Atriz e a Camera
Transcript of Atriz e a Camera
A ATRIZ E A CÂMERA
Oficina de interpretação para a câmera
Com 94 exercícios
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EVERALDO VASCONCELOS
A ATRIZ E A CÂMERA
Oficina de interpretação para a câmera
Com 94 exercícios
2º edição
João Pessoa Edições Eva
2013
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Capa e revisão: Eva
Foto da Capa:
Este livro é um ebook no formato PDF, no tamanho
14X21, editado em 2013.
Primeira edição - 2011
Contato: [email protected]
Vasconcelos, Everaldo
A atriz e a câmera, oficina de interpretação para a Câmera .
João Pessoa, PB: Edições Eva, 2013
p.177
1. A atriz e a câmera. I. Título
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A Emmanuel e Tainá
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DEDICATÓRIA
Aos meus alunos e alunas da disciplina Ator e Câmera do
curso de teatro da UFPB.
Este livro tem como título A Atriz e a Câmera em
homenagem à maioria feminina que assistiu às aulas da
disciplina Ator e Câmera do curso de teatro da UFPB e
também às atrizes: Mônica Macêdo, Zezita Matos,
Marcélia Cartaxo, Soya Lira, Mayana Neyva, Rachel
Domingues, Ingrid Trigueiro, Ingrid Castro, Wanda
Oliveira, Cida Costa, Isadora Oliveira, Celly de Freitas,
Patricia Braz, Kaline Brito, Roseane B, Gracilene Bonfim,
Ailma alves, Marta Bezerra, Suênia Bento, Shirley Bento,
Ana Valentim, Jija Dantas, Elba Góes, Puama Sheila, Laís
Lima, Rita de Cássia, Drica Soares, Anna Raquel
Apolinário, Ana Raquel Cavalcante, Barbara Andrelli,
Fátima Durand, Ana Maria Nunes , Clara Talha, Vanessa
Lopes, Yluska Gaião, Suellen Brito, Jamila Facury,
Fabíola Ataíde, Rebeca Menezes, Suzy Lopes, Tainá
Macêdo e Rosa Carlos.
Neste livro a palavra ator como termo geral foi substituído
pela palavra atriz.
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INDICE
Apresentação, 9
Capítulo 1 – A atriz e a disciplina, 11
Capítulo 2 – Respiração e relaxamento, 21
Capítulo 3 - Ativação emocional: monologo interior, 39
Capítulo 4 – Concentração e observação, 45
Capítulo 5 - Os sentidos, 51
Capítulo 6 – Respiração e Voz, 71
Capítulo 7 – Contracenando com a outra, 83
Capítulo 8 – De corpo inteiro, 89
Capítulo 9 – Contracenando com a câmera, 95
Capítulo 10 - Criando o espaço, 103
Capítulo 11 – Abordando a personagem, 109
Capítulo 12 – Ensaios de mesa, 115
Capítulo 13– Vivências de interpretação, 123
Capítulo 14 – Improvisações, 129
8
Capítulo 15 – Marcação de cena, 137
Capítulo 16 – Ensaios de gravação, 143
Capítulo 17 – Ensaios com figurinos, 149
Capítulo 18 – Ensaio de maquilagem, 155
Capítulo 19 – Rotina de gravação, 161
Capítulo 20- Recebendo a critica, 169
Bibliografia , 175
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APRESENTAÇÃO
Este livro é o texto-base da Oficina Ator e Câmera do
curso de teatro da Universidade Federal da Paraíba.
Apesar do nome da disciplina conter a palavra “ator”, todo
o texto usa a palavra “atriz” para se referir aos dois
gêneros. As mulheres já são maioria na população
mundial; são também maioria na Oficina Ator e Câmera;
então, está na hora de assumirmos esta maior parte através
do uso das palavras no feminino quando nos referirmos ao
todo. Em muitos momentos o texto parecerá muito
estranho, pois não nos acostumamos ainda a encarar o
feminino como uma referência geral. Na Oficina com as
alunas e os alunos temos aproveitado estes momentos de
estranhamento para refletir sobre problemas sociais graves
envolvendo a questão dos gêneros.
A idéia da Oficina Atriz e Câmera é proporcionar às
alunas experiências com interpretação para uma câmera. O
objetivo é aplicar os conhecimentos introduzidos pelas
disciplinas de Interpretação nos níveis básicos,
intermediários e avançados para a interpretação de papéis
diante da câmera.
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Através de exercícios e estudos de cenas cada atriz
expandirá a sua expressividade emocional, intelectual,
física e vocal para a câmera. As alunas atuarão em
diversos exercícios de câmera, cenas para televisão e o
cinema.
Os objetivos desta Oficina são: Familiarizar a aluna-atriz
com as técnicas de interpretação diante da câmera;
Demonstrar a diferença entra a interpretação para o palco e
a câmera; Demonstrar as técnicas de interpretação para
uma única câmera( single-camera) para atuação em
cinema e televisão; Desenvolver a perícia do aluna-atriz
para gravar os planos: máster, médio, e close-up;
Desenvolver a perícia da aluna-atriz diante da câmera com
a marcação de cena; trabalho em equipe; uso de subtexto e
reações emocionais; Desenvolver ferramentas expressivas
e criativas da aluna-atriz para a câmera; Preparar a aluna-
atriz para testes de câmera; Gravar exercício final de
câmera pra ser mostrado publicamente.
O livro contém a descrição de 94 exercícios adaptados
para o trabalho em sala de aula com alunas-atrizes, alguns
dos quais traduzidos e outros livremente adaptados do
livro Acting for Film de Cathy Haase.
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CAPÍTULO 1 A atriz e a disciplina
Uma oficina de treinamento para atrizes-alunas
interpretarem para uma câmera nos coloca diante de dois
problemas:
1 - a câmera como mediadora entre os espectadores e a
performance interpretativa da atriz;
2 – o ser atriz para uma câmera.
E estes não são problemas fáceis de serem resolvidos.
O que vem a ser uma atriz e o que significa ela diante
deste equipamento?
Não há uma resposta única e infalível.
Em um curso de teatro se dá ênfase a uma relação da
atriz com um tipo de público que está presente no
momento da representação, além de que uma serie de
condições especiais são requeridas para que o
acontecimento teatral seja perfeito. A atriz trabalha para
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um publico que de certa forma interfere na performance; a
sua simples presença já é uma influência.
Quando trazemos esta atriz para frente de uma câmera
percebemos que algumas coisas estão completamente
diferentes: a primeira e mais evidente, é que não há uma
platéia a quem se dirigir, pois a própria câmera não é um
substituto da mesma, é outra coisa que necessita de outra
relação.
É claro que uma câmera poderá registrar um espetáculo
teatral, isto é possível, e tem sido realizado ao longo deste
último século de cinema.
O trabalho da atriz para câmera é de outra natureza do que
um mero teatro filmado. Aliás, isto é plenamente
perceptível ao ponto do público reclamar da performance
de algumas atrizes em filmes dizendo que estavam
teatrais demais. Eu mesmo cometi este erro quando dirigi
o especial de teledramaturgia “O Namorador”, uma
adaptação da peça de Martins Pena, levada ao ar para todo
o estado da Paraíba pela TV Tambaú em 2004.
Escreveram-me muitos emails dizendo que as atrizes
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estavam exageradamente “teatrais”, querendo expressar
que não estavam naturais diante da câmera.
Mas como? Do que se trata então? Se estavam teatrais
demais, é porque deveriam ser algo diferentes do
esperado no teatro. O que deveria ser então?
As atrizes precisam estar atentas para estas nuances.
Quando falamos de teatro de modo genérico, devemos ter
o cuidado de não reduzir o fazer teatral, que possuí muitos
matizes. Fazer teatro para a rua é bem diferente de fazer
espetáculos para salas fechadas à italiana. As
performances também mudam conforme os estilos. Mas
em todos os casos o teatro trabalha para um público
presente ao acontecimento no tempo de seu
acontecimento.
Interpretar para a câmera é algo completamente diferente
de se trabalhar para um público de teatro.
Outra coisa que devemos conversar desde o principio
desta oficina é que a câmera exige várias disciplinas que
não são requeridas no palco, um tipo de atenção diferente,
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um tipo de prontidão diferente e também uma técnica de
interpretação diferente.
A interpretação da atriz não se consuma com a fala do
diretor dizendo “corta” ou “stop”. A performance da atriz
ainda deverá sofrer a influência da montagem, de tal sorte
que o resultado final de seu trabalho será o resultado de
um trabalho de equipe. Uma boa tomada de uma cena
pode ser completamente destruída por uma montagem
inadequada.
Então é preciso ter em mente que vamos partir para
descobrir algo novo, e como tal temos que nos jogar a isso
sem reservas.
Alguns professores de técnicas de interpretação para a
câmera, dizem exageradamente, que as atrizes-alunas
devem esquecer as técnicas teatrais, mas este pedido é
mais uma metáfora acerca dos problemas que a
interpretação para câmera envolve.
A câmera amplifica tudo, registra o menor movimento, a
menor respiração e tudo isso vai para uma tela enorme
onde a visão do espectador é jogada naquele detalhe.
Diferente do teatro quando a visão do espectador está
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sempre num quadro maior, mesmo quando damos um
recorte de luz, não alteramos a dimensão do rosto da atriz
que depende tão somente da distancia física do espectador
até o palco.
O que fazer?
Primeiro aprender a ver os filmes com atenção especial
para o trabalho das atrizes e aprender com elas, tanto
como se deve fazer como o contrario. Diante da câmera
não há como mentir. Ela sempre registra a verdade
daquele instante. No teatro, diferentemente, teremos a
interferência de fatores físicos que influenciarão a leitura
que cada pessoa na platéia faz do espetáculo.
Assim, para se dedicar a este trabalho há que se evitarem
dois perigos:
1 - Primeiro a arrogância de certas pessoas de teatro que
consideram o trabalho para a câmera como algo menor;
ainda hoje dizem que o teatro é a única escola e isto é
apenas parcialmente verdade, pois é possível alguém se
tornar uma excelente atriz de cinema ou televisão sem
nunca ter pisado num palco. Um curso de teatro é uma
base importante na formação de uma atriz, mas se for algo
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muito arraigado no preconceito com certeza irá atrapalhar
e muito, pois a câmera irá registrar os tons da
interpretação teatral.
2 - O outro perigo é achar que a câmera não necessita de
nenhum trabalho de construção, que basta uma cara bonita
para resolver todos os problemas. E não é bem assim:
carinha bonita ajuda em determinados papeis, mas se não
tiver a maturidade que se adquire através de uma formação
adequada, será apenas a atriz de um papel único, que
resolveu aquele problema naquele filme específico e só.
Ou poderá ainda, se for muito parecida com uma atriz de
verdade, ser uma boa dublê de corpo em cenas perigosas
ou de nudez.
Para que serve estar diante de uma câmera?
A maioria das atrizes-alunas sequer imagina qual o
propósito de tal acontecimento. Geralmente se está afeita a
considerar as glamorosas aparições nas capas das revistas
e nas matérias de jornais. No entanto estar diante da
câmera é um ato singular que poderá até levá-la até aquele
lugar magnífico de glamour, mas antes disso está aquele
momento precioso de trabalho, de muito trabalho pesado.
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Sem total dedicação não se chega a um bom termo. A
simples busca de satisfazer a vaidade pessoal desmorona
diante daquele olho de vidro. A câmera é algo que é
indiferente a todos os seus sonhos e você precisa saber que
o que está em jogo é a sua relação com a equipe de
trabalho, o seu cuidado e disciplina pessoal.
Você deve se perguntar: por que estou aqui fazendo este
trabalho para a uma câmera? Uma câmera que você nunca
poderá ter como a sua amiguinha de fofocas. Ela estará ali
como algo capaz de lhe levar até muito distante, mas para
isso você precisa se dedicar, se entregar completamente.
Será como saltar no escuro. Você precisa se entregar
como se deixasse cair nos braços de uma paixão
avassaladora. Você precisa viver este amor; para a câmera
não existe meio termo e este é um dos pré-requisitos para
se fazer bem um trabalho de vídeo ou cinema. Você
precisa cumprir a sua parte e mais um pouco, não dá para
encarar isso como algo que se faz de qualquer jeito.
É preciso também ter conta uma ética de trabalho. Cada
qual cuida de si evitando maledicências e críticas ao
trabalho das outras. Há uma equipe para cuidar de todas,
então não é admissível ficar vigiando se alguém está
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fazendo o seu trabalho bom ou ruim. Se fulana acabou o
namoro ou não. Devem-se evitar as censuras internas.
Uma coisa são momentos de avaliação, nos quais se pode
conversar abertamente, mas devem-se evitar as fofocas e a
formação de patotinhas no ambiente de gravação; o
silencio e a dedicação total é um requisito fundamental.
É preciso ter sempre em mente que é necessário cumprir
prazos. Não é para se amparar na outra ou achar que dá
para sobreviver aos ensaios e que ao final tudo se
encobrirá sob o manto do trabalho em equipe. No âmbito
dos acontecimentos de uma matéria escolar até que isto se
torna o caminho de muitas estudantes, mas desde agora
vamos nos comportar com a disciplina requerida para este
tipo de atividade. Não será possível expulsar as alunas
que não se coadunarem com este objetivo, mas também
ficará claro, que numa situação real pessoas que não
possuem disciplina pessoal sequer entrarão para os elencos
e se entrarem ficarão muito pouco, pois não será possível
trabalhar com quem não sabe lidar com as especificidades
deste meio de comunicação.
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As atrizes-alunas devem todas estar cientes de que estão
todas trabalhando em conjunto, portanto a gentileza é uma
regra obrigatória.
A pontualidade também será um dos fatores primordiais
para se levar um trabalho destes até o fim com resultados
proveitosos. A assiduidade deve ser de 100 %. É muito
difícil encarar atrizes-alunas que marcam inúmeros
compromissos para os horários de trabalho e depois
querem participar do filme.
É constrangedor ter que lidar com a cara de pau de muitas
atrizes-alunas que vem para as aulas apenas passar o
tempo. Todos devem vir para se entregar ao trabalho, ou
então procurar outra coisa para fazer. Sabemos que o
sistema de disciplinas dos cursos universitários gera
distorções com o oferecimento de poucas disciplinas
optativas obrigando muitas pessoas a cursarem o que não
queriam, mas já que se está numa disciplina como esta
procure fazer o melhor.
Outra coisa importante, é que os papeis de algum filme
que possa ser rodado, serão distribuídos conforme a
conveniência da direção e que cada qual deve se dedicar
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ao seu papel qualquer que ele seja, pequeno ou grande.
Fazer filmes é saber valorizar cada personagem em sua
grandeza, e não lutar por mais falas ou espaço de
exposição. Estas recomendações nos ajudarão a produzir
mais e com mais ânimo.
Devemos acreditar no que vamos fazer; nos filmes que
vamos produzir e não ficar comemorando as dificuldades,
que poderão abreviar a disciplina e garantir a finalização
do semestre. Ainda que esta seja uma disciplina de um
curso regular a idéia é fazer filmes. Ao final se tivermos
conseguido produzir algo e exibi-lo para os outros alunos
ou até extrapolar os muros da escola nos daremos por
satisfeitos.
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CAPÍTULO 2 Respiração e relaxamento
Vamos nos dedicar a um tipo de trabalho que irá
potencializar os nossos estados interiores; serão estes
estados que a câmera registrará, portanto a nossa busca
não será interpretar personagens no sentido que damos
comumente no trabalho teatral, mas em construir e viver
os estados interiores destas personagens de tal forma que
câmera registre a verdade daquele instante,
Há muitos modos de se obter estes estados, um modo
solar, masculino e um modo lunar, feminino.
O modo solar tem características masculinas muito
agressivas, e usa de meios traumáticos, coisa que tem sido
usada por muitos diretores e preparadores de elenco com
bons resultados; é algo que funciona para aquele momento
especifico, mas capaz de deixar seqüelas que somente
podem serem curados com a ajuda de psicólogos.
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Há um modo suave, lunar, mais feminino, como a
sedução de Eva com a maçã; podemos até usar esta
metáfora e dizer que vamos usar o método Eva de
construção destes estados interiores. Construir as
personagens através da suavidade, do entregar-se
apaixonadamente aos estados interiores; esta é uma forma
adequada para se trabalhar com atrizes-alunas iniciantes e
também atrizes maduras produzindo resultados muito
bons.
O primeiro passo é começarmos a ativar a nossa memória
visual.
2.1 ATIVAÇÃO DA MEMÓRIA VISUAL
Exercício 1
1- Para ativar esta memória visual vamos começar por
ativar a nossa memória fílmica, dos filmes que lembramos.
Trazer aquele filme à mente, escolher a cena mais
marcante e visualizá-la completamente.
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2 - Depois repassar o filme na mente e dizer para o grupo
como era esta cena e o que a impressionava.
Exercício 2
Repetir o exercício anterior retomando as imagens do
filme recordando os rostos das atrizes e atores; verificar
as suas nuances. Comentar em grupo.
Exercício 3
Ver um vídeo trazido para a sala com algumas cenas de
filmes e prestar atenção no rosto das atrizes e atores.
Será importante desde o principio ter em mente que o
rosto é o ponto fundamental de trabalho. No trabalho para
a câmera o cuidado com a expressão facial é muito mais
cuidadoso, muitas palavras poderão ser substituídas por
um close da face.
2.2 RESPIRAÇÃO
O tônus emocional é controlado pelo ritmo da respiração.
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Para começarmos este método suave de interpretação
aprendamos a respirar com ritmo.
Exercício 4
Vamos usar um modo de fazer isto sentadas, ao invés de
deitadas, pois queremos que este relaxamento, produza
também certo tipo de atenção e tensão especiais.
Sentadas, com a coluna ereta.
Prestar atenção à respiração num ritmo quaternário,
Falando mentalmente “um” na inspiração, “dois” na
expiração, “três” na segunda inspiração e “quatro” na
segunda expiração e repetir o ciclo por 21 vezes; este é um
número que nos garante um bom ciclo de relaxamento.
Fazendo a contagem mental.
1-2-3-4 ...1
1-2-3-4 ...2
...
1-2-3-4 ...21
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Exercício 5
Sentadas, com a coluna ereta.
O segundo exercício será o de trabalhar a respiração em
ritmos diferentes na expiração.
A cada inspiração, expira-se fazendo a contagem primeiro
de um, indo até a contagem de doze tempos na expiração.
Quando chegar em doze, repetir a seqüência no sentido
inverso.
Inspira em 1 - Expira em 1vez
Inspira em 1- Expira em 2 vezes
E assim até 12
Inspira em 1- Expira em 12 vezes.
Repete-se ao inverso
Inspira em 1- Expira em 12 vezes.
E assim até 1
Inspira em 1 - Expira em 1vez
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2.3 RELAXAMENTO
O relaxamento é extremante útil para obter os estados de
prontidão de cada cena. Muitas pessoas pensam que para
se obter climas violentos deve-se partir de estados de
muita tensão física. Mas nós sabemos que o corpo
responde as descargas de energia psíquica que podem ser
obtidas com suavidade; estados de ódio, medo, desespero,
e angustia podem ser obtidos desta forma sem violência.
Daí o caráter feminino deste modo de trabalhar. Serão
estados de muita intensidade emocional, que poderão ser
repetidos com muito mais facilidade do que se usássemos
o meio mais masculino da força bruta.
Além do que a atriz-aluna deve estar disponível para
executar os mesmos procedimentos em cenas que
precisarão ser repetidos algumas vezes e a suavidade
potencializará as repetições em estados mais profundos, a
cada repetição será possível ir ainda mais longe sem perda
do tônus emocional.
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Exercício 6
Fazer a respiração no ritmo quaternário concentrando a
atenção a cada ciclo numa parte do corpo conforme a
seguinte seqüência:
Imagine que o chão é coberto por uma nuvem. Os dois pés
estão assentados por esta nuvem. Imagine que ela tem a
cor branca e os és estão imersos nela.
1 - Dirija a sua consciência para o ponto de contato do pé
esquerdo com o chão e sinta-o envolvido por esta nuvem
branca. O contato do pé com a nuvem branca deixa-o
completamente relaxado.
2 - Dirija a sua consciência para o ponto de contato do pé
direito com o chão e sinta-o envolvido por esta nuvem
branca. O contato do pé com a nuvem branca deixa-o
completamente relaxado.
3 - Dirija a sua consciência para as pernas esquerda e
direita e imagine a nuvem branca subindo até altura dos
joelhos. O contato das pernas com a nuvem branca deixa-
as completamente relaxadas.
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4 - Dirija a sua consciência para as coxas esquerda e
direita e imagine a nuvem branca subindo dos joelhos até a
cintura. O contato das coxas com a nuvem branca deixa-as
completamente relaxadas.
5 - Dirija a sua consciência para a região do quadril e
imagine a nuvem branca envolvendo toda esta área. O
contato do quadril com a nuvem branca deixa-o
completamente relaxado.
6 - Dirija a sua consciência para a região do abdômen até
altura do diafragma e imagine a nuvem branca envolvendo
toda esta área. O contato do abdômen com a nuvem branca
deixa-o completamente relaxado.
7 - Dirija a sua consciência para a região do peito indo
diafragma até altura dos ombros e imagine a nuvem
branca envolvendo toda esta área. O contato do peito com
a nuvem branca deixa-o completamente relaxado.
8 – Dirija a sua consciência para o braço esquerdo.
Imagine que a nuvem branca escorrega pelo braço
esquerdo indo até a ponta dos dedos da mão esquerda
deixando-os todos completamente relaxados.
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9 – Dirija a sua consciência para o braço direito. Imagine
que a nuvem branca escorrega pelo braço direito indo até a
ponta dos dedos da mão direita deixando-os todos
completamente relaxados.
10 - Dirija a sua consciência para o pescoço. Imagine a
nuvem branca envolvendo o seu pescoço. Visualize-se
imerso nesta nuvem branca do queixo para baixo. Mova
suavemente o pescoço e imagine o contato com esta
nuvem. Sinta o corpo completamente relaxado.
11- Dirija a sua consciência para a sua nuca. Imagine esta
nuvem branca subindo por trás de sua cabeça e
envolvendo-a como se fosse um capacete de nuvem
deixando fora apenas o rosto. Sinta todo o corpo relaxado.
12 - Dirija a sua consciência para a face e imagine a
nuvem branca cobrindo todo o rosto. Sinta-o
completamente relaxado.
13 – Dirija a sua consciência para o interior de sua cabeça.
Imagine que a nuvem branca adentra para o interior de tua
cabeça, preenchendo-a e deixando-a completamente
relaxada.
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14 – Dirija a sua consciência para o interior de seu corpo.
Imagine que a nuvem branca descer da cabeça para todo o
preenchendo-o e deixando-o completamente relaxado.
2.4 ATIVAÇÃO CORPORAL
Exercício 7
Depois de completamente relaxada usaremos este
exercício de imagem mental para reativar o corpo.
1 – Mova as pontas dos dedos dos pés .Imagine-se
calçando SAPATOS RELAXADOS. Espreguice os pés.
2 – Mova as pontas dos dedos das mãos. Imagine-se
calçando LUVAS RELAXADAS. Espreguice as mãos.
3 – Mova a cabeça em movimentos suaves. Imagine-se
colocando um CHAPÉU RELAXADO. Espreguice a
cabeça.
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4 - 3 – Mova o corpo em movimentos suaves. Imagine-se
colocando uma ROUPA RELAXADA. Espreguice o
corpo.
Exercício 8
Agora vamos fazer o uso de um tipo de massagem facial
que será a base de todo o nosso trabalho.
Coloque as mãos abertas sobre o rosto, e massageie
suavemente como se o mesmo fosse uma massa de
modelar, então respire profundamente e repeta esta
massagem.
Nós vamos utilizar este breve ritual físico para ancorar os
estados interiores com os quais iremos trabalhar.
Chamamos âncora a um estímulo físico que ativa um
estado emocional.
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2.5 SILÊNCIO CRIATIVO
Exercício 9
O terceiro é permanecer em silencio fazendo a contagem
mental de 21. Visualize um mostrador digital que vai
passando os números lentamente.
2.6 RELAXAMENTO FACIAL
Exercício 10 (Cathy Haase, 2003, pp. 11)
Sente-se numa cadeira com a coluna ereta. Os braços
apoiados sobre os joelhos. Mantenha os olhos fechados.
Respire naturalmente sem forçar o diafragma enchendo a
parte superior do pulmão.
Abra a boca suavemente, de tal forma que os dentes não se
toquem, deixando o maxilar relaxado.
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Respire, exalando o ar pela boca produzindo um som
afônico.
Concentre-se em seus olhos. Imagine que os seus olhos
são duas piscinas de águas cristalinas e calmas. Verifique
se há alguma tensão no rosto. Solte esta tensão com um
suspiro. Verifique se há alguma tensão no corpo. Solte
esta tensão com um suspiro.
Feche a boca.
Concentre-se nos globos oculares.
Levante os olhos para a posição mais alta que puder.
Permaneça nesta posição por 10 segundos. Sinta a tensão
muscular ao redor deles. Depois volte à posição normal.
Dirija os olhos para a esquerda. Permaneça nesta posição
por 10 segundos. Sinta a tensão muscular ao redor deles.
Depois volte à posição normal.
Dirija os olhos para a direita. Permaneça nesta posição por
10 segundos. Sinta a tensão muscular ao redor deles.
Depois volte à posição normal.
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Dirija os olhos para baixo. Permaneça nesta posição por
10 segundos. Sinta a tensão muscular ao redor deles.
Depois volte à posição normal.
Imagine que você pode ver por dentro de seu corpo.
Verifique se há qualquer tensão em qualquer parte e libere
esta tensão com um suspiro.
Gire o globo ocular pelas posições limites acima, à direita,
em baixo e à esquerda. Faça cinco rotações no sentido
horário e depois mais cinco rotações no sentido anti-
horário.
Exercício 11 (Cathy Haase, 2003, pag 12)
Sente-se numa cadeira com a coluna ereta. Os braços
apoiados sobre os joelhos.
Dirija a sua consciência para as suas sobrancelhas. Mova-
as para cima e para baixo 5 vezes. Repita o ciclo por três
vezes. Dê uma pausa entre cada ciclo de repetições.
Dirija a sua consciência para as suas sobrancelhas e para o
couro cabeludo. Mova as sobrancelhas como se elas
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puxassem e empurrassem o couro cabeludo para cima e
para baixo. Faça isso 5 vezes a cada ciclo. Repita o ciclo
por três vezes. Dê uma pausa entre cada ciclo de
repetições.
Estique a face fazendo de conta que você provou um limão
muito azedo. Mantenha este estiramento por 10 segundos.
Faça 5 repetições.
Dirija a sua consciência para a boca. Abra-a o mais que
puder, como um sorriso muito aberto. Em seguida, feche-a
como se fosse dar um beijinho em alguém. Repita estes
movimentos 5 vezes.
Dirija a sua consciência para os seus lábios superiores.
Com o dedo mova-o em várias direções. Depois sem a
ajuda da mão tente move-lo em várias direções.
Agora dobre os lábios sobre os dentes, fingindo que você
está desdentado. Abra a boca o máximo que puder e então
vá descobrindo os dentes.
Faça uma combinação de todos os movimentos acima.
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2.7 GIBBERISH
O Gibberish é uma fala na qual a coluna de ar sai pela
boca sem produzir uma sonoridade reconhecível, é como
se fosse um murmúrio pessoal, sem palavras.
A forma básica é a do suspiro na qual o ar sai dos pulmões
sem sofrer qualquer modificação. Como fizemos no
exercício 10.
Exercício 12
Inspirar e expirar produzindo alterações na coluna de ar de
acordo com alterações na boca, na língua e na face.
Fazendo caretas e brincando com estes efeitos entre a
coluna de ar do gibberish e a musculatura da face.
O gibberish é um exercício preliminar. Ele permite
construir as pontes com as regiões profundas das nossas
emoções. Como já falamos anteriormente é através do
ritmo respiratório que encontraremos os estados
emocionais.
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Este exercício tão simples é na verdade o nosso
passaporte para este reino interior. Não é como uma
receita de caras e bocas, mas um meio de exploração de
emoções verdadeiras.
Aprender a fazer o gibberish é essencial para os passos
seguintes desta nossa oficina. Não há porque ficar
imaginando que se poderão encontrar as emoções através
de alguma receita mágica, isto é impossível, tudo que
poderemos fazer é trazer para fora as nossas próprias
reações às diversas situações vividas pelas personagens.
Em versões anteriores desta oficina pudemos testar este
modo de trabalhar e obtivemos resultados muito bons. Nós
também podemos fazer algo de bom usando esta
ferramenta. Ela também não é um feitiço que produz
efeitos do nada, ao contrário, é uma ferramenta que exige
muito cuidado e esforço pessoal. A exploração das
possibilidades corporais são muitas.
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Exercício 13
Façamos um grande círculo, com cada pessoa tocando o
ombro da outra.
Um participante vai para o centro e de olhos fechados,
produz um gibberish, produzindo movimentos com todo o
corpo. O exercício deve ser repetido com todos os
participantes.
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CAPÍTULO 3 Ativação emocional
Vocês sabem o que é ter emoções, pois vivem imersos
nelas, se pararem para pensar sobre isto perceberão que
estamos vivendo 24 horas em estados emocionais os mais
diversos. Todo o tempo, não há como estar consciente e
sem emoções. Ter emoções faz parte da estratégia de
sobrevivência dos seres humanos. As emoções são uma
espécie de filtro para tudo o que vai acontecendo fora e
dentro de nós. Se vocês observarem, as emoções surgem
vindas de alguma região interior e ela é como uma
bolhinha pequena, que se junta a outras e mais outras até
ultrapassar os limites da consciência individual
produzindo sinais externos que são perceptíveis pelas
outras pessoas.
As emoções têm a semelhança com bolhas que surgem na
região mais profunda de nosso ser e vão ganhando as
camadas mais externas. Quando estamos imersos neste
processo raramente temos sobre isso algum controle, de
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fato, somos na maioria das vezes dominados por essas
bolhas emocionais.
As atrizes são pessoas dotadas de uma habilidade especial,
elas são capazes de provocar uma bolhinha destas na
superfície profunda do ser e trazê-las para a superfície
amplificando-as para que provoquem estados interiores
com manifestações físicas perceptíveis. Elas fazem isso
tão bem, que os espectadores de sua arte são tomados pela
mesma emoção e contaminados pela energia que isto
provoca.
Esta é arte das atrizes, esta capacidade de provocar
bolhinhas de emoção nas regiões mais profundas do ser e
trazê-las para a superfície. Esta é também uma arte secreta
e pessoal, que tem muita semelhança com os processos de
meditação, se bem que com resultados opostos, mas de
certo modo a arte de representar para a câmera é também
uma forma de meditação sobre os estados emocionais do
ser humano.
Para fazer a ativação emocional, vamos retomar os
processos de relaxamento já vistos no capítulo anterior.
41
Será necessário desenvolver a capacidade de estar em
silencio consigo mesmo.
Vamos retomar os exercícios com o Gibberish que por
sua natureza é uma seqüência de sons inarticulados sem a
intenção de comunicar ou expressar estados interiores.
exercício 14
Sentados na posição usual.
depois de ter feito o relaxamento.
Produzir gibberish modificando a saída do som com
ginástica facial.
Enquanto faz isso, imaginar uma cena de muita alegria
com risos e muito colorido,
Construir estas cenas com os sons do gibberish fazendo
também a construção de imagens visuais.
O som do giberish é inaudível para as pessoas que estão na
sala, é apenas para a pessoa que executa o exercício, cada
qual o seu universo interno de exploração emocional.
42
Este giberish é diferente do Grammelot (Grumelô) que é a
linguagem usada em teatro principalmente na arte dos
palhaços; também difere da língua blablá, que é usada
conforme Viola Spolin no treinamento de atrizes. Uma
coisa pode ajudar a outra, mas o grumelô e a blablaçao são
como uma mascara sonora para uma situação verbal. O
giberish que estamos usando não tem a intenção de
comunicar algo a alguém, mas de servir de meio para que
a bolha emocional suba das regiões mais profundas para a
superfície.
exercicio 15
Mesma disposição anterior.
Pense na mesma situação alegre. E então imagine a bolha
de emoção, pequenininha numa superfície profunda do
ser, e vá soprando ela através do giberish, para o alto e
tornando ela mais forte e potente.
Esta é a intenção: imaginar um estado emocional associá-
lo a uma imagem e construir a sonoridade deste estado
através do giberish.
43
Giberish é uma palavra que no dicionário tem vários
significados, mas aqui vamos usá-la no sentido de
produzir estes canais sonoros de emoção.
Para os primeiros trabalhos é muito importante que vocês
escolham situações agradáveis, para que o próprio
processo de treinamento vá ajudando cada qual a construir
os seus modos de defesa interior. Não é aconselhável,
abrir feridas emocionais e potencializá-las, pois isto tem
conseqüências imprevistas, até serve para captar as
imagens de um filme, mas depois a pessoa vai precisar de
ajuda profissional para se curar. Os estados emocionais
das personagens devem ser adequados à maturidade de
cada atriz, nem toda pessoa está apta a enfrentar
determinados papeis sem antes ter amadurecido em sua
própria vida.
Fica também a recomendação de que qualquer atriz deve
somente aventurar-se no terreno das coisas que pode
controlar. Lembre-se que o seu descontrole num
determinado instante pode até ser utilizado diretor daquele
filme, mas você terá muitos problemas depois e até
decepções quando notar que, de fato, ele te usou para
obter o que queria como um animal que se treina, mas
44
depois não é mais atriz para outros papeis. Portanto,
lembrem-se que a matéria prima de nosso trabalho é a
emoção como as tintas na mão de um pintor que sabe o
que quer e o que faz.
45
CAPÍTULO 4 Concentração e observação
Há algo que precisamos aprender desde cedo: estar no
mundo requer saber o caminho pelo qual queremos seguir.
Saber escolher os caminhos é uma tarefa simplória, mas
essencial para a existência. Imagine que você acordasse
pela manhã e não soubesse decidir o que fazer. Muitas das
coisas que fazemos já estão no automático, acordamos nos
espreguiçamos , escovamos os dentes, tomamos um
banho, arrumamos o nosso quarto, tomamos o café da
manhã e partimos para realizar as tarefas do dia. Estes
caminhos inconscientes foram aprendidos através da
observação e concentração. Estas duas coisas estão
intimamente interligadas, para realizar uma, você precisa
da outra e vice-versa.
No trabalho da atriz esta tarefa consiste em recompor os
caminhos da vida de sua personagem descobrir os seus
46
caminhos e colocar-se neles reagindo com naturalidade
cada instante.
É comum a idéia de que concentração envolve esforço. Há
quem faça um esforço enorme para se concentrar em algo
até mesmo forçando a musculatura do rosto. Algumas
pessoas chegam a ficar vermelhas de tanta "concentração".
Isto é uma compreensão errônea do que seja a
concentração.
Em termos simples concentrar é somente dirigir a atenção
para algo, como um laser, que é luz concentrada, da
mesma forma dirigimos a nossa atenção para algo e
capturamos aquela coisa com os nossos sentidos, mas
somente dirigir a atenção não é o suficiente. É preciso
saber o que se está procurando. É um exercício
improdutivo dirigir a atenção para algo e não saber o que
está procurando ali.
Exercício 16
47
Escolham um lugar observem a paisagem por 10 minutos.
Voltem para a sala de ensaio. Relatem o que viram. Ao
fazer um exercício destes, recolhemos os relatos mais
inusitados. Notaremos que será necessário
desenvolvermos as nossas capacidades de observação.
Exercício 17
Este exercício é inspirado em Cathy Haase.
Escolhamos um lugar público sossegado, onde ninguém
lhe conheça, leve um caderno de anotações. Observe tudo
o que se passa: as pessoas, as situações, o lugar, as cores,
os cheiros, os sons, tudo o que chamar a sua atenção e
registre em seu caderno, as suas impressões sensoriais, o
seu sentimento a respeito de cada coisa.
Use o esquema abaixo:
1 - Nome da coisa observada.
2 - Descreva numa palavra ou frase curta.
3 - Numa palavra o seu sentimento sobre aquela coisa
observada.
48
Exercício 18
Com todos os exercícios realizados responderemos em
seqüência a cada uma das questões abaixo:
1- Eu fui sincera em todas as minhas anotações?
O que significa falar sobre sinceridade, é que às vezes a
gente escreve o que acha que deveria escrever para agradar
ao contexto ou a alguém censurando as nossas verdadeiras
emoções.
2 - Quando eu marquei algo, esta coisa que me
impressionou, eu fui a fundo nesta investigação,
aprofundei a minha emoção até o limite mais profundo
indo encontrar mais coisas nesta direção?
3 - Se alguém observou o que eu estava fazendo como eu
reagi a isto, ao saber que alguém também me observava?
4 - Qual foi a minha relação com o entorno sonoro e visual
do lugar que eu estava observando, como isto afetou as
minhas observações? O quanto profundo eu fui nestas
49
observações ou me contentei com a primeira camada de
coisas.
5 - Eu me distraí muito me perdendo em meus
pensamentos, deixando de observar o movimento externo
a mim.
6 - Eu anotei estas interferências interiores de meus
pensamentos na tarefa de observação?
7 - Eu deixei que as minhas emoções participassem do
processo de observação e o quanto profundamente eu
permiti que isto acontecesse.
8 - Eu julguei pessoas pelo seu estereótipo ou procurei
observar sem preconceitos.
Exercício 19
Relembrem do que fizeram hoje pela manhã até chegar
aqui, tentem recompor mentalmente falando e
representando em 1 minuto todos os seus passos, mas
verbalizando as suas emoções. Foquem nas ações
interiores, isto é, no movimento interior de suas emoções
50
sem preocuparem-se em mostrar através de gestos o que
estavam fazendo.
Estes exercícios iniciais de concentração e observação nos
servirão para começar a treinar a nossa capacidade de
construir personagens. É muito comum atrizes iniciantes
já terem de pronto uma casca exterior para qualquer
personagem e nós sabemos que o exterior apenas reflete o
mundo interior de cada pessoa.
Ainda trabalhando com a concentração vamos aprender a
trabalhar em ambientes públicos, com muitas pessoas nos
observando, pois será o destino de nosso trabalho diante
das câmeras. É preciso aprender a entrar em estados
emocionais sem a preocupação com um público que nos
observam, atrizes trabalham sempre em ambiente público,
diferente do teatro em que há todo um ritual de separação.
No filme a atriz está verdadeiramente envolvida por uma
equipe que chega a testar a capacidade de concentração de
qualquer uma.
51
CAPÍTULO 5 Os sentidos
Uma atriz em sua vida natural é rodeada pelo mundo e
traduz este universo na qual está imersa através de
representações de cinco canais perceptivos: visual,
auditivo, sinestésico, paladar, e olfato.
Estas representações existem de forma integrada e são
quase invisíveis no dia a dia. Geralmente passa-se
despercebido por tudo isso sem nos darmos contar de
como construímos estas representações dos fatos, dos
lugares, das pessoas.
Primeiro é preciso prestar atenção ao fato de que qualquer
emoção existe sempre interligada a estas representações
Há três fatores em tudo o que ocorre a uma personagem:
Um acontecimento no tempo, pessoas e um lugar.
Estes três fatores são construídos na nossa mente através
de um alfabeto de cinco classes de representações: visual,
auditivo, sinestésico, paladar, e olfato.
52
Por exemplo, não existe emoção de amor sem um contexto
próprio, do tipo vou sentir amor agora; isto sempre estará
associado àqueles três fatores, mesmo que não tenhamos
consciência disso. Alias é disto que cuidam os terapeutas,
trazer à consciência estas coisas escondidas nos labirintos
da mente.
Vamos estudar cada um destes sistemas de representação
agora.
Primeiro o sistema visual e suas submodalidades.
Usaremos aqui a terminologia da PNL(programação
neurolinguistica), mas deixarei para cada uma a tarefa de
pesquisar sobre PNL na internet. Não é nosso objetivo
aqui estudar PNL.
5.1 VISÃO
A modalidade visual é acessada através dos olhos e temos
três situações básicas:
1 - a visão das coisas no presente
53
2 – a visão das coisas no passado através da memória
visual
3 - a visão das coisas no futuro, das coisas que
imaginamos.
Nestas três situações temos submodalidades que são:
1 - Cores / Preto e branco
2 – Brilho
3 – Foco
4 – Movimento (slide ou filme)
5 – Velocidade
6 – Tamanho
7- Distância
8 – Associada/Dissociada. Dizemos que você está
“associada” se está dentro da imagem. “Dissociada” se
está fora.
Exercício 20
54
1 - Vamos sair da sala. Escolher uma imagem e observar
cada uma de suas submodalidades. A oitava
submodalidade será usada na segunda etapa do exercício.
2 – Todas sentadas em um grande círculo. Relatar
recompondo com a memória a cena observada através da
reconstituição das submodalidades. Nesta parte usar a
oitava submodalidade.
Exercício 21
Agora imaginar modificações na imagem alterando as
qualidades das submodalidades.
1 – Construir a imagem na mente.
2 – Modificar as suas cores.
3 – Voltar a imagem original...
4 – Alterar outra submodalidade sob a direção do
professor.
55
5.2 AUDIÇÃO
A modalidade auditiva é acessada através dos ouvidos e
tem três situações básicas:
1 - o som que escutamos no momento presente, que tem
um som principal e um entorno que é o som do
background;
2 - O som que lembramos na memória que tem também o
som principal e o entorno.
3 – O som que imaginamos no futuro.
As submodalidades do som são:
1 – Tom/altura
2 – Volume
3 – Localização
4 – Ritmo
5 – Número
56
6 – Palavras
7- Melodia
8 – Associada/Dissociada.
Exercício 22
1 - Vamos sair da sala. Escolher um lugar, fechar os olhos
e observar a sua sonoridade atentando para cada uma de
suas submodalidades.
A oitava submodalidade será usada na segunda etapa do
exercício.
2 – Todas sentadas em um grande círculo. Relatar
recompondo com a memória a cena observada através da
reconstituição das submodalidades. Nesta parte usar a
oitava submodalidade.
57
Exercício 23
Agora imaginar modificações na cena auditiva alterando
as qualidades das submodalidades.
1 – Construir a sonoridade na mente.
2 – Modificar a para mais grave, depois para agudo.
3 – Voltar a sonoridade original...
4 – Alterar outra submodalidade sob a direção do
professor.
Exercício 24
Relembrar de uma cena que aconteceu com você hoje.
Passar o filme na mente. Alterar as submodalidades
visuais.
Exercício 25
Relembrar de uma cena que aconteceu com você hoje.
Passar o filme na mente. Alterar as submodalidades
sonoras.
58
5.3 CINESTESICO
A modalidade cinestésica segundo (BANDLER,1987,
P.172) é dividida em três classes:
1 – Tátil, que se refere às sensações da pele;
2 – Proprioceptiva, que se refere às sensações internas;
3 – Meta-sensações avaliativas que se referem às
sensações físicas causadas pelas emoções, geralmente na
região do estômago e peito.
Há três situações básicas:
1 – A sensação cinestésica que sentimos no momento
presente.
2 - A sensação cinestésica que lembramos na memória.
3 – A sensação cinestésica que imaginamos no futuro.
As submodalidades cinestésicas são:
1 – Localização
2 – Pressão
3 – Extensão
59
4 – Textura
5 – Temperatura
6 – Movimento
7- Número
8 - Duração
Exercício 26
Relembrar de uma cena que aconteceu com você hoje.
Passar o filme no corpo revivendo as sensações fisicas
enquanto relembra.
Exercício 27
Relembrar de uma cena que aconteceu com você hoje.
Passar o filme na mente. Alterar as submodalidades
cinestésicas sob a direção do professor.
60
5.4 OLFATO
A modalidade do olfato tem três situações básicas:
1 – A sensação olfativa que sentimos no momento
presente.
2 - A sensação olfativa que lembramos na memória.
3 – A sensação olfativa que imaginamos no futuro.
As submodalidades olfativas são:
1 – Localização
2 – Intensidade
3 – Agradável/ Desagradável
4 – Aroma
5 – Número
6 – Duração
61
Exercício 28
Relembrar de uma cena que aconteceu com você hoje.
Passar o filme revivendo as sensações olfativas enquanto
relembra.
Exercício 29
Relembrar de uma cena que aconteceu com você hoje.
Passar o filme na mente. Alterar as submodalidades
olfativas sob a direção do professor.
5.5 PALADAR
A modalidade do paladar tem três situações básicas:
1 – A sensação gustativa que sentimos no momento
presente.
2 - A sensação gustativa que lembramos na memória.
3 – A sensação gustativa que imaginamos no futuro.
62
As submodalidades gustativa são:
1 – Temperatura
2 – Intensidade
3 – Agradável/ Desagradável
4 – Doce/amargo
5 – Ácido
6 – Salgado
Exercício 30
Relembrar de uma cena que aconteceu com você hoje.
Passar o filme revivendo as sensações gustativas enquanto
relembra.
Exercício 31
Relembrar de uma cena que aconteceu com você hoje.
Passar o filme na mente. Alterar as submodalidades
gustativas sob a direção do professor.
63
Do ponto de vista da PNL existem muito mais
submodalidades em cada uma das modalidades vistas
acima. As submodalidades são poderosas âncoras de
estados emocionais. Em nosso trabalho é provável que
descubramos outras que sejam úteis em determinada cena
e que não foram listadas acima.
Exercício 32
Saiam para a rua e busquem encontrar uma paisagem na
qual possam parar e por alguns minutos, prestar atenção
no que está acontecendo, mas enquanto fazem isto vão
anotando no papel as suas impressões em frases curtas
como versos de um poema da memória.
Este é um recurso de trabalho que aprendi com a
professora Laís Aderne, não é um recurso novo, mas que
produz resultados interessantes e pode inclusive ser usado
como mote para a improvisação de cenas.
Neste nosso caso estas frases servirão de gatilho para a
memória sensorial.
Ao observarem algo, construam uma imagem completa
disto e escrevam um verso deste poema da memória de tal
64
sorte que ao ler este verso toda aquele complexo de
memória sensorial venha a sua mente.
Escolha dez pontos deste ambiente, observe-os
detalhadamente e então escreva os seus respectivos versos
memória, ao fim teremos o poema memória.
Escreva o poema memória no espaço abaixo:
1............................................................................................
2............................................................................................
3............................................................................................
4............................................................................................
5............................................................................................
.6...........................................................................................
7............................................................................................
8............................................................................................
9............................................................................................
10..........................................................................................
Repassem o poema na mente de tal modo que seja fácil
evocar as imagens enquanto ler novamente os poemas.
Este exercício tem a função de colar a imagem real
observada a uma rede na memória e depois evocar esta
65
imagem através dos versos. Este é um exercício que nos
prepara para fazer o mesmo com as falas das personagens.
Exercício 33
Agora vamos associar ao poema memória um estado
emocional alegre através da produção de um monologo
interior.
Comecem com o aquecimento já descrito e depois com o
giberish.
Em seguida, para cada verso construam uma sonoridade
da emoção escolhida, neste caso alegria
Exercício 34
O mesmo exercício anterior apenas invertendo a
polaridade do estado emocional.
Exercício 35
Observe algo que está aqui agora na sala.
66
Atente para as sonoridades da sala e de seu entorno.
Sinta o calor ou frio do ambiente e a tensão de seu corpo
no chão ou na cadeira.
Sinta o cheiro do ambiente.
Sinta o gosto se houver algum perceptível.
Respire fundo.
Agora lembre de algo que você viu ontem e traga esta
imagem viva para memória.
Traga um som da memória e o escute vivamente em sua
mente.
Sinta o tato de algo que aconteceu antes.
Lembre vivamente de um cheiro.
Lembre de um sabor que já experimentou antes.
5.6 ASSOCIANDO MEMÓRIA A ESTADOS
EMOCIONAIS
67
Agora vamos trabalhar com associações de estados
emocionais através de monólogos interiores, imagens e
movimentos de uma dança pessoal.
Exercício 36
Uma de cada vez vai para o centro do círculo concentra-se
na sua seqüência de imagens lembradas e associadas a
emoções alegres do exercício 33, de olhos fechados faz
movimentos com todo o corpo enquanto articula o seu
monologo interior através dos gibberish. Este som não é
para ser audível para o grupo, é uma viagem pessoal e
interior, de vivencia pessoal.
Como tarefa fundamental deste exercício terá que ser feito
uma debate acerca das sensações de cada uma, sobre si e
as outras.
Este exercício também vai reforçar a idéia de que atrizes
que trabalham para a câmera aprendem a manter a
concentração cercadas por todo o grupo que a observa
sempre de muito perto.
68
Como tarefa é importante começar a treinar a habilidade
de ver as pessoas e colocar-se no lugar delas, imaginar
como seria aquela pessoa, procurar compreender o que faz
ela para agir daquela forma, quais são as suas emoções.
Não são tão importantes os seus movimentos externos, a
partitura física, mas deve-se tentar compreender o que se
passa com ela para que aja daquela forma. A composição
física será construída sempre de forma minimalista,
mesmo que se necessita de algo histriônico adequado à
comédia, mas ainda assim com extremo controle dos
efeitos que podem ser produzidos pelo corpo. Neste
exercício deve-se procurar captar qual é o universo interior
daquela pessoa.
Exercício 37
Vamos assistir a algumas cenas de filmes e discutir sobre
os estados interiores das personagens.
Será também útil se despojar dos preconceitos de que são
vitimas muitas pessoas de teatro com a televisão.
69
Observar o trabalho de atrizes da televisão que nos
ensinam com o seu trabalho como lidar com a construção
destes estados.
Falo de preconceito, porque isto é algo que existe, pessoas
de teatro não vêem novela. Pois bem. Ver novela é
obrigatório para quem quer se dar bem nesta carreira que
inclua a televisão. Ver cinema brasileiro é obrigatório, e
não somente os filmes de arte recomendado pelos críticos,
mas todo o cinema brasileiro, pois muitos de nossos
colegas trabalharam naqueles filmes e devemos ter em
mente que somos uma grande família do audiovisual.
70
71
CAPÍTULO 6 Respiração e voz
A respiração está associada à existência de uma pessoa.
Uma grande metáfora está no livro do Gênesis da Bíblia,
naquele episódio que narra a criação da humanidade, que é
criada por Deus do pó da terra e tem insuflado em suas
narinas um sopro de vida e se torna a partir dali um ser
vivente sobre o planeta. O ciclo da vida começa com a
primeira respiração do bebê e termina com o último
suspiro do moribundo. Existir é respirar. Preste atenção na
respiração, pois ela tem sido negligenciada em virtude de
seu automatismo biológico.
6.1 FÁBULA DA RESPIRAÇÃO
Para ilustrar a importância da respiração atente para esta
fábula. Conta-se que uma mulher estava muito aflita com
os inúmeros problemas de sua vida e foi consultar um
72
velho monge que morava numa gruta próxima ao vilarejo
onde morava. Ela aproximou-se:
- “Senhor Monge, eu conheço a sua santidade e todas no
vilarejo o respeitam, eu gostaria muito de ter a solução
definitiva para os meus problemas”. Ela explicou-lhe todas
as suas agonias e perguntou-lhe sobre qual deveria ser a
melhor solução.
- “Sente-se aqui ao meu lado e pratique comigo cem
respirações completas”. Disse o Monge.
Ela aceitou, mas logo após indagou sobre a solução que
esperava ouvir. O monge novamente pediu-lhe que
repetisse o exercício. Ela ficou um pouco chateada, mas
concordou repetir a seqüência de respirações mais uma
vez.
- “Pronto, já fizemos estes exercício duas vezes
perfazendo um total de duzentas respirações completas,
portanto agora eu quero ouvir algo que me ajude a resolver
os meus problemas”. Disse-lhe ela esperando uma palavra
definitiva.
73
O monge sugeriu que ela repetisse as respirações. Ela
ficou muito brava ao que o monge indagou:
- “Você trocaria a solução definitiva dos seus problemas
pela sua respiração? Você resolve todas as suas
dificuldades e fica sem respirar”.
- “Mas deste modo eu morro!” Disse perplexa a mulher.
- “Se ficar sem respirar você vai encontrar um problema
maior ainda. Transforme as suas angústias através da
respiração”.
6.2 RESPIRAÇÃO E ESTADOS EMOCIONAIS
No início de cada sessão de trabalho com as personagens
devemos retomar os exercícios respiratórios. É através da
respiração que vivenciamos os estados emocionais.
Interpretação de papéis e respiração são a mesma coisa.
Construir uma personagem é permitir que ela respire
através da atriz.
74
No verbete Fernanda Montenegro da Enciclopédia Itaú
Cultural Teatro lemos que “a sua própria respiração é um
elemento dramático tão forte que é impossível ao
espectador da última fila deixar de ouvi-la”. Quem a viu
no teatro, no cinema ou na televisão percebeu que estava
diante de algo que lembra a metáfora do Gênesis citada
logo acima, atriz tal qual uma demiurga sopra um alento
de vida e a personagem torna-se um ser vivente diante dos
espectadores.
O monologo interior é respiração da emoção. Do ponto de
vista da interpretação para a câmera a fisicalização da
personagem começa pela respiração. Depois vem a voz e
por fim o corpo.
Exercício 38
Sente-se em um lugar. Procure relaxar todo o corpo.
Mantenha o foco na respiração:
1- Faça uma seqüência de 21 respirações completas(
inspirações e expirações) sem sonoridade
75
2 –Faça uma seqüência de 21 respirações completas(
inspirações e expirações) emitindo alguma sonoridade
como se fosse uma melodia feita de vento.
3 - Faça uma seqüência de 21 respirações completas(
inspirações e expirações) dizendo em sonoridade na
expiração a frase: Vento, ventania, brisa, furacão.
Durante todo o exercício nunca é demais lembrar que
mantenha a consciência na respiração.
Num filme não é necessário projetar a voz como se faz no
teatro. Na respiração se encontra uma das diferenças entre
interpretar para o filme ou para o teatro. Num filme a
câmera e os equipamentos de áudio captam detalhes,
pequenas nuances que são imperceptíveis para uma platéia
de teatro. Cathy Haase diz que para o atriz no palco a
produção e projeção da voz tem precedência sobre o
momento emocional quando fala e que no filme é
justamente o contrário, o momento emocional tem
precedência sobre a produção e projeção da voz.
76
Para praticar esta articulação entre voz e respiração de
uma personagem vamos escolher uma cena de uma
personagem de acordo com as regras sugeridas por Cathy
Haase:
1 - A cena escolhida deve ser do sexo e faixa etária
adequada. A personagem adequada deverá estar numa
faixa entre 10 e 5 anos de sua idade atual. A câmera
captura a imagem real, então se levando em consideração
que não estamos trabalhando com maquilagem complexa
e nem com computação gráfica, escolha algo que se
encaixe no seu perfil físico.
2 - Escolha uma cena de um filme bastante conhecido.
3 – A personagem deve ser interessante para você.
4 - Copie as falas da personagem que irá exercitar
compondo um pequeno monólogo abstraindo as falas de
outras personagens se houverem.
5 – Escolha uma personagem cuja experiência de vida se
aproxime de alguma forma da sua própria de vida.
6 – Evite a comédia. O ideal é encontrar cenas realistas de
situações comuns da vida humana.
77
Aprenda a situação da cena que você escolheu. Não é para
decorar de maneira mecânica.
Uma vez que você tenha escolhido o a sua cena. Estude-a,
mas tenha o cuidado de não se aproximar dela com todos
os preconceitos acumulados em outras ocasiões.
Primeiramente aprenda a situação na qual está a
personagem, mas coloque-se você mesmo naquela
situação, nada de agir como se fosse a personagem já
criando um tipo físico, um andar, um modo de falar,
criando a caricatura externa da personagem.
Antes disso estude a personagem sem interpretá-la
imediatamente, simplesmente se coloque diante dela,
coloque-se naquela situação e identifique qual é o estado
emocional dominante.
Não é pra interpretar; é somente para compreender a
situação. Em nossa oficina esta é uma etapa cruel, pois é
muito difícil compreender isto de “interpretar” sem
interpretar, isto é, colocar-se num processo de escuta da
personagem a partir de nós mesmos.
78
Exercício 39
Este é um exercício adaptado de Cathy Haase
acrescentando recursos de PNL.
Concentre-se na respiração. Imagine que a cada expiração
você vai inflando um balão com o estado emocional da
personagem. Vá trazendo este estado emocional evocando
imagens, sons, sentimentos, sensações cinestésicas, odores
e paladares. Faça as respirações como se estivesse
suspirando.
Exercício 40
Sente-se num local e faça a relaxamento mental e físico
com calma. Leve o tempo que for preciso.
Logo em seguida leia a sua cena com calma sem atropelos,
respirando calmamente e procurando evocar o mesmo
estado emocional da personagem.
Ao dizer o seu texto não se preocupe imediatamente com a
pronuncia correta das palavras com todos os “esses” e
79
“erres”. A dicção teatral exagerada não é útil nesta fase de
trabalho.
Um aviso importante: Este é um estudo para você
mesmo. Não é para demonstrar às suas colegas de oficina
que você está fazendo um grande trabalho interpretativo.
Esqueça isto, neste trabalho você está sozinha, somente
vão lhe aplaudir depois que o filme estiver pronto.
Portanto pare de ficar prestando atenção se as pessoas
estão observando você em seu trabalho. Deixe o
narcisismo de lado, que ele é um veneno poderoso.
Agora vá com calma para a sua cena sem solavancos num
ritmo constante.
Exercício 41
Uma vez aprendida a situação da cena.
Faça um giberish , e em seguida passe para um monologo
interior evocando o estado emocional da cena e diga o
texto somente para si mesmo como se estivesse
murmurando.
80
Em seguida deixe o texto evoluir para a fala com toda a
carga emocional. Lembre-se de que o rosto deve estar
relaxado e seguir a movimentação do estado emocional.
Exercício 42
Primeira gravação.
Vamos gravar um plano aproximado do rosto enquanto
cada atriz diz o seu texto.
A cada um destes comandos abaixo execute as seguintes
tarefas interiores:
“EM SUA POSIÇÃO” – Coloque-se na posição indicada
pela direção para dar inicio à gravação. Feche os olhos.
Relaxe. Respire fundo. Imagine que está dentro de uma
redoma de vidro que a protege de qualquer distração
exterior.
“ATENÇÃO, SILÊNCIO” – Evoque a situação da
personagem e os estados emocionais com suavidade.
“CÂMERA” – Abra os olhos. Faça um movimento com os
olhos a partir de seus pés, visualizando o chão, escute e
81
sinta o ambiente, veja os pés da personagem e à medida
que eleva a visão veja o que a personagem vê. Evoque o
monologo interior da cena através da respiração.
“AÇÃO” – É a ordem do diretor para iniciar a cena.
Inspire o estado emocional e expire com a ação plena do
corpo.
Neste primeiro exercício estaremos gravando apenas uma
tomada do rosto, portanto não se angustie com o restante
do corpo.
“STOP” - A cena deve prosseguir até o diretor dizer
“Stop”. Prefiro usar a palavra inglesa, inspirado pelo uso
que dela fez Augusto Boal no seu livro “Stop, C’est
Magique”. Mesmo que o texto de sua cena acabe, continue
concentrado nela, em ação, visualizando o que estaria
vendo a personagem.
O momento seguinte será fazermos uma sessão para
estudarmos as atuações diante da câmera. Como veremos
este material sem qualquer edição do material será
possível ver a primeira abordagem de cada uma a um
papel, a sua adequação e a sua realização final. Com este
primeiro exercício foi possível verificar o nível de cada
82
uma trabalhando para a câmera, que não deixa de fora
nenhum detalhe; qualquer coisa aparecerá diante de nós,
os acertos e os erros.
Vamos aprender a lidar com este universo e nos
dedicarmos a ele sem idéias preconcebidas.
Como exercício necessário, vocês devem de agora por
diante prestar muita atenção ao trabalho das grandes
atrizes apara sentirem como realizam o seu trabalho.
Exercício 43
Assistir e avaliar o exercício gravado.
83
CAPÍTULO 7 Contracenando com a outra
A grande dificuldade da atriz não está nela sozinha com a
câmera, mas nos momentos em que tem que dividir esta
câmera com mais alguém. Talvez haja sem que demos por
percebido que há algum tipo de guerra subterrânea pelas
atenções da câmera. Uma luta assaz feminina pela atenção
do amante, uma luta capaz de botar a perder todos os
esforços de construção do filme.
Quando se está em cena com mais de uma pessoa há que
encontrar o modo de trabalhar de forma natural. Aqui é
preciso distinguir o que se deve entender por natural, pois
esta é uma natureza que precisa ser construída para
parecer natural, que de fato possui alguns truques na sua
construção.
Na natureza a convivência de duas pessoas obedece aos
ritmos individuais. Cada qual age tomando o espaço que
84
lhe apraz no jogo de poder que representa a ocupação de
territórios. Mas num filme tudo isto se altera porque
dependemos da posição da câmera e dos limites de
captação da imagem, mesmo as marcações num filme
diferem daquilo que costumamos entender por marcação
no teatro. Num filme as marcas de cena variam de plano
para plano cada qual atendendo às necessidades de cada
tomada.
Estar em cena com mais alguém envolve uma habilidade
muito comum entre as atrizes: escutar a outra atriz e reagir
às suas palavras e atos. Num filme esta reação vale tanto
quanto uma fala.
No teatro é conhecida a disputa das atrizes por um número
maior de falas e chega-se a considerar bons os papeis que
tenham muitas falas.
Num filme tudo isto muda de figura, pois escutar e reagir à
fala da outra tem muito mais poder do que a fala em si.
Basta observarem os filmes clássicos e verificarem como
as grandes atrizes dão o tom da cena simplesmente
reagindo à fala das outras. E esta é a tarefa mais difícil de
fazer.
85
Escutar é algo difícil até mesmo no dia a dia. Numa
oficina como esta quando paramos para escutar a
avaliação de cada uma sobre um determinado exercício,
verificamos que as atrizes se agoniam e ficam fofocando
com a vizinha como se apenas importasse a sua fala. Este
exercício de escutar a fala da outra é o primeiro passo para
o domínio da técnica de interpretação para a câmera.
Vamos desenvolver um exercicio básico que será trabalhar
esta capacidade de escutar a outra. E isto será uma regra
de trabalho de agora por diante: Deve-se falar somente o
necessário, isto é dizer as falas de sua personagem no
momento de ensaio ou gravação. No restante do tempo
deve-se estar em absoluto silencio e com a atenção voltada
para o trabalho.
Sabemos que isto é algo quase impossível de se obter,
pois todas já estão acostumadas com um tipo de vida na
qual vale a velocidade dos contatos, sem tomar
consciência do que realmente está acontecendo.
86
Exercício 43
Em duplas, ao centro de um circulo maior, duas atrizes
conversam.
Primeiro, uma delas conta como foi o seu dia e a outra
escuta atentamente. Todos observam o diálogo. Depois as
duas atrizes invertem os seus papeis.
Todo o grupo faz este exercício. Ao final, cada uma fala
de suas impressões sobre este exercício.
Iremos verificar que isto será algo extremamente difícil,
pois temos a tentação de conversar com a companheira ao
lado sobre qualquer assunto. Mas este exercício será
necessário para treinarmos a nossa capacidade de
concentração para quando estivermos em situação de
gravação onde tudo conspira contra a nossa atenção.
Haverá muitas distrações e permanecer em total foco é
uma habilidade preciosa. É a coisa mais valiosa numa
atriz. O seu talento somente pode despontar através deste
tipo de disciplina pessoal. Não se enganem com as estórias
acerca das grandes estrelas do cinema, cujas estórias de
87
chiliques e excentricidades povoam o nosso imaginário,
esqueçam estas estórias, a maioria delas é lenda mesmo.
Numa situação de gravação, a disciplina é perfeita e
aquela que criar problemas demais também será
aposentada antes do tempo.
Mesmo na vida diária quando estiverem pesquisando a
vida humana que iremos interpretar agucem a capacidade
de escutar. Numa conversa cotidiana dêem corda para que
o seu interlocutor fale mais a respeito de si mesmo, escute
e observe com cuidado os estados emocionais.
Exercício 44
Segunda gravação
Em duplas seguindo os padrões já estabelecidos no
capítulo anterior. Escolher uma cena e prepará-la para
gravação. Repetir os mesmo passos que foi feito com o
monologo. Depois de ensaio. Gravação das referidas
cenas.
Exercício 45
Visualização dos exercícios e avaliação dos resultados.
88
89
CAPÍTULO 8 De corpo inteiro
Trabalhamos até agora com exercícios que privilegiaram o
rosto. Demos atenção a ele, pois seguindo o adágio
popular é nele que residem as janelas da alma. De fato o
rosto de alguém é extremamente revelador de seu estado
emocional.
No entanto não existe um rosto sem um corpo, pois seria
somente uma máscara e estas são destituídas das
contradições, pois que apresenta apenas a face do lado que
se quer mostrar.
Há um livro brasileiro muito famoso de Pierre Weil e
Roland Tompakow, O Corpo Fala, que mostra que o
corpo articula também uma linguagem, que muitas vezes a
face diz uma coisa mas a totalidade do corpo diz outra. Ele
propõe uma classificação do corpo em três grandes áreas:
a região do abdômen como sendo associada a vida
instintiva e vegetativa; a região do torax, associada a vida
emocional; a região da cabeça associada a vida mental,
90
racional e espiritual. Pierre Weil propõe a idéia de que a
pessoa humana é como uma esfinge que tem o abdômen
de um boi, o peito de um leão, asas de águia e uma cabeça
humana. Os braços e as mãos são significadores de
intenções. No seu livro Weil propõe uma serie de imagens
ilustrativas acerca desta linguagem corporal. De fato, o
corpo possui uma linguagem que exterioriza coisas que
estão ligadas às profundezas do inconsciente de cada um.
Hoje a ciência através da neurofisiologia das emoções é
capaz de localizar as regiões cerebrais que são
responsáveis pelo desencadeamento de cada emoção. Há
um farto material disponível na internet sobre este assunto
que vocês podem acessar e estudar.
Mas nos interessa saber como fazer para fazer afluir para a
superfície da pele os estados emocionais interiores e suas
contradições. Daquilo que já falamos acima, às vezes o
rosto diz uma coisa, mas as mãos dizem outra.
Há uma grande preocupação com o corpo da personagem.
Para nos aproximarmos deste assunto vamos usar uma
imagem poética. Imaginemos que o corpo da personagem
existe primeiro no plano da mente como uma construção
nossa de suas condições materiais de existência, o seu
91
contexto, as suas razões, os seus objetivos e motivações
intimas.
Imaginemos logo em seguida que este corpo construído
através de um exame racional, precisa ser traduzido
através de estados emocionais. O que seria um corpo de
emoção, ou na nossa maneira de trabalhar um corpo
construído através de respiração, um corpo de ar?
Por fim imaginemos que esta personagem e o seu corpo de
ar se condensam em nosso corpo como se fôssemos o
condensador de um destilador. E fazemos isso procurando
sentir aquelas emoções.
Exercício 46
Terceira gravação
Faremos um plano de 30 segundos de corpo inteiro de
cada uma das atrizes. É para apenas ficar diante da câmera
por trinta segundos. Após 15 segundos o professor pedirá
para que respirem profundamente, com calma, sentindo a
própria respiração. Não é para expressar nenhuma emoção
apenas estar naquele momento presente da respiração.
92
Exercício 47
Visualização do exercício gravado.
Verifiquem as diferenças entre o primeiro momento e o
segundo momento quando se estava concentrada na
respiração.
Este exercício é uma adaptação daquele primeiro exercício
de Viola Spolin, na qual ela fala sobre a importância de ter
um objetivo quando estamos em cena. Aqui aquele
exercício vai um pouco mais além, ele nos chama a
atenção para o fato de que precisamos estar no aqui agora
diante da câmera. Ter um objetivo se traduz por estar no
presente, sentindo o momento presente.
Toda e qualquer ação depende do que a tomada requer;
não é uma marcação para preencher o espaço ou controlar
aspectos visuais como às vezes acontece no teatro, mas
aqui diante da câmera precisamos estar atentos para agir
com simplicidade impulsionada pelos estados emocionais.
Reagir aos eventos, quaisquer que sejam: uma fala de
93
outra personagem, ou algo que esteja ocorrendo. Você
reage! Na verdade, este é o truque deste tipo de
interpretação, todo o tempo você reage a algo, seja interno
ou externo, pois a ação começa primeiramente no mundo
interior da atriz.
8.1 A NUDEZ
Há situações especiais no uso do corpo, o caso da nudez,
por exemplo, que é algo que pode ocorrer numa cena. A
metodologia de trabalho é a mesma, tudo começa nesta
construção interna, a atriz não estará se exibindo para uma
platéia, mas executando ações que são justificadas
interiormente. Pessoalmente, não recomendo os exercícios
de desinibição em grupo. Cada atriz na execução dos
papéis para os quais é convidada deve ter em conta o que
se exigirá dela. O corpo é um instrumento. Os exercícios
de nudez coletiva para criar “um clima de desinibição”
funcionam mais em grupos de terapia, que não é o nosso
caso.
94
95
CAPÍTULO 9 Contracenando com a câmera
Neste capítulo estudaremos a técnica de substituição de
Cathy Haase, que é um modo engenhoso de solucionar
alguns problemas da interpretação naturalista.
Entendemos por interpretação naturalista aquela em que se
procura construir uma personagem o mais perto possível
da realidade, como se a mesma estivesse realmente ali
diante de nós. Este é o ideal quando se trabalha para a
câmera que é uma máquina que apenas registra o que está
diante dela.
Cathy Hasse chama de “substituição” a técnica da atriz de
substituir o seu interlocutor por alguém que ele realmente
conheça e que provoque nele as emoções pretendidas.
A atriz pode substituir tanto quando contracena com outra
atriz, como quando contracena com a câmera.
96
As atrizes aprenderam no seu treinamento teatral básico a
usar a memória de emoções, uma técnica muito difundida
e aprimorada no último século. A interpretação para a
câmera tem na mesma o seu alicerce.
Para construir uma personagem a atriz faz o levantamento
das circunstancias dadas pelo roteiro e se coloca naquela
situação hipotética trazendo de si mesma as emoções que
dão vida à personagem a cada momento.
Aplicando a técnica de substituição em outras oficinas
percebi que a mesma funciona como um gatilho; uma vez
que o trabalho sobre as circunstancias oferecidas pelo
roteirista já estão dominadas e os estudos dos estados
emocionais de cada cena estão trabalhados, fica fácil
evocá-los usando a referência a uma pessoa que ofereça a
lembrança daquele contexto.
Cathy Hasse propõe que esta técnica poderia ser usada em
todos os momentos de preparação de um papel, que ela
facilitaria os momentos em que a cena está sendo gravada
de vários ângulos e nem sempre se pode reconstruir um
quadro com todas as personagens presentes. Nestes
momentos, a técnica de substituição manteria a energia da
97
atriz e a sua espontaneidade. No entanto, a compreensão
equivocada de seu uso produz resultados desastrosos.
Como toda técnica, ela necessita ser estuda e dominada
meticulosamente; não é uma receita de bolo, que você
mistura os ingredientes, leva ao forno, espera algum tempo
e tudo fica perfeito.
Diz Cathy Haase: “O primeiro passo é criar uma pessoa
imaginária com o uso dos cinco sentidos. Quando eu digo
uma pessoa imaginária não estou me referindo a uma
pessoa que não exista, como uma criança que cria um
amigo imaginário. Eu quero me referir a alguém que você
conhece muito bem e recria diante de você com a ajuda
dos cinco sentidos.”
A pessoa deve ser do seu circulo mais próximo, com quem
tenha mantido um relacionamento substancial. As pessoas
da própria família são uma opção, pois estão carregados de
muitas emoções e sentimentos. O fato de você construir a
substituição baseada em alguém real é um importante
gatilho emocional.
98
Exercício 48
Comece com o relaxamento físico e mental.
Pense nas pessoas que lhe causaram uma grande
impressão e naquelas que você ama.
A pessoa certa será aquela que lhe causar a impressão
mais forte. Use a sua intuição.
Exercício 49
Vamos criar agora uma pessoa substituta.
Comece com o relaxamento físico e mental.
Sente-se numa cadeira e coloque outra vazia diante de
você.
Imagine que o substituto que você escolheu está sentado
nesta outra cadeira.
Veja o seu rosto, olhos, detalhes da face, depois todo o
corpo.
Sinta o cheiro.
99
Fale com o substituto usando a técnica do monólogo
interior. Retome a cena em dupla já realizada.
Agora escute o substituto e reaja em silencio.
Exercício 50
Imagine que o substituto levanta-se e faz uma caminhada
dentro da sala. Acompanhe estes movimentos com os
olhos.
Imagine que ele caminha em sua direção.
Feche os olhos e sinta. Estenda as mãos e sinta o toque do
substituto.
Dialogue com o substituto usando a técnica do monologo
interior.
Será necessário desenvolver um gatilho capaz de chamar
os estados emocionais no momento da gravação de uma
cena. Você pode descobri-los observando, enquanto
pratica os exercícios acima. E também podemos usar a
100
técnica da ancoragem da PNL, que consiste marcar o
toque de alguma parte do corpo toda vez que determinado
estado emocional ocorra. Usaremos como padrão a
seguinte âncora: cobrir suavemente o rosto com as duas
mãos e respirar profundamente, ao retirar as mãos já
estaremos dentro da cena.
Exercício 51
Quarta gravação
Gravação da cena escolhida preparada com a técnica de
substituição.
A técnica do substituto é muito útil para quando formos
trabalhar com a câmera como se ela fosse outra atriz e
tivéssemos que nos dirigir para a lente. Tudo depende de
onde está a interlocutora que contracena conosco.
Dependerá da direção do filme dizer o que quer.
Olhar para a lente assemelha-se com aquela situação de
não se saber onde colocar as mãos quando se está diante
101
de um publico; geralmente as atrizes iniciantes ficam
tensas e não sabem o que fazer diante da frieza do
equipamento. A naturalidade virá com a habilidade de ter
na lente um substituto.
102
103
CAPÍTULO 10 Criando o espaço
As atrizes vivem num espaço; sabem que não existem no
mundo imaginário de suas personagens, e que mesmo elas
são pessoas reais que quando estão diante da câmera estão
em um lugar especifico do set de gravação.
Para existir é necessário estar em algum lugar, um dos
pressupostos da existência é a referencia a um espaço, e a
existência como pessoa toma formas diferentes conforme
os lugares que ocupam. Uma pessoa usa diversas
máscaras para sobreviver a cada lugar em que esteja.
Há por assim dizer uma família de lugares, e cada qual
exige um determinado comportamento da pessoa. Há uma
parte do comportamento de cada pessoa que é maleável e
adaptável a estas condições materiais. É claro que uma
pessoa possui a sua personalidade e características que são
muito perenes e difíceis de sofrer alguma mudança, mas o
modo como este núcleo de cada pessoa se manifesta passa
por um filtro, que é o lugar onde ela se encontra.
104
Um lugar não e somente uma região física, com
comprimento largura e altura e acidentes geográficos ou
obstáculos. Um lugar é uma coisa que se oferece
simultaneamente em 9 dimensões: a visão, a audição, o
cheiro, o gosto, o tato, a emoção, a intenção, a necessidade
física, a condição interna, a condição externa, um passado
e um futuro.
Vamos começar por trazer à nossa memória aqueles jogos
dramáticos em que imaginávamos uma situação e íamos
brincar dentro dela trazendo o espaço quase que
automaticamente para a nossa realidade e sem muito rito,
era só pegar e ir rapidamente inventando o que precisava.
Exercício 52
Imagine que estamos numa cabana escura e nada está
iluminado; ela está suspensa num penhasco num equilíbrio
muito instável; qualquer alteração na distribuição do peso
corremos o risco de cair e o jogo acaba. Há neste lugar
um bocado de coisas espalhadas e a casa está mal
equilibrada; a chave que abre a porta da cabana está no
extremo oposto sobre o penhasco; todos querem pegar a
105
chave. Esta é a regra: pegar a chave e vencer o jogo.
Então, vamos vivenciar esta situação. Traçamos uma linha
divisória no chão, de um lado está equilibrado, mas se pelo
menos duas pessoas ficarem do outro lado de lá então a
canana cai. Detalhe importante: todas ficam com os olhos
fechados.
Exercício 53
Todas sentadas formando um grande círculo. Uma pessoa
entra no círculo e começa a fazer uma ação. A outra
adivinhando ou supondo que sabe o que está acontecendo
entra e começa outra ação naquela ambiente e assim por
diante. Todos entram no jogo sem que seja necessário
avisar. Todos devem participar.
Exercício 54
Vamos brincar de andar por vários tipos de tipos de
terreno: imaginem:
106
1 - um chão lamacento e você precisa caminhar sobre as
pedras.
2 - um lugar muito quente.
Exercício 55
Vamos brincar com o jogo do ônibus lotado que faz
muitas curvas e freia bruscamente. Todos formam um
grupo compacto e alguém que ficará mais a frente será o
motorista. Ela dá partida ao ônibus e todos responderão
corporalmente indo atrás dela e obedecendo às suas
movimentações em curvas para a direita e para a esquerda,
até que ela dará uma freada brusca.
Exercício 56
Agora vamos nos imaginar no alto de um penhasco, faz
um vento muito forte. Fechem os olhos e depois abram
lentamente olhando para os seus pés, vejam com a
imaginação toda a geografia do lugar a sua frente, então
107
vão erguendo a vista e vendo lá distante a linha do
horizonte imaginem o frio que bate na pele de vocês.
Exercício 57
Agora vamos fazer um exercício de memória. Relembrem
com detalhes como é o quarto de vocês; coloquem no
lugar central e façam uma caminhada visualizando com
precisão através da evocação de sua memória as coisas do
quarto.
Exercício 58
Façamos o mesmo exercício anterior, mas agora de olhos
fechados. Imagine-se caminhando pela rua de sua casa,
veja e sinta todas as coisas, não é para representar
qualquer coisa com uma caricatura do tipo: para dizer que
está ventando faz uma movimentação corporal para
representar isto, não, apenas faça as reações que realmente
você fez, mesmo que elas sejam mínimas. Este
treinamento é muito importante porque como vamos
trabalhar para a câmera então é ela que fará os registros.
108
Não se preocupem em representar para uma platéia,
apenas evoquem a memória do lugar.
Os lugares são coisas que se constroem interiormente.
Vivemos de fato dentro destes lugares interiores e é isto
que usaremos para nos colocarmos nas cenas com
realismo.
109
CAPÍTULO 11 Abordando a personagem
Hoje você recebeu a tarefa de conhecer a sua personagem.
O diretor te mandou um roteiro; ele te deu alguma
informação básica sobre como era o papel; pediu que
você desse uma olhada para ver se te interessava.
Ou também pode ter sido de outra forma, uma produtora
abriu uma audição para escolher atrizes para o seu
próximo filme. Você se encaminhou para o local e lá te
deram uma folha com algumas falas para você memorizar
rapidamente.
Ou então você soube que estão fazendo um cadastro para
escolherem atrizes para uma nova produção audiovisual.
Você precisa ir lá e declamar alguma coisa para a câmera e
responder algumas perguntas.
Ou então você foi convidada para uma grande oficina de
trabalho com o preparador de elenco de um filme e depois
110
desta oficina eles escolherão algumas atrizes para fazerem
testes mais específicos.
Existem inúmeras formas de você ser apresentada a um
novo trabalho e há uma regra que funciona para todos:
Esteja preparada para agir diante de uma câmera; seja ética
e concentrada no seu trabalho.
Ser escolhida depende de fatores que fogem ao alcance de
qualquer previsão, pois dentro da cabeça do diretor e dos
produtores a única certeza será aquela que eles disserem
após tomarem as suas decisões. Em muitos de nossos
filmes e nas nossas condições econômicas locais, muitas
vezes o processo seletivo será substituído pela garra em
querer levar o projeto adiante, mas quanto maior for a
produção, mais exigente será a escolha. O tamanho do
orçamento é também um indicador do tamanho da
responsabilidade daquela equipe e assim deverá se
escolher aquelas que estejam mais preparadas para os
papéis, que demonstrem a capacidade de levá-los até o
fim.
111
Este é o momento zero de encontrar com a sua
personagem, aquele no qual você decide entrar para uma
produção audiovisual e resolve assumir a responsabilidade
por esta decisão. Parece uma coisa simples, mas não é.
Aceitar participar de um filme não é uma decisão
qualquer, é algo que não pode ser desmanchado por
motivos fúteis, uma vez que você decidiu participar
precisa ir até o fim e enfrentar as dificuldades que todo
processo criativo apresenta.
Não vá para um teste achando que o seu papel vai ser
aquele ou outro que a sua imaginação criou, fique atenta
para as possibilidades novas que surgirem no contato com
a equipe. Mesmo que você já tem um papel indicado
previamente, vá para os primeiros ensaios de mente aberta,
pois pode acontecer que o diretor veja que o seu papel não
é aquele, mas outro; Aceite isso como uma regra do jogo.
Você precisa confiar no diretor. Lembre-se que não
existem papeis importantes; às vezes um papel
coadjuvante toma toda a cena que deveria ser de uma
estrela. Portanto, aprenda a ser humilde e a fazer o que
precisa ser feito sem murmurações. Faça bem feito
sempre.
112
Uma vez que você conseguiu a definição de um papel, este
será o momento de aproximar-se de sua personagem.
Você é uma pessoa com educação teatral e este
conhecimento é um diferencial em relação a outras atrizes
sem este tipo de conhecimento.
O roteiro de um filme tem alguma semelhança com um
texto teatral, mas tem algumas especificidades que
precisam ser levados em conta.
Exercício 59
Na análise a primeira coisa será levantar o contexto do
roteiro para encontrar o seu superobjetivo, qual é a força
que guia este roteiro para adiante;
Vamos entender qual é a sua época, condições econômicas
e sociais;
Quais as personagens,
E como elas estabelecem relações de polaridade,
113
Depois vamos dividir todo o roteiro em partes que
chamaremos de movimentos, cada um destes movimentos
possui um objetivo que tem relação com o superobjetivo;
Vamos identificar o clima deste movimento e dar-lhe um
nome que expresse o seu colorido emocional.
Então vamos isolar a nossa personagem e vê-la dentro
deste grande ambiente e como ela surge e como interfere
neste ambiente;
Em que movimentos ela aparece;
Identificar os objetivos de sua personagem em cada um
destes movimentos;
A sua ação passada e futura, isto é o que fez ela para
chegar até ali e para onde vai após;
Identificar quais são as suas ações externas;
Identificar quais são as suas ações internas;
Descobrir qual é a lógica interna de sua personagem.
114
De posse destas informações você vai começar a construir
a sua personagem a partir de sua própria experiência
pessoal.
115
CAPÍTULO 12 Ensaio de mesa
Faz parte do trabalho teatral o estudo de mesa de um texto.
Aqui vamos incrementar este trabalho acrescentando uma
nova ferramenta: o Role Play Game.
Traremos para este RPG a análise do roteiro conforme
estudamos no capítulo anterior.
Existem muitos modos de ensaiar um filme. Aqui veremos
um que se assemelha a um jogo de RPG de mesa.
Chamamos RPG a um tipo de jogo de representação de
papéis. RPG significa Role Play Game. É um jogo muito
difundido com vários sistemas de regras e modos de fazer
avançar a estória.
Este nosso jogo de RPG chama-se ENSAIO DE FILME e
foi criado especificamente para servir aos objetivos
criativos do cineviver do livro Fazer Filmes, que uso na
disciplina de Realização de filmes do curso de
Comunicação Social da UFPB.
116
Exercício 60
Aquecimento com o texto. Todos os participantes do
filme, elenco e equipe técnica devem fazer uma leitura
branca circular. Todos ao redor da mesa vão lendo as falas
e as descrições das ações de modo a circular a mesa com a
leitura.
Exercício 61
Leitura branca circular apenas com o elenco. Todas as
atrizes devem ler as falas seguindo a seqüência, sem se
importarem com o fato de serem de suas personagens ou
não. O diretor fará a leitura das descrições da ação.
Exercício 62
Leitura do roteiro cada qual com as falas de suas
personagens. O diretor lerá as descrições das ações.
117
12.1 O UNIVERSO DO JOGO.
A primeira etapa de um RPG é a consolidação do universo
ficcional onde ocorrerá o jogo. Isto já está metade pronto
no próprio roteiro. A outra parte dependerá das condições
reais de gravação que transporemos aqui para as regras de
nosso universo de jogo. Deve ser montado um tabuleiro
com miniaturas representando os objetos, as personagens e
o cenário da cena.
12.2 A CRIAÇÃO DAS PERSONAGENS.
As nossas personagens já existem bem definidas no
roteiro. A atriz responsável por uma personagem deve
preencher uma ficha com os dados abaixo:
Nome do atriz;
Nome da personagem;
Idade da personagem;
Aparência física;
118
Vestuário;
Uso de objetos;
Comportamento externo;
Motivação interior;
Sua ação anterior a cena que está será jogada;
Sua ação após a cena que será jogada.
Cada atriz fará uma pequena miniatura de papel
representando a sua personagem.
12.3 A ROTINA DO JOGO.
Cada cena é apresentada pelo diretor que descreverá a
posição dos objetos e como é a cenografia.
119
Exercício 63
Seguindo o roteiro:
1 - Cada atriz vai lendo o roteiro e posicionando a sua
personagem no cenário. Quando for o caso de usar algum
objeto, traz o mesmo para perto da miniatura para
significar que o está usando.
2 - O diretor comenta a ação e cada qual faz a sua
avaliação.
Exercício 64
Improvisação com a estória:
1 - Deve-se seguir as falas do roteiro, mas entre uma e
outra sempre podem ocorrer ações não previstas. Cada
atriz pode pedir a primazia da ação. Se houverem mais de
um desejando isso, devem resolver com um lance de par
ou impar. Quem vencer começa a ação. O atriz descreve a
ação e posiciona a sua miniatura.
2 - O diretor pode incorporar à cena novos dados, que
deverão ser incorporados à mesma.
120
Exercício 65
Improvisação com a ação anterior à cena.
1 - O diretor indica o tamanho de antecipação temporal,
por exemplo, uma hora, um dia, um mês, e também a
primazia da ação para alguma personagem.
2 - O atriz descreve a ação da personagem posicionando a
sua miniatura no cenário.
3 - O diretor propõe novas questões.
4 - O atriz descreve a ação da sua personagem para
resolver as questões colocadas pelo diretor.
5- Repete-se esta estrutura até esgotar o estudo da ação
anterior da cena.
Exercício 66
Improvisação com a ação posterior à cena.
121
1 - O diretor indica o tamanho do lapso temporal, por
exemplo, imediatamente, até uma hora, ou um dia, e
também a primazia da ação para alguma personagem.
2 - O atriz descreve a ação da personagem posicionando a
sua miniatura no cenário.
3 - O diretor propõe novas questões.
4 - O atriz descreve a ação da sua personagem para
resolver as questões colocadas pelo diretor.
5- Repete-se esta estrutura até esgotar o estudo da ação
posterior da cena.
Exercício 67
Visita ao mundo da estória.
1 - Usando os cenários de cada cena. O diretor deve
perguntar a cada atriz em seqüência o que fará a
personagem naquela situação.
2 - Se houver combates ou qualquer situação conflitante
entre as personagens, ou entre as personagens e o
122
ambiente da estória, o diretor deve decidir qual a solução e
todos devem incorporar imediatamente isso ao andamento
de sua personagem.
3 - O atriz descreve a ação de sua personagem.
4 - O diretor resume os acontecimentos desta rodada e
propõe uma nova situação dando continuidade a anterior.
O uso do RPG como estratégia de estudo do roteiro
tornará esta fase de trabalho mais divertida.
123
CAPÍTULO 13 Vivências de interpretação
Chamamos de vivência ao exercício de passar por
experiências semelhantes à personagem que estamos
interpretando e isto pode ser feito de várias maneiras, de
forma organizada pela produção do filme e de forma
pessoal pela própria atriz.
No primeiro caso há que se levar em conta os limites
pessoais de cada uma das pessoas e também o nível de
experimentação que se pretende fazer.
Não valerá a pena fazer algo que violente
psicologicamente a atriz. Há uma escola de preparação de
atrizes que apela até mesmo para a violência física para
obter os estados emocionais requeridos. Isto é útil para
quem faz o filme, mas pode ser extremamente destrutivo
para a atriz.
Certos processos ou vivencias devem ter o
acompanhamento de profissionais de psicologia que
124
ajudem no amparo de cada uma das pessoas. Às vezes se
carrega no mais intimo do ser certos segredos que estavam
adormecidos até mesmo para a própria atriz, e nestes casos
pode-se destruir uma pessoa. Os filmes são feitos, mas
aquela pessoa nunca mais será a mesma.
De certo modo há um comportamento predador por parte
de alguns diretores que acreditam que o correto é obter o
que eles querem independente do preço a pagar; é como a
lei do levar vantagem em tudo. Tem gente assim, que
acredita que não importa o que você faça, o mais
importante é obter aquela e imagem e a atriz que se dane.
Bem, você deve entender que certos preços pelo sucesso
não valerão à pena, saiba reconhecer os limites pessoais,
os diretores não os deuses com poderes absolutos.
Lembrem-se de proteger-se emocionalmente. Há casos em
que estas vivencias e laboratórios de interpretação como
também são chamados, tem um limite.
As atrizes mais experientes sabem como entrar e como
sair desses processos mais violentos. As atrizes iniciantes
fazem de tudo por um papel; são capazes de coisas
inacreditáveis na crença de que os super poderes do diretor
125
vai levá-la ao estrelato; há muita gente má nesta área
capaz de iludir as cabeças de muitas pessoas.
Ao se prepararem vivencias acerca do universo do filme,
veja se você paga aquele preço. Algumas coisas são
realmente aviltantes. E é claro que no processo obsessivo
de obter a melhor interpretação: o diretor e o preparador
de elenco vão fazer de tudo para obter a imagem
necessária. Portanto esteja preparada para enfrentar os
processos de treinamento e assumir as conseqüências
posteriores, pois algumas deixam marcas no fundo da
alma, que podem desequilibrar a vida de alguém.
Sempre inclua em seus trabalhos uma ida ao profissional
de psicologia para conversar sobre coisas que começaram
a te incomodar. Uma boa atriz deve ter a cabeça no lugar,
isto implica que muitas vezes será necessário fazer terapia.
As vivencias nas quais a própria atriz promove são de
caráter menos invasivo e podem ser feitos durante todo o
processo de preparação. A atriz pode decidir se aproximar
do universo de sua personagem, passara a visitar os
lugares, até mesmo viver algum tempo lá, sentir como é
126
viver daquela maneira, conversar com pessoas cuja
situação seja parecida.
Ao conversar com alguém você está interessada na sua
vida interior, no modo como ela constrói a sua alma;
Estas vivências pessoais devem ser registradas em um
diário. Ao encontrar alguem que se assemelha com a sua
personagem não procure imitá-la. Não é para construir
matrizes corporais, que você imitará, pois a escolha para o
seu papel já levou em conta muito de seu próprio físico.
Somente em casos especiais é que se procura de fato
encontrar uma matriz corporal.
A idéia é que há um continuum humano presente em todas
as pessoas. Quando elas estão na mesma sintonia daquele
estado emocional, então elas se assemelham. Isto nos liga
através do tempo. Este continuum humano existe acima
do tempo. É como uma constante da alma humana. O que
mudam são os contextos de cada época, as motivações, os
propósitos de cada pessoa, os obstáculos, as terminologias,
mas lá no fundo na estrutura profunda da alma existe algo
igual que continua a aferir ao humano a sua característica.
127
As vivencias são muito úteis e podem ir sendo feitas
paralelamente. É muito comum alguns diretores criarem
condições nas quais as atrizes praticamente são imersos
naquele mundo, e ele apenas registra as cenas dando a elas
uma força quase documental.
Lembre-se: mantenha a sua alma inteira, ou não haverá um
segundo filme para você.
128
129
CAPÍTULO 14 Improvisações
Para abordar as situações de cada cena com naturalidade
será necessário nos acostumarmos com a imprevisibilidade
da vida, que ocorre de modo sempre surpreendente apesar
de todos os nossos planejamentos.
Assim usaremos nesta fase de trabalho, para explorarmos
estes acasos da vida, as técnicas de improvisação.
A improvisação que estudaremos não tem de fato a haver
com "improvisação" no sentido que comumente
atribuímos ao termo. Geralmente nas improvisações nós
procuramos por material novo, coisas que inclusive sequer
haviam sido previstas antes.
Mas aqui trabalhando para a situação de câmera, a
improvisação toma um sentido diferente, o que chamamos
de improvisação é um modo relaxado de trazer para fora
as emoções daquela cena especifica. Não fazemos
improvisações para reescrever o roteiro. Um roteiro de
130
cinema é algo que para ser modificado implica em muitas
outras modificações, é como um dominó, você mexe em
um detalhe de uma cena e isto altera tudo, desde o
cronograma ao orçamento. Então chamamos de fato de
improvisação a uma maneira de explorar as possibilidades
da cena sem alterar o cronograma nem o orçamento.
Mas aproveitando a nossa educação teatral vamos começar
por recuperar as bases de um exercicio de improvisação
descrito por Viola Spolin, integrado em um procedimento
único.
Exercício 68
Exploração do quem, que e onde.
De posse das personagens já definidas pela direção, vamos
começar a reconstruir as possibilidades de ação de sua
personagem.
Exercício 69
O exercício da vida em um minuto - improvisar a vida da
personagem em um minuto sem palavras, apenas com
gestos. Este é um exercício útil para refletir sobre a vida
131
da personagem e a composição de seu background
histórico.
Exercício 70
Exercício das palavras chaves - entrevista com a
personagem na qual ela responde a perguntas sobre
palavras chaves, estamos sugerindo dez palavras, mas a
direção pode acrescentar outras e também as outras atrizes
do grupo de ensaio pode também sugerir uma palavra. A
atriz que está jogando naquele momento responde às
perguntas como se fosse a personagem. Este é um
exercício que pode ser repetido várias vezes, pois a cada
fase de treinamento a atriz irá dar respostas mais precisas.
Lista de palavras: vida, amor, morte, prazer, sofrimento,
deus, destino, cor, escuridão, inveja, etc.
Exercício 71
Exercício do modo de andar.
132
A atriz deve se imaginar usando o corpo como deveria ser
o andar de sua personagem, depois fazer o mesmo andar
em câmera lenta.
Exercício 72
Exercício da conversa com um desconhecido.
Improvisar o diálogo de sua personagem com uma pessoa
desconhecida. Outra atriz sentada ao lado procura dscobrir
dados sobre a sua personagem. É um jogo dramático que
possibilitará desenvolver a coerência do entendimento da
personalidade da personagem. A atriz que está jogando
com a sua personagem deve manter-se com absoluta
coerência dentro do jogo. Já a atriz que faz as perguntas
pode fazer qualquer tipo de pergunta sem qualquer
coerência se for o caso.
Exercício 73
Exercício com as linhas de ação da cena.
133
Reduzir a cena do roteiro a indicações de movimentos e de
falas tal como um canovacci da comédia dell'arte e fazer
esta cena procurando investigar o seu ritmo e os estados
emocionais.
Exercício 74
Exercício do 8 ou 80.
Improvisar a mesma cena do exercício anterior
primeiramente com absoluta contenção de gestos, falas e
emoções. Logo em seguida repetir a mesma cena com
extremo exagero indo para a caricatura grotesca.
Exercício 75
Exercício da emoção negativa.
Improvisar a mesma cena do exercício acima com emoção
verdadeira da cena. Logo em seguida inverter as emoções
e trabalhar com o campo emocional oposto.
134
Exercício 76
Improvisar todo o filme, cena por cena.
Exercício 77
Exercício de emoções isoladas.
Definir quais são os estados emocionais dominantes de
cada cena e então isolar esta emoção e improvisar uma
situação na qual esta emoção apareça de forma caricatural.
Exercício 78
Exercício de improvisação de estados emocionais com
Giberish.
Cada atriz, uma de cada vez são submetidas a
experimentarem em si mesmas os estados emocionais
evocando a memória de emoções necessárias a cada
contexto.
135
Exercício 79
Exercício do descontrole emocional.
O grupo parte de pequenos movimentos controlados e
suaves e vão fazendo movimentos, cada fase do exercício
tem uma emoção dominante, sempre aos pares, amor-
ódio, etc.
Primeiro se trabalha a emoção mais negativa. Os gestos
vão se ampliando até que vira um movimento frenético e
louco expressando aquela emoção com excessiva carga.
Cada atriz verbaliza um texto que pode ser do próprio
roteiro ou criado no momento. Os movimentos físicos
depois de atingirem um ápice são interrompidos por uma
ordem da direção que grita: “Parar”. Todos caem no chão.
Relaxam. Respiram fundo e recomeça-se o mesmo
exercício agora com a emoção oposta.
136
137
CAPÍTULO 15 Marcações de cena
Vamos estudar as marcações de cena a partir da idéia de
que a vida das pessoas tem caminhos de energia escritos
no espaço, de que as emoções precisam se inscrever no
espaço, também a alma precisa se inscrever no espaço.
Certa vez, fazendo um documentário etnográfico sobre um
ritual de candomblé, eu ia caminhando dentro de uma
mata, todos os membros do terreiro com os seus
apetrechos e instrumentos e eu que tinha obtido
autorização para documentar o evento com todos os meus
equipamentos nas costas: câmera, refletores, tripé, e bolsas
com baterias. Enquanto caminhávamos pela noite adentro
daquela mata, eu tropeçava em tudo que era canto, como
não havia uma trilha e caminhávamos por dentro do mato
então era sempre um passo em falso atrás do outro, e
quase sempre eu esborrachava no chão. Então a mãe de
santo veio até mim e disse -me que pedisse licença, que os
caminhos das coisas invisíveis eram no chão e que eu
138
devia saber que estava indo por ali convivendo com aquele
mundo invisível. Então comecei a pedir licença a cada
passo. O fato é que não levei mais nenhuma queda, e outra
coisa me chamou a atenção: é que caminhamos muito
dentro de um pequeno terreno; em termos reais andamos
muitos quilômetros, mas o espaço era muito curto. Então
aprendi outra lição sobre os espaços invisíveis das coisas
invisíveis, mas que são tornadas visíveis pela nossa ação.
Depois refletindo sobre isso no meu trabalho em teatro e
também em cinema, compreendi que as movimentações
das pessoas na vida são também como aqueles caminhos
invisíveis, pois estamos a todo o momento caminhando em
nosso mundo interior.
A vida da gente se exterioriza através de uma ação física
que ao outro parece ser algo simples como ir de um lugar a
outro, mas dentro de cada um se passa coisas bem diversas
e a geografia externa nem sempre é o mundo interno.
Reflitam sobre as vezes em que para irem a determinado
lugar com um propósito, vocês terminaram fazendo um
percurso muito mais longo do que ele seria na realidade.
Aquele percurso era o caminho do mundo interior. Assim
139
aquilo que chamamos de marcas da cena, devem ser
estudadas a partir das motivações interiores das
personagens.
Exercício 80
Pegue a cena de estudo determinada pelo professor.
Preencham as lacunas de cada personagem dando a elas
uma estória pessoal.
Então vamos estudar por passos, usando a idéia de que
podemos fazer a vida fluir em stop motion. Stop motion é
uma técnica de animação de objetos na qual os animadores
vão dando movimento às coisas passo a passo, quadro a
quadro.
Aqui iremos apenas usara idéia de fazer fluir a vida em
pequenos passos, em blocos curtos, que podem ter a
duração de 10 segundos, mas isto não é uma regra
inflexível, podemos também fazer uma ação por vez.
No caso de haverem mais de uma personagem na cena
iremos hierarquizar quem se move primeiro. Se uma ação
for simultânea faremos os movimentos também separados
140
e depois uma vez com eles simultâneos no mesmo tempo.
A cada passo tomar a consciência de que universo interior
isto faz parte.
Então pegar um objeto, não é somente pegar um objeto,
faz parte de um mundo interior que se torna concreto
através dos caminhos que o corpo percorre.
Exercício 81
Fazer fluir os caminhos de energia em fluxo continuo.
Mas ao estudar as marcações devemos ter em conta de que
precisaremos estudá-las em várias amplitudes, pois o tipo
de plano, se geral ou de detalhe obrigará a atriz a ter
movimentos adequados a cada um.
Em planos gerais, devemos ter em mente de que essa
energia interior vem para a superfície de forma dilatada de
tal forma que a presença d atriz no quadro não desapareça
na imobilidade, são gestos ampliados, mas não
exagerados.
141
Em planos médios deve-se ter mente de que a
movimentação possui um balanço entre o mais comedido e
a amplificação e apenas o olho externo da direção pode
dar a sua verdadeira medida, mas a atriz deve estar
preparada para estas modificações, na mesma cena.
Em planos aproximados, a ação é minimalista. Qualquer
exagero saltará com um valor ainda maior. Não é possível
soltar as mesmas emoções com toda a força. Há que
conter. Lembre-se de nossos laboratórios de interpretação
teatral quando pedimos que a energia tem que estar a 200
por cento mas a exteriorização disso deve ter apenas cinco
por cento. Esta é uma boa imagem para as dificuldades
dos estudos de marcas de cena, ou os caminhos da energia
emocional no espaço.
142
143
CAPÍTULO 16 Ensaios de gravação
As marcações de cena são um estudo preliminar para os
ensaios de gravação. É muito comum se achar que estas
são a mesma coisa. A primeira é o estudo dos caminhos de
energia da cena enquanto que a segunda é o ensaio
incluindo a câmera, isto é a movimentação para a Câmera.
Enquanto que o primeiro ensaio é mais voltado para os
aspectos internos de criação da personagem, o segundo
tipo é mais voltado para os aspectos externos e
operacionais da gravação, é por assim dizer o estudo da
mecânica de gravação.
A atriz deve estar preparada para ensaiar esta mecânica de
trabalho, de tal sorte que se possa minimizar os custos de
produção. Nos ensaios de gravação, fazemos um ensaio
com toda a equipe envolvida, não é um ensaio apenas para
as atrizes, é para todos.
O grande exercício será fazer com que a equipe funcione
como um único corpo em harmonia. Em nossa oficina este
144
tipo de ensaio será essencial, inclusive para se
compreender o processo de criação do cinema, e também
para que as atrizes compreendam que o seu trabalho
depende de toda uma equipe.
Num trabalho profissional, estes ensaios são suprimidos e
as atrizes devem já conhecer da mecânica de
funcionamento daquele tipo de produção, pois seria um
custo a mais fazer dois filmes, um como ensaio e outro
valendo.
Os ensaios serão feitos por locação. Todas as cenas de
uma locação serão feitas em seqüência.
Em cada cena será feita a cobertura de planos prevista pela
diretora do filme. Chamamos de cobertura a quantidade de
planos necessários para cobrir completamente aquela cena
com material suficiente para ser feita a edição na
finalização do filme.
Depois de realizada a cobertura de uma cena, por locação,
muda-se para a cena seguinte.
145
Haverá um pequeno intervalo para, as arrumações
necessárias na cenografia, nos figurinos e maquilagem,
repete-se então todo o processo para a próxima cena.
A cobertura de cada cena envolverá três tipos básicos de
planos: Planos gerais, planos médios e planos
aproximados. Recuperaremos em cada um destes tipos de
planos a relação entre movimentação física e emoção que
estudamos no capitulo anterior.
Exercício 82
Já com um roteiro definido para gravação, com as
personagens já definidas e estudadas, e preparadas de
acordo com os exercícios das aulas anteriores, vamos
ensaiar o filme que faremos como trabalho final desta
oficina de audiovisual de atriz e a câmera.
Apesar de ser um ensaio, a atriz deve se comportar como
se estivesse fazendo o filme, de nada adianta acreditar que
será apenas uma brincadeira e que somente se dará o
devido esforço apenas quando estivermos com os
equipamentos verdadeiros diante de nós. É preciso que o
146
espírito já esteja preparado desde agora. Lembrem-se de
que ser atriz é uma tarefa permanente e não apenas
naquele instante mágico da atuação.
A atriz é alguém que tem um tipo de comportamento de
engajamento com a produção, caso contrário será apenas
mais uma dessas patricinhas que se encantam com o
estrelado e com a possibilidade de ir passar o final de
semana na ilha de Caras. Nada contra a ilha de caras que é
muito bela e valeria à pena passar um final de semana ali,
mas aquele glamour não é o objetivo do trabalho da atriz.
Conheci outras atrizes iniciantes que me diziam que o seu
grande sonho era ir para aquela ilha; eu dizia que ela não
confundisse as coisas, que uma coisa era a mídia e a
fantasia criada em torno das pessoas que se tornam
celebridades, e outra era o trabalho pesado do dia a dia. As
pessoas pensam que vida de celebridade é algo maneiro,
que as pessoas famosas vivem flutuando em nuvens. Basta
ler a biografia de algumas dessas pessoas para ver que
elas trabalham muito duro para estar onde estão.
147
Exercício 83
Vamos encenar o filme em fluxo continuo com o diretor
pontuando a cabeça de cada cena. Isto servirá para nos dar
uma idéia de conjunto do trabalho que iremos realizar.
Nestes ensaios de gravação também iremos nos preparar
para ganharmos todo o tempo que for necessário.
Exercício 84
Regra fundamental: Silêncio criativo. Somente se deve
falar aquilo que a sua personagem diz durante a cena. Está
proibido qualquer tipo de conversa paralela. Deve reinar o
mais absoluto silencio somente quem fala é o diretor e os
assistentes quando necessário. “Silêncio total”, como diz o
palhaço Xuxu. Quando uma atriz terminar uma cena deve
ficar em silencio e concentrada no trabalho dos outros.
Este exercício irá preparar vocês para conviverem com
produções maiores. Uma atriz profissional é reconhecida
pelo modo como se mantém concentrada no trabalho da
equipe.
148
149
CAPÍTULO 17 Ensaios de figurinos
Imaginemos que uma personagem tem na verdade uma
pele que é somente dela, que não nos pertence, pois já lhe
emprestamos tudo do corpo. Mas há algo que é somente
dela. Esta segunda pele são os figurinos e no caso de uma
personagem, esta pele é mais que uma vestimenta, mas é
principalmente um retrato da alma. Dos pés à cabeça, cada
parte desta pele vai nos dar informações e também nos
ajudar a construir e interpretar aquela outra personalidade.
Vamos imaginar que uma personagem é algo que surge do
chão como a criatura humana que é criada do barro da
terra conforme a alegoria bíblica. O chão é o primeiro
elemento, é dele que sai uma pessoa. Na medida em que
cresce, ela vai dominar este estar no chão. Portanto, o
contato com o chão tem o simbolismo deste nascimento e
cria as portas de acesso para a nossa personagem.
150
Exercício 85
Imaginemos, com os olhos fechados os pés de nossa
personagem em contato com o chão. Fechem os olhos e de
pé olhem para baixo. Vejam, com os olhos da mente, os
pés da personagem. Percebam o que ela calça. Como é
sua pele em contato com o chão. Na cena esta informação
é importante, pois nos diz como a personagem dá
sustentação à sua vida, como ela está, qual é a sua relação
com o mundo exterior na qual convive. Vista esta segunda
pele da personagem, procure tudo o que puder para vesti-
la corretamente e de acordo com a construção que está
fazendo dela.
1 - Experimente os pés nus da personagem no chão, que
chão será este?
2- Que coisa reveste os pés imediatamente? É uma meia?
Que tipo? A textura nos dará informações.
3 - Que segunda camada reveste o pés e as pernas, o que é
que significa, qual a indicação que nos dá de sua vida
externa.
151
Num figurino temos sempre dois aspectos em jogo, algo
que designa a condição objetiva da personagem naquele
contexto e outro que é o aspecto subjetivo que estará
presente em alguns detalhes e modos de usar. Assim esta
segunda pele nos in informa de dois aspectos da
personagem, compor esta segunda pele também nos dá
gatilhos para os estados emocionais.
Exercício 86
Imaginemos como está vestida a personagem na região
pélvica, uma região que contem o simbolismo poderoso da
vida e dos instintos primários da vida. Que há de objetivo
e que detalhes revelam a sua subjetividade, os seus desejos
ocultos.
Exercício 87
Imaginemos a região do abdômen. O que veste a
personagem. Esta é uma região carregada de simbolismos,
o estomago, o ventre, a alimentação e a gestação de novas
vidas.
152
Exercício 88
Imaginemos a região do peito. Que coisas esta segunda
pele vai nos revelar sobre as emoções da personagem,
sobre os seus sentimentos, ao que se associa o peito.
Investigue estes simbolismos a partir de sua própria
experiência.
Exercício 89
Imaginemos o pescoço. Esta é uma região pouco
explorada pelos figurinos, mas contem muitas
significações, pois é a região do corpo que faz a ponte
entre a cabeça, sede da racionaidade, e o restante do corpo.
As coisas que aí são colocadas tem o dom de significar
como a cabeça controla o corpo. É uma região de
mediação.
153
Exercício 90
Imaginemos a cabeça, lugar da razão, das verdades e das
mentiras. Aqui devemos prestar atenção aos objetos de
cabeça, desde chapéus, perucas, tiaras, coroas, brincos,
piercings. Uma personagem possui esta segunda pele com
as suas duas polaridades.
Em um filme não bastará apenas fazer de conta que veste
uma roupa. No teatro é verdade que usamos panos de saco
tingidos de vermelho para significar mantos reais e isto
produzirá o seu efeito. No filme a lógica é diferente,
precisaremos de tecidos que ao menos imitem
aproximadamente a textura de um manto real, pois o
deslizar da mão da atriz pelo tecido é importante para a
construção da verdade diante da câmera. É claro que
haverá limites nestes graus de aproximação com figurinos
reais, mas a intenção é tornar verdadeiros os contatos da
pele da atriz com aquelas texturas.
Pode parecer uma bobagem. E há muitas pessoas de teatro
que acham que tudo pode se resolver pela imaginação.
Claro que a imaginação é o inicio deste processo de
154
investigação como fizemos nos exercícios acima, mas
numa segunda etapa será necessário investigar as
sensações reais e próximas daquilo que queremos, pois a
câmera registra a verdade das reações da atriz e o quanto
mais ela estiver próxima disso melhor. O tato é um dos
sentidos menos controlados pela razão. Reagimos
imediatamente às informações que ele nos traz; é um
sentindo associado ao instinto de sobrevivência.
Exercício 91
Encontre a roupa de sua personagem.
Isto significa que um bom figurino deve levar em conta o
trabalho da atriz antes mesmo de seu poder visual para os
espectadores. Não é para você competir com a direção de
arte do filme. Vá a busca do figurino de sua personagem
como Indiana Jones foi procurar a Arca da Aliança.
155
CAPÍTULO 18 Ensaios de maquilagem
Vocês já devem ter escutado aquela frase que diz que a
atriz é uma mulher de mil faces, pois bem, isto tem um
lado de verdade, mas também é uma graciosa armadilha
para qualquer iniciante. A frase dá a idéia de que se pode
mudar de face e então tornar-se automaticamente outra
pessoa. Todos sabem e experimentam que vivemos
muitas situações e em cada uma delas usamos faces
diferentes. De fato em muitas situações estamos vivendo
vidas que parecem ser paralelas a nós; está ai uma coisa
que nos remete a coisas que a ficção científica e também a
física de nossos dias já trabalha; possibilidades de
dimensões no universo que ultrapassam este que nós
caminhamos.
Não é fácil ter que lidar com a idéia de que temos sim uma
face original em nossas profundezas e esta face original é
composta de toda a nossa estória pessoal, nossas emoções,
relacionamentos, expectativas. Tudo o que há de mais
156
secreto em nossa face original esconde-se sobre múltiplas
camadas. Quando a evocamos em situações específicas,
ela vem para a superfície com força total. Esta evocação
nem sempre ocorre sob o nosso controle, uma coisa
importante para nós é o conceito de autopoiesis dos
biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto
Maturana, que diz que os seres humanos produzem-se a si
próprios. Assim por esta idéia, as máscaras das
personagens que vamos usar têm o seu nascimento na
nossa face original, pois nestas profundezas somos
conectados a tudo o que é humano. Nós fizemos escolhas
que nos tornaram o que somos, mas temos no fundo de
nossas almas guardadas como em um baú toda a alma
humana.
Exercício 92
Vamos começar a estudar a maquilagem da nossa
personagem indo ao mais fundo de nós para compor sobre
a nossa pele aquela máscara. Para fazer isso vamos nos
dedicar a preparar nós mesmos a maquilagem de nossa
personagem, usar este artifício, que é muito valorizado
157
pelas atrizes no teatro. Já no cinema, acontece um
movimento oposto com a presença de maquiladores que
retiram da atriz este momento de grande intimidade
criativa,
Fique diante do espelho e modele o seu rosto de acordo
com os estado emocionais de sua personagem. Faça a
maquilagem imaginária usando lápis, pinceis e tintas
invisíveis e vá pintando o rosto da personagem Vá
jogando o jogo do “se mágico” que aprendemos a usar em
teatro nas disciplinas de interpretação.
Respire fundo e a cada respiração completa vá se
conscientizando da sua personagem.
Exercício 93
Depois da etapa anterior, levante-se de frente ao espelho e
caminhe para o centro da sala. No momento em que
estiver se erguendo da cadeira da mesa de maquilagem,
estude a organização corporal de sua personagem. Neste
levantar-se está a organização corporal e a alma da
158
personagem. Levante-se e caminhe em direção a outro
lugar. Sinta que aquela maquilagem da sua face veste
também o seu corpo. Note que, como trabalhamos os
figurinos, esta não é maquilagem que é vista pela câmera,
a não ser nos movimento inconscientes da pele, é a
verdade da personagem trazida do fundo de sua alma para
a pele.
Exercício 94
Faça a maquilagem de sua personagem usando os
materiais necessários. Aqui é claro que não estamos nos
referindo aquelas maquilagens de efeitos especiais nas
quais há uma profunda transformação na face. Tente
descobrir coisas sobre a sua personagem.
Esta tarefa da maquilagem depois envolverá um intenso
dialogo com os maquiladores e o diretpr de fotografia,
pois muitos outros fatores terão que serem levados em
conta. Mas naquela fase, você já terá internalizado o
159
processo e tudo mais virá apenas como uma sintonia fina
para se adequar a realidade de gravação.
Na face humana se encontram todas as almas, da mais
hedionda criminosa como Lady Macbeth interpretada por
Francesca Annis no filme Macbeth de Roman Polanski ;
até às mais belas e puras como Esther Smith interpretada
por Judy Garland no filme Meet me in St.Louis; todos os
vícios e virtudes surgem da mesma face.
Esta busca para construir interiormente o universo da
personagem coroa-se com a construção da janela de sua
alma, isto é a sua face. Não é uma tarefa simplória como
somente pintar-se para entrar em cena. Muitas atrizes
desperdiçam este momento em conversas bobas ou com o
pensamento distante do trabalho com a personagem, como
se aquela maquilagem fosse semelhante àquele que usa
para ir para uma festa. O batom vermelho que se coloca
nos lábios de uma personagem contem todo o seu sangue.
160
161
CAPÍTULO 19 Rotina de gravação
Vamos estudar a rotina de gravação. Adotaremos um
roteiro fixo de ações do ponto de vista didático. Fica claro
que cada diretor possui o seu estilo e que são possíveis
muitas maneiras de fazer isto.
Chamamos de rotina de gravação a esta seqüência de
acontecimentos para se obter a gravação de uma cena.
Como vimos num capitulo anterior a cena é aquilo que
tem uma numeração no roteiro e uma cabeça de cena com
a indicação da locação e das especificidades naquele lugar.
Também por motivos didáticos iremos classificar as cenas
em três tipos: Contínuas; descontinuas e simultâneas.
Chamamos de cenas continuas aquelas cuja ação estará
toda contida numa única tomada naquela locação. Como,
162
por exemplo, algo que acontece naquele ambiente em um
fluxo temporal continuo.
Chamamos de cenas descontinuas aquelas cuja ação é
fragmentada no fluxo temporal. E que são mais das vezes
construídas para serem finalizadas pela computação
gráfica. A atriz na verdade fornece material para ser
retrabalhado na computação e acrescentar detalhes e até
mesmo aspectos da própria interpretação. Esta não é uma
realidade local nossa, ainda que algumas atrizes possam
algum dia estar em produções que usem estes recursos.
Chamamos cenas simultâneas aquelas em que duas ou
mais personagens interagem de ambientes diferentes no
mesmo fluxo temporal, as cenas de telefonemas são um
bom exemplo desta situação.
Iremos estudar em nosso roteiro as rotinas das cenas
simultâneas e cenas contínuas. Que fique certo desde já
que esta é uma terminologia que usamos para facilitar o
nosso estudo.
163
A rotina de gravação divide-se em três etapas: preparação,
gravação e finalização.
19.1 PREPARAÇÃO
A etapa de preparação consiste na chegada ao local de
gravação, maquilagem, figurinos, concentração.
Hora de chegada - A chegada ao local de gravação já
estará previamente marcado pela produção. É obrigatória a
obediência a este horário. Isto implica que o dia anterior
deve ser planejado com a intenção de não atrapalhar a
energia do dia seguinte. Explicando melhor, houve uma
produção de certo filme aqui perto, no qual parte da
equipe técnica e os atrizes dedicavam a noite a fazer farras
nos bares de uma cidade histórica. Quando dava cinco da
manhã a assistente de produção ia com o carro para o hotel
pegar os atrizes e eles ainda estavam chegando da festa
noturna. Isto é algo inadmissível. O dia anterior também
faz parte do dia de gravação, como um dia no qual não se
164
deve perder energias. Ao chegar ao local de gravação a
objetividade deve ser total.
Maquilagem - Dependendo da complexidade da
maquilagem, o horário de chegada deve ser bem
antecipado. Deve-se apresentar para a maquilagem já
dentro do processo de trabalho de criação da personagem.
Figurinos - Deve-se em seguida partir para a fase de
figurinos, para a preparação definitiva dos aspectos
externos da personagem e depois de postos os figurinos
fazer os últimos retoques da maquilagem em alguns casos.
Concentração - Corresponde ao pequeno momento de
espera já no set de gravação. Chamamos de set o local
especifico de gravação. A partir deste momento a atriz
estará completamente à disposição do diretor do filme.
165
19.2 GRAVAÇÃO
A etapa de gravação consiste de: ensaio no set, primeira
tomada, tomadas de correção, tomada de segurança,
mudança de posição da câmera, mudança de set.
O ensaio no set consiste nos últimos ajustes da relação
atriz e câmera. Estas marcações obedecerão às indicações
da direção. Pode acontecer que o diretor resolva gravar
estes ensaios.
A primeira tomada consideraremos como sendo a
primeira gravação do plano marcado para ser gravado.
Tomadas de correção, serão as repetições necessárias até
que a tomada fique satisfatória a critério da direção do
filme.
Tomada de segurança, será uma tomada obrigatória da
mesma cena, mesmo que a primeira tomada tenha ficado
boa.
No processo de cada tomada se repetirá a rotina já vista no
capitulo anterior.
166
Mudança de posição da câmera - Entre uma mudança e
outra a atriz deve manter a concentração em seu trabalho,
evitando conversas paralelas sobre qualquer assunto. O
espaço de tempo que ocorre não é um pequeno recreio.
Será um momento para verificar a maquilagem e o
figurino. Será uma tarefa da atriz o cuidado com a
continuidade de seu figurino e maquilagem, isto é, a
vigilância para não se fazerem modificações que alterem a
continuidade da imagem.
Mudança de set - numa mesma locação, pode ocorrer
vários set de gravação. Vale a mesma regra dita acima
para as mudanças na posição da câmera.
19.3 FINALIZAÇÃO
Finalização consiste no: encerramento da gravação,
retirada dos figurinos, retirada da maquilagem, reunião
com o diretor.
O encerramento da gravação deve obedecer a um tom
de calma. Mesmo depois que o diretor diga que tudo está
167
encerrado, espere um pouco, pois pode acontecer de ser
necessária alguma regravação de algum detalhe, depois vá
com calma para o setor de figurinos.
Retirada dos figurinos - O cuidado com os figurinos é
essencial. Deve-se ter o máximo de cuidado com eles.
Numa gravação na qual levamos poucos dias para gravar
todo um filme, os figurinos são uma peça chave que deve
ser muito bem conservada.
Retirada da maquilagem- Já é um momento de mais
descontração, mas não se deve confundir isto como sendo
a saída para um carnaval de Olinda.
Reunião com o diretor - É imprescindível que você
converse com o diretor sobre o trabalho que foi realizado,
perguntando sobre o trabalho e a perspectiva das próximas
cenas.
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169
CAPÍTULO 20 Recebendo a crítica
A opinião pública é como um lago tranqüilo no qual
jogamos uma pedra quando oferecemos o nosso trabalho
ao público. Este trabalho faz o mesmo efeito de uma pedra
nas águas do lago produzindo ondas cuja intensidade
depende do tamanho da pedra. A dimensão da pedra não é
algo sob o controle do artista, depende de muitos fatores
alguns dos quais são imprevisíveis. Um trabalho pode
ocasionar uma grande onda enquanto que outros podem
ocasionar uma pequena onda. Isto não depende do
trabalho, mas no modo como acontece a recepção do
mesmo.
Esta alegoria da onda serve também para compreender que
semelhante a uma onda, que possui uma parte negativa e
uma parte positiva, assim também esta onda de reação a
tudo aquilo que altera o equilíbrio simbólico da sociedade
tem duas faces sempre, que chamaremos de crítica
positiva e critica negativa, então esteja certa, faça o que
170
fizer sempre estará diante destas duas possibilidades. É
uma lei da sociedade humana. Não é uma questão de se o
trabalho foi ruim ou bom, mas do modo como o nosso
trabalho mexeu com as pessoas. Algumas irão se sentir
bem e outras incomodadas. Geralmente objetivamos que
um determinado público tenha uma reação positiva; será
para este público que trabalharemos sempre conscientes de
que haverá aqueles que não irão gostar pelos mais
variados motivos.
Geralmente procuramos agradar a exigência de uma critica
erudita que é lida e faz a cabeça de pessoas que podem
comprar produtos da indústria cultural. A crítica estará
sempre associada a um tipo de valor no mercado e lembre-
se que sempre há um mercado para cada tipo de trabalho.
Não tenham ilusões, a crítica estará sempre à sua porta e
as suas opiniões virão da forma que aquele mercado
cultural determinar. Para se ser um artista deve-se saber
que trabalhamos para um público específico. Não sonhem
com a unanimidade. Este público pode ser imenso e gerar
um grande retorno financeiro, mas sempre haverá a parte
negativa da onda de recepção.
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Outro ponto importante, é que o artista que não vende,
cuja obra não gera possibilidades econômicas, está fadado
a ter um segundo emprego para lhe custear as despesas
enquanto ele se dedica a arte como uma paixão
financeiramente inútil. Viver como artista é vender a sua
arte para quem pode comprar, seja o governo através de
projetos culturais, ou a classe que pode pagar os ingressos
do cinema e do teatro. Não se iludam o mundo da arte é
um dos setores que vivem a crueldade da competição
econômica em qualquer regime social.
Aprendam a valorizar toda a crítica, as boas e as ruins,
mesmo as mais destrutivas, pois elas significam que o
nosso trabalho atingiu aquele público, e se atingiu aquela
platéia com certeza ela tem dois lados. Sempre haverá
quem nos ame se formos verdadeiros. A pior de todas as
situações é o silêncio. Quando o nosso trabalho não
consegue balançar as águas do lago, isto sim, é como se
fosse a morte. Sabendo disso não se magoem com os
críticos, sejam os oficiais, sejam os informais, amigos e
inimigos, melhor ser lembrado.
Há um truque de marketing, que consiste em deixar-se ser
lembrado pelos que gostam de falar mal de seu trabalho,
172
pois irão fazer isso em todas as ocasiões e manter viva a
sua lembrança, enquanto você continua trabalhando e
conquistando parcelas de público que irão pagar o ingresso
para lhe assistir.
O pior inimigo de uma atriz iniciante é o contato com a
recepção ao seu trabalho. Isto tem feito muitas pessoas
desistirem de sua carreira e até tirado elas de seu rumo
original fazendo-a dispersar energia e até perder
completamente o foco do que vinha fazendo.
Lembre-se de estar atenta para capturar as opiniões mais
duras, pois elas podem lhes dar referenciais muito mais
sólidos para impulsionar as suas carreiras. Os elogios são
ótimos numa noite de estréia para fazer a festa, mas
elogios apenas escondem as coisas que não conseguimos
enxergar. Depois dos elogios procure saber de onde vêm
as opiniões negativas, aprenda com elas. É claro que não
se devem desprezar as criticas positivas que vem de fontes
abalizadas, elas são úteis para compreender os aspectos
positivos da onda.
Receber críticas é uma tarefa ligada a ter sucesso no que
se faz. O sucesso pode ser medido pela intensidade destas
173
críticas, positivas ou negativas, e principalmente pela
capacidade de gerar dinheiro para a sua manutenção
pessoal. Para ser uma atriz de sucesso e viver de sua arte
você precisa vendê-la bem. Muitas vezes a crítica
acadêmica não gosta de algo, mas o público adora e paga
por isso. Lembre-se sempre de cuidar bem de seu público.
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