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1 Arquitetura em contêineres: Pesquisa de alternativas para o projeto mais sustentável Architecture in containers: Research for more sustainable design alternatives Arquitectura en contenedores: Busca por alternativas de diseño más sostenible CASTELNOU NETO, Antonio Manoel Nunes Doutor, Universidade Federal do Paraná, [email protected] LEONE, Jessica Torres Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Paraná, [email protected] RESUMO A reutilização arquitetônica de contêineres é relativamente recente, mas vem ganhando notoriedade, tanto por sua versatilidade e aspectos estéticos, como devido ao baixo custo e rapidez de construção; fatores convenientes para obras temporárias, de assistência humanitária ou arquitetura de eventos, além do apelo sustentável, que faz com que também seja encontrada em construções de moradias, bares, restaurantes, lojas, escritórios e outros programas funcionais. No Brasil, já existem projetos extensamente divulgados que se enquadram neste tipo de arquitetura, mas ainda há carência de trabalhos que norteiem sua prática ou avaliem a qualidade dos resultados obtidos. A partir de um breve estudo exploratório, de cunho teórico-conceitual, este artigo visa apresentar algumas observações sobre o surgimento, caracterização e aplicabilidade desses recipientes de carga e transporte na área da arquitetura, exemplificando sua tipologia e definindo diretrizes gerais de concepção, projeto e execução, as quais auxiliem propostas de espaços que se pretendam inovadores e originais, além de se constituírem em alternativas para uma prática arquitetônica mais sustentável. PALAVRAS-CHAVE: contêiner, sustentabilidade, diretrizes, arquitetura sustentável. ABSTRACT The architectural reuse of containers is relatively recent, but has gained notoriety because of its versatility and aesthetic aspects, as well as due to low cost and speed of construction; convenient factors for temporary works, humanitarian assistance and architecture to events. Thanks to its sustainable appeal, it is also found in construction of houses, bars, restaurants, shops, offices and other functional programs. In Brazil, there are already widely publicized projects in this type of architecture, but there is still lack of studies to guide its practice or to assess the quality of its results. Based on a brief exploratory study of theoretical-conceptual nature, this article presents some comments on the origin, characterization and applicability of these transportation and cargo containers in architecture area, exemplifying their typology and setting general guidelines for conception, design and execution, which help proposals for innovative and original spaces, being alternatives to a more sustainable architectural practice. KEY-WORDS: container, sustainability, guidelines, sustainable architecture. RESUMEN La reutilización arquitectónica de contenedores es relativamente reciente, pero está ganando renombre tanto por su versatilidad y aspectos estéticos, así como debido al bajo costo y rapidez de la construcción; factores convenientes para obras temporales, de asistencia humanitaria y arquitectura de eventos. Gracias a la apelación

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Arquitetura em contêineres: Pesquisa de alternativas para o projeto mais sustentável

Architecture in containers: Research for more sustainable design alternatives

Arquitectura en contenedores: Busca por alternativas de diseño más sostenible

CASTELNOU NETO, Antonio Manoel Nunes Doutor, Universidade Federal do Paraná, [email protected]

LEONE, Jessica Torres Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Paraná, [email protected]

RESUMO A reutilização arquitetônica de contêineres é relativamente recente, mas vem ganhando notoriedade, tanto por sua versatilidade e aspectos estéticos, como devido ao baixo custo e rapidez de construção; fatores convenientes para obras temporárias, de assistência humanitária ou arquitetura de eventos, além do apelo sustentável, que faz com que também seja encontrada em construções de moradias, bares, restaurantes, lojas, escritórios e outros programas funcionais. No Brasil, já existem projetos extensamente divulgados que se enquadram neste tipo de arquitetura, mas ainda há carência de trabalhos que norteiem sua prática ou avaliem a qualidade dos resultados obtidos. A partir de um breve estudo exploratório, de cunho teórico-conceitual, este artigo visa apresentar algumas observações sobre o surgimento, caracterização e aplicabilidade desses recipientes de carga e transporte na área da arquitetura, exemplificando sua tipologia e definindo diretrizes gerais de concepção, projeto e execução, as quais auxiliem propostas de espaços que se pretendam inovadores e originais, além de se constituírem em alternativas para uma prática arquitetônica mais sustentável.

PALAVRAS-CHAVE: contêiner, sustentabilidade, diretrizes, arquitetura sustentável.

ABSTRACT The architectural reuse of containers is relatively recent, but has gained notoriety because of its versatility and aesthetic aspects, as well as due to low cost and speed of construction; convenient factors for temporary works, humanitarian assistance and architecture to events. Thanks to its sustainable appeal, it is also found in construction of houses, bars, restaurants, shops, offices and other functional programs. In Brazil, there are already widely publicized projects in this type of architecture, but there is still lack of studies to guide its practice or to assess the quality of its results. Based on a brief exploratory study of theoretical-conceptual nature, this article presents some comments on the origin, characterization and applicability of these transportation and cargo containers in architecture area, exemplifying their typology and setting general guidelines for conception, design and execution, which help proposals for innovative and original spaces, being alternatives to a more sustainable architectural practice.

KEY-WORDS: container, sustainability, guidelines, sustainable architecture.

RESUMEN

La reutilización arquitectónica de contenedores es relativamente reciente, pero está ganando renombre tanto por su versatilidad y aspectos estéticos, así como debido al bajo costo y rapidez de la construcción; factores convenientes para obras temporales, de asistencia humanitaria y arquitectura de eventos. Gracias a la apelación

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sostenible, también es encontrada en construcción de viviendas, bares, restaurantes, tiendas, oficinas y otros programas funcionales. En Brasil, ya hay proyectos ampliamente publicitados que son de este tipo de arquitectura, pero todavía hay falta de estudios para guiar su práctica o evaluar la calidad de los resultados. A partir de un estudio exploratorio, de carácter teórico-conceptual, este artículo presenta algunos comentarios sobre los orígenes, caracterización y aplicabilidad de estos contenedores de carga y transporte en el campo de la arquitectura, ejemplificando su tipología y estableciendo directrices generales para concepción, diseño y ejecución, que colaboren con propuestas de espacios innovadores y originales, además de convertirse en alternativas para una práctica arquitectónica más sostenible.

PALABRAS-CLAVE: contenedor, directrices, sostenibilidad, arquitectura sostenible.

1 INTRODUÇÃO

A arquitetura em contentores, contêineres ou containers vem se configurando em uma solução cada

vez mais disponível para desenvolvimento de edificações sustentáveis no século XXI. Recentemente,

designers, arquitetos e outros profissionais passaram a dar um novo uso para esta caixa pré-

fabricada que, até pouco tempo atrás, era somente utilizada para armazenamento e transporte de

bens. Hoje em dia, os contêineres podem ser – e são – empregados para os mais diversos tipos de

projeto, como bares, lojas e inclusive moradias, além de outros programas menos convencionais.

Apesar de ser ainda um ramo novo, esta tipologia de construção vem conquistando cada vez mais

campos de aplicação, demonstrando varias vantagens em relação aos métodos tradicionais.

No Brasil, embora seu uso não seja frequente, é possível encontrar, principalmente nos grandes

centros urbanos, casas e lojas que se utilizaram de containers para as suas estruturas. O emprego

desses elementos em projetos e construções quase sempre é escolha do arquiteto, que os aplicam

em suas próprias residências, que permitem maior liberdade de criação; ou em projetos conceituais,

como cafeterias e boutiques, entre outros, que procuram chamar a atenção por sua estrutura

inovadora e atrair clientes. Os contêineres também são uma ótima solução para abrigos temporários;

uma pequena casa; ou ainda a ampliação de uma residência já existente. Entre suas vantagens estão

a redução do custo da obra e a rapidez de execução, destacando-se como maior inconveniente a

questão do conforto térmico, o que pode ser resolvido por cuidados no projeto e construção.

Este artigo vincula-se à pesquisa intitulada “Arquitetura e sustentabilidade: Bases conceituais para o

projeto ecológico”, desenvolvida junto a acadêmicos do curso de graduação em arquitetura e

urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR); e trata de um breve estudo sobre o reuso de

contêineres, seu surgimento, conceituação e caracterização; além de exemplificar sua tipologia. Visa

ainda a definição de diretrizes gerais de concepção, projeto e execução, as quais auxiliem propostas

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de espaços que se pretendam inovadores e originais, ao mesmo tempo em que se constituam em

alternativas para uma prática arquitetônica mais sustentável.

2 SUSTENTABILIDADE EM ARQUITETURA

No início dos anos 1970, ocorreu em Estocolmo (Suécia), a Conferência das Nações Unidas sobre o

Meio Ambiente Humano (CNUMAH), que pode ser considerada a primeira reunião efetiva da

comunidade internacional, voltada a discutir a relação das atividades humanas com o meio

ambiente, avaliando seus impactos sobre a natureza e, deste modo, dando início à preocupação

ambiental, que foi se intensificando nas décadas seguintes. Com a divulgação do Relatório

Brundtland, em 1987, o termo “sustentabilidade” passou a ser difundido mundialmente e, por

consequência, a ideia de “desenvolvimento sustentável” ganhou cada vez mais significado,

transformando-se em um objetivo comum a praticamente todo o mundo industrializado.

Consolidado a partir da realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento (CNUMAD), ocorrida no Rio de Janeiro – a Eco-92 definiu suas principais

características e estratégias, inclusive através de uma agenda de compromisso internacional: a

Agenda 21 (BARBIERI, 1997) –, o desenvolvimento sustentável passou a ser entendido como aquele

que visa suprir as necessidades dos seres humanos e da sociedade contemporânea, sem

comprometer o futuro das próximas gerações em atender suas próprias necessidades. Decorrentes

disto nasceram as ideias de economia e crescimento sustentáveis, que teriam desdobramentos em

todas as áreas, inclusive na construção civil. Tanto que, em 21 de junho de 1993, no congresso

ocorrido em Chicago IL (EUA), a União Internacional dos Arquitetos (UIA), em conjunto com o

American Institute of Architecture (AIA), estabeleceu a “Declaração de Interdependência para um

Futuro Sustentável”, que colocou a sustentabilidade como o centro de responsabilidade profissional,

convocando todos para a prática da chamada arquitetura sustentável ou green architecture.

(COMARCHITECT, 1993; WINES, 2000)

Visando produzir edificações que se adéquam, ao mesmo tempo, às condições ecológicas e sociais de

um determinado lugar, a green architecture emprega tecnologias “verdes” e intenta conciliar a

tradição e novas possibilidades, em especial por meio da aplicação de tecnologias “limpas”, que

garantam a eficiência energética, a adequada especificação de materiais e a proteção da natureza

(GAUZIN-MÜLLER, 2002). Em outros termos, procura otimizar, no projeto arquitetônico e sua

execução, os recursos naturais disponíveis, diminuindo o impacto que uma obra poderá causar. Com

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vistas a isto, para Stang et Hawthorn (2005), uma casa sustentável deve ter, no mínimo, “o menor

tamanho possível, uma orientação solar adequada e ser localizada o mais próximo possível de

transportes públicos e locais de trabalho e estudo” (p. 13). Ainda segundo os autores, para os

arquitetos comprometidos com a ideia de sustentabilidade, outras medidas podem ser tomadas,

como o uso de: materiais recicláveis e reaproveitamento de estruturas já existentes; materiais com

baixo consumo energético, tanto para sua produção como transporte; e materiais naturais como

madeira de reflorestamento. Soma-se a isto a aplicação de sistemas de luz eficiente; de coleta e

reaproveitamento das águas pluviais; e de ventilação natural e energia solar; estratégias para que a

edificação tenha uma vida longa.

Com vistas à sustentabilidade, a alternativa arquitetônica pelo reaproveitamento de estruturas inclui

não somente a reciclagem de edificações antigas, mas também o reuso de contêineres ou

contentores de carga, o que vem acontecendo como opção por uma arquitetura mais sustentável.

Apesar de serem reutilizáveis, muitos deles acabam em depósitos portuários quando já passaram do

seu tempo de vida útil. Alguns, mesmo em perfeitas condições, são deixados de lado após o uso, pois

custa mais caro mandá-los de volta ao local de origem do que comprar novos. Por causa da sua

estrutura metálica, de grande resistência e durabilidade, além de seu baixo custo, o contêiner

chamou a atenção de projetistas, que, de acordo com Slawik et al. (2010), começaram a se dedicar à

sua reutilização e aplicação em outras áreas distintas.

3 ARQUITETURA EM CONTÊINERES

Próprios para carga, armazenamento e transporte, os contêineres são feitos para suportar fortes

chuvas, ventos e demais condições adversas de tempo e movimento, mesmo quando estão

empilhados em grande quantidade. Sua volumetria e geometria permitem que sejam reutilizados de

diversas maneiras e composições variadas, transformando-se em abrigos temporários, residências,

lojas, escritórios e escolas (KOTNIK, 2008; 2010). Embora possuam sempre a mesma forma – de um

prisma retangular com dimensões internacionalmente padronizadas –, possibilitam a composição em

vários arranjos, podendo ser combinados com outras estruturas, formando uma composição mista;

ou ainda, funcionarem como extensão de uma construção já existente. Isto acaba por desmistificar a

ideia de que sua arquitetura resulta sempre igual e monótona. (FOSSOUX; CHEVRIOT, 2013)

O que é um contêiner

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Denomina-se contêiner – do inglês container, proveniente do verbo to contain (conter;

encerrar; acomodar) – um recipiente geralmente de metal, destinado ao acondicionamento e

transporte de carga em navios, trens e aviões, entre outros meios. Do ponto de vista geométrico, um

container padrão ISO é um prisma retangular com seis faces e pelo menos uma abertura (Figura 1).

Figura 1: Elementos constituintes de um contêiner Padrão ISO

Fonte: OEC Group, 2015; adaptado.

Estruturalmente, trata-se de uma caixa metálica, com base de aço e revestimento feito em aço COR-

TENi com perfis especiais padronizados e paredes portantes, cujos pontos principais de apoios de

cargas são seus cantos (SLAWIK et al., 2010). Além disto, um contêiner possui piso em madeira

aglomerada, cuja resistência é semelhante à de um pavimento de concreto (300 kg/m2), sendo

selado internamente com silicone e, como é feito para ser empilhado, suporta até quatro vezes o seu

peso (FOSSOUX; CHEVRIOT, 2013). O tipo de aço utilizado torna o contêiner resistente a todos os

tipos intempéries, como frio e calor excessivos, chuvas intensas, maresia, fogo e também roedores,

bem como as vedações em silicone o impedem de afundar no mar (KOTNIK, 2008). Cabe observar

que a capacidade estrutural dos containers é bastante elevada, porém, devido a variações dessa, o

limite para o empilhamento vertical varia de três a oito andares. (SLAWIK et al., 2010)

Também conhecido como cofre de carga, um contêiner é dotado de dispositivos de segurança

previstos por legislações nacionais e convenções internacionais, sendo fabricado em vários

tamanhos, existindo três tipos mais comuns: os de 20, 40 e 45 pés de comprimento, cujas medidas

estão no sistema inglês, também comum nos EUA e em outras partes do mundo (1 pé = 12 polegadas

= 30,48 cm). Tanto a altura como a largura dos contêineres são padronizadas em 8 pés ou 2,44 m.

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Essa padronização facilita o transporte – que pode ser terrestre, marinho ou aéreo –, além de

permitir a modulação, o que facilita o armazenamento e o empilhamento em portos e hangares, já

que esses módulos podem ser combinados e, em conjunto, formarem arranjos que facilitam sua

logística. Hoje em dia, os contêineres têm como característica principal constituírem uma unidade de

carga independente, com dimensões-padrão em pés, cuja unidade-base considerada é o TEU – do

inglês Twenty Equivalent Unit. (LEVINSON, 2003)

Embora os contentores de carga pareçam ser uma das características omnipresentes dos portos modernos ou da paisagem urbana, são uma invenção relativamente recente, inspirada sem dúvida pelos contentores militares normalizados do tipo desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA nos anos 1950. A Organização Internacional da Normalização (ISO) baseou os seus critérios para os contentores intermodais (aptos para serem colocados em navios ou diretamente em veículos pesados ou comboios, 1970) no exemplo das forças armadas norte-americanas. (JODIDIO, 2011, p.38)

Pode-se dizer que a definição do contêiner como se conhece hoje nasceu em 1937 com o norte-

americano Malcolm Purcell McLean (1913-2001); motorista e dono de uma pequena empresa de

caminhões, que, ao observar o lento embarque de fardos de algodão no porto de Nova York, teve a

ideia de armazená-los e transportá-los em grandes caixas de aço, as quais pudessem ser embarcadas

nos navios. Considerado o pai da moderna contentorização (containerization), McLean, em conjunto

ao engenheiro Keith Tantlinger (1919-2011), desenvolveu o contêiner intermodal, aprimorando seus

métodos de trabalho, expandindo sua companhia e chegando até os portos europeus em 1966.

(DONOVAN; BONNEY, 2006)

Depois disso, entre 1968 e 1970, foram publicadas, pela Organização Marítima Internacional

(International Maritime Organization), normas ISO para contêineres, cujos padrões permitiram a

melhoria do carregamento, transporte e descarga de mercadorias em portos de todo o mundo,

economizando tempo e recursos. A Convenção Internacional para a Segurança dos Contêineres (CSC)

foi regulamentada em 1972 pela Organização Inter-governamental Marítima Consultiva (Inter-

governmental Maritime Consultative Organization), que passou a garantir o transporte e manuseio

seguro de contêineres. (LIGHTHOUSE, 2013)

Tipos de contêineres

No sentido do carregamento, a invenção do contêiner foi uma revolução, pois a carga de um

caminhão, por exemplo, poderia ser passada para um navio ou trem sem perda de tempo com a

mudança de meio de transporte. Era preciso somente de um guindaste para movê-lo de um lugar

para o outro. Atualmente, cerca de 90% das mercadorias são transportadas nesses recipientes pré-

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fabricados, devido ao fato do contêiner de carga ser “uma forte, modular e móvel ferramenta, que

está incorporada num padrão mundial para facilitar o transporte”. (KRONENBURG, 2008, p. 43)

Quanto aos principais tipos de containers, Donovan et Bonney (2006) identificam os seguintes como

os mais comumente encontrados:

Dry Box (carregamento final/inclusão completa): trata-se do contêiner intermodal básico,

também chamado de dry van, com portas no final, acomodáveis para cargas que não

requerem controle ambiental quando em rota e/ou que são geralmente físicas e secas,

como: alimentos, roupas e móveis, entre outros. Equipado com portas ventiladas nas

extremidades ou laterais, também é usado para cargas geradas por calor, as quais requerem

proteção contra avarias de condensação (sudação). Há versões com ventilação elétrica, nas

quais ventiladores são encaixados com defletores para prevenir a entrada de água;

Dry Box (carregamento lateral/inclusão completa): semelhante ao anterior, diferencia-se por

estar equipado com porta lateral para uso de carga e descarga onde não seja prático o uso de

portas finais, assim como quando necessita permanecer nos trilhos enquanto o

carregamento é colocado ou removido do contêiner. Além de portas tradicionais, há versões

com abertura de uma só lateral ou de ambas, tanto esquerda como direita;

Open Top (abertura de topo): contêiner usado para carretos pesados ou itens desjeitosos,

onde o carregamento ou descarregamento através das portas finais e laterais seja

impraticável, como grãos e produtos químicos secos. A maioria é equipada com cobertura

em tecido, sendo indicado como contêiner de topo “suave” ou “rude”. Há alguns contêineres

de abertura de topo encaixados com cobertura de painéis removíveis tipo hatch ou teto em

metal totalmente destacável;

Tank (contêiner cisterna): é aquele voltado ao armazenamento e transporte de líquidos a

granel, inclsuive perigosos, que geralmente é composto por uma cisterna suportada por um

paralelepípedo de vigas metálicas, cujas dimensões equivalem às do dry box. Uma variante

denominada flexi-tank permite que se fixe um depósito flexível de poliuetileno (flexibag), o

qual é designado para especificações de alto nível;

High Cube: contêiner destinado a cargas de alto volume, baixo peso e/ou que podem

aumentar sua área cúbica. Geralmente, possui comprimento de 40 pés (~12 m) e altura de

9,6 pés (~2,9 m);

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Flat Rak: contêiner que não possui as paredes laterais e, em alguns casos, também as frontais

e posteriores, destinados a cargas atípicas, como automóveis ou animais vivos (aves

domésticas, gado e outros);

Reefer: contêiner refrigerado e/ou isolante, isto é, equipado com um sistema embutido de

refrigeração ou calefação, além de termostato, o que permite a conservação de frio ou calor

por meio de conexões elétricas diretas – em baixas correntes trifásicas – ou geradores à

gasolina ou diesel. É usado primariamente para alimento ou outros artigos que requerem

temperatura controlada de ambiente, os quais não poderiam ser expostos a mudanças

rápidas ou bruscas de temperatura, havendo versões ventiladas e não-ventiladas;

Plataform: é aquele que possui prateleiras retas, removíveis ou não, disponíveis em vários

modelos e tamanhos, que são usadas para madeira, maquinários, vestuários, veículos e

produtos de moinho pesados, largos e desajeitados;

Marad: contêiner experimental de topo aberto, desenvolvido pela marinha norte-americana

para adaptar a navios cargueiros o transporte de equipamentos pesados, principalmente

militares, fora de padrões. A construção do piso work-trough (seção do piso aberta por uma

manivela própria) pode reduzir tanto o tempo de descarregamento como o espaço de

armazenamento no pier, desde que as cargas não necessitem ser removidas da destinação.

Uso arquitetônico de contêineres

Em termos gerais, um contêiner possui características que diversos arquitetos procuram para seus

projetos: é modulado, padronizado e pré-fabricado, o que diminui seu custo; é fácil de transportar e

está disponível pelo mundo todo, o que não limita o mercado consumidor e torna-o relativamente

barato; e, por fim, é reciclável para inúmeros usos. Tal combinação de fatores, segundo a Intermodal

Steel Building Units and Container Homes Association (ISBU), está fazendo com que esse novo ramo

da arquitetura sustentável cresça em velocidade incrível. Apesar destas vantagens, as quais

colocariam os containers como elementos de grande potencialidade arquitetônica há muito tempo,

foi somente décadas após a sua invenção – mais precisamente da década de 1990 em diante – que o

interesse por eles aumentou, este despertado pela crescente discussão ambientalista e

consequentes premissas por uma arquitetura mais sustentável, o que acabou dando às caixas de

McLean novos usos. Espalhadas por todo o planeta, continuaram com a mesma forma, mas, nas

mãos de criativos projetistas, transformaram-se em moradias de diversos tamanhos, além de

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escritórios, lojas, escolas, espaços de eventos, quartos de hotéis, quadras de esportes e, até mesmo,

obras de arte contemporânea. (KRONENBURG, 2008; SUSTAINABLE ARCHITECTURE, 2013)

Diante disso, Kotnik (2008; 2010) classifica a reutilização arquitetônica do contêiner em diversas

tipologias, a saber: uma única unidade; uma composição delas; combinadas com outra estrutura;

como extensão de uma construção já existente; várias colocadas sobre os edifícios ou dispostas

dentro de uma edificação; e, finalmente, construções que flutuam com contêineres. A primeira

categoria de reuso – a de um único container – consiste no tipo mais comum entre as atuais

construções em contêineres, sendo muito popular entre os projetos conceituais. Além de a

mobilidade ficar mais fácil, com apenas uma dessas caixas, tem-se o espaço suficiente para formar

um pequeno bar, loja, ateliê ou alojamento. Geralmente, o emprego de apenas um elemento não

necessita de permissão para sua construção, diminuindo a burocracia envolvida nos projetos.

Embora os primeiros projetos com estrutura em contêineres terem como base apenas uma caixa, o

que apareceu por volta dos anos 1990, a facilidade de empilhamento e conexão entre si fez com que

surgissem, logo em seguida, as composições de diversas unidades colocadas juntas. Muitas vezes um

único contêiner não proporciona espaço suficiente para determinado programa; e a solução para isso

passou a ser a combinação de vários deles. Não há limite de quantos contêineres se pode usar em

um projeto: é possível combinar apenas dois deles, para uma casa de férias; ou unir uma centena

deles para formar um shopping center. Nestes casos de grandes agrupamentos, o contêiner Padrão

ISO deve ser aquele utilizado, pois já possui a estrutura necessária. (KOTNIK, 2008; 2010)

A terceira maneira de criar arquitetura de contêineres, ainda segundo o mesmo autor, são associá-

los com outra estrutura. Apesar da versatilidade e de todas as facilidades que podem ser

encontradas nos contêineres, eles não representam uma solução para tudo. Logo, se combinados

com outros sistemas, alcançam um potencial ainda maior. Em um terreno com declive, por exemplo,

o uso de uma laje em concreto pode ser a melhor solução, assim como, para o calor excessivo, um

revestimento de madeira ajuda: nestes casos, a estrutura em container acaba sendo mista.

Por sua vez, um modo simples de adicionar espaço ao ambiente são as extensões feitas com

contêineres. A sua montagem é rápida e silenciosa, não causando grande impacto ao local, além de

poder ser desmontada facilmente quando não for mais necessária. Do mesmo modo, a estrutura leve

dos contêineres permite que estes também sejam utilizados nos terraços. Eles não necessitam de

uma fundação especial e sua montagem não atrapalha a vida dos moradores de um prédio, sendo

empregados como escritórios e coberturas. (KOTNIK, 2008; 2010)

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Ainda de acordo com a mesma fonte, os contêineres são também utilizados do lado de dentro das

construções. Como precisam de um pé-direito alto para a sua instalação, são mais encontrados no

interior de grandes pavilhões e espaços públicos, mas não deixam de ser usados também dentro de

residências. Assim, funcionam como um ambiente especial dentro de um lugar maior, levando um

novo programa para o local, o que pode ser bem diversificado: galeria, estúdio, almoxarifado, sala de

reuniões, um dormitório a mais e até mesmo um palco para shows. Ainda, os contêineres podem ser

colocados em cima de balsas e funcionarem como casas flutuantes. Esta é uma opção atraente para

quem vive em um lugar em que as leis para as construções de embarcações são menos exigentes do

que aquelas para obras em solo. Por ser uma estrutura leve, o contêiner é ideal para este tipo de

construção, tendo a vantagem de poder ser colocado flutuando em rios ou lagos, onde, por exemplo,

obras sobre o solo são proibidas.

Os containers também estão sendo utilizados para formarem complexos urbanos como bairros

residenciais, comerciais ou mistos. Exemplificando, já existe a Container City, localizada na região de

Docklands, em Londres (Inglaterra), que foi concebida pelo arquiteto Nicholas Lacey no início da

década de 2000. Seu sucesso fez nascer um segundo empreendimentoii, além de outros em diversos

países. Essas “cidades” foram criadas a partir da união de vários contêineres de diversos tamanhos e

com encaixes flexíveis, gerando uma construção modular altamente versátil, que oferece

acomodações acessíveis para uma gama de utilizações. Além disso, a Container City foi executada

com metade dos custos e em menos da metade do tempo que uma obra tradicional.

Em 2006, foi construída em Amsterdã (Holanda), a maior cidade-contêiner do mundo, Keetwonen;

um complexo de moradias estudantis criado pela empresa Tempohousing a partir da reutilização de

1.000 contêineres. Além da reciclagem desta grande quantidade de caixas metálicas, o conjunto

ainda integrou um telhado que acomoda a drenagem das águas pluviais enquanto proporciona

dispersão de calor e isolamento para os contêineres abaixo. O complexo seria desmontado em 2011,

mas devido ao sucesso alcançado, seu tempo foi prorrogado até 2016. (ARCOWEB, 2013)

Vantagens e desvantagens

Pode-se apontar varias vantagens da reciclagem arquitetônica de containers em relação às

tecnologias construtivas convencionais, as quais são: a modularidade e consequente variedade

compositiva; a leveza da estrutura; a resistência a intempéries; a ampla quantidade disponível; a

rapidez na obra quando comparada à alvenaria; o menor custo de fundação e o apelo sustentável.

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Além destes pontos positivos, destaca-se a semelhança com sistemas pré-fabricados, devido ao

menor custo por m2 e por sua fabricação em escala, o que acrescenta como vantagens o preço de

consumo e a economia no custo final da obraiii. Há ainda a conveniência de uso em áreas de risco –

por exemplo, de terremotos –, já que o container apresenta um comportamento estruturalmente

elástico. (KOTNIK, 2008; KRONENBURG, 2008)

Em termos construtivos, os contêineres funcionam como grandes monoblocos. De acordo com

Socrates (2012), os painéis laterais, assoalho, terças, portas, moldura e trilhos formam um conjunto

estrutural, o que permite que o container seja autoportante e, portanto, empilhado. Eles são

resistentes e destinados originalmente a transportar cargas que geram mais esforço do que uma

residência típica. No entanto, ao se fazer aberturas, a estrutura perde parte de sua resistência. Se,

por exemplo, retirar toda vedação lateral, a estrutura, mesmo sem esforços, pode se deformar. Por

isto, sempre que for necessário fazer uma abertura, deve ser feita uma moldura em volta da mesma.

Além disso, pode ser preciso a instalação de vigas e suportes no telhado, dependendo do tamanho

das aberturas e das cargas sobre a estrutura.

Há ainda a vantagem de levar o módulo em container ao terreno pronto para ser utilizado, o que

garante redução de tempo e de custo gerado durante o período de construção. Isto é possível

porque o contêiner já possui paredes, piso e cobertura formando sua estrutura. Ademais, o

empilhamento e fixação desses elementos são relativamente rápidos, sendo necessário apenas um

guindaste. Isto sem contar que não é necessário fazer grandes movimentações de terra para

implantar a edificação, o que reduz o impacto sobre o local. Outro ponto positivo refere-se à

flexibilidade do sistema, ou seja, a possibilidade de ampliação gradual das construções que utilizam

containers, conforme as necessidades dos usuários. Soma-se a tudo isto a estética industrial e sua

forma, os quais favorecem a criação de terraços e tetos-jardim, assim como a implantação em

terrenos estreitos, além de conseguirem simbolizar – ou traduzir expressivamente – a nossa era

altamente tecnificada. (SLAWIK et al., 2010; FOSSOUX; CHEVRIOT, 2013)

Quanto às desvantagens do reuso arquitetônico de contêineres, estas podem ser contornadas a

partir da utilização de materiais e técnicas adequadas, além do criterioso projeto arquitetônico e da

capacidade do arquiteto em resolver as limitações do sistema. Entre os pontos negativos estão: os

problemas de conforto térmico – já que o container, em seu material e forma, possui capacidade

térmica alta –, o que pode ser resolvido com isolamento (poliuretano ou lã de rocha, ovelha, etc.) e

espessuras adequadas de revestimento; e a necessidade de tratamento químico dos contêineres

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usados (jateamento), este necessário para evitar eventual contaminação por cargas transportadas

(PAGNOTTA, 2011). Cita-se ainda a fragilidade causada pelas modificações na estrutura e a

necessidade de mão-de-obra específica – portanto, mais cara – para fazê-las corretamente e garantir

a estabilidade da construção. Há igualmente os problemas representados pela largura pequena e pé-

direito baixo das unidades, os quais podem ser contornados pelo uso de mais containers, unidos ou

articulados, assim como a espessura adequada de revestimentos e/ou emprego de pés-direitos

duplos. (KOTNIK, 2008; SLAWIK et al., 2010)

No que se refere aos problemas térmicos, conforme Fossoux et Chevriot (2013), há basicamente

duas formas de isolamento: interna e externa. A primeira é a opção mais econômica, contudo menos

eficiente, por perder facilmente calor interno. Isto se deve ao fato da espessura do isolamento ser

menor – em média, 10 cm –, para não perder espaço interior, que já é restrito. Além disso, é possível

manter as folhas metálicas aparentes, as quais já são resistentes às intempéries, sendo necessário

colocar apenas uma vedação interna. Já com o isolamento externo, há uma perda de calor menor.

Como não há problema de espaço, pode-se instalar um isolamento mais espesso, entre 10 e 30 cm.

Contudo, é preciso colocar uma vedação resistente de material resistente às intempéries, o que

encarece a obraiv. Kotnik (2008) acrescenta ainda como soluções para a questão térmica a utilização

de isolantes cerâmicos usados na indústria aeroespacial; ou o emprego de uma fachada adicional

para o calor composta por painéis ou pérgolas.

4 DIRETRIZES DE PROJETO COM CONTÊINERES

Embora a experiência prática e o estudo da arquitetura em contêiner serem bastante recentes,

especialmente em nosso país, o interesse vem crescendo cada vez mais, assim como a divulgação e

exigências por uma arquitetura voltada à sustentabilidade, o que provavelmente fará com que este

quadro se modifique em breve, tanto nos meios acadêmicos como profissionais. A partir da análise

de casos específicos, os quais não foram aqui relatados por limites de espaço, pôde-se definir

algumas diretrizes básicas para o projeto e execução de obras em contêineres metálicos, as quais

serviriam a priori como recomendações àqueles interessados em experimentar tal alternativa para

uma construção mais sustentável, a saber:

Avaliar a disponibilidade de elementos, categoria de armazenamento, material de fabricação

e condições de conservação e transporte dos contêineres até o local da obra em uma etapa

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anterior ao projeto propriamente dito, de modo a se analisar sua viabilidade técnica e

econômica;

Dimensionar as funções que deverão ser abrigadas em contêineres, visando quantificar o

número de componentes e a necessidade de frações e/ou composições, de forma a se

adequar ao programa de necessidades, ao perfil dos usuários e à área de empreendimento

(habitacional, comercial, eventos, serviços, etc.);

Estudar as condições climáticas do local de implantação, procurando coletar informações

principalmente quanto a variabilidade térmica, regime de precipitações e incidência de

ventos e outros eventos naturais, assim como a orientação solar, em paralelo às condições

geológicas e de topografia, de modo a prever os pontos de apoio e fundações exigidas, além

de outras providências quanto tipo de isolamento, cobertura e composição;

Prever os ambientes, de acordo com requisitos ergonômicos e funcionais; e localizar as

aberturas (portas e janelas), as quais podem ser aplicadas diretamente nas chapas de 3 mm

de espessura com a utilização de brocas metálicas, atentando para as melhores vistas,

exigências de privacidade, sombreamento, ventilação e de aproveitamento da luz natural;

Procurar desenvolver revestimentos internos de piso, parede e teto os mais finos possíveis,

para não perder espaço no interior do contêiner, mas que, ao mesmo tempo, permitam um

bom desempenho termoacústico, avaliando as opções em madeira, cerâmica e gesso

acartonado, com adição de materiais isolantes preferencialmente ecológicos;

Detalhar os pontos de soldagem dos perfis metálicos e também os sistemas de fixação de

revestimentos, geralmente aparafusados nas travas do forro e das paredes das

extremidades, quando em madeira. Observar a necessidade de se realizar vedações

independentes na subdivisão de espaços como, por exemplo, banheiros e despensas;

Detalhar as instalações hidroelétricas de modo apurado, lembrando que as instalações de

esgoto e de alimentação de água e energia devem ser previstas e executadas antes da

chegada da caixa metálica, no canteiro de obras. Por sua vez, o reservatório deve estar acima

do contêiner. Conforme as condições de exequibilidade, aplicar sistemas que permitam a

economia energética e/ou uso da energia solar, como o uso de painéis fotovoltaicos;

Definir o tipo de cobertura, observando a necessidade de isolamento e o emprego de

materiais como telhas-sanduíche com isolante; ou mesmo teto-verde, o qual exige mais

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elaboração e gasto. Se possível, associar um sistema de reaproveitamento de águas das

chuvas, permitindo um uso sustentável da água.

6 CONCLUSÃO

A reutilização arquitetônica de contêineres constitui alternativa viável para uma arquitetura mais

sustentável. Mesmo possuindo desvantagens como o espaço limitado ou problemas decorrentes do

conforto térmico, é possível adaptar seu sistema e estrutura às necessidades de diferentes usuários,

explorando suas qualidades referentes à versatilidade, flexibilidade, durabilidade, resistência e

economia. Seu uso pode ser combinado a outras estratégias de sustentabilidade, como: telhado

verde, reaproveitamento de água, aquecimento solar e emprego de materiais recicláveis e/ou

certificados. Sua composição plástica e tratamento estético dependerão das intenções do arquiteto

assim como dos gostos e aspirações de seus clientes, os quais podem variar deste a aparência

industrial, deixando os contêineres expostos na obra, até a adequação dos módulos para se obter

um aspecto mais tradicional, revestindo-os com materiais como a madeira e o tijolo.

7 AGRADECIMENTOS

Desenvolvido a partir de trabalhos de pesquisa em iniciação científica, este artigo procurou sintetizar

as contribuições de outros acadêmicos do curso de arquitetura e urbanismo da UFPR, aos quais são

citados aqui a critério de agradecimento por sua colaboração, seja de forma direta ou não: Diego

Nogossek da Rocha, Luza Basso Driessen e Vanessa Francisca Tavares Pereira.

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NOTAS

i O aço patinável ou dito COR-TEN (Corrosion Resistance Tensile Strength) é composto por uma liga de cobre, cromo, fósforo, níquel e molibdênio, que sofre tratamento anti-corrosivo e pode resistir a condições climáticas extremas, como temperaturas entre - 30 e 80°C. A pátina do metal, é uma camada de óxido que fornece proteção contra corrosão e leva até dois anos para se formar, através de sucessivos períodos de umidade. Entre as normas ISO para o chamado Dry Container, que é o tipo de contêiner mais frequentemente usado para construção civil, destacam-se as seguintes: ISO 668, que regula as dimensões externas; ISO 1161, que trata sobre cantos que se enquadram nas dimensões; ISO 1496-1, que estabelece e faz alguns testes obrigatórios específicos; ISO 1894, que regulamenta as dimensões internas; e ISO 6346, que exige que a unidade seja incluída em um código, regulação e marcas de sua origem e seus proprietários anteriores. (FOSSOUX; CHEVRIOT, 2013) ii A Container City I demorou cinco meses para ficar pronta e foi concluída em 2001. Foram utilizados 20 contêineres

dispostos em quatro andares, sendo 15 deles somente para uso residencial. A sua primeira versão fez tanto sucesso que, após apenas dois anos, foi construída a Container City II, que dispõe de mais conjuntos habitacionais também na mesma região que o primeiro empreendimento. Todos eles já estão alugados, principalmente por artistas e designers; e quem quiser morar lá terá que entrar em uma fila de espera, tamanha a procura. Hoje, já existem 14 desses complexos na Inglaterra, além de mais alguns em outros países como o México. (CONTAINER CITY, 2015) iii Segundo Slawik et al. (2010), que consideram o preço do contêiner baixo, um novo de 20 pés custa em torno de 2.500

euros (cerca de R$ 8.200) e um usado, 1.300 euros (cerca de R$ 4.200), sendo que a maioria dos containers é usada uma única vez. Kotnik (2008) critica o encarecimento dos contêineres devido à maior divulgação de projetos que os reutilizam. Já se pode sentir tal efeito no Brasil: em matéria recente do jornal Gazeta do Povo (ALVARO, 2015), afirma-se que os mesmos chegam a custar no país entre R$ 8.000 e 12.000 a unidade, ou seja, bem mais caros que na Europa. Além disto, é importante ressaltar que ainda há o custo do frete, que pode variar de R$ 1.000 a 5.000, conforme a distância de entrega. iv

É interessante notar que algumas soluções simples podem ajudar a refrescar o contêiner, como uma abertura de janela que faça sombra em parte do mesmo, a utilização da sombra de vegetação, um jardim interno ou uma pequena elevação do contêiner do chão, para que possa entrar ar frio pela parte interior. São todas alternativas que podem melhorar a qualidade de vida do usuário sem acrescentar grandes custos à obra. (GARRIDO, 2011)