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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 ARRANJOS ORGANIZACIONAIS BASEADOS NA COOPERAÇÃO NA PRODUÇÃO DE ACEROLA NA REGIÃO NOVA ALTA PAULISTA [email protected] APRESENTACAO ORAL-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais ANA ELISA BRESSAN SMITH LOURENZANI; WAGNER LUIZ LOURENZANI. UNESP, TUPÃ - SP - BRASIL. Arranjos organizacionais baseados na cooperação na produção de acerola na região Nova Alta Paulista Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo A fruticultura na região Nova Alta Paulista é indicada como uma atividade com amplas possibilidades de sustentar e estimular o processo de desenvolvimento regional. Esta região possui condições favoráveis para o desenvolvimento deste setor, as quais se destacam as condições edafo-climáticas adequadas; o tamanho das propriedades; a predominância de mão-de-obra familiar; e a existência de empresas processadoras. Os arranjos organizacionais baseados em cooperação podem proporcionar melhorias que permitam acesso ao mercado, sem que isso implique profundas transformações da pequena unidade de produção, como a redução da mão-de-obra familiar e o aumento da área ou da produtividade. Neste contexto, esta pesquisa teve como objetivo identificar as potencialidades e elaborar recomendações para o estabelecimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs) em fruticultura na região Nova Alta Paulista-SP. A fruta escolhida foi acerola e a análise da competitividade dessa cadeia revelou aspectos impeditivos para a formação de um Arranjo Produtivo Local. Se por um lado há aglomeração de produtores rurais em torno de uma atividade representativa, por outro lado há pouca interação destes com outros agentes da cadeia. A ausência de agroindústrias processadoras com significativa participação nos canais de comercialização é um importante exemplo. Entretanto, este estudo revelou que há condições prévias para a emergência e fortalecimento de uma rede de cooperação horizontal em torno da produção de acerola na região. Tal esforço é válido, pois as redes geram externalidades positivas, como inovação (tecnológica e gerencial), aprendizado e difusão do conhecimento, estreitamento das relações (aproximação entre os agentes e relacionamentos mais sustentáveis), entre outros, que contribuem para o crescimento e desenvolvimento regional. Palavras-chaves: Redes, cooperação, fruticultura, acerola. Abstract Fruit crops are considered as an alternative able to sustain and stimulate regional development. This region presents favorable conditions for fruit chain development as

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ARRANJOS ORGANIZACIONAIS BASEADOS NA COOPERAÇÃO NA PRODUÇÃO DE ACEROLA NA REGIÃO NOVA ALTA PAULISTA

[email protected]

APRESENTACAO ORAL-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

ANA ELISA BRESSAN SMITH LOURENZANI; WAGNER LUIZ LOU RENZANI. UNESP, TUPÃ - SP - BRASIL.

Arranjos organizacionais baseados na cooperação na produção de

acerola na região Nova Alta Paulista

Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

Resumo

A fruticultura na região Nova Alta Paulista é indicada como uma atividade com amplas possibilidades de sustentar e estimular o processo de desenvolvimento regional. Esta região possui condições favoráveis para o desenvolvimento deste setor, as quais se destacam as condições edafo-climáticas adequadas; o tamanho das propriedades; a predominância de mão-de-obra familiar; e a existência de empresas processadoras. Os arranjos organizacionais baseados em cooperação podem proporcionar melhorias que permitam acesso ao mercado, sem que isso implique profundas transformações da pequena unidade de produção, como a redução da mão-de-obra familiar e o aumento da área ou da produtividade. Neste contexto, esta pesquisa teve como objetivo identificar as potencialidades e elaborar recomendações para o estabelecimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs) em fruticultura na região Nova Alta Paulista-SP. A fruta escolhida foi acerola e a análise da competitividade dessa cadeia revelou aspectos impeditivos para a formação de um Arranjo Produtivo Local. Se por um lado há aglomeração de produtores rurais em torno de uma atividade representativa, por outro lado há pouca interação destes com outros agentes da cadeia. A ausência de agroindústrias processadoras com significativa participação nos canais de comercialização é um importante exemplo. Entretanto, este estudo revelou que há condições prévias para a emergência e fortalecimento de uma rede de cooperação horizontal em torno da produção de acerola na região. Tal esforço é válido, pois as redes geram externalidades positivas, como inovação (tecnológica e gerencial), aprendizado e difusão do conhecimento, estreitamento das relações (aproximação entre os agentes e relacionamentos mais sustentáveis), entre outros, que contribuem para o crescimento e desenvolvimento regional. Palavras-chaves: Redes, cooperação, fruticultura, acerola. Abstract Fruit crops are considered as an alternative able to sustain and stimulate regional development. This region presents favorable conditions for fruit chain development as

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adequate soil and climate conditions, farms size, available hand labor and processing plants located in the region. Organizational arrangements based on cooperation may provide individual improvement which allows for market access while farmers keep the features of smallholder as family hand labor, small size of farms and production systems. Thus, this research aimed at identifying the potential for fruit Local Productive Arrangement (LPA) at Nova Alta Paulista Region. Acerola chain was chosen and its competitiveness analysis has revealed some impeditive aspects for LPA establishment. From one hand there is farmers’ agglomeration around a representative activity, but from the other hand, the interrelation among the agents along the production chain is weak. The absence of important processing plants in the region is an important example. However, this research has found that there are conditions for emergence of a horizontal cooperation network around acerola production. Such effort is valid since network present positive externalities as innovation, learning, knowledge spread, stronger relations among agents among others, which contributes to local development. Key Words: Networks, cooperation, fruit crops, acerola.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil é um importante produtor de frutas, ocupando a terceira posição e apresentando uma produção estimada de cerca de 43 milhões de toneladas anuais (IBRAF, 2007). Com um clima altamente favorável e presença em todos os estados brasileiros, o Brasil apresenta uma grande diversidade de frutas, de tropicais a temperadas. As condições climáticas e edáficas conferem uma vantagem comparativa para o Brasil. Entretanto, diversas ineficiências ao longo das cadeias produtivas de frutas consistem em entraves para a competitividade desse segmento.

A fruticultura representa importância social na geração de emprego e renda. De acordo com Buainain e Batalha (2007), cada hectare ocupado com fruticultura emprega diretamente e indiretamente de duas a cinco pessoas ao longo da cadeia produtiva. A atividade empregava em 2006 cerca de 6,3 milhões de pessoas, ocupando uma área de cerca de 2,3 milhões de hectares gerando R$12,5 milhões como Valor Bruto da Produção (CONAB, 2007).

O Brasil tem atualmente 45 pólos frutícolas organizados e articulados em redes. A comercialização dirigida quase que exclusivamente para o mercado interno, tem dado lugar à conquista de mercados externos, o que foi determinante para a melhoria dos sistemas produtivos e da qualidade das frutas. Entretanto, o Brasil ainda é um país marginal na exportação mundial de frutas frescas. O mercado externo demanda certas especificidades do produto ligadas principalmente a atributos de qualidade e segurança do alimento (food security), o que demonstra que muitos desafios precisam ser vencidos internamente. Em um cenário que valoriza a qualidade e as práticas agrícolas corretas, são necessárias ações mais enfáticas para a geração e incorporação ao sistema produtivo de novos conhecimentos e novas tecnologias, como: melhoramento genético; sistemas de produção e segurança ambiental; pós-colheita; transferência de tecnologia e capacitação gerencial para os fruticultores.

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O estado de São Paulo é o maior produtor de frutas frescas do Brasil. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto de Economia Agrícola e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (IEA/CATI), a produção de frutas (incluindo a laranja) e de olerícolas (verduras e legumes), demandaram quase um terço da força de trabalho empregada na agricultura paulista, em uma área equivalente a apenas 14% do total cultivado com as principais culturas. Demonstra-se, assim, a importância social da fruticultura para o estado.

Atribui-se dois fatores ao sucesso da fruticultura paulista; o primeiro diz respeito à sua tradição na atividade proveniente do processo de colonização da região; e o segundo, à proximidade com os maiores centros de consumo nacional. De acordo com IEA (2007), dentre as cinco principais cadeias de produção nas exportações do agronegócio paulista, as frutas estão em terceiro lugar, gerando US$ 1,73 bilhão, atrás apenas da cana-de-açúcar (US$ 3,55 bilhões) e dos bovinos (US$ 2,42 bilhões).

Para manter a fruticultura brasileira promissora, é de fundamental importância investimentos em inovação tecnológica e sistemas de produção mais adequados, cujos resultados em muito poderão contribuir para tornar as cadeias produtivas da fruticultura brasileira melhor preparadas para o cenário cada vez mais internacionalizado, inovador e competitivo. Conforme destacado por Freires (2006), modelos produtivos baseados em vocações regionais e ações coletivas, nos quais prevalecem a cooperação e o fortalecimento de pequenas e médias empresas, tem sido cada vez mais adotados estrategicamente. Isso tem impulsionado a geração e difusão do conhecimento, a coordenação, a competitividade e o desenvolvimento da região, justificando papel de destaque nas políticas públicas.

Assim, um caminho para alcance de maior competitividade é a formação de ações coletivas como as redes de cooperação produtiva, pois estes viabilizam melhor governança e cooperação entre os agentes. De forma a buscar ações mais eficazes, é justificável então investimentos em arranjos organizacionais em torno da fruticultura, visando a maior produção, produtividade, sustentabilidade e competitividade da fruta nacional tanto no mercado interno como externo, de modo a gerar mais renda, principalmente, para a agricultores familiares, bem como novos e duradouros empregos.

Este trabalho teve como objetivo identificar as potencialidades e elaborar recomendações para o estabelecimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs) em fruticultura na região Nova Alta Paulista-SP. Tal esforço é válido, pois as redes geram externalidades positivas, como inovação (tecnológica e gerencial), aprendizado e difusão do conhecimento, estreitamento das relações (aproximação entre os agentes e relacionamentos mais sustentáveis), entre outros, que contribuem para o crescimento e desenvolvimento regional.

Tal trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla, atrelada a um projeto de pesquisa fomentado Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), cujo título é Arranjo produtivo local (APL) em fruticultura na região Nova Alta Paulista – SP: cooperando para o desenvolvimento.

O trabalho, além desta introdução, está organizado em mais quatro seções. A seguinte destaca o procedimento metodológico utilizado no presente estudo. Na terceira seção é exposto referencial teórico sobre redes de empresas. Na quarta seção são

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apresentados os resultados. Por fim, na quinta seção, são feitas as considerações finais acerca do tema. 2. METODOLOGIA

Para alcançar os objetivos propostos, adotou-se uma estrutura metodológica que permitisse uma participação efetiva de todos os agentes envolvidos no setor de fruticultura na região Nova Alta Paulista no processo de análise (Figura 1). Etapa 1 – Definição do objeto de pesquisa

Considerando a extensão territorial da região Nova Alta Paulista e os múltiplos sistemas produtivos característicos da fruticultura regional, foi necessário um recorte analítico para o desenvolvimento da pesquisa. Foi necessário que se estabelecesse um objeto de trabalho que possibilitasse um estudo de competitividade de uma fruta relevante para a região e que apresentasse potencial para a formação de um arranjo produtivo local, com um grau de exeqüibilidade e aprofundamento científico adequado.

Após um levantamento bibliográfico da fruticultura da região Nova Alta Paulista, a equipe de pesquisadores do projeto realizou uma série de visitas aos municípios e, mais especificamente, às Secretarias de Agricultura destes. Estas visitas tiveram o objetivo de validar as informações secundárias obtidas e suscitar in loco sobre potenciais grupos de produtores ou sistemas produtivos de frutas que pudessem emergir para um Arranjo Produtivo Local (APL).

Figura 1 - Estrutura metodológica da pesquisa

Etapa 2 – Diagnóstico

ETAPAS

Diagnóstico

Análise da competitividade

- Levantamento bibliográfico - Levantamento de dados primários e secundários - Identificação de agentes-chaves - Elaboração do diagnóstico

- Identificação de indicadores de competitividade - Análise da competitividade

Definição do objeto de pesquisa

- Estudo da fruticultura regional - Visita aos municípios da região - Identificação de potencial objeto de pesquisa - Definição do produto/região

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Nesta etapa foram revisadas as principais linhas teóricas que deram suporte ao estudo. Além disso, foram identificados e analisados dados de fontes secundárias, os quais consistem em informações estatísticas e estudos realizados previamente acerca do assunto.

Segundo Cervo e Brevian (1983), a pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos, buscando conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema.

Essas informações permitiram a identificação dos agentes-chaves. Estes consistem nos principais agentes econômicos e sociais necessários para o entendimento da dinâmica competitiva da atividade na região.

Assim, com base nas etapas precedentes, tornou-se possível instrumentalizar a busca de dados primários, fazendo uso de guias de entrevistas semi-estruturadas. As entrevistas semi-estruturadas são utilizadas, segundo Godoy (2006), para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, possibilitando ao investigador desenvolver uma idéia sobre a maneira como os sujeitos interpretam os aspectos do mundo.

Segundo Merrian (1998) a seleção da amostra em pesquisa qualitativa é usualmente não aleatória, propositada e pequena. Assim, foram selecionados atores intencionalmente, em função de sua representatividade e importância relativa na cadeia estudada, nos contextos regional e estadual. Desta forma, a estruturação da pesquisa de campo conta com representantes dos setores de produção agropecuária, processamento e as organizações que atuam nessa cadeia.

Foram elaborados diferentes roteiros de entrevista para os diferentes agentes do sistema agroindustrial da acerola na região, obedecendo à seguinte divisão: produção agropecuária, agroindústria e instituições de apoio. O Quadro 1 apresenta os agentes entrevistados utilizados como fonte de dados primários, os quais estão relacionados ao objeto de pesquisa adotado neste trabalho – o pólo produtivo de acerola de Junqueirópolis. Quadro 1 – Agentes entrevistados no período de 2007 e 2009. Produtores Rurais

- 15 produtores associados - 15 produtores não associados - 1 produtor que atua como intermediário

Associação - Presidente da Associação Agrícola de Junqueirópolis - Diretor comercial da Associação Agrícola de Junqueirópolis

Indústrias - Fruteza (Dracena) - Polpa Fruta (Parapuã)

Instituições - IBRAF (Instituto Brasileiro de Frutas) – São Paulo - SEBRAE-SP - Escritório Regional de Presidente Prudente - OIA/Brasil (Organização Internacional Agropecuária) – certificadora GLOBALGAP - CATI (Coordenadoria de Assitencia Técnica Integral) – Junqueirópolis - Secretaria de Agricultura de Junqueirópolis

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A análise dos dados resultou num diagnóstico do pólo produtivo de acerola da

região, o qual serviu como base para a elaboração das etapas posteriores. Etapa 3 – Análise da competitividade

A metodologia empregada para análise da competitividade foi aprimorada por Silva e Batalha (1999) e deriva de um estudo de Van Duren et al. (1991). Esta utiliza indicadores de competitividade, tais como: lucratividade e participação no mercado (market share). Esses indicadores podem ser mensurados de forma objetiva, através de sua associação com direcionadores de competitividade. Tais direcionadores envolveram os aspectos estrutura produtiva, gestão interna, aprendizagem e inovação, relações de mercado e ambiente institucional. Entretanto, foi necessária a inclusão do indicador cooperação para complementar a análise de arranjos baseados em cooperação, como um APL.

Cada direcionador é composto por subfatores, de acordo com as especificidades do segmento estudado ou do sistema como um todo. Cada subfator é classificado quanto ao seu grau de controlabilidade, podendo ser: controlável pela firma (estratégia, mix de produtos, tecnologia, custos), controlável pelo governo (impostos, juros e câmbio, educação), quase controlável (preços de insumos, condições de demanda) ou incontrolável (fatores ambientais).

Para avaliação qualitativa da intensidade do impacto dos subfatores e sua contribuição para o efeito agregado dos direcionadores, é estabelecida uma escala ordinal, variando de “muito favorável”, quando há significativa contribuição positiva do subfator, a “muito desfavorável”, no caso da existência de entraves ou mesmo impedimentos, ao alcance ou sustentação da competitividade. Como valores intermediários, foram estabelecidas as categorias “favorável”, “neutro” e “desfavorável”. A escala é, então, transformada em valores que variam progressivamente, em intervalos unitários, de -2 para uma avaliação “muito desfavorável” a +2 para “muito favorável”. Desse modo, os resultados da avaliação podem ser visualizados em representação gráfica, bem como ser combinados quantitativamente, para comparações agregadas.

A combinação quantitativa dos subfatores, o que gera uma avaliação para cada direcionador de competitividade, envolve ainda uma etapa de atribuição de pesos relativos. A motivação para esse procedimento de ponderação é o reconhecimento da existência de graus diferenciados de importância para os diversos subfatores, em termos de sua contribuição para o efeito agregado. Por meio de reuniões de trabalho a equipe de pesquisadores deste projeto realizou a análise da competitividade do pólo produtivo de acerola da região de Junqueirópolis, definindo os pesos para os direcionadores e subfatores, bem como atribuindo as notas finais para cada subfator analisado. A sistematização em planilha eletrônica dos pesos e notas constitui a análise da competitividade global

Devido ao fato de os sistemas de produção e distribuição de acerola na região Nova Alta Paulista apresentarem diferentes características que os impede de serem analisados conjuntamente, as análises de competitividade foram realizadas de forma independente. Ao sistema de produção e distribuição que envolve cooperação horizontal entre os produtores rurais foi atribuída a denominação de Sistema 1. Ao sistema de produção e distribuição

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que é formado por produtores independentes que não envolve cooperação formal foi atribuída a denominação Sistema 2. 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Redes de Empresas

O termo "redes" (networks) tem sido adotado em diversas áreas do conhecimento para explicar comportamentos e tendências no mundo moderno. Diferentes abordagens e nomenclaturas são utilizadas no estudo das organizações em rede. NOHIA (1992) destacou que o termo é tipicamente utilizado para descrever os padrões de organização. No entanto, atualmente é bastante utilizado como um tipo adequado de arranjo interorganizacional, para que as organizações sejam capazes de se manterem competitivas no mercado.

NOHIA (1992) reportou que o aumento do interesse no estudo de redes para estudar o comportamento organizacional das firmas se deve a três razões principais. A primeira razão citada é o surgimento de novos padrões de concorrência nas últimas décadas, resultando na necessidade de adaptação das estruturas organizacionais. Se anteriormente o modelo de organização era a firma hierárquica, com o acirramento da concorrência a estrutura em rede, contemplando ligações verticais e horizontais entre as firmas, mostrou-se mais adequada. A segunda razão consiste no desenvolvimento tecnológico, resultando na difusão de tecnologia da informação (TI), que permitiu a difusão de arranjos produtivos mais desagregados, distribuídos e flexíveis, bem como a comunicação mais ágil entre as firmas que compõem a rede. A terceira razão está relacionada aos estudos acadêmicos acerca do tema que, por sua vez, permitiram avanços teóricos, oferecendo uma base conceitual para o entendimento de arranjos organizacionais complexos.

Buscando conceitos e definições sobre o tema, percebeu-se que existe certa ambigüidade acerca do termo "redes", já que qualquer organização, a princípio, pode ser entendida como uma rede. Assim, BAKER (1992) definiu as organizações em rede como um tipo de organização formada por grupos formais, criada pelas diferenciações horizontal, vertical e espacial de qualquer tipo de relação. Esse autor ainda ressaltou que esse tipo de organização apresenta como vantagens comparativas a flexibilidade e a capacidade de auto-adaptação em ambientes instáveis. No entanto, apesar de apontar vantagens semelhantes para esse tipo de arranjo organizacional, BRITO (2001) destacou a utilização da abordagem de redes para o estudo de ações coletivas informais.

CHARAM (1997) definiu as redes como conjuntos de relações externas, podendo incluir uma teia global de alianças e joint-ventures. Essas redes são o que GRANDORI e SODA (1995) chamaram de redes interfirmas ou interempresas, entendidas como formas de coordenação entre unidades organizacionais especializadas de empresas diferentes. Essas redes podem ser entendidas também como um modo de organizar a atividade econômica através da coordenação e cooperação entre as firmas, a qual consiste numa preciosa ferramenta para a melhoria da competitividade de uma cadeia produtiva como um todo. KLINT e SJÖBERG (2003) consideram essas conformações como "redes estratégicas", isto é, um arranjo organizacional de cooperação, criado de forma deliberada entre duas ou mais empresas, visando alcançar um objetivo comum.

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Uma rede é formada por um sistema de organizações interdependentes envolvidas nos processos de produção, distribuição e utilização de bens e serviços. De acordo com BRITO (2001), o posicionamento assumido por um agente da rede afeta o desempenho e a evolução dos outros agentes, portanto de toda a rede.

NOHRIA e ECCLES (1992) descreveram as redes como uma base estrutural para a colaboração. Assim, pequenos empreendimentos poderiam se tornar mais competitivos à medida que as redes podem ser usadas para conferir flexibilidade ao setor, estimular a inovação e maximizar a resolução de problemas. Com base nessa premissa, CLARO (2004) analisou o efeito da estrutura organizacional em rede sobre os relacionamentos entre fornecedor-comprador dentro do canal de distribuição. Ele concluiu que a informação foi o efeito positivo central gerado pela estrutura. Dessa forma, os relacionamentos dentro do canal foram beneficiados à medida que a coordenação de processos e atividades foi facilitada. Isso permitiu a formação e manutenção da ação coletiva, a realização de investimentos específicos à transação, a confiança e a colaboração.

De acordo com a análise de HAKANSSON e FORD (2002), as redes representam oportunidades, mas também limitações para as firmas. Segundo esses autores, o desempenho de uma firma é resultante do inter-relacionamento entre ela e os outros componentes da rede. O relacionamento estabelecido entre eles é resultante dos investimentos realizados por todos. Assim, o desenvolvimento desse relacionamento oferece oportunidades para as firmas envolvidas, ou seja, quanto mais forte o relacionamento, mais benefícios possíveis podem ser trazidos para as firmas. No entanto, quanto mais fortes as relações estabelecidas, menor a liberdade de cada firma em realizar mudanças e ajustes individualmente.

Outro benefício da utilização da teoria de redes foi demonstrado por MURDOCH (2000), que o utilizou para analisar o desenvolvimento rural. Nesse caso, a noção de rede foi importante, porque foi capaz de unir assuntos que são internos às áreas rurais com problemas e oportunidades que são externos ao ambiente rural, mas os influenciam diretamente. Entretanto, o autor destacou que a rede deve ser analisada sob um conjunto de fatores nos quais está inserida, como os fatores econômicos, sociais, culturais e ambientais.

SANTOS et al. (1994), citados por AMATO NETO (2002), sugeriram que podem ser identificados dois tipos de redes de cooperação entre firmas, as redes verticais e as horizontais. As redes de cooperação vertical ocorrem quando é identificada cooperação entre uma firma e os agentes de outros elos, a jusante ou a montante, dentro de uma cadeia produtiva. Nesse caso, geralmente produtos com sistemas de produção e distribuição mais complexos estão envolvidos. Já as redes de cooperação horizontal envolvem firmas que produzem num mesmo elo da cadeia produtiva, ou seja, pertencentes ao mesmo setor ou ramo de atividade. Nesse caso, são necessários mecanismos para gerenciar os conflitos, já que se tratam de firmas concorrentes. De acordo com esses autores, as redes horizontais de cooperação surgem quando as firmas apresentam dificuldades em acessar recursos escassos de produção, em atender à demanda do mercado e em lançar e manter novos produtos.

A literatura referente a redes de empresas é de grande relevância para o estudo de APL’s. Pode-se afirmar que um APL é uma forma de rede de empresas, pois pode ser entendido como um aglomerado de empresas em um espaço geográfico, especializadas em uma atividade produtiva, atreladas entre si e com outros agentes por vínculos de

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articulação, cooperação e aprendizagem. Nesse sentido, faz-se importante a presença e atuação de agentes sociais, tais como governo, associações empresariais, instituições de crédito, pesquisa, tecnologia e extensão (SEBRAE, 2003).

Diversas estruturas organizacionais na forma de rede são citadas na literatura. Entre elas estão os arranjos produtivos locais. Os Arranjos Produtivos Locais (APL) são definidos como aglomerações de agentes econômicos, políticos e sociais, com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que apresentam vínculos e interdependências. Incluem, também, diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para a formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento (MDIC, 2004). Os arranjos produtivos locais englobam a identidade coletiva como aspectos sociais, políticos, culturais, econômicos, ambientais ou históricos, não se resumindo à sua dimensão geográfica.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A acerola (Malpighia glaba L), também conhecida como cereja-das-antilhas, é uma fruta originária da região do mar do Caribe. Acredita-se que a propagação da acerola nas ilhas da América Central aconteceu anteriormente à descoberta da América (ALVES e MENEZES, 1995). Entretanto, somente após 1946 foi identificado um elevado teor de vitamina C nos frutos, maior que as frutas reconhecidas como fonte dessa vitamina como limão e laranja (ALVES e MENEZES, 1995). Esta foi a principal razão que impulsionou o cultivo comercial da fruta. Para atender à demanda da indústria alimentícia e farmacêutica os primeiros pomares comerciais foram estabelecidos no Havaí e Porto Rico (BLISKA e LEITE, 1995).

No Brasil, a cultura foi introduzida na década de 50. A cultura se adaptou bem às condições de clima tropicais e sub-tropicais, propagando-se a quase todo o território nacional. Somente após a década de 80, a cultura apresentou expansão de sua área cultivada para fins comerciais impulsionada pela demanda do mercado interno e externo. Nessa época foi registrada o início das exportações de frutos in natura (Freire, 1995; COSTA, 2003). Em algumas regiões a cultura se desenvolveu de forma comercial como foi o caso de Pernambuco (7.625t), Ceará (4.724t), São Paulo (3.759t) e Bahia (3.458t), de acordo com o Censo Agropecuário de 1996.

A fruticultura pode ser caracterizada por uma atividade que utiliza mão-de-obra de forma intensiva e ser compatível com uma reduzida escala mínima de produção para que a atividade seja rentável. Por isso, representa uma importante alternativa para produtores caracterizados pela agricultura familiar. Além disso, é um importante setor empregador de mão-de-obra no campo, principalmente nos períodos de colheita, ajudando a evitar o êxodo e o aumento da pobreza na zona rural. Nesse sentido, a acerola foi introduzida na região Nova Alta Paulista como uma alternativa de renda para os produtores rurais.

Há grande dificuldade para acessar dados estatísticos sobre a acerola no Brasil. Os últimos dados oficiais foram divulgados pelo Censo Agropecuário de 1995/1996. De acordo com essa fonte, o Brasil produzia em 1996, cerca de 32 mil toneladas de acerola em uma área de 11.050 hectares. O estado de São Paulo participava com 3.759 toneladas cultivada em 957 hectares. Naquela época o município de Junqueirópolis produzia 138

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toneladas da fruta. Na safra 2008/2009, apesar das restrições hídricas impostas pela ausência das chuvas, os produtores associados de Junqueirópolis produziram 2.800 toneladas da fruta na safra (JUNQUEIRÓPOLIS, 2009).

A área plantada com acerola no Brasil, no período de 1994-1997 ultrapassou 7000 hectares, o que o colocou na posição de maior produtor mundial (OLIVEIRA e SOARES FILHO, 1998). Observa-se a ocorrência de plantações de acerola em todo o estado de São Paulo. No entanto, algumas regiões mostram concentração da produção como é o caso da Nova Alta Paulista. Nessa região, é notória a concentração da produção no município de Junqueirópolis, que abriga 117 UPAs e 176,8 ha (Tabela 1), ou seja, 62% da área ocupada com produção de acerola em toda a região está concentrada nesse município. Entretanto, outros municípios têm apresentado expansão mais recente, com pomares em formação, como Pacaembu e Adamantina.

A produção de acerola no município ocorre em pequenas propriedades. Dados da Organização Internacional Agropecuária (2004), revelam que a acerola é cultivada quase exclusivamente em terras próprias. Cerca de 80% das propriedades produtoras de acerola são menores do que 30 hectares.

Os produtores de acerola atuam tanto de forma individual quanto organizados em associação. De acordo com Brigatti et al. (2008), tais produtores apresentam um custo de produção de acerola superior àqueles pertencentes a associações no município. Os dados primários indicaram que os produtores individuais tendem a comercializar seus produtos por meio de intermediários ou diretamente para as agroindústrias locais.

Considerando o município de Junqueirópolis, que abriga a maior concentração na produção de acerola no estado, grande parte dos produtores atuam em cooperação na forma de uma associação. A Associação Agrícola de Junqueirópolis (AAJ) foi fundada em 1990, buscando alternativas de diversificação, introduzindo novas culturas no município. Os primeiros plantios de acerola foram em 1991. Desde então, parcerias com diversas instituições de apoio (citadas posteriormente) colaboraram para melhorias em termos técnicos e gerenciais, o que resultou em aumento de qualidade, produtividade e organização. Em 2009, a associação contava com 91 associados, sendo 64 produtores de acerola. As atividades conjuntas estão relacionadas principalmente com aprimoramento tecnológico e comercialização da produção. A associação mantém estrutura para armazenamento de acerola e está em busca de ampliação da capacidade de resfriamento e armazenamento. Tabela 1 - Municípios da Nova Alta Paulista que produzem acerola por área e Unidades de

Produção Agropecuária (UPA).

Municípios Área (ha) UPAs

Adamantina 0,80 1 Dracena 62,80 34 Irapuru 21,10 20 Junqueirópolis 176,80 117 Mariápolis 1,00 1 Osvaldo Cruz 0,60 1

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Pacaembu 7,00 3 Parapuã 1,00 1 Rinópolis 1,50 1 Sagres 3,70 4 Santa Mercedes 2,00 1 Tupã 1,50 3 Tupi Paulista 3,60 5 TOTAL 283,40 192 Fonte: CATI, 2009.

De acordo com informações obtidas na Associação de Produtores de

Junqueirópolis, cerca de 30% da produção de acerola foi comercializada na forma de fruta inteira congelada na safra 2008/2009. O restante é comercializado in natura, acondicionado em caixas de 7kg. Os principais clientes são a agroindústria processadora. Em muitos casos, há mistura da fruta verde com a fruta madura visando à elevação do teor de Vitamina C.

A acerola pode ser consumida in natura ou processada, tanto industrial como artesanalmente. Dentre os produtos processados, as formas mais comuns são o suco pronto, a polpa congelada e o suco concentrado engarrafado (YAMASHITA, 2003). No entanto, a acerola também entra na composição de sorvetes, gomas de mascar, barras nutritiva, iogurtes e chás. A acerola também é utilizada para a fabricação de comprimidos pela indústria farmacêutica (FREITAS et al., 2006). Sob a forma artesanal são processadas compotas, licores, geléias e recheios de acerola para bombons.

Em 1998, cerca de 60% da produção de acerola era destinada ao mercado interno. A comercialização é realizada das mais diversas formas “mixed” (mistura de sucos de diversas frutas) com 10% de acerola; suco (bebida pronta) com 10% de acerola, polpa congelada, engarrafado; creme hidratante, xampu, condicionador para cabelos, iogurte, cristais de gengibre, vitamina A e creme de massagem para cabelos acrescidos com acerola; geléia, comprimidos mastigáveis de acerola e mel, acerola com mel e própolis, acerola em calda, sorvete, picolé, dropes e balas (OLIVEIRA e SOARES FILHO, 1998).

As indústrias processadoras de frutas tropicais do país processam cerca de 34,40 mil toneladas de acerolas por ano, o que equivale a 7,16% do total de frutas processadas por estas empresas. As acerolas processadas geram aproximadamente 18 mil toneladas de sucos e polpas por ano, concentrando-se a maior parte desta produção na região nordeste.

Na região Nova Alta Paulista estão localizadas duas processadoras de frutas, inclusive de acerola. As processadoras diferem quanto ao porte e nível tecnológico adotado. Ambas produzem polpa de frutas para mercado de varejo e para outras agroindústrias de segunda transformação. As empresas utilizam fornecedores locais e de outras regiões. Seus mercados variam entre mercados local e regional a mercados nacional e internacional.

Devido ao menor nível de organização dos produtores que atuam de forma individual, estes acabam por comercializar seus produtos para as agroindústrias localizadas na região ou por meio de intermediários de vendas. Já a Associação de Produtores de Junqueirópolis possuem diversos canais de comercialização. Somente o excedente de produção é comercializado na região. A maior parte da produção é comercializada para

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agroindústrias localizadas em outras regiões de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e até mesmo no nordeste brasileiro.

De acordo com Manica et al. (2003), cerca de 37 e 43% da produção brasileira de acerola foi destinada ao mercado externo na safra 1996-1997. A maioria das exportações foi na forma de frutos inteiros e congelados, verdes ou maduros e polpa integral pasteurizada e congelada (tambores de 200L). Outros produtos exportados são a polpa concentrada, acerola em pó e acerola ultrafiltrada. Os principais destinos das exportações são Estados Unidos, Alemanha, França, Japão, Países Baixos.

Além da interação horizontal (associação de produtores) e vertical (fruticultores e indústria de frutas), o pólo de acerola da região de Junqueirópolis e Dracena apresenta algumas parcerias institucionais (universidades e instituições de pesquisa) que visam seu fortalecimento e desenvolvimento.

Deve-se destacar, além da aglomeração de agentes em torno da atividade, a interação dos agentes produtivos com aqueles de caráter social ou de apoio. Pesquisa recente identificou que 35,6% dos produtores de acerola entrevistados receberam assistência técnica; mais de 75% faziam parte de associações de produtores; e 62% faziam parte de cooperativas (OIA, 2004).

São identificadas diversas iniciativas de apoio e parcerias entre produtores de acerola e instituições públicas e privadas na região, sendo relevante inclusive em termos de aglomeração de agentes na região. Há um apoio significativo da prefeitura do município de Junqueirópolis para com a Associação, no que se refere, principalmente, ao custeio da infra-estrutura (energia para câmaras frias). Segundo Freitas e Vilpoux (2007), existem ainda outras parcerias relevantes em termos de pesquisa e consultorias (apoio técnico e de formação) fundamentais para o fortalecimento deste arranjo organizacional, tais como: UNESP (Ilha Solteira) que contribui estudos sobre adoção de técnicas de manejo como irrigação e sistemas de condução das plantas e sobre a competitividade da atividade a região; UNESP (Botucatu) que contribui com pesquisa de produtos e subprodutos da acerola; UNESP (Tupã) que contribui com capacitação gerencial de produtores familiares; SEBRAE, em parceria com Instituto Brasileiro de Frutas (IBRAF) com o Projeto “Fruta Paulista”, cujo objetivo é proporcionar aos produtores capacitação em Boas Práticas Agrícolas e marketing; Organização Internacional Agropecuária (OIA – Brasil) com orientação sobre certificação GLOBALGAP. As parcerias locais também merecem destaque como a prefeitura municipal de Junqueirópolis com apoio na produção de mudas, no processo de certificação e na infra-estrutura e custeio de energia elétrica da associação de produtores e a CATI que contribui principalmente no suporte técnico à produção.

A análise da competitividade compreendeu a análise dos direcionadores: ambiente institucional, cooperação, aprendizagem e inovação, relações de mercado, estrutura produtiva e gestão interna. Cada direcionador foi dividido em subfatores, sobre os quais os agentes do sistema têm certo grau de controlabilidade. Esse grau indica a responsabilidade pela implementação das proposições para melhoria sistêmica da competitividade do sistema. Em seguida, foram atribuídos diferentes pesos para os direcionadores e seus subfatores, buscando demonstrar os graus diferenciados de importância, ou seja, qual a importância relativa de cada direcionador na competitividade do sistema. Por fim, os

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subfatores foram avaliados (escala likert) conforme o impacto que causam na competitividade de cadeia, variando de muito desfavorável a muito favorável.

Devido ao fato de os sistemas de produção e distribuição de acerola na região Nova Alta Paulista apresentarem diferentes características que os impede de serem analisados conjuntamente, as análises de competitividade foram realizadas de forma independente. Ao sistema de produção e distribuição que envolve cooperação horizontal entre os produtores rurais foi atribuída a denominação de Sistema 1. Tal sistema é responsável pela produção e escoamento de 60% da produção total de acerola da região, ou seja, 3.340 toneladas na safra de 2007/2008.

Ao sistema de produção e distribuição que é formado por produtores independentes que não envolve cooperação formal foi atribuída a denominação Sistema 2. Tal sistema envolve, além dos produtores rurais, um intermediário de comercialização e agroindústrias locais, que absorvem a quase totalidade da produção.

Na análise global do desempenho dos direcionadores de competitividade, é possível verificar que os produtores associados e independentes se encontram em estágios distintos de desenvolvimento, caracterizando o desempenho diferente dos direcionadores de competitividade.

A estrutura produtiva é um aspecto considerado desfavorável para os dois sistemas produtivos analisados. As principais razões para o desempenho desfavorável de ambos os sistemas são a incerteza a respeito da disponibilidade de mão-de-obra e a localização em relação ao mercado. Nesse sentido, a estrutura produtiva pode ser um fator limitante à expansão da atividade da acerola na região e mesmo uma ameaça à sua sustentabilidade.

A gestão interna mostra-se favorável para o Sistema 1, no entanto é uma barreira à competitividade do Sistema 2 devido, principalmente, à falta de controle financeiros e a baixa qualidade dos produtos ofertados.

Considerando o direcionador aprendizagem e inovação, o Sistema 1 mostrou-se mais competitivo que o Sistema 2. O acesso à informação e os sistemas de informação são os fatores que mais diferenciaram esses dois sistemas.

O ambiente institucional contribuiu de forma positiva para a competitividade do Sistema 1. A legislação foi o maior entrave para a competitividade de ambos os sistemas, enquanto o acesso à certificação por parte dos produtores do Sistema 1 foi o fator que mais diferenciou os dois sistemas.

A cooperação foi o aspecto que mais contribuiu para a competitividade do Sistema 1, devido, principalmente ao compartilhamento de informações e à trajetória histórica vivida pelos produtores inseridos nesse sistema. Assim, a análise agregada da competitividade revela que, apesar de a estrutura produtiva apresentar-se desfavorável, o Sistema 1 se mostra mais competitivo que o Sistema 2 em todos os aspectos analisados. Os aspectos mais marcantes que diferenciam os dois sistemas são a aprendizagem e inovação e as relações de mercado. Tais fatores são fortemente influenciados pela cooperação que existe no Sistema 1, que permite acesso a outros patamares de benefícios que não são alcançados pelo Sistema 2.

Apesar das diferenças entre os dois sistemas analisados, observam-se dois importantes aspectos para a competitividade da atividade da acerola na região. Tais fatores são a geração de externalidades positivas das ações do Sistema 1 e a apropriação do

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conhecimento por parte dos produtores do Sistema 2. Tal apropriação caracteriza o efeito free-rider. Nesse caso, os indivíduos se beneficiam dos benefícios sem incorrer no ônus para alcançar os objetivos. Tal fato pode gerar conflitos entre os que contribuíram diretamente na geração dos benefícios e aqueles que se apropriaram do conhecimento gerado. Entretanto, por outro lado, a difusão do conhecimento entre todos os agentes envolvidos na atividade da acerola na região promove o desenvolvimento e a possibilidade de avanços que promovam melhorias em termos de competitividade de todo o sistema. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O incentivo à formação de redes de cooperação produtiva é uma alternativa para aumentar a eficácia na aplicação de recursos públicos ou privados voltados para o desenvolvimento da fruticultura. A análise da competitividade da cadeia da acerola na região Nova Alta Paulista revelou aspectos impeditivos para a formação de um Arranjo Produtivo Local. Se por um lado há aglomeração de produtores rurais em torno de uma atividade representativa, por outro lado há pouca interação destes com outros agentes da cadeia. A ausência de agroindústrias processadoras com significativa participação nos canais de comercialização locais é um importante exemplo.

Entretanto, este estudo revelou que há condições prévias para a emergência e fortalecimento de uma rede de cooperação horizontal em torno da produção de acerola na região da Nova Alta Paulista. Tais condições são: a clara delimitação territorial; a posição de destaque da acerola no cenário sócio-econômico da fruticultura regional; a aglomeração de agentes, principalmente produtores rurais, em torno da atividade produtiva na região; a existência de iniciativas de parceria/cooperação entre os produtores e com organizações públicas e privadas de apoio à atividade; e a característica de ser uma atividade representativa de pequenos e médios produtores.

A aglomeração que ocorre em torno da produção de acerola confere à região vantagens competitivas que as difere de outras regiões. As vantagens resultam das externalidades geradas pelo arranjo organizacional existente. As externalidades positivas contribuem para que os produtores sejam capazes de acessar a inovação, seja tecnológica ou gerencial, atender às demandas de mercado e, consequentemente, obter maior apropriação monetária. As externalidades advindas do arranjo permitem também que os produtores da região se tornem competitivos ao ponto de escolherem suas opções de mercado, na medida em que têm seu poder de barganha aumentado. Dessa forma, as falhas de mercado e as desvantagens intrínsecas à pequena propriedade agrícola, como reduzida área de produção e baixo volume de produtos, poderiam ser superados levando os produtores a um patamar superior no processo de comercialização.

Dessa forma, as externalidades proporcionam aos produtores aumento da eficiência na produção e comercialização de produtos, permitindo maior apropriação monetária. Porém, mais do que isso, possibilitam a escolha pelos canais de comercialização. Assim, a escolha pode ser baseada nos objetivos estratégicos dos produtores. Tal possibilidade é muito relevante, principalmente quando consideramos que nem sempre o objetivo dos pequenos produtores, especialmente produtores familiares, é crescer, mas sim atingir um bem-estar considerado adequado. Assim, conclui-se que a cooperação horizontal pode proporcionar melhorias que permitam acesso ao mercado sem que isso implique profundas

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transformações da pequena unidade de produção, como a contratação de mão-de-obra externa e o aumento da área de produção.

O arranjo organizacional na forma de uma rede de cooperação horizontal permitiria também processos de agregação de valor à acerola e a diferenciação por meio das Indicações Geográficas. As Indicações Geográficas buscam valorizar e revelar a qualidade de um produto, com base em características resultantes da interação do homem com seu território.

Observa-se que há dificuldades adicionais para os pequenos produtores devido às características inerentes à pequena propriedade rural como área reduzida e baixa escala de produção. Devem ser consideradas ainda a dificuldade de acesso à informação e à inovação. Tais características conferem aos pequenos produtores um certo grau de dificuldade em alcançar economias de escala quando comparados à agricultura comercial (ou patronal). Podem ser consideradas como alternativas, o posicionamento de produtos no mercado e a cooperação. A mudança de posicionamento voltada ao aproveitamento de oportunidades e nichos de mercado envolve processos de agregação de valor aos produtos. Como exemplos na atividade da acerola podem ser citados a demanda pela fruta verde por parte da indústria farmacêutica e a crescente exigência em termos de certificação de qualidade, principalmente relacionada à segurança do alimento. Tais processos demandam, em geral mobilização de recursos sejam eles humanos, financeiros ou tecnológicos. As dificuldades, nesse caso, estão relacionadas à adoção de inovação por parte dos pequenos produtores. As inovações, tanto tecnológicas quanto gerenciais, ainda não são muito adotadas pelos produtores devido ao seu custo, à resistência a mudanças e aversão ao risco por parte dos pequenos produtores. Tal comportamento foi observado, por meio da pesquisa de campo, principalmente entre os produtores inseridos no Sistema 2.

Nesse contexto, a análise da competitividade da cadeia produtiva da acerola na região Nova Alta Paulista revelou que há aspectos positivos que contribuem para que a região se torne um centro de referência na produção de acerola, entretanto, há também aspectos que merecem atenção especial por parte dos agentes envolvidos e do Estado, pois podem ameaçar a eficiência da atividade na região.

Entre os fatores positivos, a cooperação destaca-se como elemento-chave na construção da competitividade. Desconsiderando produtos com elevada especificidade destinados a mercados de alto valor, a cooperação se mostra como condição sine qua non para que os produtores assumam uma posição mais favorável na negociação dos seus produtos. No caso do Sistema 1, a cooperação permitiu adoção de inovação tecnológica e gerencial, além de melhor posicionamento considerando as relações de mercado.

Entretanto, a cooperação horizontal não surge espontaneamente entre os indivíduos, sendo necessárias motivações externas e a existência de determinadas características dos grupos para que ela venha a emergir. A seguir, com base na pesquisa empírica, são discutidos os condicionantes e as externalidades da cooperação horizontal observados na Associação de Produtores de Junqueirópolis (Figura 2).

Condicionantes da cooperação horizontal

Há duas variáveis importantes a serem consideradas no estabelecimento e manutenção da cooperação horizontal: o interesse individual em participar da cooperação

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e o interesse coletivo. O interesse individual é influenciado pela possibilidade de ganhos monetários e não monetários. Os ganhos monetários consistem em maior rentabilidade nas transações, enquanto os ganhos não monetários estão relacionados com os bens sociais como auto-estima, reconhecimento e poder, entre outros.

As possibilidades de ganhos influenciam positivamente o interesse individual dos produtores em continuar participando da cooperação. Quanto mais comprometidos com os interesses coletivos e quanto maior a percepção dos resultados gerados, maiores tendem a ser os incentivos para que cada indivíduo contribua para com a ação coletiva. Dessa forma, um ciclo virtuoso é gerado, sendo necessária a criação de mecanismos de monitoramento e controle, como é o caso do estatuto interno que rege a associação de produtores.

Fonte: Elaborado pelos autores. Figura 2 - Condicionantes e externalidades da cooperação na Associação Agrícola de

Junqueirópolis. Considerando a região como um todo, apesar de haver vários produtores que não

estão envolvidos em alguma estrutura formal de cooperação, estes também se beneficiam das externalidade positivas geradas pelo grupo que coopera (Sistema 1), como discutido anteriormente.

Quanto maior o capital social de um grupo, maior tende a ser a eqüidade de benefícios entre os indivíduos que o compõem e, consequentemente, menor a tendência de

Acesso a opções

de

comercialização

Interesse

coletivo

Capital social

Equidade

Trajetória histórica

Tamanho do grupo

Homogeneidade

Melhoria em

planejamento

Acesso a

informações de

mercado

Aprendizado

coletivo

CONDICIONANTES PARA EMERGÊNCIA DA COOPERAÇÃO

EXTERNALIDADES

Interesse

individual

COOPERAÇÃO HORIZONTAL

Arranjos

institucionais

- Nível tecnológico

- Capacidade de

atender às

demandas de

mercado

(qualidade e

segurança)

- Poder de barganha

- Economia de

escala

- Possibilidade de

bem-estar social

Acesso a inovação

tecnológica e

gerencial

Possibilidade de

ganhos monetários e

não-monetários

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ação dos free-riders. Dessa forma, conclui-se que a variável interesses coletivos afeta diretamente a cooperação. O capital social também é resultante da trajetória histórica da região, que passou por períodos de crise. Considerando o Sistema 1, observou-se que o grupo enfrentou desafios comuns, contribuindo para a existência de confiança entre os produtores. Observou-se ainda que o tamanho do grupo afeta o interesse coletivo uma vez que interfere nos mecanismos de incentivo à participação individual. Quanto maiores os grupos, mais formalizadas tendem a serem as estruturas organizacionais, com o estabelecimento de regimentos e estatutos internos (mecanismos de enforcement), dessa forma são criados mecanismos para incentivar o comprometimento e coibir comportamentos oportunistas. A homogeneidade dos grupos também afetou os interesses coletivos na medida em que diferenças entre tamanho da propriedade, nível tecnológico, nível de renda e práticas gerenciais adotados, entre outros, dificulta a equidade de benefícios dentro dos grupos. A eqüidade interfere na cooperação horizontal, pois afeta a coesão do grupo. Quanto mais eqüitativa a distribuição de benefícios, maior a tendência de coesão do grupo. Externalidades da cooperação horizontal

A pesquisa empírica revelou que a cooperação agrega alguns benefícios difíceis de serem alcançados individualmente como o acesso à informação, o planejamento da produção, o aprendizado coletivo e o acesso às opções de comercialização. O acesso à informação promove o conhecimento quanto às oportunidades de mercado e quanto às opções tecnológicas disponíveis. Considerando a tecnologia, observou-se que a realização de investimentos elevados, como a construção e manutenção de câmaras frias, só é possível porque os custos do investimento são diluídos entre um grupo de produtores. O acesso à informação de mercado influencia outra variável relevante, o planejamento da produção. O planejamento envolve diversas decisões gerenciais em relação ao produto e ao sistema produtivo, como questões sobre o quanto, quando e como plantar. Esse nível de planejamento é dificilmente alcançado por pequenos produtores de forma isolada.

Assim, o planejamento da produção e o acesso à tecnologia permitem aos produtores atender às demandas dos canais de comercialização, pois afetam dois pontos principais. Em primeiro lugar, promove o aumento na quantidade produzida pelo grupo, refletindo na possibilidade de economias de escala, já que os produtores tendem a produzir baixo volume de produtos devido às áreas reduzidas e ao baixo nível tecnológico adotado.

Em segundo lugar, promove o incremento na qualidade dos produtos uma vez que a inovação e o aprendizado são gerados e difundidos no grupo. De acordo com Balestrin et al. (2005), o conhecimento nasce no nível individual, través da interação entre os conhecimentos tácito e explícito, é socializado para a organização pela dinâmica da interação e daí para o nível interorganizacional. A cooperação horizontal é uma estrutura que favorece a ampliação do conhecimento, pois favorece a interação entre os indivíduos e organizações. A pesquisa revelou que o aprendizado coletivo foi uma externalidade gerada. O estoque de conhecimento é alimentado pelas experiências individuais de cada produtor e tal conhecimento pôde ser compartilhado entre os agentes envolvidos na cooperação

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horizontal. Uma vez atendidas as exigências dos mercados, o conhecimento, juntamente com o apoio gerencial fornecido por instituições públicas e privadas, resultam num conjunto de capacidades que podem resultar em maior poder de negociação do grupo. Ou seja, maior possibilidade de escolha pelos canais de comercialização mais atrativos. Finalmente, percebe-se que o apoio institucional é um fator externo relevante para o estabelecimento da cooperação horizontal. O apoio institucional ocorre de diferentes formas: a) apoio técnico que influencia o planejamento da produção e o nível tecnológico adotado; b) apoio gerencial que ocorre na forma de capacitação e intermediação no relacionamento entre os agentes influenciando a capacidade de negociação do grupo, entre outros; e c) apoio financeiro, que é representado pelas agências de fomento ao crédito. O apoio institucional financeiro afeta os recursos disponíveis para investimento em tecnologia, por exemplo.

Entretanto, há fatores que dificultam o desenvolvimento e a competitividades desse arranjo organizacional. Tais fatores são de ordem tanto externa quanto interna. Os fatores de ordem externa estão relacionados com a oferta de mão-de-obra. Tal problema, já discutido anteriormente, deve-se à concorrência da atividade da acerola com a cana-de-açúcar, cultura que emprega um elevado número de trabalhadores rurais. Porém, há perspectivas de que esse problema não se torne impeditivo à competitividade da produção de acerola por muito tempo, uma vez que a colheita mecanizada tem crescido no Brasil como forma de redução de custos das empresas e como exigência das Legislações Ambientais. A utilização de mão-de-obra na expansão da produção de acerola poderia inclusive auxiliar na redução do desemprego que normalmente é gerado nos locais onde a colheita mecanizada é implantada.

A demanda limitada por acerola e seus subprodutos também é um fator externo impeditivo à competitividade do sistema. Observou-se que devido à crise econômica ocorrida em 2008/2009, houve redução das exportações de subprodutos de acerola, principalmente, revelando que o consumo desses produtos ainda não estão incorporados na dieta dos consumidores. Assim, campanhas institucionais para divulgar benefícios para a saúde e das características organolépticas da acerola devem ser feitas tanto para o mercado externo como para o mercado interno.

Os fatores que dificultam o alcance da competitividade de ordem interna estão relacionados principalmente com a cooperação entre os agentes inseridos na atividade na região. Tais fatores já foram discutidos anteriormente. Deve-se notar que há necessidade da instituição de mecanismos formais e informais como forma de reger o comportamento dos agentes dentro do sistema. Os mecanismos podem tanto incentivar os produtores a agir de determinada forma, como por exemplo, premiando a ação; como podem punir aqueles que não atuam em prol do crescimento coletivo, como as sanções. Observa-se que os mecanismos de monitoramento e controle são muito importantes para o desenvolvimento e funcionamento de um arranjo organizacional baseado na cooperação, pois permite que as estratégias estejam alinhadas visando à competitividade do sistema como um todo. Apoio: CNPq REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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