AUGÉ,+Marc,+Não-Lugares
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8/8/2019 AUG,+Marc,+No-Lugares
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Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 1, n. 2, p. 270-271, jul./set. 1995
Flvia Rieth
AUG, Marc. No-lugares: introduo a uma antropologia da
supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994. (Coleo Travessia do Sculo).
Flvia Rieth
Universidade Federal de Pelotas Brasil
A convergncia dos etnlogos para uma antropologia do prximo, confor-
me Marc Aug em No-Lugares: Introduo a uma Antropologia da
Supermodernidade, coloca a questo da antropologia da contemporaneidade.
Onde: da supermodernidade, poder-se-ia dizer que o lado cara de uma
moeda da qual a ps-modernidade s nos apresenta o lado coroa o positivo
e o negativo (p. 33). Prope uma reflexo renovada sobre a contemporaneidade
ante o deslocamento da discusso do mtodo para o objeto.
A supermodernidade caracterizada pelas figuras de excesso: supera-
bundncia factual, superabundncia espacial e individualizao das refernci-
as, correspondendo a transformaes das categorias de tempo, espao e indiv-
duo. A renovao da categoria tempo se concretiza no aceleramento da hist-ria atravs do excesso de informaes e da interdependncia do sistema-
mundo, criando a necessidade de dar sentido ao presente diferentemente da
perspectiva ps-moderna sobre a perda da inteligibilidade da histria em fun-
o da derrocada da idia de progresso. O excesso de espao, paradoxalmen-
te, constitui-se pelo encolhimento do mundo, que provoca alterao da escala
em termos planetrios atravs da concentrao urbana, migraes populacionais
e produo de no-lugares aeroportos, vias expressas, salas de espera, cen-
tros comerciais, estaes de metr, campos de refugiados, supermercados, etc.,
por onde circulam pessoas e bens. O indivduo que se cr o centro do mundo,
tornando-se referncia para interpretar as informaes que lhe chegam, cons-
titui-se a terceira figura de excesso. O processo amplo de singularizao de
pessoas, lugares, bens e pertencimentos faz o contraponto com um processo de
relacionamento tal qual o da mundializao da cultura.
Os no-lugares, produtos da contemporaneidade, opem-se noo de
lugar antropolgico, designado desde Mauss por uma tradio fundada na idia
de totalidade. O lugar antropolgico, mais do que o lugar do encontro do antro-
plogo com o nativo, como a segunda natureza deste ltimo. Nele os nativos
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Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 1, n. 2, p. 270-271, jul./set. 1995
No-lugares
vivem, celebram sua existncia, residem, trabalham, guardam as suas frontei-
ras. Esse lugar foi escolhido pelos ancestrais, o lugar dos descendentes, um
lugar a ser defendido, ou seja, [] simultaneamente princpio de sentido
para aqueles que o habitam e princpio de inteligibilidade para quem o observa
(p. 51). O lugar antropolgico se define como identitrio, relacional e histrico.
Identitrio porque o lugar de nascimento, as regras de residncia, etc., so
como uma inscrio no solo que compe a identidade individual. Referncias
compartilhadas que designam fronteiras marcam a relao com seus prximos
e os outros. Por fim, histrico na medida em que os nativos vivem na histria.
Em oposio, os no-lugares no se definem como identitrios, relacionais
ou histricos. Atravs dos no-lugares se descortina um mundo provisrio eefmero, comprometido com o transitrio e com a solido. Os no-lugares so
a medida de uma poca que se caracteriza pelo excesso factual, superabun-
dncia espacial e individualizao das referncias, muito embora os lugares e
no-lugares sejam polaridades fugidias. Nesse sentido, conforme Aug, apre-
senta-se ao antroplogo um novo objeto, ou seja, a contemporaneidade a ser
estudada nas suas contradies e complexidades, no como uma oposio a
uma modernidade perdida.