
o
arquivista deve prover a autonomia do usuário para q ue realize
sua pesquisa e produza
suas
interpretações.
Toma r
o s arquivos
mais
acessíveis
pa ra
o s
usuários
significa:
preencher
o espaço
entre
as
competências gerais q ue os usuários possuem e as competências específicas eles precisam pa ra consultar
o material arquivístico. (THOMASSEN, 2004,
p .
40 ,
tradução nossa).
O
Conselho
Internacional
de
Arquivos
(2005,
p . 66), em sua
recente
publicação, Electronic
Records: a workbook fo r archivists, dedica quatro páginas co m diretrizes para
o
atendimento ao usuário
de documentos eletrônicos. Inicia estabelecendo quais elementos devem ser considerados para a definição
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
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atendimento ao
usuário, relacionando-os às suas necessidades; e
definir o s
custos relacionados ao s
diferentes
serviços de
atendimento
a ele
prestado.
Co m base nesses elementos, a instituição custodiadora deve desenvolver um a estratégia de
serviço,
equilibrando
as
necessidades
do s
usuários,
co m
o s
serviços
e
o s
custos.
A
seguir,
identifica
o s
usuários
em
potencial do s documentos eletrônicos de longa
durabilidade:
administrações
municipais
o u
governamentais
em
busca
de
documentos pa r a
fins
de
memór ia
corporat iva
o u de contabilidade;
p r o mo t o r i a o u
advogados
q ue
precisem
de
documentos
como
p r ova
para seus clientes
o u
casos;
alunos
paraf ins de pesquisa c o m p o s e em fontes históricas;
professores
q ue
utilizem
fontes
históricas
em
suas
aulas;
estudantes;
p rof i ss iona is
atuando
em pro jetos
culturais
-
incluindo empregados de instituições
de
cultura;
jornalistas;
genealogistas e;
pessoas q ue
precisam do s documentos
c om o
p r ova de seus
direitos,
o u
para documentar
eventos
ligados
diretamente aelas.
(CONSELHO
INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2005,
p . 66,
tradução
nossa).
Le
Coadic
(1997)
dedica-se
a
analisar
questões
relativas ao s
usos
e
usuários
da
informação.
Em
seu
trabalho não
centraliza
a
problemática
arquivística especificamente,
m as c om o
entendemos
o
serviço
arquivístico c om o um a
unidade de informação,
suas reflexões são pertinentes
a
esse estudo.
Um
centro de
documentação, um a
biblioteca,
um museu,
um host, sófunciona se
funciona
para o usuár io . Se
o s
procedimentos ,
as
técnicas,
as
ferramentas q ue
dão
acesso
à
informação não podem se r utilizadas
corretamente
p o r
outro
q ue não seja o documentalista,
o
bibliotecário,
o conservador
o u o
informata , então po d e mo s assumir
q ue
a
instituição
não
funciona.
Coloca ra usuário no centro de todo dispositivo exige
q ue
façamos
um a
idéia
clara de quem
eleé.
(LE
COADIC, 1997,
p .
59,
tradução
nossa).
A
temática, gradualmente,
vem
se
colocando
c om o objeto de estudo na área da
Arqui vologia,
seja
c o m o
iniciativa do s arquivos
8
,
instituições
arquivísticas
e
p rog ramas
acadêmicos.
Em
levantamento
de
número
de
dissertações
de
mestrado
e
de
doutorado
do
Programa
de
Ciência
da
Informação, do IBICT, no
período
de 1997
a
2004, fo i
possível identificar
apenas
duas dissertações q ue
'Unidade
rganizacional
om missão
e
estio
ifusão
e
cervos
rquivfsticos
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 70/78
traziam em seu título o te rmo usuário. É curioso salientar
q ue
as
duas traziam a questão inserida
no
contexto da comunicação
eletrônica.'
Em
2005,
é
defendida
um a
dissertação
estabelecendo
a
relação
entre
o
ambiente W EB e o s
serviços
arquivísticos.
10
Em
2006,
é
defendida
dissertação
de
mestrado
em
Ciência
da
Informação,
q ue
analisa especificamente
o
usuário co mo agente no
processo
de transferência do s conteúdos informacionais
arquivísticos.
M as
o
q ue está
se
modificando
no
cenário da relação
entre
o usuário, o
arquivista e
o conteúdo
infomiacional arquivístico, um a vez inserida em um contexto tecnológico?
A resposta para esta questão deve seguir três abordagens. O
arquivista
não pode mais desenvolver
o seu
trabalho,
supondo estar lidando
co m
um
perf i l
único de usuário
para a
in fo rmação
arquivística.
Quando
os
conteúdos
informacionais
arquivísticos
encontram-se
disponíveis
em
ambiente
WEB,
o
perfil
do usuário se diversifica. Esta nova perspectiva pressupõe a elaboração de instrumentos de recuperação
da
informação
co m
um a
certa flexibilidade e
diversidade
de
informações.
As instituições arquivísticas
o u o s
setores
de
arquivo
das instituições,
usualmente,
definiam
o s modelos de descrição de
seus
acervos em consonância co m
o
usuário mais freqüente e de acordo co m
a
especificidade do s
acervos.
A realidade q ue
se
apresenta
é
diferente.
O s instrumentos de
pesquisa
devem
oferecer
informações
ao
usuário,
q ue
o
habilite
a
realizar
sua
pesquisa
e
estabelecer
as
conexões
necessárias
entre
as
temáticas
e o
acervo, preferencialmente
sem
a
intervenção
direta
do
arquivista.
A
difusão
de
conteúdos
in fo rmaciona is de
acervos arquivísticos
na
rede
possibili ta
um a
diversidade de
perfis
de
usuários e
de
demandas
de
informações. Um serviço de
arquivo
pode atender
tanto um historiador
q ue
está desenvolvendo um trabalho acadêmico, o
produtor
cultural
q ue
busca
a
informação arquivística,
ta l
c o m o um
produto
de
mercado
o u
o cidadão q ue
navega
na
Internet
e
se
surpreende co m um a determinada informação e se permite saciar um a curiosidade.
O s
usuários buscam distintas
informações
pa ra atender múlt ip los
objetivos de pesquisa.
Um
serviço de
arquivo
q ue
anteriormente
er a
considerado
especializado em atender a
um
perfil
de
pesquisador
co m objeto
de
pesquisa centrado
em
um a
área específica do conhecimento,
co m
a
utilização
da WEB, p o r
parte de um conjunto variado e não
identificável
de usuários, pode surpreender-se co m demandas
até
então
inusitadas.
'NATHANSONN,
Bruno- Estudo
de
usuár ios o n Une: arreiras o
rocesso
de
nteratividade,
dissertação
submetida
e
aprovada e m
2003;
e
ALVES,
Nadir Ferreira- Análise do compor tamento
de
usuários
do
serviço
de
acesso
ao
texto
completo
de
documento
(SERVIR)
do
Centro
de
Informações
Nucleares -
CIN,
efendida
provada
em
998.
1 0
SÁ ,
vone
Pereira defendeu
dissertação de
mestrado,
A
faceoculta
da
interface:Serviços
de
Informação Arquivística a
W e b
Centrados o
Usuário,
presentada o Curso e Mestrado
Prof issional
m Gestão a nformação a Comunicação
m
aúde
o rog rama
e
ós-
Graduação
m
aúde ública
da
Escola Nacional e aúde ública érgio Arouca ENSP) a
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 71/78
O arquivista
ao
realizar
o
tratamento
intelectual de acervos deve
perguntar-se
incessantemente
para
quem
está
organizando
o s acervos,
qual a
f o r m a
ma is
acessível
de
difundir
o s
conteúdos
desses
acervos
pa ra o
ma i o r
núme ro
possível
de usuários
e quais
o s
possíveis
usos
desses acervos.
Cada um
desses
aspectos
refere-se
ao
contexto histórico
em
q ue o arquivista
está
realizando o seu
trabalho.
Dez
anos
mais
tarde,
possivelmente
novas
versões
pa ra
o s
conteúdos
podem
ser
inscritas,
um a
vez
q ue
o
contexto
social jáse modificou.
Um a
vez identificados o s possíveis
usos
das
informações
sobre
o s acervos,
o
arquivista deve
ater-se
em
relação
a
qual versão
poderá
produzir sobre o s conteúdos informacionais do s arquivos.
A
versão
do
arquivista
é
resultado
de
um
trabalho
investigativo
acerca do
produtor do acervo
em q ue
está
trabalhando
e do contexto social,
histórico
e
cultural
em
q ue
esse
produto r
desenvolveu
suas
atividades,
além
da
análise do s
documentos.
M as
c om o
chamar
o
usuário
para
o
jogo
da
difusão
do s
conteúdos
informacionais
arquivísticos?
Podemos enumerar
alguns elementos fundamentais:
O p r ime i ro elemento está
centrado no
reconhecimento do papel do usuário
c om o produtor
de
conhecimento em um a determinada
especialidade,
e
que, portanto,
pode
fornecer elementos reveladores
para
o trabalho do
arquivista.
O
segundo
elemento está relacionado
ao estabelecimento
e
manutenção
de
um
canal permanente
de
comunicação
co m o usuário
sobre suas
demandas.
H á
ainda
que se
considerar
o
quanto o arquivista, o u
o serviço de arquivo, o u
a
instituição arquivística
podem contribuir
para q ue o usuário atinja
suas
metas.
Outro
elemento
relevante
inscreve-se
na
interação
entre
o
usuário
e o
arquivista
no
decorrer
do
processo de pesquisa. Esta interação pode
fornecer
dispositivos q ue produzam
um a
avaliação do
processo
de transferência da informação em todo o seu escopo.
O
acompanhamento da produção de conhecimento
gerada pela consulta ao s
acervos
arquivísticos
pode contribuir
para o s processos de organização, tratamento
e
difusão do s acervos.
O
cenário q ue buscamos
apresentar
é
constituído de situações ambivalentes entre o s q ue
part icipam
do
processo
de
comunicação
e
uso
do s
acervos
arquivísticos.
É
um
cenário
em
q ue
velhos
hábitos
de
pesquisa
convivem
co m
novas
comodidades
tecnológicas.
O
aprendizado
acontece
no
cotidiano
do s usuários, no cotidiano do s arquivistas, nas instituições
e
serviços arquivísticos.
O
uso
da
informação arquivística também sofre modif icações. Antes
utilizada apenas
para
o
processo
de
t omada de decisão, para fins probatór ios
e
para fins acadêmicos,
a
informação arquivística
adquire novas funções
sociais.
O s arquivistas devem
realizar
seu trabalho de f o r m a a atender esta realidade
multifacetária.
Isto,
contudo, não
quer
dizer
q ue
o s Arquivos não serão mais
especializados
em
um a área e
conseqüentemente
consultados
p o r
um a
categoria
potencial
de
usuário.
Esta
realidade
ainda
permanecerá.
O q ue se pretende é um a
m a i o r
democratização
do s
conteúdos
informacionais
arquivísticos e
ampl iação
do s usos da s
in fo rmações
arquivísticas.
E
este
processo de democrat ização
passa pelo
reconhecimento do usuário c om o um agente no
processo de transferência
da
in formação.
7/21/2019 Arq. & Adm. Rio de Janeiro v. 5 n. 2 p. 1-76 jul./dez. 2006
http://slidepdf.com/reader/full/arq-adm-rio-de-janeiro-v-5-n-2-p-1-76-juldez-2006 72/78
Referências
AUBIN, Danielle.
La
mondialisation et la difusion des archives: entre continuité et rupture. Archives,
v .
31,
n.
3,
p .
7-19,1999-2000.
BLAIS,
Gabr ielle .
Accès
aux
documents
d'archives:
état
des lieux: une
étude
R A M P .
Paris:
U N E S C O ,
1995 .
54
p.
BURELL,
Mats. Appraisal
and information.
C o m m a .
Conselho
Internacional
de Arquivos. França: ICA,
n.
l ,p.55-65,2004.
C A M A R G O ,
Ana
M a r i a de Almeida;
BELLOT O,
Heloísa Liberalli
(Coord.) . Dicionário
de
te rmino log ia arquivística. São Paulo:
Associação
do s Arquivistas Brasileiros,
Núcleo Regional de
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R J
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Fax: (21) 2537-3865
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