Artigo equina 10 mar abr-2007

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AGRONEGÓCIO GRONEGÓCIO GRONEGÓCIO GRONEGÓCIO GRONEGÓCIO Um desejo comum a muitos pais é que seus filhos pratiquem esportes. É a busca por uma vida mais saudável, física e mentalmente. O esporte permite maior contato e desenvolvimento social e revela nossos potenciais e limites. Estas e muitas outras vantagens da prática esportiva são conhe- cidas e, felizmente, coincidem com anseios das crianças e jovens. Quando é tomada a decisão de encaminhar os filhos para prática esportiva, sur- ge a dúvida: qual modalidade? Questões históri- cas e culturais 1 dificilmente colocam o hipismo como primeira opção desse país. Já o futebol sur- ge com elevada freqüência, muitas vezes associ- ado à idéia de ser uma alternativa de baixo custo e grande benefício. Neste artigo serão apresen- tadas algumas considerações, sem pretensão de esgotar o assunto, sobre a análise de custos e benefícios na escolha entre hipismo e futebol. 1. Custos financeiros Iniciando pelo aspecto mais estereotipado do hipismo, sua imagem de esporte das elites, de di- fícil acesso. Levantamento realizado no mês de fevereiro de 2007 em diversas hípicas e escoli- nhas de futebol derruba, ao menos em parte, este mito. O custo mensal médio para praticar futebol em uma escolinha, duas vezes por semana, foi apurado em R$ 83,21, considerando mensalidade e equipamentos 2 (Tabela 1). De acordo com o mesmo levantamento, é possível praticar hipismo, também duas vezes por semana, por R$ 65,26 ou seja, 78% do custo médio para prática de futebol. No entanto, é possível praticar futebol com custo inferior ao hipismo. Destaca-se também a grande amplitude de custos observada entre as diversas hípicas, com a mensalidade mais cara equivalen- te 8,3 vezes a mensalidade mais barata (no fute- bol, esta relação é de apenas 2,8 vezes). 1 Conforme Gilberto Freire, e já relembrando em editorial desta Revista, desde o Brasil Colonial a figura do cavalo estava associada ao senhor de engenho, caracterizando-o como “o animal, mais que qualquer outro, a serviço do domínio dos ‘Defensores da Ordem’ sobre a massa”. 2 Para o cálculo do custo mensal de equipamentos (incluindo, entre outros, o uniforme) foi calculado dividindo o custo unitário pela vida útil (expressa em meses). Neste artigo serão apresentadas algumas considerações, sem pretensão de esgotar o assunto, sobre a análise de custos e benefícios na escolha entre hipismo e futebol. Futebol ou Equitação?

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AAAAAGRONEGÓCIOGRONEGÓCIOGRONEGÓCIOGRONEGÓCIOGRONEGÓCIO

Um desejo comum a muitos pais é que seusfilhos pratiquem esportes. É a busca por uma vidamais saudável, física e mentalmente. O esportepermite maior contato e desenvolvimento social erevela nossos potenciais e limites. Estas e muitasoutras vantagens da prática esportiva são conhe-cidas e, felizmente, coincidem com anseios dascrianças e jovens. Quando é tomada a decisão deencaminhar os filhos para prática esportiva, sur-ge a dúvida: qual modalidade? Questões históri-cas e culturais1 dificilmente colocam o hipismocomo primeira opção desse país. Já o futebol sur-ge com elevada freqüência, muitas vezes associ-ado à idéia de ser uma alternativa de baixo custoe grande benefício. Neste artigo serão apresen-tadas algumas considerações, sem pretensão deesgotar o assunto, sobre a análise de custos ebenefícios na escolha entre hipismo e futebol.

1. Custos financeiros

Iniciando pelo aspecto mais estereotipado dohipismo, sua imagem de esporte das elites, de di-

fícil acesso. Levantamento realizado no mês defevereiro de 2007 em diversas hípicas e escoli-nhas de futebol derruba, ao menos em parte, estemito. O custo mensal médio para praticar futebolem uma escolinha, duas vezes por semana, foiapurado em R$ 83,21, considerando mensalidadee equipamentos2 (Tabela 1). De acordo com omesmo levantamento, é possível praticar hipismo,também duas vezes por semana, por R$ 65,26 ouseja, 78% do custo médio para prática de futebol.No entanto, é possível praticar futebol com custoinferior ao hipismo. Destaca-se também a grandeamplitude de custos observada entre as diversashípicas, com a mensalidade mais cara equivalen-te 8,3 vezes a mensalidade mais barata (no fute-bol, esta relação é de apenas 2,8 vezes).

1 Conforme Gilberto Freire, e já relembrando em editorial desta Revista,desde o Brasil Colonial a figura do cavalo estava associada ao senhor deengenho, caracterizando-o como “o animal, mais que qualquer outro, aserviço do domínio dos ‘Defensores da Ordem’ sobre a massa”.

2 Para o cálculo do custo mensal de equipamentos (incluindo, entreoutros, o uniforme) foi calculado dividindo o custo unitário pela vida útil(expressa em meses).

Neste artigoserãoapresentadasalgumasconsiderações,sem pretensãode esgotar oassunto, sobrea análise decustos ebenefícios naescolha entrehipismoe futebol.

Futebol ou Equitação?

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Observa-se, neste item “custo financeiro”, queo futebol leva ligeira vantagem, embora o hipismopossa apresentar custos competitivos.

2. Custos e benefícios não financeiros

Na mesma época em que foi realizado o le-vantamento de custos anteriormente comentado,o noticiário esportivo foi dominado pela repercus-são de contusões no joelho de destacados jovensatletas do futebol3. Contusões em esportes de con-tato, como o futebol, são freqüentes, mas, em ge-ral, com pouca gravidade. No hipismo, acidentespodem ser graves (justificando o uso de equipa-mento de segurança – capacetes), mas não sãofreqüentes. Adicionalmente, os benefícios do hi-pismo são muito superiores, o que justifica, inclu-sive, atividades como a equoterapia. Numa ses-são de 30 minutos de equoterapia, um pacienteexecuta cerca de 2.000 descolamentos, realizan-do movimentos tridimensionais, que agem no sis-tema nervoso profundo, responsável pelas noçõesde equilíbrio, distância e lateralidade. A equotera-pia é indicada no tratamento dos mais diversostipos de comprometimentos motores, mentais, so-ciais e emocionais (Quadro 1). Conforme afir-mação no site da Associação Nacional de Equo-terapia (ANDE-BRASIL): “a interação com o

cavalo, incluindo os primeiros contatos, o atode montar e o manuseio final, desenvolve no-vas formas de socialização, autoconfiança eauto-estima”.

Observa-se, neste item “custos e benefícios nãofinanceiros”, ampla vantagem para o hipismo.

3 Nilmar (Corinthians); Obina (Flamengo); Alemão (Palmeiras); e, Kerlon(Cruzeiro).

Quadro 1: Exemplos de indicaçõespara equoterapia.

Tabela 1: Preços unitários e custos mensais para prática de hipismo e de futebolem 14 escolas na região metropolitana de São Paulo (SP).

PREÇO (R$) CUSTO MENSAL (R$)

Mínimo Médio Máximo Mínimo Médio Máximo

HIPISMO

• Mensalidade 60,00 280,00 500,00 60,00 280,00 500,00• Capacete 63,00 71,50 80,00 0,70 0,79 0,89• Culote 50,00 65,00 80,00 2,78 3,61 4,44• Bota 80,00 150,00 220,00 0,67 1,25 1,83• Chicote 20,00 20,00 20,00 1,11 1,11 1,11

Total 65,26 286,77 508,28

FUTEBOL

• Mensalidade 36,00 68,00 100,00 36,00 68,00 100,00• Chuteira 110,00 135,00 160,00 4,58 5,63 6,67• Uniforme 70,00 115,00 160,00 5,83 9,58 13,33

Total 46,42 83,21 120,00

Obs.: (1) As mensalidades consideram duas aulas semanais. (2) Os preços referem-se a vestuário e equipamentos para iniciantes. Tanto no caso do futebol quanto no hipismo foramencontrados itens com valores superiores aos apresentados na Tabela, mas destinados quase que exclusivamente aosatletas profissionais das modalidades analisadas....................................................................................................................................................................................................

• Acidente Vascular Encefálico• Distúrbios do comportamento• Comprometimentos emocionais• Distúrbio de atenção• Deficiência auditiva• Problemas ortopédicos• Atraso no desenvolvimento Neuropsicomotor• Dificuldades da aprendizagem ou linguagem• Disfunção na integração sensorial• Autismo• Depressão• Esclerose Múltipla• Esquizofrenia• Hiperatividade• Insônia• Lesão Medular• Deficiência visual• Paralisia cerebral• Problemas posturais• Síndrome do X-Frágil• Síndrome de Down• Stress• Traumatismo Crânio-encefálico

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Roberto A. de Souza LimaProfessor doutor da Escola Superior de

Agricultura “Luiz de Queiroz” daUniversidade de São Paulo (ESALQ/USP)

[email protected]

Patrícia de Souza Lima PimentaGraduanda da FMVZ/USP.

3. Custos e benefícios sociais

Os casos de inclusão social pelo futebol sãobastante conhecidos. Neste tópico, será destaca-da apenas a experiência do município de Volta Re-donda (RJ), para ilustrar o potencial do hipismonesta área. Desde 2003, encontra-se em funcio-namento naquela cidade uma escola municipal dehipismo. Com uma procura por vagas superior amil alunos, a escola está estruturada (e atende)mais de 100 alunos gratuitamente, com recursosprovenientes de uma parceria com a iniciativa pri-vada. Os alunos competem em provas oficiais,sendo que têm obtido bons desempenhos. Os alu-nos da Escola Municipal de Hipismo vêm, segui-damente, obtendo resultados expressivos nas eta-pas do Campeonato Estadual de Hipismo no Riode Janeiro e em outras provas como, por exemplo,a Copa Mundial de Saltos (vice-campeonato dotorneio disputado em Indaiatuba, São Paulo). Tra-ta-se de uma experiência de sucesso, formando erecuperando cidadãos, que poderia (e deveria) serreplicada em diversos outros municípios.

4. Considerações finais

Pelo exposto, observa-se que o hipismo nãonecessariamente é uma atividade de custo eleva-do, podendo, muitas vezes, ser praticado comgastos inferiores aos incorridos com escolinhasde futebol. Adicionalmente, os benefícios para ocorpo e mente proporcionados pelo esporte utili-zando o cavalo são significativos, indicando que aopção pelo hipismo deve ser fortemente conside-rada. E, ressalte-se, esta opção não se limita àesfera privada: a experiência da Escola Munici-pal de Hipismo deve ser seguida, popularizando ohipismo, resgatando e incluindo socialmente jo-vens de todo Brasil.