Arqueologia do Velho Testamento - Merril F. Unger.pdf

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  • A rqueologia (lo YcllioTcsuuciito

  • A rqu eologia do Velho Testam ento

    p o r

    MERRIL F. UNGER, ThD., PhD.,

    Professor de Velho Testamento no Seminrio Teolgico de Dallas

    P ub lica do pela

    Tniprensa Uasa Ticaular"L ITE R A TU R A EVANM3LICA PARA O BRASIL"

    Rua Kansas 770, Brooklin 04558 So Paulo SP.

    1980

  • Ttulo do original em ingls Archeology and the Old Testament Copyright em 1954 ,por Zondervan Publishing House Grand Rapids, Michigan, Estados Unidos

    Traduo - Yolanda M. Krievin Primeira Edio, 1980

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS NA LNGUA PORTUGUESA

    IMPRENSA BATISTA REGULAR DO BRASIL

    Impresso nas oficinas da Associao Religiosa

    Imprensa da F C.P. 18918

    So Paulo Brasil

    Publicado pela

    Rua Kansas 770, Brooklin 04558 So Paulo SP.

    1980

  • NDICE

    Pgina

    I. O Papel da Arqueologia no Estudo do Velho T estam ento ....................... 11. O Significado do Velho T estam ento ..................................................... 22. Contribuies da Arqueologia ao Estudo do Velho

    T estam ento ........................................................................................... 4

    II. Narrativas da Criao: Bblica e Babilnica................................................. 101. A Descoberta das Tbuas da Criao..................................................... 102. Narrativa Babilnica da C riao ............................................................. 113. Comparao das Narrativas Bblica e B abilnica................................ 134. Explicao dos Paralelos Bblicos........................................................... 15

    III. Tradies Primitivas e Primrdios B blicos................................................. 171. As Tradies Primitivas e a Queda........................................................... 172. As Modernas Escavaes e a Civilizao Primitiva................................ 19

    IV. O Dilvio na Tradio Sumria e Babilnica............................................... 211. O Dilvio e a Lista dos Reis Sum rios................................................... 212. Narrativa Sumria do Dilvio................................................................... 223. Narrativa Babilnica do D ilvio ............................................................. 23

    V. Narrativas do Dilvio: Bblica e Babilnica................................................. 271. Semelhanas................................................................................................ 272. As Diferenas............................................................................................. 333. A Explicao das Semelhanas................................................................ 34

    VI. O Rol das Naes e Povos Jafetitas............................................................... 371. Profecia da Histria Moral e Espiritual das N aes............................. 372. As Naes Jafetitas..................................................................................... 40

    VII. Os Camitas e o Imprio Prim itivo................................................................. 421. As Naes Camitas..................................................................................... 422. O Poder Imperial Camita........................................................................... 443. Outras Naes Camitas.............................................................................. 46

    VIII. Os Semitas e os Construtores de Babel.......................................................... 491. As Naes Semitas..................................................................................... 492. Os Construtores de B ab e l........................................................................ 51

  • IX. Abrao e Sua poca...................................... .................................................. 541. Abrao no Contexto da Histria Contempornea................................ 542. Abrao em Har e em C a n a ................................................................... 57

    X. A Historicidade dos Patriarcas...................................................................... 611. Opinio Crtica das Narrativas Patriarcais.............................................. 612. As Narrativas Patriarcais e as Recentes Descobertas

    Arqueolgicas.............................................................................................. 61

    XI. Estada de Israel no Egito................................................................................. 661. Evidncias da Estada de Israel no E g ito ................................................ 662. Moiss, O L ibertador................................................................................ 68

    XII. A Data do x o d o ............................................................................................ 711. A Data B b lica ........................................................................................... 712. Objees Data B b lica .......................................................................... 75

    XIII. Leis Mosaicas e Leis Orientais Antigas Paralelas......................................... 781. Leis Mosaicas e Outros C digos.............................................................. 782. Leis Mosaicas e O Cdigo de H am urbi................................................ 79

    XIV. Conquista dos Cananeus................................................................................. 811. Invaso de Cana........................................................................................ 812. A Data da C onqu ista ................................................................................ 823. A Extenso da Conquista .............................................. .......................... 84

    XV. A Religio dos Cananeus................................................................................. 851. Velhas e Novas Fontes de Conhecim ento.............................................. 852. O Panteo C ananeu ................................................................................... 863. Carter Geral dos Cultos C ananeus........................................................ 88

    XVI. O Perodo dos Ju ize s ...................................................................................... 901. Cronologia do P erodo .............................................................................. 902. Eventos do Perodo Fixados na Cronologia........................................... 92

    XVII. Israel no Limiar da M onarquia....................................................................... 951. Contraste entre Israel e as Naes A djacentes...................................... 952. Vizinhos de Israel no Sculo XI A.C....................................................... 96

    XVIII. Saul e a M onarquia......................................................................................... 991. Prosperidade Inicial do R e in o ................................................................ 992. Fracasso de Saul como R e i ..................................................................... 101

    XIX. O Reino de D av i.............................................................................................. 1031. Atividades Primeiras de Davi como R e i ................................................ 1032. Inovaes Polticas e Religiosas de Davi................................................ 106

  • XX. 0 Imprio de Salom o.................................................................................. 1111. A Notvel Prosperidade da poca de Salomo..................................... 1122. O Templo de S alom o ............................................................................. 116

    XXI. Israel e os A ram eus........................................................................................ 1191. Israel sob o Domnio de Jeroboo 1........................................................ 1192. Israel e a Ascenso do Poder A ram aico ................................................ 1213. Israel e Ar em C onflito .......................................................................... 122

    XXII. Israel e os Assrios.......................................................................................... 1271. Israel e o Declnio de Damasco................................................................ 1272. Israel e a Ascenso da Assria.................................................................. 1293. Israel e o Triunfo da Assria..................................................................... 131

    XXIII. Jud e o Apogeu da A ssria.......................................................................... 1331. Ezequias e a Campanha Ocidental de Senaqueribe............................. 1332. Ezequias e a Inscrio de Silo................................................................ 137

    XXIV. Os ltimos Anos de J u d ............................................................................. 1401. Declnio da Monarquia Hebraica............................................................. 1402. A Queda de Jerusa lm ............................................................................. 144

    XXV. Jud no E x l io .................................................................. ............................. 1471. Nabucodonosor II e os Cativos Judeus................................................... 1472. ltimos Acontecimentos no Imprio Neo-Babilnico........................ 151

    XXVI. Jud Sob o Domnio P e r s a .......................................................................... 1541. A Prsia e a Restaurao de J u d ........................................................... 1542. Jud e o Fim do Perodo Velho-Testamentrio................................... 158

    ndice das Citaes do C o n te d o ................................................................ 162

    ndice dos Nomes Prprios do C ontedo................................................... 169

    Seo de Mapas, Esquemas e Ilustraes...................................................... 177

    oOo

  • AGRADECIMENTOS

    O autor tem um dbito de gratido para com muitos grupos e muitas pessoas, por sua ajuda em vrias formas, especialmente por terem dado permisso para que ele fizesse citaes de seus escritos que tinham direitos reservados, para que fizesse uso de fotografias e reproduzisse objetos de interesse arqueolgico. O Professor G. Ernest Wright, do Seminrio McCormick, de Chigago, Estados Unidos, prestou inestimvel assistncia, fornecendo grande nmero de recortes da revista O Arquelogo Bblico, e dando permisso para o seu uso. O Sr. Lawrence Sinclair, tambm do Seminrio McCormick, selecionou aqueles recortes e os apresentou em condies de serem usados.

    O Sr. Jack Cochrane, do Seminrio Teolgico de Dallas, Estado do Texas, Estados Unidos, executou os desenhos espalhados por todo o livro, e desenhou tambm os mapas e plantas, e alm disso idealizou a capa. A Sra. Henerson Fox, de Dallas, datilografou o manuscrito original.

    A srta. Jessie Abbott, secretria de informaes do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, Estados Unidos, providenciou grande nmero de fotografias do Instituto, para que fossem usadas. O Sr. Ray Claveland, do Seminrio Oriental da Universidade John Hopkins, substituindo o Professor W. F. Albright, forneceu vrias fotografias do Bulletin of the American Schools of Oriental Research. A Srta. Carolina Gordon Dos- ker, registradora assistente encarregada das fotografias, no Museu da Universidade de Pensilvnia, ps disposio, com permisso do Museu, vrias fotografias. O Sr. Walter Hauser, curador do Museu Metropolitano de Arte', tambm deu assistncia com sbios conselhos.

    O Professor John Garstang, presidente do Instituto Britnico de Arqueologia de Ancara (Turquia), permitiu graciosamente a reproduo de figuras e de placas de The Story of Jericho. O Sr. Andr Parrot, de Paris, Frana, o Sr. Nelson Glueck, presidente do Colgio Hebraico Unio, em Charleston, Estado da Virgnia Oriental, Estados Unidos, o Professor Ernest Lacheman, do Colgio Wellesiey, e o Sr. E. G. Howland, de Troy, Ohio, Estados Unidos, tambm permitiram o uso de recortes e fotografias, bem como o Museu Britnico, a Academia Britnica e os procuradores do falecido Sir Henry Wellcome.

    Permisso para fazer breves citaes de material com direitos reservados, foi outorgada pela Imprensa da Universidade de Chicago, pela Escola Americana de Pesquisa Oriental, pelos filhos de Charles Scribner, por Ventor Publishers, por Harper e Irmos, pela Imprensa John Hopkins, pela Imprensa da Universidade de Princeton, pela Imprensa Muehlenberg, pela Companhia Impressora e Publicadora do Pacfico, pela Casa do Livro Baker, e outros.

    A todos os que ajudaram, de alguma forma, a tornar possvel Arqueologia do Velho Testamento, especialmente casa publicadora que editou a primeira tiragem;em ingls, Zondervan Publishing House, sediada em Grand Rapids, o autor profundamente agradecido.

  • Capitulo I

    O PAPEL DA ARQUEOLOGIA

    NO ESTUDO DO VELHO TESTAMENTO

    A arqueologia geralT como cincia baseada na escavaco, decifrao e avaliao crtica dos registros do passado, assunto perenemente fascinante. De maior interesse ainda o campo mais restrito da arqueologia bblica. Lidando com a escavao, decifrao e avaliao crtica de registros antigos que tm a ver direta ou indiretamente com a Bblia e sua mensagem, a arqueologia bblica tem atrado a ateno cada vez mais de maior nmero de investigadores entusisticos, estudiosos e leitores da Bblia em geral.

    A razo para o crescente entusiasmo pela arqueologia bblica, no difcil de ser encontrada. Reside na suprema importncia da mensagem e significado da Bblia em si mesma. As Escrituras, em virtude do carater que tm, como a revelao inspirada de Deus ao homem, satisfazendo as mais prementes necessidades humanas, hoje. como no passado, alcancaram, inevitavelmente, uma posio de supremacia nos interesses e nas afeies da humanidade. Nenhum outro livro se pode comparar aos Escritos Sagrados 110 chamar a ateno do homem, ou em ministrar s suas necessidades.

    A arqueologia bblica, lanando luz sobre o panorama histrico e a vida contempornea da pota em que as Escritura Sagradas foram produzidas, bem como iluminando e ilustrando as suas pginas com as suas verdadeiramente notveis descobertas, necessariamente deve muito ao interesse que a ela se presta, sua conexo com a Bblia De fato, uma forma secura de ficar famoso como arquelogo, fazer alguma descoberta que sirva de apoio significativo para estudos bblicos.

    Nenhum campo de pesquisa tem oferecido maiores desafios e promessas do que a arqueologia velho-testamentria. At o comeo do sculo dezenove, muno pouco era conhecido a respeito dos tempos bblicos, exceto o que aparecia nas pginas das prprias Escrituras, ou o que, casualmente, fora preservado nos escritos da antiguidade clssica Esse material era considervel em rc la era neo-testamentria, mas praticamente nulo no que concernia ao Velho Testamento, visto que os historiadores gregos e latinos ftaviam catalogado muito poucas informaes de pocas anteriores ao quinto scuJo A. C. Conseqentemente, o que se sabia a respeito do perodo velho-testamentrio era confinado prpria Bblia, e ainda isso, segundo o ponto de vista da histria secular contempornea, era bem esparso. O resultado era que, antes do advento da arqueologia moderna, praticamente no havia nada disponvel para ilustrar a histria e a literatura do Velho Testamento.

    Pode-se imaginar o fervor suscitado entre os estudantes srios da Bblia, pelas ilumi- nadoras descobertas feitas nas terras bblicas, especialmente desde o ano 1800 at agora. Pode-se dizer que a arqueologia moderna teve o seu incio em 1798, quando as ricas antiguidades do Vale do NUo foram abertas para estudo cientfico pela Expedio de Napoleo. Os tesouros da Assria e da Babilnia, todavia, no foram descobertos at pouco antes da metade do sculo XIX, como resultado do trabalho de Paul Emile Botta, Austin Henry Layard, Henry C. Rawlinson e outros. Com a decifrao da Pedra da Rosetta, que revelou os hierglifos gpcios, e a decifrao da Ins-

  • crio de Behistun, que forneceu a chave para a compreenso dos caracteres cuneiformes assi- rio-babnicos, foi liberada abundante cpia de material concernente ao Velho Testamento. A descoberta da Pedra Moabita, em 1868, criou verdadeira sensao, devido sua ntima relao com a histria do Velho Testamento, excitando interesse generalizado pelas escavaes palestinas.

    No entanto, a maior parte das notveis descobertas que tinham conexo com a Bblia, e particularmente o Velhu Testamento, no foram feitas at mais ou menos meio sculo atrs. Achados tais como o Cdigo de Hamurbi (1901), o Papiro Elefantino (1903), os monumentos hititas em Bogazqueui (1906), o tmulo de Tutankhamun (1922), o Sarcfago de Abuo de Biblos (1923). os textos de Ras Shamra (1929-1937), as Cartas de Mari, o straco de Laquis (1935-1938) e os Rolos do Mar Morto (1947), so famosos, em grande parte, devido sua ntima conexo com a literatura e a histria do Velho Testamento. Sendo isto verdade, algum pode perguntar: o que que h no carter e no significado do Velho Testamento, que assegurou a sua preservao atravs dos sculos, e o entesourou no corao da humanidade com interesse com que comunicado pessoa ou cousa, que serve de ajuda para expor e aclarar a sua mensagem perpetuamente atualizada e to necessria para a humanidade?

    I. O SIGNIFICADO DO VELHO TESTAMENTO

    O que o Velho Testamento, e o que ele realiza no seu ministrio para com a humanidade, o segredo do seu permanente interesse. Mui freqentemente, o erudito e o arquelogo profissional focalizam a sua ateno de maneira to absorvente sobre os fundamentos e a estrutura do Velho Testamento, e se ocupam to detalhadamente em examinar, individualmente, as pedras que compem a sua construo, que perdem de vista ou falham completamente em vr-lo como um todo, e como o magnificente templo da verdade espiritual que ele .

    Embora o estudo de alguns eruditos bblicos esteja por detrs ao invs de estar no Velho Testamento (e a importncia e a necessidade de tal pesquisa no pode ser negada por um momento sequer), esse tipo de investigao, que coloca o significado e a mensagem do Vellio Testamento na periferia ou completamente Tora do crculo de interesse, sempre sujeito a perigos. Freqentemente, muito desvinculado da mensagem do Velho Testamento, e se torna, em si mesmo, um objetivo estril. Ainda mais freqentemente, devido falha em ver a natureza do Velho Testamento como uma unidade, fatos e descobertas trazidos a luz pelo investigador, so anali- zados e interpretados erradamente, e asados como base para crticas destrutivas.

    A combinao ideal ser sempre o investigador cuidadoso, bem informado tcnica e cientif icamente, que tenha lambem opinio adequada a respeito do significado do Velho Testamento para o Israel de outrora, para a Igreja Crist e para a humanidade em geral. Na verdade, a arqueologia s pode prestar a sua melhor contribuio ao estudo do Velho Testamento, medida em que o estudante comum, bem como o tcnico ou erudito, tiverem em mente, de maneira clara, o que o Velho Testamento.

    1. O Velho Testamento a Revelao Inspirada de Deus ao Homem. O testemunho claro do Novo Testamento em relao ao Velho, de que todo ele inspirado ou dado por Deus e til (II T imteo 3:16), e que veio a existir no por vontade humana, mas ao escrev-lo, homens falaram da parte de Deus movidos pelo Esprito Santo" (11 Pedro 1: 21). Uma exegese cuidadosa dessas passagens-chaves do Novo Testamento, revela que elas no ensinam ape-

    | nas que a inspirao se estende igualmente a todas as partes das Santas Escrituras, mas que incu tambm cada palavra. Esta opinio verbal plenria quase universalmente negada pelos crticos hodiernos, a despeito das claras afirmaes da Bblia.

    Contudo, por toda a parte, no Velho Testamento, h abundantes evidncias que confirmam as declaraes do Novo de que as antigas Escrituras Hebraicas tiveram origem divina, foram inspiradas verbalmente in totum , e so a revelao de Deus ao homem. Os escritores sagrados foram profetas no sentido mais enftico da palavra. Receberam a palavra divina diretamente de Deus c a falaram ao povo. Vezes seguidas antecedem as suas mensagens com expresses autoritrias como: Assim diz o Senhor (xodo 4: 22) ou Ouvi a palavra do Senhor" (Isaas 1: 10). Freqente

  • mente era-lhes ordenado que escrevessem os seus orculos (xodo 17: 14: 24: 4 ,7; Jeremias 30: 1, 2). Profetas como Isaas. Jeremias e Daniel, que falaram de acontecimentos futuros, tiveram as suas previses autenticadas pelo tempo.

    Prova corolria de que o Velho Testamento a revelao inspirada de Deus ao homem, a sua preservao miraculosa atravs dos sculos. Este fato singular entre os fatos a respeito de livros em geral. Evidentemente, entre uma literatura substancial de alta qualidade, na qual h ecos da antiguidade israelita (Josu 10: 13; Nmeros 21: 14; Eclesiastes 12: 12), foi feita uma seleo, ao se confrontarem escritos humanos com documentos inspirados. Todas essas obras israelitas antigas pereceram, exceto os orculos inspirados, que foram miraculosamente preservados do fogo, da espada, e das vicissitudes dos sculos.

    Obras posteriores de grande qualidade, mas no inspiradas, sobreviveram em escritos agora conhecidos como os Apcrifos e os Pseudo-epgrafos. Divina interposio foi manifestada, no apenas na preservao dos orculos divinos da destruio, mas tambm da contaminao da incluso de escritos no inspirados no cnon judeu-cristo.

    No entanto, o Velho Testamento no e apenas um livro divino. , da mesma forma, um livro humano, pois, como todas as Escrituras, foi dado pelo Esprito Santo por instru- mentalidade humana, a homens como eles eram. e onde quer que estivessem. Sendo o v t o de Deus para o homem, satisfaz as mais profundas necessidades da alma humana, e como tal, possui as qualidades de universalidade e onitemporalidade. Contudo, a falha em apreciar os aspectos divino-hu- inanos da Biblia tem resultado, muitas vezes, no fato de ser focalizada, erradamente, a luz valiosa lunada sobre as suas pginas pela histria c a arqueologia, de forma que os dados histricos e arqueolgicos tm sido mal interpretados e mal aplicados.

    2, O Velhu Testamento a Introduo Indispensvel Revelaro do Novo Testamento. Embora consistindo de dois testamentos e sessenta e seis livros, a Bblia e um s livro. Os dois testamentos no quebram a sua unidade mais do que os sessenta e seis livros diferentes dos quais ela composta. O Velho Testamento parte essencial e inseparavel da Bblia. o alicerce sobre o qual toda a estrutura das verdades do Novo Testamento erguida. a preparao para tudo o que revelado no Novo Testamento. a introduo provida pelo Judasmo, para a completa e final revelao do Cristianismo.

    Sem o Velho Testamento, no seria possvel haver Novo Testamento. Sem Ele o Novo Testamento no teria significado. Um a complementao do outro. Separar os dois e manej-los como unidades isoladas e desconexas, resultaria em dano irreparvel, no apenas religioso, mas histrico e arqueologicamente tambm. Religiosamente, um sistema como o Judasmo tem sido perpetuado pelo erro de rejeitar o Novo Testamento. Histrica e arquelogicamente, a lulhu em compreender o relacionamento exato do Velho Testamento com a Bblia como um todo, i u causa prolfica de srias interpretaes e aplicaes erradas de descobertas histricas e arqueo- loyicas,

    3. O Velho Testamento uma Histria Altam ente Espermlizada da Redeno Humana. Embora contenham todos os tipos de literatura com ensinos e caracteres diversos, as Es- t muras Hebraicas so. em grande parte, classificadas comumente como histria. Porm, essas nucfies chamadas histricas no so histria, na acepo geralmente aceita da palavra, como o rcfisiro sistemtico de acontecimentos passados. Devem ser definidas amplamente como a his- liiu iiltamentc especializada da redeno humana. Num sentido mais elevado elas so, mais preci- niiwntu, uma filosofia da histria, interpretando os eventos seletivos na Histria da redeno, do ponto de vista da linha genealgica prometida, atravs da qual deveria vir o Messias, e mais tarde, Io ponto de vista da relao da nao de Israel com Jeov e o seu programa de redeno para o inundo.

    Conludo, as pores histricas do Velho Testamento so mais do que uma hutrtu especializada du redeno, ou do que uma filosofia daquela histria. histria redentora mnuditdu com proleciu. tn ibora haja, sem dvida, pores profticas distintas nas Escrituras Fie IIRIJiuh, em contraste com us secfle histricas, a profecia, em seu importante elemento de pre-

  • dies messinicas atravs de promessas, tipos e smbolos, est ligada to intimamente tessitura da histria da redeno apresentada pelo Velho Testamento, que impossvel separ-la daquela histria. Falha em compreender o Velho Testamento em seu preciso carter, como histria centralizada no Messias, ligada a profecia centralizada tambm no Messias, e falha em compreender o seu propsito mpar, de preparar o caminho para a vinda do Redentor, tem levado muitos cr- cicos a aplicar erradamente as descobertas arqueolgicas, e a depreciar o valor histrico do Velho Testamento.

    II. CONTRIBUIES DA ARQUEOLOGIA AO ESTUDO DO VELHO TESTAMENTO

    A arqueologia, nas mos do estudioso da Bblia, pode ser de grande utilidade, ou motivo de abuso. O resultado ser determinado, em grande parte, pela atitude do investigador com respeito ao significado do Velho Testamento em si. Se ele for somente um tcnico cientfico, despido de equipamento espiritual, e rejeitar os aspectos que fazem da Bblia um livro divino- -humano, aceitando apenas as caractersticas humanas, os dados arqueolgicos, nas suas mos, esto em constante perigo de ser mal interpretados e usados como base de teorias errneas, quando ele tentar aplic-las ao Velho Testamento. Se por outro lado, como tcnico cientfico, o investigador tem uma compreenso do significado espiritual e est de acordo com a mensagem do Velho Testamento, aplicao que ele fizer das descobertas arqueolgicas prestar enorme benefcio ilustrao e elucidao dos orculos antigos para um mundo moderno. Legitimamente manuseada, as contribuies que a arqueologia est fazendo ao estudo do Velho Testamento so vastas e de longo alcance.

    J. A Arqueologia Autentica a Bblia. O estudo dos despojos materais do passado rem oto muitas vezes til para provar que a Bblia verdadeira e exata. Mui freqentemente o emprego apologtico dos dados arqueolgicos necessrio, especialmente ao lidar-se com o ceticismo raciona lista e a alta crtica. Contudo, um erro consider-lo como a utilidade maior da arqueologia, ou, para o esiudioso, torn-lo o objetivo principal da sua pesquisa. A natureza subordinada do ministrio da arqueologia na autenticao da Bblia, provar-se- em virtude de vrias consideraes.

    Em primeiro lugar, a Bblia, quando julgada com sinceridade, no necessita de ser provada pela arqueologia, pela geologia, ou por qualquer outra cincia. Sendo a revelao de Deus para o homem, a sua prpria mensagem e significao, as suas prprias declaraes de inspirao e de evidncia interna, o* prprios frutos e resultados que ela produz na vida da humanidade,so as suas melhores provas de autenticidade. Ela demonstra, por si prpria, ser o que declara ser, para aqueles que crem na sua mensagem. Visto que Deus determinou a realizao da vida espiritual a percepo da verdade espiritual, na base da f e no do que vemos (11 C onntios 5 :7 ; Hebreus 1 1 :6 ), seja qual for a contribuio que a arqueologia ou outra cincia qualquer faa para corroborar a veracidade da Bblia, nunca isso pder tomar o lugar da f. A autenticao cientfica pode atuar como uma ajuda para a f, mas Deus fez tudo de forma que a simples f (que O glorifica) ser sempre necessria nas nossas relaes para com Ele ou para com a Sua verdade revelada.

    Por esta razo, muitos eruditos desprovidos de f ainda rejeitam o significado e a mensagem revelada do Velho Testamento, a despeito de inmeros fatos arqueolgicos que provam a sua autenticidadt. Pela mesma razo, totalmente insensato algum procrastinar a sua f na Bi- biia at que todos os problemas que ela contm sejam resolvidos. to impossvel que Deus cesse de agir para com o homem na base da f como possvel que a arqueologia ou outra cincia qualquer resolva jamais todos os problemas bblicos. Ao lidar com a Bblia, a f to essencial ao erudito, se ele desejar interpretar c avaliar os resultados da sua pesquisa correntemente, como ao selvagem analfabeto, se ele desejar encontrar regenerao espiritual airavs da Palavra de Deus pregada pelo missionrio.

    O papel da arqueologia, de confirmar a Bblia corretamente, secundrio, visto que os benefcios espirituais da veraade bblica no podem ser apropriados pelo mero conheci-

  • monto o pela provus externas de veracidade, mas sobre a base da f nas suas declaraes Internas u iiu evidendu que d a apresenta de ser a Palavra de Deus. No obstante, a arqueologia, ao confirmar n Hblia, tem desempenhado uma importante funo desferindo um golpe fatal nas teorias iikIicuik da alta crtica, que tm infestado tspecialmente o estudo do Velho Testamento.

    Antes do progresso que a pesquisa experimentou nas tenas bblicas, especialmente nestes ltimos cincoenta anos, uma quantidade muito grande de absurdos que, subseqen- li mente, foram provados pela arqueologia como ilgicos, foram escritos por eruditos que con- mderavam a Bblia como lenda, mito, ou quando muito, estria que no era digna de crdito. Agindo como um corretivo e como expurgadora, a arqueologia iez em pedaos muitas dessas leurius errneas e suposies falsas que costumavam desfilar nos crculos escolsticos como fa lus estabelecidos. A alta crtica no pode mais, por exemplo, negar o fato de que Moiss podia ettcrcvcr ou considerar os patriarcas como simples figuras legendrias. A arqueologia demonstrou n lulsidade destas duas e de numerosas outras controvrsias. Evidncia meridiana agora conhed- ilu, ilc que Abrao, Isaque e Jac foram personagens histricas, como o Gnesis os descreve. Quan-10 u Moiss, pode ser que ele tenha escrito documentos no apenas em hierglifos egpcios, como a11 in residncia no Egito nos primeiros anos da sua vida fazem presumir, mas tambm em Acdio,, 01110 as Cartas de Amama, do sculo XIV A. C. o demonstram, e ainda em hebraico arcaico tambm como 0 prova a descoberta da literatura ugartica, em Ras Shamra, ao norte da Sria 19291037).

    Com respeito autenticao da Bblia, tal confirmao pode ser geral ou espe- il'ica. Exemplos de confirmao geral so inumerveis. Por exemplo, escavaes em Silo, Gibe. Mcgido, Samaria e outros lugares palcstinianos, tm corroborado plenamente as citaes bblicas dcsxus cidades. Casos de confirmao especfica, embora sejam, como era de se esperar, menos numerosos dos de confirmao geral, so, no entanto, mais impressionantes.

    O caso de Belsazar, ltimo rei de Babilnia, caracterstico. Por muito tempo 0 tiilu dc o Livro de Daniel apresentar Belsazar como rei poca da queda de Babilnia (Daniel 5), cm vez de Nabonido, como indicam os registros cuneiformes, era considerado uma forte evidncia contra a historicidade dos registros sagrados. A soluo desta pseudo-discrepncia ficou patente quando foram desenterradas evidncias indicando no apenas a associao de Belsazar com Nnbonido no trono, mas demonstrando tambm que durante a ltima parte do seu reinado, este runidiu na Arbia, e deixou a direo do reino da Babilnia nas mos do seu filho mais velho, hwlsazar.

    Semelhante ao caso de Belsazar em Daniel 5, o que parecia uma referncia enigmtica a um certo Sargo, rei da Assria , em Isaas 20: 1. Antes do advento da moderna urqueologia, com a sua notvel reconstituio da civilizao da antiga Babilnia-As&ria, que estava sepultada sob as colinas de escombros arqueolgicos das cidades mesopotm icas,o nome de Sar- y 10 no havia ocorrido em nenhuma fonte de referncias, exceto nesta nica passagem de Isaas. ( omo resultado, a referncia bblica era considerada, em geral, como completamente desprovida de valor histrico.

    A descoberta do palcio de Sargo, em Corsabade (Dur-Sharrukin ou Sargombur- K) cm 1843, por Paul Emile Botta, e ulteriores exploraes do local em anos mais recentes, pelo Instituto Oriental da Universidade de Chicago, mudaram o quadro completamente. Com a ((.'constituio do palcio, dos anais reais e outros registros do reino de Sargo (722-70S A. C.), hoje ele um dos mais bem conhecidos monarcas assrios, particularmente como o rei que finalmente invadiu Samaria em 722-721 A. C., depois dc um assdio de trs anos levado a efeito por Sulmaneser V, resultando assim na queda ao Reino do Norte, de Israel. (Veja quadro nV 1.)

    Outro exemplo de confirmao minuciosa e extraordinria dos registros sagrados, encontrado em cerca de trezentas tbuas (NOTA DO TRADUTOR: Tbuas de barro mole em que se imprimiam os caracteres cuneiformes, aps 0 que eram levadas ao forno.) desenterradas porto da Porta de Istar na Babilnia de Nabucodonosor II, datadas de S9S a S70 A. C. Nas listas tiu raes pagas a artfices e cativos que viviam na capital ou perto dela, naquele tem po, ocorre o

  • nome de Yaukin, rei da terra de Yahud - que no pode ser outro seno Jeoaquim. rei de Jud (II Reis 25: 27-30), que fora levado cativo para a Babilnia, depois da primeira conquista de Jerusalm, efetuada por Nabucodonosor. Fora tirado do confinamento celular pelo sucessor de Na- bucodonosor. Evil Merodaque. e agraciado com um suprimento dirio de alimentos, por todos os dias da sua vida. Os cinco filhos de Yaukin so mencionados trs vezes nas placas, sendo dito que estavam sob os cuidados de um servente que tinha o nome judaico de Quenaias. Sem dvida, vrios ou todos esses filhos viveram o bastante para ser inchados na lista dos sete filhos de Jeoaquim, dada em I Crnicas 3 :1 7 ,1 8 .

    2. A Arqueologia Ilustra e Explica a Bblia. Fazer as Escrituras Sagradas mais completamente inteligveis para a mente humana, sem dvida a funo real da arqueologia. Do ponto de vista divino, no entanto, a Bblia, sendo revelao de Deus, no precisa de Luz arqueolgica para se tornar compreensvel e espiritualmente essencial, como tambm no precisa provar- -sc como autntica ou verdadeira. Multides foram espiritualmente regeneradas e se apropriaram plenamente dos tesouros de sabedoria divina contidos nas Escrituras, muito antes do advento da arqueologia moderna. Contudo, devemos lembrai que a Bblia no apenas um livro divino, mas tambm um livro humano.

    Como produto da revelao de Deus comunicada ao homem atravs de homens, do ponto de vista humano, a Bblia pode ser feita mais plenamente compreensvel como resultado da luz que jorra obre ela provinda de fontes externas - sejam elas a histria antiga, a arqueologia moderna, ou qualquer outro ramo do saber. E qualquer pessoa que desejar compreender a Bblia tanto quanto possvel, no tem direito de negligenciar a luz que pode ser obtida de fontes extra-bblicas. Como, bem a propsito, observa W. F. Albxight; s ento que cometamos a apreciar a sua grandeza como a revelao inspirada do Esprito Eterno do universo . 1

    Exemplos da ilustrao e da explanao arqueolgica do Velho Testamento so assaz numerosos, e esto aumentando constantemente em nmero, medida que so feitas novas descobertas arqueolgicas. Um caso peculiar a longevidade dos patriarcas antidiluvianos, registrada em Gnesis 5. Tem sido costumeiro o fato dos crticos tratarem esse trecho da narrativa bblica como obviamente lendrio ou mitolgico de acordo com o alegado carter fictcio dos captulos 1 a 11 de Gnesis.

    O problema em foco, no entanto, encarado em luz completamente diferente, quando se fica sabendo que a grande durao para a vida das celebridades antidiluvianas, revelada pela arqueologia como assunto familiar nas tradies remotas do Oriente Prximo. O que mesmo surpreendente, que a longevidade atribuda aos patriarcas anteriores ao dilvio na Bblia Hebraica excessivamente modesta em comparao com a dos reis babilnicos do mesmo Derodo, que reinavam em cidades da antiguidade remota tais como Eridu, Laraque.Sipar eChurupaque.e cujo perodo de reinado mdio era de trinta mil a quarenta e cinco mil anos. Em contraste, o mais velho descendente da linhagem de Sete. Matusalm, viveu apenas 969 anos, e a durao mdia da vida, contando-se Enoque, que foi transladado sem ter morrido, com a idade de 365 anos. foi de pouco mais de 857 anos.

    Nao h razo decisiva para crer que as representaes das Escrituras no sejam verdades literais.

    Aquele. . . que ficar muito impressionado com a excelncia do estado original do homem, no ter dificuldades para aceitar a explicao comum de que, mesmo sob a maldio do pecado, a constituio fsica do homem dispunha de tal vitalidade, que a principio no se submeteu ao deletria do tempo antes que se passassem muitos sculos. A lm disso - fato estabelecido por descobertas fsseis h amplas indicaes de um clima mais salubre nos dias antidiluvianos. Tambm no devemos esquecer que os antidiluvianos eram a raa dos filhos de Deus que viviam racionalmente e com temperana. 2

    O valor da evidncia arqueolgica, no caso da longevidade original, no reside na concluso de que os hebraicos transmitiram com mais preciso do que os babilnicos, as tradies primitivas a respeito da raa original da qual ambos os povos eram descendentes. No h razo vlida para que agissem assim. A manifesta eriedade do registro hebraico uma indicao da sua

  • mitpiruo como verdade divina. As listas babilnicas so esclarecedoras, pois representam uma tradio independente c conflrmante, embora grandemente exagerada, do que aparece em Gnesis 5 como fato histrico autntico dado por divina revelao.

    Outro exemplo de elucidao dado pela referncia a um tel ou outeiro (lei cm hebraico) em Josu 11: 13:

    "To somente no queimaram os israelitas as cidades que estavam sobre os outeiros. cxceto a Hazor, a qual Josu queimou1. A prpria palavra tel", hoje empregada to amplamente em nomes rabes de lugares no Oriente Prximo e Mdio, e no Egito, a usada aqui e traduzida como outeiro . Exemplos de lugares com esse nome so numerosos. Na Palestina, por exemplo, ocorrem Tel en Nosb, Tel el Fui (Gibe), et Tel (Ai), Tel Gezer, Tel ed Duweir (La- quis), e outros. No Egito ocorre a conhecida Tel el Amama. Na Mesopotroia so encontrados Tel Abib, Tel Mel, Tei Arpachia, e numerosos outros.

    Alm disso, a referncia correta s cidades cananitas que estavam sobre os outeiros" tem adquirido nova significao devido descoberta do processo pelo qual o antigo tel era formado. (Veja quadro n 2)

    Quando um lugar tem sido ocupado por muitos sculos, os despojos dos perodos sucessivos da sua ocupao se acumulam uns sobre os outros de maneira tal que surge um gigantesco bolo de camadas . 3 A escavao estratigrfica, que a base da moderna escavao cientifica, significa a escavao de tal manera que os nveis ocupacionais superpostos se conservem distintos. Os despojos encontrados em cada camada, particularmente, precisam ser registrados exata e meticulosamente, de forma que um estudo comparativo com nveis similares em outros lugares, proporcionar localizao cronolgica correta, e concluses exatas.

    A edificao dos vrios nveis ocupacionais no foi simplesmente uma questo de ucumulao gradual de escombros. Isto foi um dos fatores, mas um desastre como, por exemplo. a guerra, um terremoto, ou fogo, era tambm necessrio. Estas catstrofes destruam a cidade, e quando ela era reconstruda, os novos ocupantes simplesmente nivelavam os escombros e construam sobre ele. Dessa forma, o nvel do solo da nova cidade era vrios decmetros mais elevado do que o da antiga, e os despojos da primeira jaziam sobre a segunda. Este processo continuou a repetir-se at que numerosos estratos se formaram, e o '"tel gradualmente se foi elevando, e a sua rea se tom ou menor.

    Depois do abandono final do lugar, se esse era abandonado finalmente, os ventos c as chuvas de muitos anos nivelavam o cume e promoviam a eroso das duas bordas, exceto onde o processo era confinado por um muro de cidade. Por isto, a forma comum de um outeiro u de um cone truncado, e quase todos os lugares importantes nas terras bblicas tm essa forma caracterstica. Contudo, a escavao estratigrfica no apenas de descobrir camada sob camada de histria ocupacional. O escavador freqentemente levado a enfrentar o problema da intruso de objetos de um nvel no outro, seja para baixo, para um nvel anterior, ou para cima, para um nvel posterior. A regra que precisamos ter sempre em mente , lembra Cyrus Gordon que uma undorinha s no faz vero e que o fato de um objeto isolado ser encontrado em ccrto nvel significa pouco ou nada, em si mesmo. Inferncias de objetos individuais precisam ser feitas com a maior cautela, e apenas quando muitos fatos coiroboram-se uns aos outros, podemos justificarmo- -nos em tirar concluses do seu contexto .1*

    3. A Arqueologia Suplementa a Bblia. Visto que os autores humanos que escreveram as Escrituras sob inspirao divina no estavam interessados na histria, geografia, etnologia humanas, ou outros campos do conhecimento humano, exceto incidentalmente, quando por acaso tinham algo que ver com a histria da redeno, era natural que do ponto de vista de um erudito moderno houvesse, no Velho Testamento, grandes lacunas nesses ramos a saber. Contudo do ponto de vista divino, concernente compreenso da mensagem divina, no houve necessidade de conhecimento suplementar dessas matrias ou outras relacionadas. Mas do ponto de vista humano, a luz que estas esferas de pesquisa propiciam, de valor incalculvel para se estender os horizontes bblicos, incrementando o conhecimento do meio ambiente em que a Bblia foi escrita, e permi

  • tindo compreenso mais ampla da mensagem e do significado do Velho Testamento.

    Exemplo interessante de suplementao, a destruio de Silo, primeiro santurio de Israel na Palestina, onde o Tabernculo foi estabelecido. e a arca do Senhor foi tomada durante o longo perodo dos Juizes. A queda da cidade no narrada em parte alguma da Bblia, embora Je- rtmias se refira ao lugar como tendo sido destrudo (Jeremias 7: 12-15; 26: 6,7). Escavaes feitas pela Expedio Dinamarquesa descobriram cermica e outras evidncias, demonstrando que essa destruio ocorreu por volta de 1050 A. C., possivelmente pelas mos dos filisteus. Na era dos cntaros de argolas ricamente bordejados, tipo de loua caracterstica de ioda a Palestina central no duodcimo e no comeo do undcimo sculos antes de Cristo, houve um extensivo nvel ocupacional em Silo. Este teve fim antes da introduo de um novo estilo de jarro de argolas, caracterstico do perodo depois da metade do sculo onze A. C., encontrado em Gibe dc Saul e depsitos contemporneos em Betei. Os escavadores descobriram tambm evidncia de uma conflagrao.

    clara a concluso de que Silo deve ter sido destruda pelos filisteus depois da batalha de Ebenzer, ou um pouco depois, por volta de I05U A. C., visto que o Tabernculo foi, depob disso, mudado para Nobe, e mais tarde, para Quiriate-Jearim. A referncia de Jeremias destruio de Silo, mais de quatro sculos e meio depois do acontecimento, perde qualquer motivo para estranheza, luz do fato que Silo cra considerado pelos israelitas como o seu grande ponto focal inter-tribal, no longo perodo antes da sua queda (Juizes 21: 19; I Samuel 1 3). A sua destruio, apresentava uma especial advertncia divina, cuja solenidade os sculos no poderiam apagar.

    Outras naes do antigo Urientc Proximo tinham os seus grandes santuarios centrais, aos quais eram realizadas peregrinaes. Nipur era a Meca religiosa da Babilnia, c N- nive o era na Assria, durante o terceiro quartel do segundo milnio A. C. Os templos de Sin em Har, e de Belit-ecli em Qatna, so revelados pelas Cartas de Wari como lugares de grande afluncia religiosa no dcimo-oitavo sculo A. C. O templo de Baaltis, em Gebal (Biblus), recebia ofertas votivas do longnquo Egito, durante todo o segundo milnio A. C. A imagem cultuada de Aser, deusa tiria, era distribuda abundantemente cm forma de amuleto, no perodo de 1500 a 1200 A. C. Silo, em Israel, modesto e despretencioso em comparao com os grandes santurios pagos, era, no obstante, distintivo como ponto de concentrao religiosa das tribos israelitas, que possuam o conhecimento do nico Deus verdadeiro.

    Semelhante ao exemplo de Silo, a importante cidade fortificada de Bete-Se, que comandava a entrada oriental para a plancie de Esdrelon, e guardava a estrada para a Sria e a Transjordnia, oferece outro exemplo da capacidade da arqueologia para suplementar a narrativa bblica, suprindo detalhes elucidativos que o registro sagrado passa por alto. Escavaes feitas na antiga cidadela, revelam que ela foi destruda no muito depois de Silo. Visto que aparece em conexo cnm a morte e o ignominiuso tratamento dispensado ao Rei Saul (1 Samuel 31 : 10, 12; II Samuel 21: 12), a sua destruio foi, certamente, obra de Davi, como vingana contra a cidade pelo ultraje feito ao seu antecessor.

    A elucidao do Velho Testamento, todavia, no de forma alguma confinada aos primeiros perodos da histria hebria. A arqueologia fez jorrar, igualmente, muita luz sobre perodos posteriores Por exemplo, registros contemporneos da Assria do nono e oitavo sculos A. C., preenchem muitas lacunas das narrativas histricas hebraicas, e enriquecem grandemente o nosso conhecimento de reis israelitas como Acabe e Je. O primeiro, chamado em assrio Ahabu , aparece proeminentemente na Inscrio Monoltica do grande conquistador assrio Salmaneser III (858-824 A. C.), como um dos importantes membros de uma aliana militar que forneceu duas mil carruagens e dez mil soldados para resistir ao avano assrio em Carcar, sobre o rio Orontes, era 853 A. C. Je, o usurpador e cruel exterminador da casa de Onri, realmente aparece no Obelisco Negro que Austen Layard encontrou em 1846, no palcio de Salmaneser 11, em Ninrode. Je mostrado de jotlhs diante do monarca assrio, e as seguintes palavras acompanham o desenho: Tributo de laua (Je) tilho de Onri

  • ilmuHtbi onrltu, cm Israel, Ilustra a reputao poltica que Onri ganhou, pelo menos entre os asa- iIoh, cousa que . som dvida, desprezada intencionalmente no Velho Testamento, devido nega- livu influncia religiosa do rei (cf. I Reis 16: 23-28; Miquias 6: 16). A Pedra Moabita, erigida polo Rei Mesa de Moahe ( II Reis 3: 4) cerca de 830 A. C., e descoberta em 18 6 8 , confirma da mesma forma o fato de que Onri desfrutou de grande prestgio poltico. O prprio testemunho do rtl Moube a este fato, dado a seguir: Quanto a Onri, rei de Israel, ele humilhou a Moabe muitos anos (literalmente, dias)" e ocupou a terra de Medeba, e (Israel) habitou ali, no seu tempo, e na metade do tempo de seu filho (Acabe). . . 6

    Alm de Pedra Moabita, o straco de Laquis tambm de grande importncia nnlrc as inscries palestinas. Descobertas em 1935 e 1938, nas runas da ltima ocupaco israelita do Tel-ed-Duweir (Laquis), ao sul da Palestina, essas vinte e uma cartas possuem significadoi ilolgico extraordinrio, visto que foram o nico grupo de documentos conhecido em hebraico clssico, escritos em prosa. Alm disso, fazem joirar uma luz valiosa sobre o periodo de Jeremias, pouco antes da queda de Jerusalm ( 587 A. C.), sendo geralmente datados do outono de 589 ou 588 A. C., pouco antes do comeo do assdio caldeu a Laquis.

    A capacidade da arqueologia de esclarecer um perodo de histria bblica muito mal compreendido, demonstrado pela descoberta do Monlito que Ben-Hadade I, de A ri, erigiu em cerca de 850 A. C., descoberto em 1941 pouco ao norte de Alepo, na Sria. A inscrio real aramaica feita no Monlito indica o fato de Ben-Hadade I, contemporneo de Asa e de Baasa, ser o mesmo indivduo que chamado Ben-Hadade II, contemporneo de Elias e Eliseu. Esta importante poro de informao remove um dos mais srios embaraos correta compreenso de todo o perodo da hitria do Reino do Norte, desde a diviso da Monarquia por volta de 922* A. C., at ascenso de Je em 842 A. C., e ao mesmo tempo, autentica a lista dinstica de reis nrameus, que reinaram em Damasco, da maneira como apresentada em I Reis 15:18.

    Alm do mais, oportuno adicionar que a arqueologia tem. da maneira mais surpreendente, descoberto naes inteiras, e ressuscitado povo importantes da antiguidade, conhecidos, at ento, apenas por obscuras referncias bblicas.

    No exagero dizer que, quanto compreenso humana, e quanto ao que concerne aos aspectos histricos e lingsticos, o Velho Testamento se tem tomado um livro novo medida em que a arqueologia tem-no tornado mais compreensvel, colocando-o diante do iluminador pano de fundo das circunstncias em que foi escrito, relacionando-o com a vida e os costumes do qual emergiu. Este o papel mais importante da arqueologia no estudo do Velho Testamento. Ela tem alcanado resultados notveis at o presente, e apresenta grandes promessas de ainda maiores contribuies no futuro, medida que a pesquisa das terras bblicas continuai.

  • Capftulo II

    NARRATIVAS DA CRIAO: BBLICA E BABILNICA

    ^ Como livro semitico antigo, o Velho Testamento tem, naturalmente, intima relao com o meio ambiente no qual foi escrito. A cena dos primeiros onze captulos de Gnesis, que registra a histria pnmitiva da humanidade, se desenrola no bero da civilizao, o vale do Ti- gre-Eufrates. Ali comeou a vida humana, e se desenvolveu a mais antiga cultura sedentria. Dali se originam as primeiras tradies do comeo do mundo e da humanidade que, como era de se esperar, tm muita semelhana com a Bblia.

    I. DESCOBERTA DAS TBUAS DA CRIAO

    A recuperao de grande cpia de documentos da antiguidade mesopotmia, preservada em caracteres cuneiformes (litoralmente, em forma de cunha) da linguagem babilni- ca-assria, e escritos em tbuas de barro, tem sido um dos trinfos da arqueologia moderna. Antes da descoberta da Inscrio Behistun, trilinge, em 183S por um jovem oficial ingls do Exrcito Persa, inscrio que demonstrou ser a chave que tornou compreensvel a estranha escrita cunei- forme, o vale atsirio-babilnico era um vasto cemitrio de naes e antigas civilizaes enterradas. Contudo, com a decifrao da linguagem e conseqente zelo renovado em cavar cidades e culturas por muito tempo esquecidas, que ali estavam enterradas, a regio do Tigre-Eufratcs, onde nasceu a histria humana, tomou-se uma das regies mais dramticas da superfcie terreste.

    A decifrao dos cuneiformes babilnicos-assrios, e o fato de as antiguidades daquelas regies onde comeou a histria bblica primitiva se terem tornado acessveis, produziram ardente expectao entre os estudiosos do Velho Testamento, porque a escavao de cidades soterradas revelou registros contendo significativos paralelos Bblia. As suas esperanas no foram frustradas.

    1. Achados em Ninive. Entre os anos de 1848 e 1876, como resultado das escavaes em Ninive, antiga capital do Imprio Assrio, Austen H. Layard, Hormuzd Rassam eGeorge Smith recuperaram, da biblioteca de Assurbanpal (668 - 626 A. C.), as primeiras tbuas e fragmentos de tbuas da grande Epopia da Criao conhecida entre os babilnicos e assrios. Devido sua relao com os primeiros captulos do Gnesis, poucas inscries semticas suscitaram maior interesse. A epopia, registrada em cuneiformes em sete tbuas de barro, consiste de aproximadamente mil linhas, e era conhecida de seus antigos leitores pelas duas palavras com que se iniciava: Enuma clish (Quando das alturas").

    2. Outro* Frazmentos Relativos Criao. Como resultado de outras descobertas de novas tbuas e partes de tbuas, desde 1876, a epopia foi quase completamente restaurada. A nica parte considervel que ainda est faltando ocorre na Tbua V.

    3 Data das Tbuas. Apesar de a maior parte da epopia ser originria da biblioteca de Assurbanpal, na sua presente forma ela posterior (sculo VII A. C.). mas foi composta muito antes, isto , nos dias do grande Hamurbi (1728-1676 A. C.). Foi nessa poca que a Babilnia ascendeu supremacia poltica, e Marduque, o heri da Enuma Elish, tomou-se deus na-

  • i k>nal. Um dos objetivos principais da cpopcia da criao mostrar a supremacia da Babilnia sobro ludaa as outras cidades do pais, e especialmente a supremacia de Marduque sobre todos os outros deuses babilnicos.

    Sendo assim apresentado o carter de propaganda poltica em que deveria ser nu nada pelos mil anos seguintes, ela chegou at ni nesta verso. Todavia, o poema em si, embora icndo uma das obras primas da literatura dos Semitas Babilnicos, de pocas muito mais remo- lun. Est claramente baseado nas anteriores tradies dos sumerius, os precursores no semitas dos semitas babilnicos, na Babilnia inferior. Esses povos adentraram a plancie de Sinear, no sul da Babilnia em pocas muito remotas (talvez to remotas como 4.000 A. C.), e desenvolveram uma civilizao adiantada, inclusive a escrita cuneiforme, como aperfeioamento da picto- gmfica. Os babilnios se tornaram herdeiros da religio e da cultura dos sumrios.

    II. NARRATIVA BABILNIC A DA CRIAO

    A Tbua I, na cena de abertura, apresenta a era primitiva quando existia apenas um mundo formado de matria viva incriada, personificada por dois seres mitolgicos: Apsu (masculino), representando o oceano primitivo de gua doce, e Tiamate (feminina), o oceano primitivo de gua salgada. Este par original se tomou progenitor dos deuses.

    Quando nas alturas os cus (ainda) no tinham nomes,(Ej embaixo a terra (ainda) no existia como tal,(Quando) apenas o primitivo Apsu, progenitor deles (existia),(E) me (mummu) Tiamate, que deu luz todos eles,(Quando) as suas guas (ainda) misturadas,(E) nenhuma terra seca havia sido formada (e) nem (Mesmo) um pntano podia ser visto;Quando nenhum dos deuses havia sido gerado.Ento os deuses foram enados no meio deles (Apsu e Tiamate).Lahmu e Lahamu (deidades) eles (Apsu e Tiamate) procriaram. 1

    A descendncia de deuses que Apsu e Tiamate tiveram tornou-se to molesta em sua conduta, que o seu pai, Apsu. prups era sua mente acabar com eles. Nessa deciso, contudo, ele foi frustrado pelo grande deus Ea, que tudo sonda 2 e que descobriu o plano, podendo assim aprisionar e matar Apsu. Ento, Ea gerou Marduque, deus da cidade de Babilnia, e heri real do mito. Nesse nterim, Tiamate, por instigao dos deuses, se prepara para vingar a morte dc seu marido Apsu. Cria monstros horrveis e indica Kingu, um de seus filhos, como comandante-chefe de seus exrcitos.

    As Tbuas II e III contam como Marduque foi escolhido por seu pai Ea como campeo, para lutar contra a irada Tiamate e como os deuses se reuniram em um banquete para o conselho de guerra, para equip-lo e envi-lo batalha. Na Tbua IV, Marduque elevado supremacia entre os deuses, tendo o poder para destruir e criar, a base da sua exaltao. Ele des- tri e cria vestimenta. declarado rei, e se dirige batalha contra Tiamate, com arco, flecha e clava. A derrota formal do caos, e a vitria da ordem, so descritas graficamente na grande dispu ta:

    Tiamate e Marduque, o mais sbio dos deuses, tomaram lugar, opondo-se mutuamente, A vanaram para a batalha, e no combate aproximaram-se um do outro.O senhor abriu a sua rede e a envolveu,O mau vento, seguindo-se-lhe, fe z soprar na sua face.Quando Tiamate abriu a boca para devor-lo,Ele fe z soprar o mau vento, de forma que ela no pode fechar os lbios. medida que os ventos uivantes encheram o seu ventre,Este fo i destendido, e ela abriu bem a boca;Ele lanou uma flecha, esta rasgou o seu ventre,Cortou as suas entranhas, e traspassou-lhe o corao.Quando ele a havia subjugado, destruiu a sua vida.

  • Jogou a sua carcaa por terra e se colocou de p sobre ela. 3

    Os aliados de Tiamate tentam fugir, mas so capturados e lanados na priso. Nesse nterim, Marduque volta para fiamatc, a fim de criar o cosmos, usando o seu cadver.

    O senhor reposou, vara observar o seu corpo inanimado(Para ver) como ele poderia dividir o colosso (e) criar cousas maravilhosas (com ele).Abriu-a em duas partes como um mexilho;Metade dela, colocou no lugar e form ou o cu,Fixou os limites e postou guardasA

    Ento Marduque baixou uma ordem para no deixar escapar a gua" que estava na metade do corpo de Tiamate, e que ele usou na construo do cu. Em seguida, estabeleceua terra, designada poeticamente Esbarra, na forma de uma grande canpia, e colocou-a sobre Apsu, o oceano de gua doce que est sob a terra. O deus Anu, ele colocou no cu, o deus Enlil no ar, e Ea no oceano debaixo da terra.

    Ele ordenou-lhes que no deixassem escapar a sua gua,Ele atravessou os cus e examinou as (suas) regies.Colocou-se em posio oposta a A p su .. .O senhor mediu as dimenses de Apsu,E uma grande estrutura, correspondente dele. ele estabeleceu: Esharra,A grande estrutura Esharra. que ele fez como uma canpia.Anu. Enlil e Ea, ele (ento) fe z com que estab

  • Nu histria da criaro dc Ktflu, descoherla por llormudz Russrn em 1882, nus niinns da atitiga Sipur. nu parte norte da Babilnia, chamada Acdia, a criao do homem |nilti
  • Reunindo todos os fatores sob nossa considerao, pode-se concluir que as serrie- Uienas entre a Enuma elisch e o relato da criao feito em Gnesis, so. sob alguns aspectos surpreendentes. Mas no aspecto geral, as semelhanas servem para acentuar as diferenas, que so muito mais radicais e significativas.

    2. As Diferenas:(J) Uma narrativa intensamente politesta; a outra, extritamente mono-

    teista. O mito babilnico comea com uma pluralidade de deuses, Apsu e Tiamate que, como divindade masculina e feminina geraram os primeiros deuses. Gnesis comea com aquela incomparvel palavra: No princpio Deus. . (Gnesis 1 :1 ). Como resultado desta flagrante diferena no conceito bsico de divindade, as idias religiosas das duas narrativas so completamente divergentes. A histria babilnica contada em um baixo nvel mitolgico, com uma srdida uoncepo de divindade. Os descendentes de Apsu e Tiamate procederam to mal que seu pai planeja destrui-los. Os grandes deuses, eles mesmos, conspiram e lutam uns contra os outros. Ea se choca contra Apsu. Marduque luta contra Tiamate e seus seguidores, c teifinfa s depois de rdua batalha.

    Gnesis, em flagrante contraste, imponente e sublime. 0 nico Deus, sublime e onipotente, detm controle grandioso de todas as criaturas e elementos do universo. Como Criador. Jj uma grande diferena entre Ele e a criatura ou a criao. Embora haja rebelio entre as criaturas angelicais, revelada em outros lugares nas Escrituras (Isaas 14: 12-17; Ezequiel 28: 12-19), e uma queaa da humanidade (Gnesis 3), no obstante Deus detm contrlc perfeito, sendo prevista a manifestao do mal, e providenciado um remdio (Gnesis 3 :15).

    O rude politesmo das estrias babilnicas da criao, mancha a narrativa com sucessivas geraes de divindades de ambos os sexos, procedendo de Apsu e Tiamate, e produz uma confusa e contraditria pluralidade de criadores. Isto verdadeiro porque Apsu e Tiamate no so apenas os progenitores de seres divinos; porm, visto que esses seres divinos, por sua vez, personificam vrios espaos csmicos e foras naturais, os pais dos deuses participam, igualmente, de maneira direta do papel dc criadores.

    Porm, outros criadores adentram o confuso quadro. Na guerra entre os deuses, Ea, pai de Marduque, mata Apsu e, da carcaa, dele. forma o mar subterrneo, sobre o qual repousa a tetra. Marduque, por sua vez, no conflito contra Tiamate, do caos faz surgir o cosmos, e como o criador principal, forma os cus e a terra, os corpos celestiais, cereais e legumes, e juntamente com Ea, e-lhe atribudo o crdito da formao do homem.

    Outras inscries fragmentrias adicionam elementos contraditrios desorienta- dora narrativa de Enuma elish. Uma delas, encontrada por George Smith em Ninive, fala dos deuses em sua totalidade como tendo criado o mundo e o seu contedo. Outra, da antiga cidade capital da Assria, Assur, relaciona os grandes deuses1 Anu, Enlil, Shamash e Ea como criadores do universo, e, juntamente com as divindades chamadas os Anunaque, como tendo formado os dois primeiros seres humanos, chamados lngarra (o instrutor da abundncia) e Zalgara (a instrutora da fartura). Outra tbua da Babilnia aiz que Anu criou os cus e que Ea criou vrias divindades menores, e a humanidade. Outra inscrio atribui a criao do sol e da lua a Anu, Enlil e I a. A estria da criao de Eridu, atribui a criao da humanidade a Marduque, ajudado por uma deusa, ao passo que uma tbua mutilada e castigada pelas intempries, da Primeira Dinastia de Babilnia, atribui a criao do homem a uma deusa que misturou barro com o sangue de um deus morto.

    No maior contraste possvel confuso e contradio destas narrativas politesta*, a narrao uo Gnesis, com beleza purae simplicidade, apresenta o nico Deus Eterno como Criador e Conservador de todas as cousas. Ele cria todas as cousas do nada. Pela Sua palavra onipotente, faz com que os mundos venham a existir. Como Criador, exerce supremo controle sobre todos os elementos do universo.

    (2) Uma narrativa confunde esprito e matria, a outra faz cuidadosa distino entre estes dois conceitos. A verso habilnica no apenas religiosamente heterodoxa, pelo fato

  • O uso de fontes de referncia escritas ou orais no est em desacordo com a inspirao bblica, como evidente no prlogo do terceiro Evangelho (Lucas 1: 1-3). Sobretudo, alguns dos escritores do Velho Testamento estavam familiarizados com a literatura das naes vizinhas, e modelaram algumas das suas composies inspiradas segundo as obras primas da sua literatura. Este fato demonstrado claramente, por exemplo, pelas surpreendentes semelhanas entre alguns dos primeiros salmos, e a literatura pica descoberta em Ras Shamra (1929-1937). Alm disso, as Cartas de Amarna, do Egito, e os documentos hititas de Bogazqueui, na sia Menor, mostram que o comrcio havia disseminado amplamente a escrita e literatura babllnicas, por volta de 1400 A. C., de forma que era bem possvel que Moiss, que fora educado em toda a cincia dos egpcios (Atos 7: 22), conhecesse as obras primas da literatura babilnica, tais como os mitos de Adapa e Ereshkigal, que eram conhecidos no Egito da sua poca.

    Da mesma forma, no possvel, do ponto de vista histrico e arqueolgico, ou do ponto de vista da inspirao bblica, admitir que o Gnesis possa, at certo ponto, ter dependido da Enuma Elish. Isto, no entanto, no a verdadeira explicao das semelhanas, cremos ns, e embora a doutrina da inspirao bblica no exclua a possibilidade dessa dependncia da narrativa do Gnesis, manifesto que tal dependncia inteiramente desnecessria. Parece inconcebvel que o Esprito Santo precisasse usar uma epopia to contaminada com filosofia pag como fon te de verdade espiritual. O emprego de uma forma potica, ou de um certo tipo de mtrica, como veculo de expresso da verdade espiritual, de que h claros exemplos no Velho Testamento, tirados de literatura contempornea, matria completamente diferente.

    2. A Narrativa Babilnica Proveniente do Gnesis. Esta opinio extremamente impossvel, se no historicamente impossvel. A Enuma elish antecede o Gnesis em quase quatro sculos, visto ser quase certo que a epopia recebeu a forma em que foi descoberta, cerca de um milnio mais tarde nos dias de Hamurbi de Babilnia (1728-1686 A.C.), e grande parte do seu pensamento data dos primitivos tempos sumrios. Contudo, ha possibilidade de que a narrativa hebraica, em unia ou outra forma, tenha existido vrios sculos antes.

    3. Essas tradies surgiram espontaneamente. Elas so tendncias naturais da mente humana em um proceso de evoluo, aigumenta-se. Maneiras semelhantes de pensar e de considerar o universo e o homem, produz iram-nas espontaneamente. Mas isto no e uma explicao; simplesmente, recusa-se a considerar ps fatos de forma racional.

    4. A s Duas Narrativas Provm de Fonte Comum. As inscrices babilnicas e os registros do Gnesis nos apresentam, evidentemente, duas formas de tradies primitivas e de fatos concernentes ao princpio do universo e do homem. No so tradies peculiares aos povos e s religies semiticas, que desenvolveram-se de caractersticas comuns. So tradies comuns a todos os povos civilizados da antiguidade. Seus elementos comuns apontam para uma poca em que a raa humana ocupava uma ptria comum e tinha uma f comum. Suas semelhanas so devidas a uma herana comum, e cada raa de homens foi transmitindo, de gerao em gerao, os registros orais ou escritos da historia orimitiva da raa.

    As raas humanas primitivas, por onde vaguearam, levaram com elas essas primitivas tradies da humanidade, e nas diferentes latitudes e climas, modificaramnas de acordo com a sua religio e modo de pensar. As modificaes, com o passar do tempo, resultaram na corrupo da tradio original pura. A narrativa do Gnesis no apenas a mais pura, como tambm apresenta, em todos os pontos, 3 autenticao inequvoca da inspirao divma, quando comparada com as extravagncias e corrupes de outras narrativas. A narrativa bblica, podemos concluir, representa a forma original que essas tradies devem ter tido.

  • Captulo III

    TRADIES PRIMITIVAS E PRIMRDIOS BBLICOS

    Os onze primeiros captulos de Gnesis, que tratam da criao do mundo, da vula primitiva do homem sobre a terra, do grande dilvio e da vida pr-patriarcal aps o dilvio, lontem material de antiguidade muito remota. Atualmente, est provado que grande parte desse iinilcrial foi levado da Mesopotmia pelos ancestrais dos hebreus. Pode tambm ser mostrado que lirm autntico colorido local, e inteiramente livre de analogias egpcias. H umas poucas semelhanas cananitas, que no entamo so, quase todas, de natureza verbal, consistindo no emprego dus mesmas palavras, ou de outras intimamente relacionadas. Por outro lado, h grande nmero dc surpreendentes semelhanas babilnicas, embora no to grandes como se tem propalado.

    Semelhanas tais como o Sbado e a queda do homem, tm sido freqentemente exageradas. Embora o stimo dia e o nmero sete em geral tenham significado especial no pensamento oriental antigo, tanto na Bblia como nos monumentos, crticos radicais tm labutado em vo para provar que o stimo dia de descanso bblico e a sua santificao (Gnesis 2: 3) derivaram-se dos babilnicos. A falta de um paralelo claro para a queda do homem registrada em (inesis 3, ser demonstrada mais adiante. Todavia, um detalhe como o dos querubins colocados "ao oriente do jardim do den (Gnesis 3: 24) abundantemente ilustrado pela iconogra- tia do Oriente Prximo, referente a pocas remotas, como um leo alado com cabea humana, ou uma esfinge.

    1. AS TRADIES PRIMITIVAS E A QUEDA

    O terceiro capitulo de Gnesis, que retrata a tentao e a queda do homem,0 qual descrito vivendo feliz e inocentemente em lugar delicioso, tem grande importncia teolgica. Prov a base e supre a necessidade de uma atividade redentora do Criador em favor da raa humana. Conseqentemente, supostas semelhanas desta passagem fundamental, na literatura babilnica, ao lado de freqentes afirmaes de plgio por parte do registro sagrado, exigem cuidadosa considerao.

    1. Localizao do Jardim do den. As informaes que a Bblia nos d, localizam o Jardim do den, onde ocorreram a tentao e a queda, em algum lugar na regio do Ti- grc-Eufrates, evidentemente na tera parte mais oriental do Crescente Frtil. *E saa um rio do den pira regar o jardim, e dali se dividia, repartindo-se em quatro braos. O primeiro chama-se 1'isom. . . O segundo rio chama-se Giom. . . O nome do terceiro rio Tigre. . . E o quarto o Eufrates (Gn. 2: 10-14). O Pisom e o Giom so, possivelmente, canais (chamados rios na Babilnia) que ligavam o Tigre e o Eufrates, guisa de antigos leitos de rios.

    Embora Friedrich Delitzch localize o den logo ao norte da Babilnia, onde o1 .ufrates e o Tigre correm bem perto um do outro, e A. H. Sayce e outros localizem o den perto de Eridu, antigamente no Golfo Prsico, debalde que se tenta determinar, agora, a sua localizao exata. A mudana dos leitos dos rios, e a mutvel configurao daquela regio, no curso dc milnios, como resultado da acumulao de enormes depsitos de sedimentos fluviais, tomam essa tarefa virtualmente impossvel. A cousa importante que o Gnesis localiza o princpio da vida humana na mesma regio que a pesquisa arqueolgica tem demonstrado ser o bero da civilizao. W. F. Albright diz:

  • Desta forma, a pesquisa arqueolgica tem estabelecido, sem sombra de dvida, que no h centro de civilizao, na terra, que possa nem de longe competir, em antiguidade e atividade, com a bacia do Mediterrneo Oriental e a regio imediatamente ao leste dela O Crescente Frtil. 1

    2. O Mito de Adapa. Esta antiga lenda, que tem sido geralmente interpretada como o correspondente babnico queda do homem narrada em Gnesis 3, foi descoberta em quatro fragmentos cuneiformes, trs na biblioteca do Rei Assurbanpal, em Ninive (sculo VII A. C.) e o quarto nos arquivos dos reis egpcios Amenotepe III e IV. em Amarrai (primeira metade do sculo XIV A. C.). E uma estria, como a Epopia de Gilgamesh, contando a falha do homem em aproveitar a oportunidade de ganhar a vida eterna.

    Adapa era um homem a quem o deus Ea havia dado sabedoria, mas no vida eterna. Como administrador do templo de Ea em Eridu, ele estava ao sul. pescando no Golfo Prsico quando o vento setentnunal, soprando de repente, virou o seu barco, e o lanou no mar. Ele, irado, quebrou a asa do vento sul", pintado como uma espcie de pssaro. Aleijado, o vento setentrional no podia soprar brisas frescas sobre a terra abrasada.

    Por esta ao violenta, Adapa chamado a dar contas a Anu, o grande deus dos cus. Antes de subir s regies etreas, Ea, seu pai, instrui Adapa para vestir-se de luto, como sinal de reverncia aos dois guardas do porto, que haviam recentemente deixado o pas dos vivos, e a no comer a comida da morte, nem beber a gua da morte que lhe seria oferecida. 0 seu luto pelos guardas do porto assegura a sua boa vontade. Eles intercedem por ele com tanto sucesso que, em vez de puni-lo, Anu decide abeno-lo, e assim ordena:

    . . A comida da vida Trazei-lhe para que ele coma". A comida da vida Trouxeram-lhe, mas ele no comeu. 4 gua da vida Trouxeram-lhe, mas ele no bebeu. Um vestido Trouxeram-lhe, e ele se vestiu (com ele). leo Trouxeram-lhe, e ele se ungiu (com ele).A nu olhou para ele, e riu.Venha c, Adapa! Porque voc nocomeu nem bebeu?Agora, voc no viver. A i (da ).. . huttwnidade. Ea,Meu senhor,Disse: No coma, no beba\"Levem-no de volta para a sua terra! 2

    Levado de volta tena , para morrer como todos os outros homens, Adapa perdeu a oportunidade de obter vida eterna. Contudo, segundo o fragmento IV, claro que ele um representante da humanidade, pois a sua recusa de participar do po e da gua da vida no apenas trustrou-lhe a vida eterna, como envolveu a humanidade em doena e enfermidade, e evidentemente, frustrou da mesma forma a possibilidade da imortalidade para a raa humana tambm.

    . . . E seja qual fo r a doena que ele tenha ocasionado aos homens E a doena que ele tenha trazido aos corpos dos homens Estas a deusa (da cura) Nincarra suavisara.3

    3. O Mito de Adapa e Gnesis 3. Sejam quais forem as correspondncias entre o mito de Adapa e o terceiro captulo de Gnesis, a lenda babilnica evidentemente no oferece um paralelo narrativa bblica da queda do homem, e os estudiosos no tm motivo para fazer t?l aplicao. Da mesma forma, a queda no descrita, como freqentemente tem sido declarado, no chamado selo da tentao", que retrata duas pessoas assentadas ao lado de uma rvore fru tfera, e por detrs de uma delas, a forma ereta de uma serpente. Ambas as figuras esto vestidas, ao passo que a inocncia do primeiro casal descrita pela declarao que introduz a cena da tentao: Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus, e no se envergonhavam (Gnesis 2: 25).

    Alm disso, no h a menor razo para procurar pela queda na literatura dos babi-

  • Irtiilcos, pois cia discorda dc lodo o seu sistema dc especulao politesta. Em Gnesis, o homem criado imagem de um Deus santo. Mas os babilnios, como outros povos pagos, espe- lulffivntc os gregos e romanos, criaram os seus deuses maus e bons, imagem do homem. No se IhkIu esperar que esses deuses, que conspiravam, odiavam, lutavam e matavam uns aos outros, crias- im algo que fosse moralmente perfeito. Da mesma forma, um homem que fosse formado com o san-

    jnu' dessas divindades, no poderia possuir outra cousa seno uma natureza m. No teria sido poss- vi'I queda alguma, porque o homem teria sido criado mau, e no teria um estado de inocncia de micli* cair.

    Todavia, certos elementos na lenda de Adapa so surpreendentes pela semelhan- in ou pelo contraste que apresentam. A comida da vida corresponde ao fru to da rvore da vulu* (Gnesis 3 : 3 , 22), As duas narrativas concordam no pensamento de que a vida eterna poderia ser obtida comendo-se uma certa qualidade de comida ou fruto. Porm, Ado perdeu a Imortalidade devido a um desejo errado de ser como Deus . (Gnesis 3: 5). Por esta razo, foi expulso do jardim, para que no comesse da rvore da vida. . . e viva eternam ente (Gnesis1 22). Adapa j havia jecebido sabedoria dos deuses, e falhou em tornar-se imortal, no devido a

    desobedincia ou presuno, como Ado, mas devido obedincia ao seu criador, Ea, que o enganou.

    Da mesma forma como a narrativa bblica da queda, a estria de Adapa toca na questo crucial da razo por que o homem devia sofrer e morrer. Em contraste, no entanto, a resposta no que o homem caiu da sua integridade moral, e que o pecado em que ele caiu produziu morte, mas que o homem perdeu a oportunidade de obter a vida eterna pelo fato dc ter sido i-iip.anado por um dos deuses. O pecado humano original no , absolutamente, levado em conside- rnvilo na estria dc Adapa, ao passo que bsico no relato do Gnesis. As duas narrativas, portanto, a despeito de semelhanas superficiais, so polos opostos.

    II. AS MODERNAS ESCAVAES E A CIVILIZAO PRIMITIVA

    A Bblia liga o comeo da civilizao humana com Caim e Abel, os dois filhos i|u Ado. Embora um bom paialelo entre a histria bblica e os monumentos esteja ainda faltando, continuas escavaes na Mesopotmia, e a publicao de antigas tbuas, especialmente os registros dos antigos sumrios, revelar, sem dvida, pontos de contato elucidativos.

    1. O Comeo da Vida Agrcola. O homem, precisando tornar-se, desde bem cedo. um produtor de alimentos, comeou a controlar a natureza pelo amanho da terra e criao de Kiido. Ambas as atividades, so intimamente relacionadas, e so indubitvel e praticamente coevas no seu desenvolvimento. Enquanto alguns grupos humanos comearam a cultivar o solo, outros rstavam domesticando animais. Esta opinio, luz do quarto captulo do Gnesis, parece prefervel de que o cultivo do solo anterior criao de gado. "Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, luvrador (Gnesis 4: 2). possvel que o fazendeiro Caim fosse bem mais velho do que o pastor Abel, e se for assim, a agricultura deve ter precedido a pecuria. Contudo, mcllior pensarmos que essas atividades se desenvolveram lado a lado. Os homens estavam cultivando cevada e trigo no mesmo tempo em que comearam a domesticar animais.

    2. O Comeo da Vida Urbana. A linhagem de Caim relacionada com o estabelecimento da primeira cidade, e com o desenvolvimento das artes e ofcios da vida urbana (Gnesis I 16-24). Jabal est vinculado vida pastoril e nmade (Gnesis 4: 20). Seu irmo Jubal associado arte da msica e inveno dos primeiros instrumentos musicais - a harpa e a flauta (Gnesis 4: 21). Tubalcaim mencionado em relao com a cincia da metaluigia c a o artesanato ili- terro e bronze (Gnesis 4: 22>.

    Escavaes modernas revelam a presena de vida urbana em peroao mui remoto, mm evidncias das artes e ofcios mencionados em Gnesis 4:16-24. As vilas mais antigas j descobertas situum-se na regio norte da Mesopotmia, em Tel Hassuna, ao sul da moderna Mossul, e mu Ninive o nvel mai baixo), e em Tepe Gaura, O Grande Outeiro, a noroeste de Ninive. 1' hsus localidades pertencem Idade Neoltica, cerca de 5.000 A. C. ou antes, e mostram fer- iiuiu-ntas e armas de pedra, cermica e edifcios rsticos. O Estrato XIII, em Tepe Gaura, por exem-

  • pio, que data centenas de anos antes da descoherta de utenslios de metal, contm ceimica de grande beleza e delicadeza, bem como restos arquitetnico que demonstram grande habilidade. Essas descobertas no mais permitem que consideremos o homem da Idade da Pedra como selvagem .4

    Perto de 4.500 A. C., o cobre comeou a ser usado juntam ente com a pedra, e cerca de 3.000 A. C., tornou-se o material principal para a manufatura de ferramentas e armas. A esta Idade Calcoltica, ou de pedra e cobre , pertencem n lugares como Tel Halaf, ao noroeste da Mesopotmia, onde um majestoso tipo de cermica foi descoberto, demonstrando elevado grau de civilizao por volta de 4.000 A. C. ou antes. Restos aa mesma cultura tm sido encontrados tambm no Tel Chagar Bazar, a 80 quilmetros ao leste do Tel Halafe, e o Tel Arpachia, a 275 quilmetros a oeste.

    O Tel Obeide, a pequena distncia a noroeste de Ur, revela a mais antiga cultura claramente definida, na Babilnia inferior, mostrando que cerca de 4.000 A. C.. as terras pantanosas da regio do baixo Tigre-Eufrates estavam sendo drenadas e ocupadas. A cultura do Tel Obeide antecede quase todas as antigas cidades da regio, como Ur, Ereque, Lags e Eridu, e parece estar ligaria civilizao contempornea do Planalto Iraniano ao leste de Susa (El), um dos mais antigos centros de civilizao.

    Se a civilizao camita se originou ao norte ou a leste (Elo) e se espalhou para o norte e para o leste, cousa incerta. Mas os resultados das escavaes modernas elucidam a sucesso das culturas primitivas na cpoca-pr-histrica, e a representao bblica do progresso das artes e ofcios bem sustentada pela arqueologia. A roda do oleiro, o barco de pesca com velas, veculos de roda. produo e uso de cobre e bronze, tijolos e selos cilndricos, esto entre as descobertas do homem, como tem sido revelado pela escavao dos lugares mais antigos.

    Minrios de ferro eram fundidos ocasionalmente na Mesopotmia, em data muito remota. Henri F ranklort, em escavaes no Tel Asmar (a anuga Esnuna). descobriu evidencias de uma lmina de ferro, em um vel que datava de cerca de 2.700 A. C. Outros objetos de ferro tm sido encontrados tambm, tais como o pequeno machado de ferro em Ur. A descoberta do ferro por alguma razo, no foi utilizada persistentemente, e no foi usada generalizadamente, em escala industrial, at depois de 1.200 A. C. O perodo de 1.200 - 300 A. C. e conhecido em arqueologia como a Idade do Ferro. Mas as escavaes indicam alfum conhecimento de metais em tempos mais remotos, como o indica Gnesis 4 :2 2 .

  • Captulo IV

    O DILVIO NA TRADIAO SUMRIA E BABILNICA

    O perodo que se estende da criao do liomem at o Dilvio Noico, descrito com breves palavras no registro bfblico. Exceto poi um resumo generalizado da primeira civi- luuiffo, provinda dos descendentes de Caim (Gnesis 4: 16-24), a narrativa, at o tempo do Dilvio. consiste apenas de uma relao genealgica que apresenta os descendentes de Ado de Sete at Nnr (Gnesis 5: 1-31). To rpida foi a depcnerescncia moral da raa. que tinha pouco valor, no

    concerne histria da redeno, registrar algo relativo ao mundo antidiluviano. O julgamento tl dilvio, porm, tanto histrica, como uma advertncia instrutiva para a humanidade, como tipicamente, como uma figura do plano de Deus para a redeno em Cristo, tinha enorme importunem, e por isso extensamente tratado (Gnesis 6-9), na medida do seu significado espiritual.

    1 .0 DILVIO E A LISTA DOS REIS SUMRIOS

    Alem de prover grande abundncia de material paralelo que trata do Dilvio, a nrqueologia lana luz sobre o pouco conhecido perodo antidiluviano, que o registro bfblico Ignora quase totalm ente. De acordo com a Lista dos Reis Sumrios, preservada no prisma de Wi-ld-Blundell, oito soberanos antidiluvianos reinaram nas cidades da Mesopotmia inferior de Eri- tlu, Uadtibira, Laraque, Sipar e Churupaque, por perodos to longos (o reinado mais curto de IR fiOO anos, o mais longo, de 43.200) que o perodo da sua soma totaliza. . . 241.200 anos. lii iossus, um sacerdote babilnico que escreveu muito posteriormente (sculo II A. C.) cita dez nomes ao todo, em vez de oito, e exagera ainda mais a durao dos seus reinados.

    Falharam as tentativas par? estabelecer conexo autntica entre os dez reis anti- diluvianos de Berossus e o registTO hebraico de dez patriarcas de Ado at No. Porm, os nomes que so preservados pela Lista dos Reis Sumrios e por Berossus, representam, evidentemente, innu tradio corrompida dos fatos histricos que so preservados no quinto captulo do Gnesis, n|i iu de constituu indicai o extrabblica da grande durao da vida humana antes do dilvio.

    A tradio do Dilvio, propriamente dito , era constante entre os povos dos t|tuiis os hebreus descenderam. Na Mesopotmia inferior anteriormente conhecida como Sumria Acudia, lar ancestral de Abrao, o Dilvio era lembrado como uma grande crise na histria humana, e preservada atravs de tradio oral e em placas cuneiformes. A Lista dos Reis Sumrios, depois de registrar os oito reis antidiluvianos, interrompe a seqncia com a significativa declara- ydo wguinte, que anteiede a citao dos governantes posdiluvianos: (Ento) o Dilvio varreu ( n Urra). Depois que o Dilvio varreu (a terra) (e) quando a realeza foi (outra vez) baixada do cu, .i realeza estava (primeiramente) em Quis".

    Nos tempos antigos, as inundaes eram comuns no Vale do Tigre-Eufrates. Os ilois grandes rios, cujos leitos foram gradualmente se levantando mais e mais, muitas vezes transbordavam nas pocas de cheias, e freqentemente escavavam para si novos canais. Evidncias de uma inundao assim foi encontrada por C. Leonard Woolp.y em Ur, em um estrato de 2, 40m. tlc harro limpo, que interrompeu os nveis ocupacionais do local, e que ele identificou erradamente tom o um depsito deixado pelo Dilvio Noico. O Capito E, Mackay, e Stephen Langdon, iuvando a localizao da antiga Quis, encontraram uma camada semelhante que, da mesma lonna. interpretaram como um depsito do Dilvio Bblico.

  • Porm, como Ceorge Barton anota corretamente:

    "No h, realmente, evidncia alguma de que esses depsitos de detritos signifiquem mais do que o fato de o Eufrates e o Tigre terem, em certa poca, mudado seus leitos, e corrido, durante certo tempo, sobre partes de Ur e de Quis que eram, anteriormente, desabitadas. . . Na realidade, Henri Frankforte j havia demonstrado anteriormente que, segundo a evidncia da cermica encontrada acima e abaixo do estrato de detritos fluviais dos dois lugares, as duas inundjes no ocorreram ao mesmo tempo, e nem se deram no mesmo sculo\ Portanto, no podiam ter sido o dilvio hiblico. So evidncias de uma submerso temporria dos dois lugares, devido a mudanas do leito dos rios"J

    II. NARRATIVA SUMRIA DO DILVIO

    Os mais notveis paralelos entre o Velho Testamento e todo o corpo de inscries cuneiformes da Mesopotmia, ocorreram em conexo com a histria do Dilvio, preservada na literatura recuperada dos antigos habitantes dessa regio, os sumrios no semticos, e os sucessores da sua cultura e tradio, os babilnicos e assrios semticos, que ali habitaram posteriormente. Se o Velho Testamento dependesse de fontes babilnicas, aqui, como em outras partes, era de se esperar que se encontrassem evidencias que provassem tal argumentao. Devido s grandes semelhanas, um estudo dos registros cuneiformes do Dilvio e dos registros bblicos, de especial interesse.

    A histria do dilvio era bem conhecida na Mesopotmia, e gozava de grande popularidade, como o indicam as duas diferentes formas, quer sozinhas, quer ligadas a outras composies literrias que sobreviveram. Pelo menos uma edificao sumria e quatro acdias (assrio-babilnicas) so-nos conhecidas, sc incluirmos a narrativa grega de Berossus entre as ltimas.^

    A mais antiga verso do Dilvio a sumria. registrada no fragmento dc uma placa descoberta na antiga Nipur, a meio caminho entre Quis e Churupaque. na Babilnia norte-central Data, mais provavelmente, de antes de 2.000 A, C.. e inscrita em ambos os lados, com trs colunas de cada lado. A primeira coluna faia de uma destruio anterior da humanidade, e como a humanidade e os animais foram criados. A segunda coluna relata como uma divindade fundou cinco cidades, inclusive EriHu, ipar e Churupaque, indicando para cada uma um deus tutelar, e estabelecendo canais dc irrigao. A terceira coluna apresenta o Dilvio, que fez a deusa Istar (Ninhursague) sofrer pelo seu povo. Naquela poca, Ziusudra (Zusudu) era rei-sacerdote. Mediante as horrveis notcias do Dilvio, Ziusudra fez um dolo de madeira, representando a divindade principal, e adorava-o diariamente.

    Na coluna seguinte, Ziusudra recebe instrues para ficar perto de uma parede onde deveria receber uma comunicao divina a respeito do desastre iminente. Dessa forma o propsito dos deuses de destruir a humanidade lhe revelado.

    Na quinta coluna, o Dilvio comeou, e Ziusudra est lutando para sobreviver em um grande barco, quando a placa quebrada interrompe a narrativa:

    /Is chuvas tempestuosas, ventos fortes, todos, mandam eles Os Dilvios caem sobre a. . .Quando por sete dias e sete noites O Dilvio havia assolado a TerraE o enorme barco havia sido agitado sobre as grandes guas, pelas tempestades,O deus sol levantou-se, fazendo brilhar a luz nos Cus e sobre a Terra.Ziusudra fe z uma abertura no lado do grande navio.Ziusudra, o rei,Diante do deus-sol curvou a face ai o cho.O rei sacrificou um touro, ovelhas ele sacrificou em grande nmero.3

  • Tendo pussado a temvel tempestade, a coluna termina com Ziusudra recebendo o $i)iu da Imortalidade, e sendo levado a uma semelhana de habitao paradisaca, chamada a

    | uiuiiianlm dc Dilmum, paia viver para sempre

    Ziusudra, o rei.Diante de Enlil curvou a face at o cho;Este deu-lhe vida como a de um deus,Uma alma eterna como a de um deus, ele lhe outorgou.Naquele tempo, Ziusudra, o rei.Chamado Salvador dos viventes e semente da humanidade''Eles fizeram com que habitasse na montanha inacessvel, montanha de DilmumA

    III. NARRATIVA BABILNICA DO DILVIO

    Baseada na tradio sumria, sua antecessora, porm muito mais ampla, a verso babilnica do Dilvio constitui o dcimo-primeiro livro da famosa Epopia assirio-habilnica de Gilgamesh. O texto, na forma existente, vem da biblioteca do rei assrio Assurbanpal (669-626 A. C.), mas fora transcrito de originais muito mais antigos. As placas do Dilvio foram desenterradas em Cuiunjique (Ninive) por Hormuzd Rassam em 1SS3, mas no foram identificadas at 1872, quando George Smith, que ento se dedicava em estudar e classificar as descobertas cunei- 1'ormes de Cuiunjique, examinou-as novamente e as identificou.

    De todas as tradies amigas que se relacionam com o Velho Testamento, a estria do Dilvio Babilnico, incorporada Epopia de Gilgamesh, manifesta a mais impressionante e minuciosa semelhana com a Bblia. O No sumrio, Ziusudra, aparece na tradio babilnica como nome de Utnapistim, Dia da Vida . As emocionantes aventuras de Gilgamesh, e a sua busca final da vida eterna, levam-no, por fim, a Utnapistim, o imortal. Este. ao explicar a Gilgamesh a maneira pela qual obtivera a imortalidade, faz um relato completo do Dilvio. este aspecto da Epopia de Gilgamesh, ao lado da opinio que ela apresenta a crena antiga em uma vida depois da morte, que a torna de interesse especial para os estudiosos da Bblia.

    Na Epopia, que reconhecida como o mais longo e mais belo dentre os poemas babilnicos, embora tenha sido desenterrado na Mesopotmia, o grande heri Gilgamesh aparece como o lendrio e semi-divino rei de Uruque, a Ereque bblica (Gnesis 10: 10), e moderna Warka, ao sudoeste da Sumria. Gilgamesh tem um amigo chamado Enquidu, que seu companheiro fiel em numerosas aventuras e dificuldades. Quando Enquidu morre, Gilgamesh cai num estado de desconsolo to desesperador que empreende uma viagem arriscada atravs de montanhas jamais

    ' transpostas e perigosas guas mortferas, para encontrar Utnapistim, o imortal, a fim de aprender dele a natureza da vida alm da morte, e a possibilidade de obter a imortalidade.

    No undcimo livro da epopia, Utnapistim explica a Gilgamesh a sua imortalidade, fazendo-lhe uma narrativa do Dilvio. Nesta notvel estria, o chamado Noc Babilnico relaciona a sua posse da vida eterna com a ddiva de um dos deuses aps a catstrofe, quando ele foi conduzido para fora do navio. As circunstncias deram ocasio narrativa mais completa e mais impressionante do Dilvio, que pdc ser encontrada fora da Bblia.

    Utncpistim disse a ele, a Gilgamesh:Eu te revelarei, Gilgamesh, um fato oculto E um segredo dos deuses eu te contarei:Churupaque - cidade que conheces,(E) que (s margens do) Eufrates est -Aquela cidade era antiga, (bem como) os deuses dentro dela,Quando o corao deles levou osgrandees deuses a produzir o dilvio.^

    Depois que os deuses resolveram mandar o Dilvio sobre a terra, um aviso foi despachado para Utnapistim atravs de Ea, deus da sabedoria. O heri do dilvio avisado, possivelmente atravs das paredes da sua casa, que so consideradas como uma barreira enire ele e a voz da divindade:

  • Choupana de bambul Choupana dc bambu\ Parede. Parede\ChouDam de bambu, escuta \ Parede, refletel Homem de Ch