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CURSO ON-LINE ECONOMIA BRASILEIRA ANALISTA DE FINANAS E CONTROLE AFC/STN
TEORIA E EXERCCIOS PROFESSOR: FRANCISCO MARIOTTI
1
Prof. Francisco Mariotti www.pontodosconcursos.com.br
Aula Um
Ol, Pessoal!
Damos ento incio aula de Economia Brasileira voltada especialmente
para a prova Analista de Finanas e Controle da S ecretaria do Tesouro
Nacional.
Na primeira e na segunda aula voltaremos os nossos estudos
basicamente para os aspectos relativos ao passado recente da economia
brasileira. Como no poderia deixar de ser, trata-se de uma aula bastante
dissertativa, motivo pelo qual peo bastante ateno de voc.
A proposta das aulas a de ser a mais objetiva possvel, ou seja, farei a
abordagem dos contedos de forma direta, debatendo e apresentando os
principais temas e assuntos pertinentes a cada item do contedo programtico.
No menos importante, quero destacar que fundamental para o completo
entendimento e fixao dos pontos a serem narrados, que voc se dedique um
pouco ao estudo da matria de macroeconomia presente no concurso, visto
que esta permite uma sustentao terica de tudo que ser debatido no curso
de Economia Brasileira.
Quero destacar, entretanto, que caso o objetivo do curso fosse um
aprofundamento sobre os diversos pontos inerentes economia nacional, da
ento, com certeza, eu precisaria de um tempo muito maior de estudo, com
uma abordagem prvia dos conhecimentos de macroeconomia. De todo modo,
como isso no possvel, haja vista o curto tempo at a prova, procurei ser
bastante minucioso, abordando os diversos aspectos constantemente cobrados
em prova.
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Em sendo assim, para que eu simplesmente faa voc cair de pra-
quedas no meio da Economia Brasileira, optei em estender a abordagem da
aula, na verdade retroagindo um pouco mais sobre o passado recente da
economia do pas, conforme ficar claro j no incio da aula. Muito embora
enseje um tempo maior dedicado ao estudo, fundamental para a
consolidao dos pontos cobrados pela banca no edital. No menos
importante, caso a ESAF resolva cobrar questes com temas prvios ao
perodo do milagre econmico, voc estar bem preparado.
So os seguintes os pontos a serem abordados nesta aula um:
1. Evoluo da economia brasileira e da poltica econmica desde
o perodo do milagre econmico.
Os pontos do contedo programtico destacados em itlico, no corpo da
aula, so fonte de fundamentao para o que veremos mais a frente, enquanto
que aqueles no destacados, identificados a partir do item 2, so aqueles
explicitamente presentes no contedo programtico da matria.
pequeno o histrico de questes da ESAF em termos de Economia
Brasileira. Em sendo assim, optei por adicionar questes por outras bancas
organizadoras. Considerando que o tema o histrico, as questes sempre se
encontram mais atualizadas.
Feitos os comentrios iniciais, passo ento aula propriamente escrita.
Um grande abrao e bons estudos!
Mariotti
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1. O Processo d e Industrializao: d o processo d e expanso
capitalista d o fim d o sculo XIX s crises d os anos 1920;
d a industrializao Brasileira dos anos 1930 ao fim dos anos 1955
A evoluo do entendimento econmico, devidamente aplicado
economia brasileira, passou por um grande processo de mudanas a partir da
ascenso de Getlio Vargas Presidncia do pas, ainda nos anos de 1930.
Comeava ali o chamado modelo econmico de Substituio d e
Importaes, o qual consistia na troca de compra da produo externa de
bens e servios pela escolha de produo interna ao pas. Com a queda de
Getlio e, posteriormente, com a chegada do mineiro Juscelino Kubitschek
presidncia da repblica, foi implantado no pas o chamado Plano de Metas.
Passamos a discorrer mais criteriosamente sobre este perodo, de forma
a estruturarmos os impactos econmicos sofridos pela economia, bem como o
modelo de desenvolvimento adotado pelo pas no ps-guerra (fim da segunda
guerra mundial).
1.1 O Processo de Substituio de Importaes
No perodo compreendido entre a proclamao da Repblica at a
chegada de Getlio Vargas ao poder, a economia brasileira dependia
basicamente do bom desempenho das exportaes, que na poca se
restringiam a algumas poucas commodities agrcolas, especialmente o caf,
caracterizando a economia brasileira como essencialmente agroexportadora.
O bom desempenho dependia das condies do mercado internacional de
caf, sendo a varivel-chave nesta poca o seu preo internacional. As
condies deste mercado no eram totalmente controladas pelo Brasil.
Mesmo sendo o principal produtor de caf, outros pases tambm influam
na oferta, sendo boa parte do mercado controlado por grandes companhias
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atacadistas que especulavam com estoques (na medida em que se buscava
um aumento do preo do produto no mercado internacional, restringia-se a
oferta).
A demanda dependia das oscilaes no crescimento mundial,
aumentando em momentos de prosperidade econmica e retraindo-se quando
os pases ocidentais (especialmente EUA e Inglaterra) entravam em crise ou
em guerra. Deste modo, as crises internacionais causavam problemas muito
grandes nas exportaes brasileiras de caf, criando srias dificuldades para
toda economia brasileira, dado que praticamente todas as outras atividades
dentro do pas dependiam direta ou indiretamente do desempenho do setor
exportador cafeeiro.
As condies do mercado internacional de caf tendiam a tornarem-se
mais problemticas na medida em que as plantaes do produto no Brasil se
expandiam. Nas primeiras dcadas do sculo XX a produo brasileira cresceu
desmensuradamente. O Brasil chegou a produzir sozinho mais caf do que o
consumo mundial, obrigando o governo a intervir no mercado, estocando e
queimando caf (lembre-se que quando estudamos histria do Brasil, no
colgio, abordamos o Convnio de Taubat.). Neste perodo as crises externas
sucederam-se em funo tanto de oscilaes na demanda (crises
internacionais), como em decorrncia da superproduo brasileira do gro.
Em 1930, estes dois elementos se conjugaram, a produo nacional era
enorme e a economia mundial entrou numa das maiores crises de sua histria.
A depresso no mercado internacional de caf logo se fez sentir e os preos
vieram abaixo. Isto obrigou o governo a intervir fortemente, comprando e
estocando caf, desvalorizando o cmbio com o objetivo de proteger o setor
cafeeiro1 e ao mesmo tempo sustentar o nvel de emprego, de renda e de
1 A desvalorizao do cmbio faz com que cada unidade de dlar norte-americano compre mais unidades de moeda
nacional (cruzeiro). Nesta condio existe um estmulo compra de caf.
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demanda agregada. Este conjunto que problemas deixava claro que a situao
de dependncia da economia brasileira, especialmente das exportaes de um
nico produto agrcola, era insustentvel.
A crise dos anos 30 foi um momento de ruptura no desenvolvimento
econmico brasileiro; a fragilizao do modelo agroexportador trouxe tona a
conscincia sobre a necessidade da industrializao do pas como forma de
superar os constrangimentos externos e o subdesenvolvimento. No foi o incio
da industrializao brasileira (esta j havia se iniciado desde o final do sculo
XIX), mas o momento em que um novo modelo econmico, sustentado por um
novo governo, passou a ser meta prioritria.
Este objetivo, porm, envolvia grandes esforos em termos de gerao
de poupana (dinheiro utilizado em investimentos produtivos) e sua
transferncia para a atividade industrial. Isto s seria possvel com uma
grande alterao na poltica econmica vigente, baseado no rompimento com o
Estado oligrquico e descentralizado da Repblica Velha, alm da transferncia
e centralizao do poder e dos instrumentos de poltica econmica nas mos
do Governo Federal. Este foi o papel desempenhado pela Revoluo de 30.
Dela decorreram o fortalecimento do Estado Nacional e a ascenso de novas
classes econmicas ao poder, o que permitiu colocar a industrializao como
meta prioritria, como um projeto nacional de desenvolvimento.
A forma assumida pela industrializao foi o chamado Processo de
Substituio de Importaes (PSI). Devido ao estrangulamento externo ora
existente, gerado de forma especial pela crise internacional ocasionada pela
quebra da Bolsa de Nova York, houve a necessidade de produzir internamente
o que antes era importado, defendendo-se dessa forma o nvel de atividade
econmica interna (produo interna). A industrializao feita a partir
deste processo de substituio de importaes foi uma industrializao
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voltada para dentro, ou seja, que visou atender o mercado consumidor
interno.
O modelo de Substituio de Importaes consistiu no processo forado
de industrializao brasileira, como forma de superao dos problemas
externos e, consequentemente, da mudana da pauta exportadora do pas no
mdio prazo.
Em linhas gerais, pode-se dizer que o PSI foi derivado do chamado
processo de estrangulamento externo, referenciado na queda no valor das
exportaes de produtos agrcolas, mas com a crescente demanda interna por
bens importados.
A poltica de PSI teve continuidade durante o perodo de sada e retorno
de Vargas ao poder, o que significou, em linhas gerais, o fim inequvoco da
dependncia externa do pas exportao cafeeira.
1.1.1 As polticas d e interveno d o Estado na primeira metade
da dcada de 1950.
No cenrio internacional Ps-Segunda Guerra Mundial, iniciou-se a
grande rivalidade entre os EUA e a Unio Sovitica, que no aspecto econmico
coincidiu com o perodo de escassez de dlares. O Brasil passou por sucessivas
crises de Balano de Pagamentos, o que fez com que o governo abandonasse
literalmente o aspecto liberal das polticas econmicas e assim adotasse um
modelo de desenvolvimento industrial com a relevante participao estatal.
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O elevado volume de importaes da economia nacional, no perodo
compreendido entre 1945-1955, levou o governo adoo de medidas de
controle do cmbio como forma de minimizar os impactos sobre o balano2.
O carter social do governo Vargas levou publicao de uma extensa
legislao, especialmente trabalhista, que beneficiou grande parte dos
trabalhadores. No plano de interveno econmica o governo Vargas fundou a
Companhia Vale do Rio Doce e a Companhia Siderrgica Nacional, empresas
estas que passariam a ter papel fundamental no processo industrial do pas.
Ainda tomava corpo no mbito da interveno econmica promovida por
Vargas a necessidade de financiamento do desenvolvimento econmico, o que
coincidiu com a criao do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico
BNDE3 e da PETROBRAS.
O BNDE foi fruto de profunda discusso entre o governo brasileiro, o
Banco Mundial e o Eximbank4. A promessa de repasse de recursos para a nova
Instituio no montante de US$ 500 milhes permitiu que o projeto fosse
efetivado, criando-se o Banco em 1952. Muito embora tenha ocorrido uma
srie de mudanas nas promessas feitas pelos bancos internacionais quanto ao
repasse de recursos ao BNDE, o projeto da Instituio foi levado frente,
entretanto, com um menor volume de recursos disponveis para a realizao
de financiamentos.
A criao da PETROBRAS no ano de 1953 foi decorrente da intensa
campanha iniciada no Ps-Guerra sob o ttulo O Petrleo nosso. Aps uma
2 Conforme destacadp na nota de rodap 1, com a desvalorizao cambial, alm de estimular as exportaes,
desestimula-se as importaes, haja vista que os produtos estrangeiros se tornam mais caros em termos da quantidade
de moeda nacional.
3 Somente em 1982 o BNDE teve a sua denominao alterada para BNDES, isto em funo da criao de uma Diretoria
destinada anlise de financiamento de projetos sociais.
4 Instituio Norte-Americana responsvel pelo financiamento de importaes e exportaes ao EUA.
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srie de discusses de cunho poltico foi dada empresa o Monoplio na
extrao do petrleo5.
1.2 O Plano de Metas e a industrializao pesada
O Plano de Metas adotado no governo Juscelino Kubitschek pode ser
considerado o auge deste modelo de desenvolvimento; o rpido crescimento
do produto e da industrializao no perodo acentuou as contradies
mencionadas. O principal objetivo do plano era estabelecer as bases de uma
economia industrial madura no pas, introduzindo o mpeto ao setor produtor
de bens de consumo durveis.
O Plano foi dividido especialmente nos seguintes objetivos:
Investimentos estatais em infra-estrutura, com destaque para os
setores de transporte e energia eltrica. No que diz respeito aos
transportes, cabe destacar a mudana de prioridade que at o
governo Vargas se centrava no setor ferrovirio e no governo JK
passou para o rodovirio, que estava em consonncia com o
objetivo de introduzir o setor automobilstico no pas;
Estmulo ao aumento da produo de bens intermedirios, como o
ao, o carvo, o cimento, o zinco etc., que foram objetos de planos
especficos;
Incentivos introduo dos setores de bens de consumo durveis e
bens de capital (mquinas e equipamentos utilizados na produo);
e
5 O processo de distribuio foi atribudo s companhias estrangeiras.
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Incentivo produo industrial privada por meio da concesso de
crdito em massa.
interessante observar a coerncia que existia entre as metas do plano,
em que se visava impedir o aparecimento de pontos de estrangulamento na
oferta de infra-estrutura e bens intermedirios para os novos setores, bem
como, atravs dos investimentos estatais, garantir a demanda necessria para
produo adicional.
O cumprimento das metas estabelecidas foi bastante satisfatrio, sendo
que em alguns setores estas foram superadas, mas em outros ficaram aqum.
Com isso, observou-se rpido crescimento econmico no perodo com
profundas mudanas estruturais, em termos da base produtiva do pas.
No obstante, o plano trouxe uma srie de problemas. O financiamento
dos investimentos pblicos, na ausncia de uma reforma fiscal6 condizente
com as metas e os gastos estipulados, teve que se valer principalmente da
emisso monetria7, observando-se no perodo uma grande acelerao
inflacionria. Do ponto de vista externo, observou-se uma deteriorao do
saldo em transaes correntes8 e o crescimento da dvida externa. A
concentrao da renda ampliou-se devido ao desestmulo agricultura e o
consequente investimento de capital intensivo na indstria9.
6 Melhoria dos perfis tanto da arrecadao de receita quanto dos gastos pblicos.
7 Uma das formas possveis do governo se financiar por meio da emisso monetria, ou seja, simplesmente rodando
dinheiro novo e pagando os seus compromissos. Essa ao bastante temerria, visto que tende a provocar a
depreciao do poder de compra da moeda, dado que um excesso de dinheiro pode gerar inflao, que faz com que
uma simples unidade monetria compre cada vez menos bens.
8 As transaes correntes referem-se a uma das rubricas do balano de pagamentos, na qual so computadas as
exportaes e as importaes de bens, alm do pagamento dos juros da dvida externa contrada pelo pas (setor
pblico e setor privado).
9 Os industriais passaram a acumular a maior fatia da renda, retirando esta do campo e, consequentemente, piorando a
distribuio dos recursos, visto que boa parte da populao ainda vivia em reas rurais.
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1.3 A crise da economia brasileira na primeira metade da dcada
de 1960 e as reformas estruturais no incio do governo militar.
O incio dos anos 60 caracterizou-se pela primeira grande crise
econmica do Brasil em sua fase industrial. Neste perodo ocorreu uma queda
importante dos investimentos e a taxa de crescimento da renda brasileira caiu
fortemente em funo da materializao das contradies inerentes ao
processo de substituio de importaes. Para dar prosseguimento ao
desenvolvimento econmico, tornava-se necessrio desenvolver o setor de
bens de capital10 e ampliar o setor de bens intermedirios11 que estavam
defasados, assim como a infra-estrutura12 urbana.
Vrios problemas se colocaram neste sentido, em especial a ausncia de
mecanismos de financiamento adequados, tanto para o setor pblico, que se
encontrava com elevado dficit pblico13 devido aos gastos realizados no Plano
de Metas (durante o governo de Juscelino Kubitschek), como para o setor
privado, em um momento em que as altas escalas de capital dos setores a
serem implantados necessitavam de maiores recursos financeiros para
viabilizar o investimento.
Outro problema que se colocava ao prosseguimento do desenvolvimento
era que tanto o setor de bens de capital como o setor de bens intermedirios,
chamados setores de demanda derivada, isto , setores em que a demanda
pelos produtos depende diretamente da demanda pelos produtos finais na
economia. Em virtude da concentrao de renda da economia e da ausncia de
mecanismos de financiamento ao consumidor14, a demanda pelos produtos do
10
Bens de capital referem-se produo de mquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo.
11 Bens intermedirios so bens considerados na produo de bens finais. Na produo de um pneu de automvel, por
exemplo, utilizada malha de ao e borracha. Estes bens podem ser considerados como bens intermedirios.
12 Ruas, avenidas, redes de gua e esgoto.
13 Excesso de gastos em relao s receitas pblicas.
14 Concesso de crdito atravs de instituies financeiras.
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setor de bens de consumo durveis15 era bastante limitada, restringindo os
impactos (estmulos) deste setor para o resto da economia. A consequncia
desta situao foi a retrao nas taxas de crescimento e a acelerao
inflacionria16.
Era um consenso na poca a necessidade de reformas institucionais que
promovessem um quadro favorvel retomada dos investimentos.
O governo Jnio Quadros procurou adotar medidas que cunho
ortodoxo17, baseando-se na conteno gasto pblico18 e de uma poltica
monetria contracionista19. Muito embora as medidas tenham sido muito bem
recebidas, no nvel poltico Jnio enfrentava srias dificuldades para aprovao
destas, haja vista a inexistncia de base parlamentar no Congresso. Por meio
de um gesto enigmtico Jnio renunciou, esperando contar com a populao
para que o trouxesse de volta ao poder e assim pudesse dar continuidade s
suas pretenses. O resultado todos ns sabemos. Jnio no obteve sucesso, e
ainda gerou um srio problema a ser administrado pelo Parlamento, pois a
Constituio brasileira poca previa que o Vice-Presidente deveria assumir.
Por meio de uma soluo de conciliao o Congresso alterou o regime do
governo do pas do Presidencialismo para o Parlamentarismo, o que permitiu o
tempo de retorno de Joo Goulart ao Brasil, que se encontrava fora e, ao
mesmo tempo, que Tancredo Neves assumisse como Primeiro Ministro
interinamente.
15
Venda aos consumidores de geladeiras e televises, com produo incipiente no pas.
16 Neste caso a inflao ocorreu pelo lado da oferta, uma vez que existiam poucos produtos disponveis.
17 Ortodoxia, em economia, se refere adoo de polticas econmicas conservadoras, adequadas regra tradicional
de conduo da prpria economia.
18 A conteno dos gastos pblicos contribui para a reduo do dficit pblico.
19 Aliado conteno dos gastos, uma poltica monetria restritiva impede um financiamento monetrio dos
compromissos do governo, contribuindo assim para minimizao do processo inflacionrio decorrente do excesso de
dinheiro em circulao.
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A fase do parlamentarismo do Parlamentarismo durou at 1962. Neste
perodo o PIB do pas teve elevado crescimento, derivado da fase de
maturao do Plano de Metas. No obstante, a inflao no perodo teve forte
elevao, passando de 40% ao ano. Por meio de um plebiscito convocado por
Jango, a populao votou pelo retorno do Presidencialismo, o que permitiu ao
governante mais estabilidade para conduo da Economia.
Liderado por Celso Furtado o governo lanou o Plano Trienal,
baseando-se nas propostas de impulso ao crescimento econmico com
combate inflao e a adoo de reformas sociais. Os objetivos especficos do
Plano eram:
Reduzir a taxa de inflao para 25% em 1963, e at 1965 alcanar
o patamar de 10%;
Crescimento dos salrios na mesma proporo do aumento da
produtividade da mo-de-obra20;
Realizao da Reforma Agrria tanto para reduo da crise social
que afetava o pas poca quanto para permitir a elevao do
consumo de ramos industriais;
Busca pela renegociao de dvida externa, a qual gerava grande
presso sobre o pagamento de juros e, consequentemente, sobre o
balano de pagamentos; e
Promover o crescimento do PIB de 7% a.a..
20
Aumentado-se a produtividade da mo-de-obra, ou seja, a quantidade de bens a serem produzidos por um
trabalhador em um mesmo tempo, aumenta-se os ganhos do empresrio e, desta forma, os ganhos dos trabalhadores
por meio do aumento salarial.
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Muito embora as propostas do Plano fossem positivas, no encontraram
guarida. A vertente esquerdista do governo contribuiu para o isolamento do
pas, de forma a impedir com que boa parte do plano obtivesse sucesso. A
publicao da Lei no 4.131/62, que tratava do controle de capital estrangeiro21,
em que a remessa de lucros provenientes dos investimentos produtivos no pas
ficava limitada a 10%, provocou uma sensvel reduo de novos investimentos
na economia nacional.
Afora estes aspectos, mas em linha com a vertente esquerdista da
poltica, Jango resolveu aumentar o salrio do funcionalismo pblico e
restabeleceu subsdios agrcolas abolidos no incio do programa, contribuindo
para a escalada inflacionria no ano de 1963.
A elevao das tenses no campo poltico, conjuntamente com a poltica
de expropriao de empresas estrangeiras, contriburam para a insatisfao
das foras armadas, cansadas de exacerbada filosofia adotada pelo governo. O
resultado deste contexto foi queda de Joo Goulart, destitudo por meio do
Golpe Militar de maro de 1964.
Em resumo, pode-se dizer que tanto o governo de Jnio Quadros quanto
o governo de Joo Goulart foram prisioneiros da situao poltica e, apesar de
buscarem diferentes formas de resolver a questo e encaminhar a soluo
econmica, ocorreu certo imobilismo no campo nacional e internacional. Neste
contexto, o golpe militar de 1964, impondo de forma autoritria uma soluo
para a crise poltica, foi uma precondio ao encaminhamento tcnico das
medidas de superao da crise econmica - reformas constitucionais e
conduo da poltica econmica de forma adequada e segura.
21
Entrada e sada de recursos estrangeiros.
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1.3.1 O PAEG e o governo militar
O governo Castelo Branco lanou o PAEG (Plano de Ao Econmica do
Governo), com vistas a resolver os problemas econmicos do pas. O PAEG
pode ser dividido em duas linhas de atuao: polticas conjunturais de combate
inflao, associadas a reformas estruturais que permitiram o
equacionamento dos problemas inflacionrios e das dificuldades que se
colocavam ao crescimento econmico.
Os objetivos colocados pelo PAEG eram: acelerar o ritmo de
desenvolvimento econmico; conter o processo inflacionrio; atenuar os
desequilbrios setoriais e regionais; aumentar o investimento e com isso o
emprego; e corrigir a tendncia ao desequilbrio externo do balano de
pagamentos. O controle inflacionrio e/ou as formas de conviver com ela eram
vistos como precondies para a retomada do desenvolvimento, e o combate
inflao s poderia ser feito acoplado s reformas institucionais.
O diagnstico sobre a inflao, que havia subido para 83,2% a.a. em
1963, centrava-se no excesso de demanda22. Este era explicado em funo da
tendncia ao dficit pblico23, da elevada propenso a consumir (decorrente da
poltica salarial frouxa dos perodos anteriores - os chamados arroubos
populistas) e tambm da falta de controle sobre a expanso do crdito. Estas
presses inflacionrias propagavam-se com a expanso monetria, que era o
veculo para sua perpetuao.
Especificamente, as principais metas do PAEG eram:
22
Um excesso de demanda faz com que haja um volume de procura por bens superior oferta, o que tende a fazer com
que haja um aumento dos preos e, por conseqncia, da inflao.
23 Um excesso de gastos pblico representa um excesso de consumo que, por conseguinte, implica numa tendncia
inflacionria.
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Reduo do dficit pblico mediante a reduo dos gastos e da
ampliao das receitas atravs da reforma tributria e do aumento
das tarifas pblicas (a chamada inflao corretiva). Com isso, o
dficit pblico reduziu-se de 4,2% do PIB em 1963 para 1,1% em
1966;
Restrio do crdito e aperto monetrio. Houve aumento das taxas
de juros reais e consequentemente do passivo das empresas. Este
fato levou a uma grande onda de falncias, concordatas, fuses e
incorporaes, processo este que atingiu principalmente as
pequenas e mdias empresas dos setores de vesturio, alimentos e
construo civil. Esta limpeza de terreno e consequente gerao
de capacidade ociosa foi um importante fator para a futura
retomada do crescimento econmico;
O terceiro elemento da poltica de conteno da demanda foi a
poltica salarial, em que se supunha a existncia de uma taxa de
desemprego relativamente baixa, o que levava a elevados salrios
reais e inflao crescente. Para romper esta dinmica, o governo
passou a determinar os reajustes salariais, via poltica salarial,
objetivando romper as expectativas e conter as reivindicaes. A
frmula de reajustes decidida pela poltica salarial teve por
consequncia uma grande reduo do salrio real.
Com estas medidas, a inflao reduziu-se, entre os anos de 1964 e 1967,
da casa dos 90% a.a. para os 20% a.a. Este resultado se deveu em grande
parte a uma retrao nas taxas de crescimento econmico.
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1.3.2 Reformas Institucionais do PAEG
Quanto aos problemas institucionais, identificou-se como ponto bsico a
ausncia de correo monetria em uma economia com altas taxas
inflacionrias. Vrios eram os problemas gerados pelo processo inflacionrio, a
saber:
A inflao, conjugada lei da usura (que impedia juros nominais
superiores a 12% a.a.), desestimulava a canalizao de poupana
para o sistema financeiro24;
A lei do inquilinato, numa situao inflacionria, constitua-se em
forte desestmulo aquisio de imveis e, consequentemente,
construo civil25;
Desordem tributria, pois a ausncia de correo monetria, no
caso dos dbitos fiscais, estimulava o atraso de pagamentos e, no
caso dos ativos e do patrimnio das empresas, levava tributao
de lucros ilusrios.
Neste sentido, se por um lado se fazia necessria a reduo das taxas de
inflao, tambm se procurou criar mecanismos que possibilitassem o
crescimento econmico em um ambiente de inflao moderada.
As principais reformas institudas pelo PAEG foram: a reforma tributria,
a reforma monetria e financeira e a reforma do setor externo.
24
Perceba que como havia restrio taxa mxima de juros para concesso de emprstimos, e considerando que a
inflao corroia os juros, no havia interesse dos bancos em conceder emprstimos.
25 Como o reajuste dos aluguis era restrito, havia interesse por parte dos compradores em adquirir novos imveis no
sentido de realizar a locao destes.
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1.3.3 A Reforma Tributria
Os principais elementos envolvidos nesta reforma foram:
A introduo da correo monetria no sistema tributrio26,
visando reduzir as distores j mencionadas;
A alterao do formato do sistema tributrio. Transformaram-se os
impostos tipo cascata (que incidem a cada transao sobre o valor
total), em impostos tipo valor adicionado. Criou-se o IPI (imposto
sobre produtos industrializados), o ICM (imposto sobre circulao
de mercadorias) e o ISS (imposto sobre servios). A importncia
desta alterao foi romper o estmulo at ento existente
integrao vertical da produo27, e facilitar a utilizao dos
impostos como instrumento de poltica de desenvolvimento e de
reduo de distores, ao permitir as diferenciaes de alquotas e
facilitar a concesso de isenes e incentivos fiscais s atividades
especficas;
A redefinio do espao tributrio entre as diversas esferas do
governo. A Unio ficou com o IPI, o Imposto de Renda, os
Impostos nicos, os Impostos de Comrcio Exterior, o Imposto
Territorial Rural (ITR). Os estados ficaram com o ICM e os
municpios, com o ISS e o IPTU (imposto sobre propriedade
territorial urbana). Alm disso, foram criados os fundos de
transferncia intergovernamentais: o fundo de participao dos
estados e dos municpios, que se baseavam em parcelas de
arrecadao do IPI, do IR e do ICMS. Os critrios de distribuio
26
Na medida em que as obrigaes tributrias so reajustadas, garante-se o valor real da arrecadao fiscal do
governo.
27 A integrao vertical ocorre quando diferentes processos de produo - desde o insumo at a venda final ao
consumidor - que podem ser produzidos separadamente, por vrias firmas, passam a ser produzidos por uma nica
firma. Ademais, destaca-se que a integrao vertical tende a aumentar o preo do produto final entregue sociedade.
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dos recursos baseavam-se na rea geogrfica, na populao e no
inverso da renda per capita, com vistas a favorecer estados mais
pobres. Houve importante centralizao das decises sobre a
legislao tributria, inclusive definindo as alquotas dos impostos
das demais esferas, procurando eliminar a guerra fiscal.
Dessa forma, as principais consequncias da reforma tributria foram o
aumento da arrecadao e uma grande centralizao tanto da arrecadao
como das decises em termos de poltica tributria, constituindo-se em
importante instrumento poltico, ao subordinar os estados ao governo central.
Permitiu ainda, atravs da vinculao da receita e da criao de rgos ao lado
da administrao direta, uma descentralizao dos gastos, com maior
flexibilidade operacional.
1.3.4 A Reforma Monetria Financeira
Os principais objetivos nesta reforma eram: criar condies de conduo
independente da poltica monetria e direcionar os recursos montantes
promovendo condies adequadas s atividades econmicas.
Esta reforma divide-se em quatro grupos de medidas:
A instituio da correo monetria e criao da ORTN (Obrigao
Reajustvel do Tesouro Nacional). A introduo da correo
monetria tornava sem sentido a Lei da Usura, eliminando uma
srie de ineficincias do sistema financeiro. Ao permitir a prtica de
taxas de juros reais positivas, estimulava a poupana e ampliava a
capacidade de financiamento da economia. A criao das ORTNs,
cuja variao determinaria o ndice de correo monetria, tinha
por objetivo dar credibilidade e viabilizar o desenvolvimento de um
mercado de ttulos pblicos que fornecesse instrumentos de
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financiamento no inflacionrios do dficit pblico, bem como
possibilitasse as operaes de mercado aberto28, visando o controle
monetrio. Este ltimo objetivo s se viabilizou de fato a partir de
1970, com a criao das LTNs (Letras do Tesouro Nacional29), pois
as caractersticas das ORTNs (ttulos ps-fixados de longo prazo)
dificultavam as operaes de mercado aberto, que devem ser feitas
com ttulos prefixados de curto prazo30;
A Lei n. 4.595/64 - criao do CMN (Conselho Monetrio Nacional)
e do BACEN (Banco Central do Brasil). Com esta lei procurava-se
criar condies para que a poltica monetria fosse conduzida de
forma independente. O CMN substituiu o conselho da SUMOC
(Superintendncia da Moeda e do Crdito), e passou a ser o rgo
normativo da poltica monetria, com a funo de definir as regras
e as metas a serem atingidas. O BACEN foi criado (assumindo a
antiga Carteira de Cmbio e Redesconto do Banco do Brasil e o
Servio de Meio Circulante do Tesouro Nacional), para ser o agente
executor da poltica monetria. Alm disso, ele tambm seria o
agente fiscalizador e controlador do sistema financeiro. O Banco do
Brasil, alm de suas funes de banco comercial31, permaneceu
com os servios de compensao de cheques, depositrio das
28
As operaes de mercado aberto so caracterizadas pela emisso de ttulos pblicos com o sentido de fazer poltica
monetria. Quando a autoridade monetria (BACEN) vende ttulos pblicos s instituies financeiras, seu objetivo e
entregar um ttulo com remunerao futura (juros) em troca do recebimento de moeda (dinheiro) hoje, destinado a evitar
com que este mesmo dinheiro seja emprestado e, assim, possa gerar inflao.
29 As Letras do Tesouro Nacional a espcie mais como de ttulo pblico. Conforme vocs podero verificar em um
curso de Economia do Setor Pblico, o qual trata da Lei de Responsabilidade Fiscal atualmente vigente no pas, o
Banco Central no mais realiza a emisso de ttulos (constituio de dvida), mas to somente realiza a colocao dos
ttulos (compra e venda no mercado financeiro). A emisso feita pelo Tesouro Nacional, o qual as repassa ao BACEN
por meio da constituio de um ativo para com a autoridade monetria.
30 Curto prazo de vencimento.
31 Um banco comercial, em essncia, aquele que permite ao seu cliente a abertura de conta-corrente bem como a
movimentao financeira dos recursos depositados, inclusive a tomada de crdito.
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reservas voluntrias32, e caixa do BACEN e do Tesouro Nacional, ou
seja, constitua-se no agente bancrio no governo.
Vrios problemas ainda permaneciam para a consecuo do objetivo de
controle independente da poltica monetria, a saber:
A subordinao do BACEN ao CMN, o que permitia ingerncia
poltica na atuao do BACEN;
A Conta Movimento, criada inicialmente para transferir recursos do
BB para o BACEN entrar em operao, fez com que o BB no
perdesse a condio de Autoridade Monetria, uma vez que podia
expandir sem limites suas operaes de crdito, pois possua uma
linha direta de financiamento junto ao BACEN33;
O chamado Oramento Monetrio, que deveria ser pea para
juntar as duas autoridades monetrias (BACEN e BB). Este
oramento passou a receber vrios gastos de origem fiscal, com a
criao de vrios fundos e programas que seriam administradas
pelas Autoridades Monetrias - PROAGRO, PROEX, FUNRURAL etc.
Com isso, o BACEN, que deveria ser rgo de controle monetrio,
transformava-se tambm em banco de fomento, criando-se um
entrelaamento entre contas monetrias e fiscais, de tal modo que o
Oramento Fiscal poderia aparecer equilibrado, enquanto todo o rombo se
colocava no Oramento Monetrio. O BACEN era responsvel pela
administrao da dvida pblica, podendo emitir ttulos em nome do Tesouro
Nacional. Dessa forma, a dvida pblica e os gastos com juros do Tesouro
32
Recursos que sobram no caixa dos bancos e que estes preferem manter junto ao BB que, na poca, ainda exercia
alguma influncia nas decises de poltica monetria.
33 Um banco tradicional tem como principal fonte de recursos os diversos depsitos feitos por correntistas. No caso do
BB, poca, ele tinha condies de tomar recursos para emprstimos por meio da conta movimento, o que acabava, de
alguma forma, por impedir com que o BACEN tivesse o controle efetivo da oferta de moeda na economia.
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poderiam crescer, independentemente da existncia de um dficit a ser
financiado, mas simplesmente por objetivos de controle monetrio. Alm disso,
criava-se um mecanismo para o Tesouro Nacional forar o BACEN a financiar
seus dficits via emisso monetria.
Percebe-se, portanto, que estas medidas acabaram por criar um
estranho arcabouo institucional, em que se misturavam as polticas fiscal e
monetria; o BACEN no controlava a poltica monetria nem o Tesouro
Nacional controlava a poltica fiscal, sendo que o resultado deste quadro foi o
de inviabilizar o conhecimento e o controle social sobre as operaes do
governo.
As demais instituies do mercado de capitais - Bolsa de Valores,
Corretoras e Distribuidoras - tambm foram regulamentadas e subordinadas
ao BACEN. Criaram-se vrios tipos de incentivos fiscais para dinamizar este
segmento, entre os quais se destaca o Decreto-lei n. 157, no qual os
indivduos poderiam adquirir cotas de fundo de aes com parcela do Imposto
de renda (pessoa fsica) devido. Merece ainda destaque a criao do Sistema
Nacional de Crdito Rural (SNCR), sendo o BB o agente central, e os bancos
comerciais agentes subsidirios. A fonte de recursos para o sistema era, alm
dos fundos fiscais e da Conta Movimento, uma parcela dos depsitos vista
captados pelos bancos comerciais, que deveriam obrigatoriamente ser
utilizados no financiamento agrcola.
1.3.5 A Reforma do Setor Externo
A reforma do setor externo tinha por objetivo estimular o
desenvolvimento econmico, evitando as presses sobre o Balano de
Pagamentos e assim eliminando uma das principais distores do Processo de
Substituio de Importaes - PSI. Destacam-se duas linhas de atuao neste
sentido: melhorar o comrcio externo brasileiro e atrair o capital estrangeiro:
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Em relao ao comrcio externo, buscou-se, por um lado,
estimular e diversificar as exportaes atravs de uma srie de
incentivos fiscais (isenes fiscais - IPI, ICM, IR - crdito-prmio do
IPI etc.) e da modernizao e dinamizao dos rgos pblicos
ligados ao comrcio internacional (CACEX). Quanto s importaes,
a idia era eliminar os limites quantitativos e utilizar apenas a
poltica tarifria como forma de controle. A principal medida
adotada na rea do comrcio externo foi a simplificao e
unificao do sistema cambial, que objetivava eliminar as
incertezas decorrentes da conduo errtica da poltica cambial,
bem como os desestmulos exportao decorrentes da
valorizao cambial. Para tal, adotou-se o sistema de
minidesvalorizaes a partir de 1968, pelo qual a desvalorizao
cambial deveria refletir o diferencial entre a inflao domstica e a
internacional34;
Quanto atrao do capital estrangeiro, buscou-se inicialmente
uma reaproximao com a poltica externa norte-americana, a
chamada Aliana para o Progresso. Em seguida, efetuou-se a
renegociao da dvida externa e firmou-se um Acordo de
Garantias para o capital estrangeiro. As ligaes com o sistema
financeiro internacional foram feitas atravs de dois mecanismos: a
Lei n. 4.131/64, que dava acesso direto das empresas ao sistema
financeiro internacional, e a Resoluo n. 63, que possibilitava a
captao de recursos externos pelos bancos comerciais e de
investimentos para repasse interno. Esta ltima significava a
34
Como a taxa de cmbio reflete o preo, em moeda nacional, de uma unidade moeda estrangeira, toda vez que
ocorrer um processo de inflao no pas, com a consecutiva perda do poder de compra da moeda nacional, maior ser
a necessidade de moeda nacional para se comprar uma mesma unidade de moeda estrangeira. O sistema de
minidesvalorizaes tinha este papel, qual seja a de refletir na taxa de cmbio a inflao interna do pas.
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colagem do sistema financeiro nacional ao internacional e o incio
do processo de internacionalizao financeira no Brasil.
Com base no que acabamos de descrever, pode-se concluir que a poltica
adotada no PAEG obteve grande xito na reduo das taxas inflacionrias e em
preparar o terreno para a retomada do crescimento. Este quadro, como
veremos, permitiu altas taxas de crescimento ao longo da dcada de 70,
durante o perodo do chamado Milagre Econmico brasileiro.
2. Evoluo da economia brasileira e da poltica econmica desde o
perodo do milagre econmico
O chamado Milagre Econmico foi o perodo entre 1968 e 1973 em que o
PIB brasileiro apresentou as maiores taxas de crescimento, derivados de todas
as reformas e estruturao do parque fabril nos 15 anos anteriores. Associado
a este crescimento encontrou-se tambm todo o contexto favorvel da
economia mundial na poca.
As diretrizes do governo em 1967 j colocavam o crescimento econmico
como objetivo principal, acompanhado de conteno da inflao, sendo que se
admitia o convvio com uma taxa de inflao em torno de 20 a 30% a.a.. Nesta
fase, alterou-se o diagnstico sobre as causas da inflao, destacando os
custos como principal determinante. Com isso, afrouxaram-se as polticas de
conteno da demanda. As polticas monetria, executada pelo Bacen, a fiscal,
realizada pelo governo federal, e a creditcia, capitaneada pelos bancos,
contriburam favoravelmente para os objetivos do governo. Exceo coube
feita poltica salarial, pois esta era considerada como elemento de custos, e
que como tal poderia impactar o processo inflacionrio. No mesmo sentido,
teve incio uma poltica de controle de preos, onde os reajustes deveriam ter
aprovao prvia do governo, com base nas variaes de custos. Para tal fim,
criou-se o CIP (Conselho Interministerial de Preos) em 1968.
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A busca do crescimento, segundo o governo, deveria processar-se com o
investimento em setores diversificados e com menor participao do Estado,
ou seja, deveria basear-se no setor privado. importante destacar que o
crescimento se colocava tambm como uma necessidade para legitimar o
Regime Militar, que procurou justificar sua interveno na necessidade de
eliminar a desordem econmica e poltico-institucional, e recolocar o pas nos
trilhos do desenvolvimento.
Tendo como ponto de partida o plano denominado I Plano Nacional de
Desenvolvimento I PND, o perodo do milagre teve dentre as principais
fontes de crescimento, as seguintes:
A retomada do investimento pblico em infra-estrutura, especialmente
relacionados Construo Civil, possibilitada pela recuperao financeira
do setor pblico, devido reforma fiscal e aos mecanismos de
endividamento interno (financiamento no inflacionrio dos dficits);
Aumento dos investimentos das empresas estatais, observando-se, no
perodo, um aumento nos investimentos e o processo de conglomerao
destas empresas, atravs da criao de vrias subsidirias; a Petrobrs e
a Vale do Rio Doce foram exemplos tpicos deste processo;
Demanda por bens de consumo durveis (geladeiras, veculos, etc.) -
devido grande expanso do crdito ao consumidor ps reforma
financeira. Nesta situao, percebe-se que a opo para a ampliao do
mercado consumidor se deu em grande medida pelo endividamento das
famlias;
Crescimento das exportaes, especialmente a de bens manufaturados,
graas a expanso no comrcio mundial e melhoria nos termos de
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troca. Devido s alteraes promovidas na poltica externa no pas e aos
incentivos fiscais, verificou-se no perodo um crescimento no valor das
exportaes (volumes em termos de troca), o que representou ampliao
significativa na capacidade de importar da economia (quanto mais
moeda estrangeira entra proveniente de exportaes, maiores so os
recursos para compra de bens importados, tambm cotados em moeda
estrangeira);
Tanto o setor de bens de consumo leve (no durveis), quanto a
agricultura, apresentaram desempenhos mais modestos. O crescimento
nestes setores decorreu do aumento da massa salarial, que, por sua vez,
se deve ao aumento de emprego, e ao crescimento das exportaes de
manufaturados tradicionais e de produtos agrcolas. A agricultura cresceu
4,5% a.a., em mdia, no perodo, apesar da forte expanso do crdito
agrcola, centralizado no Banco do Brasil. Nesta fase, deu-se o incio do
processo de modernizao agrcola, atravs da mecanizao, fazendo
com que esta se tornasse importante fonte de demanda para a indstria;
Quanto ao setor de bens de capital, seu desempenho pode ser dividido
em duas fases. Na primeira, at 1970, apresentou menor crescimento,
dado que este se baseou na ocupao de capacidade ociosa e no na
ampliao da capacidade instalada. Conforme foi sendo ocupada esta
capacidade, aumentava-se a taxa de investimento na economia, sendo
que a formao bruta de capital fixo superou os 20% do PIB no perodo
de 1971/73; e
O aumento da demanda por bens de capital fez com que este setor fosse
o de maior crescimento na segunda fase do perodo do milagre. Ao
longo de todo o perodo 1968/73, a taxa de crescimento mdio do setor
foi de 18,1% a.a..
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Tanto no setor de bens de capital, como no setor de bens intermedirios,
a expanso econmica gerava presso por importaes, causada pela
insuficincia de oferta interna. Esta presso importadora ainda foi estimulada
pela poltica do CDI (Conselho de Desenvolvimento Industrial), que concedeu
incentivos de forma indiscriminada e foi bastante liberal nas importaes, o
que pode ter contribudo inclusive para o atraso na produo interna de bens
de capital, cujo crescimento ocorreu apenas depois de 1970.
A presso por importaes poderia levar necessidade de recursos
externos, para cobrir o Balano de Pagamentos, no fosse o elevado
crescimento do valor das exportaes brasileiras. Alm da poltica cambial
(minidesvalorizaes cambiais) e comercial (incentivos fiscais e monetrios), o
crescimento das exportaes foi tambm beneficiado pela expanso do
comrcio mundial, decorrente do excesso de liquidez internacional, ocasionado
pelos dficits pblico e externo dos EUA, financiados com expanso monetria.
A conjugao desses fatores levou tanto ao crescimento da quantidade
exportada como melhora dos termos de troca, redundando numa balana
comercial equilibrada no perodo.
Alm da boa performance do setor exportador, assistiu-se neste perodo
primeira onda de endividamento externo, com ampla entrada de recursos. O
aumento das necessidades de financiamento das empresas privadas instaladas
no Brasil, fruto do acentuado crescimento econmico que se estabeleceu, foi
suprido, em grande parte, por emprstimos externos. Ao invs dessas
empresas endividarem-se no mercado financeiro brasileiro, buscaram recursos
diretamente no exterior.
A dvida externa, no perodo, alcanou US$ 13 bilhes, sendo que
aproximadamente US$ 6,5 bilhes se transformaram em reservas
internacionais, ou seja, a dvida lquida correspondia a algo em torno de US$ 6
bilhes. Considerando o grande crescimento das exportaes no perodo,
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verificou-se que o chamado coeficiente de vulnerabilidade externa35 (relao
entre dvida lquida e o montante de exportaes) atingiu um valor inferior a
1 (100%) em 1973.
Tabela demonstrativa da evoluo do Coeficiente de
Vulnerabilidade Externa
ANOS Dvida Lquida Exportaes Coeficiente
( 1. ) (.2.) (.1)/(.2)
1968 3,5 1,9 1,84 1969 3,4 2,3 1,48 1970 4,1 2,7 1,52 1971 4,8 2,9 1,66 1972 5,3 4,0 1,33 1973 6,1 6,2 0,98 1974 11,9 8,0 1,49 1975 17,1 8,7 1,97 1976 19,4 10,1 1,92 1977 24,9 12,1 2,06 1978 31,6 12,6 2,51
Fonte: Banco Central
Com base no acima descrito, percebe-se que naquele momento a
situao cambial estava bastante tranquila. O volume de reservas existentes
em 1973 correspondia a mais de um ano de importaes, enquanto o critrio
tcnico utilizado pelo FMI recomendava um volume de reservas equivalentes a
trs meses de importaes.
No que concerne ao endividamento externo, embora a justificativa oficial
tenha sido a necessidade de recurso poupana externa para viabilizar as
altas taxas de crescimento ao longo do milagre, grande parte da explicao
para o endividamento externo neste perodo reside nas profundas
transformaes do sistema financeiro internacional, na ampla liquidez36
existente fora do pas, e na ausncia de mecanismos de financiamento de
longo prazo na economia brasileira, exceto as linhas oficiais. 35
O coeficiente de vulnerabilidade um indicador do grau de solvncia externa de um pas, e mede a relao entre
divida externa liquida de um pas (divida externa reservas internacionais) e o valor das exportaes. O objetivo
verificar quantos anos de exportao so necessrios para pagar a divida externa do pas.
36 Disponibilidade de recursos para emprstimo no exterior.
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Os principais tomadores de recursos externos, nesta primeira fase, foram
as empresas privadas e os bancos de investimento estrangeiros. Muito embora
estes recursos tenham sido de fundamental importncia para o
desenvolvimento da indstria nacional, a contrapartida da entrada excessiva
de recursos, que acabavam por se constiturem em reservas internacionais37,
era o crescimento da dvida interna, visando controlar a base monetria38,
atravs das operaes de mercado aberto.
Um ltimo ponto que merece destaque a elevada participao e
interveno do setor pblico na economia, o qual pode ser percebido nos
seguintes aspectos:
O Estado controlava os principais preos da economia - cmbio,
salrio, juros, tarifas -, alm de praticar uma poltica de preos
administrados via CIP, com a justificativa da inflao de custos e o
objetivo de eliminar os problemas alocativos vindos de uma
economia inflacionria; e
O Estado respondia pela maior parte das decises de investimento,
quer atravs dos investimentos da administrao pblica e das
empresas estatais, que correspondiam a praticamente 50% da
formao bruta de capital fixo39, quer atravs da captao de
recursos financeiros - fundos de poupana compulsria, ttulos
pblicos, cadernetas de poupana, agncias financeiras estatais -,
dos incentivos fiscais e dos subsdios.
37
Como a moeda de circulao no pas no era/ o dlar norte-americano, toda entrada de recurso estrangeiro era
convertido em moeda nacional. Considerando que ocorriam mais entradas do que sadas, os saldos positivos passaram
a constituir reservas internacionais em moeda estrangeira para o pas.
38 No sentido de enxugar o excesso de dinheiro em circulao, o Banco Central emitia ttulos pblicos, comprando o
excesso de dinheiro em circulao e, desta forma, aumentando a dvida interna por meio da prpria emisso de ttulos.
39 A formao bruta de capital, em termos econmicos, refere-se aos diversos investimentos feitos em fbricas,
estradas, hidroeltricas, etc..
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A concentrao de renda que ocorreu no perodo pode ser considerada a
principal crtica ao Milagre. Os crticos argumentam que as autoridades tinham
a concentrao como estratgia necessria para aumentar a capacidade de
poupana da economia, financiar os investimentos e com isso o crescimento
econmico, para que depois todos pudessem usufruir. Esta ficou conhecida
como a Teoria do Bolo, segundo a qual o bolo deveria crescer primeiro para
depois ser dividido. Outros analistas concordavam com a posio oficial de que
a concentrao de renda era uma tendncia natural de um pas que se
desenvolvia e que demandava crescentemente mo-de-obra qualificada.
Dada a escassez dessa mo-de-obra, houve aumento maior da renda dos
profissionais mais qualificados em relao aos menos especializados (cuja
oferta era abundante). Defendiam ainda que, apesar da concentrao de renda
ter aumentado, a renda per capita de toda a populao cresceu, o que
significou uma melhoria na condio de vida e, por conseqncia, do
bemestar da populao, embora as classes mais ricas tivessem melhorado
mais que as classes mais pobres.
Em resumo, pode-se afirmar que o perodo do Milagre Econmico,
iniciado aps um perodo inicial recessivo, de ajuste, (1964-1967),
acompanhado da reorganizao do sistema financeiro, a recuperao da
capacidade fiscal do Estado e com uma maior estabilidade monetria, inicia-se,
a partir de 1968, um perodo de forte expanso econmica do pas.
De 1968 a 1973 o PIB brasileiro cresceu a uma taxa mdia superior a
10% ao ano, tendo a inflao oscilado entre 15% e 20% ao ano. Os setores
que mais se expandiram ao longo de todo o perodo do Milagre foram os da
Construo Civil, decorrente das obras de infra-estruturas promovidas pelos
governos militares, e o de bens de consumo durveis.
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3. O primeiro choque do petrleo e o II PND
O rpido crescimento econmico ao longo do Milagre, com a ocupao de
toda capacidade ociosa, levou ao aparecimento de alguns desequilbrios que
gerariam presses inflacionrias e/ou problemas na balana comercial. A
manuteno do ciclo expansionista, em fins de 1973, dependeria cada vez
mais de uma situao externa favorvel. Esta situao foi rompida pela crise
internacional desencadeada pelo primeiro choque do petrleo, em 1973,
quando os pases membros da OPEP quadruplicaram o preo do barril de
petrleo.
Em 1974, houve aumento das taxas de inflao que passaram de 15,5%
em 1973, para 34,4% no ano seguinte. No balano de pagamentos, verificouse
um dficit no saldo de transaes correntes da ordem de US$ 6,5 bilhes,
provocado no s pelo aumento do valor das importaes de petrleo, mas
tambm em funo dos bens de capital e insumos bsicos, necessrios para
manter o nvel de produo corrente. Este dficit no foi totalmente coberto
pela entrada de recursos, levando a uma queima de reservas internacionais, o
que revelava o elevado grau de vulnerabilidade externa da economia brasileira.
Em nvel interno, a situao poltica aparecia como uma complicao
adicional; a crise mostrava os limites polticos do modelo do Milagre. Em ano
de mudana de presidente, comeavam a surgir vrias presses por melhor
distribuio de renda e maior abertura poltica, o que gerava certo imobilismo
no Estado.
O debate sobre o que fazer em 1974 situou-se na dicotomia ajustamento
ou financiamento. O choque do petrleo significava transferncia de recursos
reais ao exterior e, com a existncia de um hiato potencial de divisas40, a
40
O conceito de hiato potencial relacionava-se com a relao entre as divisas estrangeiras necessrias para honrar os
compromissos do pas e a efetiva quantidade de divisas disponveis.
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manuteno do mesmo nvel de investimento trazia a necessidade de maior
sacrifcio sobre o consumo, e, para alcanar as mesmas taxas de crescimento
do perodo anterior, seria necessria maior taxa de investimento. Neste
contexto, percebe-se que as opes de crescimento se haviam estreitado, e a
tendncia natural da economia seria a desacelerao da expanso econmica.
As opes que se colocavam naquele momento eram:
Ajustamento, que conteria a demanda interna e evitaria que o choque
externo se transformasse em inflao permanente41 e correo do
desequilbrio externo; e
Financiamento do crescimento, visando ganhar tempo para ajustar a
oferta interna, mantendo o crescimento elevado e fazendo um ajuste
gradual dos preos relativos (alterados pela crise do petrleo), enquanto
houvesse financiamento externo abundante.
A opo tomada foi a de financiar o crescimento econmico. O plano
significou uma alterao completa nas prioridades da industrializao
brasileira: de um padro baseado no crescimento do setor de bens de
consumo durveis com alta concentrao de renda, a economia deveria
passar a crescer com base no setor produtor de meios de produo - bens
de capital e insumos bsicos, completando-se assim o processo de
substituio de importaes iniciado ainda nos anos de 1960.
Dois problemas centrais para a execuo do plano eram as questes
do apoio poltico e do financiamento do processo. Neste sentido, percebe-se
isolamento do Estado, que se transformou em Estado-empresrio e
41
Com o preo do insumo bsico mais alto (petrleo), mais altos se tornavam, tambm, os preos dos produtos
derivados da commoditie, o que levaria ao estabelecimento de novo patamar nos preos dos bens da economia.
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centrou o plano em si, tendo como agente central das transformaes as
empresas estatais.
As metas do II PND eram manter o crescimento econmico em torno de
10% a.a., com crescimento industrial em torno de 12% a.a.
Destacavam-se as metas de insumos bsicos e de substituio de
energia. Previa-se uma mudana no setor de transporte, com maiores
incentivos para ferrovias e hidrovias. E contemplavam-se, tambm,
expectativas otimistas para o setor de bens de capital, em que se esperava
reduo na participao das importaes no setor de 52% para 40%, alm de
gerar excedente exportvel em torno de US$ 200 milhes.
A lgica do modelo estava em que, conforme as empresas estatais
avanassem seus projetos de investimentos no setor de insumos, gerariam
demanda derivada que estimularia o setor privado a investir no setor de bens
de capital. Alm da garantia de demanda, vrios incentivos foram dados ao
setor privado atravs do CDE (Conselho de Desenvolvimento Econmico),
principal rgo de implementao do plano. Entre os incentivos, destacavamse:
o crdito do IPI sobre a compra de equipamentos, a possibilidade de
depreciao acelerada42, a iseno do imposto de importao para compra de
bens intermedirios, formas mais ou menos explcitas de reserva de mercado
para novos empreendimentos (por exemplo, a Lei da Informtica), e a garantia
de poltica de preos compatvel com as prioridades da poltica industrial.
No que concerne s empresas estatais e do setor privado e seus
respectivos papis no processo de manuteno do crescimento, torna-se
importante destacar as diferenas existentes. Quanto s empresas estatais,
42
Uma depreciao acelerada permite com que sejam deduzidas da base de clculo do imposto de renda das
empresas, as depreciaes com os bens de capital de forma tambm mais acelerada. Neste sendo havia um maior
incentivo para gerao de lucros das empresas, o que procuraria, por conseqncia, o mpeto pela realizao de novos
investimentos na produo de bens.
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verificou-se a restrio do acesso destas ao crdito interno e uma poltica de
conteno tarifria, que visavam conter as presses inflacionrias. Neste
contexto forou-se com que estas assumissem grande endividamento externo,
o que serviria para cobrir o hiato de divisas existentes na execuo do plano.
Neste contexto passa a ficar claro o processo de estatizao da dvida externa
do pas.
Em referncia ao setor privado, pode-se dizer que este foi financiado
especialmente atravs de crditos subsidiados de agncias oficiais, entre as
quais ganhou destaque o BNDES, que teve seu funding praticamente duplicado
com a transferncia dos recursos do PIS-PASEP, antes administrados pela CEF.
Muito cuidado para no confundir!
Enquanto que no perodo do Milagre Econmico a maior parte do
financiamento externo foi destinado s empresas privadas, no perodo do II
PND estes recursos foram recebidos (contratados) especialmente pelas
empresas estatais.
A dvida externa cresceu rapidamente no perodo, US$ 10 bilhes entre
74/77 e mais US$ 10 bilhes em 78/79. Nos dois primeiros anos a entrada de
recursos serviu para cobrir os dficits em transaes correntes, mas j a partir
de 1976 o pas voltou a acumular reservas. A facilidade de obteno de
recursos externos estava relacionada ao processo de reciclagem dos
petrodlares, isto , aos supervits dos pases da OPEP que, sem
oportunidades de aplicao interna, retornavam ao sistema financeiro
internacional em busca de melhores oportunidades de ganho. Como a
demanda de crdito nos pases desenvolvidos estava retrada, os pases em
desenvolvimento voltaram a ser vistos como clientes preferenciais.
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Apesar da ampla liquidez internacional e da srie de estmulos dados ao
setor privado para captar recursos externos, as estatais constituram-se nos
principais tomadores.
Para realizar o II PND, o Estado foi assumindo um passivo para manter o
crescimento econmico e o funcionamento da economia. Dados os nveis
extremamente baixos das taxas de juros internacionais, o Estado brasileiro era
capaz de pagar os juros, mas correndo o risco de que qualquer alterao na
estrutura das taxas poderia inviabilizar as condies de pagamento,
principalmente tendo-se em vista a caracterstica flutuante das taxas de juros
dos emprstimos. A deteriorao da capacidade de financiamento do Estado,
que socializou todos os custos no perodo do II PND (com grande aumento nos
gastos, ao se autonomizar para realizar o desenvolvimento) sem criar
mecanismos adequados de financiamento, constituir-se-ia no grande problema
enfrentado posteriormente pela economia brasileira j no incio dos anos de
1980.
Conforme ser visto na prxima aula, o endividamento externo
exacerbado fez o pas decretar a moratria da dvida externa que, conjugado
com outros fatores externos e internos, levou o pas a ter um baixssimo
crescimento econmico ao longo de toda a dcada de 1980.
E com base nestes ltimos comentrios dou por encerrada a aula um. Na
aula dois darei continuidade abordagem da conjuntura econmica nacional
desde o incio dos anos de 1980 at a atualidade.
Passemos agora realizao de exerccios baseados em provas
anteriores.
Um grande abrao,
Mariotti
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Questes Propostas:
1 (APO/MPOG ESAF/2010) Desde a dcada de 1940, diversos
governos utilizaram o planejamento como alavanca para o
desenvolvimento nacional. Indique qual dos planos abaixo foi
elaborado na fase do milagre brasileiro.
a) Plano SALTE.
b) I Plano Nacional de Desenvolvimento.
c) Plano Plurianual 1996-1999.
d) Plano de Metas.
e) Plano de Ao Econmica do Governo (PAEG).
2 (AFC/STN ESAF/2008) Entre 1967 e 1973, o Brasil obteve
elevadas taxas de crescimento econmico, de modo que o perodo
ficou conhecido, no pas, como o perodo do milagre econmico;
sobre este perodo, podemos afirmar que:
a) apesar das taxas elevadas de crescimento econmico, no se pode dizer
que o bem-estar tenha melhorado no perodo, pois as taxas de crescimento
populacional foram ainda superiores s do crescimento do PIB.
b) o crescimento no perodo explicado pelo mercado interno, especialmente
pelos setores de bens de consumo durvel; as exportaes, por sua parte,
apresentaram queda no perodo.
c) a inflao, no perodo, apresentou forte acelerao, atingindo, no final do
perodo, a taxa de 100% ao ano.
d) a poltica monetria implementada por Delfim Netto, como Ministro da
Fazenda, buscava ampliar as taxas de juros da economia, de modo a aumentar
o rendimento dos poupadores e estimular o crescimento econmico.
e) o crescimento econmico do perodo veio acompanhado de elevao da
dvida externa do pas, especialmente pela captao do setor privado.
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3 - (AFC/TCU ESAF/2002) Sobre a poca do milagre econmico
(1968 1973) considere as trs afirmaes a seguir:
I. Foi um perodo marcado por elevadas taxas de crescimento
econmico sendo que os setores de bens de consumo durveis e da
construo civil esto entre os mais importantes em termos de
crescimento econmico do perodo.
II. Foi marcado pela reduo do nmero de empresas estatais,
iniciando-se ali o processo de privatizao.
III. Houve expanso do crdito domstico destinado ao consumidor
alm da ampliao do endividamento externo do pas.
Considerando tais afirmaes correto dizer que:
a) apenas I e III esto corretas
b) apenas I e II esto corretas
c) apenas II e III esto corretas
d) apenas I est correta
e) todas esto corretas
4 - (ECONOMISTA/PREF. SANTOS FCC/2006) Era objetivo do II
Plano Nacional de Desenvolvimento II PND implantado no governo
Geisel
a) promover o crescimento da oferta interna de bens de capital e de insumos
bsicos, dando continuidade ao processo de substituio de importaes.
b) estimular o crescimento da produo de bens de consumo durveis de alto
luxo.
c) estabilizar o crescimento da economia no mesmo ritmo do crescimento
demogrfico.
d) redistribuir renda as camadas mais pobres da populao.
e) aumentar o volume de importaes de bens de consumo.
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5 (ADMINISTRADOR/BNDES CESGRANRIO/2008) O processo de
substituio de importaes na economia brasileira
a) ocorreu apenas a partir de 1960.
b) levou implantao no Brasil de indstrias substitutivas das importaes.
c) esgotou-se por volta de 1960, logo aps o governo Kubitschek.
d) causou crises constantes de dficits do balano comercial.
e) fez com que as regies mais atrasadas do pas crescessem mais
rapidamente.
6 (ECONOMISTA/BNDES CESGRANRIO/2009) Entre 1956 e 1960
(correspondendo ao governo JK), houve, no Brasil, um(a)
a) aumento da participao do setor agropecurio no PIB do Pas.
b) aumento do valor em dlar das exportaes.
c) acelerao da inflao.
d) reduo da taxa de crescimento do PIB.
e) reduo do dficit oramentrio do governo federal.
7 (ECONOMISTA/BNDES CESGRANRIO/2009) O Plano Trienal,
elaborado por Celso Furtado e sua equipe para o governo de Joo
Goulart, tinha vrios objetivos especficos, dentre os quais NO se
encontra o de
a) realizar a reforma agrria com finalidade social e de expanso do mercado
interno.
b) garantir o crescimento real dos salrios a uma taxa anual 3% superior ao
aumento da produtividade.
c) garantir uma taxa de crescimento do PIB de 7% a.a.
d) resolver a situao do balano de pagamentos renegociando a dvida
externa.
e) reduzir a inflao para 10% a.a. at 1965.
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8 (ECONOMISTA/BNDES CESGRANRIO/2008) O PAEG (Plano de
Ao Econmica do Governo) e as reformas implementadas em 1964 e
nos anos imediatamente subseqentes, no Brasil,
a) aumentaram substancialmente os salrios.
b) aumentaram as restries entrada de capitais externos.
c) diminuram a carga fiscal dos contribuintes.
d) criaram o Banco Central do Brasil.
e) eliminaram a correo monetria no pas.
9 (ECONOMISTA/BNDES CESGRANRIO/2008) Assinale, entre as
opes abaixo, a que NO corresponde a uma das principais
caractersticas da poltica de industrializao brasileira no Ps-Guerra.
a) Fornecimento de crdito a longo prazo para implantao de novos projetos.
b) Proteo indstria nacional, mediante tarifas de importao e barreiras
no tarifrias.
c) Participao direta do Estado no suprimento da infra-estrutura (energia,
transporte).
d) Participao direta do Estado na produo em alguns setores tidos como
prioritrios (siderurgia, minerao, petrleo).
e) Intensa preocupao de atender o consumidor domstico com produtos de
qualidade e baratos.
10 (ENGENHEIRO/BNDES CESGRANRIO/2008) O processo de
substituio de importaes, como instrumento para a promoo do
desenvolvimento econmico, NO se caracteriza pelo(a)
a) encarecimento dos produtos importados dentro do pas.
b) aumento dos investimentos produtivos nos setores protegidos dentro do
pas.
c) estmulo s exportaes do pas.
d) proteo tarifria contra as importaes, em favor das atividades produtivas
dentro do pas.
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e) interveno do estado na economia do pas.
11 - (ECONOMISTA/BNDES CESGRANRIO/2008) O perodo de 1974-
78 foi de adaptao da economia brasileira e mundial enorme alta
dos preos do petrleo. Nesse perodo houve mudanas importantes,
tais como:
a) reduo substancial dos gastos brasileiros com a importao de petrleo.
b) reduo das taxas de juros no mundo e no Brasil, devido grande oferta de
petrodlares pelos pases exportadores de petrleo.
c) aumento considervel dos dficits em conta corrente dos pases
importadores de petrleo, financiados pela reciclagem dos petrodlares via
sistema financeiro internacional.
d) expanso econmica mundial, financiada pela reciclagem dos petrodlares
promovida pelo sistema financeiro internacional.
e) grande aumento das exportaes brasileiras, mais do que compensando os
maiores gastos com a importao de petrleo.
12 (ECONOMISTA/PETRORAS CESGRANRIO/2005) O II Plano
Nacional de Desenvolvimento (PND), no governo Geisel, foi montado
no sentido de complementar o processo de substituio de
importaes no Brasil, alm de estimular a criao de setores
exportadores e reduzir a dependncia de petrleo da economia
brasileira. Com relao ao setor externo, correto afirmar que:
a) aumentou bastante o fluxo de emprstimos externos para o Brasil,
sobretudo assumidos pelas empresas estatais.
b) houve uma rpida reverso do saldo comercial brasileiro ainda na dcada de
1970.
c) observou-se uma grande retrao das transferncias unilaterais no Balano
de Pagamentos.
d) criou-se uma dvida externa fundamentalmente privada no Brasil naquele
momento.
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e) foram fortemente elevadas as exportaes de petrleo do Brasil com a
descoberta dos campos gigantes da Bacia de Campos.
13 (Analista de Ativ. Meio Ambiente/SEPLAG-DF CESPE/2009) A
anlise da economia brasileira importante para compreender os
fenmenos econmicos que caracterizam o pas. A esse respeito,
julgue os itens seguintes.
76 Os esforos de promoo do desenvolvimento econmico empreendidos no
mbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento contaram no somente com
inverses pblicas, mas tambm com estmulos diversos ao investimento
privado, exceto aqueles representados pelas barreiras comerciais, formadas
pelos impostos de importao, fortemente reduzidos nesse perodo.
14 (Analista de Gesto Pblica/PMV CESPE/2008) O estudo da
economia brasileira, incluindo-se a o fenmeno inflacionrio que a
caracterizou durante um longo perodo, importante para a
compreenso da situao econmica atual. No que concerne a esse
assunto, julgue os itens subseqentes.
100 O financiamento do Plano de Metas se realizou, principalmente, por meio
da inflao, decorrente da expanso monetria, que financiava o gasto pblico,
e do aumento do crdito, que viabilizava os investimentos privados.
101 A expanso da indstria de bens de consumo e o desempenho marcante
do setor agrcola constituram as principais fontes de crescimento da economia
brasileira durante o perodo do denominado milagre econmico.
102 O foco do II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) foi eliminar as
restries, tanto estruturais como externas, ao crescimento da economia
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brasileira, mediante investimentos nos setores de infra-estrutura, bens de
produo, energia e exportaes.
103 Em face dos choques externos incluindo-se a o aumento do preo do
petrleo e a alta das t