Atividade Orientadora de Ensino Como Unidade Entre Ensino e Aprendizagem
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Capítulo 04: A Atividade Orientadora de Ensino como Unidade entre Ensino e Aprendizagem
Autores:
Manoel Oriosvaldo de Moura
Elaine Sampaio Araújo
Flávia Dias Ribeiro
Maria Lucia Panossian
Vanessa Dias Moretti
Comentário sobre o texto:
O texto é muito interessante, e uma boa introdução para uma série de tópicos importantes
para o estudo da pedagogia, como a questão do desenvolvimento psíquico do educando, e as
ideias de conceito, atividade de estudo, e a função da escola como instituição onde se dá a
apropriação intencional do conhecimento teórico desenvolvido pela humanidade. A atividade
orientadora de ensino, apresentada como proposta para mediar a atividade de ensino e
atividade de aprendizagem envolvendo os sujeitos (professor e aluno) como indivíduos
portadores de conhecimentos, valores e afetividades, fundamentada nas ideias de ensino e
aprendizagem desenvolvidas ao longo do capítulo, gera uma importante e interessante
reflexão sobre o papel do professor.
Fichamento:
A complexidade e multiplicidade dos fenômenos presentes no ensino e no ambiente escolar
fazem com que, muitas vezes, os responsáveis pela educação escolar se atenham somente nos
fenômenos mais aparentes da educação escolar (como o pouco desempenho escolar dos
estudantes, falta de motivação para estudo, indisciplina, violência). Como, em meio a isso,
fazer com que os avanços teóricos na educação orientem efetivamente as ações pedagógicas?
O objetivo do capítulo é mostrar como o conceito de atividade pode fundamentar o trabalho
do professor na organização do ensino, trabalhando a interdependência entre o conteúdo
ensinado, as ações educativas e os sujeitos que fazem parte da atividade educativa. Por meio
da exposição da natureza particular da atividade de ensino, os autores visam dar a dimensão
da responsabilidade do trabalho da escola, que providencia aos indivíduos, de forma
metodológica, formas de apropriação e criação de ferramentas simbólicas para o
desenvolvimento pleno de suas potencialidades na sociedade em que estão inseridos.
Conforme Vigotski (2002), a aprendizagem “pressupõe uma natureza social específica e um
processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que a cercam”. Ao
transformar a natureza, o homem também se transforma. Ainda segundo Vigotski, as relações
intrapsíquicas (atividade individual) constituem-se com base em relações interpsíquicas
(atividade coletiva), sendo por meio de processo de internalização que se dá a apropriação da
experiência social da humanidade. A aprendizagem, assim, não ocorre espontaneamente, mas
é mediada culturalmente. Tal compreensão do desenvolvimento do psiquismo humano traz
implicações para as relações de ensino e aprendizagem, principalmente no que tange a
intencionalidade do processo educativo.
A escola marca, segundo Davidov, um novo lugar que a criança ocupa no sistema de relações
sociais. A escola deve providenciar, desde as séries iniciais, um sistema para que os estudantes
façam a apropriação teórica da realidade. Essa seria a essência da atividade de estudo. A
unidade fundamental da atividade de estudo é a transformação do próprio sujeito.
Da mesma forma, a atividade de estudo também é composta pela ações de estudo. Para
Davidov, as ações de estudo que permitem ao estudante ter condições de individualizar
relações gerais, identificar ideias-chaves da área de conhecimento, modelar relações, dominar
procedimentos de passagem das relações gerais à sua concretização e vice-versa. Outros
componentes da atividade de estudo são as ações de autoavaliação e regulação. Esses três
componentes (tarefas de estudo, ações de estudo e ações de autoavaliação e regulação)
trabalhados de forma integrada e mediados pela ação do professor, permitem que o estudante
se aproprie de conceitos historicamente construídos, de forma sistematizada e intencional, e
se desenvolva intelectualmente com vistas ao pensamento teórico.
Para a formação do pensamento teórico, Davidov defende que é necessário partir das teses
gerais da área do saber, não das particulares. As abstrações se alcançam por meio do
desenvolvimento do objeto e permitem expressar a essência do objeto concreto.
Rubtsov considera a atividade de estudo como de aprendizagem. Os autores explicam as
complicações decorrentes da diferença de línguas (russo e português) e defendem acreditarem
que, no contexto educacional brasileiro, o termo atividade de aprendizagem é mais adequado.
Segundo o conceito de atividade, estudo pode ser uma ação para aprendizagem, enquanto
aprendizagem pode ser entendida como um estado ou processo do que se aprende.
Segundo Rubtsov, a atividade realizada em comum, coletiva, ancora o desenvolvimento das
funções psíquicas superiores, ao configurar-se no espaço entre a atividade interpsíquica e
intrapsíqueica dos sujeitos.
Os autores colocam, na seção seguinte, que entender a escola como lugar privilegiado para
apropriação de conhecimentos produzidos historicamente é assumir que a ação do professor
deve estar organizada intencionalmente para este fim. A importância da organização de
ensino, salientada por Moura, é justamente permitir que os indivíduos se apropriem da cultura
de modo intencional. Nesse contexto, a atividade do professor consiste em organizar o ensino
por meio da articulação entre teoria e prática. A atividade de ensino do professor deve gerar e
promover a atividade do estudante, justificando o aprendizado por meio de relações do
aprender teórico com a realidade.
O professor deve, assim, guiar o aluno na apropriação de conhecimentos teóricos que sejam
explicativos de sua realidade, permitindo o desenvolvimento do seu pensamento teórico. Além
disso, o professor envolvido em sua atividade de aprendizagem toma consciência de seu
próprio trabalho, lidando melhor com as contradições e inconsistências do próprio sistema
educacional.
O ensino não necessariamente se corresponde diretamente com o desenvolvimento do
indivíduo, mas o ensino é uma forma necessária e relevante para o seu desenvolvimento
(conforme apontado por Davidov).
O ensino realizado nas escolas deve ter a finalidade de aproximar os estudantes de um
determinado conhecimento, por isso a importância que os professores tenham compreensão
sobre seu objeto de ensino, que deverá transformar em objeto de aprendizagem. Davidov
destaca que algumas ações do ensino são mais eficazes no desenvolvimento do psiquismo dos
sujeitos que outras. Vigotski apresenta uma ideia de conceito, segundo o a qual o conceito é o
reflexo objetivo das coisas em seus aspectos essenciais e diversos, que se forma como
resultado da elaboração racional das representações como resultado de ter descoberto os
nexos e as relações desse objeto com outros. O motivo da atividade de aprendizagem deve
ser, assim, a aquisição de conceitos teóricos por parte dos estudantes, mediante ações
conscientes que permitam a construção de um modo generalizado de ação.
A atuação do professor se mostra fundamental para que a aprendizagem se concretize para os
estudantes e constitua efetivamente como atividade. O professor, como aquele que concretiza
objetivos sociais objetivados no currículo escolar, organiza o ensino. No intuito de apresentar
uma possibilidade de realização do ensino, fundamentado nesses pressupostos teóricos, que
se apresenta a ideia de atividade orientadora de ensino (AOE) proposta por Moura.
Compreender o conceito de atividade como unidade de análise do desenvolvimento humano e
as principais relações que o caracterizam pode orientar a organização do ensino. O desafio que
se apresenta ao professor relaciona-se com a organização do ensino, de modo que o processo
educativo escolar se constitua como atividade tanto para o estudante como para o professor.
O que é objetivado na atividade orientadora de ensino é a transformação do psiquismo do
sujeito que está em atividade de aprendizagem. Ambos o professor e estudante são sujeitos
em atividade e, como sujeitos, se constituem como indivíduos portadores de conhecimentos,
valores e afetividade. A atividade, assim, só pode ser orientadora.
Nesse contexto, as ações do professor devem ser organizadas de modo a possibilitar aos
estudantes a apropriação dos conhecimentos e das experiências histórico-culturais da
humanidade.
Os autores destacam que, mais importante do que ensinar qualquer conhecimento (mesmo
por que o ensino de todo o conhecimento seria uma tarefa impossível) é ensinar ao estudante
um modo de ação generalizado de acesso, utilização e criação do conhecimento, o que se
torna possível ao se considerar a formação do pensamento teórico.