Artigo - A Cultura Nas (Das) Pequenas Cidades

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Estudos, na área da Geografia, que descrevem e analisam cidades localizadas nas proximidades dos rios.

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  • A cultura nas (das) pequenas cidades da Amaznia Brasileira

    Jos Aldemir de Oliveira Departamento de Geografia

    Universidade Federal do Amazonas

    O presente texto faz parte de pesquisas desenvolvidas no Grupo de Pesquisas e Estudos das Cidades na Amaznia Brasileira do Departamento de Geografia da

    Universidade Federal do Amazonas Brasil, cujos resultados apontam como tendncia o revigoramento de alguns pequenos ncleos urbanos antigos, especialmente os localizados nas margens dos rios. Fala-se pouco das pequenas cidades, sobretudo as situadas nos pases

    pobres e principalmente na periferia desses pases. Quero utilizar-me deste espao para falar das cidades da Amaznia Brasileira no porque so importantes do ponto de vista

    econmico ou poltico, mas porque so lugares em que pulsam modos de vida que diferem muito do padro caracterizado como urbano.

    A vida nas (das) pequenas cidades est ligada ao rio e floresta. Vendo-se uma vez, elas nunca mais sero esquecidas. No porque deixem, como outras cidades memorveis,

  • uma imagem extraordinria nas recordaes, mas porque tm a propriedade de permanecerem na memria rua por rua, casa por casa, apesar de no possuirem particular beleza.

    Chega-se s pequenas cidades amaznicas pelo rio quando o barco que navegamos se aproxima. Se for dia, antes vamos a torre da igreja e hoje a torre da telefnica, como sinal da modernizao; se for noite, o claro da cidade a que se achega vagarosamente, sem pressa, com tempo para os aconteceres e para a concretizao do SER. Chega-se ao

    porto, quase sempre improvisado, em que tudo parece temporrio e inacabado. O porto o intermdio entre o rio, a floresta e a cidade como lugar privilegiado dos

    enigmas da Amaznia transfigurados em enigmas do mundo a nos oferecer interrogaes sobre origens e destinos. O rio, a floresta e a cidade tm no porto a fronteira entre o real e o imaginrio, possibilitando-nos leituras mltiplas de ritmos de tempos diversos. A interpretao que podemos dar s pequenas cidades muitas vezes nos foge, pois buscamos parmetros lgicos que nem sempre so capazes de explic-las. Porm, apesar de todas as limitaes que podemos ter, o importante perceber desde a chegada que nessas pequenas

    cidades esto os mais preciosos arquivos culturais do mundo amaznico, os igaps simblicos de nossa cultura, as razes submersas da alma de um povo.

    quase sempre assim que chegamos maioria das cidades ribeirinhas e delas temos a primeira impresso que nem sempre fica, pois o contato com a realidade nos coloca em contato com arruamento catico e com cidades mergulhadas na inrcia. Essa inrcia pode ser apenas aparente, pois quase sempre estamos baseando nossas concepes a partir de realidades de um urbano em movimento.

    O que so as pequenas cidades

    Quais os parmetros para se definir uma pequena cidade? No h uma definio absoluta. O primeiro critrio ainda o demogrfico, porm outros devem ser arrolados, especialmente para uma regio como a Amaznia, dentre os quais se aponta:

    1) baixa articulao com as cidades do entorno; 2) atividades econmicas quase nulas com o predomnio de trabalho ligado aos

    servios pblicos;

  • 3) baixa capacidade de oferecimento de servios, mesmos os bsicos ligados sade, educao e segurana;

    4) predominncia de atividades caracterizadas como rurais. O processo de surgimento das pequenas cidades na Amaznia no prescinde de suas

    especificidades e neste sentido que ganha relevncia o seu estudo, visto que, do ponto de

    vista demogrfico, no perodo intercensitrio (1991-2000), a Regio Norte apresentou a maior taxa de crescimento relativo da populao urbana no Brasil, 18,26%, com mdia de urbanizao de 69,87%. Mesmo com esse expressivo ndice de urbanizao, os dados estatsticos escondem uma realidade socioespacial que necessita de anlises mais acuradas, sendo que dois merecem destaques pela relevncia: 1) concentrao da urbanizao - no Estado do Amazonas, o maior Estado brasileiro em extenso, por exemplo, de uma populao urbana de 2.104.290 habitantes, 70% est concentrada na capital do Estado, Manaus, com 1.403.796 habitantes; 2) ausncia de estrutura urbana - a maioria dos ncleos urbanos, especialmente os localizados s margens dos rios, embora apresentem a estrutura de cidade, carecem de atividades econmicas caracterizadas como urbanas, o que faz com

    que a populao urbana se dedique a atividades rurais como pesca, agricultura familiar e extrativismo. Esses ncleos urbanos diferem dos criados s margens das estradas que se

    constituem nas novas espacialidades urbanas da Amaznia a partir dos anos 70, em decorrncia da poltica desenvolvimentista baseada na implantao dos projetos de colonizao e na instalao de grandes projetos pblicos e privados.

    As polticas desenvolvimentistas determinaram um novo padro urbano para a Amaznia com o aumento do nmero de cidades. Em 1960, eram 165, passando para 212 em 1980, chegando a 264 em 1991, atingindo 449 em 2000, ou seja, s na ltima dcada do sculo 20 foram criadas 185 cidades, nmero superior quantidade de cidades existentes em 1960. Quase sempre, so pequenos ncleos que se emancipam com fraca ou nenhuma infra-estrutura cuja base econmica o repasse de recursos pblicos.

    Observa-se que h o aumento do nmero de cidades e a diminuio do tamanho das

    mesmas, pois em 1991 o tamanho mdio das cidades era de 5,2 mil habitantes e em 2000 de 2,07 mil. Aumentou tambm o percentual de concentrao da populao especialmente nas capitais, sendo o maior percentual em Boa Vista, capital do Estado de Roraima, com

    61,82%, seguida de Macap, capital do Amap, com 59,42%; Eis os dados das outras

  • capitais: Manaus, capital do Estado do Amazonas, 49,90%; Rio Branco, capital do Estado do Acre, 45,38%; Belm, capital do Estado do Par, 20,6%; Porto Velho, capital do Estado de Rondnia, 24,25%; e Palmas, capital do Estado de Tocantins, 11,87%. Como se v, em dois Estados a populao residente na capital representa mais da metade da populao total. Alm disso, h maior crescimento das cidades mdias. Considerando o censo de 1991, apenas 13 cidades na Amaznia tinham mais de 50.000 habitantes e menos 200.000: Porto Velho, Rio Branco, Boa Vista, Macap, Santarm, Marab, Castanhal, Ananindeua,

    Itaituba, Abaetetuba, Araguaina, Gurupi e Ji-Paran. Em 2000, o nmero de cidades com mais de 50.000 e menos de 200.000 habitantes aumentou para 23, mostrando tambm a tendncia ao aumento da populao nos ncleos j existentes. Tomando como exemplo o Estado do Amazonas, das 62 cidades, 10 tm menos de 5 mil habitantes e 21 entre 5 a 10 mil habitantes. 1

    Considerando algumas variveis para se aferir a qualidade de vida na Amaznia, observa-se que, embora tenha ocorrido melhoria, os ndices so inferiores mdia nacional. possvel comparar, por exemplo, que em 1991, os domiclios com abastecimento de gua eram de 41,4% e em 2000 subiram para 48,01. Em 1991, apenas 8% dos domiclios tinham esgotamento sanitrio adequado; em 2000 a rede de esgoto estava disponvel para 10,9% dos domiclios. Em 1991, os domiclios sem coleta de lixo representavam 63,1%; esse percentual diminuiu para 42,29% em 2000.

    Os dados quantitativos devem ser cotejados com algumas anlises qualitativas. O esgoto sanitrio carece de tratamento e est concentrado em algumas cidades. Do mesmo modo, a existncia de gua encanada no significa gua de boa qualidade ou que a gua tratada. Na maioria das cidades, especialmente, nas pequenas cidades, significa apenas a canalizao da gua do rio. A coleta de lixo no diferente. Embora esse servio tenha crescido significativamente em decorrncia da municipalizao, no h ou so raros os

    aterros sanitrios, predominando os lixes. O que se pode apontar que est ocorrendo o revigoramento de alguns ncleos j

    existentes. Ao mesmo tempo em que ocorre a integrao do territrio, possibilitando a circulao de pessoas e objetos, h a desarticulao de fluxos pretritos e o surgimento de outros. Como esta desarticulao de fluxos no circunscrita a si mesma, no apenas os

    1 . Todos os dados demogrficos foram extrados do Censo Demogrfico 2000 do IBGE.

  • eixos desaparecem, mas desarticulam-se atividades e da modos de vidas a eles ligados. Quase sempre os padres de circulao impostos pela modernizao determinam o desaparecimento de algumas atividades e o surgimento de outras, bem como estabelecem impactos. No entanto, parte dos ncleos urbanos localizados s margens dos rios perde importncia como dinmica econmica, em decorrncia da crise do extrativismo, mas

    mantm certa importncia local como suporte de servios populao. Embora as condies gerais de infra-estrutura da Amaznia sejam precrias, a pouca existente est localizada mesmo nas pequenas cidades. Nos anos 90, estes ncleos urbanos parecem recuperar minimamente alguma importncia com a ascenso da questo ambiental.

    As pequenas cidades no nosso agora

    H outro lado que tambm deve ser considerado. Nas ltimas dcadas do sculo 20, a vida nas cidades da Amaznia mudou de modo significativo. Mesmo nas pequenas cidades, em pouco mais de uma gerao, as informaes tornaram-se mais geis, pois os

    lugares foram atingidos por dimenses das tcnicas que possibilitaram maior circulao de idias e acesso a modernizao.

    Tudo isso contribuiu para construir concreta e subjetivamente o novo universo urbano em sua complexidade, alcanando propores espantosas tanto positivas como negativas. De um lado, as cidades passam a ser associadas s idias do novo, do moderno; de outro, passam a ser associadas baixa qualidade de vida, epidemias, inrcia e lugar da destruio e da violncia, as quais sempre ganham adjetivao que lhes associa ao espao urbano.

    As pequenas cidades amaznicas esto associadas beira do rio e beira das estradas. A situao geogrfica determina diferenciaes na paisagem. As cidades situadas

    beira do rio diferem das criadas s margens das estradas e apresentam caractersticas que, embora retomem o processo inicial de colonizao portuguesa na Amaznia, carecem de

    estudos geogrficos. neste aspecto que aparece a importncia de estudos que apresentem, nem que seja de modo preliminar, alternativas aos assentamentos nos aglomerados urbanos, em especial das pequenas cidades que marcam a produo do espao da Amaznia desde o

    perodo colonial e que passam a ter certa importncia a partir dos anos 90 do sculo 20. Em

  • alguns desses aglomerados h o surgimento de aes nem sempre transformadas em produo que se ligam s novas dimenses postas pela questo ambiental. O problema que se vislumbra como, do ponto de vista terico e metodolgico, estudar os pequenos aglomerados; compreender, do ponto de vista da geografia, as estratgias das populaes e do poder locais para a superao das dificuldades de acesso educao, sade e

    telecomunicaes; e como essa articulao se insere numa rede de organizaes do movimento social local (sindicatos, cooperativas, naes indgenas) e desta com o movimento ambientalista (ONG), inserindo a Amaznia como pauta de discusso internacional relacionada questo ambiental.

    Nas cidades da beira das estradas as transformaes foram to rpidas que surgiram novas formas de vida e espaos a partir do nada, num lastimvel domnio da geografia do lugar nenhum, em que predominam os fluxos de intercmbios e os centros de negcios especialmente ligados minerao, extrao de madeira e mais recentemente soja. J as cidades da beira do rio parecem ter uma dinamicidade ligada a uma dimenso da sustentabilidade e da biotecnologia comandadas quase sempre por ONGs que esto

    articuladas ao mundo quase sempre sem se articular com os lugares. Criam-se espaos artificiais, desprovidos de memria que desprezam a histria e a cultura especficas,

    levando construo de objetos iguais, independentemente dos lugares onde esto localizados.

    As contradies das espacialidades Por isso essas pequenas cidades da Amaznia so cada vez mais iguais, e as suas

    formas escapam histria e cultura do lugar, tornando os homens e as mulheres refns da lgica de um mundo distante, das possibilidades ilimitadas como se fosse possvel reinventar formas iguais em qualquer lugar. Busca-se projetar formas espaciais para unificar o ambiente simblico visando atender aos interesses de determinados segmentos da

    sociedade, conseqentemente substituindo a especificidade histrica de cada lugar. So temporalidades e espacialidades alheias ao lugar, visto que o poder, a produo

    e a riqueza so projetados para o mundo enquanto a experincia, a vivncia, a cultura e a histria so enraizadas nos lugares. Em decorrncia pode-se ter acesso s mais avanadas tecnologias, que so vendidas como sinais de progresso e de crescimento, mas a maioria

    no tem acesso s necessidades bsicas.

  • As pequenas cidades amaznicas vivem essa contradio: so articuladas a relaes pretritas caracterizadas pela inrcia e, ao mesmo tempo, articuladas a dinamicidades contemporneas que as ligam ao mundo, especialmente a partir da biodiversidade e da sociodiversidade. Essa contradio, que de resto no exclusiva da Amaznia, possibilita as simultaneidades nas inovaes e sinais da modernizao na paisagem (especialmente ligados comunicao, mas tambm em equipamentos).

    Ao mesmo tempo, essas pequenas cidades talvez representem, neste incio de sculo, uma das mais raras permanncias, refletindo e iluminando miticamente a cultura. Cultura assinalada por Joo Paes Loureiro como algo que continuar a ser uma luz brilhando e que persistir mesmo com as chamas das queimadas nas florestas, com a extrao dos recursos naturais, com a poluio dos rios e com a mudana das relaes dos homens entre si, que no conseguem destru-las irremediavelmente. Aqui ainda h um tempo para a vivncia de uma forma ilimitada, "com seres sobrenaturais, porque somente a

    imaginao consegue ultrapassar os horizontes. Foi a boina que, ao agitar-se, fez o barranco ruir; o curupira fez o caador perder-se na mata; a iara fez afogar-se de seduo

    aquele que, aparentemente, no tinha razes para morrer no rio; a tristeza no veio da alma, mas do canto da acau.

    H nestes aglomerados a inrcia caracterizada pelos tempos lentos e ao mesmo tempo a dinamicidade dos tempos rpidos que caracterizam a insero da Amaznia no

    mundo. A anlise desses dois aspectos (a inrcia e a dinamicidade) ao mesmo tempo antagnicos e complementares necessita de pesquisas de campo acuradas, porque ela pode

    nos clarear o papel das pequenas cidades e especialmente se esse novo momento da Amaznia representar um processo caracterizado pela dinamicidade ou se ao contrrio significar a permanncia na inrcia.

    H um problema de base metodolgica para as cincias sociais no geral e para a geografia em particular, qual seja de que modo estudar esses pequenos aglomerados urbanos. Tal preocupao decorre do entendimento de que a complexidade de compreenso das cidades amaznicas, especialmente das pequenas cidades, est na dificuldade de se estabelecer uma correta e coerente problematizao da realidade e, a partir disso, construir um objeto de investigao que analise, do ponto de vista geogrfico, a articulao dos processos ecolgicos com os processos culturais. O desafio, portanto consiste em

  • compreender como as relaes socioespaciais decorrentes das estruturas sociais e produtivas so formuladas sob a ptica terico-conceitual, levando em considerao natureza.

    A imagem da natureza que conduziu boa parte da discusso terica e que por seu turno norteou a poltica ambiental at bem recentemente foi construda tendo sempre

    embutida a idia de domnio do homem. Especificamente sobre a Amaznia, predomina uma viso que oscila de um lado como um ambiente hostil oposto civilizao que precisa

    ser desbravado e de outro um lugar paradisaco, um lugar de retorno. A nostalgia ecolgica era conveniente para a classe dominante, materializada num naturalismo cristianizado, onde est implcita a unidade homem - natureza.

    O que surge como um novo elemento-chave no processo de compreenso da problemtica ambiental no final do sculo 20 que as anlises acerca do ambiente tm que levar em conta o espao como a categoria fundamental para a compreenso das formas pelas quais as relaes societrias produzem e reproduzem o espao.

    Outra questo a ser considerada que as estruturas e as dimenses socioespaciais na

    Amaznia hoje so compartilhadas de modo diferente do que eram at ento. Novos sujeitos, indgenas, movimentos sociais, empresas, ONGs e mdia produzem espacialidades diversas e articulam as estruturas preexistentes quase sempre locais s dimenses globais. No curso dessa articulao, o poder se dilui entre outros agentes das sociedades, de grupos de indivduos, minorias tnicas, de pacifistas, de instituies que no se articulam apenas ao Estado Nacional e que em alguns casos j atingiram um grau de relaes supranacionais.

    Aqui talvez as pequenas cidades amaznicas, imersas numa inrcia de tempos lentos, ganhem papel relevante, visto que comportam elementos da natureza ainda no conhecidos. Por outro lado, esse processo ainda necessita de uma base logstica, que estas

    cidades representam, visto que esto ligadas ao mundo como, por exemplo, por meio das telecomunicaes. Estudar esse processo em curso e verificar como ele se conclui significa

    a busca de compreender melhor a cidade, atingindo-se o real, o prprio ser, a sua essncia, formulando anlise terico-metodolgica a partir do conhecimento extrnseco que se dar com a investigao precisa das coisas e dos objetos para alm da aparncia.

    As pequenas cidades amaznicas no so apenas produto do nosso tempo, mas de

  • tempos pretritos cristalizados na paisagem. Por seu turno, a paisagem urbana no se resume ao conjunto de objetos, pois contm modos de vida que, como os primeiros, so resultantes das relaes de produo continuamente produzidas, reproduzidas, criadas e recriadas, contendo as dimenses da sociedade de cada tempo.

    Essa paisagem urbana tambm comporta as coisas da natureza. As cidades de hoje so lugares bem diversos das cidades pretritas, no s porque o conjunto arquitetnico e a infra-estrutura foram profundamente modificados, mas tambm a terra, a floresta e os rios.

    O stio urbano modificou-se ou porque se transformou ou porque estagnou, no sendo mais o mesmo. Aqui talvez esteja a raiz da investigao das pequenas cidades amaznicas, a investigao da cultura que mudou de modo considervel a partir da transformao de hbitos e costumes.

    Consideraes finais

    Este um texto sem concluso, pois pesquisas ainda esto em andamento e mesmo quando concludas revelaro verdades e no a verdade. O nico ponto a destacar que as

    pequenas cidades amaznicas revelam espacialidades que no coincidem com o inventrio dos objetos no espao nem sobre seu discurso e representao. Aqui se insere uma questo relevante: a questo ambiental no um problema das populaes locais, por isso essa populao no pode assumir o nus das solues quase sempre preconizadas de fora.

    Neste sentido, pode-se inferir que a espacialidade oculta as conseqncias, o que indica a construo de uma geografia capaz de revelar formas e contedos espaciais que foram transformados e/ou permaneceram. Na Amaznia, para os homens e mulheres a histria e a geografia das cidades so feitas. H outro jeito de fazer e outro modo de esperar e neste sentido, homens e mulheres passam a ser a razo primeira de tudo. Nas pequenas cidades amaznicas a natureza importante, porm muito mais do que pelo fatalismo de

    uma vida governada pela determinao da natureza, a cultura amaznica, produzida pelo amaznida, estrutura-se como a lgica e como a razo, mas tambm como o sonho.

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