As Teses de Satanas 1 Cap

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CAPÍTULO 1 Um homem ABENÇOADO POR DEUS A vida de Jó é um grande mistério, uma das sagas mais empolgantes da História. Tem sido contada e recontada milhares de vezes ao longo dos séculos. Tem servido de inspi- ração para milhões de indivíduos que atravessam o vale escuro das provas. A história de Jó tem sido bál- samo para os que choram, conforto para os aitos e esperança para os desesperançados. Esse homem foi elevado às alturas excelsas e despencou de lá. Sofreu os golpes mais duros. Perdeu seus bens, seus lhos, sua saúde, o apoio de sua mulher e de seus amigos. Caiu não apenas ao chão, mas desceu aos vales mais tenebrosos. Foi nocauteado e jogado na lona sem nenhuma força para se levantar. Quando seu destino parecia irremediável, entretanto, Deus o levantou das cinzas, ergueu-o do pó e restaurou sua sorte, cumulando-o com o dobro de tudo quan- to possuíra. A restauração de Jó traz aos corações quebrados pela dor uma réstia de esperança, um facho de luz, um sinal do favor de Deus.

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CAP 1 AS TESES DE SATANAS HERNANDES DIAS LOPES

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  • CAPTULO 1

    Um homem

    ABENOADO POR DEUS

    A vida de J um grande mistrio, uma das sagas mais empolgantes da Histria. Tem sido contada e recontada milhares de vezes ao longo dos sculos. Tem servido de inspi-rao para milhes de indivduos que atravessam o vale escuro das provas. A histria de J tem sido bl-samo para os que choram, conforto para os afl itos e esperana para os desesperanados. Esse homem foi elevado s alturas excelsas e despencou de l. Sofreu os golpes mais duros. Perdeu seus bens, seus fi lhos, sua sade, o apoio de sua mulher e de seus amigos. Caiu no apenas ao cho, mas desceu aos vales mais tenebrosos. Foi nocauteado e jogado na lona sem nenhuma fora para se levantar. Quando seu destino parecia irremedivel, entretanto, Deus o levantou das cinzas, ergueu-o do p e restaurou sua sorte, cumulando-o com o dobro de tudo quan-to possura. A restaurao de J traz aos coraes quebrados pela dor uma rstia de esperana, um facho de luz, um sinal do favor de Deus.

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    A histria desse patriarca tem sido matria de estudo de muitos eruditos e tema de muitas teses de mestrado e doutorado nos seminrios e univer-sidades teolgicos pelo mundo afora. Jamais dei-xaremos de recorrer a esse dramtico testemunho. At que a Histria feche suas cortinas, buscaremos nessa fonte alento e beberemos nela os goles ben-ditos da esperana. Por pior que seja a situao, por mais sombria que seja a realidade, Deus poderoso para reverter o quadro e trazer-nos tona para res-pirar. Com Deus no tem causa perdida. Para ele no h impossveis. Com Deus, nossas noites escu-ras e frias podem converter-se em manhs cheias de luz e calor.

    Deus ainda est escrevendo a nossa biogra-fi a. O ltimo captulo ainda no foi escrito. Aquilo que parecia ser nossa morte, pode converter-se em trampolim para a nossa mais expressiva vitria. Aquilo que foi motivo das nossas maiores lgri-mas pode transformar-se na razo da nossa maior alegria. Aquilo que nos fez chorar e sangrar pode converter-se numa fonte de consolo para milhares de pessoas. O Deus soberano jamais permitir que soframos sem um santo propsito. Deus no des-perdia sofrimento na vida de seus fi lhos. Para cada lgrima que rola em nossa face, Deus tem um con-solo. Para cada prova, uma providncia libertado-ra. Se as provaes tm diferentes tonalidades para nos afl igir, tambm a graa de Deus tem diferentes tons para nos consolar.

    Vamos, agora, conhecer um pouco da vida de J. Quem foi esse homem? O que podemos

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    aprender com ele? Qual o seu legado para a nossa gerao?

    O livro de J um dos livros poticos da Bblia. Sua classificao o vincula aos textos sapienciais. Aqui existe um reservatrio inesgotvel de conheci-mento e sabedoria. Mergulhar nesse livro navegar pelos profundos oceanos do mistrio divino. beber a largos sorvos da sabedoria que vem do alto.

    J, um homem ntegro no meio de uma gerao perversa

    A Escritura descreve J assim: Havia um homem na terra de Uz, e seu nome era J. Ele era um homem ntegro e correto, que temia a Deus e se desviava do mal (J 1.1). J aparece diante de ns apenas como um homem. No como um super-ho-mem, nem como um heri, gigante, ou anjo, mas como um homem. J era um homem verdadeiro, e no um mito, como querem os crticos cticos. Ele era um homem excepcional, mas no nico. J tinha uma alma sensvel, mas uma estrutura moral e espiritual grantica. No era um canio agitado pelo vento. No tinha uma tica camalenica e si-tuacional. Seus valores estavam solidamente plan-tados na rocha dos sculos. Mesmo sovado pelos ventos desaaimados, mesmo golpeado pelo so-frimento atroz, mesmo abandonado pelas pessoas mais achegadas, agarrou-se a Deus e disse: Eu sei que o meu redentor vive e que por fi m se levantar sobre a terra. Depois, destrudo o meu corpo, ento fora da carne verei Deus. Eu o vereir ao meu lado, e

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    os meus olhos o contemplaro, no mais como ad-versrio. O meu corao desfalece dentro de mim (J 19.25-27).

    O mundo precisa de homens verdadeiros. Homens com uma f inabalvel em Deus e com valores morais inegociveis. A famlia precisa de homens verdadeiros. Vemos hoje uma escassez de homens dignos de serem imitados. Temos hoje ho-mens ricos, homens fortes, homens infl uentes, ho-mens cultos, homens espertos, homens corruptos, homens violentos, homens monstros, mas faltam homens que sejam padro dos fi is na palavra, no procedimento, no amor, na f e na pureza. Certa feita, na Grcia antiga, Digenes saiu s ruas de Atenas, em pleno meio-dia, sol a pino, com uma lanterna acesa. Algum, intrigado com a cena inu-sitada, perguntou-lhe: Digenes, o que procuras? Ele respondeu: Eu procuro um homem.

    O texto nos diz que J era da terra de Uz. Isso signifi ca que ele era um gentio, criado numa terra de muitos deuses, sem qualquer parmetro religio-so, cultural e moral que o remetesse piedade e retido. Seu pas era eivado de idolatria. Na sua terra as pessoas adoravam muitas divindades pags. Mas J, na contramo de sua cultura, anda com Deus no meio de uma gerao pervertida e m. Ele conhece o Deus vivo numa terra eivada de dolos mortos. Ele ntegro no meio de uma sociedade rendida ao pecado. Ele reto no meio de um povo que capitu-la diante da corrupo. J nos prova que o homem no produto do meio, como ensinava John Locke. No o meio que faz o homem, mas o homem que

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    infl uencia o meio. No o poder que corrompe; o poder apenas revela os corrompidos. J nos mostra que a graa de Deus no est confinada apenas a uma raa ou a um povo.

    Jesus deu sua vida para comprar com o seu sangue aqueles que procedem de toda tribo, raa, povo, lngua e nao. A graa de Deus fl oresce nos lugares mais desfavorveis. J, assim como Abrao e Moiss, foi encontrado fi el no meio de uma ge-rao infi el. Precisamos brilhar como luzeiros no mundo. Precisamos ser como um Obadias na corte de Acabe e como os santos na casa de Csar.

    J, um homem que associava piedade com boa reputao

    A primeira informao que temos acerca do carter de J que ele era um homem ntegro. Isso fala de seu carter moral. Era um homem verda-deiro intimamente. No havia duplicidade nem hipocrisia em J. Lamentavelmente h muitas pessoas que ostentam uma santidade que no pos-suem. H muitos lderes que pregam sobre integri-dade, mas vivem de forma vergonhosa. So anjos em pblico e demnios na vida privada. Pregam uma coisa e vivem outra. So verdadeiros atores. Desempenham um papel muito diferente de sua vida.

    James Hunter, em seu livro O monge e o exe-cutivo, diz que o homem no aquilo que ele fala, mas aquilo que ele faz. Nossas obras precisam ser

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    o avalista de nossas palavras. Precisamos entender que Deus est mais interessado em nosso carter do que em nosso trabalho. Vida com Deus precede trabalho para Deus. J era inteiro. Foi ntegro na riqueza e permaneceu ntegro na pobreza. Foi nte-gro quando estava honrado e permaneceu ntegro quando estava no p e na cinza. O carter vem antes da grandeza. Foi ntegro nos dias de celebrao e no vale mais escuro da dor e provao. Passou pelo teste da prosperidade e pelo teste da adversidade.

    No entanto, J era tambm verdadeiro exter-namente. Diz a Escritura que ele era um homem reto. A retido consequncia da integridade. Integridade aquilo que voc quando est sozinho. Retido aquilo que voc quando est em pblico. Voc exatamente aquilo que em secreto. Por isso, moralidade pblica sem piedade secreta como um corpo sem alma. A retido tem a ver com atos exter-nos, enquanto a integridade, com valores internos. A verdade no ntimo conduz a uma prtica pblica de justia. Porque J era um homem ntegro que an-dava com Deus, demonstrava sua retido com suas obras. Ele mesmo d o seu testemunho: Eu era os olhos do cego e os ps do aleijado. Era pai dos ne-cessitados e examinava com dedicao a causa dos desconhecidos (J 29.15,16).

    Finalmente, J demonstrava um slido ca-rter religioso. Primeiro, ele tinha uma devoo positiva: Ele era temente a Deus. Aqui est o se-gredo da integridade de J. Ningum pode ter uma vida interior santa sem o temor de Deus. Os santos temem a Deus porque ele perdoa; os pecadores,

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    porque ele pune. O temor do Senhor o princpio da sabedoria. grande freio contra o mal. o fi el da balana. Aqueles que temem a Deus no temem os homens. Aqueles que temem a Deus fogem do pecado. Aqueles que temem a Deus deleitam-se nele com santa reverncia. Aqueles que temem a Deus procuram agrad-lo no por causa do medo da punio, mas pelo prazer da comunho.

    Segundo, J tinha uma devoo fi rme. J decisivamente se ops ao pecado. Ele se desvia-va do mal. J no apenas tinha o temor de Deus, mas tambm odiava o pecado, fugia do pecado, no transigia com o pecado. No sufi ciente ape-nas no pecar; devemos odiar o pecado em todas as suas formas. Devemos fugir at da aparncia do mal.

    J, um homem familiarmente realizado

    J tinha vida com Deus e constituiu uma fa-mlia para Deus. Diz a Escritura: J teve sete fi lhos e trs fi lhas (J 1.2). Os fi lhos so herana de Deus. Eles so ddivas do altssimo. So como fl echas na mo do guerreiro. J encheu sua aljava dessas fl e-chas. Cada fi lho que nascia era a renovao da espe-rana em sua casa. Os fi lhos so herana de Deus, presentes do cu, a verdadeira riqueza dos pais, a coroao do amor conjugal.

    J teve o privilgio de ser um homem fecundo. Gerou sete fi lhos e trs fi lhas. Deus o enriqueceu

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    com uma famlia numerosa, saudvel e prspera. Sua famlia era unida e abenoada. Os fi lhos de J eram sua maior fortuna, sua mais preciosa riqueza, o fulcro de seus mais acendrados afetos. J dedicou o melhor do seu tempo investindo em seus filhos. Mesmo sendo um homem muito rico, no permitiu que a seduo da riqueza tirasse dele suas prioridades. Mesmo sendo um homem de sucesso, jamais permitiu que o sucesso roubasse dele o tempo sagrado com seus filhos. O sucesso mais perigoso do que o fracasso. Mais homens caem no topo da pirmide do que nos vales. Mais homens naufragam na prosperidade do que na adversidade. Mais homens perdem a famlia por causa da riqueza do que por causa da pobreza. Nenhum sucesso compensa o fracasso do casamento. Nenhum sucesso compensa o naufrgio da famlia. Nenhum sucesso compensa relegar os filhos prpria sorte. Construir fortunas sobre os escombros da famlia uma loucura. Amealhar riquezas deixando para trs os fi lhos feridos uma insanidade. Granjear fortunas e perder os fi lhos a mais consumada toli-ce. J no agiu assim. Ele dedicou o melhor do seu tempo e o melhor do seu corao para investir nos fi lhos e mant-los unidos e fi is.

    A famlia uma ddiva de Deus. O casamen-to uma instituio divina. Deus instituiu o casa-mento para a felicidade do homem e da mulher. Viver na solido uma triste realidade. claro que o casamento traz, tambm, angstia na alma (1Co 7). O casamento um grande mistrio. a unio no de dois iguais, mas de dois diferentes. O sbio

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    disse que havia coisas que o deixavam encantado, mas o casamento era para ele incompreensvel (Pv 30.18,19). A criao de fi lhos sempre uma mistura de alegrias e lgrimas, de dias iluminados de cele-brao e noites solitrias de gemidos.

    A famlia o cenrio onde coisas estranhas acontecem. No natural um pai e uma me en-terrarem seus fi lhos. Mas isso acontece. Meus pais quase chegaram loucura quando tiveram que sepultar meu irmo, assassinado com 27 anos, na plenitude de seu vigor. Na famlia, alguns, inexpli-cavelmente, furam a fi la, e isso provoca uma dor insuportvel. uma doena sbita, um aciden-te trgico, um assalto inesperado, um assassina-to cruel. J precisou sepultar seus dez fi lhos num nico dia. A nuvem escura de uma tristeza indes-critvel tomou conta de sua vida. Uma dor sem li-mites invadiu seu corao. O choro amargo foi seu alimento, e as cinzas foram o seu nico blsamo.

    J, um homem fi nanceiramente realizado

    J era o maior empresrio rural de seu tempo, o homem mais rico de sua gerao no Oriente. Toda a sua fortuna descrita detalhadamente: Possua sete mil ovelhas, trs mil camelos, quinhentas jun-tas de bois e quinhentas jumentas. Tinha tambm muitos servos que trabalhavam para ele, de modo que era o homem mais rico de todos os do Oriente (J 1.3). A vida de J refuta a ideia de que pessoas ricas no podem ser piedosas. A riqueza no um

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