Artigo-A Experiencia Do Nucleo de Acessibilidade Da UFG
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VII SenabrailleBibliotecas: espaços acessíveis a múltiplos usuários
De 27 a 30 de novembro de 2011 – Centro de Convenções da Unicamp
A experiência do Núcleo de Acessibilidade da UFG
como espaço de apoio à inclusão de pessoas
com deficiência no ensino superior
Dalva Eterna Gonçalves Rosa, Faculdade de Educação/UFG, Goiânia-GO,[email protected]
Dulce Barros de Almeida, Faculdade de Educação/UFG, Goiânia-GO,[email protected]
Ricardo Antonio Gonçalves Teixeira, Faculdade de Educação/UFG, Goiânia-GO,[email protected]
Tema: Políticas públicasModalidade: Apresentação oral
Resumo
Objetiva-se, com o presente relato de experiência, apresentar à
comunidade participante do VII SENABRAILLE, o processo de instituição e
organização do Núcleo de Acessibilidade da Universidade Federal de Goiás,
vinculado à PROGRAD, subsidiado, atualmente, pelo Programa Incluir da Secretaria
de Educação Superior do Ministério da Educação - SESu/MEC, bem como algumas
ações, projetos e programas desenvolvidos com vistas à acessibilidade no ensino
superior. Dentre eles, apresenta-se o projeto de extensão intitulado “1º Encontro
Municipal de IES Públicas e Privadas sobre Acessibilidade no Ensino Superior”,
extensivo aos diferentes órgãos, departamentos e unidades internas às UFG, bem
como às IES públicas e privadas de Goiânia, entidades representativas de pessoas
com deficiência e comissão de acessibilidade de conselhos representativos.
Destaca-se, dentre outros, dois encontros que versaram sobre a temática
“Acessibilidade nas Bibliotecas Públicas e Privadas do Estado de Goiás”,
apresentados, inicialmente, pelas servidoras técnico-administrativas da Biblioteca
Central da UFG, de forma detalhada e crítico-reflexiva, o que causou grande
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repercussão entre os participantes pela sua relevância no que diz respeito à
exclusão de discentes com deficiência, sobretudo com cegueira, no ensino superior.
Palavras-chave: Ensino Superior. Inclusão. Acessibilidade. Pessoas comDeficiência.
1 Introduzindo o tema
O presente artigo tem como objetivo relatar as experiências do Núcleo de
Acessibilidade da UFG, vinculado à Pró-Reitoria de Graduação, junto à comunidade
universitária participante do VII SENABRAILLE, promovido e realizado pelaUNICAMP – Campinas, SP.
O Núcleo é subsidiado pelo Programa Incluir: Acessibilidade na Educação
Superior, instituído desde 2005, por iniciativa da Secretaria de Educação Superior e
da então Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação
(SESu/SEESP/MEC), e visa implementar política de acessibilidade para pessoas
com deficiência.
O Programa Incluir, dirigido às Instituições Federais de Educação
Superior (IFES), incluídos os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
com cursos de nível superior, objetiva fomentar a criação e a consolidação de
núcleos de acessibilidade, os quais passam a responder pela organização de ações
institucionais que garantam a inserção plena, sobretudo de estudantes com
deficiência à vida acadêmica, promovendo a eliminação de barreiras atitudinais,
físicas, pedagógicas e de comunicação. Conforme dados do Ministério da Educação,
o Programa contava até o ano de 2010 com a adesão de 54 IFES, sendo 10 Centros
Federais de Educação Tecnológica.
Por Núcleos de Acessibilidade compreende-se a constituição de espaço
físico, com profissional responsável pela organização das ações, articulação entre
os diferentes órgãos da instituição para a implementação da política de
acessibilidade e efetivação das relações de ensino, pesquisa e extensão na área
(BRASIL/MEC, 2010).
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educacional adequada da pessoa com deficiência ou até mesmo o seu desinteresse
em reivindicar direitos tendo em vista o baixo nível sócio-econômico e intelectual. As
justificativas, de fato, são muitas, mas praticamente todas colocadas na própria
pessoa acometida por alguma deficiência como se ela fosse a única responsável
pela situação de penúria em que se encontra.
Pelos dados do Censo/2006, em um universo de 4.676.646 alunos com
matrícula no ensino superior, apenas 6.960 apresentam algum tipo de deficiência, o
que equivale a um percentual mínimo e irrisório, ou seja, 0,14%.
Assim, a concepção que subsidia o presente artigo é a de que é possível
construir formas solidárias de convivência entre os homens, minimizando essas
tradições seletivas e excludentes das escolas, nesse caso específico no ensino
superior, apesar de todo um contexto social adverso. O entendimento é o de que
reconhecendo o “outro”, mesmo com todas as suas diferenças em relação aos
modelos padronizados, é possível contribuir com mudanças de paradigmas, pois o
respeito pela diversidade, no seu sentido total, tem por consequência a afirmação de
que a vida se amplia e se enriquece na pluralidade.
Segundo Vygotsky (1985/1991/1993), sendo o homem um ser social, a
interação entre pessoas com ou sem deficiência é essencial. Viver coletivamente,
sem preconceitos e na diversidade possibilita compreender o meio como veiculador
da cultura e constituinte de fonte de conhecimento.
Para Foucault (1989) o foco do preconceito, da discriminação e exclusão
é o controle social exercido de forma extremamente eficiente por aqueles que detêm
o poder via leis, decretos e instituições.
Goffman (1988) completa essa discussão teórica ao refletir,
especificamente, sobre as pessoas com deficiência, pois, para ele, são pessoas
concebidas como negação coletiva da ordem social e integram a comunidade dos
estigmatizados. Conduz ainda, à reflexão quanto ao papel e responsabilidade das
instituições, sobretudo as educacionais, na formação humana.
Como objetivo geral do Núcleo acredita-se que por meio de suas ações épossível contribuir com a inclusão social no país, minimizando os preconceitos, o
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estigma e as injustiças sociais, bem como contribuir com a implementação da
política institucional de acessibilidade no Brasil, pois, parte-se do princípio que a
UFG, enquanto instituição pública federal de ensino superior deve continuar
assumindo o seu papel social nas transformações e garantias de qualidade de vida
para “todos”.
Como parte dos objetivos específicos é importante destacar que o Núcleo
de Acessibilidade, desde o seu momento de criação, tem priorizado o
desenvolvimento de projetos tanto de pesquisa quanto de extensão para detectar as
barreiras que têm atingido as pessoas com deficiência na UFG e para estabelecer
contato com diversas instituições de ensino superior, privadas e públicas, bem como
com entidades representativas das pessoas com deficiência para discussões e
trocas de experiências a respeito da acessibilidade no ensino superior.
2.2 Propostas e ações
O Núcleo de Acessibilidade da UFG, conforme sua natureza, tem
desenvolvido suas ações com base no tripé: ensino, pesquisa e extensão.
No presente artigo, optou-se por destacar as ações vinculadas às
atividades de extensão.
A partir de fevereiro do presente ano, iniciou-se o desenvolvimento do
projeto de extensão intitulado “1º Encontro Municipal de IES Públicas e Privadas
sobre Acessibilidade no Ensino Superior”, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e
Cultura (PROEC/UFG).
O referido projeto tem se constituído em importante espaço de discussão
e debate de temáticas que vão ao encontro das necessidades de diversas
instituições que aderiram ao projeto. A saber: Instituições de Ensino Superior – IES
quer sejam públicas ou privadas; Associações representativas de pessoas com
deficiência do Estado de Goiás; Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura –
CREA-GO; Associação de Intérpretes de LIBRAS em Goiás; Câmara Municipal de
Goiânia; e Órgãos e institutos internos à UFG.
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As temáticas elencadas pelo grupo participante para serem discutidas e
debatidas no decorrer do ano, prioritariamente, foram: O processo seletivo para
alunos com deficiência; Aspectos conceptuais e legais da acessibilidade;
Tecnologias Assistivas; A importância do espaço físico acessível; Acessibilidade na
WEB; Rompimento de barreiras atitudinais, pedagógicas, comunicacionais e física.
Além dessas, ressalta-se o tema “Acessibilidade nas Bibliotecas Públicas e Privadas
do Estado de Goiás”.
Esse tema foi debatido sob a coordenação das servidoras técnico-
administrativas da Biblioteca Central da UFG. No decorrer dos relatos constatou-se a
exclusão de discentes com deficiência, sobretudo com cegueira, nas bibliotecas das
IES goianas. Na ocasião, o debate teve como foco questões pontuais tais como: a
produção de livros digitais com ledor, que não é mais uma unanimidade entre os
alunos cegos; as dificuldades de produções em braile, pelo volume que produz e
espaço que acarreta; bem como as possibilidades de criação de uma biblioteca
virtual, em formato digital, na qual é possível ter um acervo completo sem ocupar
tanto espaço. Enfim, todas as questões direcionavam à seguinte indagação: É
possível existir um curso superior sem uma biblioteca acessível a todos?
Para além da tríade apresentada, o Núcleo de Acessibilidade tem
investido na aquisição de equipamentos, mobiliários e recursos tecnológicos visando
proporcionar às pessoas com deficiência uma formação mais adequada e de
qualidade a partir de recursos adquiridos por meio do Programa Incluir
(SESU/SEESP/MEC), de recursos da PROGRAD/UFG que tem apoiado, em todos
os sentidos, as iniciativas e ações do Núcleo e de doações da Receita Federal/GO.
Como conseqüência das ações empreendidas pelo Núcleo, observa-se,
na UFG, mudanças incipientes a partir de demandas e discussões apresentadas nos
encontros no que diz respeito, sobretudo, ao processo seletivo, à acessibilidade na
WEB e nas bibliotecas e à remoção de barreiras arquitetônicas.
Não obstante, o Núcleo de Acessibilidade da UFG ainda vislumbra,
conforme seus objetivos, consolidar suas ações no sentido de que seja efetivamente
possível:
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Atuar como órgão de referência da UFG, nas questões sobre
acessibilidade, com o propósito de minimizar as fragmentações
existentes;
Implementar política institucional de acessibilidade no interior da UFG,
por meio do Ensino, da Pesquisa e da Extensão, além de apoiar e
assessorar as ações dos diversos institutos, faculdades e serviços da
UFG;
Investir na preparação da comunidade universitária para sensibilização
e reconhecimento dos benefícios da convivência na diversidade e do
ambiente acessível para 'todos';
Sistematizar informações para implementação de políticas e ações,
como elementos facilitadores, para articulação e acompanhamento de
discentes, docentes, técnicos administrativos e terceirizados com
deficiência ou mobilidade reduzida no interior da UFG;
Apoiar a expansão do Núcleo nos diversos Campi da UFG;
Estabelecer canais de comunicação com a comunidade universitária
com algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida para orientar a
otimização de recursos disponíveis na UFG tais como: Hospital das
Clínicas, Saudavelmente, Atendimento Clínico do Curso de Psicologia
e Centro de Línguas (Libras);
Articular com diversos órgãos federais, estaduais, municipais,
empresas e ONG’s visando manter parcerias para ações e
encaminhamentos referentes ao apoio às pessoas com deficiência ou
mobilidade reduzida;
Articular e manter parcerias sistematizadas com as diversas entidades
representativas de pessoas com deficiência do Estado de Goiás para
articulações, ações e encaminhamentos;
Promover e participar de atividades que envolvam a integração do
Núcleo com as entidades parceiras e demais organismos externos à
UFG;
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Divulgar as ações/propostas do Núcleo de Acessibilidade em eventos
diversos quer sejam locais, regionais, nacionais e internacionais, bem
como por meio de publicações científicas em periódicos, revistas
especializadas, anais e outros afins.
3 Considerações finais
Ressalta-se que o Núcleo de Acessibilidade da UFG está apenas
iniciando uma longa trajetória, pois mudanças de paradigmas são muito lentas.
Mudar concepções arraigadas em nome de pessoas historicamente marginalizadase excluídas, como é o caso de pessoas com deficiência, é um verdadeiro desafio.
Mas a UFG se dispõe a enfrentar as adversidades, cônscia do seu papel social na
luta pela inclusão de “todos” no espaço acadêmico, engrossando, assim, a fileira dos
que concebem que a democratização passa pelo convívio na diversidade e essa é
uma questão fundamental de toda a sociedade brasileira. O Núcleo de
Acessibilidade, poderá, certamente, ser um caminho para ações mais reflexivas,
críticas e inclusivas na educação superior.
Referências
BRASIL/MEC. Diário Oficial da União. Seção 3. nº 128, de 07 de Julho de 2010.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir : história da violência nas prisões. 7ª ed. Petropólis:Vozes, Brasil. 1989.
GOFFMAN, E. Estigma - notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4ªed. Rio de Janeiro: LTC, Brasil. 1988.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes,Brasil. 1985.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes,Brasil. 1991.
VYGOTSKY, L.S. The collect works of L.S. Vygotsky: the fundamentals ofdefectology. New York, London: Plenum Press, 2 v. 1993.