Artigo Modelo i

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1 Carpe Diem: Revista Cultura e Científica do UNIFACEX. v. 11, n. 11, 2013. ISSN: 2237-8586 A VISITA DOMICILIAR COMO INSTRUMENTO PARA HUMANIZAÇÃO: REVISANDO A LITERATURA Giuliana Souza Martins 1 , Fábio Claudiney da Costa Pereira 2 , Isabel Cristina Amaral de Sousa 3 RESUMO: A visita domiciliar é uma situação comum no cotidiano da enfermagem na ESF, sendo realizada no local de moradia favorecendo um espaço de construção coletiva da equipe de saúde. Dessa forma objetiva-se descrever o papel da enfermagem na visita domiciliária como instrumento de humanização. Trata-se de uma revisão da literatura realizado na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram coletadas 16 publicações, destas foram utilizadas 13 publicações, pôde-se constatar que a visita domiciliária proporciona ao enfermeiro o poder de conhecer cada família, discernir e adaptar todas as suas práticas visando construir interações dos indivíduos, em sua comunidade dentro do seu domicílio através de instrumentos que aproxime a equipe e o paciente em seu domicílio contribuindo para uma prática de promoção da saúde, dentre eles: desenvolve as ações educativas durante a visita domiciliária e implementar a educação permanente em saúde numa abordagem mais humanizada. Palavras- Chave: Visitar domiciliar. Enfermagem. Saúde da Família. Humanização. ABSTRACT: The home visit is a common situation in everyday nursing FHS, being held at the place of residence providing an opportunity for collective construction of the health team . Thus the objective is to describe the role of nursing in the home visit as an instrument of humanization .This is a literature review conducted on the Virtual Health Library ( VHL ) . We collected 16 publications , 13 of these publications were used , it was found that the home visit the nurse provides the power to meet each family , discern and adapt all its practices to build interactions of individuals in your community inside your home by instruments that approximates the staff and the patient in his home contributing to a practice of health promotion, including : developing educational activities during the home visit and implementing continuing health education in a more humane approach. Keywords: Visit home. Nursing. Family Health. Humanization. 1 INTRODUÇÃO A visita domiciliar (VD) vem sendo demonstrada em diversos estudos como fator importante no cuidado à saúde da família, gerando atividades profissionais realizadas diretamente no domicílio das pessoas, facilitando a aproximação das necessidades da população, permitindo a aproximação do serviço de saúde no domicílio, envolvendo a família e evitando considerar somente os problemas apresentados, mas, observando fatores culturais, sociais e econômicos. Segundo o Ministério da Saúde, uma das atividades intrínsecas à Estratégia da Saúde da Família (ESF) é a visita domiciliar, que proporciona ao profissional adentrar o espaço da família e, assim, identificar suas demandas e potencialidades (BRASIL, 2005). 1 ENFERMEIRA. Especialista em Enfermagem do Trabalho pela faculdade (UESSBA). Contato: [email protected] 2 ENFERMEIRO. Especialista em Formação Docente para o Ensino Superior. Docente do curso de enfermagem do UNIFACEX. Contato: [email protected] 3 ENFERMEIRA. Doutora em educação pela UFRN. Coordenadora e Docente do Curso de Enfermagem da UNIFACEX/RN Contato: [email protected]

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    Carpe Diem: Revista Cultura e Cientfica do UNIFACEX. v. 11, n. 11, 2013. ISSN: 2237-8586

    A VISITA DOMICILIAR COMO INSTRUMENTO PARA HUMANIZAO:

    REVISANDO A LITERATURA

    Giuliana Souza Martins1, Fbio Claudiney da Costa Pereira

    2,

    Isabel Cristina Amaral de Sousa3

    RESUMO: A visita domiciliar uma situao comum no cotidiano da enfermagem na ESF, sendo realizada no

    local de moradia favorecendo um espao de construo coletiva da equipe de sade. Dessa forma objetiva-se

    descrever o papel da enfermagem na visita domiciliria como instrumento de humanizao. Trata-se de uma

    reviso da literatura realizado na Biblioteca Virtual em Sade (BVS). Foram coletadas 16 publicaes, destas

    foram utilizadas 13 publicaes, pde-se constatar que a visita domiciliria proporciona ao enfermeiro o poder

    de conhecer cada famlia, discernir e adaptar todas as suas prticas visando construir interaes dos indivduos,

    em sua comunidade dentro do seu domiclio atravs de instrumentos que aproxime a equipe e o paciente em seu

    domiclio contribuindo para uma prtica de promoo da sade, dentre eles: desenvolve as aes educativas

    durante a visita domiciliria e implementar a educao permanente em sade numa abordagem mais

    humanizada.

    Palavras- Chave: Visitar domiciliar. Enfermagem. Sade da Famlia. Humanizao.

    ABSTRACT: The home visit is a common situation in everyday nursing FHS, being held at the place of

    residence providing an opportunity for collective construction of the health team . Thus the objective is to

    describe the role of nursing in the home visit as an instrument of humanization .This is a literature review

    conducted on the Virtual Health Library ( VHL ) . We collected 16 publications , 13 of these publications were

    used , it was found that the home visit the nurse provides the power to meet each family , discern and adapt all its

    practices to build interactions of individuals in your community inside your home by instruments that

    approximates the staff and the patient in his home contributing to a practice of health promotion, including :

    developing educational activities during the home visit and implementing continuing health education in a more

    humane approach.

    Keywords: Visit home. Nursing. Family Health. Humanization.

    1 INTRODUO

    A visita domiciliar (VD) vem sendo demonstrada em diversos estudos como fator

    importante no cuidado sade da famlia, gerando atividades profissionais realizadas

    diretamente no domiclio das pessoas, facilitando a aproximao das necessidades da

    populao, permitindo a aproximao do servio de sade no domiclio, envolvendo a famlia

    e evitando considerar somente os problemas apresentados, mas, observando fatores culturais,

    sociais e econmicos.

    Segundo o Ministrio da Sade, uma das atividades intrnsecas Estratgia da Sade

    da Famlia (ESF) a visita domiciliar, que proporciona ao profissional adentrar o espao da

    famlia e, assim, identificar suas demandas e potencialidades (BRASIL, 2005).

    1ENFERMEIRA. Especialista em Enfermagem do Trabalho pela faculdade (UESSBA). Contato:

    [email protected] 2 ENFERMEIRO. Especialista em Formao Docente para o Ensino Superior. Docente do curso de enfermagem

    do UNIFACEX. Contato: [email protected] 3 ENFERMEIRA. Doutora em educao pela UFRN. Coordenadora e Docente do Curso de Enfermagem da

    UNIFACEX/RN Contato: [email protected]

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    Nesse sentido acredita-se que o profissional enfermeiro possui grande conhecimento

    processo educativo em sade, tendo muita responsabilidade na busca de dados corretos que

    identifiquem riscos reais e que possam ter fundamentos no planejamento de aes para

    intervir nos problemas de sade (ROESE; LOPES, 2004).

    Na ESF, as visitas domiciliares prope organizao das prticas de sade voltadas para

    ateno famlia, elegendo o espao social por ela ocupado como foco das aes

    desenvolvidas pela equipe de sade (ABRAHO, 2011). Infelizmente, essa realidade pouco

    vista, pois, os enfermeiros dispem de pouco tempo para a sua realizao, existe a dificuldade

    para esses profissionais se ausentarem das unidades.

    Para Lacerda et al. (2006) ainda que a ateno domiciliar sade esteja em processo

    de crescimento nas prticas da referida rea, ela ainda no est completamente implantada

    nos sistemas de atendimento sade e na formao e capacitao dos profissionais deste

    setor.

    A Visita Domiciliar merece ser considerada como uma ferramenta importante e capaz

    de contribuir para as praticas de sade promovendo a qualidade de vida , focando na

    promoo, preveno e reabilitao, promovendo melhorias das condies de sade da

    populao assistida. Dessa forma, busca-se a garantia de um cuidado integral na perspectiva

    de identificar os principais riscos sade da sua comunidade, evitando internamentos

    hospitalares, diminuindo os custos socioeconmicos.

    A VD buscam-se aes de preveno de agravos por meio de elementos que gerem

    efeitos positivos no grupo familiar, possibilitando maior liberdade para famlia expressar

    sobre seus problemas, consequentemente aponta para uma demanda de profissionais

    capacitados ao atendimento dessas famlias, destacando-se o profissional enfermeiro.

    Desse modo, a prtica educativa uma ferramenta valiosa para a estimulao dos

    princpios que regem o autocuidado, tornando as pessoas capazes de se responsabilizar pela

    sua sade. Assim como, o enfermeiro deve comear suas aes de preveno e promoo da

    sade refletindo sobre sua prtica com melhoria do cuidado (SOSSAI; PINTO, 2010).

    Destarte, acredita-se que o profissional enfermeiro possui grande potencial no

    processo educativo em sade, tendo muita responsabilidade na busca de dados fidedignos que

    identifiquem riscos reais e que possam embasar o planejamento de aes para intervir nos

    problemas de sade (LOPES, 2004).

    Neste contexto, percebe-se a visita domiciliar como mtodo, tcnica e instrumento,

    apresentando como um momento importante, no qual se estabelece o movimento das relaes

    como a escuta qualificada e o acolhimento, aes que permitem que os familiares tenham

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    melhores condies de se tornarem mais independentes na sua prpria produo de sade

    (LOPES; SAUPE; MASSAROLI, 2008).

    Entretanto, ainda so escassos os trabalhos que estudam a prtica da visita domiciliar

    na ESF e que expliquem a capacidade de ao dessa para atender s necessidades de sade da

    populao com olhar na dimenso singular das famlias, e isso dificulta a expresso das

    condies de vida e trabalho dos sujeitos (DRULLA, 2008).

    Compreende-se que a visita domiciliar envolve a realizao de aes educativas,

    orientao, demonstrao de procedimentos tcnicos a serem ensinadas a famlia, bem como a

    execuo destes procedimentos pela equipe da ESF no domiclio do cliente. (LACERDA,

    2006).

    Nesse contexto, o estudo ressalta que o enfermeiro pode ser considerado como o

    profissional com maior capacidade e requisitos para desenvolver atividades de educao

    sanitria, para a sade individual e coletiva, almejando reais mudanas quanto aos problemas

    de sade e tornado as aes de enfermagem cada vez mais complexas exigindo do

    profissional uma postura mais reflexiva no processo do cuidar, para que o enfermeiro possa

    prestar alm do cuidado cientfico, um cuidado humanizado. O interesse neste estudo surgiu

    da vivncia acadmica da autora em uma ESF no Municpio de Nsia Floresta- RN, onde teve

    a oportunidade de realizar visitas domiciliarias. Diante desse contexto Buscou-se neste estudo

    pesquisar na literatura a visita domiciliar como instrumento para humanizao.

    2 METODOLOGIA

    Trata-se de uma reviso de literatura. A busca do material ocorreu entre os meses de

    agosto e dezembro de 2012. Para tanto, utilizamos o Portal da Biblioteca Virtual em Sade

    (BVS) como a Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Literatura Internacional em

    Cincias da Sade (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da

    Sade (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e documentos do Ministrio

    da Sade, com os seguintes descritores: Visitar domiciliar, Enfermagem, Sade da Famlia,

    humanizao, segundo a classificao dos descritores em cincias da sade (DECS).

    Os critrios de incluso foram: textos completos, em portugus, publicados de 2003a

    outubro 2012. Foram excludas publicaes disponveis apenas no formato de resumo,

    possua tempo de publicao maior de onze anos, e que no abordassem a temtica

    pesquisada. Justifica-se o longo espao de tempo pela escarces de artigos que versem sobre o

    contedo pesquisado. Foram coletadas 16 publicaes, sendo que destas foram utilizadas

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    13publicaes. Estes dados foram coletados mediante a utilizao de um formulrio

    estruturado, abrangendo questes condizentes com o objetivo da pesquisa, incluindo:

    diferena entrevisita domiciliar x visita domiciliria, conceito da visita domiciliar e as aes

    educativas da enfermagem na visita domiciliar. Os mesmos foram analisados utilizando-se a

    estatstica descritiva. De antemo, trataremos os termos visita domiciliar e visita domiciliria

    como sinnimos.

    3 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS

    3.1 VISITADOMICILIRIA UM POUCO SOBRE SUA HISTRIA

    A visita domiciliar tornou-se destaque no Brasil quando surgiu o compromisso da

    eliminao das epidemias e das doenas infectocontagiosas, podendo ser um fator importante

    onde a famlia era orientada quanto aos hbitos de higiene .

    As primeiras descries das VDg ganhou destaque em nosso pas a partir de sua

    incorporao aos servios sanitrios da dcada de 20 do sculo passado(SANTOS et al.,

    2008). No entanto, somente a partir da dcada de 90 do mesmo sculo, esta comeou a ser

    descrita como fator importante para a implementao de programas voltados ao atendimento

    no domiclio.

    Alguns autores datam o surgimento da VD desde a Grcia antiga (433 a.c), por terem

    sido encontrados relatos mdicos que percorriam as cidades prestando assistncia as famlias,

    de casa em casa, orientando quanto ao controle e a melhoria do ambiente fsico, alimentar e

    alvio do desamparo (LOPES; SAUPE; MASSAROLI, 2008). Destaca-se que mesmo

    existindo h muitos anos, esta prtica ainda pouco explorada.

    Entre os anos de 1854 e 1856, em Londres e anteriormente ao surgimento das

    enfermeiras visitadoras, a VD era realizada por mulheres nas suas comunidades. Estas no

    recebiam salrio para educar as pessoas necessitadas, porm priorizavam aes educativas de

    cuidado e higiene, criando o servio de visitadoras sanitrias. No entanto, Essa experincia

    mostrou que a preocupao estava mais focada em minimizar as doenas e agravos do que

    promover sade (LOPES; SAUPE; MASSAROLI, 2008).

    Segundo Giacomozzi; et. al. (2006) a visita domiciliar , um conjunto de aes que

    busca a preveno de um agravo sade e a sua manuteno por meio de elementos que

    fortaleam os benefcios ao indivduo e a recuperao da populao j acometido por uma

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    doena. Dessa forma, se faz necessrio que o profissional atue de maneira a deixar que o

    morador sinta-se a vontade com a sua presena, para que a visita atinja seu objetivo.

    Inicialmente, destaca-se que o termo correto para designar esse procedimento visita

    domiciliria, porque a palavra domiciliar um verbo transitivo direto. Significa dar domiclio

    a; recolher em domiclio; fixar residncia ou fixar domiclio, enquanto o termo domicilirio

    um adjetivo relativo a domiclio, feito no domiclio, e seu feminino domiciliria. Portanto, a

    expresso visita domiciliria deve ser utilizada para nos referirmos ao instrumento de trabalho

    utilizado pelo enfermeiro ou outros profissionais da equipe de sade (SOSSAI; PINTO 2010

    apud FERREIRA, 1999).

    A VD pode ser definida ainda como um conjunto de aes interligadas, articuladas e

    sistematizadas, desenvolvidas pela equipe de sade no domiclio, com o objetivo de

    promover, estabelecer a sade de pessoas em seu contexto socioeconmico, cultural e

    familiar, tendo como base o planejamento, buscando a adoo de uma postura de escuta e um

    saber-fazer que demonstrem ateno, respeito, compromisso e tica (REHEM et al.,

    2005).Nesse interim, considera-se o instrumento de trabalho supracitado como processo de

    interveno fundamental na sade da famlia e na continuidade, sendo programada e utilizada

    com o intuito de subsidiar intervenes ou o planejamento de aes. Assim sendo, utiliza-se

    de diversos recursos sociais locais, visando a maior equidade da assistncia em sade

    (GIACOMOZZI; LACERDA, 2006).

    AVD uma atividade importante na promoo da sade, ao entrar na casa de uma

    famlia, no entra somente no seu espao fsico, mas em tudo o que o espao representa.

    Nesse domicilio vive uma famlia, com suas crenas, sua cultura e uma histria prpria com

    seus cdigos de sobrevivncia. Nesta perspectiva a visita domiciliria constitui-se como

    recurso fundamental para a prestao de assistncia ao usurio e famlia, principalmente as

    aes educativas (SANTOS, 2008).

    Trata-se portanto, de um instrumento que visa a assistncia domiciliar sade, que

    aponta subsdios para a execuo dos demais conceitos desse modelo assistencial. , por

    intermdio da visita, que os profissionais captam a realidade dos indivduos assistidos,

    reconhecendo os problemas e necessidades de sade destes (LACERDA, et. al., 2006).

    3.2 HUMANIZAO DO CUIDADO DOMICILIAR:VANTAGENS E BENEFCIOS

    A ESF visa mudana na relao entre os profissionais e a populao, resgatando e

    valorizando conceitos fundamentais de vnculo, humanizao, corresponsabilizao e respeito

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    s famlias, reorientando o modo de operar os servios de sade (CRUZ et al., 2010). Por

    outro lado, reforam-se suas potencialidades, sobretudo ao proporcionar a ampliao do

    acesso aos servios e aes de sade e o fortalecimento do vnculo e humanizao na ateno

    s famlia

    Alm disso, a VD fortalece os pilares da humanizao no atendimento, estabelecendo

    um vnculo consistente entre o binmio paciente/famlia e o servio de sade, condio

    fundamental para a qualidade no padro de atendimento e a garantia de boa qualidade de vida

    ao cliente (SOSSAI, 2010).

    Drulla, et. al., (2009) explicita a relevncia da abordagem no ambiente domiciliar, em

    especial o saber ouvir, como forma de valorizar a VD para o processo de sade/doena.

    Esta habilidade na comunicao desperta o sentimento de confiana, estabelece

    relacionamento interpessoal da equipe multiprofissional, paciente e famlia, permitindo assim

    confiana, segurana e satisfao neste processo dialtico.

    Um cuidado mais humanizado permite a construo de vnculo. Para tanto, preciso o

    saber ouvir, para que se possa estabelecer ligao de confiana entre profissional e usurio,

    pois esta prtica desenvolvida no espao domiciliar familiar. Desta forma, a visita permite

    conhecer a realidade, beneficia a troca de informaes dos familiares e assim subsidia a

    construo de projeto de interveno mais prximo das famlias.

    Consequentemente, nessa relao com os familiares, os profissionais buscam a

    segurana dos usurios atendidos, numa relao emptica e sem prejulgamentos, devido

    necessidade do processo de cuidado englobar alm competncia tcnica, os aspectos

    interpessoais e de humanizao da relao profissional famlia paciente (MATIAS, 2008).

    Estabelecendo uma relao entre a VD e a ESF, Marin et. al. (2011) avaliam em seus

    estudos que a percepo dos usurios confirma a importncia da empatia e do vnculo como

    elementos centrais na relao, bem como a humanizao do cuidado, possibilitam ensinar e

    aprender, na tica das famlias. Para os profissionais, h a expresso dos sentidos do ensino

    tanto pelo conhecimento especfico que apresentam, como pela experincia de vida, revelando

    um aprendizado que no preciso dominar a tcnica perfeita ou decorar o que falar na hora

    certa, basta reconhecer que os caminhos precisam ser traados compreendendo e respeitando

    cada realidade, s vezes com uma palavra de conforto, uma escuta qualificada ou um ombro

    amigo.

    No conjunto de equipamentos, instrumentos e saberes profissionais est presente a

    tecnologia leve-dura: leve por conter um saber que as pessoas adquiriram e que est inscrito

    na sua forma de pensar as situaes de sade e na sua maneira de organizar uma atuao sobre

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    elas; e dura na medida em que um saber-fazer bem estruturado. Alm da tecnologia leve

    aquela que se produz atravs do trabalho vivo, Entende-se esta tecnologia como um encontro

    entre pessoas que atuam criando espaos, onde acontecem os momentos das falas, escutas e

    interpretaes, nos quais h a produo de uma ateno ou no das intenes que estas

    pessoas colocam neste encontro. So encontros de possveis cumplicidades, nos quais pode

    haver a produo de uma responsabilizao em torno do problema que vai ser enfrentado

    (MERHY, 1997).

    Lopes; Saupe; Massaroli (2008) afirmam que a visita domiciliar rene tecnologias

    leves a serem aprendidas e desenvolvidas, as quais so: a entrevista, implicando o dilogo

    com a sua devida finalidade e no apenas uma conversa baseada na experincia; a observao,

    indicando a ateno aos detalhes dos caso e relatos apresentados durante a visita; e o relato

    oral ou histria, espao onde as pessoas apresentam como do sentido s suas vidas, dentro

    dos limites e da liberdade que lhes so concedidos.

    A integralidade da assistncia na visita domiciliaria, emerge a subjetividade inerente

    ao processo de vivncia e interao entre usurios e profissionais da equipe. Neste sentido

    Albuquerque; Bosi (2009) ressaltam que o cuidado no implica em rejeio da tcnica, mas

    em reinventar o modo de interveno tecnicista sobre a enfermidade, no qual ainda se confere

    prioridade aos rtulos ou diagnsticos, desqualificao da dor e ao ajustamento da pessoa s

    instituies e suas prticas.

    3.3AES EDUCATIVAS DO ENFERMEIRO NA VISITA DOMICILIAR

    No incio do sculo passado a VD realizada pela enfermagem tinha a finalidade de

    prestar assistncia no domicilio exclusivamente para eliminao das grandes epidemias de

    doenas infectocontagiosas, caractersticas do modelo assistencial hegemnico da poca. Aos

    poucos, com a mudana do modelo de reorganizao dos servios de assistncia sade da

    populao em nvel primrio, busca-se a garantia de um acesso universal, equitativo e integral

    aos usurios oportunizando novas possibilidades de se organizar a prtica do cuidar e

    contribuindo para uma maior autonomia do profissional, por conseguinte, da qualidade do

    cuidado.

    Nesse contexto, a ESF prev a utilizao da assistncia domiciliar sade, em

    especial, a visita domiciliaria, como forma de instrumentalizar os profissionais para sua

    insero e o conhecimento da realidade de vida da populao, bem como o estabelecimento de

    vnculos com a mesma; visando atender as diferentes necessidades de sade das pessoas,

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    preocupando-se com a infra-estrutura existente nas comunidades e com atendimento sade

    das famlias (GIACOMOZZI; LACERDA, 2008).

    Em relao ao educativa em sade, destaca-se como um processo dinmico que

    tem como objetivo a capacitao dos indivduos e comunidades para melhoria de suas

    condies de sade (SOSSAI; PINTO; 2010). O desenvolvimento dessas aes contribui para

    a melhoria da qualidade de vida da populao abordando aes por meio do dialogo e do

    saber escutar. Essas aes devem ter qualidade da ateno prestada em sade, sendo

    elementos fundamentais a criao das possibilidades para a sua construo ou produo.

    A visita domiciliar consente ao visitador conhecer de forma mais abrangente e real as

    necessidades e as possveis solues apontadas por moradores adstritos na cobertura de uma

    ESF. O enfermeiro nesse cerne deve agir como um radar humano numa perspectiva de

    reconhecer o que concreto ou objetivo, buscando desenvolver intervenes imediata nos

    seios da famlia algo de merecedor da ateno, tais como: um choro diferente da criana,

    panelas ou geladeiras sem comida, torneira sem gua, falta de saneamento, febre, uma

    gestante sem pr-natal; crianas ou idosos sem vacinas, janelas fechadas; pouca iluminao

    (SILVA, 2009).

    de suma importncia que o enfermeiro da ateno bsica seja um conhecedor das

    aes a serem desenvolvida nos mais diversos espaos sociais existentes na comunidade na

    qual est inserido para saber articul-las na hora do desenvolvimento do seu processo de

    trabalho. Nesse interim, a linguagem adotada para o espao da ateno bsica deve ser

    simples, acessvel e precisa, haja vista que a visita domiciliria tambm deve buscar uma

    assistncia interdisciplinar (LACERDA, et. al., 2006).

    Atravs dessas informaes, os referidos profissionais devem estimular o

    conhecimento de si mesmo nas aes educativas fortalecendo a autoestima, os vnculos e

    autonomia, na busca de vnculos de solidariedade comunitria, sendo importante que seja

    utilizado instrumentos com os quais possamos generalizar os resultados, dentre eles,

    destacamos o pleno exerccio de poder decidir o melhor para a sua sade.

    A VD tem vantagens trazidas pela aproximao com o meio ambiente do grupo

    familiar, tornando o planejamento das aes de sade uma dinmica coletiva; estreita o

    relacionamento com a equipe de sade, porque a ao menos formal e possibilita maior

    liberdade para conversar sobre problemas (ABRAHO, 2011).

    Inicialmente, deve-se planejar a ao definindo objetivos, local, dia e horrio que

    facilitem acomodaes e presena de todos, ainda nesse momento deve ser tratada, antes de

    tudo, o material que ser utilizado durante a ao, compartilhar dvidas, sentimentos e

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    conhecimentos para que a pessoa tenha a oportunidade de ter um olhar diferente das suas

    dificuldades, para que perceba suas necessidades, reconhecendo o que sabe e o que sente,

    estimulando sua participao discutindo a importncia do auto cuidado e autoconhecimento

    para uma melhor qualidade de vida.

    considervel o desafio de implementar e consolidar um novo olhar e

    redirecionamento para a prtica da visita domiciliar estruturada sob uma viso mais crtica e

    reflexiva de trabalho. No obstante, este movimento de ensino e aprendizagem,

    instrumentalizao, modos de trabalhar, investigao se coloca como necessrio aos

    profissionais de sade para que estes vislumbrem a visita domiciliar como uma tecnologia de

    trabalho na qual se desvelam diferentes modos de se organizar os processos do agir em sade

    (LOPES; SAUPE; MASSAROLI, 2008).

    Na realizao destas aes educativas conhecem-semais de perto as famlias. Com

    isso, os profissionais de sade tornam-se possveis conhecedores das facilidades e

    dificuldades vivenciadas pelas mesmas, o que lhes permite uma atuao mais eficiente, a qual

    reconhecida e valorizada tanto pela famlia como pela equipe e a comunidade.

    Durante a VD o enfermeiro presta um cuidado gerando uma oportunidade de

    aprendizagem e reflexo. Instrumento eficaz e que favorece uma assistncia humanizada,

    permitindo a sua insero no seio familiar, alm de incluir cuidados de diversos nveis de

    complexidade, podendo ser indicado para pacientes em todas as fases da vida. Salienta-se que

    muitas vezes o que incomoda as pessoas de uma famlia no uma patologia, mas a solido, o

    desemprego, falta de dinheiro para comprar comida ou medicamento. Qui, as aes

    educativas que o enfermeiro possa despertar na populao a conscincia de suas necessidades

    e o desejo de mudanas para alcanar uma vida de melhor qualidade.

    4 CONCLUSO

    Este estudo permitiu uma melhor compreenso das aes realizadas pelo enfermeiro

    nas visitas domicilirias. Permitiu perceber a ao do referido profissional na promoo,

    preveno e reabilitao como aes educativas prestando um cuidado mais humanizado,

    possibilitando prestar assistncia a uma boa parte da populao no seu domicilio.

    Dessa forma a visita domiciliar permite trocar informaes com os familiares,

    conhecer a realidade de cada famlia para a construo de uma interveno mais prximas

    destas, tendo a funo de monitorar, orientar, esclarecer, ouvir e tambm educar entre outros.

    uma pratica que permite a construo de vnculos, respeitando as diferenas entre as

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    Carpe Diem: Revista Cultura e Cientfica do UNIFACEX. v. 11, n. 11, 2013. ISSN: 2237-8586

    pessoas, adotando uma postura de escuta, crenas e valores alm de atitudes imparciais.

    Ressalta-se o potencial transformador do trabalho do enfermeiro na visita domiciliar,

    por vislumbrar a famlia de forma integral. No obstante, a famlia tambm valoriza a

    presena do profissional supracitado em seu domiclio e essa interao abre uma vertente para

    o dilogo, permitindo que as intervenes realizadas no domicilio tornem-se cada vez mais

    eficazes.

    Destarte, de fundamental importncia que os enfermeiros apropriem-se de um

    conhecimento cada vez mais atualizado, especializando-se em habilidades para a visita

    domiciliar na perspectiva de desenvolver um atendimento humanescente, no permitindo que

    as dificuldades inerentes ao atendimento no domiclio prejudique e ao contrrio, potencialize

    a qualidade da ateno.

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