Aula De Economia
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[email protected] (clicar)
O professor da PUC / Rio de Janeiro, Jorge Ferreira, deu uma última aula
para seus ex-alunos, em 16 de dezembro de 2008. Diante de uma
platéia de formandos, acompanhados de seus pais, o professor paraninfo da
turma discursou sobre o Brasil.
Leia o que disse o Prof. Jorge Ferreira.
“Ilus trís s imos Cole gas da Me sa, S e nhor Pre s ide nte , me us que ridos alunos , S e nhoras e
S e nhore s .
Para mim é um priv ilé g io te r s ido e scolhido paraninfo de s ta turma. Es ta é como se fôra a
última aula do curso. O último e ncontro, que já de ixa saudade s . Um mome nto fe s tivo, mas
també m de re fle xão.
S e e u fosse e scolhido paraninfo de uma turma de dire ito, talv e z e u falasse a importância do
advogado que de fe nde a jus tiça e não ape nas o ré u. S e e u fos se e scolhido paraninfo de uma
turma de me dicina, talv e z e u falasse da importância do mé dico que coloca o amor ao
próximo acima dos se us lucros profis s ionais . Mas , como sou paraninfo de uma turma de
e nge nhe iros , vou falar da importância do e nge nhe iro para o de se nvolv ime nto do Bras il.
Para come çar, vamos falar de bananas e do doce de banana, que e u vou chamar de
bananada e spe cial, inv e ntada (ou proje tada) pe la nossa vovoz inha lá e m casa, de pois que
várias re ce itas prontas não de ram ce rto.
É is so me smo. Para e nte nde rmos a importância do e nge nhe iro vamos falar
de bananas , bananadas e vovó.
A banana é um re curso natural, que não sofre u ne nhuma trans formação.
A bananada é =
a banana +outros ing re die nte s +
a e ne rg ia té rmica forne cida pe lo fogão +o trabalho da vovó...
e +o conhe cime nto, ou te cnolog ia da vovó.
Be m, a vovó é a dona do conhe cime nto, uma e spé cie de e nge nhe ira da culinária.
E a vovó?
A bananada é um produto pronto, que e u vou chamar de rique za.
Agora, vamos supor que a banana e a bananada se jam v e ndidas .
Um quilo de banana cus ta um re al.
Já um quilo da bananada cus ta cinco re ais .
Por que e ssa dife re nça de pre ços?
Agora, quando a vovó, ou a indús tria, faz a bananada, e la cria e mpre gos na indús tria do
açúcar, da cana-de -açúcar, do gás de coz inha, na indús tria de fogõe s , de pane las , de colhe re s
e até na de e mbalage ns , porque tudo is to é ne ce ssário para se fabricar a bananada.
Porque quando nós colhe mos um cacho de bananas na banane ira, criamos ape nas um e mpre go: o de
colhe dor de bananas .
Re sumindo, 1kg de bananada é mais caro do que 1kg de banana porque a
bananada é igual banana mais te cnolog ia ag re gada, e a sua fabricação
criou mais e mpre gos do que s imple sme nte colhe r o cacho de
bananas da banane ira.
Agora vamos falar de outro e xe mplo que aconte ce no dia-a-dia no comé rcio mundial de me rcadorias .
Em mé dia: 1kg de soja cus ta US $ 0,10 (de z ce ntavos de dólar), 1kg de automóve l cus ta US $
10, is to é , 100 v e ze s mais , 1kg de apare lho e le trônico cus ta US $ 100, 1kg de av ião cus ta
US $1.000 (10mil quilos de soja) e 1kg de saté lite cus ta US $ 50.000.
Ve jam, quanto mais te cnolog ia agre gada te m um produto, maior é o se u pre ço, mais e mpre gos
foram ge rados na sua fabricação.
Os paíse s ricos sabe m disso muito be m. Ele s inve s te m na pe squisa cie ntífica e te cnológ ica.
Por e xe mplo: e le s nos v e nde m uma placa de computador que pe sa 100g por US $ 250.
Para pagarmos e s ta plaquinha e le trônica, o Bras il pre cisa e xportar 20 tone ladas de miné rio de fe rro.
A fabricação de placas de computador criou milhare s de bons e mpre gos lá no e s trange iro, e nquanto que a
e xtração do miné rio de fe rro, cria pouquíss imos e pé ss imos e mpre gos aqui no Bras il.
O Japão é pobre e m re cursos naturais , mas é um país rico.
O Bras il é rico e m e ne rg ia e re cursos naturais , mas é um
país pobre .
Os paíse s ricos , são ricos mate rialme nte porque e le s produze m rique zas .
Rique za v e m de rico. Pobre za v e m de pobre .
País pobre é aque le que não conse gue produz ir rique zas para o se u povo.
S e conse guisse , não se ria pobre , se ria país rico.
Gostaria de de ixar be m claro trê s coisas :
1º) quando me re firo à palav ra rique za, não e s tou me re fe rindo a jóias ne m a supé rfluos . Es tou me re fe rindo àque le s be ns ne ce ssários para que o se r humano v iva
com um mínimo de dignidade e conforto;
2º) não e s tou de fe nde ndo o consumismo mate rialis ta como uma forma de v ida, muito pe lo contrário;
3º) e acho abomináve l aque le s que colocam os valore s das rique zas mate riais acima dos valore s da rique za
inte rior do se r humano.
Exis te m naçõe s que são ricas , mas que age m de forma
e xtre mame nte pobre e de sumana e m re lação a outros povos .
Cre io que agora posso falar do ponto principal.
Para que o nosso Bras il torne -se um País rico, com o se u povo v iv e ndo com dignidade , te mos que produz ir mais
rique zas .
Para tal, pre cisamos de conhe cime nto, ou te cnolog ia já que te mos abundância de re cursos naturais e e ne rg ia.
E que m de se nvolv e te cnolog ias são os cie ntis tas e os e nge nhe iros , como e s te s jov e ns que e s tão se formando hoje .
Infe lizme nte , o Bras il é muito de pe nde nte da te cnolog ia e xte rna.
Quando fabricamos be ns com alta te cnolog ia, faze mos ape nas a parte final da produção.
Por e xe mplo: o Bras il produz 5 milhõe s de te le v isore s por ano e ne nhum bras ile iro proje ta te le v isor. O miolo da TV, do te le fone ce lular e de todos os apare lhos e le trônicos , é
todo importado. S omos me ros montadore s de kits e le trônicos .
Casos se me lhante s també m aconte ce m na indús tria me cânica, de re mé dios e , incrív e l, até na de alime ntos .
O Bras il e ntra com a mão-de -obra barata e os re cursos naturais . Os proje tos , a te cnolog ia, o chamado pulo do
gato, ficam no e s trange iro, com os v e rdade iros donos do ne gócio.
Re s ta ao Bras il lidar com as chamadas caixas pre tas .
É importante compre e nde rmos que os donos dos proje tos te cnológ icos são os donos das de cisõe s e conômicas , são os donos do dinhe iro, são os donos
das rique zas do mundo.
Ass im como as águas dos rios corre m para o mar, as rique zas do mundo corre m e m dire ção aos paíse s de te ntore s das
te cnolog ias avançadas .
A de pe ndê ncia cie ntífica e te cnológ ica acarre tou para nós bras ile iros a de pe ndê ncia e conômica, política e cultural.
Não pode mos admitir a continuação da s ituação e sdrúxula, onde 70% do PIB bras ile iro é controlado por não re s ide nte s .
Ningué m pode progre dir e ntre gando o se u talão de che que s e a chave de sua casa para o v iz inho faze r o que be m e nte nde r.
Eu te nho a conv icção que de se nvolv ime nto cie ntífico e te cnológ ico aqui no Bras il
garantirá aos bras ile iros a sobe rania das de cisõe s e conômicas , políticas e culturais .
Garantirá trocas mais jus tas no comé rcio e xte rior.
Garantirá a criação de mais e me lhore s
e mpre gos .
E, se toda a produção de rique zas for be m dis tribuída, te re mos a e rradicação dos
g rave s proble mas sociais .
O curso de e nge nharia da PUC, com todas as suas poss ív e is de fic iê ncias , v isa a formar
e nge nhe iros capaze s de de se nvolv e r te cnolog ias .
É o chamado e nge nhe iro de conce pção, ou
e nge nhe iro de proje tos .
Infe lizme nte , o me rcado nacionalizado ne m se mpre aprove ita todo e s te pote ncial
c ie ntífico dos nossos e nge nhe iros .
Nós , profe ssore s , não pode mos nos curvar às de formaçõe s do me rcado.
Te mos que continuar formando e nge nhe iros com conhe cime ntos iguais aos me lhore s do
mundo.
Eu posso garantir a todos os pre se nte s , principalme nte aos pais , que qualque r um de s te s
formandos é tão ou mais inte lig e nte do que qualque r e nge nhe iro ame ricano, japonê s ou ale mão.
Os me us quase trinta anos de mag is té rio, le c ionando de sde o antigo g inás io até a univ e rs idade , dá-me
autoridade para afirmar que o bras ile iro não é infe rior a ningué m, pe lo contrário, diz e m até que somos
muito mais criativos do que os habitante s do chamado prime iro mundo.
O que me re volta, como profe s sor cidadão, é v e r que as de cisõe s políticas tomadas por pe ssoas de spre paradas ou corruptas , são re sponsáve is pe la que ima e de s truição de inte lig ê ncias bras ile iras
que pode riam, com o conhe cime nto apropriado, trans formar o nosso Bras il
num país flore sce nte , próspe ro e socialme nte jus to.
Acre dito que o mundo ide al se ja aque le totalme nte g lobalizado, mas uma g lobalização que inclua a
de mocratização das de cisõe s e a dis tribuição jus ta do trabalho e das rique zas .
Infe lizme nte , is to ainda e s tá longe de aconte ce r, até
por limitaçõe s fís icas da própria nature za.
Ass im, que m pe nsa que a solução para os nossos proble mas v irá lá de fora, e s tá muito e nganado.
O dia que um pre s ide nte da Re pública, e m ve z de ficar passe ando como um
dândi pe los palácios do prime iro mundo, re solv e r lide rar um autê ntico proje to de
de se nvolv ime nto nacional, ce rtame nte o Bras il vai pre cisar, e m todas as áre as , de
pe ssoas be m pre paradas .
S ó ass im se re mos capaze s de caminhar com autonomia e tomar de cisõe s que be ne fic ie m
ve rdade irame nte a socie dade bras ile ira.
S e rá a cons trução de um Bras il re alme nte mode rno, mais jus to, inse rido de forma
sobe rana na e conomia mundial e não como um re le s forne ce dor de re cursos naturais e
mão-de -obra av iltada.
Quando is to ocorre r, e e u e spe ro que se ja e m bre v e , o nosso País pode rá
aprove itar de forma muito mais e ficaz a inte lig ê ncia e o pre paro inte le ctual dos bras ile iros e , e m particular, de todos
você s , me us que ridos alunos , porque você s já foram te s tados e aprovados .
Finalme nte , gos taria de parabe nizar a todos os pais pe la contribuição pos itiva
que de ram à nossa socie dade poss ibilitando a formação dos se us
filhos no curso de e nge nharia da PUC.
A ale g ria dos se nhore s , també m é a nossa ale g ria.
Muito Obrigado."
“Murmures”, por Richard Clayderman
Formatação : CN