Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em ... · SLP – Sobrevida Livre de...
Transcript of Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em ... · SLP – Sobrevida Livre de...
Artigo de Revisão Bibliográfica
Mestrado Integrado em Medicina
Tânia Sofia Mendonça Madureira
Orientador:
Prof. Doutor José Maria Ferreira La Fuente de Carvalho
Coorientador:
Dr. Frederico João Tavares Teves
Porto, 2015
INFLUÊNCIA DOS NÍVEIS DE TESTOSTERONA NO
CANCRO DA PRÓSTATA AVANÇADO
Influência dos Níveis de Testosterona no
Cancro da Próstata Avançado
Dissertação de Candidatura ao grau de Mestre em Medicina submetida ao
Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar
Tânia Sofia Mendonça Madureira
Aluna n.º 091001077 do Mestrado Integrado em Medicina – 6º Ano Profissionalizante
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar - Universidade do Porto
Morada: Rua de Jorge Viterbo Ferreira n.º 228, 4050-313 Porto – Portugal
Email: [email protected]
Orientador:
Prof. Doutor José Maria Ferreira La Fuente de Carvalho
Categoria: Especialista em Urologia; Chefe de Serviço
Afiliação: Centro Hospitalar do Porto
Coorientador:
Dr. Frederico João Tavares Teves
Categoria: Especialista em Urologia; Assistente Hospitalar
Afiliação: Centro Hospitalar do Porto
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
I
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Doutor La Fuente de Carvalho e ao Dr. Frederico Teves, por terem
aceite a orientação científica deste trabalho, bem como pela disponibilidade
e generosidade com que apoiaram a sua realização.
Aos meus pais, pilar essencial na minha vida, meus impulsionadores, pelo
carinho e amor incondicional e por todos os valores que me transmitiram,
que fizeram de mim a pessoa que sou hoje.
À minha irmã, minha melhor amiga.
A toda a minha família e amigos, por sempre me acompanharem e pelo que
representam para mim.
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
II
LISTA DE ABREVIATURAS
5α-DHT – 5 Alfa-Dihidrotestosterona
5α-R1 – Enzima 5 Alfa-Redutase Tipo 1
5α-R2 – Enzima 5 Alfa-Redutase Tipo 2
CPRC – Cancro da Próstata Resistente à Castração
EGFR – Recetores do Fator de Crescimento Epidérmico
EUA – Estados Unidos da América
GnRH – Hormona de Libertação de Gonadotrofinas
IGF1R – Recetor 1 do Fator de Crescimento Semelhante à Insulina
LH – Hormona Luteinizante
LHRH – Hormona Libertadora de Hormona Luteinizante
PSA – Antigénio Específico da Próstata
RA – Recetores de Androgénios
SGM – Sobrevida Geral Média
SHGB – Globulina de Ligação às Hormonas Sexuais
SLP – Sobrevida Livre de Progressão
TSA – Terapêutica de Supressão Androgénica
VEGF – Fator de Crescimento Endotelial
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
III
RESUMO
A realização desta dissertação visa a elaboração de uma revisão sistemática acerca do
papel da testosterona na progressão do cancro da próstata avançado. Pretende-se
perceber qual a importância da testosterona como alvo terapêutico, quais as
possibilidades de terapêutica hormonal que se podem aplicar, incluindo as principais
vantagens e desvantagens.
O cancro da próstata é a segunda neoplasia que mais afeta os homens e a sexta mais
mortal a nível mundial. A testosterona, produzida essencialmente nos testículos, é o
principal androgénio masculino existente no sangue e um importante fator de crescimento
das células prostáticas, por intermédio da interação com os recetores de androgénios. A
sua produção é regulada, essencialmente, pelo eixo neuroendócrino com libertação
sequencial de hormona libertadora de hormona luteinizante, hormona luteinizante e
testosterona, respetivamente, pelo hipotálamo, a hipófise anterior e as células de Leydig
testiculares. A castração interfere neste eixo impedindo a formação normal da
testosterona e consequente estimulação de desenvolvimento das células prostáticas.
O cancro da próstata avançado compreende a doença localmente avançada, a doença
metastizada hormonosensível e a doença metastizada resistente à castração. A
terapêutica de eleição para o cancro metastizado hormossensível é a supressão
hormonal, quer na forma médica com os agonistas/antagonistas de hormona libertadora
de hormona luteinizante e os bloqueadores de recetores de androgénios quer na forma
cirúrgica com orquidectomia bilateral. Contudo, espera-se que a maioria dos doentes
progridam para cancro da próstata resistente à castração, através de diversos
mecanismos ainda pouco conhecidos.
A heterogeneidade de apresentação do cancro da próstata avançado continua a ser um
desafio para a comunidade científica, motivando a realização de investigação no sentido
da descoberta dos mecanismos exatos envolvidos na génese do cancro da próstata e no
processo de resistência à hormonoterapia e de novas e melhores opções terapêuticas.
PALAVRAS-CHAVE:
Cancro da Próstata; Terapêutica de Supressão Androgénica; Testosterona; Cancro da
Próstata Resistente à Castração; Recetores de Androgénios
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
IV
ABSTRACT
The aim of this thesis is to develop a systematic review of testosterone and its role in the
progression of advanced prostate cancer. It will also identify and analyze the importance
of testosterone as a therapeutic target, which hormone therapy opportunities can be
applied and provide a discussion of their various advantages and disadvantages.
For men, cancer of the prostate is the second most common type of cancer and worldwide
is regarded as the sixth most deadly, in terms of death toll. Testosterone, produced mainly
in the testis, is the main male androgen in blood and it is an important factor in the growth
process of prostate cells, through interaction with the androgen receptors. Their
production is governed mainly by the neuroendocrine axis with sequential release of
luteinizing-hormone releasing hormone, luteinizing hormone and testosterone respectively
by the hypothalamus, anterior pituitary gland and testicular Leydig cells. Castration
influences this axis avoiding the normal formation of testosterone and, as a consequence,
also the stimulation of prostate cells development.
The advanced prostate cancer includes locally advanced disease, metastatic disease
sensitive to hormone therapy and metastatic disease resistant to castration. Androgen
deprivation Therapy is the choice for hormone sensitive metastatic cancer, by medical
nature with luteinizing-hormone releasing hormone agonists/antagonists or blockers of
androgen receptors or surgical nature with bilateral orchiectomy. However, it is expected
that most patients will progress to castration-resistant prostate cancer through different
mechanisms which are still poorly understood.
The heterogeneity of advanced prostate cancer presentation remains a challenge for the
scientific community, motivating researches towards the discovery of the exact
mechanisms involved in prostate cancer genesis and the process of resistance to
hormone therapy and new and better therapeutic options.
KEY-WORDS:
Prostate Cancer; Androgen-Deprivation Therapy; Testosterone; Castration-Resistant
Prostate Cancer; Androgen Receptors
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
V
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1
1. CANCRO DA PRÓSTATA ........................................................................................................ 2
1.1. Epidemiologia .......................................................................................................................2
1.2. Fatores de risco ....................................................................................................................2
1.3. Rastreio e diagnóstico ........................................................................................................3
1.4. Anatomia, histologia e patofisiologia .............................................................................4
1.5. Escala de Gleason e estadiamento .................................................................................5
1.6. Cancro da próstata em estadio avançado .....................................................................6
1.7. Tipos de tratamento do cancro da próstata avançado ..............................................6
2.TESTOSTERONA ........................................................................................................................ 8
2.1. Caraterísticas ........................................................................................................................8
2.2. Mecanismo de regulação da sua produção ..................................................................8
2.3. Atuação nas células alvo ...................................................................................................9
2.4. Papel da testosterona no cancro da próstata ..............................................................9
2.5. Razões para a medição da testosterona no cancro da próstata .......................... 10
3. TERAPÊUTICA HORMONAL NO CANCRO DA PRÓSTATA AVANÇADO ................. 12
3.1. Valores de castração da testosterona e formas de os alcançar .......................... 13
3.2. Diferentes tratamentos hormonais .............................................................................. 13
3.3. Cancro da próstata resistente à castração ................................................................ 16
CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 22
ANEXOS
ANEXO I – Mecanismo de regulação da produção de testosterona
ANEXO II – Atuação da testosterona nas células alvo
ANEXO III – Sinalização dos recetores de androgénios (AR)
ANEXO IV – Ação androgénica no cancro da próstata
ANEXO V – Ação dos androgénios no cancro da próstata e mecanismos de resistência à castração
ANEXO VI – Efeitos adversos da Terapêutica de Supressão Androgénica (TSA)
ANEXO VII – Principais formas de realizar Terapêutica de Supressão Androgénica (TSA)
ANEXO VIII – Mecanismo de ativação dos recetores de androgénios no CPRC e locais de atuação
de diferentes fármacos
ANEXO IX – Mecanismo de atuação da Enzalutamida
ANEXO X – Recomendações terapêuticas para os diferentes estadios do CPRC
ANEXO XI – Resultados de diferentes ensaios clínicos na sobrevida de doentes com CPRC
ANEXO XII – Lista de ensaios clínicos realizados no âmbito do tratamento do CPRC
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
1
INTRODUÇÃO
O cancro da próstata é uma das doenças oncológicas mais comuns no sexo masculino, a
segunda causa de morte por cancro no homem, nos Estados Unidos da América (EUA), e
apresenta maior incidência na sexta e sétima décadas de vida.(1, 2) São várias as
modalidades terapêuticas disponíveis para abordar pacientes com cancro da próstata. Uma
delas, alvo de análise nesta dissertação, é a terapêutica de supressão androgénica (TSA),
que tira partido da influência hormonal a que a próstata normalmente está sujeita. Em 1941,
através da publicação de Huggins e Hodges, ficou conhecido o potencial benefício da
privação hormonal de androgénios no controlo da progressão do cancro da próstata.(3, 4)
Desde então, muitos investigadores têm direcionado o seu trabalho para o esclarecimento
do papel que a testosterona e outras hormonas assumem neste tipo de doentes. Está
comprovado que os androgénios são necessários ao normal desenvolvimento e função da
próstata, pois, através da sua ligação aos recetores de androgénios (RA) existentes no
tecido prostático, estimulam o crescimento celular.(5) No caso de existir um tumor
prostático, verifica-se uma interação semelhante entre as hormonas masculinas e o tecido
tumoral.(5) Como resultado, a terapêutica de supressão hormonal é, atualmente, aplicada
a inúmeros pacientes com cancro da próstata avançada, demonstrando efeito positivo na
grande maioria dos casos.(6) No entanto, em algumas situações é revelada resistência a
este tipo de terapêutica, havendo progressão da doença mesmo com o doente a realizar
supressão androgénica.(6) Estes casos, denominados de cancro da próstata resistente à
castração (CPRC), motivaram ainda mais a investigação neste âmbito, com a procura de
novas opções terapêuticas e com a valorização da implicação que diferentes níveis de
testosterona possam exercer.(6)
A realização desta dissertação visa a elaboração de uma revisão sistemática do estado de
arte acerca do papel da testosterona na progressão do cancro da próstata, das formas
mais corretas de efetuar a sua medição e dos valores desejados desta hormona no
seguimento de doentes com cancro da próstata. Pretende-se, ainda, perceber qual a
importância da testosterona como alvo terapêutico, quais as possibilidades de terapêutica
hormonal que se podem aplicar, incluindo as suas principais vantagens e desvantagens.
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
2
1. CANCRO DA PRÓSTATA
1.1. Epidemiologia
O cancro da próstata é uma das neoplasias malignas mais comuns entre os homens nos
EUA.(7) Esta doença afeta um em cada sete homens nalguma fase da sua vida e ocupa a
segunda posição entre as principais causas de morte nessa população.(1, 2) Na Europa,
corresponde à neoplasia sólida mais comum e a sua incidência aproximada é de 214 casos
por cada 1000 homens.(8) A nível mundial, o cancro da próstata é a segunda neoplasia que
mais afeta os homens e a sexta mais mortal.(9) A sua incidência é mais elevada, em cerca
de 62%, nos homens afroamericanos em relação aos de raça branca.(7) O cancro da
próstata, carateristicamente, afeta homens mais velhos, sendo que a maioria dos
diagnósticos é feita aos 67 anos e que 60% dos casos são diagnosticados em homens com
idade igual ou superior a 65 anos.(1) Esta característica faz com que sejam os países
desenvolvidos os que apresentam maior número de homens afetados por esta doença.(8)
Nos últimos anos, tem-se verificado um aumento da incidência destes casos, explicado
pelo envelhecimento da população, a melhoria das técnicas diagnósticas e o alto nível de
atenção de que esta doença tem sido alvo.(9) A taxa de mortalidade, pelo contrário, tem
vindo a decrescer, continuando, contudo, a ser alvo de preocupação.(9)
1.2. Fatores de risco
Existem vários fatores de risco descritos como associados ao desenvolvimento do cancro
da próstata.(1, 9) Contudo, apenas três deles (idade avançada, origem étnica e
hereditariedade) estão bem estabelecidos como tal.(8) A idade é um fator fortemente
relacionado, sendo raro o aparecimento de cancro da próstata num homem com menos de
40 anos.(1, 9) Em relação à hereditariedade, o risco duplica quando um familiar em primeiro
grau tem a doença e aumenta entre 5 a 11 vezes se dois ou mais familiares em primeiro
grau são afetados.(8, 10) Quando um doente tem três ou mais familiares com cancro da
próstata, ou pelo menos dois, que desenvolveram a doença precocemente (antes dos 55
anos), o seu cancro é verdadeiramente hereditário.(8) Nesta situação incluem-se cerca de
9% dos homens com cancro da próstata.(8) Diferenças genéticas e ambientais podem
explicar a variação étnica e geográfica da incidência e mortalidade desta doença.(9)
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
3
Outros fatores provavelmente capazes de propiciar um maior risco para o desenvolvimento
desta doença dizem respeito a: história tabágica, elevada ingestão calórica,
comportamento sexual, consumo de álcool, exposição a radiação ultravioleta, inflamação
crónica, exposição ocupacional e tratamento com vitamina E.(1, 8, 9)
Em contrapartida, ter um nível elevado de atividade física foi associado a uma menor
propensão ao desenvolvimento de cancro da próstata.(1, 11)
1.3. Rastreio e diagnóstico
O rastreio do cancro da próstata, doença maioritariamente de início insidioso e indolente,
tem sido um tema de elevada controvérsia ao longo dos últimos anos. Inicialmente, pensou-
se que o rastreio com realização de toque retal e medição dos níveis séricos do antigénio
específico da próstata (PSA) a todos os homens, apesar de provocar um excesso de
diagnósticos, reduzia significativamente a taxa de mortalidade do cancro da próstata.(12)
Atualmente, não existem evidências que apoiem a introdução de um programa de rastreio
generalizado de base populacional para a deteção de cancro da próstata em todos os
homens.(13, 14) O rastreio do cancro da próstata não aumenta a sobrevida geral média (SGM)
desta doença.(8, 14) Além disso, possui desvantagens como altas taxas de resultados falsos
positivos para o teste de PSA, excesso de diagnósticos e complicações associadas às
biópsias guiadas por ecografia transretal, como infeção, hemorragia e dor.(8, 14) Qualquer
benefício do rastreio do cancro da próstata pode levar mais de 10 anos a ser notório.(14)
Por todas estas razões, considera-se preferível a deteção precoce, ou seja, uma pesquisa
mais seletiva, nos grupos de maior risco.(8) Contudo, ainda permanecem as questões
acerca de qual a idade ideal para começar a deteção precoce e qual deve ser o intervalo
de tempo no qual o valor de PSA e o toque retal devem ser avaliados.(8)
Recentemente, foi sugerida a medição do PSA aos 40 anos, de forma a obter-se um valor
basal do indivíduo, no qual se irá basear o seu plano de seguimento.(8, 12) Um intervalo de
8 anos entre a repetição da avaliação clínica e laboratorial parece ser suficiente nos
homens com níveis iniciais de PSA ≤1 ng/ml.(8) Nos homens com idade superior a 75 anos
e nível de PSA ≤3 ng/ml é desaconselhável a realização destes mesmos exames, pois a
mortalidade por cancro da próstata é bastante reduzida.(8, 15)
Para o diagnóstico de cancro da próstata são, então, cruciais: o toque retal, a concentração
sérica de PSA e a biópsia guiada por ecografia transretal.(8) Segundo as guidelines
europeias, um resultado anormal no toque retal ou um valor elevado de PSA sérico podem
indicar a presença de cancro da próstata.(8) Apesar do valor cutoff de PSA não estar bem
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
4
determinado, nos homens mais jovens os níveis de PSA <2-3 ng/ml são usados como
correspondendo à normalidade.(8)
O diagnóstico definitivo de cancro da próstata só é possível com a confirmação
histopatológica, através de amostras (10 a 12) colhidas por biópsia prostática ecoguiada.(8)
No entanto, a biópsia e a restante investigação para estadiamento só são recomendadas
se forem afetar a sobrevida do doente.(8)
1.4. Anatomia, histologia e patofisiologia
Em termos anatómicos, a próstata encontra-se localizada posteriormente à sínfise púbica,
anteriormente ao reto e inferiormente à bexiga, envolvendo a uretra proximal.(16) Esta
glândula é constituída por regiões funcionais distintas, com 70% do tecido total
correspondendo à zona periférica que exerce a maioria da função glandular e é também a
zona mais frequentemente afetada por cancro.(17) As restantes zonas são denominadas
zona central (20%) e zona de transição (10%), sendo esta última a região onde
normalmente se desenvolve a hiperplasia benigna da próstata. (17)
A próstata é uma glândula acinar com um contributo importante para a formação do líquido
seminal.(18) Histologicamente, é constituída por estroma, por dois epitélios, epitélio basal e
epitélio luminal, e por uma membrana basal que os separa.(18)
A maioria dos casos de cancro da próstata são adenocarcinomas acinares.(19, 20) A
classificação do cancro da próstata é feita em dois grupos: do tipo acinar (90-95%) e do
tipo não acinar (5-10%).(20) No primeiro grupo incluem-se as variantes atrófica,
pseudohiperplásica, espumosa, colóide, em anel de sinete, oncocítica e tipo
linfoepitelioma. O segundo grupo inclui as formas sarcomatóide, adenocarcinoma ductal,
urotelial, escamosa e adenoescamosa, de células basais, de células pequenas e tumores
neuroendócrinos, naturalmente mais agressivos.(20, 21)
Os androgénios atuam a nível epitelial no sentido de aumentar a proliferação e
diferenciação celular e também a função metabólica e secretora das células.(18)
Os recetores de androgénios são expressos no estroma e epitélio da próstata do adulto e
garantem a existência de um diferencial de função secretora das células prostáticas.(18) Nos
casos de défice de androgénios, existe perda de células epiteliais por apoptose e
consequente involução da próstata, havendo recuperação aquando da estimulação
androgénica.(18)
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
5
A sobrevivência do epitélio prostático é controlada por fatores parácrinos modulados pelos
recetores de androgénios também existentes nas células estromais.(18) Esta interação entre
estroma e epitélio garante a homeostasia tecidular.(18)
1.5. Escala de Gleason e estadiamento
A escala de Gleason é utilizada para classificar o adenocarcinoma da próstata segundo os
padrões de crescimento tumoral.(22) Para que se possa considerar um padrão é obrigatório
que ocupe pelo menos 5% da amostra histológica. O cancro é classificado de grau 1 a 5,
sendo que o grau 1 é referente ao padrão de crescimento bem diferenciado ou menos
agressivo e o grau 5 ao padrão pouco diferenciado ou mais agressivo.(22) A classificação
final varia entre 2 e 10 e é atribuída somando os graus dos dois padrões mais comuns da
amostra histológica.(23) As formas mais agressivas e potencialmente fatais de cancro da
próstata têm Gleason entre 8 e 10.(22, 24)
O estadiamento do cancro da próstata é realizado pelo sistema TNM, em que T
corresponde à extensão do tumor, N ao envolvimento dos gânglios linfáticos e M à
presença de metástases.(25)
O estadiamento T do tumor é baseado, principalmente, nas imagens de ressonância
magnética, usando a informação adicional fornecida pelos locais nos quais as biópsias
foram positivas.(8, 24)
O envolvimento dos gânglios linfáticos apenas necessita de ser avaliado quando o
tratamento potencialmente curativo for planeado.(8) Doentes no estadio T2 ou inferior, com
PSA <10 ng/ml, com classificação de Gleason inferior ou igual a 6 e menos de 50% das
amostras da biópsia positivas têm uma probabilidade inferior a 10% de ter metástases
ganglionares, podendo excluir-se a sua avaliação, não havendo necessidade de
linfadenectomia aquando do tratamento cirúrgico.(8) No cancro da próstata localizado de
risco intermédio ou alto, submetidos a tratamento cirúrgico, o estadiamento patológico deve
ser feito com disseção pélvica dos gânglios linfáticos, uma vez que é o único método de
teste fiável, dadas as limitações significativas de imagem pré-operatória na deteção de
pequenas metástases (<5 mm).(8)
As metástases ósseas (estadiamento M) são melhor detetadas por cintigrafia óssea.(8) Este
procedimento pode não estar indicado nos casos de pacientes assintomáticos com nível
de PSA <20 ng/ml, na presença de tumor bem ou moderadamente diferenciado.(8)
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
6
Após tratamento local, há maior risco de recorrência bioquímica, disseminação metastática
e morte por cancro nos doentes com PSA >20 ng/dl, Gleason ≥8 e estadio 3 ou superior.(24)
1.6. Cancro da próstata em estadio avançado
Um quinto dos homens diagnosticados com cancro da próstata apresenta a doença
avançada, quer na forma de cancro localmente avançado quer na forma metastizada.(26)
Na doença avançada incluem-se os casos de cancro da próstata localmente avançado até
ao cancro da próstata com metástases regionais e à distância. São três os tipos de cancro
da próstata avançado conhecidos e apresentados de seguida:
Cancro da próstata localmente avançado: cancro que envolve a próstata e as
vesículas seminais ou a bexiga.(11)
Cancro da próstata metastizado (sensível à hormonoterapia): cancro que apresenta
metástases ósseas, linfáticas ou viscerais; com a supressão hormonal pode-se
conquistar melhoria na função urinária, no controlo da dor e da doença
oncológica.(27, 28)
Cancro da próstata metastizado resistente à castração: cancro da próstata que
continua em desenvolvimento, mesmo sob terapêutica de supressão hormonal.(27,
28)
1.7. Tipos de tratamento do cancro da próstata avançado
É importante reconhecer que, até ao momento, não existe cura para o cancro da próstata
avançado.(26) No entanto, as opções terapêuticas são inúmeras e estão em constante
mudança, sempre no sentido de melhorar ao máximo o prognóstico, com aumento da SGM
e sobrevida livre de progressão (SLP), e a qualidade de vida dos doentes nesta situação.
A investigação está direcionada para o desenvolvimento de estratégias mais específicas,
especialmente nos casos de CPRC.
As formas de tratamento mais comuns, abordadas nos capítulos seguintes com mais
detalhe, incluem:
Terapêutica de Supressão Androgénica(29) 1ª linha de tratamento no cancro da
próstata avançado hormonosensível
Orquidectomia Bilateral
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
7
Antagonistas da Hormona Libertadora de Hormona Luteinizante (LHRH)
/Hormona de Libertação de Gonadotrofinas (GnRH)
Agonistas da LHRH/GnRH
Terapêutica Antiandrogénica (esteróides e não esteróides)
Inibidores da Síntese de Esteróides
Terapêutica Hormonal com Estrogénios
Quimioterapia
Imunoterapia
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
8
2.TESTOSTERONA
2.1. Caraterísticas
A testosterona, produzida essencialmente nos testículos, é o principal androgénio
masculino existente no sangue, correspondendo a cerca de 90% deste tipo de hormonas
em circulação.(5) Os 10% restantes dizem respeito às hormonas dehidroepiandrosterona,
androstenediol e androstenediona, também elas androgénios, mas produzidas
principalmente ao nível das glândulas suprarrenais.(5, 30) Os androgénios são hormonas que
têm como função regular a maturação e diferenciação dos órgãos sexuais masculinos,
assim como o desenvolvimento das características sexuais secundárias.(5) Outras funções
atribuídas aos androgénios correspondem à formação de massa muscular e óssea e à
estimulação da produção de eritrócitos, acentuando as diferenças entre homens e
mulheres em diversos fatores.(31, 32)
No sangue, a testosterona circula, maioritariamente, associada a proteínas, como a
globulina de ligação às hormonas sexuais (SHGB) e a albumina.(5, 6) A fração de
testosterona ligada à SHGB, cerca de 30-44% da testosterona total, é considerada sem
qualquer viabilidade na sinalização androgénica.(6) A restante, que se encontra ligada à
albumina de forma reversível, pode ser biologicamente ativa em alguns tecidos.(6) Apenas
1 a 2% da testosterona em circulação se encontra na forma livre, constituindo a forma ativa
da testosterona, capaz de se difundir para dentro das células e se ligar aos recetores
androgénios (hipótese da testosterona livre).(5, 6)
A testosterona é, comprovadamente, um importante fator de crescimento das células
prostáticas.(5, 33)
2.2. Mecanismo de regulação da sua produção
A regulação da produção da testosterona acontece graças à existência do eixo hipotálamo-
hipófise-gónadas, no qual o hipotálamo é responsável pela libertação pulsátil de
LHRH/GnRH, estimulando a produção de Hormona Luteinizante (LH) pela hipófise anterior
e consequentemente a produção de testosterona, como resposta das células de Leydig
testiculares à LH. Até 95% da testosterona é produzida pelas células de Leydig nos
testículos, em resposta à LH libertada pela hipófise anterior.(6) O remanescente da
testosterona deriva das glândulas adrenais.(6) Na presença de determinados níveis de
testosterona o eixo é frenado por um mecanismo de feedback negativo.(5) (Anexo I)
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
9
A produção de testosterona tem uma variação circadiana, com um aumento da sua
produção durante o sono e existência de um pico matinal desta hormona.(34)
2.3. Atuação nas células alvo
Devido às características lipofílicas da testosterona, a sua entrada nas células está
simplificada, havendo facilmente conversão intracelular para 5alfa-dihidrotestosterona
(5αDHT) pelas enzimas 5 alfa-redutase tipo 1 (5α-R1) e tipo 2 (5α-R2), esta última com um
papel menos ativo do que a primeira.(5, 35)
A 5α-DHT tem uma capacidade de ligação aos recetores de androgénios dez vezes
superior à testosterona.(5, 35, 36) Estes recetores existem no citoplasma num complexo
proteico (Hsp 90,70,56,23) e são constituídos por três partes: AF-1, DBD e AF-2.(5) A
alteração da conformação e composição dos complexos através da ligação dos
androgénios leva a que ocorra uma translocação para o núcleo, onde os recetores são
dimerizados e se ligam a elementos de resposta a androgénios.(5, 37) Este processo vai, por
sua vez, levar a que ocorra transcrição de genes nas zonas promotoras e de potenciação
e, consequentemente, ativação de enzimas coativadoras que se associam aos recetores
de androgénios formando a maquinaria basal da transcrição e regulação de genes.(5, 37) A
expressão normal destes genes é necessária para manter o balanço entre a sinalização
proliferativa e apoptótica, promovendo a existência do tecido prostático saudável e a
produção de PSA e outras proteínas.(30, 37) A 5α-DHT pode também ativar os recetores de
androgénios através da via de sinalização Ras/ERK (quinase extracelular) por intermédio
do c-SRC, sem haver qualquer relação com genes ou com a tirosina quinase.(5) Os
recetores de androgénios vão formar um complexo, ligando a sua β-subunidade com o c-
SRC, e, desta forma, fazer aumentar a proliferação e proteger as células da apoptose. (5)
(Anexos II, IV e V)
2.4. Papel da testosterona no cancro da próstata
A próstata é um órgão que está constantemente a sofrer influência hormonal.(18, 38) A
testosterona e outros androgénios estão envolvidos no seu crescimento normal, assim
como na progressão tumoral através da sua interação com os RA.(18) O cancro da próstata
é, portanto, uma doença dependente da testosterona em circulação, principal fonte de
androgénios, e dos RA.(6, 38) É, então, crucial perceber o mecanismo pelo qual a
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
10
testosterona influencia a próstata, para que se possa determinar a melhor abordagem a
adotar perante um doente com cancro da próstata.(18, 33)
A ação androgénica via RA desempenha um papel crítico no crescimento e sobrevivência
das células do cancro da próstata.(18, 30) Contudo, existem diferenças nas funções dos
androgénios na próstata benigna e na próstata maligna.(18) Embora os androgénios
promovam a diferenciação numa próstata normal, estas hormonas estimulam o potencial
oncogénico, com excesso de proliferação, nas células do cancro da próstata.(18, 30) Como
os androgénios têm uma atividade essencial na carcinogénese prostática, a via de
sinalização androgénica é um alvo terapêutico importante nestes pacientes.(18) (Anexo III)
2.5. Razões para a medição da testosterona no cancro da próstata
A eficácia da terapêutica de privação androgénica não é a desejada, pois, como irá ser
explicado adiante, a atividade dos RA permanece intacta e bastante ativa apesar dos
baixos níveis séricos de testosterona.(6) Este facto permite que a determinada altura a
doença progrida, mesmo com níveis de testosterona de castração atingidos com a TSA
(caso dos CPRC).(6) Apesar disso, a testosterona permanece um alvo terapêutico no
tratamento do cancro da próstata avançado, sendo a TSA a primeira opção terapêutica
nestes casos.(6, 33)
Manter níveis baixos de testosterona continua a ser um objetivo dos médicos que usam a
concentração total de testosterona sérica e o PSA, no dia a dia, como uma medida clínica
de eficácia do tratamento desta doença.(6, 39) Como tal, a monitorização dos seus níveis
séricos deve ser realizada para verificar a resposta à TSA e confirmar a suspeita de
CPRC.(30) Por exemplo, se o PSA aumentar durante a TSA, devem ser demonstrados níveis
de testosterona em valores de castração antes de definir a presença de CPRC.(30) Outra
utilidade da medição de testosterona consiste na deteção do momento em que deve ser
reiniciada a TSA intermitente.(30) No entanto, não está recomendada a sua medição com o
objetivo de determinar o risco de cancro da próstata, aumentar a especificidade do teste
do PSA, nem como preditor da agressividade tumoral.(30)
Pensa-se que os níveis de testosterona na forma livre, de difícil avaliação, podem traduzir
melhor a sinalização androgénica que está a ocorrer nas células cancerígenas prostáticas
do que a concentração total de testosterona.(6, 40) No entanto, embora o conhecimento
acerca da testosterona e da sua relação com o cancro da próstata esteja a melhorar, as
diretrizes atuais são vagas quanto à monitorização da testosterona total ou livre,
provavelmente pela falta de ensaios clínicos bem projetados.(6, 40) Terá, por isso, de ser
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
11
realizada mais pesquisa para comprovar esta relação, bem como a correlação entre os
níveis de testosterona livre e os resultados clínicos.(6, 40)
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
12
3. TERAPÊUTICA HORMONAL NO CANCRO DA PRÓSTATA AVANÇADO
Sendo a testosterona um fator importante no crescimento das células do cancro prostático,
a sua redução é usada como objetivo terapêutico nos homens com cancro da próstata
avançado.(6, 33).
A TSA, caraterizada por diminuir os níveis de androgénios e/ou inibir a sinalização dos
recetores de androgénios, é atualmente o tratamento de eleição para o cancro da próstata
metastizado.(6, 21, 38) Inicialmente, esta terapêutica era apenas usada nos casos
metastizados e sintomáticos.(29) Contudo, com o avanço da investigação nesta área, o seu
uso foi alargado a doentes assintomáticos e até mesmo aos cancros localmente
avançados.(29, 41, 42) Além disso, por vezes, este tratamento é aplicado como terapêutica
primária na doença localizada, quando os homens não podem ser submetidos a cirurgia
ou radioterapia, como tratamento neoadjuvante na doença de alto risco submetida a
radioterapia, ou como terapêutica de salvação na sequência de uma recidiva bioquímica
após cirurgia ou radioterapia para doença, presumivelmente, localizada.(29, 43)
A eficácia do tratamento hormonal é, habitualmente, limitada no tempo, pois, a partir de
determinada altura, o cancro torna-se capaz de continuar o seu desenvolvimento
independentemente do doente se encontrar em valores de castração, progredindo para
CPRC.(33, 44) Por esta razão, a TSA não é uma estratégia perfeita para combater o cancro
da próstata, pois não permite atingir a cura, além de cursar com alguns efeitos
indesejados.(45) No entanto, esta continua a ser um passo importante no tratamento de
doentes com cancro da próstata avançado, ainda que muitas vezes sejam necessários
outros tratamentos adicionais.(45) Pesquisa intensiva na biologia dos recetores de
androgénios e na progressão do cancro da próstata tem revelado forte evidência que
suporta a relação entre a supressão de testosterona e o tratamento de sucesso no cancro
da próstata avançado hormonosensível e, mais recentemente, do CPRC – castração
secundária.(6)
Os principais efeitos secundários decorrentes dos baixos níveis da testosterona
provocados pela TSA incluem: diminuição da líbido, disfunção erétil, ondas de calor
semelhantes às que ocorrem em mulheres na menopausa, alterações de humor,
resistência à insulina, ganho de peso, depressão, fadiga, anemia, perda de massa
muscular, maior risco de fraturas ósseas e eventos cardiovasculares, perda de memória,
aumento dos níveis de colesterol e triglicerídeos e aumento da sensibilidade mamária.(29,
41, 42, 46) Devido à possibilidade do desenvolvimento destas manifestações, por persistência
do estado de hipoandrogenismo, é aconselhável observar periodicamente os pacientes em
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
13
hormonoterapia.(29, 41) Está recomendada a suplementação com vitamina D e cálcio.(43)
(Anexo VI)
No sentido de mitigar estes potenciais efeitos adversos da manutenção de um estado de
hipoandrogenismo, mantendo os benefícios oncológicos, está a ser investigada uma
abordagem de TSA intermitente.(42, 47) Esta diz respeito a períodos alternados de tratamento
com intervalos livres de TSA para permitir a recuperação hormonal, usando níveis de PSA
como indicadores do período ideal para suspender e recomeçar a terapêutica.(42, 48) As
vantagens potenciais consistem em menos efeitos secundários, melhor qualidade de vida
e reduções de custo, estando também em estudo um possível atraso no desenvolvimento
de CPRC.(42, 49)
3.1. Valores de castração da testosterona e formas de os alcançar
Com o aparecimento dos agonistas da LHRH, há mais de 30 anos atrás, o objetivo de
tratamento procurou atingir níveis de testosterona sérica comparáveis aos obtidos com a
orquidectomia.(6) Atualmente, uma concentração total de testosterona sérica inferior a 20
ng/dL (0,69 nmol/L) é assumida como nível de castração, havendo, contudo, alguns
estudos a aceitar uma perspetiva mais antiga, de 50 ng/dL (1,73 nmol/L) e ainda outros
com diferentes valores de cutoff, como por exemplo 32 ng/dL (1,11 nmol/L) definido por
Morote.(6, 39, 50, 51) A dificuldade em definir um valor universal deve-se à inexistência de
uniformidade na escolha do ensaio usado para o doseamento, no laboratório e na
população, podendo ainda acrescer a influência da idade, da variação hormonal diurna e
de outros compostos esteróides.(52, 53)
A privação androgénica pode ser alcançada por castração cirúrgica ou médica.(29, 54) Existe
a sugestão de que o nível ótimo de testosterona sérica a atingir com a TSA deve ser o mais
baixo possível aos 6 meses, de forma a haver uma maior sobrevida.(6, 51)
3.2. Diferentes tratamentos hormonais
O objetivo da terapêutica hormonal no cancro da próstata consiste em privar as células
cancerígenas de androgénios para que elas possam ser destruídas por apoptose.(18) Esta
ablação androgénica atrasa a progressão tumoral e aumenta a qualidade de vida do
doente. Contudo deverão considerar-se sempre os efeitos secundários do estado de
hipoandrogenismo, passíveis de existir com todos os tipos de TSA.(18, 29, 33)
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
14
A TSA pode ser realizada através dos seguintes métodos:(29) (Anexo VII)
Castração Cirúrgica
Orquidectomia Bilateral menos usada desde o aparecimento dos
agonistas LHRH; tem como objetivo a paragem da produção testicular de
testosterona; o procedimento é simples, barato, de baixo risco e surte
imediatamente efeito; os riscos associados são os relacionados com
qualquer procedimento cirúrgico; se for total implica a remoção cirúrgica dos
testículos, com esvaziamento das bolsas escrotais, podendo ter um elevado
impacto psicológico no homem; se for subcapsular, ou seja, se houver uma
remoção seletiva das glândulas, com preservação do epidídimo e da túnica
albugínea, esta consequência psicológica é reduzida; por esta razão, a
orquidectomia subcapsular bilateral é atualmente preferida em relação à
total.(51, 55-57)
Castração Médica (a mais comummente usada; compreende duas formas de
atuação distintas – uma ao nível do eixo neuroendócrino, na produção de
androgénios, e outra ao nível das vias de sinalização dos RA)(58)
Agonistas da LHRH/GnRH muito conhecidos, análogos sintéticos,
constituídos por pequenas proteínas estruturalmente semelhantes à
LHRH/GnRH humana, mas muito mais efetivas; estimulam a hipófise de
forma não pulsátil, levando a que inicialmente, por um período de 7 a 10
dias, ocorra aumento da produção de LH, com consequente elevação dos
níveis de testosterona e estimulação do crescimento das células
cancerígenas, acentuando a dor naqueles com metástases ósseas;
posteriormente, devido aos níveis constantemente elevados de LHRH,
ocorre feedback negativo, com cessação da produção de LH e testosterona
e atingimento de níveis de castração com redução da progressão do cancro
da próstata; os agonistas LHRH mais conhecidos denominam-se
Triptorrelina, Leuprolide, Goserelina e a Histrelina; estes fármacos são
administrados na forma injetável, em dose variável e intervalos que variam
de meses a anos.(51, 59-61)
Antagonistas da LHRH/GnRH os fármacos deste grupo bloqueiam a
atividade da LHRH/GnRH, através da ligação aos recetores na hipófise,
cessando assim a estimulação da produção de LH; sem LH, a testosterona
não é produzida – ausência de pico de testosterona antes da diminuição
para níveis de castração; estes fármacos podem ser usados antes dos
agonistas LHRH, também na forma injetável, permitindo o alcance dos
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
15
níveis de castração sem a existência de pico hormonal e mimetizando mais
facilmente a descida fisiológica; o Abarelix foi um antagonista LHRH que foi
removido do mercado por provocar reação anafilática severa e
prolongamento do intervalo QT em alguns homens; o mais recente
antagonista, o Degarelix, parece não ter os mesmos efeitos secundários;
estes fármacos não são recomendados a doentes com arritmias, problemas
hepáticos ou osteoporose, visto que existe a possibilidade de agravarem
estas condições.(51, 62-64)
Terapêutica Antiandrogénica na forma clássica, envolve o bloqueio dos
RA nas células prostáticas, impedindo que ocorra a estimulação do seu
crescimento mediado pela testosterona; pode ser realizada com fármacos
esteroides (Acetato de Ciproterona) e não esteroides (Flutamida,
Bicalutamida e Nilutamida); quando o Acetato de Ciproterona é usado, os
valores de testosterona baixam, mas não chegam a alcançar valores de
castração; com o uso dos não esteroides a testosterona sérica tem mesmo
tendência a aumentar; o custo elevado destes fármacos, os efeitos
secundários, a menor eficácia em conferir níveis de castração e a
possibilidade de atuação como agonistas dos RA, na presença de
mutações, são as suas principais desvantagens, não estando
recomendados em monoterapia; apesar desta terapêutica provocar menos
efeitos secundários de hipoandrogenismo, por não reduzir a testosterona
para níveis de castração, pode causar doença cardiovascular, disfunção
hepática, diarreia (Flutamida), dificuldade de adaptação ao escuro
(Nilutamida), dificultando a condução noturna, e, em casos raros, fibrose
pulmonar; recentemente, surgiram os inibidores da sinalização dos RA,
incluídos neste tipo de terapêutica, mas com atuação distinta dos
antiandrogénios de primeira geração, sendo tendencialmente mais potentes
e sem atividade agonista significativa dos RA; a Enzalutamida, o primeiro
inibidor da sinalização dos RA a ser aprovado, mostrou ser eficaz no ensaio
clínico de fase III AFFIRM, prolongando a sobrevida dos doentes com
cancro da próstata metastizado após quimioterapia com docetaxel;
atualmente existem outros fármacos em estudo.(51, 65)
Inibidores da Síntese de Esteroides disponíveis para acentuar a
diminuição dos níveis de androgénios no CPRC, através do bloqueio da
síntese adrenal; o Cetoconazol e a Aminoglutetimida são exemplos
clássicos destes fármacos, mas com efeitos secundários significativos e
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
16
eficácia limitada; o Acetato de Abiraterona veio revolucionar este tipo de
terapêutica, permitindo um bloqueio seletivo e irreversível do citocromo
P450 17A1 (CYP17A1), com consequente inibição da produção de
androgénios quer testicular e pelas suprarrenais, quer mesmo pelas células
tumorais; a Abiraterona associada à prednisona mostrou ser eficaz no
ensaio clínico COU-AA-301, aumentando o tempo de progressão da doença
e prolongando a sobrevida dos doentes com cancro da próstata metastizado
após quimioterapia com docetaxel.(65)
Bloqueio de Androgénios Combinado diz respeito à terapêutica
combinada de agonistas/antagonistas de LHRH/GnRH com
antiandrogénios; a utilização de antiandrogénios com início algumas
semanas antes do uso de agonistas LHRH reduz a incidência do impulso
hormonal característico destes últimos, especialmente doloroso nos
pacientes com metástases ósseas.(51)
Terapêutica Hormonal com Estrogénios provoca aumento dos
estrogénios, diminuição da libertação de LHRH pelo hipotálamo, por
feedback negativo, e consequente diminuição da testosterona, com redução
do crescimento da próstata; devido aos efeitos secundários
cardiovasculares e à feminização, especialmente com ginecomastia, esta
terapêutica habitualmente não é utilizada.(51, 66, 67)
As duas principais vantagens do uso da castração médica, que a tornam a terapêutica
preferencial, são a ausência de necessidade do procedimento cirúrgico da orquidectomia,
que pode acarretar consequências psicológicas importantes, assim como a possibilidade
de reversibilidade dos efeitos com a cessação da terapêutica. A desvantagem major deste
tipo de tratamento é o elevado custo cumulativo comparativamente ao custo da
orquidectomia.
O follow up dos doentes sob TSA deve incluir rastreio de síndrome metabólico e medição
dos valores de PSA e de testosterona séricos.(68)
3.3. Cancro da próstata resistente à castração
A TSA, na forma médica ou cirúrgica, é inicialmente efetiva no cancro da próstata
avançado, reduzindo a expressão de genes, de PSA e levando à regressão tumoral.(18, 69)
Contudo, com a progressão da doença, há normalmente desenvolvimento de resistência à
terapêutica hormonal, com mudança de denominação do cancro para CPRC.(18, 69) Estima-
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
17
se que esta situação ocorra em pelo menos um terço dos doentes.(33) O CPRC está
associado a um pior prognóstico e apresenta-se, habitualmente, como uma resistência
molecular, sinalizada pelo aumento dos níveis de PSA, na ausência de progressão clínica
notória.(33, 65)
No CPRC as células prostáticas desenvolvem formas de suprimento androgénico por via
parácrina e mecanismos de sinalização alternativos, passando a existir inúmeras formas
de ativação dos RA, mesmo perante ablação androgénica.(18, 33) Nelas incluem-se a
amplificação de genes de RA (presente em 30% destes doentes), elevadas taxas de
transcrição, estabilização de mRNA ou proteínas dos RA, mutações nos recetores,
alteração na expressão de correguladores associados aos RA, variantes de splicing dos
RA, com ativação independente do ligando ou perante ligandos diferentes, e cruzamento
de sinais entre diferentes vias de transdução com possível envolvimento
neuroendócrino.(18, 21, 69) (Anexo IV e V)
Os recetores de androgénios podem regular a sua transcrição, aumentando a sua síntese
por um mecanismo de feedback positivo e contribuindo para a patogénese do CPRC.(18) O
aumento da expressão de RA torna as células do cancro prostático sensíveis a níveis
baixos de androgénios.(18)
As mutações nos RA podem ocorrer nos seus vários domínios (de ligação ao ligando,
terminal amino, de ligação ao DNA) e estão normalmente associadas a ganho de função.(18)
A maioria delas ocorre na zona de ligação ao ligando e faz com que os recetores adquiram
sensibilidade para concentrações mais baixas de androgénios, precursores fracos de
androgénios, progesterona, estradiol, cortisol e antiandrogénios e exibem maior
estabilidade, assim como localização nuclear na ausência de ligando.(18, 30) A região AF-1
no domínio aminoterminal dos RA desempenha um papel crucial na expressão mediada
de genes de RA nos estadios de resistência à castração.(18) Um dos mecanismos de
resistência à ablação androgénica são as variantes de splicing de RA, que carecem da
região de conexão com o ligando, mas mantêm o domínio aminoterminal, que assume a
função de transcrição constitutiva.(18)
Muitos coativadores (p300, FHL2, TIF2, SRC1, TIP60 e BAG-1L) têm expressão
aumentada no CPRC, o que reduz a necessidade de androgénios para ativar os RA, e
corresponde a um possível mecanismo de crescimento prostático após terapêutica de
ablação hormonal.(18) Pode existir também um cruzamento de sinais entre diferentes vias
de transdução.(18) Fatores como o fator de crescimento semelhante à insulina, o fator de
crescimento epidermal, a interleucina-6 e a sinalização Wnt, a oncostatina e os ligandos
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
18
de estimulação da proteína cinase A dependente de cAMP foram reconhecidos como
capazes de aumentar a atividade dos RA ou dos seus coativadores.(18)
Mesmo não sofrendo influência pelos androgénios, o crescimento e a sobrevivência do
CPRC continuam dependentes dos RA, havendo elevados níveis de RA, de androgénios
intratumorais e PSA nesta fase.(18, 69) Este facto faz com que as estratégias de tratamento
atuais visem inibir os mecanismos de ativação dos RA, através da inibição da sua síntese,
aumento da ligação específica dos seus antagonistas e prevenção da translocação
nuclear.(18, 69, 70)(Anexo VIII)
O tratamento de um doente com CPRC pode incluir fármacos de três grupos distintos
consoante a forma de atuação: (28, 68)
TSA(18, 27, 28, 44, 69, 71) explicada anteriormente como padrão no cancro da próstata
avançado antes da progressão para CPRC; deve ser continuada indefinidamente
nestes doentes; embora a fonte de androgénios possa ser adrenal ou intratumoral,
a estratégia de usar como alvo terapêutico a sinalização de RA através do bloqueio
de enzimas adrenais envolvidas na biossíntese de testosterona e 5α-DHT mostrou
ser efetiva; tanto o Cetoconazol (inibidor da síntese adrenal de androgénios)
associado com hidrocortisona como a Bicalutamida, a Flutamida e a Nilutamida
(antiandrogénios) podem ser utilizados nestes doentes, mas têm benefícios clínicos
limitados comparativamente com os novos fármacos apresentados de seguida;
o Acetato de Abiraterona, recentemente aprovado como um novo inibidor
oral esteroide irreversível do CYP17, bloqueia enzimas cruciais para a
síntese androgénica e de glicocorticóides e tem sido usado com resultados
promissores de declínio superior a 50% no valor de PSA em 67% de
pacientes com CPRC e melhorias radiológicas objetivas comparativamente
aos pacientes sob ablação androgénica; este fármaco prolonga a SGM, a
SLP radiográfica e o tempo de progressão nos doentes com CPRC,
independentemente de terem ou não realizado quimioterapia prévia; a
toxicidade por excesso de mineralocorticóides pode ser controlada com
corticoides;
o Enzalutamida (MDV3100), um novo inibidor oral seletivo dos RA, atua
principalmente impedindo a ligação dos androgénios aos RA, reduzindo a
translocação nuclear de RA e impossibilitando a sua ligação com o DNA,
necessária para a proliferação celular; foi aprovada como terapêutica dos
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
19
CPRC metastizados tratados anteriormente com Docetaxel, melhorando a
SGM e SLD radiográfica. (Anexo IX)
Quimioterapia(27, 28, 44, 68, 72) usada especialmente em casos de CPRC; a decisão
acerca de qual o momento ideal para iniciar este tratamento é difícil, acontecendo
geralmente aquando da manifestação dos primeiros sintomas de doença
metastizada, devendo ser altamente individualizada; os efeitos secundários mais
comuns são a fadiga, a perda de cabelo, as náuseas e vómitos, as alterações do
paladar, a diarreia e o decréscimo na contagem celular, com maior risco de
infeções; a Mitoxantrona, um inibidor da topoisomerase tipo II, foi o primeiro
quimioterápico aprovado nestes doentes, mas apresentou benefício clínico limitado,
tendo apenas efeito paliativo sem qualquer influência na SGM; em 2004, o
tratamento quimioterápico de 3 em 3 semanas com docetaxel associado a
prednisona foi aprovado como tratamento de primeira linha nos doentes com CPRC
metastizado, prolongando em vários meses a SGM e melhorando a qualidade de
vida dos doentes; este fármaco é um taxano que se liga à tubulina dos microtúbulos
e a estabiliza, provocando paragem do ciclo celular e consequente ausência de
proliferação celular; entretanto, a existência de casos de progressão mesmo após
esta quimioterapia standard levou à necessidade de descoberta de novos fármacos;
Cabazitaxel é um novo inibidor de microtúbulos com ação semelhante à do
docetaxel que é usado em casos resistentes a este último, com efeitos benéficos
na SGM, mas apresentando certo grau de mielotoxicidade; Bevacizumab,
Estramustina e Sunitinib não são recomendados.
Imunoterapia(18, 27, 28, 72-76) explora os antigénios associados ao tumor para os usar
como alvo ou procura interromper vias de sinalização moleculares que promovem
o crescimento do cancro; a principal vantagem em comparação com a quimioterapia
é a seletividade dos alvos, ou seja, a atuação unicamente nas células tumorais; o
Sipuleucel-T, uma vacina autóloga de células dendríticas, é um exemplo de
imunoterapia aprovada que pode ser usada em doentes com CPRC metastizado,
após insucesso das outras terapêuticas, com um potencial efeito no aumento da
SGM, porém com um custo elevado e sem efeito conhecido no atraso da
progressão da doença.
Agentes de Atuação Óssea(27, 28, 68, 72) dado que cerca de 90% dos doentes com
CPRC desenvolverão metástases ósseas, fármacos que previnam os eventos
ósseos e atrasem esta progressão são importantes; podem ser usados bifosfonatos
como o Ácido Zoledrónico, Denosumab (um anticorpo monoclonal que impede a
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
20
formação de osteoclastos por inativar o recetor ativador do ligando fator nuclear kB)
ou rádio-223, um radiofármaco emissor de radiação α, que induz rotura do DNA nas
metástases ósseas.
Os doentes com CPRC devem ser estudados individualmente no sentido de definir a
melhor estratégia terapêutica para cada caso, pois não existe evidência suficiente que
recomende sequências ou combinações de terapêuticas ideais para todos os doentes.(28)
Habitualmente, o tratamento de primeira linha para o CPRC inclui quimioterapia com
docetaxel, na dose de 75mg a cada 3 semanas, Enzalutamida ou Acetato de Abiraterona
com Prednisona.(77, 78) Para tratamento de segunda linha, após quimioterapia com
docetaxel, existem as opções seguintes: Cabazitaxel, Acetato de Abiraterona com
Prednisona, Enzalutamida ou Rádio-223, nos casos com metástases ósseas.(28, 77, 78) A
imunoterapia fica habitualmente reservada para terapêutica de última linha. Os cuidados
paliativos devem ser sempre disponibilizados.(28)(Anexo X)
Muitos ensaios clínicos estão em curso no sentido de aprofundar o conhecimento acerca
da biologia tumoral, com o intuito simultâneo de desenvolver novas opções
terapêuticas.(Anexo XI e XII) Exemplos disso são os fármacos Orteronel (semelhante ao
Acetato de Abiraterona, mas sem efeito na síntese de glicocorticóides), ARN-509, TOK-
001 e ODM-201 (antagonistas puros dos RA), Ipilimumab (anticorpo monoclonal que
bloqueia a molécula 4 do antigénio dos linfócitos T citotóxicos ativando-os), PROSTVAC-
VF (vacina com vetores víricos recombinantes que estimula resposta imune local),
Geldanamicina (inibidor da proteína Hsp90), OGX-427 (inibidor da proteína Hsp27), OGX-
011 ou Custirsen (bloqueia a produção de clurestina, que tem ação antiapoptótica), todos
eles alvo de ensaios clínicos para estudo da sua eficácia.(38, 79, 80) Inibidores da angiogénese
como o Cabozantinib (inibidor do recetor 2 do fator de crescimento endotelial - VEGF), o
Tasquinimod (uma quinolina-3-carboxamida), o bevacizumab (anticorpo monoclonal contra
o VEGF-A), o Sorafenib e o Sunitinib (inibidores de tirosina cinases), o Aflibercept (uma
proteína recombinante), o Atrasentan e o Zibotentan (antagonistas seletivos da endotelina
A) e o TRC105 (anticorpo monoclonal anti-endoglina), bem como fármacos que interferem
com as vias de sinalização, como o Gefitinib, o Erlotinib e o Lapatinib (inibidores do recetor
do fator de crescimento epidérmico – EGFR), o Figitumumab e o Cixutumumab (anticorpos
monoclonais contra o receptor-1 do fator de crescimento semelhante à insulina – IGF1R)
e o Dasatinib (inibidor do Bcr/Abl e das cinases da família Src) também são exemplos das
inúmeras terapêuticas que se encontram a ser investigadas.(38, 79, 80)
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
21
CONCLUSÃO
A história natural do cancro da próstata ainda está rodeada de contornos desconhecidos,
seja na sua evolução, no padrão de disseminação ou no prognóstico consoante os
diferentes tratamentos. Contudo, tem sido muita a investigação direcionada para este
âmbito, estando o conhecimento em relação ao cancro da próstata avançado, ao CPRC e
às opções terapêuticas em constante evolução nos últimos anos.
No presente, é consensual que a TSA tem um papel evidente no tratamento do cancro da
próstata avançado. O atingimento e manutenção de níveis baixos de testosterona permite
o controlo da doença ao limitar o estímulo androgénico e a ativação dos RA, essenciais
para a progressão tumoral. Mesmo no CPRC, a sua utilização continua a ser recomendada
indefinidamente e é essencial em associação com outras estratégias terapêuticas que
combatem os diferentes mecanismos de resistência conhecidos.
Além deste facto, é conhecido que para a avaliação da eficácia da TSA ao longo do tempo
são necessárias medições frequentes dos níveis de testosterona e PSA além da avaliação
clínica do doente. É também clara a importância dos vários níveis de interação com os RA
(síntese de androgénios, metabolismo e ação) na evolução para CPRC, que cada vez mais
são explorados como base de atuação de novos fármacos.
Contudo, persistem as dúvidas em relação à metodologia ideal para a medição da
testosterona, à testosterona que deve ser alvo de doseamento (total versus livre; sérica
versus intratumoral), bem como ao valor que deve ser usado como cutoff para a castração
e que idealmente deve ser atingido.
Outros desafios científicos consistem na dificuldade em agrupar os doentes consoante o
benefício que poderão tirar de determinado tipo de terapêutica, ou seja, de estabelecer
critérios de seleção para o tratamento, de predizer o desenvolvimento para CPRC, bem
como de encontrar os marcadores ideais para avaliação de prognóstico.
Esta dissertação serviu para apresentar os avanços mais recentes nesta área, mantendo-
se a consciência plena de que ainda há muito por descobrir.
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Saman DM, Lemieux AM, Nawal Lutfiyya M, Lipsky MS. A review of the current epidemiology and treatment options for prostate cancer. Disease-a-month : DM. 2014;60(4):150-4.
2. Siegel R, Naishadham D, Jemal A. Cancer statistics, 2013. CA: a cancer journal for clinicians. 2013;63(1):11-30.
3. Sidney Glina M, PhD,* Miguel Alfredo Rivero, MD,† A. Morales, MD,‡ and Abraham Morgentaler, MD§. Studies on Prostatic Cancer I. The Effect of Castration, of Estrogen and of Androgen Injection on Serum Phosphatases in Metastatic Carcinoma of the Prostate* by Charles Huggins and Clarence V. Hodgesjsm_1680. J Sex Med 2010;7:640–644. 2010.
4. Huggins C, Hodges CV. Studies on prostatic cancer. I. The effect of castration, of estrogen and androgen injection on serum phosphatases in metastatic carcinoma of the prostate. CA: a cancer journal for clinicians. 1972;22(4):232-40.
5. Tindall D, Mohler J. Androgen action in prostate cancer. New York, N.Y.: Springer; 2009. viii, 799 s. p.
6. Rove KO, Crawford ED, Perachino M, Morote J, Klotz L, Lange PH, et al. Maximal testosterone suppression in prostate cancer--free vs total testosterone. Urology. 2014;83(6):1217-22.
7. Schymura MJ, Sun L, Percy-Laurry A. Prostate cancer collaborative stage data items-their definitions, quality, usage, and clinical implications: A review of SEER data for 2004-2010. Cancer. 2014;120 Suppl 23:3758-70.
8. Heidenreich A, Bastian PJ, Bellmunt J, Bolla M, Joniau S, van der Kwast T, et al. EAU guidelines on prostate cancer. part 1: screening, diagnosis, and local treatment with curative intent-update 2013. European urology. 2014;65(1):124-37.
9. Plata Bello A, Concepcion Masip T. Prostate cancer epidemiology. Archivos espanoles de urologia. 2014;67(5):373-82.
10. Bratt O. Hereditary prostate cancer: clinical aspects. The Journal of urology. 2002;168(3):906-13.
11. Giovannucci E, Liu Y, Platz EA, Stampfer MJ, Willett WC. Risk factors for prostate cancer incidence and progression in the health professionals follow-up study. International journal of cancer Journal international du cancer. 2007;121(7):1571-8.
12. Schroder FH, Hugosson J, Roobol MJ, Tammela TL, Ciatto S, Nelen V, et al. Screening and prostate-cancer mortality in a randomized European study. The New England journal of medicine. 2009;360(13):1320-8.
13. Ilic D, O'Connor D, Green S, Wilt T. Screening for prostate cancer: a Cochrane systematic review. Cancer causes & control : CCC. 2007;18(3):279-85.
14. Ilic D, O'Connor D, Green S, Wilt TJ. Screening for prostate cancer: an updated Cochrane systematic review. BJU international. 2011;107(6):882-91.
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
23
15. Schaeffer EM, Carter HB, Kettermann A, Loeb S, Ferrucci L, Landis P, et al. Prostate specific antigen testing among the elderly--when to stop? The Journal of urology. 2009;181(4):1606-14; discussion 13-4.
16. Lee CH, Akin-Olugbade O, Kirschenbaum A. Overview of prostate anatomy, histology, and pathology. Endocrinology and metabolism clinics of North America. 2011;40(3):565-75, viii-ix.
17. Pereira SL, Rodrigues AS, Sousa MI, Correia M, Perestrelo T, Ramalho-Santos J. From gametogenesis and stem cells to cancer: common metabolic themes. Human reproduction update. 2014;20(6):924-43.
18. Basu S, Tindall DJ. Androgen action in prostate cancer. Hormones & cancer. 2010;1(5):223-8.
19. Miller GJ, Torkko KC. Natural history of prostate cancer--epidemiologic considerations. Epidemiologic reviews. 2001;23(1):14-8.
20. Humphrey PA. Histological variants of prostatic carcinoma and their significance. Histopathology. 2012;60(1):59-74.
21. Santoni M, Conti A, Burattini L, Berardi R, Scarpelli M, Cheng L, et al. Neuroendocrine differentiation in prostate cancer: Novel morphological insights and future therapeutic perspectives. Biochimica et biophysica acta. 2014;1846(2):630-7.
22. Gottipati S, Warncke J, Vollmer R, Humphrey PA. Usual and unusual histologic patterns of high Gleason score 8 to 10 adenocarcinoma of the prostate in needle biopsy tissue. The American journal of surgical pathology. 2012;36(6):900-7.
23. Liu JJ, Lichtensztajn DY, Gomez SL, Sieh W, Chung BI, Cheng I, et al. Nationwide prevalence of lymph node metastases in Gleason score 3 + 3 = 6 prostate cancer. Pathology. 2014;46(4):306-10.
24. Pasoglou V, Larbi A, Collette L, Annet L, Jamar F, Machiels JP, et al. One-step TNM staging of high-risk prostate cancer using magnetic resonance imaging (MRI): toward an upfront simplified "all-in-one" imaging approach? The Prostate. 2014;74(5):469-77.
25. Filson CP, Boer B, Curry J, Linsell S, Ye Z, Montie JE, et al. Improvement in clinical TNM staging documentation within a prostate cancer quality improvement collaborative. Urology. 2014;83(4):781-6.
26. Tilki D, Evans CP. The changing landscape of advanced and castration resistant prostate cancer: latest science and revised definitions. The Canadian journal of urology. 2014;21(2 Supp 1):7-13.
27. Bazarbashi S, Bachour M, Bulbul M, Alotaibi M, Jaloudi M, Jaafar H, et al. Metastatic castration resistant prostate cancer: current strategies of management in the Middle East. Critical reviews in oncology/hematology. 2014;90(1):36-48.
28. Basch E, Loblaw DA, Rumble RB. Systemic therapy in men with metastatic castration-resistant prostate cancer: american society of clinical oncology and cancer care ontario clinical practice guideline summary. Journal of oncology practice / American Society of Clinical Oncology. 2014;10(6):e418-20.
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
24
29. Allan CA, Collins VR, Frydenberg M, McLachlan RI, Matthiesson KL. Androgen deprivation therapy complications. Endocrine-related cancer. 2014;21(4):T119-29.
30. Schulman CC, Irani J, Morote J, Schalken JA, Montorsi F, Chlosta PL, et al. Testosterone measurement in patients with prostate cancer. European urology. 2010;58(1):65-74.
31. Bhasin S, Woodhouse L, Storer TW. Proof of the effect of testosterone on skeletal muscle. The Journal of endocrinology. 2001;170(1):27-38.
32. Bhasin S, Woodhouse L, Storer TW. Androgen effects on body composition. Growth hormone & IGF research : official journal of the Growth Hormone Research Society and the International IGF Research Society. 2003;13 Suppl A:S63-71.
33. Bianco FJ, Jr. Paradigms in androgen/castrate resistant states of prostate cancer in a biomarker era. Urologic oncology. 2008;26(4):408-14.
34. Andersen ML, Alvarenga TF, Mazaro-Costa R, Hachul HC, Tufik S. The association of testosterone, sleep, and sexual function in men and women. Brain research. 2011;1416:80-104.
35. Crawford ED. Understanding the epidemiology, natural history, and key pathways involved in prostate cancer. Urology. 2009;73(5 Suppl):S4-10.
36. Wilbert DM, Griffin JE, Wilson JD. Characterization of the cytosol androgen receptor of the human prostate. The Journal of clinical endocrinology and metabolism. 1983;56(1):113-20.
37. Rove KO, Debruyne FM, Djavan B, Gomella LG, Koul HK, Lucia MS, et al. Role of testosterone in managing advanced prostate cancer. Urology. 2012;80(4):754-62.
38. Shafi AA, Yen AE, Weigel NL. Androgen receptors in hormone-dependent and castration-resistant prostate cancer. Pharmacology & therapeutics. 2013;140(3):223-38.
39. Dason S, Allard CB, Tong J, Shayegan B. Defining a new testosterone threshold for medical castration: Results from a prospective cohort series. Canadian Urological Association journal = Journal de l'Association des urologues du Canada. 2013;7(5-6):E263-7.
40. Regis L, Planas J, Celma A, de Torres IM, Ferrer R, Morote J. Behavior of total and free serum testosterone as a predictor for the risk of prostate cancer and its aggressiveness. Actas urologicas espanolas. 2015.
41. Saylor PJ, Smith MR. Adverse effects of androgen deprivation therapy: defining the problem and promoting health among men with prostate cancer. Journal of the National Comprehensive Cancer Network : JNCCN. 2010;8(2):211-23.
42. Jaswal J, Crook J. The role of intermittent androgen deprivation therapy in the management of biochemically recurrent or metastatic prostate cancer. Current urology reports. 2015;16(3):481.
43. Fung C, Dale W, Mohile SG. Prostate cancer in the elderly patient. Journal of clinical oncology : official journal of the American Society of Clinical Oncology. 2014;32(24):2523-30.
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
25
44. Zhou ZR, Liu SX, Zhang TS, Xia J, Li B. Abiraterone for treatment of metastatic castration-resistant prostate cancer: a systematic review and meta-analysis. Asian Pacific journal of cancer prevention : APJCP. 2014;15(3):1313-20.
45. Thelen P, Heinrich E, Bremmer F, Trojan L, Strauss A. Testosterone boosts for treatment of castration resistant prostate cancer: an experimental implementation of intermittent androgen deprivation. The Prostate. 2013;73(15):1699-709.
46. Corona G, Gacci M, Baldi E, Mancina R, Forti G, Maggi M. Androgen deprivation therapy in prostate cancer: focusing on sexual side effects. The journal of sexual medicine. 2012;9(3):887-902.
47. Higano CS. Intermittent versus continuous androgen deprivation therapy. Journal of the National Comprehensive Cancer Network : JNCCN. 2014;12(5):727-33.
48. Kuo KF, Hunter-Merrill R, Gulati R, Hall SP, Gambol TE, Higano CS, et al. Relationships between times to testosterone and prostate-specific antigen rises during the first off-treatment interval of intermittent androgen deprivation are prognostic for castration resistance in men with nonmetastatic prostate cancer. Clinical genitourinary cancer. 2015;13(1):10-6.
49. Sciarra A, Abrahamsson PA, Brausi M, Galsky M, Mottet N, Sartor O, et al. Intermittent androgen-deprivation therapy in prostate cancer: a critical review focused on phase 3 trials. European urology. 2013;64(5):722-30.
50. Morote J, Orsola A, Planas J, Trilla E, Raventos CX, Cecchini L, et al. Redefining clinically significant castration levels in patients with prostate cancer receiving continuous androgen deprivation therapy. The Journal of urology. 2007;178(4 Pt 1):1290-5.
51. Gomella LG. Effective testosterone suppression for prostate cancer: is there a best castration therapy? Reviews in urology. 2009;11(2):52-60.
52. Rosner W, Auchus RJ, Azziz R, Sluss PM, Raff H. Position statement: Utility, limitations, and pitfalls in measuring testosterone: an Endocrine Society position statement. The Journal of clinical endocrinology and metabolism. 2007;92(2):405-13.
53. Matsumoto AM, Bremner WJ. Serum testosterone assays--accuracy matters. The Journal of clinical endocrinology and metabolism. 2004;89(2):520-4.
54. van der Sluis TM, Bui HN, Meuleman EJ, Heijboer AC, Hartman JF, van Adrichem N, et al. Lower testosterone levels with luteinizing hormone-releasing hormone agonist therapy than with surgical castration: new insights attained by mass spectrometry. The Journal of urology. 2012;187(5):1601-6.
55. Rud O, Peter J, Kheyri R, Gilfrich C, Ahmed AM, Boeckmann W, et al. Subcapsular orchiectomy in the primary therapy of patients with bone metastasis in advanced prostate cancer: an anachronistic intervention? Advances in urology. 2012;2012:190624.
56. Roosen JU, Klarskov OP, Mogensen P. Subcapsular versus total orchiectomy in the treatment of advanced prostate cancer: a randomized trial. Scandinavian journal of urology and nephrology. 2005;39(6):464-7.
57. Zhang XZ, Donovan MP, Williams BT, Mohler JL. Comparison of subcapsular and total orchiectomy for treatment of metastatic prostate cancer. Urology. 1996;47(3):402-4.
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
26
58. Kolodziej M. Management of biochemically recurrent prostate cancer following local therapy. The American journal of managed care. 2014;20(11 Suppl):s242-53.
59. Peltier A, Aoun F, De Ruyter V, Cabri P, Van Velthoven R. Triptorelin in the Relief of Lower Urinary Tract Symptoms in Advanced Prostate Cancer Patients: The RESULT Study. Prostate cancer. 2015;2015:978194.
60. Ploussard G, Mongiat-Artus P. Triptorelin in the management of prostate cancer. Future oncology. 2013;9(1):93-102.
61. Whelan P. Triptorelin embonate: a 6-month formulation for prostate cancer. Expert opinion on pharmacotherapy. 2010;11(17):2929-32.
62. Moul JW. Prostate cancer: making the switch from LHRH antagonist to LHRH agonist. Nature reviews Urology. 2012;9(3):125-6.
63. Garnick MB. Important considerations in LHRH antagonist therapy for prostate cancer. Oncology (Williston Park). 2009;23(7):636-7.
64. Moul JW. Utility of LHRH antagonists for advanced prostate cancer. The Canadian journal of urology. 2014;21(2 Supp 1):22-7.
65. Schalken J, Fitzpatrick JM. Enzalutamide: Targeting the androgen signalling pathway in metastatic castration-resistant prostate cancer. BJU international. 2015.
66. Gross-Goupil M, Roca S, Pasticier G, Ravaud A. [Strategy in advanced castration-resistant prostate cancer]. Bulletin du cancer. 2012;99 Suppl 1:S37-45.
67. Dorff TB, Wilkins C, Hepgur M, Quinn DI. Durable complete remission from castration-resistant prostate cancer with sipuleucel-T after estrogen withdrawal. Clinical genitourinary cancer. 2014;12(2):e55-8.
68. Mottet N, Bellmunt J, Bolla M, Joniau S, Mason M, Matveev V, et al. EAU guidelines on prostate cancer. Part II: Treatment of advanced, relapsing, and castration-resistant prostate cancer. European urology. 2011;59(4):572-83.
69. Gardiner RA, Sweeney C, Tilley WD. Testosterone therapy in castrate-resistant prostate cancer: a possible new approach. European urology. 2009;56(2):245-6.
70. Kahn B, Collazo J, Kyprianou N. Androgen receptor as a driver of therapeutic resistance in advanced prostate cancer. International journal of biological sciences. 2014;10(6):588-95.
71. Li H, Hassona MD, Lack NA, Axerio-Cilies P, Leblanc E, Tavassoli P, et al. Characterization of a new class of androgen receptor antagonists with potential therapeutic application in advanced prostate cancer. Molecular cancer therapeutics. 2013;12(11):2425-35.
72. Petrylak DP. Challenges in treating advanced disease. The American journal of managed care. 2013;19(18 Suppl):s366-75.
73. Alifrangis C, O'Hanlon-Brown C, Tuthill M, Waxman J. New drugs for prostate cancer. BJU international. 2012;109(12):1801-6.
Influência dos Níveis de Testosterona no Cancro da Próstata Avançado
27
74. Saad F, Miller K. Current and Emerging Immunotherapies for Castration-resistant Prostate Cancer. Urology. 2015.
75. Quinn DI, Shore ND, Egawa S, Gerritsen WR, Fizazi K. Immunotherapy for castration-resistant prostate cancer: Progress and new paradigms. Urologic oncology. 2015.
76. Banday AH, Jeelani S, Hruby VJ. Cancer vaccine adjuvants--recent clinical progress and future perspectives. Immunopharmacology and immunotoxicology. 2015;37(1):1-11.
77. Heidenreich A, Bastian PJ, Bellmunt J, Bolla M, Joniau S, van der Kwast T, et al. EAU guidelines on prostate cancer. Part II: Treatment of advanced, relapsing, and castration-resistant prostate cancer. European urology. 2014;65(2):467-79.
78. Merseburger AS, Boker A, Kuczyk MA, von Klot CA. [Castration resistant prostate cancer 2015]. Aktuelle Urologie. 2015;46(1):59-65.
79. Heidegger I, Massoner P, Eder IE, Pircher A, Pichler R, Aigner F, et al. Novel therapeutic approaches for the treatment of castration-resistant prostate cancer. The Journal of steroid biochemistry and molecular biology. 2013;138:248-56.
80. Boegemann M, Schrader AJ, Krabbe LM, Herrmann E. Present, Emerging and Possible Future Biomarkers in Castration Resistant Prostate Cancer (CRPC). Current cancer drug targets. 2015.
ANEXOS
ANEXO I – Mecanismo de regulação da produção de testosterona
Figura 1: mecanismo de regulação da produção de testosterona – eixo neuroendócrino; o
hipotálamo é responsável pela produção de GnRH ou LHRH; da libertação pulsátil de
LHRH resulta a libertação de LH pela hipófise, que estimula, nos testículos, as células de
Leydig a produzir testosterona; esta é posteriormente convertida em DHT pela 5-AR.
(DHT – Dihidrotestosterona; 5-AR – 5-alfa redutase; LH – Hormona Luteinizante; LHRH – Hormona
Libertadora de LH)
Imagem retirada do website http://www.uspharmacist.com/content/c/14523/?t=men%27s_health (Wieczorkiewicz J, Schmidt J, Schmidt V. Prostate Cancer: Updates in Pharmacotherapy. US Pharm. 2009. 34 (8): HS-15-HS-18) consultado no dia 13/03/2015.
ANEXO II – Atuação da testosterona nas células alvo
Figura 2: Atuação da testosterona nas células alvo; A testosterona circula no sangue ligada
à albumina e globulina de ligação às hormonas sexuais (SHBG), bem como na forma livre.
A testosterona livre entra nas células da próstata e é convertida em dihidrotestosterona
(DHT) pela enzima 5alfa-reductase. A ligação da DHT ao recetor androgénios (AR) induz
a dissociação de proteínas de choque térmico (HSPs) e fosforilação do recetor. Os AR são
dimerizados e ligam-se a elementos de resposta a androgénios nas regiões promotoras de
genes alvo. Os coativadores (ARA 70) ligam-se a complexos AR, facilitando a sua interação
com o aparelho de transcrição geral (GTA). A ativação de genes alvo leva a respostas
biológicas, incluindo o crescimento, a sobrevivência e a produção de antigénio específico
da próstata (PSA).
Imagem retirada do website http://www.nature.com/nrc/journal/v1/n1/fig_tab/nrc1001-034a_F1.html (Feldman B, Feldman F. The development of androgen-independent prostate cancer. Nature Reviews Cancer. 2001. 1; 34-45) consultado no dia 13/03/2015.
ANEXO III – Sinalização dos recetores de androgénios (AR)
Figura 3: Sinalização dos recetores de androgénios (AR);
(A) em condições normais, o crescimento e manutenção do epitélio da próstata depende
de fatores de crescimento (GF) e de sobrevivência (SF) produzidos pelas células do
estroma na presença de androgénios que interagem com os AR; esta sinalização é
necessária para a produção de proteínas de secreção, tais como PSA e calicreína humana
2 (HK2); as células epiteliais basais não expressam AR.
(B) Durante a transformação cancerígena, o mecanismo de ação parácrina é substituído
por um mecanismo autócrino emergente; as células tumorais são menos dependentes dos
fatores produzidos pelas células estromais; os andrógenos podem estimular diretamente a
produção de fatores de crescimento e sobrevivência de células tumorais por intermédio
dos AR.
(C) Após terapêutica de supressão hormonal, a progressão para cancro da próstata
resistente à castração ocorre na maioria dos casos; existem vários mecanismos pelos
quais um cancro pode progredir para esta situação, amplificação de AR, ativação de AR
independente do ligando e hipersensibilidade ao ligando.
Imagem retirada do website http://www.medscape.com/viewarticle/467251 (Isaacs J, Isaacs W. Androgen Receptor Outwits Prostate Cancer Drugs. Nature Medicine. 2004; 10(1)) consultado no dia 13/03/2015.
ANEXO IV – Ação androgénica no cancro da próstata
Figura 4: Representação da ação androgénica no cancro da próstata; à esquerda, no
cancro da próstata sensível à hormonoterapia e à direita no cancro da próstata resistente
à castração, ou seja, independente dos androgénios para o seu desenvolvimento.
Imagem retirada do website http://link.springer.com/article/10.1007/s12672-010-0044-4/fulltext.html (Tindall D, Mohler J. Androgen action in prostate cancer. New York, N.Y. Springer; 2009. viii, 799 s. p.) consultado no dia 13/03/2015.
ANEXO V – Ação dos androgénios no cancro da próstata e
mecanismos de resistência à castração
Figura 5: Representação da ação dos androgénios no cancro da próstata e dos
mecanismos de resistência à castração.
À esquerda, está retratada a progressão do cancro da próstata dependente de androgénios
e dos recetores de androgénios (AR) para o crescimento e sobrevivência. Quando os AR
estão inativos, encontram-se ligados a proteínas de choque (HSPs) no citoplasma das
células da próstata. O androgénio dihidrotestosterona (DHT) liga-se aos AR, dissociando-
os das HSPs. O complexo AR-DHT transloca-se para o núcleo e liga-se aos elementos de
resposta a androgénios, ativando assim os genes envolvidos no crescimento celular.
À direita, está retratada a progressão do cancro da próstata independente dos androgénios,
através dos diferentes mecanismos envolvendo ou não os AR. Um dos mecanismos
consiste na ativação dos AR por diferentes ligandos ou por fatores de crescimento
desregulados e citocinas, com a interferência de coativadores. Outro corresponde à
amplificação dos AR. Nos mecanismos sem envolvimento dos AR, a perda de PTEN inverte
a inibição de fosfatidilinositol-3 quinase/Akt, permitindo que ocorra a fosforilação de Bad
pela Akt. Esta ativação resulta na libertação de Bcl2, que eventualmente leva à
sobrevivência celular. As células independentes de androgénios também podem expressar
Bcl-2 em excesso. Um último mecanismo diz respeito ao desenvolvimento de um
comportamento neuroendócrino pelas células APC, que passam a secretar neuropeptídeos
que induzem o crescimento de células adjacentes.
Imagem retirada do website http://www.europeanurology.com/article/S0302-2838(10)00301-5/fulltext/testosterone-measurement-in-patients-with-prostate-cancer (Schulman C, Irani J, Morote J, Schalken J, et al. Testosterone Measurement in Patients with Prostate Cancer. European Urology. Springer; 2010. 58 (1): 65-74.) consultado no dia 13/03/2015.
ANEXO VI – Efeitos adversos da Terapêutica de Supressão
Androgénica (TSA)
Efeitos adversos da TSA a curto prazo
Redução da qualidade de vida incluindo em termos de humor e cognição
Ondas de calor semelhantes às sentidas pelas mulheres na menopausa
Disfunção sexual (perda da líbido e disfunção eréctil)
Aumento da massa gorda e diminuição da muscular
Aumento do colesterol total, LDL e HDL e dos níveis de triglicerídeos
Hiperinsulinemia
Efeitos adversos da TSA a longo prazo
Osteoporose e Fraturas
Diabetes Mellitus tipo 2
Doença Cardiovascular
Tabela 1: efeitos adversos da Terapêutica de Supressão Androgénica (TSA)
(Allan CA, Collins VR, Frydenberg M, McLachlan RI, Matthiesson KL. Androgen deprivation therapy complications. Endocrine-related cancer. 2014;21(4):T119-29.)
ANEXO VII – Principais formas de realizar Terapêutica de
Supressão Androgénica (TSA)
Tipo de Terapêutica de Supressão
Androgénica Efeitos na Testoterona
Subtipos de Tratamento/Fármacos
mais usados
Castração Cirúrgica
Níveis de castração atingidos em poucas horas, mas continua
produção adrenal
Orquidectomia Bilateral Total
Orquidectomia Bilateral Subcapsular
Agonistas LHRH/GnRH
Aumento inicial de testosterona antes do
atingimento de níveis de castração
Triptorrelina, Histrelina, Goserelina e Leuprolide
Antagonistas LHRH/GnRH
Ausência de aumento inicial de testosterona
como com os agonistas; induzem níveis de
castração
Degarelix
Terapêutica Antiandrogénica
Sem descida da testosterona para níveis
de castração; atuam bloqueando os recetores
de testosterona existentes nas células prostáticas ou interferindo com as suas
vias de sinalização
Esteróides (Acetato de Ciproterona)
Não Esteróides (Bicalutamida, Flutamida e
Nilutamida)
Inibidores da sinalização dos RA (Enzalutamida)
Inibidores da Síntese de Esteróides
Acentuam a diminuição dos níveis de androgénios
no CPRC, através do bloqueio da síntese
adrenal
Cetoconazol Aminoglutetimida
Acetato de Abiraterona
Bloqueio de Androgénios Combinado
Combinação do uso de antiandrogénios com
agonistas/antagonistas LHRH;
Terapêutica Hormonal com Estrogénios
Não usada habitualmente devido aos efeitos
secundários cardiovasculares;
Aumento dos estrogénios com consequente
diminuição da testosterona
Stilbestrol
Tabela 2: Principais formas de realizar Terapêutica de Supressão Androgénica (TSA)
(RA – Recetores de Androgénios)
ANEXO VIII – Mecanismo de ativação dos recetores de
androgénios no CPRC e locais de atuação de diferentes fármacos
Figura 6: Representação do mecanismo de ativação dos recetores de androgénios no
CPRC e dos locais de atuação de diferentes fármacos.
Imagem retirada do website https://www.bcm.edu/research/labs/nicholas-mitsiades (modificada de
Scher HI, et al. Targeting the androgen receptor: improving outcomes for castration-resistant
prostate cancer. Endocr Relat Cancer. 2004 Sep;11(3):459-76) consultado no dia 13/03/2015.
ANEXO IX – Mecanismo de atuação da Enzalutamida
Figura 7: Representação do mecanismo de atuação da Enzalutamida (MDV3100) que é
um inibidor seletivo dos Recetores de Androgénios.
Imagem retirada do website http://clincancerres.aacrjournals.org/content/19/6/1335/F1.exp ansion.html (Hoffman-Censits J, Kelly Wn. Enzalutamide: A Novel Antiandrogen for Patients with Castrate-Resistant Prostate Cancer. Clinical Cancer Research. 2013. 19(6) 1335-1339) consultado no dia 13/03/2015.
ANEXO X – Recomendações terapêuticas para os diferentes
estadios do CPRC
Figura 8: Estadios do cancro da próstata avançado e fármacos recomendados nas
diferentes situações em 2013.
Imagem retirada do website http://www.onclive.com/publications/obtn/2013/January-
2013/Advanced-Prostate-Cancer-Therapeutic-Sequencing-Outcomes-and-Cost-Implications
(Crawford D, Rove K. Advanced Prostate Cancer: Therapeutic Sequencing, Outcomes, and Cost
Implications. OncLive. 2013.) consultado no dia 13/03/2015.
Figura 9: Fármacos recomendados nas diferentes situações de CPRC em 2015.
Imagem retirada do website https://www.cua.org/themes/web/assets/files/guidelines/en/cua-cuog-
guidelines.pdf (Saad F, Chi K, Finelli A, et al. The 2015 CUA-CUOG Guidelines for the management
of castration-resistant prostate cancer (CRPC). Can Urol Assoc J 2015;9(3-4):90-6.) consultado no
dia 21/04/2015.
ANEXO XI – Resultados de diferentes ensaios clínicos na
sobrevida de doentes com CPRC
Tabela 3: Ensaios Clínicos que comparam a eficácia de alguns tipos de terapêutica em
relação ao placebo no tratamento do CPRC metastizado.
Imagem retirada do website http://www.amepc.org/tau/article/view/2755/3626 (Silberstein J, Pal S, Lewis B, Sartor O. Translational Andrology and Urology. 2013. 2(3)) consultado no dia 11/05/2015.
ANEXO XII – Lista de ensaios clínicos realizados no âmbito do
tratamento do CPRC
Tabela 4: Exemplos de ensaios clínicos realizados no âmbito do tratamento do CPRC.
Imagem retirada do artigo: Heidegger I, Massoner P, Eder, et al. Novel therapeutic approaches for
the treatment of castration-resistant prostate cancer. Journal of Steroid Biochemistry and Molecular
Biology. 2013. 138(2013); 248-256.