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AS CCES E A TEORIA ATRIBUCIONAL

A Teoria Atribucional afirma que as pessoas tendem, em geral, a buscar explicações

sobre suas condutas, seus resultados e suas conseqüências, com o fim de predizer, compreender, justificar e controlar o mundo. Muitos psicólogos teóricos da área da motivação têm estabelecido que o ser humano tem a necessidade inerente de conhecer a si mesmo e a seu meio ambiente. Todos buscamos explicações aos fenômenos que ocorrem no ambiente aos nossos comportamentos e aos dos demais. A atribuição da casualidade é dita fenômeno e foi denominada Lócus de Controle por Rotter1.

Rotter propôs uma classificação unidimensional de casualidade (de Interna à

Externa em um contínuo) e inseriu, em sua teoria de aprendizagem social, o conceito de Lócus de Controle. Nessa teoria, Rotter argumentava que um evento, considerado por algumas pessoas como prêmio ou reforço (estímulo positivo que se recebe frente a uma conduta que faz com que esta se repita no futuro), pode ser percebido por outros de forma diferente e ter reações distintas frente a ele. Um dos determinantes desta reação é o grau pelo qual os indivíduos percebem que a recompensa está associada a suas próprias condutas ou atributos (Lócus de Controle Interno), versus o grau em que sentem que a recompensa é controlada por forças externas a eles e podem ocorrer independentemente de suas ações (Lócus de Controle Externo).

De acordo com Rotter, o controle INTERNO refere-se à disposição de atribuir a si

mesmo algum controle sobre os próprios reforços, por exemplo, aquele aluno que considera que foi bem em seu exame porque estudou muito e aprendeu bem a matéria. O controle EXTERNO contempla aquelas pessoas que crêem que seus reforços não estão sujeitos a um controle pessoal, sendo melhor controladas pela sorte, pela fortuna, pelo destino, ou outras pessoas consideradas como poderosas, por exemplo, outro aluno considera que foi bem no exame porque o exame estava fácil. Dependendo da história passada de reforços, uma pessoa apresentará uma atitude consistente tendendo para um Lócus de Controle Interno ou Externo.

Esta definição conduz-nos à idéia de que o indivíduo enfrenta seu meio ambiente

com uma percepção advinda de suas próprias ações e resultados, ficando ao largo de uma série de crenças (de mais interna a mais externa), de acordo com a escolha em aceitar ou não a responsabilidade de suas próprias ações.

Um sujeito com Lócus de Controle Interno entende que possui controle sobre sua

vida e que os resultados de seu trabalho e esforço lhes são gratificantes. Ao contrário, pessoas com Lócus de Controle Externo consideram que suas vidas estão determinadas pelo azar, pelo destino ou pelo poder de outros e que os resultados distribuem-se mais ou menos aleatoriamente, com a conclusão de que não há maiores relações entre as próprias ações e suas conseqüências.

Apesar de ter sido Rotter o primeiro a incorporar esta construção à sua teoria e em

sistematizar as primeiras descobertas, inúmeros autores têm investigado o tema. Kelley2 define a atribuição como “o processo mediante o qual o sujeito interpreta os

sucessos como causados por elementos particulares de um ambiente relativamente estável”. O pressuposto básico de sua teoria é que o ser humano está motivado a conseguir compreender seu entorno através do entendimento de quais são as

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relações causais entre os fatos que acontecem. Quando ele entende, é porque algo ocorre, o que em si é causa, então sente que o conhece ou domina.

O homem quer saber por que ocorreu um evento, a qual fonte, motivo ou estado ele

pode ser atribuído. Este postulado sobre o homem como um caçador de informações é sustentado por diversos autores. A compreensão de nosso ambiente está, junto com o hedonismo (o instinto do prazer, de buscar satisfação), entre as fontes primárias da motivação.

Weiner3 perguntou-se por que algumas pessoas alcançam grandes vitórias e outras

não. Concluiu que o que de fato importava era conhecer as causas dos êxitos e fracassos. Àquele enfoque denominou-se de “Teoria da Atribuição”, quer dizer, perguntava-se ao sujeito a quais fatores atribuía seus êxitos e fracassos.

A Teoria da Atribuição seguiu adiante e sustentava que o comportamento humano

encontrava-se controlado não somente pela história de reforços e castigos que um indivíduo tem, mas também por um estado mental próprio, como as explicações que as pessoas se dão para compreender por que o meio reforçou ou castigou seu comportamento de uma ou outra forma, por exemplo, alguém pode saber que foi mal nos negócios e atribuir que os problemas sociais foram a causa. Neste exemplo, “os problemas sociais” seriam a atribuição ou estado mental ou as idéias pelas quais se explicam o fato do fracasso nos negócios, preponderando sobre outros fatores que poderiam ter influenciado positiva ou negativamente, como a própria conduta do sujeito.

No intento de explicar-se a própria conduta, o homem pode recorrer a infinitas

causas possíveis. Weiner propõe um esquema classificatório em que define três dimensões de casualidade: Estabilidade, Controle e Localização.

A Estabilidade refere-se à percepção que uma pessoa tem em relação à

possibilidade de permanência ou variação de um determinado fator. A percepção de estabilidade dos fatores influi na mudança de expectativas de êxito ou fracasso. Dito de outra maneira, refere-se à hipótese de que o fator que causou o fracasso é permanente no tempo, por exemplo, “minha eterna má sorte” ou “é culpa do sistema”, nada posso fazer.

A atribuição do fracasso a causas estáveis leva, com maior freqüência, a

expectativas de futuros fracassos que a atribuição a causas instáveis. A estabilidade também influi nas reações afetivas, isso significa que, se eu percebo que meus fracassos são produtos de um fator estável como a má sorte, minha reação a futuros desafios será com desânimo ou pessimismo. Os sentimentos de desesperança aparecem quando o futuro se percebe tão sem saída como o presente.

O Controle refere-se ao grau de domínio que uma pessoa percebe ter sobre os

fatores que determinam o êxito ou fracasso. As pessoas que percebem que os reforços ou bons resultados são conseguidos como produtos de fatores controláveis por elas mesmas (o esforço ou habilidade técnica) tendem a repetir condutas que conduzem a obter este bom resultado. O controle sobre os fatores causais tem demonstrado estar relacionado com os sentimentos e avaliação que se faz de outros. Se uma pessoa fracassa devido a uma razão controlável por ela, os outros tenderão a recriminá-la; por exemplo, quando uma equipe de futebol perde e sentimos que poderiam ter se esforçado mais e ganhado, tendemos a recriminá-la. Por outro lado, se sentimos que a equipe perdeu porque o árbitro estava a favor da equipe contrária, defendemos nossa equipe porque sentimos que foi um fator que ela não podia controlar.

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A Localização refere-se a uma variável de expectativa referente à percepção

pessoal sobre as atribuições (internas ou externas) e seus resultados. A dimensão de localização afeta diretamente a estima pessoal (dependendo de quão responsáveis nos sentimos por algum fato que nos afeta). A atribuição interna do êxito incrementa a valoração positiva sobre si mesmo, enquanto que a atribuição do fracasso a causas internas faz diminuir a auto-estima.

Outra possível dimensão de casualidade identificada por Seligman4 é a

Globalidade. Esta dimensão engloba o conceito da generalização do estímulo, quer dizer, a atribuição será global quando a causa explicatória de um evento estiver também operando do mesmo modo em uma série de outras atribuições nas quais o ator encontra-se envolvido. Dito de outro modo, é quando se acredita que as causas das coisas são, para qualquer evento de mesma natureza, as mesmas, por exemplo: a maioria sente que todos os funcionários públicos são burocratas, portanto nos deparamos com a expectativa de “perda de tempo” diante de qualquer trâmite público.

Seligman5 distinguiu três dimensões da atribuição: Internalidade – Externalidade,

Estabilidade – Instabilidade e Globalidade – Especificidade. Estas constituem os estilos atribucionais.

Recentemente, esse autor (1991) propôs uma nova conceitualização de seus estilos atribucionais, cunhando o termo Estilo Cognitivo Explicatório, que se refere à maneira habitual pela qual as pessoas explicam os eventos que lhes ocorrem. Os dois grandes grupos seriam o estilo explicatório pessimista (o que atribui tudo a causas externas, globais e estáveis) e o estilo explicatório otimista (o que atribui tudo a causas internas, instáveis e específicas). Também se interessou pelos “hábitos” da explicação (que são o conjunto de razões que habitualmente usamos para explicarmos o que ocorre; estes têm sido moldados por nossa experiência de vida), e não só na explicação que alguém fornece indícios com relação a seus fracassos. Sustentava que existia um “estilo” de explicação: todos teríamos nosso próprio estilo de ver as coisas e, em caso de contar com a possibilidade de fazê-lo, imporíamos este hábito em nosso mundo. Por exemplo, nas pesquisas, quando nos perguntam por que acreditamos que tal pessoa fez tal coisa, cada um de nós dará uma resposta distinta; também é o que ocorre nos encontros políticos quando cada participante trata de impor sua forma de explicar algum fato.

Por último, Levenson é outro autor que investiga o tema, determinando que a

EXTERNALIDADE (Lócus de Controle Externo) pode dividir-se em dois tipos: a) Externalidade Autêntica: é aquela dada pela influência da sorte e corresponde a indivíduos que se sentem controlados pelo azar, a sorte, o destino ou qualquer outra entidade sobrenatural; b) Externalidade Defensiva: ou externalidade pela influência de terceiras pessoas; é própria de indivíduos que percebem sua conduta ou os eventos que lhes ocorrem dirigidos por outras pessoas consideradas como poderosas

A inclusão do tema “lócus de controle” no Seminário EMPRETEC deve-se ao fato de

que esta característica psicológica foi identificada de forma acentuada nos empreendedores e, também, nos estudos teóricos que deram origem à metodologia utilizada no seminário.

Cabe destacar a necessidade de implementar, na condução dos módulos, uma

abordagem que identifique esta característica psicológica, caracterizando a importância da identificação da responsabilidade pessoal como algo marcante na vida dos empreendedores.

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Em cada módulo, existe um objetivo específico para a utilização do “lócus de

controle”. A seguir, listamos a visão de alguns autores a respeito do tema. Segundo Rotter Depois da necessidade de realização, a característica psicológica que mais atenção

recebe na literatura especializada sobre atividade empreendedora é a que ele denominou “locus de controle”.

Conforme Brockhaus:

● observou-se que tais indivíduos demonstram iniciativa incomum e maior controle sobre seu próprio comportamento;

● são mais bem-sucedidos quando se trata de persuadir outras pessoas, embora eles próprios não se deixem persuadir facilmente;

● são mais diligentes em obter informações e conhecimentos estratégicos acerca de sua própria atuação;

● desempenham-se bem em tarefas que dependem de habilidade, e não tão bem naquelas que dependem da sorte ou do acaso;

● têm autoconceitos mais claros; são mais confiáveis; são menos vulneráveis ao fracasso.

Segundo Albert Shapero: ● é um dos muitos a argumentar que o “lócus de controle” é um importante fator

para o desenvolvimento do comportamento empreendedor; ● afirma que indivíduos com “lócus de controle” acentuado tendem a ser

relativamente autoconfiantes e a prezar a autonomia e a independência, traços distintivos adicionais do comportamento empreendedor;

Para Hull, Bosely e Udell: Estudos sobre esta característica são representados pelos inventários de

personalidade para identificação de empreendedores potenciais e concluíram que o “lócus de controle” constitui o fator de prognóstico mais seguro para indicar quem iniciará e manterá uma empresa.

Relação entre Motivação de Realização – Internalidade e Comportamento

Na América Latina, têm sido realizadas recentes investigações relacionando a

motivação de realização com a internalidade e de que maneira esta influi no comportamento de sucesso. A partir disso, abre-se um amplo e útil marco de referência para trabalhar na capacitação em ambas as variáveis. É por esta razão que veremos os distintos enfoques sob os quais tem sido estudada esta relação.

Um possível ponto de vista é que se considere o Lócus de Controle como um

componente, requisito ou condição para que a conduta de sucesso aconteça. É uma condição porque, para que uma pessoa estabeleça metas, planeje e realize atividades que a levem a atingir essas metas, é necessário que se sinta no controle da situação, que possa decidir e assumir responsabilidade pessoal pelos objetivos alcançados. O que esta posição indica é que a necessidade de realização é um conceito mais amplo e inclusivo do que a dimensão Lócus de Controle. Vários investigadores nesta área compartilham desta posição.

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Existe outra posição que considera o Lócus de Controle como a variável inclusiva. Wolk y Ducette6 desenvolveram um estudo que tende a apoiar esta posição. Eles encontraram a relação entre a necessidade de realização e a execução, a qual só se manifesta nos sujeitos internos, mas não com os externos, indicando que a variável Lócus de Controle é a determinante desta relação.

Do que foi anteriormente exposto, pode-se extrair que, diante da pergunta sobre a

natureza da relação entre as duas variáveis, a resposta depende fundamentalmente do enfoque teórico que se explore.

Weiner7 e colaboradores assinalam a ocorrência de processos cognitivos

(elaborações que fazemos de nossas idéias para conseguir entender a realidade) entre os resultados de um dado comportamento e comportamentos que ocorrem posteriormente que afetam a direcionalidade e probabilidade desses comportamentos futuros através de seu efeito, na expectativa de ter sucesso em tais condutas e no efeito positivo relacionado com eles. Em geral, os empresários elegem negócios naquelas áreas em que têm expectativas de êxito de acordo com suas habilidades pessoais, que significam para eles uma vantagem comparativa a partir de sua experiência com resultados positivos anteriores. Em um sentido formal, sugere-se quê:

Estímulo – Atividade Cognitiva Expectativa e Afeto – Comportamento Na própria área da motivação pela realização, são propostos vários tipos de

atividades como resultado de um comportamento que tenha levado ao sucesso. Estas e as respectivas hipóteses de resultados são apresentadas e diagramadas no quadro abaixo, proposto por Françoise de Trenqual8:

Realização Respostas Cognitivas Possíveis

Resultados Cognitivos e Emocionais

Efeitos na Conduta

Conduta de Realização Exitosa

Atribuição do êxito ao esforço pessoal, em oposição a fatores ambientais.

Aumenta o sentimento positivo associado à realização e à expectativa de êxito na tarefa. Aumento do

comportamento orientado à realização. Atribuição do êxito a

pouca da tarefa e/ou fatores ambientais.

Aumenta o sentimento negativo associado à realização. Mantém-se a expectativa de êxito na tarefa.

Conduta de Realização Não

Exitosa

Atribuição do fracasso ao pouco esforço.

Não há diminuição da expectativa de êxito na tarefa. Não há diminuição do sentimento positivo associado à realização.

Não há mudanças no do comportamento

orientado à realização.

Atribuição da razão do fracasso à sorte ou dificuldade da tarefa.

Diminuição na expectativa de êxito na tarefa. Aumenta o sentimento negativo associado à realização.

Diminuição do comportamento

orientado à realização.

A tabela anterior mostra uma síntese do que se sucede em um indivíduo a partir de

uma conduta de realização (exitosa ou não), que gera uma determinada resposta cognitiva (conjunto de idéias em relação à causa dessa realização), seguida por um resultado emocional (o que o indivíduo sente em relação à sua expectativa de realização e dos resultados de sua conduta) e, por último, o efeito que tem esse

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sentimento na probabilidade de que volte a realizar um comportamento orientado à realização.

Weiner argumenta que os indivíduos com alta e baixa necessidade de realização

diferem significativamente, já que as pessoas com alta motivação de realização têm mais tendência a atribuir o êxito aos seus próprios esforços. Isso levaria ao comportamento de realização da seguinte maneira:

Necessidade de realização

● Atribuição do êxito a si mesmo ● Orgulho na execução (sentimento positivo) ● Aumento da probabilidade de ocorrência do comportamento de realização.

A atribuição da responsabilidade pelo êxito ou fracasso afeta a conduta de

realização. Se uma pessoa atribui consistentemente os resultados de suas realizações a forças externas, não experimenta a satisfação necessária para a persistência e o esforço necessários.

Salom de Bustamante9, em estudos orientados a estabelecer a relação existente

entre as variáveis de Motivação de Realização, Lócus de Controle e Rendimento Acadêmico, descobriu que os estudantes com alta motivação de realização diferiam dos estudantes com baixa motivação de realização em sua percepção de controle de conduta interna. Também observou que os estudantes com alta motivação de realização e internalidade obtinham um rendimento acadêmico superior ao dos estudantes com ambas variáveis baixas.

Outros estudos realizados na Venezuela por Romero García10 assinalam que a

internalidade tem propriedades motivacionais importantes. Por um lado, ela é basicamente uma expectativa generalizada relacionada ao controle da conduta, mas, entendida como motivacional, pode definir-se como uma necessidade intrínseca de controlar os resultados e os reforços necessários para obter estes resultados. A motivação de realização é entendida, nesta teoria, como uma necessidade inerente que conduz o indivíduo a estabelecer para si metas controláveis, a persistir na conduta orientada, a obter essas metas e a exigir-se excelência na avaliação dos resultados.

Uma das condições fundamentais para que uma pessoa apresente uma conduta de

realização é que ela assuma algum grau de responsabilidade pessoal pelo resultado de suas ações: a realização é alcançada pela pessoa e não lhe é dada. Além disso, a mudança percebida na responsabilidade por um resultado é uma variável crítica na determinação da persistência e execução de tarefas, a qual constitui um padrão motivacional básico.

O estudo empírico mais relevante nestas duas variáveis foi realizado pelos autores

venezuelanos mencionados11 e constitui o aporte mais moderno e amplo ao estudo dos aspectos motivacionais do êxito. Eles realizaram, durante quatro anos, uma investigação entre alunos exitosos e não-exitosos da educação média venezuelana.

Um dos resultados mais relevantes desse estudo foi a diferença encontrada entre

motivação de realização e internalidade existentes entre os grupos de estudantes, considerando-se os estudantes secundários exitosos e alunos de primeiro ano da universidade. Os estudantes exitosos apresentaram maior motivação pela realização e menor motivação afiliativa. A motivação de realização expressou-se como motivação dirigida para o desenvolvimento pessoal através do uso eficiente de ações próprias. Esta ativação de condutas para o crescimento ou desenvolvimento

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pessoal realiza-se através da busca de Expertise, Excelência e Eficiência. Estes três fatores estavam altamente relacionados com as expectativas que estes estudantes tinham em relação às metas controláveis e alcançáveis por eles, ao uso adequado de suas capacidades e habilidades e recursos intangíveis, como o tempo.

Demonstrou-se também que os estudantes exitosos utilizavam os resultados de sua

própria conduta para ativar novamente estes fatores que impulsionavam a conduta de realização. Tal avaliação contribui com a retroalimentação ao sujeito para obter melhores resultados. Para estes estudantes, os fracassos ou falhas parciais não afetavam sua auto-estima; apenas eram percebidos como desafios a serem superados: “falhei neste ponto, mas posso fazê-lo melhor se aprender tal ou qual conteúdo ou habilidade”.

Desses resultados e outras investigações realizados com gerentes e empresários

exitosos, distinguiu-se a estreita relação entre a motivação de realização e o Lócus de Controle, na medida em que se diferenciam de outros grupos não-exitosos por sua orientação à meta e sua reação diante do fracasso ou da dificuldade. Toda a evidência teórica e empírica sugere que a capacitação de qualquer pessoa em motivação de realização deve incluir a capacitação em internalidade.

A Construção da Definição Operacional

É um desafio considerável elaborarmos esta definição operacional. Entretanto,

sentimo-nos confiantes em sua melhor adequação dentro do método Empretec. Nossos esforços foram no sentido de provocarmos a menor mudança nesse método, mantendo um grau de coerência e integridade, sem esquecermos de recontextualizá-lo para este novo momento em que passamos.

Utilizamos os seguintes passos em busca de uma definição mais adequada: a) tradução e reflexão sobre o texto da Teoria Atribucional, que é referência da

UNCTAD para contextualização da definição operacional correta, alinhada com a metodologia do Empretec;

b) releitura das definições operacionais que geram as CCEs para análise do fundo

da Teoria de Lócus de Controle em cada um dos comportamentos; c) revisão dos materiais mais atuais utilizados em programas para desenvolvimento

de empreendedores por parte da MSI. Em particular, módulo desenvolvido para o SEBRAE/PR, em 1999.

Observamos que a abordagem de Lócus de Controle já vem sendo utilizada por

parte de alguns Instrutores do Empretec sem que esteja devidamente estruturada. Isso se deve à mudança no perfil do público-alvo atual e à necessidade de se reforçar esse comportamento como diferencial para um traço empreendedor mais consistente. Entende-se que o participante atual necessite “visualizar” com clareza o significado da expressão Responsabilidade Pessoal. Portanto, adotamos a seguinte definição operacional:

Atribui a si mesmo e a seu comportamento as causas de seus sucessos e fracassos,

assumindo a responsabilidade pessoal pelos resultados obtidos.

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Entendemos que, conforme a abordagem adotada no seminário, a característica de Independência e Autoconfiança é gerada pela prática das outras nove CCEs. Dessa forma, o comportamento de Internalidade é base para a característica de autoconfiança. Sua prática constante é, em síntese, um reforço para essa Autoconfiança, mas não necessariamente um comportamento desta.

Da mesma forma, Internalidade alinha-se com Comprometimento. Eu sou

responsável pelas minhas ações e omissões. O conceito de Internalidade pode ser traduzido por Responsabilidade Pessoal. Isso implica uma revisão na CCE de Comprometimento para uma melhor integração da nova definição operacional, procurando-se manter os 30 comportamentos da estrutura original do Seminário. Vejamos a seguir:

Persistência Age diante de um obstáculo significativo. Age repetidamente ou muda de estratégia a fim de enfrentar desafios ou superar

obstáculos. Assume responsabilidade pessoal pelo desempenho necessário para alcançar suas

metas e objetivos. Comprometimento Faz um sacrifício pessoal ou dispende um esforço extraordinário para terminar um

trabalho. Colabora com seus empregados ou ocupa seu lugar, se necessário, para terminar

uma tarefa. Esforça-se para manter os clientes satisfeitos e coloca a boa vontade a longo prazo

acima do lucro a curto prazo. É necessário recordarmo-nos que as definições operacionais originais não

contemplavam três comportamentos em cada CCE. Elas foram “arrumadas” em busca de uma melhor estratégia pedagógica para o Seminário. Diz-se, e é fato, que Persistência e Comprometimento eram originalmente uma mesma Característica. Numa leitura básica, percebe-se que o primeiro comportamento de Comprometimento é o “quarto” de Persistência. Desta forma, optamos por substituir o terceiro comportamento de Persistência (assume responsabilidade pessoal...) pelo primeiro de Comprometimento (faz um sacrifício pessoal...), ficando assim esta característica:

Persistência Age diante de um obstáculo significativo. Age repetidamente ou muda de estratégia a fim de enfrentar desafios ou superar

obstáculos. Faz um sacrifício pessoal ou dispende um esforço extraordinário para completar

uma tarefa.

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Na característica de Comprometimento, é introduzido o novo comportamento referente a Lócus de Controle (Internalidade), ficando assim descrita essa característica:

Comprometimento Atribui a si mesmo e a seu comportamento as causas de seus sucessos e fracassos

e assume a responsabilidade pessoal pelos resultados obtidos. Colabora com seus empregados ou ocupa seu lugar, se necessário, para terminar

uma tarefa. Esforça-se por manter os clientes satisfeitos e coloca a boa vontade a longo prazo

acima do lucro a curto prazo. Para uma clarificação e ampliação da base de compreensão dos instrutores, diante

da escolha da definição operacional de Lócus de Controle, alocando-a nos traços de Persistência e Comprometimento, devemos considerar alguns conceitos dos teóricos apresentados neste material.

Podemos notar que, para Rotter, o Lócus de Controle Interno apóia-se em uma

atitude de responsabilidade pessoal de um indivíduo, no tocante ao seu desempenho e ao atingimento de resultados.

Em Kelley, notamos uma abordagem em que “o indivíduo interpreta os resultados de

sucesso como causados por elementos particulares de um ambiente relativamente estável”. Desta forma, podemos observar certa indicação do traço de Independência e Autoconfiança, mas há, mais especificamente, um traço de Responsabilidade Pessoal.

Já para Weiner, “a atribuição do fracasso a causas estáveis leva, com maior

freqüência, à expectativa de futuros fracassos que a atribuição a causas instáveis”. Podemos então compreender que, nesta situação proposta por Weiner, o indivíduo entende que “nada posso fazer”. Além disso, Weiner propõe quê: “a estabilidade, o controle e a localização geram no indivíduo uma maior ou menor auto-estima que provém da expectativa de envolvimento em que seu desempenho será colocado à prova”. Assim, podemos notar que a mobilização da auto-estima é gerada pelo desempenho, e não o contrário, ou seja, o que prevalece é a auto-responsabilidade.

Em Seligman, notamos os hábitos da explicação otimista e pessimista, ou seja, “um

conjunto de razões que habitualmente utilizamos para explicarmos os resultados obtidos”. O otimista acredita que as conseqüências serão positivas por conta de sua própria conduta. Em contrapartida, o pessimista desacredita nos resultados positivos em decorrência de fatores externos. Compreendemos, portanto, a auto-responsabilidade explícita do hábito de explicação otimista.

Wolk e Ducette encontraram a relação entre a necessidade de realização e a

execução que só se manifesta nos sujeitos “internos”, mas não com os “externos”, indicando que a variável de Lócus de Controle Interno (auto-responsabilidade) é determinante nessa relação e não a variável de Autoconfiança.

Por último, consideremos também a descrição do quadro de Françoise de Trenqual,

no qual notamos que o aumento de autoconfiança, responsável pelo aumento do comportamento orientado à realização, é mobilizado primordialmente por traços de auto-responsabilidade, como apontado a seguir em negrito em cada quadro.

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Realização Respostas Cognitivas Possíveis

Resultados Cognitivos e Emocionais

Efeitos na Conduta

Conduta de Realização

Exitosa

Atribuição do êxito ao esforço pessoal, em oposição a fatores ambientais. Persistência e Compromisso com a realização

Aumenta o sentimento positivo associado à realização e à expectativa de êxito na tarefa. Autoconfiança

Aumento do comportamento

orientado à realização.

Otimização dos resultados

Atribuição do êxito a pouca da tarefa e/ou fatores ambientais. Autoresponsabilidade e competência

Aumenta o sentimento negativo associado à realização. Mantém-se a expectativa de êxito na tarefa.

Conduta de Realização Não

Exitosa

Atribuição do fracasso ao pouco esforço. Falta de Persistência

Não há diminuição da expectativa de êxito na tarefa. Não há diminuição do sentimento positivo associado à realização.

Não há mudanças no do comportamento

orientado à realização.

Atribuição da razão do fracasso à sorte ou dificuldade da tarefa. Falta de Autoresponsabilidade e competência

Diminuição na expectativa de êxito na tarefa. Aumenta o sentimento negativo associado à realização. Diminuição da autoconfiança

Diminuição do comportamento

orientado à realização.

Redução dos resultados

Podemos notar que traços de auto-responsabilidade são determinantes para os

traços de autoconfiança. As abordagens anteriores indicam que a definição operacional de Lócus de Controle alocada no meta-modelo recai diretamente na característica de Comprometimento, pois conduz o participante a desenvolver a responsabilidade pessoal na busca de resultados de sucesso. Dessa forma, mantemos as definições originais em todos os outros traços, destacando-se a impossibilidade desta definição operacional ser alocada em Independência e Autoconfiança. Assim, a definição operacional contempla a auto-responsabilidade e as conseqüências pelos resultados obtidos.

É importante ressaltar que estudos recentes demonstram que a Internalidade pode

ser incentivada por meio de treinamento, de sistemas de recompensa específicos e através de experiências pessoais de sucesso. Em particular, por se entender a permanência da mudança comportamental, alienada do processo vivido dentro do seminário, exige que os participantes tragam a si esta responsabilidade. Ampliar-se o Lócus de Controle Interno reforça a crença de que os participantes poderão moldar seus próprios destinos por meio de suas competências e do empenho pessoal.

O desafio presente é que, como instrutores, cada um possa efetivamente desativar

seu modo “automático” de realizar o Seminário Empretec. Entendemos que, para muitos, esta recontextualização soa como um novo ânimo, embora traga junto o incômodo de um novo aprendizado.

Em essência, a aplicabilidade do conteúdo da Internalidade apresenta-se como um

tema transversal, perpassando como fundo cada um dos módulos e das atividades do seminário. Ele objetiva primordialmente transferir ao participante a responsabilidade por suas decisões e ações. Como conteúdo declarado, ele está

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pontuado em dois módulos: na Introdução e no Encerramento do exercício Cria. Nos demais módulos, abrem-se janelas que indicam o foco e as circunstâncias favoráveis para a aplicação dos aspectos de Lócus de Controle Interno. Entende-se que muitos aplicadores encontrarão novas oportunidades para reforçar este conteúdo. Espera-se que as usem e tomem as indicações deste manual como uma orientação e não como determinação.

1 Rotter, J.B.: “Generalized expectancies for Internal versus external control of relnforcement”.

Psychological Monographs, 1966, 80 (Whole No 609) 2 Kelley, H.; Michela, J.: Attribution theory and research. Ann Rev. Psychology, 1980, 31, pp 468-479,

478-479. 3 Weiner, B.: Attribution theory, Achievement motivation. New York, General Learning Press, 1974. 4 Seligmanm M.: Helplessness. San Francisco, W.H. Freeman, 1975. 5 Seligman, M.: Learned Optimism. Alfred A Knopf, New York, 1991 6 Wolk, S.;Ducette, J.: The modelating effect of locos of control in reWion lo achievement motivation

variables. Journal of Personality, 1973, pp 59-70. 7 Weiner, J.; y cola.: Percepción de las causas de un suceso y fracaso. New Jersey Morristown.

General Learning Press, 1977. 8 Trenqual de, Françoise: Motivación de logro y locus de control en deportistas de dos niveles de logro

deportivo. Tesis para optar al titulo de psicólogo, Pontificia Universidad Católica de Chile, 1981. 9 Salom de Bustamante, C.: Necesidad de logro, locus de control y rendimiento académico.

Universidad de los Andes, Mérida, Venezuela, 1981. 10 Romero García, O.: Aumentando Internalidad y necesidad de logro en supervisores petroleros.

Memoria E.V.E.M.O. 2 . Centro de investigaciones psicológicas, Universidad de los Andes. Mérida, Venezuela, 1988.

11 Romero García, O.: Estudiantes exitosos: ¿Cómo son ellos?. Rogya Editores, Mérida, 1992.