Aula 4 - Artigo

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GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA UNIDADE 4: Artigo AULA 4 1. ARTIGO 1.1 Conceito Dá-se o nome de artigos às palavras a,o (com as variações a, os, as) e um (com as variações uma, uns e umas), que se antepõem aos substantivos para delimitar sua referência, ora de forma mais definida, ora de forma mais indefinida. Comparem-se as seguintes frases: Um homem bateu à porta. X O homem bateu à porta. O jornal publicou a notícia. X Um jornal publicou uma notícia. O uso das palavras “o” e “um”, bem como suas reflexões, favorece interpretações distintas: “um homem” pode significar alguém desconhecido, ou cuja identificação não é necessária, ao passo que “o homem” parece denotar um ser previamente determinado. O mesmo vale para a oposição “o jornal” X “um jornal” e “a notícia” X “uma notícia”. Do ponto de vista semântico, o primordial valor do artigo é o de atualização do substantivo, de que decorrem os demais valores contextuais: o artigo definido identifica o objeto designado pelo nome a que se liga, delimitando-o, extraindo-o de entre os objetos da mesma classe, como 1 Curso de Gramática da Língua Portuguesa MG- Fale- Cenex

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GRAMÁTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA

UNIDADE 4: ArtigoAULA 4

1. ARTIGO

1.1 Conceito

Dá-se o nome de artigos às palavras a,o (com as variações a, os, as) e um (com as variações uma, uns e umas), que se antepõem aos substantivos para delimitar sua referência, ora de forma mais definida, ora de forma mais indefinida.

Comparem-se as seguintes frases:

Um homem bateu à porta. X O homem bateu à porta.O jornal publicou a notícia. X Um jornal publicou uma notícia.

O uso das palavras “o” e “um”, bem como suas reflexões, favorece interpretações distintas: “um homem” pode significar alguém desconhecido, ou cuja identificação não é necessária, ao passo que “o homem” parece denotar um ser previamente determinado. O mesmo vale para a oposição “o jornal” X “um jornal” e “a notícia” X “uma notícia”.

Do ponto de vista semântico, o primordial valor do artigo é o de atualização do substantivo, de que decorrem os demais valores contextuais: o artigo definido identifica o objeto designado pelo nome a que se liga, delimitando-o, extraindo-o de entre os objetos da mesma classe, como aquele que já foi (ou será imediatamente) conhecido do ouvinte.

Deste valor atualizador decorre o fato sintático de o artigo ser dispensado quando tal valor já vem expresso por outro identificador adnominal, seja demonstrativo (este homem), seja possessivo (meu livro), seja por equivalente a este valor, ou antes de um nome próprio, já por si atual e individual. No português, o uso do artigo em “o meu livro” é redundante e de expansão tardia, mas hoje muito frequente.

Outra função é a da substantivação: qualquer unidade linguística, do texto ao morfema, pode substantivar-se quando é nome de si mesma, tomada materialmente: “o o é artigo”, “o este é dissílabo”, “não sabe o como me agradar”, “o per- é um prefixo”. Este fato e a força identificadora contribuem para a possibilidade de calar o nome já antes enunciado ou, se não antes enunciado no discurso, pelo menos conhecido e identificado

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pelo falante e pelo ouvinte: “o livro de Edu e o teu”, “a blusa branca e a azul, “o livro de Bebel e o de Henrique”, etc.

1.2 O artigo definido (o, a, os, as)

A seguir, são apresentados alguns dos principais efeitos de sentido relacionados ao emprego do artigo definido:

a) Genericidade

“O relógio é um objeto torturante: parece algemado ao tempo”. (Clarice Lispector)

O avarento não tem e o pródigo não terá.

b) Destaque do elemento de uma espécie

O carro chegou vazio. O João fará aniversário não próxima semana

O substantivo determinado pelo artigo definido designa um ser de conhecimento compartilhado ou já identificado no contexto da comunicação.

c) Posse

Passei a mão pelo queixo. (Passei sua mão pelo queixo.)

Ao anoitecer, pegou o chapéu e saiu. (Ao anoitecer, pegou seu chapéu e saiu.)

Chegou a tomar balanço para as habituais meditações. (Chegou a tomar balanço para suas habituais meditações.)

Observações: o artigo costuma aparecer ao lado de certos nomes próprios geográficos, principalmente os que denotam países, oceanos, rios, montanhas, ilhas: a Suécia, o Atlântico, o Amazonas, os Andes, a Groenlândia Entre nós, dispensam artigo os nomes dos seguintes Estados: Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo, Pernambuco e Sergipe.

Certos autores, por preferência estilística, costumam condenar expressões como “ao meu ver”, “ao meu pedido”, “ao meu lado”, “ao meu bel-prazer”, por considerarem redundante a determinação de artigo e pronome possessivo. Não se trata, no entanto, de uma proibição.

Em nomes de obras iniciados por artigo, deve-se evitar a contração da preposição com o artigo: “José de Alencar é autor de O Guarani” (e não “do Guarani”); “Concluí a leitura de Os Lusíadas (e não “dos Lusíadas”).

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1.3 O artigo indefinido (um, uma, uns e umas)

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O artigo indefinido pode assumir matizes variadíssimos de sentido; registraremos as seguintes considerações:

a) Usa-se o indefinido para aclarar as características de um substantivo enunciado anteriormente com artigo definido:

Estampava no rosto o sorriso, um sorriso de criança.

b) Procedente de sua função classificadora, um pode adquirir significação enfática, chegando até a vir acompanhado de oração com que de valor consecutivo, como se no contexto houvesse um tal:

O instrumento é de uma precisão admirável.Ele é um herói! (Compare com: Ele é herói)Falou de uma maneira, que pôs medo nos corações.

c) Antes de numeral denota aproximação:Esperou uma meia hora. (aproximadamente)Terá uns vinte anos de idade.

d) Antes de pronome de sentido indefinido (certo, tal, outro, etc.), dispensa-se o artigo indefinido, salvo quando o exigir a ênfase:

Depois de certa hora não o encontramos em casa. (E não: uma certa hora)

“Devia, pois, ser melancólico além do exprimível o que aí se passou nessa grade; triste, e desgraçado direi, a julgá-lo pelas consequências, que se vão descrever, com um certo pesar em que esperamos tomem os leitores o seu quinhão de pena, se não todos, ao menos aqueles que não dão nada pela felicidade da terra, quando ela implica ofensa ao Senhor do céu.”

Esta dispensa pode ocorrer também em certas locuções adverbiais (com [uma] voz surda), e antes do substantivo que funciona como predicativo do verbo ser: Você é [um] homem de bem.

e) Não se usa o artigo indefinido nos apostos, nas comparações e no predicativo do sujeito: Regina, excelente funcionária, foi promovida.Ele é forte como touro. Maria é boa aluna.

1.4 Emprego do artigo: algumas regras

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a) Entre o numeral ambos e o substantivo, usa-se o artigo definido: Solicitou a presença de ambos os réus.

b) O superlativo relativo é precedido de artigo definido: Recebeu as maiores honrarias de um chefe de estado.

c) Todo o indica totalidade e todo indica qualquer: Todo o país comemorou a vitória. (o país inteiro); Todo país almeja progresso. (qualquer país)

d) Os pronomes definidos no plural todos, todas virão seguidos de artigo, exceto se houver numeral não seguido de substantivo:Todas as pessoas saíram às pressas.Todas as três pessoas saíram às pressas. Todas três saíram às pressas.

e) Não se usa artigo antes de pronome de tratamento, exceto antes de senhora ou senhorita: Visitei Vossa Excelência em sua residência.Visitei a senhora em sua residência.

f) Não se usa artigo depois do pronome relativo cujo: Esse é o autor cujo livro eu li.

g) Não se usa artigo antes de nomes próprios de cidade, exceto quanto vêm determinados:Estive em Lisboa.Estive na Lisboa dos fadistas.

h) Não se usa artigo antes das palavras terra e casa, a não ser que venham determinadas:

Os marinheiros permaneceram em terra. Os marinheiros permaneceram na terra natal.Estavam todos em casa. Estavam todos na casa dos avós.

i) É facultativo o uso do artigo antes de nomes próprios de pessoas (desde que não sejam famosas, pois o artigo, neste contexto, denota familiaridade) e antes dos pronomes possessivos.

Ricardo é meu amigo. O Ricardo é meu amigo. (Mas: Dilma é presidente do país.)Sua casa é confortável. A sua casa é confortável.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

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1. Assinale com um (X) dentro dos parênteses quando for facultativo o emprego do artigo definido, sem alterar o sentido da oração:

1. ( ) Ainda não consegui encontrar o meu livro.2. ( ) Trabalhou todo o ano sem férias.3. ( ) Hoje telefonei para a Maria.4. ( ) Este é o retrato de D. Isabel, a Redentora.5. ( ) Visitou-nos este ano Sua Santidade o Papa.6. ( ) Tenho saudades da casa de meus pais.7. ( ) Conheceu o Recife e transferiu-se para as Alagoas.8. ( ) Ele sempre acabava fazendo das suas.

2. Assinale o exemplo em que a presença ou ausência do artigo depois de TODO(S) constitui erro:

1) ( ) Todo o mundo saiu a toda a pressa.2) ( ) Esta parábola está em todos os quatro Evangelhos.3) ( ) Todo o Portugal ama Camões.4) ( ) Ainda não lemos todos os nossos grandes poetas.5) ( ) Ganhei quatro livros e já li todos quatro.

3. Preencha o espaço em branco, quando necessário, com o artigo definido. Se houver mais de uma possibilidade, indique-as:

1) Toda ___________ Franca ocuparia uma área mínima do território brasileiro.2) Em todo_________ Portugal reina um clima excelente.3) O inverno envolve toda _______ Londres num manto de neblina.4) Em todo__________ São Paulo cultiva-se intensamente o café.5) Há em todo______ Rio as mais pitorescas paisagens.6) As hortênsias adornam toda__________ Petrópolis.7) Em todo _________ Belo Horizonte correm renques de frondosas árvores.

4. O mesmo exercício, empregando TODO, TODA ou TODO O, TODA A:

1) _________ coração bem-formado ama o bem.2) Devemos amar o bem com_________ coração.3) Em___________sala correu um burburinho de surpresa.4) Deve haver janelas amplas em __________ sala.5) Esperamos-te__________ dia durante o mês passado.6) Esperamos-te__________ dia de ontem.7) _________ criança deve aprender a não mentir, porque___________ mentira e prejudicial, e, por mais insignificante, perverte a alma da criança.

5. Assinale com (X) dentro dos parênteses os exemplos em que UM(A) e empregado como artigo indefinido, e não como numeral:

1) ( ) Um pássaro na mão vale mais do que dois a voar.2) ( ) O homem não e uma ave de rapina para viver das desgraças alheias.3) ( ) O falcão era uma ave muito usada em caçadas na Idade Média.4) ( ) Um falcão equivale em destreza a muitos cães.

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5) ( ) Segurando com uma das mãos o chapéu, estendi a outra ao recém-chegado.6) ( ) Você com uma só mão não conseguira suspender esse fardo.7) ( ) A espada de Dámocles estava suspensa por um só fio de cabelo.8) ( ) Um único fio de cabelo mantinha no ar a espada de Dámocles.9) ( ) Circe preparou um filtro [beberagem com efeitos mágicos] extraordinário para oscompanheiros de Ulisses, de sorte que cada qual se transformava num dado animal.

6. Os artigos são responsáveis por diversos detalhes de significação nas diferentes situações comunicativas em que são empregados. Leia atentamente as frases seguintes e comente o valor dos artigos destacados.

1) Estou levando produtos da região.2) O menino estava encabulado que não sabia o que fazer com as mãos. Em poucos instantes, pôs-se a chorar e a chamar pela mãe.3) A carne está custando vinte mil cruzeiros o quilo. 4) Aquele era o momento de minha vida.5) Aquilo sim é que é um homem. 6) Deve ter passado uma meia hora desde que ele saiu.7) Ela tem um talento!

7. Explique as diferenças de significado entre as frases de cada par:

1) Todo dia ele faz isso. Todo o dia ele faz isso.

2) Pedro não veio. O Pedro não veio.

3) Essa caneta é minha. Essa caneta é a minha.

4) O dirigente sindical apresentou reivindicações dos trabalhadores na reunião. O dirigente sindical apresentou as reivindicações dos trabalhadores na reunião.

5) Chico Buarque, grande compositor brasileiro, é também escritor. Chico Buarque, o grande compositor brasileiro, é também escritor.

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Referências:

BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos.São Paulo: Scipione, 1996.

SAVIOLI, Francisco P. Gramática em 44 lições. 30 ed. São Paulo: Ática, 1998

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