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Actividade Física, Desporto e Imagem Corporal Orientador: Professora Doutora Maria Paula Santos Tânia Manuela dos Santos Oliveira Porto, 2009 Dissertação apresentada com vista à obtenção do 2º ciclo em Actividade Física e Saúde, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, ao abrigo do Decreto-Lei nº 74/2006 de 24 de Março Estudo em adolescentes com peso normal e com excesso de peso

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  • Actividade Fsica, Desporto e Imagem Corporal

    Orientador: Professora Doutora Maria Paula Santos

    Tnia Manuela dos Santos Oliveira

    Porto, 2009

    Dissertao apresentada com vista obteno do

    2 ciclo em Actividade Fsica e Sade, da

    Faculdade de Desporto da Universidade do Porto,

    ao abrigo do Decreto-Lei n 74/2006 de 24 de

    Maro

    Estudo em adolescentes com peso normal e com excesso de peso

  • Oliveira, T. (2009). Actividade Fsica, Desporto e Imagem Corporal: Estudo

    em adolescentes com peso normal e com excesso de peso. Porto: T.

    Oliveira. Dissertao de Mestrado apresentada Faculdade de

    Desporto da Universidade do Porto.

    Palavras-chave: OBESIDADE, PERCEPO DA IMAGEM CORPORAL,

    ACTIVIDADE FSICA.

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    minha orientadora Professora Doutora Maria Paula Santos pela

    ajuda, pacincia e apoio disponibilizado na realizao do estudo.

    A todas as pessoas os que tornaram possvel a realizao do estudo,

    e s que sempre me apoiaram e me ajudaram na concretizao dos meus

    objectivos.

  • !v

    NDICE GERAL

    !

    !

    NDICE GERAL................................................................................................v!

    NDICE DE FIGURAS..................................................................................... ix!

    NDICE DE QUADROS...................................................................................xi!

    RESUMO.......................................................................................................xiii!

    ABSTRACT....................................................................................................xv!

    RSUM......................................................................................................xvii!

    LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................xix!

    1.! INTRODUO..........................................................................................1!

    2.! REVISO DA LITERATURA....................................................................9!

    2.1.! Obesidade ..................................................................................9!

    2.1.1.! Definio e caracterizao .............................................9!

    2.1.2.! Etiologia da Obesidade ................................................12!

    2.1.3.! Prevalncia da Obesidade ...........................................16!

    2.1.4.! Consequncias da Obesidade .....................................17!

    2.1.5.! Estratgias de Preveno e Tratamento da Obesidade ....

    .....................................................................................21!

    2.2.! O Corpo e Imagem Corporal ....................................................25!

    2.2.1.! O corpo na sociedade actual........................................25!

    2.2.2.! Percepo da Imagem Corporal ..................................27!

    2.3.! Actividade Fsica.......................................................................37!

    2.3.1.! Relao entre AF e IMC...............................................38!

    2.3.2.! Benefcios da AF ..........................................................38!

  • !!

    2.3.3.! Recomendaes para a promoo e prescrio de

    Actividade Fsica.......................................................................41!

    3.! OBJECTIVOS E HIPTESES................................................................55!

    3.1.! Objectivo Geral: ........................................................................55!

    3.1.1.! Objectivos Especficos .................................................55!

    3.2.! Hipteses..................................................................................55!

    4.! MATERIAL E MTODOS.......................................................................59!

    4.1! Descrio e Caracterizao da Amostra ..................................59!

    4.2! Procedimentos Metodolgicos..................................................59!

    4.2.1! Avaliao, por questionrios, das Modalidades

    Preferidas .................................................................................60!

    4.2.2! Avaliao do ndice de Massa Corporal .......................60!

    4.2.3! Avaliao, por Questionrio, da Percepo da Imagem

    Corporal (BIQ) ..........................................................................61!

    4.3. Procedimentos Estatsticos ..........................................................62!

    4.3.1. Estatstica Descritiva ......................................................62!

    4.3.2. Estatstica Inferencial......................................................63!

    5.! APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS......................67!

    5.1! Modalidades Desportivas Seleccionadas .................................67!

    5.2! Percepo da Imagem Corporal...............................................80!

    5.3! Relao entre as modalidades desportivas seleccionadas e a

    PIC ..................................................................................................95!

    6.! CONCLUSES.....................................................................................101!

    Anexo 1 - Pedido de autorizao ao Conselho Executivo da escola da

    amostra................................................................................................... i

  • !vii

    Anexo 2 - Questionrio acerca das modalidades preferidas................. ii

    Anexo 3 - Questionrio da Percepo da Imagem Corporal - Bruchon-

    Shweitzer (1987) (Adaptado e traduzido por Vasconcelos, 1995) ........iii

    Anexo 4 - Significado dos parmetros do questionrio ........................ iv

  • !!

  • !ix

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 - Frequncia das modalidades seleccionadas por sexo. ................69

    Figura 2 - Frequncia das modalidades seleccionadas por IMC. .................71

    Figura 3 - Opo dos adolescentes quanto preferncia por desporto

    competitivo ou no competitivo, em funo do sexo......................................73

    Figura 4 - Opo dos adolescentes quanto preferncia por desporto

    competitivo ou no competitivo, em funo do IMC.......................................74

    Figura 5 - Local de prtica elegido pelos adolescentes em funo do sexo. 74

    Figura 6 - Local de prtica elegido pelos adolescentes, em funo do IMC. 75

  • !!

  • !xi

    NDICE DE QUADROS

    Quadro 1 - Classificao da obesidade segundo o IMC (OMS, 2000) 10

    Quadro 2 - Classificao da obesidade atravs do IMC, segundo valores de

    corte especficos, para idades compreendidas entre os 2 e os 18 anos (Cole,

    Bellizzi, Flegal & Dietz, 2000) 12

    Quadro 3 - Actuao da AF na reduo do peso (Barata, 1997, p.274) 39

    Quadro 4 Recomendaes para a prescrio de exerccio (ACSM, 2003,

    p.139; Wallace, 1997, p. 111) 49

    Quadro 5 -Caracterizao da amostra relativamente ao sexo, IMC e idade.

    59

    Quadro 6 - xemplo do questionrio da PIC de Bruchon-Schweitzer (1990).

    61

    Quadro 7 Itens do questionrio da PIC de Bruchon-Schweitzer (1990) 62

    Quadro 8 - Frequncia por sexo das categorias de desportos seleccionados.

    69

    Quadro 9 - Frequncia por sexo, da modalidade de Futebol 69

    Quadro 10 - Valor do teste de Qui-quadrado, em funo do sexo, para a

    modalidade de Futebol. 70

    Quadro 11 - Frequncia por sexo, da modalidade de Natao 70

    Quadro 12 - Valor do teste de Qui-quadrado, em funo do sexo, para a

    modalidade de Natao 70

    Quadro 13 Frequncia por IMC, das categorias de desportos

    seleccionados 72

    Quadro 14 - Frequncia por IMC, da modalidade de Futebol 73

    Quadro 15 - Valor do teste de Qui-quadrado, em funo do IMC, para a

    modalidade de Futebol 73

    Quadro 16 PIC em funo do sexo. Mdia e desvio padro, valor de z e de

    p. 81

    Quadro 17 PIC em funo do IMC. Mdia e desvio padro, valor de z e de

    p. 83

  • !!

  • !xiii

    RESUMO

    O objectivo do nosso estudo consistiu em conhecer quais as modalidades

    preferidas, assim como avaliar a percepo da imagem corporal, atravs dos

    sentimentos e atitudes induzidas pelo prprio corpo, dos adolescentes

    normoponderais e com excesso de peso/obesos. A amostra foi constituda

    por 90 adolescentes, sendo 43 do sexo feminino e 47 do sexo masculino.

    Desta amostra 43 tm excesso de peso/obesidade, enquanto de 47

    adolescentes tm peso normal. Os adolescentes tm idades compreendidas

    entre os 10 e os 15 anos, sendo a mdia de idades de 12,17 0,96 anos. A

    recolha de dados foi realizada atravs de dois questionrios. Um questionrio

    permitia conhecer quais as modalidades preferidas dos adolescentes, se

    preferiam que fosse ou no desporto de competio e qual o local eleito para

    a prtica desportiva. Para a avaliao da percepo da Imagem Corporal foi

    utilizado o questionrio Body-Image Questionnaire de Bruchon-Shweitzer

    (1987). Foi utilizada a estatstica descritiva, a mdia e o desvio padro, para

    a anlise dos dados. Da estatstica inferencial foram utilizados o teste do qui-

    quadrado, o teste no paramtrico Mann Whitney e o teste Kruskal-Wallis. Os

    resultados obtidos nesta investigao mostram que: i) as modalidades

    preferidas pelas adolescentes do sexo feminino foram natao e futebol,

    enquanto que os adolescentes do sexo masculino elegeram futebol, seguido

    de andebol; ii) as opes dos adolescentes normoponderais e os que

    possuem excesso de peso/obesidade no diferiram, correspondendo a

    futebol e natao, para ambos os grupos; iii) para a percepo da imagem

    corporal em funo do sexo e do ndice de massa corporal, apenas foram

    encontradas diferenas estatisticamente significativas em determinados itens,

    podendo verificar-se que para o grupo de adolescentes com excesso de

    peso/obesidade, os valores so ligeiramente mais reduzidos; iv) no existe

    qualquer relao entre os desportos seleccionados pelos adolescentes com a

    percepo da imagem corporal.

    Palavras-chave: OBESIDADE, PERCEPO DA IMAGEM CORPORAL,

    ACTIVIDADE FSICA

  • !!

  • !xv

    ABSTRACT

    The purpose of the current study is to find out which are the kinds of sports

    that the majority of teenagers prefer and also to evaluate the Body Image

    Awareness through the feelings and attitudes performed for the body itself of

    overweight and non-obese adolescents. The sample was composed by 90

    teenagers: 43 girls and 47 boys; 43 of them are overweight and 47 have the

    standard weight. Their ages vary from 10 to 15 and the average age is 12,17

    0,96 years old. The data gathering was conducted by means of two

    questionnaires. One of them enabled the acknowledgement of which the

    favourite kind of sports, as far as the teenagers are concerned, were, taking

    into account if they preferred the sport at a competition level or just at regular

    one and, also, what should be the chosen place to practise it. The Body-

    Image Questionnaire by Bruchon-Shweitzer (1987) was applied to evaluate

    the insight of the Body-Image. The descriptive statistics, the average and the

    standard deviation were employed to analyse the data. From inferential

    statistics, the chi-square test, the non-parametric Mann Whitney test and the

    Kruskal-Wallis were applied. The results obtained through this survey

    demonstrate that: i) the teenage girls favourite sports were swimming and

    football, whereas the teenage boys decided on football followed by handball;

    ii) the choices of the normal weight and overweight adolescents were no

    different: football and swimming for both groups; iii) To match Body Image

    Awareness according to sex and the body mass index, significant statistical

    differences were only found in! particular items: for the overweight group of

    teenagers, the rates are slightly smaller; iv) There is absolutely no connection

    between the teenagers selected sports and the Body Image Awareness.

    Key words: OBESITY, BODY IMAGE AWARENESS, PHYSICAL ACTIVITY

  • !!

  • !xvii

    RSUM

    Le but de notre tude est de savoir quelles sont les modalits privilgies et

    dvaluer la perception de limage corporelle, travers les sentiments et

    attitudes induits par lorganisme de ladolescent ayant un poids normal et de

    ladolescent en surpoids/obses. Lchantillon tudi tait compos de 90

    adolescents, 43 de sexe fminin et 47 de sexe masculin. Parmi eux, 43 sont

    en adolescents ont un ge compris entre 10 et 15 ans et lge moyen est de

    12,170,96 ans. La collecte des donnes a t ralise grce deux

    questionnaires. Un de ces questionnaires a permis de dterminer le type

    dactivits sportives prfr des adolescents: le sport de comptition et le lieu

    choisi pour cette activit. Pour valuer la perception de limage corporelle,

    nous avons utilis le questionnaire Body Image Questionnaire, de Bruchon-

    Shweitzer (1987). Nous avons galement utilis des statistique infrentielle,

    nous avons utilis le test du chi-carr, le test nos paramtrique de Mann

    Whitney et le test Kruskal-Wallis. Les rsultats de cette enqute indiquent que

    la voie privilgie des adolescents sont la natation et le football, alors que les

    jeunes hommes ont choisi le football, el handball. Les choix des adolescents

    de poids normal et ceux en surpoids/obses ne diffrent pas trop, ce qui

    correspond au football et la natation, pour les deux groups. Pour la

    perception de limage corporelle par sexe et de lindice de masse corporelle

    on ne trouve que des diffrences statistiquement significatives concernant

    certains points : on peut voir que pour le groupe des adolescents en

    surpoids/obses, les valeurs sont lgrement infrieures, il ny a pas de lien

    clair entre les sports choisis par les adolescents et al perception de limage

    corporelle.

    Mots-cls: OBSIT, LA PERCEPTION DE LIMAGE CORPORELLE,

    LACTIVIT PHYSIQUE

  • !!

  • xix

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ACSM American College of Sports Medicine

    AF Actividade Fsica

    BIQ - Body-Image Questionnaire

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PIC Percepo da Imagem Corporal

  • !!

  • !!

    1. INTRODUO

  • !!

  • INTRODUO

    1

    1. INTRODUO

    A obesidade parece ser um dos flagelos mais importantes da

    sociedade contempornea, que afectam em particular os adolescentes, uma

    vez que esto numa fase marcada pelo desenvolvimento e transformaes a

    nvel fisiolgico, cognitivo, afectivo, social e moral, assim como no domnio da

    construo da sua identidade e autonomia (Sousa, 2008).

    A obesidade infantil est a aumentar em prevalncia, estando

    associada a numerosas enfermidades, no sendo muitas vezes passvel de

    tratamento, logo a preveno deve ser uma prioridade (MacKenzie, 2000).

    O excesso de peso nas crianas e nos jovens possui uma etiologia

    multifactorial, podendo a susceptibilidade gentica ser importante na

    explicao das diferenas individuais no ganho de peso. Contudo, o aumento

    da prevalncia global da obesidade nos jovens, demonstra que os

    comportamentos ligados dieta e actividade fsica [AF], so centrais para a

    causa da obesidade (Rennie, Johnson & Jebb, 2005).

    Da obesidade provm riscos de sade tais como a hipertenso,

    hipercolesterolemia, diabetes tipo 2, doenas cardiovasculares, osteoartrites,

    cancro (tero, prstata, mama, clon) e doenas da vescula (Dishman,

    Washburn & Heath, 2004). Contudo, aspectos sociais e emocionais

    associados ao excesso de peso so imediatos e aparentes, influenciando

    muitos aspectos do bem-estar da criana e do adolescente,

    independentemente dos seus efeitos na sade (Strauss & Pollack, 2003).

    Alm de todos os problemas de sade fsica associados obesidade,

    ainda importante referir os diversos problemas sociais e psicolgicos que

    desta advm. Deve tambm existir uma preocupao pela discriminao e

    vitimizao, a que esto sujeitas as crianas obesas (Must & Strauss, 1999).

    Coligados obesidade surgem distrbios psicossociais e emocionais,

    acompanhados de depresso, ansiedade e diminuio da auto-estima,

    distrbios estes originados pela rejeio social, num contexto social onde h

    a primazia da beleza fsica conduzindo discriminao educativa, social e

    culminando no isolamento social (Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin &

    Silva, 2009).

  • INTRODUO

    2

    A obesidade deve ser entendida no como um problema individual,

    mas sim um problema da populao, devendo ser abordada como tal.

    Estratgias eficazes de preveno e de gesto da obesidade exigem uma

    abordagem integrada, envolvendo aces em todos os sectores da

    sociedade (Organizao Mundial da Sade [OMS], 2000).

    A escola surge como um vector primordial na preveno da obesidade,

    podendo intervir ao nvel da educao alimentar e do gosto pela prtica de

    exerccio fsico. importante o envolvimento da famlia e de toda a

    comunidade, para a obteno de resultados de forma consistente, bem como

    a criao de condies para que os comportamentos aprendidos na escola

    possam ser postos em prtica (Coelho et al., 2008).

    A adolescncia assim um perodo complexo e de considervel risco

    para a sade, contudo pode tambm ser um tempo crtico para as

    intervenes da promoo de sade e de estilos de vida saudveis (Oliveira,

    Albuquerque, Carvalho, Sendin & Silva, 2009).

    importante identificar estratgias sobre como ampliar a prtica

    desportiva na adolescncia. Uma possibilidade seria focar as iniciativas nas

    actividades que, no momento, despertam o interesse e a curiosidade do

    pblico jovem (Jnior, Arajo & Pereira, 2006).

    na adolescncia que se iniciam muitos dos comportamentos

    relevantes para a sade, tal como as escolhas alimentares e o exerccio

    fsico, comportamentos estes que influenciam a morbilidade e mortalidade

    neste fase da vida de cada jovem (Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin &

    Silva, 2009). Os mesmos autores referem a educao para a sade nos

    adolescentes como uma rea de preocupao, pois nesta fase pode existir

    uma experimentao de comportamentos de risco e o incio de padres que

    se mantm na vida adulta. fundamental reconhecer e estimular

    precocemente hbitos alimentares saudveis e de AF, estabelecendo e

    reforando os mesmos costumes nesta fase e sobretudo os comportamentos

    futuros, na vida adulta.

    Os pais tm o papel de transmitir valores, que ajudem os adolescentes

    a modelar os seus comportamentos quer nas escolhas alimentares, como na

    AF. A aprendizagem de estilos de vida saudveis devem iniciar-se desde

  • INTRODUO

    3

    muito cedo, sendo essencial que as crianas e os adolescentes aprendam a

    apreciar a prtica de desporto, quer na escola como nos tempos de lazer

    (Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin & Silva, 2009).

    Marques e Gaya (1999), entendem que a escola pode situar-se no

    centro das preocupaes com a educao para a sade, principalmente pelo

    facto, de grande parte das crianas e jovens terem acesso escola, e nela

    participarem nas aulas de educao fsica. Esta razo torna assim a escola

    numa instituio privilegiada de interveno. Devem ser garantidas por esta,

    estratgias que permitam ao aluno reconhecer as bases de apoio

    manuteno da sua sade. Assim, a escola deve ser uma fonte de

    informao, e conceder meios que suportem a manuteno da sade no

    futuro (Mota, 1999).

    Aliados escola devem surgir os clubes, juntos devem proporcionar a

    formao desportiva e motora dos jovens, conseguida atravs da formao

    pedaggica do professor de educao fsica (Marques, 1999).

    O perodo da adolescncia assim marcado pelo crescimento,

    havendo importantes modificaes corporais, tornando os adolescentes

    vulnerveis a excessos e desequilbrios nutricionais (Oliveira, Albuquerque,

    Carvalho, Sendin & Silva, 2009).

    Os adolescentes podem apresentar sentimentos negativos acerca de

    si prprios, com as transformaes que sofrem na aparncia fsica (Anastcio

    & Graa Simes, 2006). Para alm das alteraes do ponto de vista

    biolgico, em que o adolescente tem que se confrontar com o seu corpo em

    transformao ao nvel da estatura, peso, distribuio de massa adiposa,

    problemas na pele, mudana de traos fisionmicos e mudanas ligadas ao

    aparecimento de caractersticas sexuais secundrias (peito, pelos pbicos,

    voz), tambm do ponto de vista afectivo, cognitivo e social, se fazem sentir

    essas alteraes (Nodin, 2001).

    Pertencemos a uma sociedade onde a imagem e a aparncia, a

    beleza, a juventude e perfeio fsica, so fundamentais. A obesidade uma

    condio que no tem lugar na actual poca, podendo esta alterar a imagem

    dos indivduos (Bento, 2004).

  • INTRODUO

    4

    A cultura ocidental moderna enfatiza o corpo magro, denegrindo o

    excesso de peso, estigmatizando os indivduos obesos, tornando provvel

    que estas pessoas interiorizem estas mensagens, sentindo-se mal com a sua

    presena fsica. A obesidade surge aliada a uma imagem corporal pobre,

    tornando as pessoas mais vulnerveis (Schwartz & Brownell, 2004).

    A imagem corporal pode ser entendida como uma idealizao

    multidimensional definida e influenciada por indicadores fsicos, pelos outros

    e pelo estatuto socioeconmico (Cash & Brown, 1987), sendo importante

    para a sua formao as relaes sociais, culturais, psicolgicas e fisiolgicas

    (Schilder, 1968). A imagem corporal no somente a imagem que o

    indivduo percepciona sobre o seu prprio corpo, mas tambm a forma como

    outros indivduos o vem (Fallon, 1990).

    A imagem corporal no apenas uma fotografia subjectiva do nosso

    corpo, a impresso reflectida das nossas dimenses, formas e peso, mas

    tambm uma construo permanente, em que intervm os nossos

    sentimentos e as nossas respostas aos valores, atitudes, modelos e opinies

    vigentes num determinado contexto (Sobral, 1995).

    Os adolescentes manifestam uma imagem corporal positiva, sendo o

    peso o que mais insatisfaz particularmente nas raparigas (Anastcio & Graa

    Simes, 2006). Uma considervel proporo de crianas e adolescentes de

    ambos os sexos prefere ter uma imagem corporal relacionada com a

    magreza, sendo esta tendncia tanto maior quanto maior a magnitude da

    obesidade (Silva, Rego, Camila, Azevedo & Guerra, 2008).

    A AF deve fazer parte de um plano de preveno e tratamento da

    obesidade. Sallis e Patrick (1994), sugeriram que deveria haver um aumento

    da promoo da AF nas idades peditricas de forma a prevenir os riscos de

    mortalidade, bem como contributo para um estilo de vida saudvel,

    aumentando assim a probabilidade de se tornarem adultos activos. Deste

    modo, com o desenvolvimento de um estilo de vida activo nas crianas

    obesas, possvel alcanar mltiplos benefcios, actuando nos problemas

    fsicos e psicolgicos (Bouchard & Blair, 1999). A AF tambm tem sido

    associada a benefcios psicolgicos nos jovens. A participao na AF pode

    ajudar no desenvolvimento social dos jovens, proporcionando oportunidades

  • INTRODUO

    5

    para a auto-expresso, a busca da auto-confiana, interaco social e de

    integrao (OMS, 2008a).

    Vrios estudos demonstraram que o prazer, o bem-estar e o

    divertimento, mais que a melhoria da aptido fsica, ou mesmo os factores

    estticos, que condicionam a prtica e as escolhas de participao nas

    actividades fsicas desportivas (Mota & Sallis, 2002).

    Posto isto, como o nosso estudo pretendemos conhecer quais os

    desporto preferidos pelos adolescentes normoponderais e com excesso de

    peso/obesidade, bem como a sua relao como a percepo da imagem

    corporal.

  • 2. REVISO DA LITERATURA

  • !!

  • REVISO DA LITERATURA

    9

    2. REVISO DA LITERATURA

    2.1. Obesidade

    2.1.1. Definio e caracterizao

    A obesidade infantil constitui um dos maiores desafios para a sade

    peditrica no sculo XXI (Wardle, 2005). A anlise do conceito de obesidade

    tem sido alvo da ateno da comunidade cientfica internacional, sendo

    conhecida como a doena nutricional mais sria e preponderante nos pases

    industrializados, e considerada como um problema clnico difcil (Rocchini,

    1993).

    A obesidade definida como uma condio anormal de excesso de

    gordura acumulada no tecido adiposo, que coloca em perigo a sade (OMS,

    2000).

    De acordo com o Amrican College of Sports Medicine ([ACSM],

    2006), a obesidade define-se como a quantidade percentual de gordura

    corporal acima do qual o risco de doena aumenta, ou de uma forma simples,

    a obesidade corresponde a um aumento exagerado de reservas lipdicas

    armazenadas no tecido adiposo.

    Segundo a International Obesity Task Force, a obesidade uma

    condio complexa de dimenses sociais, biolgicas e psicossociais

    considerveis, podendo eventualmente afectar qualquer pessoa de qualquer

    idade ou grupo socioeconmico, em qualquer parte do mundo (Santos,

    2004).

    Bar-Or e Barnowski (1994), definem adiposidade como sendo a

    quantidade de gordura corporal, apresentada como massa (peso) ou como

    uma percentagem de massa corporal total. Assim, obesidade entendida

    como o estado acima da adiposidade anormal, a partir da qual h maior

    probabilidade de ocorrer problemas de sade.

    possvel falar num sistema de classificao da obesidade fenotpica

    (Tipo I: Excesso de massa corporal ou percentagem de gordura; Tipo II:

  • REVISO DA LITERATURA

    10

    Excesso de gordura subcutnea tronco-abdominal (andride); Tipo III:

    Excesso de gordura abdominal visceral; Tipo IV: Excesso de e gordura

    glteo-femoral (andride)), na morfologia da gordura celular (obesidades

    hiperplsica ou hipertrgica) e o estado de sade (obesidade leve ou

    mrbida) (Wallace, 1997).

    Os indivduos obesos diferem no apenas pelo excesso de peso mas

    tambm pela distribuio de gordura pelo corpo. Esta distribuio afecta o

    risco associado obesidade e aos tipos de doena que da resultam.

    possvel distinguir entre os que tm elevado risco, resultado da distribuio

    da gordura na regio abdominal, denominada de obesidade andride, com a

    obesidade ginide, em que a gordura mais uniformemente e

    perifericamente distribuda por todo o corpo, estando associada a um menor

    risco de doena (OMS, 2000; Hills & Wahlqvist, 1994).

    Pretende-se com a definio de excesso de peso e obesidade, prever

    os riscos para a sade e fornecer as comparaes entre as populaes

    (Cole, Bellizzi, Flegal & Dietz, 2000). Utiliza-se comummente o ndice de

    massa corporal [IMC] na populao adulta, sendo reconhecido o ponto de

    corte de 25kg/m2 para adultos com excesso de peso, e de 30 kg/m2 para

    adultos obesos (Cole, Bellizzi, Flegal & Dietz, 2000; OMS, 2000).

    O IMC simplesmente uma relao entre o peso e o quadrado da

    altura (peso-Kg/altura!-m!). Por exemplo, um adulto que pese 70Kg e mea

    1,75m, ter um IMC de 22,9 (OMS, 2000).

    A OMS (2000), classifica a obesidade de acordo com o IMC,

    associando o valor a um risco de doenas, tal como podemos verificar no

    quadro que se segue.

    Quadro 1 - Classificao da obesidade segundo o IMC (OMS, 2000).

    Classificao IMC Risco de doenas

    Baixo peso

  • REVISO DA LITERATURA

    11

    A OMS (2000) refere a falta de coerncia e de acordo entre os estudos

    e a classificao da obesidade na infncia e na adolescncia, salientando a

    necessidade de um sistema de classificao padronizado mundialmente.

    Durante a infncia e a adolescncia mais complicado classificar a

    obesidade, uma vez que a altura ainda est a aumentar e a composio

    corporal est em contnua mutao (OMS, 2000).

    As crianas so um grupo populacional, onde ser de esperar que os

    efeitos de uma interveno estratgica, sobre a obesidade, seja aparente.

    Neste grupo existe um potencial superior para retornar a um crescimento

    saudvel, com parmetros normais. Habitualmente as crianas aprendem a

    partir de um estilo de comportamentos, sendo estas mais flexveis na sua

    capacidade de mudana de comportamento, relativamente aos adultos

    (Steinbeck, 2001).

    Dado que na infncia o IMC muda substancialmente, foi proposto por

    Cole, Bellizzi, Flegal e Dietz (2000), o estabelecimento de uma definio

    standard, com pontos de corte especficos para idades compreendidas ente

    os 2 e os 18 anos, baseada nos valores de IMC de 25 e 30 kg/m2, para

    excesso de peso e obesidade respectivamente (Quadro 2).

  • REVISO DA LITERATURA

    12

    Quadro 2 - Classificao da obesidade atravs do IMC, segundo valores de corte

    especficos, para idades compreendidas entre os 2 e os 18 anos (Cole, Bellizzi, Flegal &

    Dietz, 2000).

    IMC 25 kg/m2 IMC 30 kg/m2 Idade (anos)

    Rapazes Raparigas Rapazes Raparigas 2 18.41 18.02 20.09 19.81

    2.5 18.13 17.76 19.80 19.55 3 17.89 17.56 19.57 19.34

    3.5 17.69 17.40 19.39 19.23 4 17.55 17.28 19.29 19.15

    4.5 17.47 17.19 19.26 19.12 5 17.42 17.15 19.30 19.17

    5.5 17.45 17.20 19.47 19.34 6 17.55 17.34 19.78 19.65

    6.5 17.71 17.34 20.23 20.08 7 17.92 17.75 20.63 20.51

    7.5 18.16 18.03 21.09 21.01 8 18.44 18.35 21.60 21.57

    8.5 18.76 18.69 22.17 22.18 9 19.10 19.07 22.77 22.81

    9.5 19.46 19.45 23.39 23.46 10 19.84 19.86 24.00 24.11

    10.5 20.20 20.29 24.57 24.77 11 20.55 20.74 25.10 25.42

    11.5 20.89 21.20 25.58 26.05 12 21.22 21.68 26.02 26.67

    12.5 21.56 22.14 26.43 27.24 13 21.91 22.58 26.84 27.76

    13.5 22.27 22.98 27.25 28.20 14 22.62 23.34 27.63 28.57

    14.5 22.96 23.66 27.98 28.87 15 23.29 23.94 28.30 29.11

    15.5 23.60 24.17 28.60 29.29 16 23.90 24.37 28.88 29.43

    16.5 24.19 24.54 29.14 29.56 17 24.46 24.70 29.41 29.69

    17.5 24.73 24.85 29.70 29.84 18 25 25 30 30

    2.1.2. Etiologia da Obesidade

    O excesso de peso nas crianas possui uma etiologia multifactorial,

    podendo a susceptibilidade gentica ser uma inter-ajuda na explicao das

    diferenas individuais no ganho de peso. Contudo, o aumento da prevalncia

    global da obesidade em crianas, demonstra que os factores ambientais,

    particularmente os comportamentos ligados dieta e AF, so centrais para a

    causa da obesidade (Rennie, Johnson & Jebb, 2005).

  • REVISO DA LITERATURA

    13

    Para Jebb e Moore (1999), a etiologia do excesso de peso e da

    obesidade envolve factores como o comportamento alimentar, mecanismos

    de armazenamento de gordura, influncias genticas, fisiolgicas, ambientais

    e medicamentosas, sendo ainda reforada a importncia dos factores sociais

    por Rossner (2002).

    De acordo com Hill e Melanson (1999), a explicao provvel para a

    alta prevalncia de obesidade um envolvimento que produz uma presso

    constante sobre o balano energtico e que desencoraja a AF, referindo

    tambm que os factores ambientais sero os principais responsveis pela

    doena.

    A obesidade uma condio que tem complexos factores que actuam

    em vrios nveis. Para compreender o impacto desses factores, importante

    identificar nveis prximos a cada cidado, sendo eles: factores individuais

    (e.g. consumo alimentar), interpessoais (crenas parentais e/ou

    conhecimentos), de organizao (menus escola/almoo), e do

    governo/poltica (rotulagem dos alimentos orientaes). Embora nem todos

    os factores possam estar relacionados com os nveis mencionados, este

    um instrumento til para o entendimento deste complexo sndrome. Este

    modelo implica que as intervenes devero resultar da interaco de pelo

    menos dois nveis (British Medical Association, 2005).

    Pode ser errado atribuir como nica causa da obesidade a inactividade

    fsica, uma vez que esta pode ser resultado da inapropriada energia ingerida.

    Assim, a obesidade resulta no apenas da inactividade fsica, mas tambm

    da falta de correspondncia entre a energia ingerida e a dispendida

    (Bouchard, Shephard & Stephens, 1993b).

    Sabe-se que o acmulo de gordura se d pelo balano energtico

    positivo, ou seja, mais energia ingerida do que gasta. Contudo, existe um

    conjunto de razes individuais fisiolgicas, psicolgicos, hormonais, sociais

    e ambientais (Nahas, 1999).

    O balano energtico que explica a obesidade tem sido includo no

    Modelo Ecolgico, explicado por Swinburn e Egger (2002), que permite

    identificar o papel das influncias do envolvimento no balano energtico.

    Neste modelo o agente simboliza a via final, definida como equilbrio de

  • REVISO DA LITERATURA

    14

    energia positiva que leva ao ganho de peso. Os elementos deste modelo

    ecolgico podem ser convertidos na trada epidemiolgica clssica

    hospedeiro, condutores e envolvimento. Esta trada epidemiolgica

    considerada como norteadora no controlo desta epidemia e nas estratgias

    contra o aumento do peso. Nesta trada podemos observar (i) os condutores

    (ou seja, factores que condicionam determinada situao), que representam

    o gasto de energia, aparecendo como mediadora a inactividade fsica e todas

    as mquinas que diminuem o trabalho fsico, bem como os alimentos e

    bebidas de elevado teor calrico; (ii) o hospedeiro, que inclui todos os

    factores relacionados com os indivduos, incluindo os factores biolgicos e

    metablicos, conhecimentos, comportamentos e atitudes; por ltimo (iii) o

    envolvimento que incorpora os aspectos econmicos, polticos e

    socioculturais. Embora esta trada englobe diferentes estratgias de

    interveno, todas elas esto interligadas, sendo necessrio tratar de todas

    em conjunto para que seja alcanado o sucesso (Swinburn & Egger, 2002).

    Alguns estudos tm demonstrado que os factores genticos

    desempenham um papel importante no desenvolvimento da obesidade. No

    entanto, a interaco da gentica com factores ambientais igualmente

    importante, ou seja, a susceptibilidade obesidade em parte determinada

    pelos factores genticos, mas necessrio um ambiente obesognico para a

    sua expresso fenotpica (Loos & Bouchard, 2003).

    Egger e Swinburn (1997), salientam a importncia das influncias

    ambientais para o desenvolvimento da obesidade. Os autores classificam o

    ambiente em macro, que determina a prevalncia da obesidade numa

    populao, e em micro, que aliado ao comportamento biolgico e s

    influncias comportamentais, ir determinar se um indivduo ser ou no

    obeso. Este ambiente influencia na quantidade e no tipo de alimentos

    ingeridos e na quantidade e tipo de AF adoptados. As influncias ambientais

    representam o brao da sade pblica do problema da obesidade, isto , se o

    macro ambiente for obesognico ento a obesidade torna-se mais

    prevalente, e os programas com objectivo de influenciar o comportamento

    individual podem vir a ter um efeito limitado. Tem-se verificado que o

  • REVISO DA LITERATURA

    15

    problema da obesidade apenas controlado aps terem sido modificados os

    factores ambientais.

    O aumento da obesidade tem sido demasiado rpido para indicar os

    factores genticos como causa primria. Assim, a epidemia deve reflectir

    sobretudo nas mudanas dos padres alimentares e nos nveis de AF.

    Vivemos num ambiente que incentiva e promove a alta ingesto calrica

    (Egger & Swinburn, 1997), o que muitas vezes pode condicionar os pais de

    darem aos seus filhos uma alimentao equilibrada e um estilo de vida

    saudvel (British Medical Association, 2005).

    Dietz (1998), afirma que a maturao na puberdade, por si s, pode

    representar uma determinante biolgica adicional.

    O estilo de vida actual, sedentrio, parece ser to importante como a

    dieta no desenvolvimento da obesidade (Rossner, 2002), sendo esta

    condio um factor de risco para o ganho de peso com a idade (Bouchard,

    2000).

    O aumento do excesso de peso e da obesidade entre os jovens pode

    estar associado diminuio da AF (Hill & Melanson, 1999). Um estudo de

    Epstein, Smith, Vara e Rodefer (1991), revelou que crianas obesas

    escolheram actividades sedentrias independentemente do custo. Crianas

    magras e moderadamente obesas substituram a actividade vigorosa,

    aumentando o sedentarismo.

    So vrios os autores que referem a influncia dos meios de

    comunicao social, mais concretamente da televiso, como causa da

    obesidade. Existe uma forte relao entre ver televiso e o IMC, convidando

    esta a um estilo de vida sedentrio. O aumento da adiposidade tem sido em

    grande parte atribudo ao elevado nmero de horas a ver televiso e a um

    estilo de vida sedentrio. A exposio publicidade com comida, em especial

    sobre fast-food, pode influenciar as escolhas dos espectadores para comidas

    ricas em energia e gordura (Rossner, 2003; Treuth et al., 2001).

    A televiso est directamente relacionada com a obesidade infantil,

    no s pela inactividade fsica, mas tambm pela energia consumida

    (Lumeng, Appupliese, Cabral, Bradley & Zuckerman, 2006). Esta afirmao

    reforada pelos nmeros que nos so apresentados em alguns estudos, que

  • REVISO DA LITERATURA

    16

    demonstram que a preferncia por determinadas comidas influenciada em

    30% pela exposio aos anncios da televiso (Wilson, Quigley & Mansoor,

    1999). A fast-food exposta s crianas atravs dos brinquedos e eventos

    sociais. importante estimular hbitos alimentares saudveis e a prtica de

    AF, bem como limitar a exposio televiso (Malecka-Tendera & Mazur,

    2006).

    2.1.3. Prevalncia da Obesidade

    O excesso de massa adiposa tornou-se num dos principais problemas

    de sade infantil nos pases desenvolvidos e noutras partes do mundo

    (Ebbeling, Pawlak & Ludwig, 2002). Esta afirmao ganha relevo quando

    observamos as prevalncias no mundo, e particularmente, em Portugal.

    Durante as ltimas duas dcadas, a prevalncia de obesidade em crianas

    tem aumentado consideravelmente (Ebbeling, Pawlak & Ludwig, 2002).

    A obesidade passou a ser considerada uma epidemia do sculo XXI

    (Rossner, 2002), sendo esta afirmao reforada pelos valores apresentados

    pela Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade. Esta entidade

    afirmou que em 2000, 35% da populao portuguesa entre os 18 e os 65

    anos tinha excesso de peso e 14.4% eram obesos (Nobre, Jorge, Macedo &

    Castro, 2003).

    Carmo et al. (2008), realizaram um estudo sobre a prevalncia da

    obesidade entre 2003 e 2005, com uma amostra constituda por 8116

    participantes com idades compreendidas entre os 18 e os 64 anos, a partir da

    qual foi possvel fazer o levantamento dos valores de IMC. Os autores

    concluram, que 2,4% da amostra total apresentou baixo peso (IMC

  • REVISO DA LITERATURA

    17

    prevalncias de 19,1% e 10,3% nos rapazes e 21,4% e 12,3% nas raparigas,

    respectivamente, de excesso de peso e obesidade (Padez, Fernandes,

    Mouro, Moreira & Rosado, 2004), definidos de acordo com os valores de

    corte de IMC propostos por Cole, Bellizzi, Flegal e Dietz (2000). No mesmo

    estudo foi verificado que as crianas portuguesas apresentavam os segundos

    valores mdios mais altos em excesso de peso/obesidade,

    comparativamente com os outros pases europeus (31.5%).

    2.1.4. Consequncias da Obesidade

    De acordo com Lissner (1997), a sociedade equipara a magreza

    beleza, sade, ao sucesso, aptido e ao auto-controle, e outros atributos

    positivos, enquanto a obesidade considerada indesejvel por razes que

    so muitas vezes mais relacionadas com a cosmtica do que as potenciais

    complicaes mdicas.

    A obesidade infantil era apenas contemplada como um problema

    cosmtico, uma vez que os problemas de sade apenas surgiam se esta

    permanece-se na idade adulta (Dietz, 2002). Contudo, entende-se que a

    obesidade e o estilo de vida sedentrio, so dois factores de maior risco de

    doenas no mundo ocidental, suportando enormes custos econmicos e de

    sade. Ambos so reconhecidos como importantes factores de risco para

    doenas cardiovasculares, hipertenso e outras condies debilitadoras

    (Bouchard, 2000).

    A obesidade um factor de risco varivel das doenas

    cardiovasculares (Bar-Or & Barnowski, 1994), e muitas das consequncias

    cardiovasculares que caracterizam a obesidade adulta, so precedidas de

    anormalidades que comeam na infncia, como hiperlipidemia, hipertenso e

    tolerncia anormal glicose, que ocorre com maior frequncia em crianas e

    adolescentes obesos (Dietz, 1998).

    Dietz (1995), enumera algumas das sequelas provenientes da

    obesidade, como mudanas no crescimento, consequncias psicossociais,

    problemas ortopdicos, dificuldades respiratrias, metabolismo de glicose

    anormal, hipertenso, hiperlipidemia e persistncia da obesidade em adulto.

  • REVISO DA LITERATURA

    18

    Outros riscos para a sade provenientes da obesidade so a

    hipertenso, a hipercolesterolemia, a diabetes tipo 2, doenas

    cardiovasculares, osteoartrites, cancro (tero, prstata, mama, clon) e

    doenas da vescula (Dishman, Washburn & Heath, 2004).

    Segundo Barata (1997), possvel classificar os inconvenientes

    associados obesidade, em trs grupos: malefcios clnicos, diminuio da

    capacidade desportiva e problemas estticos e psquicos. Nas

    consequncias clnicas, so descritas variadas patologias agregadas

    obesidade, entre as quais podemos destacar o maior risco hipertenso

    arterial, hiperinsulinismo, insulino-resistncia, diabetes tipo 2, perturbaes

    ortopdicas, entre outras. As doenas metablicas e as cardiovasculares

    esto normalmente associadas obesidade andride, enquanto as

    ortopdicas e reumatismais so causadas pelo excesso de massa corporal

    total (Barata, 1997).

    Podemos associar obesidade mltiplas complicaes de ordem

    fsica, contudo os aspectos sociais e emocionais do excesso de peso so

    imediatos e aparentes, e influenciam muitos aspectos do bem-estar da

    criana e do adolescente, independentemente dos seus efeitos na sade

    (Strauss & Pollack, 2003).

    Barata (1997), menciona similarmente as consequncias em termos

    estticos e psquicos, tendo em considerao que os ideais de beleza so

    sinnimo de magreza, estando associados a formas de sucesso, definidos

    por tendncias que no se enquadram com a natureza e com os genes da

    grande parte dos indivduos. Este conceito e contexto esttico, proporciona

    nos jovens saudveis um sentimento de infelicidade em relao sua auto-

    imagem, conduzindo adopo de prticas prejudiciais, sejam elas

    alimentares ou medicamentosas (Barata, 1997).

    A obesidade est associada a consequncias fsicas e mentais a longo

    prazo. Mesmo durante a adolescncia, a obesidade est relacionada no s

    com os problemas fsicos, mas tambm com as preocupaes psicossociais

    (Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin & Silva, 2009).

    Coligados obesidade surgem distrbios psicossociais e emocionais,

    acompanhados de depresso, ansiedade e diminuio da auto-estima,

  • REVISO DA LITERATURA

    19

    distrbios estes originados pela rejeio social, num contexto social onde h

    a primazia da beleza fsica conduzindo discriminao educativa, social e

    culminando no isolamento social (Oliveira, Albuquerque, Carvalho, Sendin &

    Silva, 2009). Certas circunstncias sociais podem ser predisponentes ao

    desenvolvimento do problema da obesidade, parecendo que este problema

    crie tambm condies que levam a distrbios psicossociais (Lissner, 1997).

    A discriminao para com as crianas obesas comea na infncia.

    Estas por serem mais altas que os seus pares tendem a ser vistas como mais

    maduras, levando criao de expectativas inadequadas que podem ter um

    efeito adverso sobre a socializao (Dietz, 1998).

    O preconceito perante o excesso de peso, possui implicaes para o

    bem-estar psicolgico dos indivduos obesos, podendo aumentar a

    vulnerabilidade depresso, baixa auto-estima, pobre percepo da

    imagem corporal, e outros transtornos psiquitricos (Puhl & Heuer, 2008). As

    crianas obesas esto assim mais susceptveis a experienciar problemas

    psicolgicos ou psiquitricos quando comparadas com crianas no obesas,

    sendo as raparigas que esto em maior risco. O risco de patologias

    psicolgicas aumenta com a idade, sendo a baixa auto-estima normalmente

    associada obesidade (Reilly et al., 2003).

    Dada a importncia de normas da aparncia dos seus pares, da

    imagem do corpo, e a aptido fsica ao desenvolvimento social e emocional,

    o excesso de peso pode ter implicaes durveis para o desenvolvimento

    infantil e o bem-estar do adolescente (Strauss & Pollack, 2003).

    Existe uma clara e consistente discriminao e preconceito, podendo

    em alguns casos ser documentados em trs reas importantes da vida do

    indivduo, como no emprego, na educao e nos cuidados de sade (Puhl &

    Brownell, 2001), tendo implicaes significativas no bem-estar fsico e

    emocional (Carr & Friedman, 2005).

    Puhl e Brownell (2001), acrescentam no caso particular da educao,

    que o preconceito e a rejeio de crianas obesas nas escolas so um

    importante problema social, uma realidade que pode ocorrer em muitas

    reas que afectam a sade e o bem-estar dos sujeitos.

  • REVISO DA LITERATURA

    20

    Alm da vulnerabilidade aumentada na reas relatadas anteriormente,

    os indivduos obesos podem igualmente enfrentar o estigma em

    relacionamentos interpessoais. Estudos recentes tm cada vez mais

    documentados preconceitos por parte dos parceiros, dos familiares e amigos,

    especialmente para mulheres obesas. Os indivduos obesos (particularmente

    as mulheres), parecem assim confrontar o preconceito e esteretipos

    negativos dentro de uma escala de relacionamentos (Puhl & Heuer, 2008).

    No estudo realizado por Strauss e Pollack (2003), foi concludo que

    geralmente reconhecido que o excesso de peso e a obesidade tm um

    impacto negativo sobre a auto-imagem e a auto-estima em crianas e

    adolescentes. Neste estudo, os autores avaliaram o impacto que o excesso

    de peso na infncia pode ter nas amizades, concluindo que este grupo de

    crianas tm menos e amizades menos recprocas. Alguns estudos

    demonstram que as crianas obesas tm significativamente menos amigos

    que as crianas com peso normal (Strauss, 2000).

    O preconceito que existe face obesidade no baseado nos riscos

    para a sade associados a esta, mas atribudo personalidade, tais como

    ser preguioso ou ignaro (Rukavina & Li, 2008).

    A obesidade similarmente susceptvel para o envolvimento de

    bullying tanto para os rapazes como para as raparigas, os pr-adolescentes

    obesos so os mais provveis de ser vtimas de bullying uma vez que se

    afastam dos ideais da aparncia. Outros meninos obesos podem ser tambm

    os provocadores, presumivelmente devido sua dominncia fsica (Griffiths,

    Wolke, Page & Horwood, 2006).

    As crianas com excesso de peso e as obesas, em idade escolar, so

    mais susceptveis de serem vtimas de comportamentos de bullying, que os

    seus pares com peso normal. Estas tendncias podem dificultar, a curto e a

    longo prazo, o desenvolvimento social e psicolgico dos jovens (Janssen,

    Craig, Boyce & Pickett, 2004).

  • REVISO DA LITERATURA

    21

    2.1.5. Estratgias de Preveno e Tratamento da Obesidade

    A obesidade no apenas um problema individual, trata-se de um

    problema da populao, devendo ser abordada como tal. Eficazes estratgias

    de preveno e de gesto da obesidade exigem uma abordagem integrada,

    envolvendo aces em todos os sectores da sociedade (OMS, 2000). Assim,

    o primeiro passo para a preveno da obesidade deve incidir na identificao

    dos factores de alto risco (Dietz, 1995).

    Os casos de excesso de peso e de obesidade moderada, devem ser

    tratados com terapias comportamentais, ou seja, com a alimentao e AF.

    Em casos graves, deve haver um acompanhamento mdico, de forma a

    serem utilizados outros recursos, como medicamentos ou at cirurgias, sendo

    fundamental o acompanhamento psicolgico. A maioria dos casos de

    excesso de peso e obesidade moderada pode ser tratada com terapias

    comportamentais, nomeadamente, alimentao e exerccio fsico (Nahas,

    1999). Uma estratgia eficaz para a preveno de excesso de peso, ser a

    promoo e incremento dos ndices de AF diria, atravs de programas

    estruturados (Rego et al., 2004).

    Em crianas e adolescentes mais difcil quantificar qual o gasto

    energtico necessrio para que seja possvel obter efeitos benficos na

    sade. No entanto, para a preveno da obesidade, deve existir um equilbrio

    entre a energia consumida e a despendida. A energia despendida inclui a

    taxa metablica de repouso, a termognese e a AF, no entanto, apenas a AF

    considerada como favorvel para os programas de preveno da

    obesidade (Davis et al., 2007).

    A AF contribui para a perda de peso e ajuda a minimizar o ganho do

    mesmo, que ocorre comummente com o avano da idade (Dishman,

    Washburn & Heath, 2004). A AF regular importante, uma vez que a

    obesidade infantil tem maior correlao com a pouca AF, do que com a

    ingesto calrica (Dubois, Hill & Beaton, 1979).

    A abordagem preventiva e teraputica da obesidade, passa por

    mltiplas intervenes, que vai desde a famlia escola, e pela aco de

    mltiplos profissionais, como o agente de sade e o professor de educao

  • REVISO DA LITERATURA

    22

    fsica. fundamental estimular mudanas de atitudes e proporcionar

    condies, sociais e materiais, para que as intervenes ao nvel dos hbitos

    alimentares e da AF envolvam mudanas de comportamentos, sendo assim

    realizadas transformaes nos estilos de vida (Sallis & Owen, 1999).

    A influncia dos pais e membros da famlia nos comportamentos da

    criana no totalmente compreendida e podem variar entre as populaes

    e culturas. Relativamente s crianas pequenas, os pais podem controlar o

    acesso a alimentos e AF, assim como influenciar a vida da criana em

    relao ao seu ambiente. O efeito da obesidade parental no ganho de peso

    nas crianas ilustra a complexidade da interaco entre factores, e os

    problemas em determinar quais os factores causais que so realmente

    importantes na obesidade, e quais os factores que so propcios a

    interveno (Rennie, Johnson & Jebb, 2005).

    Dietz (1995), salienta a importncia das crianas serem

    acompanhadas pelos seus pediatras desde muito cedo, para que mantenham

    o peso certo. O aconselhamento preventivo deve incidir nos comportamentos

    que reduzem o gasto energtico, podendo a reduo de cerca de 1 a 2 horas

    dirias, do tempo a ver a televiso, ser uma medida de preveno. Pretende-

    se com esta medida, ampliar o tempo disponvel em actividades que

    aumentem o gasto energtico.

    O exerccio por si s pode ser ineficaz no tratamento da obesidade, da

    mesma forma que a perda de peso conseguida atravs do exerccio no

    produz um declnio do gasto energtico, se no for acompanhado por uma

    restrio alimentar (Bouchard, Shephard & Stephens, 1993a).

    Steinbeck (2001), prope um conjunto de estratgias que devem ser

    impostas para a preveno da obesidade: (1) deve ser promovida na infncia

    uma reduo de actividades sedentrias, com especial ateno para a

    televiso. Para a aplicao desta estratgia devem estar envolvidos os pais

    assim como a escola; (2) as escolas devem promover actividades fsicas e a

    aprendizagem de competncias que permitam a sua manuteno ao longo da

    vida, sendo novamente crucial o apoio na escola e dos pais para a

    conservao de qualquer alterao; (3) necessrio ocorrer uma reviso e

    mudana de todo o envolvimento, de modo a permitir a que as crianas e

  • REVISO DA LITERATURA

    23

    famlia sejam mais activas fisicamente fora do horrio escolar; (4) devem ser

    implementadas estratgias para aumentar a AF e diminuir comportamentos

    sedentrios, quer em famlias com crianas obesas como para pais de

    crianas obesas. Tal aproximao requer um aumento de competncias nos

    profissionais de sade; (5) as estratgias devero incluir sempre uma

    avaliao das ferramentas utilizadas para a avaliao da AF, e uma

    apreciao de diferenas potenciais do gnero. Qualquer que seja a AF

    empregue, deve ter como alicerce o divertimento, a aptido e o bem-estar. O

    divertimento um factor essencial como ambiente que necessita de ser

    alterado para as crianas, ambiente esse que deve ser divertido,

    emocionante e interactivo.

    Sallis e Patrick (1994), sugeriram que deveria haver um aumento da

    promoo da AF nas idades peditricas de forma a prevenir os riscos de

    mortalidade, bem como contributo para um estilo de vida saudvel,

    aumentando assim a probabilidade de se tornarem adultos activos.

    Um dos locais mais privilegiados para atingir este objectivo so as

    aulas de Educao Fsica, uma vez que so a nica experincia de AF

    regular e organizada para muitas crianas (Mckenzie et al., 2004).

    Carmo (2001, cit. por Gonalves, 2007), afirma que a escola deve

    assumir a responsabilidade de levar a todos os jovens vivncias de lazer. Em

    todos os espaos disponveis pela escola, devero acontecer actividades

    dinamizadas com o intuito de contribuir para o desenvolvimento humano.

    As caractersticas dos espaos de lazer, disponibilizados pelas

    escolas, assumem-se como uma varivel estruturante no acesso ao lazer

    activo (Gonalves, 2007).

    Embora se assista democratizao da prtica desportiva, que

    permite que um maior nmero de jovens participe no desporto, observamos

    tambm a influncia da televiso e do computador, que tm marcado

    negativamente a participao desportiva dos jovens, devendo por isso ser

    tomadas medidas para que se previna a proliferao desta tendncia no

    futuro (De Knop et al., 1999).

    fundamental que as instituies responsveis pelo desenvolvimento

    desportivo, como a escola e os clubes, promovam a prtica desportiva, e

  • REVISO DA LITERATURA

    24

    actividades que correspondam s necessidades e motivaes de todos os

    jovens (Mesquita, 2004).

    Devem ser adoptadas medidas integradas de sade pblica,

    envolvendo principalmente as escolas, assim como organismos pblicos

    ligados rea de sade, do desporto e da AF, para que se actue na reduo

    da prevalncia da obesidade. Estas medidas, devem promover aces que

    visem a diminuio do consumo energtico, atravs do aumento da AF e da

    diminuio da ingesto calrica (Mota, 2002).

    fundamental a consciencializao dos pais, escola e comunidade em

    geral, para a promoo de actividades fsicas simples, que determinem um

    estilo de vida activo e reduzam comportamentos sedentrios, atitudes essas

    que devem ser encaradas como medidas de promoo de sade e

    preveno de doena (Mota, 2002).

    Em muitas escolas est implantado o desporto escolar, que possui

    objectivos especficos relativos organizao, sendo um deles Promover o

    combate inactividade fsica e a luta contra a obesidade (Ministrio da

    Educao, 2007). A Educao Fsica e o desporto escolar no devem ter

    apenas como objectivos o desenvolvimento das competncias motoras, de

    valores e atitudes, devem ainda assumir a funo de fomentar nas crianas o

    gosto e o entusiasmo pela prtica desportiva, assumindo-a como actividade

    integrante dum estilo de vida activo (Jones & Cheetham, 2001).

    Na opinio de Marques (1999), a escola deve ser parceira do clube,

    para proporcionar a formao desportiva pedaggica e motora dos jovens,

    conseguida atravs da formao pedaggica do professor de Educao

    Fsica.

    Assim sendo, segundo Mota e Sallis (2002), a AF em colaborao com

    uma dieta alimentar, so fundamentais para a manuteno de um peso

    corporal equilibrado.

  • REVISO DA LITERATURA

    25

    2.2. O Corpo e Imagem Corporal

    !

    2.2.1. O corpo na sociedade actual

    Na sociedade actual o corpo e o culto da beleza emergem como um

    principal factor da adolescncia, podendo causar uma insatisfao com a sua

    prpria aparncia, a um desajustamento psicolgico e a distrbios

    nutricionais (Sousa, 2008).

    O corpo um dos temas mais discutidos no mundo contemporneo,

    sendo objecto de estudos cada vez mais frequentes no domnio das cincias

    humanas e sociais. O corpo no s algo que nos pertence, mas sim o que

    somos; um instrumento e objecto de prazer, que primeiramente nos

    identifica e nos facilita a relao com os outros. Na sociedade ps-moderna

    predomina o ter sobre o ser, em que o corpo se transforma numa superfcie

    de projeco (Le Breton, 1999).

    O corpo parece regressar de um exlio, reavendo o lugar de suporte da

    identidade, ultrapassando o entendimento como objecto, permanecendo no

    centro da identidade pessoal, tal como Merleau-Ponty o situa (Bento, 1991).

    De acordo com Bento (1991), o corpo constante e mutvel, devendo

    ser vivido e interpretado luz de um corpo social.

    Merleau-Ponty (1964, cit. por Bento, 1991), retira o corpo da

    coisificao, instituindo-lhe um contguo de smbolos e significados, sendo ele

    um universo cultural, um artefacto scio-cultural. O corpo congrega o sentido

    da existncia humana e da qualidade de vida, ns somos o nosso corpo, do

    mesmo modo que este representa o que ns somos.

    Nesta sociedade de consumo imediato, o corpo aparece como um

    referencial palpvel, necessrio para um suporte individual e social, pelo que

    os indivduos tentam imitar os modelos corporais que lhe so veiculados

    pelos meios de comunicao social (Bento, 1991).

    na superfcie do nosso corpo que est tudo, e no para alm dessa

    visibilidade. O que nos visvel atravs do corpo mais importante do que

    todas as caractersticas individuais que no so visveis (Goethe, s.d., cit.

    Bento, 2007).

  • REVISO DA LITERATURA

    26

    Lipovetsky (1989), afirma que h um corpo que se v, um corpo que

    se sente e um corpo que se toca, e o corpo que est na moda o corpo que

    se v.

    O corpo cada vez mais, nos dias de hoje, um acessrio, que pode

    ser trabalhado e moldado para os outros o verem (Le Breton, 1999).

    Ao longo dos tempos, o corpo tem vindo a ser entendido de forma

    diferenciada, sendo valorizado de acordo com os cdigos culturais vigentes.

    Enquanto produto da biologia e da cultura, o corpo retrata com fidelidade a

    sociedade em que se insere (Garcia, 1997).

    A sociedade a que pertencemos vive da imagem e da aparncia, onde

    a beleza, a juventude e perfeio fsica, so ambies da actual poca. O

    sucesso definido por um aspecto padronizado pelo culto da beleza, lugar

    esse onde a obesidade no tem lugar. A obesidade altera a imagem dos

    indivduos, alm de originar marginalidade, que conduz a consequncias

    negativas no plano social, afectivo e psicolgico (Bento, 2004).

    O mundo ocidental est sujeito aco de esteretipos culturais,

    sendo o excesso de peso associado fealdade. Para a afirmao da mulher

    na sociedade, necessrio que atinja o peso imposto pelos cnones de

    beleza, sendo tambm fundamental para a construo da sua identidade. Os

    media constroem a idolatria e a glorificao de um corpo anormalmente

    esbelto, fazendo com que a mulher tenha a obrigao social de alcanar um

    corpo artificialmente magro (Apfeldorfer, 1997).

    Uma imagem ideal do corpo principalmente um fenmeno social

    construdo, pois a percepo de um indivduo sobre a sua forma do corpo

    afectada pelos comentrios dos seus referentes. Alguns estudos revelam que

    as interaces sociais com outras pessoas tm impacto significativo na

    imagem corporal do indivduo (Jones, Vigfusdottir & Lee, 2004).

    Na actualidade a conjuntura corporal estigmatizada pela esttica e

    pelo culto da imagem, produzindo nos obesos uma progressiva perda de

    humor, de auto-estima, um descontentamento e um sentimento de

    inferioridade e de falta de confiana em si e nos outros. Esta condio torna-

    se assim a sua nova identidade e nica companhia (Bento, 2004). O mesmo

    autor menciona Merleau-Ponty (1964), que define o corpo como um

  • REVISO DA LITERATURA

    27

    constructo scio-corporal, ou seja, ns somos o nosso corpo, sendo este a

    expresso do nosso ser.

    A condio dos obesos coligada a significados negativos de rejeio

    social, devido ao preconceito e discriminao, sendo categorizadas em

    funo dos meios que so estabelecidos pela sociedade. O Homem sente

    necessidade de ser aceite socialmente, logo os obesos, ao serem excludos

    directa ou indirectamente, passam a cultivar sentimentos negativos em

    relao sua prpria imagem (Moreira & Ramos, 2001).

    Para serem aceites pela sociedade, os obesos exibem

    comportamentos pouco exigentes, tornam-se passivos ou sociveis,

    tornando-se comum a excluso de tipos de actividades sociais e de lazer nas

    suas vidas (Moreira & Ramos, 2001).

    O obeso assim objecto de contradio, pois se a sociedade encoraja

    super alimentao, atravs da veiculao da propaganda de produtos

    alimentares, por outro lado, vivem em constante apelo, quer pelos mdicos

    ou por anncios, para emagrecerem (Moreira & Ramos, 2001).

    Actualmente ser obeso pertencer a uma categoria social distinta

    (Moreira & Ramos, 2001). Segundo Gitovake (1986, cit. por Moreira &

    Ramos, 2001), significa usar vestimentas adequadas, feitas por medida ou

    compradas em lojas especializadas, chamar a ateno e ser criticado. Ser

    obeso pertencer a uma classe inferior, ser sexualmente desinteressante e

    ter que ser grato e servil para ser aceite, podendo esta condio ser sinnimo

    de atraco de risos e de nomeao por apelidos depreciativos.

    2.2.2. Percepo da Imagem Corporal

    O conceito de imagem corporal foi definido pela primeira vez por

    Schilder (1935, cit. por Vasconcelos, 1995), que o considera como a

    representao que formamos mentalmente do nosso prprio corpo, a forma

    como o vemos, podendo esta imagem ser alterada com o tempo e segundo

    as situaes.

    Na formao da imagem corporal, so importantes as relaes sociais,

    culturais, psicolgicas e fisiolgicas (Schilder, 1968). A imagem corporal no

  • REVISO DA LITERATURA

    28

    somente a imagem que o indivduo percepciona sobre o seu prprio corpo,

    mas tambm a forma como outros indivduos o vem (Fallon, 1990).

    Fisher (1970), menciona que o indivduo consciente ou inconsciente,

    estrutura a sua imagem corporal, realizando-o atravs de uma avaliao do

    quanto atractivo o seu corpo, desenvolvendo um conceito sobre a

    quantidade de espao que ele ocupa, formula concluses sobre a fora do

    seu corpo, decidindo at que ponto a sua corporalidade apresenta padres

    de masculinidade ou de feminilidade.

    Em 1981, foi introduzido por Collins, um conceito de imagem corporal

    mais dinmico, assumindo-a como uma representao mental ou uma

    constelao de representaes do prprio corpo, que mudam gradualmente

    ao longo da vida medida que este se desenvolve e modifica. A preciso da

    imagem depende da medida do ajustamento entre a realidade e o ritmo de

    mudana corporal.

    O indivduo no forma apenas a sua auto-imagem, mas vrias auto-

    imagens, que esto de acordo com o papel desempenhado pelo sujeito ao

    longo do seu percurso de vida (Seraganian, 1993).

    Bruchon-Schweitzer (1987), considera que as diversas definies do

    termo de imagem corporal se podem agregar, em duas categorias: uma, que

    se reporta a aproximaes neurolgicas, psiquitricas ou genticas, que

    descrevem a imagem corporal como um processo integrado subjacente s

    diversas competncias e aquisies; e outra que se inscreve nas teorias de

    orientao clnica, psicanaltica, psicossociolgica ou psicogentica, e que

    evocam mais a configurao global do corpo, formando as representaes,

    percepes, os sentimentos ou as atitudes que o indivduo vai elaborando ao

    longo da sua vida. A autora considera que o termo imagem corporal, se

    refere s atitudes, sentimentos e experincias que o indivduo acumula em

    relao ao seu corpo e que so integrados numa percepo global.

    A imagem corporal pode ser entendida como uma idealizao

    multidimensional definida e influenciada por indicadores fsicos, pelos outros

    e pelo estatuto socioeconmico (Cash & Brown, 1987). Os mesmos autores,

    em 1989, reforam ainda a definio anterior, ao referirem que a imagem

    corporal um constructo multidimensional definido pelo indivduo, como as

  • REVISO DA LITERATURA

    29

    percepes e atitudes (afectivas, cognitivas, comportamentais) que tm em

    relao ao seu corpo.

    importante entender o conceito da imagem corporal, uma vez que

    essencial para um correcto entendimento psicolgico e social do indivduo

    (Batista, 1995). No final dos anos 80, concluiu-se que os mtodos de

    avaliao da percepo da imagem corporal, medem as atitudes, crenas,

    pensamentos, e influncias de como as pessoas vem o seu corpo (Schwartz

    & Brownell, 2004).

    A imagem corporal pode ser caracterizada como uma construo

    multifacetada, baseada na componente perceptiva (percepo directa da

    aparncia fsica) e na componente subjectiva ou de atitude (pensamentos,

    sentimentos e atitudes sobre o corpo - aparncia geral, partes corporais,

    peso, idade, fora e sexualidade) (Cash, Wood, Phelps & Boyd, 1991), sendo

    esta ltima a referenciada no nosso estudo.

    Tendo em considerao as duas componentes, podem ser estudados

    dois aspectos da imagem corporal. O aspecto perceptivo, a percepo do

    tamanho corporal, e o aspecto subjectivo, que inclui as atitudes acerca do

    tamanho, peso, partes corporais e aparncia fsica geral (Cash & Brown,

    1987, cit. por Cash & Pruzinsky, 1990).

    Podemos considerar que a imagem corporal possui uma componente

    subjectiva, pelo facto se ser construda atravs de cognies afectivas,

    baseadas na comparao com os outros (McPherson & Turnbull, 2005). Os

    media tm um papel considervel neste sentido, pela exaltao de corpos

    atraentes (Cameron & Ferraro, 2004). As imagens difundidas pelos media, do

    corpo magro, como sendo o ideal, influenciam os comportamentos

    alimentares e as atitudes dos jovens, para com os seus corpos (Harrison,

    1997).

    O esquema corporal, formado tendo como base o modelo que

    reproduzido na sociedade em que estamos inseridos, onde os homens e as

    mulheres, tentam incessantemente alcanar corpos jovens e atractivos

    (Becker, 1999).

    Bruchon-Schweitzer (1990), referiu que os aspectos referentes s

    atitudes, sentimentos e experincias que o indivduo acumulou a propsito do

  • REVISO DA LITERATURA

    30

    seu corpo, so integrados numa percepo global da imagem corporal. Para

    a autora, a imagem corporal desenvolve-se e altera-se pela percepo que o

    indivduo tem de si prprio, e pelo feedback que retm do contexto social.

    Podemos considerar a percepo da imagem corporal, como a pintura

    mental que o sujeito tem do seu corpo, produto de percepes conscientes e

    inconscientes, atitudes e sentimentos (Fowler, 1989, cit. por Batista, 1995).

    A insatisfao com o prprio corpo e a preocupao com o peso so

    aspectos importantes para os adolescentes. O ideal cultural relativamente

    elegncia feminina e ao mesomorfismo masculino parecem estar bem

    incorporados nos adolescentes (Phelps & Bajorek, 1991). Os mesmos

    autores referem que a insatisfao com o peso, uma concomitante da

    maturao feminina, pois as adolescentes tornam-se mais insatisfeitas com o

    seu peso medida que maturam. Phelps et al. (1993), num estudo realizado

    com adolescentes dos 12 aos 18 anos, verificaram que a distoro da

    imagem corporal (por exemplo, sentir o corpo com um peso superior ao que

    ele realmente tem) parece comear no incio da adolescncia, atinge os

    nveis mais elevados a meio desse perodo e declina durante os ltimos anos

    da adolescncia. Assim, parece que as adolescentes percepcionam

    gradualmente a imagem corporal com maior preciso medida que o tempo

    passa.

    Segundo a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade

    (2001), a obesidade pode causar problemas a nvel psicolgico, nos quais

    pode estar includa a alterao da imagem corporal. Alguns estudos acerca

    da percepo da dimenso corporal, demonstram que as pessoas obesas

    sobrestimam o seu tamanho corporal (Schwartz & Brownell, 2004).

    frequente os obesos possurem uma imagem corporal distorcida,

    uma depreciao da prpria imagem, que resulta do facto de se sentirem

    inseguros em relao aos outros, imaginando que estes o vem com

    hostilidade e desprezo (Correia, 2003). Na imagem corporal o peso , talvez,

    o aspecto predominante (Hesse-Biber, Clayton-Mathews & Downey, 1988, cit.

    por Vasconcelos, 1995).

    Num estudo realizado por Rand e Macgregor (1991), baseado em

    entrevistas de obesos mrbidos aps terem perdido peso por meios

  • REVISO DA LITERATURA

    31

    cirrgicos, foram obtidos resultados dramticos. Os autores verificaram que a

    maioria dos pacientes relatou preferir ter peso normal com uma grande

    desvantagem (como surdos, diabticos, doentes cardacos, entre outros), do

    que ser obeso novamente.

    As crianas e os adolescentes obesos so submetidos a rejeio

    social, discriminao e esteretipos negativos. Estas experincias podem

    conduzir a consequncias negativas em termos de auto-imagem, auto-estima

    e do humor, existindo um pressuposto generalizado de que a obesidade tem

    custos psicolgicos profundos (Wardle & Cooke, 2005). Aps a reviso de

    estudos efectuados nesta rea, as autoras concluram que os nveis de

    insatisfao corporal, so superiores nas amostras de crianas com excesso

    de peso e obesas.

    Galindo e colaboradores (2002, cit. Cataneo, Carvalho & Galindo,

    2005) analisaram as respostas de um grupo de crianas obesas, e

    verificaram que nem sempre predominou uma imagem negativa dos seus

    corpos e nem todos se achavam obesos, embora a maioria expresse sinais

    de descontentamento com a prpria aparncia fsica.

    As crianas e adolescentes obesos so normalmente estereotipados

    como preguiosos, no proficientes, pouco asseados e com elevado grau de

    insucesso (Staffieri, 1967; Hill & Silver, 1995; Tiggemann & Anesbury, 2000).

    Outra consequncia negativa prpria da obesidade a fraca auto-imagem

    (Davison & Birch, 2001), e nveis baixos de auto-estima, os quais se

    associam tristeza, solido, nervosismo e elevados comportamentos de risco

    (Strauss, 2000).

    Num estudo realizado com adolescentes, de ambos os sexos, entre os

    15 e os 17 anos de idade, verificou-se que existe uma associao

    estatisticamente significativa entre o IMC e depresso, podendo ser explicada

    pelas experincias de vergonha, separao parental e emprego parental.

    Estes resultados sugerem que o tratamento clnico da obesidade pode, por

    vezes, no ser apenas uma questo de dieta e exerccio, mas tambm pode

    ser crucial lidar com as questes de vergonha e isolamento social (Sjoberg,

    Nilsson & Leppert, 2005).

    Num estudo sobre o peso corporal e a imagem corporal, realizado por

  • REVISO DA LITERATURA

    32

    Cash e Green (1986), com adolescentes do sexo feminino (com excesso de

    peso, obesas e com peso normal), foi demonstrado pelos resultados que a

    componente perceptual, afectiva e cognitiva da imagem corporal, difere em

    funo do peso corporal.

    Para os jovens, o aspecto corporal que mais sofre alteraes a

    vrios nveis durante a adolescncia, sendo um aspecto fundamental para

    este e para os que o rodeiam (Jacob, 1994).

    Esto por vezes associadas s mudanas corporais, problemas e

    complexos, que alteram muitas vezes a imagem corporal do adolescente

    (Jacob, 1994). De acordo com Vasconcelos (1995), as alteraes corporais

    mais relevantes, durante o processo de maturao, enrazam numa imagem

    diferente do seu corpo. Ou seja, a dificuldade de adaptao mudana, a

    incapacidade de produzir uma nova imagem de si, pode induzir um

    sentimento negativo ou inadequado entre o corpo imaginrio (ideal) e o corpo

    real.

    Os jovens esto sujeitos a presses sociais que lhes exige a

    concepo da magreza, segundo padres rgidos de beleza, os quais

    correspondem a perfis antropomtricos cada vez mais magros. A insatisfao

    com o corpo tem sido frequentemente relacionado com uma discrepncia

    entre a percepo e o tamanho do corpo e a forma desejada (Bosi, Luiz,

    Morgado, Costa & Carvalho, 2006).

    J em 1983 Williams entendia que a percepo da imagem do corpo

    como uma entidade pequena ou grande, gorda ou magra, forte ou fraca,

    calma ou nervosa, era resultado das interaces sociais que a criana

    experimenta e estabelece medida que se desenvolve. Para considerar o

    seu corpo como atractivo ou no atractivo, coisa que se olha, ou que

    no se olha, socialmente desejvel ou no desejvel, a adolescente tem

    de se comparar com os outros ou com um determinado padro de referncia.

    As adolescentes tm como referncia padres morfolgicos e de beleza, de

    grupos maioritrios, e quando dessa comparao resulta uma grande

    diferena, surge um sentimento de desadaptao que se associa a uma

    distoro na percepo da imagem corporal.

    No estudo realizado por Oliveira em 2008, o qual tinha como objectivo

  • REVISO DA LITERATURA

    33

    conhecer as modalidades preferidas e avaliar a PIC atravs dos sentimentos

    e atitudes induzidas pelo prprio corpo, atravs do questionrio de BIQ de

    Bruchon-Shweitzer (1987) 45 adolescentes com excesso de peso e obesos,

    com uma mdia de idades de 11,891,09. Os resultados demonstraram que

    os desportos preferidos pelas adolescentes do sexo feminino foram natao,

    canoagem, dana e desportos de luta/combate, enquanto que os

    adolescentes do sexo masculino elegeram futebol, seguido de basquetebol,

    canoagem e andebol. Quer as raparigas como os rapazes seleccionaram

    desporto de competio, sendo seleccionado o clube desportivo pelos

    rapazes como local de prtica preferido, enquanto as raparigas elegeram a

    escola e a natureza. Em relao PIC, com a diferenciao por sexo,

    verificamos que apenas existiram diferenas estatisticamente significativas

    para os itens Frgil, fraco/Resistente, forte e Socialmente

    desejvel/Socialmente no desejvel, sendo as raparigas quem continha os

    valores inferiores. Aps a diferenciao por IMC, verificamos que existiram

    diferenas estatisticamente significativas para os itens Vazio/Cheio, embora

    em outros itens avaliados fossem obtidos resultados negativos , tais como

    Fisicamente Atractivo/Fisicamente no atractivo e Ertico/No ertico.

    Foi realizado um estudo por Vasconcelos (1995), com 1194

    adolescentes do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 11 e os

    17 anos, de grupos tnicos diferentes (caucasides, negrides portuguesas e

    negrides cabo-verdianas). A autora, verificou que as caucasides

    apresentaram valores superiores na percepo do corpo como algo que se

    pode tocar, do corpo como veculo de ternura, de expressividade e de fonte

    de energia; as negrides portuguesas destacaram apenas a percepo do

    corpo como elemento de coragem ou audcia e por ltimo entre as negrides

    cabo-verdianas os restantes itens tiveram maior destaque.

    Podemos tambm referir a satisfao com a imagem corporal, como a

    avaliao subjectiva predominante, espcie de gestalt percebido de um

    corpo globalmente amado ou no, globalmente conformado ou no s

    normas ideais, de onde se tira maior, ou menor prazer ou sofrimento

    (Bruchon-Schweitzer, 1990).

  • REVISO DA LITERATURA

    34

    A insatisfao corporal surge aliada comparao social e s

    expectativas culturais de possuir um corpo segundo o que idealizado (Shih

    & Kubo, 2005). Outros factores relacionados com a satisfao com a imagem

    corporal, so o IMC e o sexo (Markey & Markey, 2005). Em alguns estudos

    efectuados foi verificado que medida que aumentava o IMC, diminua o

    nvel de satisfao com a imagem corporal, sendo os homens os que

    apresentavam maior satisfao comparativamente com as mulheres (Markey

    & Markey, 2005; Killion, Rodriguez, Rawlins, Miguez & Soledad, 2003). No

    entanto, Bearman, Presnell, Martinez e Stice (2006) observaram que o IMC

    no predizia insatisfao corporal para adolescentes de ambos os sexos.

    Um dos motivos que leva o indivduo a procurar ajuda diz respeito ao

    incmodo com a sua imagem corporal que pode vir intervir com a sua auto-

    estima, sobretudo quando este se encontra num contexto em que o corpo

    magro e esbelto valorizado, parecendo ser vivenciados sentimentos de

    raiva, angstia e de culpa (Carvalho, Cataneo, Galindo & Malfar, 2005). As

    autoras realizaram um estudo com crianas obesas e no obesas, entre os

    10 e os 12 anos de idade. O objectivo do estudo era descrever o que pensam

    as crianas dos seus corpos, utilizando como procedimento metodolgico a

    aplicao de questionrios. Os resultados revelaram que as crianas obesas

    estavam mais insatisfeitas com o seu corpo e a sua aparncia identificando,

    contudo, caractersticas positivas e outros atributos pessoais. As respostas

    para a afirmao minha aparncia me incomoda, foi consensual uma vez

    que a maior parte das crianas obesas concordou com o item. Embora as

    crianas no obesas se manifestassem menos preocupadas, demonstraram

    tambm alguma insatisfao. O facto de estas crianas exteriorizarem algum

    descontentamento, explicado pelas autoras como possvel consequncia s

    presses culturais exercidas sobre a aparncia fsica.

    Smolak (2003), refere que a imagem corporal um fenmeno

    fortemente ligado ao gnero. Assim, a natureza, os factores de risco, os

    resultados e os cursos de desenvolvimento da insatisfao, diferem do

    gnero.

    Num estudo realizado com 63 adolescentes do sexo feminino, com

    idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos, verificou-se que as

  • REVISO DA LITERATURA

    35

    adolescentes tinham como referencial esttico as mulheres que estavam em

    evidncia nos meios de comunicao social. Grande parte das adolescentes

    sentia vontade de alterar algo no seu corpo, insatisfao essa que pode ser

    explicada pelos apelos exercidos, pelos meios de comunicao social, para a

    aquisio de um corpo perfeito (Sanches, Costa & Gomes, 2006).

    Em termos de comparao entre sexos, na maioria dos estudos

    encontram-se evidncias de maior insatisfao nas mulheres do que nos

    homens, sendo que, normalmente h uma maior percentagem de raparigas a

    afirmarem que desejavam mudar quer a forma quer o tamanho do seu corpo

    (McCabe & Ricciaedelli, 2001; Presnell, Bearman & Stice, 2004). Para alm

    disso, a investigao indica que aproximadamente metade das mulheres,

    com idades compreendidas entre a adolescncia e os trinta e cinco anos,

    pensam que pesam muito e esto determinadas a perder peso (Davis &

    Cowles, 1991). Contudo, a insatisfao com a imagem corporal em meninos

    tambm comum e frequentemente associada com a angstia (Cohane &

    Pope, 2001). Relativamente aos estudos com o sexo masculino, Smolack

    (2003) refere que durante a adolescncia que os rapazes comeam a

    apresentar preocupaes com o tamanho e musculosidade do seu corpo, o

    que pode levar a experimentar nveis de insatisfao com o seu corpo,

    comparveis aos das raparigas.

    Os resultados de um estudo realizado com estudantes universitrias,

    acerca da PIC, permitiram evidenciaram que o ideal de corpo magro imposto

    pela sociedade prevalece, pois mesmo com o peso adequado as raparigas

    demonstraram insatisfao com a sua imagem corporal, desejando alter-la

    de acordo com os padres sociais (Bosi, Luiz, Morgado, Costa & Carvalho,

    2006).

    A insatisfao corporal perante o sexo feminino, reflecte as

    preocupaes, inquietaes e as presses dos padres de beleza feminino

    da nossa cultura (Bruchon-Schweitzer, 1990).

    Bruchon-Schweitzer (1990), desenvolveu e aplicou o questionrio

    Body-Image Questionnaire, em 619 indivduos, com a finalidade de explorar

    as dimensionalidades das percepes, sentimentos, e atitudes expressas em

  • REVISO DA LITERATURA

    36

    relao ao prprio corpo, questionrio esse que ser utilizado no presente

    estudo.

    Num estudo realizado por Koleck, Bruchon-Schweitzer, Cousson-

    Glie, Gilliard e Quintard (2002) com 1222 indivduos, foi verificado que a

    satisfao corporal estava directamente relacionada com a afectividade

    positiva, e inversamente com a afectividade negativa. Uma favorvel imagem

    do corpo, est associada adaptao emocional do sujeito, estando a

    satisfao corporal aliada boa sade.

    Numa pesquisa realizada por Sousa (2008), para avaliar como os

    adolescentes percebem o seu peso, foi verificada que a prevalncia da

    obesidade correspondia a 8,8%, contudo a percentagem de adolescentes

    que se consideravam obesos era igual a 12,7. Estes adolescentes tinham

    maior inactividade fsica, pior funcionamento familiar, baixo auto-conceito e

    um ndice superior de depresso. Nesta anlise verificou-se a obesidade era

    maior nos rapazes, mas eram as meninas que se percebiam com mais peso.

    Ainda neste estudo, no foi encontradas diferenas estatisticamente

    significativas entre a obesidade e a classe social ou a idade, pelo contrrio,

    na anlise da relao com a inactividade fsica, verificou-se que os indivduos

    que se consideraram "Gorda" tinham nveis mais elevados da inactividade

    fsica, em comparao com indivduos que se consideraram "magro", e as

    diferenas foram estatisticamente significativas. Estes dados sublinham a

    importncia de avaliar a percepo do peso/imagem corporal com o IMC,

    pois por vezes o problema no apenas por ser obeso, mas tambm pelo

    seu peso ser superior sua idealizao.

    Os nossos corpos so vitimizados por polticas de saberes, que nos

    identificam, classificam, recalcam, estigmatizam, formando e deformando as

    imagens que temos de ns e dos outros. O Homem est constantemente a

    experienciar momentos de aprovao social, o que leva a que viva o seu

    corpo no sua maneira, mas sim conforme as regras estabelecidas pela

    sociedade, e pelo modelo esttico padronizado comercialmente (Russo,

    2005).

    A adolescncia sem dvida uma fase de incerteza, de insegurana, de

    crise e, ao mesmo tempo, de necessidade de afirmao, de liberdade e

  • REVISO DA LITERATURA

    37

    emancipao (Fenwick & Smith, 1995; Marinis & Colman, 1995).

    Contudo, h que ter em considerao que o efeito de um determinado

    factor num dado comportamento poder no ser estvel ao longo das vrias

    fases do desenvolvimento do indivduo. Logo, quando se desenvolvem

    estudos com crianas e jovens, preciso ter sempre presente que nestas

    idades as alteraes e modificaes resultantes do crescimento e

    desenvolvimento so uma constante, podendo levar-nos a extrair concluses

    precipitadas acerca da possvel influncia de um determinado factor nos seus

    hbitos (Lessard-Hbert, Goyette & Boutin, 2005).

    2.3. Actividade Fsica

    A AF entendida como qualquer movimento produzido pelos

    msculos esquelticos que resulta em dispndio energtico para alm do

    metabolismo de repouso (Caspersen, Powell & Christenson, 1985; Bouchard

    & Shephard, 1993). Assim, qualquer movimento realizado em actividades de

    trabalho, lazer e desporto contribuem para gasto energtico dirio total

    (Caspersen, Powell & Christenson, 1985).

    No entanto, os mesmos autores distinguem o conceito de AF do

    conceito de exerccio fsico. Segundo (Caspersen, Powell, & Christenson,

    1985), o exerccio entendido como uma subcategoria de AF que

    planeada, estruturada e repetitiva, tendo como objectivo final ou intermdio a

    melhoria ou manuteno da aptido fsica.

    Bento (2004), refere ainda o conceito de prtica desportiva, como o

    bastio na formao pedaggica e cultural. nela que se revem aspectos

    relevantes da formao da pessoa, da construo de relaes interpessoais

    gratificantes da afirmao pessoal e conhecimento social do desportista.

    A AF um comportamento de natureza complexa e, por esse motivo,

    difcil de medir. caracterizada por quatro dimenses bsicas: frequncia,

    intensidade, durao e tipo, (Bouchard, Shephard & Stephens, 1993a).

  • REVISO DA LITERATURA

    38

    2.3.1. Relao entre AF e IMC

    No ainda conhecida a relao de causalidade, entre AF e

    obesidade, uma vez que ainda no foi determinada se a obesidade que

    provoca a falta de AF ou se esta que conduz obesidade (Bar-Or &

    Baranowski, 1994). No entanto, alguns estudos demonstram uma relao de

    causalidade entre os dois agentes.