As Ramificações da Depravação Humana, Cap. 10 The Total Depravity of Man, por A. W. Pink

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AS RAMIFICAÇÕES DA

DEPRAVAÇÃO HUMANA A. W. PINK

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Traduzido do original em Inglês

The Total Depravity of Man

By A. W. Pink

A presente tradução consiste somente na Capítulo 10, Ramifications, da obra supracitada

Via: EternalLifeMinistries.org

Tradução e Capa por William Teixeira

Revisão por Camila Almeida

1ª Edição: Março de 2015

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida permissão

do Ministério Eternal Life Ministries (EternalLifeMinistries.org) sob a licença Creative Commons

Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

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As Ramificações Da Depravação Humana

Por Arthur Walkington Pink

Parte 1

Enquanto me esforço para apresentar um quadro completo do homem caído como ele é re-

tratado pelo lápis Divino nas Escrituras, é muito difícil evitar uma medida de sobreposição

à medida que nos afastamos de um aspecto ou recurso do mesmo para outro, ou evitamos

uma certa quantidade de repetição quando nos dedicamos a um retrato separado de cada

um. No entanto, visto que este é o método que o Espírito Santo tem tomado em grande par-

te, um pedido de desculpas é pouco exigido daqueles que procuram seguir o Seu plano.

Nos capítulos anteriores mostramos de uma forma mais ou menos geral a terrível devasta-

ção que o pecado operou na constituição humana; agora vamos considerar o mesmo, mais

especificamente. Tendo apresentado as linhas gerais, resta-nos preencher os detalhes. Em

outras palavras, a nossa tarefa imediata é a de refletir e descrever as várias partes da de-

pravação humana de acordo como isso tem corrompido as diversas seções do nosso ho-

mem interior. Embora a alma, como o corpo, seja uma unidade, ela também tem um número

de membros distintos ou faculdades, e nenhum deles ficou isento dos efeitos degradantes

da apostasia do homem em relação ao seu Criador.

A depravação humana, consideramos, foi notavelmente exemplificada nos milagres de

Cristo. Os vários distúrbios corporais que o Divino Médico curou durante Sua jornada na

terra não eram apenas tantas prefigurações das maravilhas da graça que Ele realizou no

reino espiritual em conexão com os redimidos, mas também foram muitas representações

emblemáticas das doenças morais que afetam e afligem a alma do homem caído. O pobre

leproso, coberto de feridas fétidas, solenemente retratou as corrupções horríveis do cora-

ção humano. O homem que nasceu cego, incapaz de contemplar as maravilhas e belezas

das obras exteriores de Deus, expressa o estado ignorante da mente humana, que, por

causa da escuridão que está sobre ela, não é capaz de descobrir ou aceitar as coisas do

Espírito, não importa o quão simples e claramente elas sejam explicadas para ele. Os mem-

bros lânguidos do paralítico prefiguraram a incapacidade da vontade para vir a Deus, sendo

esta totalmente desprovida de qualquer poder para nos converter a Cristo. A mulher deitada

acometida de febre, com desejos não naturais, delírio e etc. retratou o estado desordenado

de nossas afeições. O homem possuído pelo demônio, habitando em meio aos túmulos,

incapaz de ser devidamente contido, gritando e ferindo-se, esboçou as diversas atividades

da consciência no não-regenerado.

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A corrupção tem invadido cada parte da nossa natureza, espalhando-se por todo o ser com-

plexo do homem. Assim como distúrbios físicos não poupam os membros do corpo, de mo-

do muito semelhante o espírito do homem não escapou da devastação da depravação; no

entanto, quem é capaz de compreendê-la em sua terrível amplitude e profundidade, compri-

mento e altura? Não são simplesmente as potências inferiores da alma que foram infetadas

com esta praga do pecado, mas o contágio subiu para as regiões mais altas das nossas

pessoas, poluindo as faculdades sublimes. Esta é uma parte do castigo de Deus. É um

grande erro supor que o julgamento Divino sobre a deserção do homem está reservado

para a próxima vida. A humanidade está fortemente penalizada neste mundo, tanto externa

como internamente, uma vez que nele estão sujeitos a muitas dispensações adversas da

providência: Externamente, em seus corpos, nomes, propriedades, relações e empregos e

finalmente, com a morte física e dissolução. E interiormente, pela cegueira de espírito, dure-

za de coração, paixões turbulentas, o roer de consciência. Embora estas últimas sejam

pouco consideradas, em razão da sua estupidez e insensibilidade, contudo as visitas inter-

nas da maldição de Deus são muito mais terríveis do que as externas, e são consideradas

como tal por aqueles que verdadeiramente temem ao Senhor e veem as coisas em Sua luz.

1. Cegueira de espírito. A mente é aquela faculdade da alma pela qual os objetos e as coi-

sas são primeiramente conscientizados e apreendidos. Para distinguir o entendimento dela,

o último é o que pesa, discrimina e determina o julgamento entre os conceitos formados na

primeira, sendo o guia da alma, o seletor e rejeitador dessas noções que a mente recebeu.

Ambos são igualmente perturbados pelo pecado, pois nos é dito que “os seus sentidos

foram endurecidos” (2 Coríntios 3:14), e também lemos: “Entenebrecidos no entendimento”

(Efésios 4:18). Como um abandonado de Deus, a Queda fechou completamente as janelas

da alma do homem, mas ele pensa que não; sim, enfaticamente ele nega isso. Tanto os

filósofos pagãos como os escolásticos do medievalismo admitiram que as afeições, na parte

inferior da alma, foram um pouco contaminadas, mas insistiram que a faculdade intelectual

era pura, dizendo que a razão ainda dirige e nos aconselha as melhores coisas. Quando

nosso Senhor declarou: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem

vejam, e os que veem sejam cegos”, alguns dos fariseus que o ouviam, indignados pergun-

taram: “Também nós somos cegos?” (João 9:39-40).

Agora, não é estranho que a razão cega pense que pode ver, pois, enquanto ela julga todo

o restante, ela é menos capaz de avaliar-se por causa da muita proximidade consigo mes-

ma. Embora o olho de um homem possa ver a deformidade das mãos ou pés, não pode ver

o que é subjetivo em si mesmo, a menos que tenha uma lente através do qual possa discer-

ni-lo. Da mesma forma, até mesmo a natureza corrupta, por sua própria luz, reconhece a

desordem na parte sensorial do homem, mas ela não pode discernir a corrupção que está

no próprio espírito. A lente da Palavra de Deus é necessária para descobri-la, e até mesmo

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o espelho não é suficiente: a luz da graça Divina tem que brilhar interiormente, a fim de

expor e desvelar a imbecilidade da faculdade de raciocínio. E, portanto, é assim que a Sa-

grada Escritura lança a principal ênfase na depravação desta parte mais alta do ser do ho-

mem. Quando o apóstolo mostrou quão impuros são os incrédulos, embora estes conhe-

cessem a Deus, ele asseverou, “antes o seu entendimento e consciência estão contamina-

dos” (Tito 1:15). Acima de todas as suspeitas, estas partes deles foram contaminadas, es-

pecialmente desde que foram iluminados com alguns raios do conhecimento de Deus. As-

sim, em oposição a esta presunção, as faculdades superiores só são mencionadas, e

enfatizadas com um “antes”.

Quão significativo e pleno o testemunho da Escritura é sobre essa característica solene que

transparece a partir do seguinte: “Porquanto, tendo conhecido a Deus [tradicionalmente],

não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvane-

ceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”

(Romanos 1:20-21), a referência aqui é aos gentios, depois do dilúvio. Uma das maldições

terríveis executadas sobre Israel, porque eles não deram ouvidos à voz do Senhor seu

Deus, e se recusaram a observar os seus mandamentos, foi: “O Senhor te ferirá com

loucura, e com cegueira, e com pasmo de coração; e apalparás ao meio-dia, como o cego

apalpa na escuridão”, (Deuteronômio 28:28-29). De toda a humanidade, é dito: “Não há

ninguém que entenda... e não conhecem o caminho da paz” (Romanos 3:11, 17); tão longe

disso que “há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos

da morte” (Provérbios 14:12). “O mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria” (1 Co-

ríntios 1:21). Apesar de todas as suas escolas, eles eram ignorantes dEle. “Querendo ser

mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1 Timóteo 1:7).

“Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade” (2 Timóteo

3:7).

A escuridão natural que os cega dessas operações regulares que são direcionadas por se-

us sentidos exteriores é dupla: externa ou interna. Quando a noite cai, a menos que haja o

auxílio de luz artificial, eles não podem mais realizar seu trabalho. Se eles forem cegos, en-

tão para eles é noite perpetuamente. Assim também é com a escuridão espiritual: objetiva

e subjetiva, uma escuridão que está tanto sobre os homens quanto nos homens. A primeira

consiste em uma falta desses meios pelos quais, somente, eles podem ser iluminados no

conhecimento de Deus e das coisas celestiais. O que o sol é para a terra em relação às

coisas naturais, assim a Palavra e a pregação do Evangelho são para as coisas espirituais

(Salmo 19:1-4. Cf. Romanos 10:10-11). Esta escuridão está sobre todos a quem o

Evangelho ainda não foi declarado ou sobre quem o despreza e rejeita. Ora, é a missão e

a obra do Espírito Santo remover essa escuridão objetiva, e até que isso seja feito ninguém

pode ver ou entrar no reino de Deus. Isso Ele faz enviando o Evangelho a um país, nação

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ou cidade. Ele não obtém entrada ali, nem é retido em qualquer lugar, por acidente ou por

esforço humano, mas é dispensado de acordo com a vontade soberana do Espírito de

Deus. Ele é Quem capacita, chama e envia homens para pregar, determinando os locais

onde eles ministrarão, seja por Seus impulsos secretos ou pelas operações de Sua provi-

dência (Atos 16:6-10).

Entretanto sobre as mentes dos não-regenerados está a escuridão subjetiva com suas influ-

ências e consequências, o que é aqui mais imediatamente considerado. Esta não é uma

mera coisa privativa, mas algo positivo, que consiste não apenas de ignorância, mas em

uma doença maligna, com uma habitual disposição para mal. “É soberbo, e nada sabe, mas

delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blas-

fêmias, ruins suspeitas, perversas contendas de homens corruptos de entendimento, e pri-

vados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; aparta-te dos tais” (1

Timóteo 6:4-5). Não são apenas as suas mentes que não assentem a sã doutrina, mas eles

estão doentes e corruptos: “delira acerca de questões” [...] Esta destemperança da mente

é também chamada de “comichão nos ouvindo por desejo de ouvir fábulas” (2 Timóteo 4:3-

4). Ainda mais solenemente, a Escritura chama esta sabedoria controversa da qual o erudi-

to deste mundo é tão orgulhoso, de: “terrena, animal e diabólica” (Tiago 3:15); tanto o versí-

culo anterior quanto o seguinte mostram que toda inveja, malícia, mentira e dissimulação,

embora encontrem-se também nas afeições e na vontade, estão enraizadas na compre-

ensão. Por isso, é que Deus deve dar “arrependimento” ou uma mudança de mente antes

que haja um reconhecimento da verdade e uma libertação do laço do Diabo (2 Timóteo

2:25-26).

Esta escuridão do entendimento é a causa da rebelião que está nas afeições e, por esta é

que os homens procuram assim desordenadamente os prazeres do pecado; mas, porque

suas mentes não conhecem a Deus e são estranhas a Ele e não podem ter comunhão com

Ele? Porque toda a amizade e companheirismo são fundamentados no conhecimento. Para

ter comunhão com Deus, é necessário o conhecimento de Deus, e, consequentemente, a

principal coisa que Deus faz quando Ele dá admissão no Pacto da Graça é ensinar os ho-

mens a conhecê-lO (Jeremias 31:33-34): Por outro lado, os homens estão afastados dEle

por ignorância (Efésios 4:17-19). A escuridão da mente não é apenas a raiz de todo o peca-

do, mas é a causa da maioria das corrupções na vida dos homens. Assim vemos que Paulo

menciona “sabedoria carnal”, como a antítese do princípio da graça (2 Coríntios 1:12). Pela

mesma razão, sobre os homens é dito: “são filhos néscios, e não entendidos; são sábios

para fazer mal, mas não sabem fazer o bem” (Jeremias 4:22). Que esta é a causa da maior

parte da maldade que há no mundo Isaías 47:10 deixa bem claro: “a tua sabedoria e o teu

conhecimento, isso te fez desviar”. Raciocínios corruptos e falsos julgamentos das coisas

são os principais motivos de todo o nosso pecado. O orgulho tem o seu lugar de primazia

na mente, como Colossenses 2:18 demonstra.

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Que essa escuridão é forte e influente, transparece na dinâmica da expressão registrada

em Colossenses 1:13: “O qual nos tirou da potestade das trevas”, a palavra significando

aquilo que vacila ou dominado. Isso preenche a mente com inimizade contra Deus e contra

todos os seus caminhos, e leva à vontade no sentido contrário, de modo que, em vez das

afeições serem postas nas coisas de acima, os não-regenerados “só pensam nas coisas

terrenas” (Filipenses 3:19). Essa é a sua inclinação habitual. Ele pensa nas coisas da carne

(Romanos 8:5), buscando atender aos objetivos sensuais para a gratificação do corpo. Ele

preenche a mente com fortes preconceitos contra as coisas espirituais propostas no Evan-

gelho. Esses preconceitos são chamados de “fortalezas” e “conselhos [ou “raciocínios”], e

toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus” (2 Coríntios 10:4-5), que são

destruídos e expressos e derrubados no dia do poder de Deus, levando as almas à sujeição

voluntária a Ele. Os pecados da mente são os mais permanentes, pois quando o corpo se

decompõe e suas concupiscências murcham, os pecados da mente são tão vigorosos e

ativos na velhice como na juventude. Posto que o entendimento é a parte mais excelente

do homem, a sua corrupção é pior do que a das outras faculdades: “Se... a luz que em ti há

são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mateus 6:23).

Temerosos de fato são os efeitos dessa escuridão. Suas faculdades se mostram incapazes

de discernir as coisas espirituais ou de recebê-las, pelo que há uma total incapacidade no

que diz respeito a Deus e as formas de agradá-lO. Não importa o quão bem dotado intelec-

tualmente o homem não-regenerado seja, ou a extensão de seu saber e aprendizado, ou

quão hábil em relação às coisas naturais, em assuntos espirituais ele é desprovido de inteli-

gência até que ele seja renovado no espírito de sua mente. Como uma pessoa que não tem

o poder de ver é incapaz de ficar impressionada com os raios mais fortes de luz quando

refletidos sobre ele, e não pode formar qualquer ideia real da aparência das coisas, de mo-

do semelhante o homem natural, por causa desta cegueira de espírito, é incapaz de discer-

nir a natureza das coisas celestiais. Disse Cristo aos judeus de sua época: “Ah! se tu conhe-

cesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está en-

coberto aos teus olhos” (Lucas 19:42). As coisas celestiais estão ocultas de sua percepção

tão eficazmente como as coisas que são propositadamente escondidas de olhares indis-

cretos. Mesmo que um homem tivesse o desejo de descobri-las, ele iria procurar em vão

por toda a eternidade, a menos que Deus quisesse revelá-las, como fez a Pedro (Mateus

16:17).

A cegueira espiritual que está sobre a mente do homem natural não só impossibilita de

fazer a primeira descoberta das coisas de Deus, mas, mesmo quando elas são publicadas

e postas diante de seus olhos, como claramente estão na Palavra da verdade, ele não pode

discerni-las. Quaisquer que sejam as noções que ele possa formar delas, elas são disso-

nantes à sua natureza, e os pensamentos que ele concebe em relação a elas são o inverso

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do que de fato são, a mais alta sabedoria eles consideram como loucura, e os objetos mais

gloriosos em si são desprezados e rejeitados. “Vede, ó desprezadores, e espantai-vos e

desaparecei; porque opero uma obra em vossos dias, ora tal que não crereis, se alguém

vo-la contar” (Atos 13:41). Os versículos anteriores mostram que Paulo claramente lhes ha-

via pregado a Cristo e Seu Evangelho, e, em seguida, concluído com uma advertência para

que vigiassem para que não viesse sobre eles o que foi dito pelo profeta. Assim, não é a

apresentação clara da verdade que irá convencer os homens. Embora claramente proposta,

a verdade ainda pode ser obscura para eles: “Mas, se ainda o nosso evangelho está enco-

berto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos” (2 Coríntios 4:3-4). Seus entendimentos precisam ser

divinamente abertos para que possam compreender as Escrituras (Lucas 24:45)!

Os objetos desta escuridão são espiritualmente insensíveis e tolos. Isso é o que os impede

de fazer um verdadeiro exame de seus corações. Eles veem apenas o homem exterior, e

não sentem a ferida mortal que está por dentro. Há um mar de corrupção, mas é impercep-

tível. A santidade, beleza e retidão de sua natureza já se foram, mas eles estão mui despre-

ocupados. Eles são miseráveis e pobres, cegos e nus, mas são totalmente inconscientes

disso. Isso é o que faz com que os não-regenerados prossigam em um curso de rebelião

contra o Senhor, e ao mesmo tempo concluam que todas as coisas estão bem com eles.

Assim, eles vivem de forma segura e feliz. Como se a bondade de Deus não os quebran-

tasse, nem os Seus mais dolorosos juízos os movem a consertarem os seus caminhos.

Muito longe disto, eles são semelhantes ao ímpio rei Acaz, de quem está registrado: “E ao

tempo em que este o apertou, então ainda mais transgrediu contra o Senhor” (2 Crônicas

28:22); quão louca e desafiadoramente as massas se comportaram durante a batalha da

Grã-Bretanha! Então, mesmo agora, enquanto a paz de todo o mundo está tão seriamente

ameaçada: “Senhor, a tua mão está exaltada, mas nem por isso a veem” (Isaías 26:11).

Este espaço vai permitir-nos de mencionar apenas um outro efeito, e é o que está em Efési-

os 4:17: “A vaidade de sua mente”. As coisas na Escritura são ditas ser vãs quando são

inúteis e infrutíferas; em Mateus 15:9, significa “sem propósito”. Por isso, os ídolos das

nações e os ritos utilizados na sua adoração são chamados de coisas vãs (Atos 15:15). Em

1 Samuel 12:21, coisas vãs seriam aquelas “que nada aproveitam”. Isto também é sinônimo

de loucura, pois em Provérbios 12:11, os homens vãos são todos como aqueles que são

“faltos de juízo”. Em Jeremias 4:14, coisas vãs estão unidas com “maldade”, assim homens

vãos pecaminosos e filhos de Belial são sinônimos (2 Crônicas 13:7). Esta vaidade da men-

te induz o homem natural a perseguir sombras e perder a substância, a envolver-se com

invenções em vez de realidades, a preferir a mentira ao invés da verdade. Isso é o que leva

os homens a seguirem a moda e se deleitarem com os prazeres de um mundo vão. Esta

vaidade pecaminosa da mente está em todos os tipos de pessoas e idades agindo em si

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mesma com imaginações insensatas, pelo que cuidam de agradar à sua carne e às suas

concupiscências. Ela se manifesta em um ódio de pensar sobre as coisas sagradas, de for-

ma que, quando sob a pregação da Palavra a mente vagueia como uma borboleta no jardim.

Ela “apascenta de estultícia” (Provérbios 15:14), e tem uma curiosidade inquietante para

saber dos outros.

2. Dureza de coração. O coração é o centro do nosso ser moral, do qual fluem as fontes da

vida (Provérbios 4:23, cf. Mateus 12:35). A natureza deste é ao mesmo tempo indicada por

ele ser descrito como um “coração de pedra” (Ezequiel 11:19). A figura é muito adequada.

Como uma pedra nada mais é que um produto da terra, assim tem a propriedade da terra,

pesada e com tendência a cair. Assim, é com a mente natural: as afeições dos homens são

totalmente postas sobre o mundo, e se Deus fez o homem reto, com a cabeça erguida, ago-

ra a alma está abatida até o pó. A maldição física pronunciada sobre a serpente também é

cumprida em sua semente, pois as coisas sobre as quais eles se nutrem tornam às cinzas,

assim, que aquele pó é o alimento deles (Isaías 65:25). O pecado deixa o coração do ho-

mem tão calejado que, para com Deus, é sem amor e sem vida, frio e insensível. Essa é

uma razão pela qual a lei moral foi escrita em tábuas de pedra: para representar emblemati-

camente o tipo de coração que os homens tinham, como é claramente implícito o contraste

apresentado em 2 Coríntios 3:3. O coração de pedra é tolo e inflexível.

O coração do regenerado também é comparado a uma “rocha” (Jeremias 23:29), e uma

“pedra de diamante” (Zacarias 7:12), que é mais duro do que uma pederneira. Semelhan-

temente também os não-regenerados são chamados de “duros de coração” (Isaías 46:12),

e em Isaías 48:4, Deus diz: “Porque eu sabia que eras duro, e a tua cerviz um nervo de fer-

ro, e a tua testa de bronze”. Esta dureza é frequentemente atribuída ao pescoço (“dura cer-

viz”), esta é uma figura da obstinação do homem extraída a partir do exemplo dos bois indo-

mados que não aceitam o jugo. Esta dureza se evidencia por uma completa ausência de

sensibilidade espiritual, pois eles não se importam com a bondade de Deus, não têm temor

de Sua autoridade e majestade, e não temem a sua ira e vingança, uma apresentação das

alegrias do Céu ou dos horrores do Inferno não lhes causam nenhuma impressão. Como o

antigo profeta lamentou: “Ó vós que afastais o dia mau” (Amós 6:3), rechaçando-os de seus

pensamentos como um assunto desagradável sobre o qual meditar. Eles não têm nenhum

sentimento de culpa, nem consciência de ter ofendido o seu Criador, nem se assombram

por Sua ira permanecer sobre eles, antes estão seguros e à vontade em seus pecados. Até

o momento em que o pecado se torne um fardo para eles, ele é a substância e deleite do

desfrute de seus prazeres temporais.

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Parte 2

Essa dureza de coração a que se fez referência no encerramento do nosso último capítulo

é a perversidade e obstinação da natureza do homem caído, o que faz com que ele resolva

continuar no pecado, sem se importar com as consequências do mesmo. A dureza de cora-

ção faz com que ele aborreça ser repreendido pela sua própria loucura, e que se recuse a

abandona-la, não importa quais métodos sejam ordenados e usados para isso. O profeta

fez menção a isso em seus dias, para se referir àqueles que haviam sido advertidos por juí-

zos violentos, e estavam naquele tempo sob as repreensões mais solenes da providência,

Deus tinha a dizer sobre eles, “Não me querem dar ouvidos a mim; pois toda a casa de

Israel é de fronte obstinada e dura de coração” (Ezequiel 3:7). Assim também o Senhor

Jesus se queixou: “Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não

chorastes” (Mateus 11:17). As súplicas mais comoventes e postulações cativantes não mo-

verão o não-regenerado a aderir ao que é absolutamente necessário para sua paz presente

e felicidade final. “São como a víbora surda, que tapa os ouvidos, para não ouvir a voz dos

encantadores, do encantador sábio em encantamentos” (Salmo 58:4-5; e cf. Atos 8:57).

Os corações dos regenerados são flexíveis e maleáveis, facilmente dobrados à vontade de

Deus, mas os corações dos ímpios são tão apegados aos seus desejos a ponto de serem

inatingíveis por qualquer apelo. Há uma disposição tão firme contra as coisas celestiais que

permanecem indiferentes às ameaças mais alarmantes e trovões. Eles nem são conven-

cidos pelos argumentos mais convincentes nem vencidos pelos incentivos mais tentadores.

Eles são tão viciados na autossatisfação que eles não podem ser persuadidos a tomar o

jugo de Cristo sobre eles. Em Zacarias 7:11-12, é dito: “Eles, porém, não quiseram escutar,

e deram-me o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem.

Sim, fizeram os seus corações como pedra de diamante, para que não ouvissem a lei, nem

as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito por intermédio dos primei-

ros profetas; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos”. Eles são menos suscetíveis a

serem forjados pelo pregador para receber qualquer impressão de santidade do que o

granito é para ser gravado pela ferramenta do artífice. Eles desprezam ser controlados e

se recusam a receber admoestação. Eles são “uma geração contumaz e rebelde” (Salmo

78:8), não estando sujeitos nem à lei e nem ao Evangelho. As doutrinas do arrependimento,

da autonegação e do andar com Deus, não encontram entrada em seus corações.

3. Afeições desordenadas. Alguns escritores ampliam mais e outros menos o escopo do

termo “afeições”, e talvez seja um ponto discutível tanto teológica quanto psicologicamente

se a natureza do desejo deve ser incluída ou considerada separadamente no âmbito das

afeições. No sentido mais amplo, em relação às afeições pode-se dizer que são a faculdade

sensível da alma. Assim como o entendimento é o poder que julga e discerne as coisas,

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assim as afeições fascinam e dispõem a alma a favor ou contra os objetos contemplados.

É pelas afeições que a alma torna-se satisfeita ou insatisfeita com o que é percebido pelos

sentidos corporais ou contemplado pela mente e, assim, movida a aprovar ou rejeitar. Como

distinguir os dois? A vontade é essa faculdade que executa a decisão final da mente ou o

desejo mais forte das afeições, o que motiva a ação. Posto que as afeições pertencem ao

lado sensível da alma, estamos mais conscientes de suas agitações do que dos atos de

nossas mentes ou vontades. Neste capítulo vamos empregar o termo na sua mais ampla

latitude, incluindo os desejos, pois o que os apetites são para o corpo as afeições são para

a alma.

Goodwin comparou o desejo natural ao estômago para o corpo. É um vazio completo, feito

para receber o que vem de fora, ansiando por um objeto satisfatório. Sua linguagem univer-

sal é: “Quem nos mostrará o bem?” (Salmo 4:6). Agora o próprio Deus é o bom chefe do

homem, o único que pode pagar a real, duradoura e plena satisfação. No início Ele o criou

à Sua própria semelhança; assim como a agulha da bússola sempre se move para o norte,

deste modo a alma tocada com a imagem Divina deve levar o entendimento, afeições e

vontade, para Ele mesmo. Ele também colocou a alma em um corpo material, e que, neste

mundo, arranjando-os um ao outro, lhes forneceu todos os elementos necessários e ade-

quados para cada parte do complexo ser do homem. O desejo natural levou a alma à cria-

tura, mas apenas como um meio de desfrutar de Deus. As maravilhas da obra de Deus fo-

ram feitas para serem admiradas, mas, principalmente, como a indicação de Sua sabedoria.

A comida deveria ser usada e apreciada, apenas a fim de aprofundar a gratidão pela bon-

dade do Doador e fornecer força para servi-lO. Mas, infelizmente, quando o homem aposta-

tou, seu entendimento, afeições e vontade se divorciaram de Deus e o exercício destes

passou a ser dirigidos somente pelo amor-próprio.

Originalmente, o Senhor sustentou e dirigiu a ação das afeições humanas para Si mesmo.

Então, Ele reteve o poder, e deixou os nossos primeiros pais por conta própria em sua con-

dição de criatura e, em consequência seus desejos vaguearam buscando alegrias proibi-

das. Eles procuraram a sua felicidade não na comunhão com o seu Criador, mas na relação

com a criatura. Tal como os seus filhos, desde então, eles adoraram e serviram mais a cria-

tura do que o Criador. O resultado foi desastroso em extremo: eles se apartaram do Santo.

Isso foi enfaticamente evidenciado por sua tentativa de esconder-se dEle, se o prazer deles

estivesse em Deus como seu principal bem, o desejo de ocultação não poderia ter possuído

suas mentes. E, como aconteceu com Adão e Eva, assim tem sido com todos os seus des-

cendentes. Muitos provérbios expressam esta verdade geral: “O fluxo não pode subir mais

alto do que a fonte”. “Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?”

[Mateus 7:16] [...] A linhagem do pai da família humana produz descendentes de sua própria

natureza. “E, todavia, dizem a Deus: Retira-te de nós; porque não desejamos ter conheci-

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mento dos teus caminhos” (Jó 21:14), isto é o que os corações e as vidas de todos os não-

regenerados dizem ao Todo-Poderoso.

O centro natural da alma do homem não caído, tanto para seu descanso e prazer, era o

Único que lhe deu existência e, portanto, Davi diz: “Volta, minha alma, para o teu repouso”

(Salmo 116:7). Mas o pecado tem levado os homens a “recuar” de segui-lO, e “apartar-se

do Deus vivo” (Hebreus 10:38, 3:12). Deus não deveria apenas ser a porção deleitosa da-

quele a quem Ele fez à Sua imagem, mas também o fim último de todos os seus movi-

mentos e ações, e seu objetivo deveria ser o de glorificá-lO e agradá-lO em todas as coisas.

Mas ele deixou “o manancial de águas vivas” (Jeremias 2:13), a primavera infinita e perpé-

tua de conforto e alegria. E agora as inclinações e desejos da natureza do homem são

totalmente retirados de Deus, tudo e qualquer coisa é mais agradável para ele do que Deus,

que é a soma de toda excelência; ele faz das coisas temporais e sensuais o seu bem princi-

pal, e o agradar de si mesmo o seu fim supremo. É por isso que as suas afeições são deno-

minadas “ímpias concupiscências” (Judas 18), eles estão todos alienados de Deus. Eles

não gostam da Sua santidade, não possuem nenhum desejo de comunhão com Ele, ne-

nhum desejo de tê-lO em seus pensamentos.

Mas o que acaba de ser pontuado (a aversão de nossas afeições por Deus) é apenas a

parte privativa, o positivo é a sua conversão para outras coisas. Foi disto que Deus acusou

a Israel, “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de

águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas” [Jeremias 2:13].

Apegando-se a pobres ninharias que não lhes dão nenhuma satisfação. A criatura é prefe-

rida antes do Criador, pois toda a preocupação do homem natural está voltada para como

viver à vontade no mundo, e não para honrar e deleitar-se em Deus. Assim eles observam

“falsas vaidades” e “deixam a sua misericórdia” (Jonas 2:8), pois, quanto ao seu vazio, elas

são vãs, e em relação às suas expectativas, “falsas vaidades”. Eles estão enganados por

uma demonstração de vaidade, e o resultado é aflição de espírito, por causa da frustração

de suas esperanças. Assim como o amor de Deus derramado nos corações dos redimidos

não busca eles próprios (1 Coríntios 13:5), assim o amor-próprio não faz nada além disso,

a saber: “todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um

por sua parte” (Isaías 56:11).

Os desejos do não-regenerado não estão apenas apartados de Deus e fixados nas criatu-

ras, mas isso de forma excessiva e ávida. Assim, lemos de “afeições desordenadas” (Colos-

senses 3:5), o que significa tanto imoderadas quanto anormais, um espírito de gula e um

desejo por coisas que são contrárias a Deus: “cobiçando as coisas más” (1 Coríntios 10:6).

O primeiro é o pecado de intemperança, este último tendo “prazer na injustiça” (2 Tessaloni-

censes 2:12). O corpo é valorizado mais do que a alma, visto que todos os esforços do ho-

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mem natural são direcionados para fazer provisão para a carne e para satisfazer as suas

concupiscências, enquanto ele pensa pouco e cuida menos ainda de seu espírito imortal.

Quando a providência sorri sobre seu trabalho, sua linguagem é: “Alma, tens em depósito

muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga” (Lucas 12:19). Seus pensa-

mentos se elevam para uma vida superior no futuro. Eles estão muito mais preocupados

com a roupa e com o adorno do homem exterior do que com o cultivo de um espírito manso

e tranquilo, que aos olhos de Deus é de grande valor (1 Pedro 3:4). A terra é preferida antes

do Céu, as coisas temporais antes do que as eternas. Embora a morte e a sepultura possam

colocar um fim a tudo o que tiveram aqui muito mais cedo do que imaginam, ainda assim

os seus corações estão tão fixados sobre essas coisas que eles se alegram certos de que

não serão privados dessas coisas.

Assim é que as afeições, que no princípio eram servas da razão, agora ocupam o trono.

Aquela que é a glória da natureza humana elevando-a acima dos animais do campo é presa

agora aqui e acolá pela rude turba de nossas paixões. Deus colocou no homem um instinto

de felicidade para que ele encontrasse a felicidade nEle, mas agora este instinto se arrasta

no pó e se derrama sobre cada vaidade. Os conselhos e as invenções da mente estão

engajados para a realização dos desejos carnais do homem. Não somente as suas afeições

não se deleitam nas coisas espirituais como possuem forte preconceito contra elas, pois as

suas afeições correm diretamente para a gratificação de sua natureza corrupta. Seus dese-

jos são fixados sobre mais riqueza, mais honra mundana e poder, mais alegria carnal, e

porque o Evangelho não contém nenhuma promessa de tais coisas ele é desprezado. Por-

que inculca a santidade, a mortificação da carne, a separação do mundo e o resistir ao Dia-

bo o Evangelho torna-se muito desagradável para eles. Pois apartar as afeições daquelas

coisas materiais e temporais das quais ele fez o seu principal bem, e convertê-las às coisas

espirituais invisíveis e às coisas eternas, distancia a mente carnal do Evangelho, pois este

não oferece nada que atraia o homem natural mais do que os ídolos que estão no âmago

de seus corações. Portanto, renunciar à sua justiça própria e fazer-se dependente de Outro

é igualmente desagradável para seu orgulho.

As afeições não estão apenas alienadas e opostas às exigências sagradas do Evangelho,

mas também opostas ao seu mistério. Esse mistério é o que as Escrituras denominam: a

sabedoria oculta de Deus, e, o homem natural não somente é incapaz admira-lo e adorá-

lo, mas considera-o com desprezo e contumácia. Ele olha para todas as partes de sua

declaração como noções vazias e ininteligíveis. Esse preconceito tem prevalecido sobre os

sábios e entendidos deste mundo em todas as épocas, e nunca tão eficazmente do que em

nosso dia mau. A maior sabedoria de Deus parece loucura para todos os que andam incha-

dos pelo orgulho de sua própria inteligência, e o que é loucura para eles é desprezado e

escarnecido. Aquilo que direciona à fé mais do que a razão é repulsivo. Pois, “não te estri-

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bes no seu próprio entendimento, mas confie no Senhor de todo o coração”, é um “duro dis-

curso” para aqueles consideram-se como tendo grande intelecto. Renunciar às suas pró-

prias ideias, abandonar seus pensamentos (Isaías 55:7) e tornar-se como “crianças peque-

nas”, e dizer que sem isto eles de modo algum entrarão no reino dos céus é muitíssimo

abominável para eles. Não pequena parte da depravação do homem consiste na sua dispo-

nibilidade para abraçar esses preconceitos, a aderir a eles perniciosamente, sendo total-

mente impotentes para livrarem-se deles.

O estado desordenado de nossas afeições é visto no fato de que as ações do homem natu-

ral são reguladas muito mais por seus sentidos do que pela sua razão. Sua conduta consiste

principalmente na resposta aos clamores de suas concupiscências ou invés dos ditames

da razão. Os desejos de crianças são inclinados e velozes para qualquer desvio que leve

à corrupção, mas lentos para exercitarem-se em fazer qualquer bem; daquele dificilmente

podem ser contidos, para estes devem ser obrigados. Que as afeições estão alienadas de

Deus se manifesta cada vez que Sua vontade se opõe aos nossos desejos. Esta doença

aparece muito nos objetos nos quais nossas diversas afeições são colocadas. Em vez do

amor estar posto em Deus, ele está centrado no mundo e na adoração de ídolos. Em vez

de dirigir ódio contra o pecado, elas se opõem à santidade. Em vez de alegrar-se e encon-

trar o seu deleite nas coisas espirituais, gastam-se naquelas que em breve passarão. Em

vez de temer agir de maneira que desagrade ao Senhor, ele teme mais as carrancas de se-

us companheiros. Se há dor, é pela frustração de nossos prazeres e esperanças, e não por

causa da nossa desobediência. Se há compaixão, é exercida sobre si mesmo, e não em

relação aos sofrimentos dos outros.

Agora nos resta salientar que a primeira ambição dos nossos desejos é o próprio mal. As

paixões ou desejos são os movimentos da criatura dirigidos por sua natureza, para uma

inclinação aos objetos que promovam o seu bem, e uma aversão àqueles que são nocivos.

E, assim, eles são para a alma o que as asas são para o pássaro e as velas são para o na-

vio. O desejo está sempre em busca da satisfação, e se é para ser satisfeito deve ser regu-

lado pela razão correta. Mas, infelizmente, a razão foi destronada e as paixões e inclinações

do homem estão sem lei, e, portanto, Suas primeiras aspirações pelos objetos proibidos

são essencialmente más. Estes eram, como Mateus 5 demonstra, negados pelos rabinos,

que restringiram o pecado a uma transgressão aberta e externa. Mas o nosso Senhor decla-

rou que a raiva injustificável contra o outro se constitui um assassinato, e que olhar para

uma mulher e cobiçá-la era uma violação do sétimo mandamento, que pensamentos impu-

ros e imaginações devassas eram nada menos do que adultério. Por isso, é que a Escritura

fala de “concupiscências do engano” (Efésios 4:22), “concupiscências loucas e nocivas” (1

Timóteo 6:9), “paixões mundanas” (Tito 2:12), “concupiscências carnais, que combatem

contra a alma” (1 Pedro 2:11) e “paixões pecaminosas” (Judas 18).

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Mesmo a primeira agitação de desejo por algo mau, a menor irregularidade nos movimentos

da alma é pecado. Isso fica claro a partir do mandamento universal: “Não cobiçarás”, ou

desejar qualquer coisa que Deus proibiu. Esse anseio irregular e maligno é chamado de

“concupiscência” em Romanos 7:8 “no qual o apóstolo incluiu o desejo mental bem como o

sensual” (Calvino). A palavra grega é geralmente traduzida como “desejos”; em 1 Tessaloni-

censes 4:5, este é encontrado em uma forma intensificada: “a paixão da concupiscência”.

Estas concupiscências da alma são seus movimentos iniciais, muitas vezes, inesperados

por nós mesmos, que precedem o consentimento da mente, e são designados “a vil concu-

piscência” (Colossenses 3:5). Eles são as sementes de onde brotam nossas más obras, as

ambições originais da corrupção que habita em nós. Elas são condenadas pela lei de Deus,

pois o décimo mandamento proíbe as primeiras inclinações das afeições para o que perten-

ce a outrem, de modo que o desejo que inicia-se, antes da aprovação da mente ser obtida,

é pecado, e precisa ser confessado a Deus. Gênesis 6:5 declara sobre o homem caído que

“toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente”, pois

pecados enquanto na sua fase embrionária, contaminam a alma, sendo o contrário à pureza

que a santidade de Deus exige.

O que tem sido demostrado acima é repudiado pelos católicos romanos, pois enquanto eles

concordam que os desejos da carne são a matéria do pecado, ou nos quais o pecado se

origina, eles não vão admitir os mesmos como sendo essencialmente maus. O Concílio de

Trento negou que o movimento original da alma tende para o mal é próprio do pecador,

afirmando que estes só se tornam assim, quando são consentidos ou cedidos. Semelhante-

mente, a maioria dos Arminianos (que em muitas de suas crenças são um com os papistas)

limitam o pecado a um ato da vontade. Agora é livremente confessado por todos os Calvinis-

tas em alto e bom som que a mente entretém-se inicialmente com o desejo do mal e este

é mais um grau de pecado, e que o assentimento real ao mesmo é ainda mais hediondo;

mas os Arminianos, enfaticamente argumentam se o impulso original também é mau aos

olhos de Deus. Se o impulso original é inocente (em si mesmo), como poderia sua gratifica-

ção ser pecado? Os motivos e excitações não sofrem qualquer alteração em sua natureza

essencial em consequência de ser consentida ou incentivada. Não pode ser errado atender

impulsos inocentes. O Senhor Jesus nos ensina a julgar a árvore pelos seus frutos, se os

frutos forem corruptos, assim também é a árvore que a produz.

Em Romanos 7:7, o termo é efetivamente atribuído ao pecado: “Mas eu não conheci o peca-

do senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não

cobiçarás [ou desejarás]”, pois no grego a mesma palavra é empregada para ambos os

termos. Aqui, então, o pecado e os desejos são usados alternadamente, qualquer não-con-

formidade interior com a Lei é pecaminosa. Paulo estava ciente desse fato quando o man-

damento foi aplicado com poder, assim como o sol que brilha em um monte de excremento

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faz exalar seu fedor. Os homens podem negar que o próprio desejo pelo que é proibido é

culpável, mas a Escritura afirma que até mesmo as imaginação são más, os brotos da

maldade, pois elas são contrárias a essa retidão de coração que a Lei exige. Observe quão

terrível é esta lista que Cristo enumerou com as coisas que procedem do coração, sendo

iniciada com “maus pensamentos” (Mateus 15:19). Nós não podemos conceber qualquer

inclinação ou propensão para o pecado em um ser absolutamente santo; certamente não

havia nenhuma no Senhor Jesus: “se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em

mim” (João 14:30), nada que fosse capaz de responder às suas solicitações vis, nenhum

movimento de seus apetites ou afeições dos quais ele poderia tirar proveito. Cristo estava

inclinado apenas para o que é bom.

Porque, quando estávamos na carne [ou seja, enquanto os Cristãos estavam em seu esta-

do não-regenerado], as paixões dos pecados [literalmente, as afeições do pecado, ou o

princípio de nossas paixões], que são pela lei, operavam em nossos membros [as faculda-

des da alma, bem como do corpo] para darem fruto para a morte” (Romanos 7:5). Essas

“afeições do pecado” são os fluxos imundos que fluem da fonte poluída de nossos corações.

Eles são os primeiros sinais de nossa natureza decaída, os quais precedem os atos explíci-

tos de transgressão. Eles são os movimentos ilegais de nossos desejos antes de examinar-

mos e consentirmos com os pensamentos pecaminosos da mente. “Mas o pecado [corrup-

ção que habita em nós], tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concu-

piscência [ou concupiscência do mal]” (Romanos 7:8). Atente bem que para a expressão

“operou em mim”, havia uma disposição poluída ou propensão para o mal operando, distinta

da fonte das obras que ele produziu. O pecado que habita em nós é um princípio poderoso,

constantemente exerce uma má influência, estimulando sentimentos profanos, despertando

a avareza, a inimizade, maldade e etc.

Parte 3

Julgamos de tal importância o que foi abordado no final do nosso último capítulo, e que tão

pouco o mesmo é apreendido e compreendido hoje, que agora adicionaremos mais algu-

mas palavras a ele. A ideia popular que prevalece agora é que nada é pecado, exceto uma

transgressão aberta e externa, mas tal conceito está muito aquém do exame e do ensi-no

humilhante da Sagrada Escritura. Ela afirma que a fonte de toda a tentação está dentro do

próprio homem caído, é a depravação de seu próprio coração que o induz a ouvir o Diabo

ou ser influenciado pelo desregramento dos outros. Se assim não fosse, então há solicita-

ções que induzem ao delito não teriam qualquer força, pois não haveria nada dentro dele

para que fosse estimulado, nada a que essas solicitações correspondessem ou sobre as

quais elas pudessem exercer qual poder. Um exemplo do mal seria rejeitado com horror se

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fôssemos interiormente puros. Deve haver um desejo insatisfeito para o qual a tentação

recorra. Onde não há nenhum desejo por comida, uma mesa bem farta não possui poder

de sedução. Se não há amor à aquisição, o ouro não pode atrair o coração. Em todos os

casos a força da tentação está no poder que ela exerce sobre alguma propensão de nossa

natureza caída.

Aqui reside a singularidade da Bíblia; a saber, a sua altíssima espiritualidade, insistindo que

qualquer inclinação interior, a menor atração da alma para longe de Deus e de Sua vontade

é pecaminoso e culpável, não importando se a ação é realizada ou não. Ela revela que a

primeira aspiração do pecado em si é o de afastar a alma daquilo que ela deveria estar fixa-

da, por meio de um desejo anormal por algum objeto estranho que parece prazeroso. Quan-

do as nossas corrupções naturais são convidadas por algo externo que promete prazer ou

lucro, e as paixões são atraídas pelo mesmo, então a tentação começa, e o coração é

atraído após isto. Desde que o homem caído é mormente influenciado por seus desejos,

estes imperaram tanto sobre a sua mente quanto sobre a sua vontade. Tão poderosos são

que governam toda a sua alma; por isso é que o apóstolo disse: “vejo nos meus membros

outra lei” (Romanos 7:23), pois tais desejos são imperiosos, dominando todo o homem. É

pelo fato de que suas cobiças são tão violentas que os homens incorrem tão loucamente

no pecado: “andam-se cansando em proceder perversamente” (Jeremias 9:5). Tiago 1:14-

15 traça a origem de todo o nosso pecado, e é para esta passagem que agora nos voltamos.

“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. De-

pois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consuma-

do, gera a morte”. Essas palavras mostram que o pecado invade o espírito gradualmente,

e descreve as várias etapas dele ser consumado no ato exterior. Esta passagem revela que

a causa da concepção de todos os pecados reside na alma de cada um, ou seja, em suas

concupiscências, que ele tem dentro de si mesmo tanto a provisão quanto o estímulo para

isso. Justamente sobre isto Goodwin declara: “Você nunca pode chegar a ver o quão pro-

fundamente e quão abominável criatura corrupta você é, até que Deus abra os seus olhos

para que você veja as suas concupiscências”. O velho homem “se corrompe pelas concu-

piscências do engano” (Efésios 4:22).

A cobiça é tanto o útero quanto a raiz de toda a maldade que há sobre a terra. Diz o apóstolo

ao povo de Deus “havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência que há no

mundo” (2 Pedro 1:4) “A corrupção”, é a praga arruinando e destruindo toda a humanidade.

“Que... há no mundo”, como veneno no copo, como a podridão na madeira, como uma pes-

te que contamina o ar e a qual não se pode erradicar. Ela contamina todas as partes de um

homem seja física, mental ou moral; e todos os relacionamentos de sua vida, sejam na

família, sociedade ou país.

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“Cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência”. Quando

os homens são tentados eles procuram normalmente lançar o ônus sobre Deus, sobre o

Diabo, ou sobre os seus companheiros; ao passo que a culpa recai inteiramente sobre si

mesmos. Primeiro, suas afeições estão afastadas do que é bom e eles são incitados a uma

conduta ilícita por suas inclinações corruptas, sendo atraídos por uma isca que Satanás ou

o mundo chacoalhe diante dele. “Concupiscência” aqui significa um anseio ou desejo de

obter alguma coisa, e é tão forte a ponto de atrair a alma para um objeto proibido. A palavra

grega para “afastadas” significa forçosamente impelido, uma violência impetuosa do desejo

que cobiça alguma coisa sensual ou mundana exigindo gratificação. Estas nada são senão

uma espécie de vontade própria, um anseio por aquilo que Deus não concedeu, decorrente

do descontentamento em relação à nossa presente condição ou porção. Mesmo que esse

desejo seja passageiro e involuntário, sim, contra o nosso melhor julgamento, ainda assim,

é pecaminoso, e quando consentido produz uma culpa ainda mais profunda.

“E engodado”. A atração pela irregularidade e veemência do desejo, a sedução acontece

pela contemplação do objeto. Mas esse mesmo engodo é algo pelo qual nós somos culpa-

dos. É porque não conseguimos resistir, abominamos e rejeitamos a primeira investida do

desejo ilícito, e em vez disso, o entretemos e o encorajamos, de forma que a isca pareça

tão atrativa. As promessas tentadoras de prazer ou lucro, são o “o engano do pecado” (He-

breus 3:13) atuando no que nos seduz. Em seguida, o mal lhe é doce na boca, e ele o es-

conde debaixo da sua língua (Jó 20:12). “Depois, havendo a concupiscência concebido”:

prazer antecipado é valorizado, e tendo em vista o mesmo a mente consente plenamente.

O ato pecaminoso está presente em embrião, e os pensamentos estão envolvidos em ma-

quinar formas e meios de gratificação. “Dá à luz o pecado” por um decreto da vontade, o

que antes era contemplado agora é realmente perpetrado. Justamente sobre isto Thomas

Manton diz: “O pecado não conhece outra mãe exceto o nosso próprio coração”. “E o peca-

do, sendo consumado, gera a morte”: assim o seu salário é pago e colhe-se o que foi seme-

ado, a condenação sendo o resultado final. Tal é o progresso do pecado dentro de nós, e

esses seus diversos graus de enormidade.

4. Consciência corrompida. Se há uma faculdade da alma do homem mais do que qualquer

outra da qual poderia ser pensado ter retido a imagem original de Deus sobre ela, esta cer-

tamente é a consciência. Tal ponto de vista, de fato, foi amplamente difundido. Então eles

decididamente eram desta opinião, não poucos dos filósofos mais renomados e moralistas

afirmaram que a consciência não é nada menos do que a própria voz Divina falando na

câmara interior do nosso ser. Mas, sem de forma alguma minimizar a grande importância e

o valor deste monitor interno, seja no seu ofício ou em suas operações, deve ser declarado

enfaticamente que tais teóricos erraram, que mesmo essa faculdade não escapou da ruína

comum que atingiu todo o nosso ser. Isto é evidente a partir do claro ensino da Palavra de

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Deus sobre isto. Escritura fala de uma “fraca consciência” (1 Coríntios 8:12), dos homens

“tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Timóteo 4:2), e é dito que a sua “consciên-

cia está contaminada” (Tito 1:15), que eles têm “má consciência” (Hebreus 10:22). A de-

monstração disto é feita no que se segue.

Aqueles que afirmam que há algo essencialmente bom no homem natural insistem que a

sua consciência é uma inimiga para o mal e uma amiga para a santidade. Eles apontam e

ressaltam o fato de que a consciência produz uma convicção interior contra ilegalidade,

uma luta no coração contra o pecado, uma relutância este. Eles chamam a atenção para o

fato de que faraó reconheceu seu pecado (Êxodo 10:16), e que Dario “ficou muito penali-

zado” por seu ato injusto de condenar Daniel a ser lançado na cova dos leões (6:14). Alguns

têm mesmo ido tão longe a ponto de afirmar que a oposição aos maiores e mais grosseiros

crimes se encontra a princípio em todos os homens diferindo pouco ou nada desse conflito

entre a carne e o Espírito descrito em Romanos 7:21-23. Mas tal sofisma é facilmente

refutado. Em primeiro lugar, embora seja verdade que o homem caído possui uma noção

geral de certo e errado, e seja capaz, em alguns casos de discernir entre o bem e o mal,

contudo enquanto ele permanece não-regenerado este instinto moral nunca faz com que

ele se deleite cordialmente no bem ou realmente abomine o mal; e em qualquer medida

que possa aprovar o bem ou reprovar o mal, isto não se deriva de nenhuma consideração

por Deus que porventura ele possua.

A consciência só é capaz de trabalhar de acordo com a luz que tem, e uma vez que o ho-

mem natural não pode discernir as coisas espirituais (1 Coríntios 2:14), isso é inútil em rela-

ção a elas. Quão fraca é a sua luz! É mais parecida com a de uma vela brilhando do que

com os raios do sol, apenas suficiente para fazer a escuridão visível. Devido à estultícia

que se encontra em seu entendimento, a sua consciência é terrivelmente ignorante. E quan-

do ela o faz descobrir o que lhe é hostil, fá-lo débil e ineficazmente. Em vez de esclarecer,

na maioria das vezes confunde. Como isso é manifesto no caso das nações! A consciência

dá-lhes um sentimento de culpa e, em seguida, os leva a praticar os ritos mais abomináveis

e muitas vezes desumanos. Ela os induz a inventar e propagar as deturpações mais ímpias

da Divindade. Como um bálsamo para a sua consciência, eles muitas vezes fazem os pró-

prios objetos de sua adoração os precedentes e patronos de seus vícios favoritos. O fato é

que a consciência é tão tristemente deficiente a ponto de ser incapaz de cumprir o seu

dever até que Deus a ilumine, desperte e renove.

Suas operações são igualmente defeituosas. A consciência não é defeituosa apenas na

visão, mas a sua voz também é muito fraca. Quão fortemente ela deveria censurar-nos por

nossa surpreendente ingratidão para com o nosso grande Benfeitor! Quão alta deveria ser

a voz para opor-se contra a negligência estúpida de nossos interesses espirituais e bem-

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estar eterno. No entanto, ela não faz nem uma coisa nem outra. Embora ela ofereça alguns

avisos sobre inocorrências grosseiras no pecado, não faz resistência aos trabalhos mais

sutis e secretos da corrupção que em nós habita. Se ela demanda o cumprimento do dever,

ignora a parte mais importante e espiritual do mesmo. Pode ser desconfortável se não con-

seguirmos passar a mesma quantidade de tempo todos os dias na oração secreta, mas es-

tá pouco preocupada com a nossa reverência, humildade, fé e fervor nela. Aqueles que vi-

viam nos dias do profeta eram culpados de oferecer a Deus sacrifícios defeituosos, ainda

assim suas consciências nunca lhes perturbaram em relação a isto (Malaquias 1:7-8). A

consciência pode ser muito escrupulosa no cumprimento dos preceitos dos homens ou

nossas predileções pessoais, e ainda totalmente negligente naquelas coisas que o Senhor

ordenou, como os Fariseus que não comiam enquanto suas mãos permanecessem cerimo-

nialmente impuras, porém, desconsideravam o que Deus havia ordenado (Marcos 7:6-9).

A consciência é terrivelmente parcial: desconsiderando pecados favoritos e desculpando

aqueles que mais de mais perto nos rodeiam. Todas essas tentativas de atenuar as nossas

faltas são fundadas na ignorância de Deus, de nós mesmos e do nosso dever; caso contrá-

rio, a consciência nos daria o veredito de culpados. A consciência muitas vezes se junta às

nossas concupiscências para incentivar um ato perverso. Saul disse que ele não ofereceria

o sacrifício até que Samuel chegasse, mas para agradar as pessoas e impedir que elas o

abandonassem, ele o fez. E quando esse servo de Deus o repreendeu o rei procurou justi-

ficar seu crime dizendo que os filisteus estavam reunidos contra Israel, e que ele não se

atreveu a atacá-los antes de fazer súplicas a Deus, e acrescentou: “constrangi-me, e ofereci

holocausto” (1 Samuel 13:8-12). A consciência se esforçará para encontrar alguma conside-

ração com a qual apaziguar-se e, em seguida, aprovar o ato de maldade. Mesmo quando

repreende certos pecados, ela encontrará motivos e arranjará incentivos para praticá-lo.

Assim, quando Herodes estava prestes a cometer o assassinato covarde de João Batista,

que era contra as suas convicções, a sua própria consciência veio em seu auxílio, e pediu-

lhe para seguir em frente, instando que ele não deveria violar o juramento que ele havia

feito diante de outros (Marcos 6:26).

A consciência frequentemente ignora grandes pecados enquanto condena outros menores,

como Saul era severo com os israelitas em relação à violação da lei cerimonial (1 Samuel

14:33), mas não teve nenhum escrúpulo de matar oitenta e cinco sacerdotes do Senhor. A

consciência ainda inventará argumentos que favorecem — sim, até mesmo autorizam —

os atos mais ultrajantes e, portanto, ela não é apenas um advogado corrupto pleiteando a

causa do mal, mas um juiz corrupto que justifica o ímpio. Assim, aqueles que clamavam pe-

la crucificação de Cristo o fizeram sob o pretexto de que era lícita e necessária: “Nós temos

uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus” (João 19:7). Não

é de admirar que o Senhor diz a respeito dos homens que “ao mal chamam bem, e ao bem

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mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas” (Isaías 5:20). A consciência nunca move o

homem natural a reder ações de graças e reconhecimento a Deus; nunca o convence da

culpa pesada da ofensa de Adão, que jaz sobre a sua alma, nem de sua falta de fé em

Cristo; e assim a consciência permite que os pecadores durmam em paz em meio a sua

terrível incredulidade, mas estes não são um sono e paz sólidos, pois não há razão ou

motivo para isso: é, antes, uma segurança falsa e estúpida. Deus a seu respeito: “Eles não

dizem no seu coração que eu me lembro de toda a sua maldade” (Oseias 7:2).

Suas acusações são ineficazes, pois não produzem bons frutos, não produzem mansidão

e humildade, nem arrependimento genuíno, mas sim um medo sensível de Deus como um

juiz severo ou um ódio como inimigo inexorável. As suas acusações não são apenas inefi-

cazes, mas muitas vezes elas são muito errôneas. Por causa da escuridão que está sobre

sua compreensão, a percepção moral do homem natural erra muito. Como Thomas Boston

disse da consciência corrupta: “Por isso, ela é frequentemente como um cavalo louco e

furioso, que violentamente derruba, o seu cavaleiro, e todos que entram em seu caminho”.

Um terrível exemplo disto aparece na previsão de nosso Senhor em João 16:2, que recebeu

cumprimento repetido em Atos: “Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em

que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus”. Da mesma maneira Saulo

de Tarso, depois de sua conversão, reconheceu: “Bem tinha eu imaginado que contra o no-

me de Jesus Nazareno devia eu praticar muitos atos” (Atos 26:9). Aqui fazer do “amargo,

doce e do doce, amargo” foi o caso! O guia menos confiável é a consciência não-renovada.

Mesmo quando a consciência do não-regenerado é despertada pela mão imediata de Deus

e é ferida com convicções profundas e dolorosas de pecado, tão longe está a alma de mo-

ver-se em busca da misericórdia de Deus através do Mediador, antes enche-se de tremor

e consternação. Como Jó 6:4, declara, quando as flechas do Todo-Poderoso estão crava-

das nele, o veneno delas embebe seu espírito, e os terrores de Deus o assaltam. Até então

tal pessoa tinha feito um grande esforço para abafar as acusações de seu juiz interior, e

agora ele iria fazê-lo de bom grado, mas não pode. Em vez disso, a consciência se enfurece

e murmura, colocando todo o homem em uma consternação terrível, à medida que é aterro-

rizado por um senso da ira de um Deus santo e está com medo do ardor do fogo que há de

devorar os Seus adversários. Isso o enche de tal horror e desespero que, em vez de se

voltar para o Senhor que ele se esforça para fugir dEle. Assim foi o caso de Judas, que,

quando foi levado a perceber a gravidade de sua terrível e vil ação, saiu e enforcou-se. Que

esta violência do pecado dentro do homem natural o leva a desviar-se de Cristo ao invés

de para Cristo, foi demonstrada pelos Fariseus em João 8:9, que, “redarguidos da consci-

ência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos”.

5. Incapacidade da Vontade. Deixamos isso por último, porque a vontade não é o senhor,

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mas o servo das outras faculdades, executando a convicção mais forte da mente ou o co-

mando mais imperioso de nossas paixões, pois pode haver apenas uma influência domi-

nante na vontade em um e mesmo tempo. A excelência da vontade do homem consistia,

originalmente, em seguir a orientação da reta razão e submeter-se à influência de autorida-

de apropriada. Mas no Éden a vontade do homem rejeitou a primeira, e se rebelou contra

a última, e em consequência da Queda sua vontade tem estado desde então sob o controle

de um entendimento que prefere antes as trevas do que a luz e de afeições que desejam

mais o mal do que o bem. E assim é que os prazeres fugazes do bom senso e os interesses

mesquinhos do tempo excitam nossos desejos, enquanto os deleites duradouros da pieda-

de e as riquezas da imortalidade recebem pouca ou nenhuma atenção. A vontade do ho-

mem natural é influenciada por suas corrupções, pois suas inclinações gravitam na direção

oposta ao seu dever e, portanto, ele está completamente cativo ao pecado, impelido por

suas paixões. Não é apenas que os não-regenerados não estão dispostos a buscar a santi-

dade, eles inveteradamente a odeiam.

Desde que a vontade transformou-se em uma traidora de Deus e apresentou-se ao serviço

de Satanás, ela foi completamente incapacitada para fazer o bem. Disse o Salvador: “Nin-

guém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (João 6:44). E por que ele não

pode vir a Cristo por suas próprias forças naturais? Porque ele não somente tem inclinação

para fazer isso, mas porque o Salvador é um objeto que o repele, Seu jugo não é bem-

vindo, Seu cetro é repulsivo. Em relação às coisas espirituais a condição da vontade é como

a da mulher em Lucas 13:11, ela “andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-

se”. Se tal for o caso, então como pode ser dito que o homem é capaz de agir voluntaria-

mente? Pois ele escolhe livremente o mal, e isso porque “a alma do ímpio deseja o mal”

(Provérbios 21:10), e ele sempre realiza esse desejo, exceto quando impedido pelo governo

Divino. O homem é o escravo de suas corrupções, nascido como um potro selvagem, desde

a mais tenra infância ele é avesso à restrição. A vontade do homem é uniformemente rebel-

de para com Deus; quando a providência frustra seus esforços, em vez de se curvar em

humilde resignação, ele se aborrece com inquietação e age como um touro selvagem em

uma rede. Somente o Filho pode “libertá-lo” (João 8:36), e há “liberdade” somente onde es-

tá o Espírito do Senhor. (2 Coríntios 3:17).

Aqui, então, estão as ramificações da depravação humana. A Queda cegou a mente do ho-

mem, endureceu o seu coração, desordenou as suas afeições, corrompeu a sua consci-

ência, mitigou a capacidade de sua vontade, e deste modo não há “coisa sã” nele (Isaías

1:6), “não habita bem algum” em sua carne (Romanos 7:18).

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

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— Sola Scriptura • Sola Fide • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria —

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.