Aula - Manifesto Pau-Brasil (Oswald de Andrade)

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É preciso ser absolutamente moderno? O Manifesto da Poesia Pau- Brasil, de Oswald de Andrade

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  • preciso ser absolutamente moderno?O Manifesto da Poesia Pau-Brasil,de Oswald de Andrade

  • O que a crtica nos diz?Alfredo Bosi (2006):

    OA: representao do legado modernista brasileiroContradio tico-burguesa: alienado-revoltadoIronia: apresentou os mesmos esteretipos (olhar do europeu): rico e contraditrioProblema: o surrealismo requentado que encobre a escrita, no fosse isso, teria sido revolucionrio.

  • De Bruno Tolentino (1998):O legado oswaldiano como banquete de ossos: Houve um tempo nem to distante em que nosso idioma se falava com a mesma preciso e limpeza inteligncia da raa nos dois lados do Atlntico. Este, certo, j mal o portugus, mas por isso mesmo, por c mais atual, multimdia, vanguardeiro, roqueiro, etc.O salto mortal (ou letal?) no trapzio dos andradides no nos levou mais alto do que andramos at ento.Que deve a grandeza de Graciliano suposta totalmente acadmica revoluo marioswaldiana da linguagem?

  • O modernismo brasileiro foi mais agitao que obra. (Jos Castello)

    Oswald, o inventor do Movimento Antropofgico, no produziu nenhuma obra inspirada nos manifestos que escreveu. (Ferreira Gullar)

    Em suma: a obra de OA: um leque de promessas realizadas pelo meio ou irrealizadas.

  • O que pensamos ns?Contextualizao do Manifesto da Poesia Pau Brasil

    Afinal, o que foi a poesia Pau-Brasil?cidadefoguetes pipocam o cu de quando em quandoh uma moa magra que entrou no cinemavestida pela ltima fitaconversas no jardim onde crescem bancossaposolhaa iluminao de hulha brancamames esto chamandoa orquestra rabecoa na mata

  • as meninas da gareeram tres ou quatro moas bem moas e bem gentis com cabellos mui pretos pelas espadoase suas vergonhas to altas e to saradinhasque de ns as muito bem olharmosno tnhamos nenhuma vergonha(In: Pero Vaz Caminha, Poesia Pau-Brasil, Oswald de Andrade)

    [...] Ali andavam entre eles trs ou quatro moas, bem moas e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espduas, e suas vergonhas to altas, to cerradinhas, e to limpas das cabeleiras que de as muito bem olharmos, no tnhamos nenhuma vergonha. (In: A Carta, de Pero Vaz de Caminha)

    (VER VDEO POBREZA PEGA)

  • Manifesto da Poesia Pau-BrasilDo ttulo:Do manifesto: a luta, o combate contra a ordem estabelecida, a proposio (V. manifestos das vanguardas europias)Por que Poesia Pau-Brasil?O primitivo, o estado bruto, no corrompido pelo olhar do colonizador.Mas... Produto de exportao: e exportao advm da tica da colnia ou do colonizador?

  • Das idias:A poesia existe nos fatos. Os casebres de aafro e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, so fatos estticos. O questionamento do belo: o que se considera arte? Margem x centro (V. Lima Barreto, Di Cavalcanti, a contstica recente, etc)Poesia ready-made, sem hierarquia, assinatura do artista. Tudo o que eu cuspo arte, pois eu sou artista (Ver Marcel Duchamp)

  • Toda a histria bandeirante e a histria comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citaes, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difcil.O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. No podemos deixar de ser doutos. Doutores. Pas de dores annimas, de doutores annimos. O Imprio foi assim. Eruditamos tudo. Contra o gabinetismo, a prtica culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idias.A lngua sem arcasmos, sem erudio. Natural e neolgica. A contribuio milionria de todos os erros. Como falamos. Como somos.O canto ao popular em detrimento do erudito, do cannico (a relatividade dos juzos de valor)

  • O Carnaval no Rio o acontecimento religioso da raa. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordes de Botafogo. Brbaro e nosso. A formao tnica rica. Riqueza vegetal. O minrio. A cozinha. O vatap, o ouro e a dana.O carnaval: a carnavalizao e a identidade nacional >> Macunamas por naturezaAntropofagia? Multiculturalismo?

  • A nunca exportao de poesia. A poesia anda oculta nos cips maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitria.Colnias no s no nome (Inverso da tica de opresso?)Houve um fenmeno de democratizao esttica nas cinco partes sbias do mundo. Institura-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que no fosse l mesmo, no prestava. A interpretao no dicionrio oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho...Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a mquina fotogrfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado - o artista fotogrfico. Na msica, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. S no se inventou uma mquina de fazer versos - a havia o poeta parnasiano.

  • Poesia para criticar: autocrtica, desconfiana e ironia. Democratizao esttica (produtos em srie, piano manivela) >> A aura do objeto >> dessacralizao da poesia.Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma iluso de tica. Os objetos distantes no diminuam. Era uma lei de aparncia. Ora, o momento de reao aparncia. Reao cpia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irnica, ingnua.Reeducao da sensibilidade: perspectiva sentimental, intelectual, irnica e ingnua. O sensacionismo (Porque quem mim deve, eu cobrarei no inferno!)A linguagem e o espelho

  • proibido proibir! >> Nenhuma frmula para a contempornea expresso do mundo. Ver com olhos livres.O trabalho da gerao futurista foi ciclpico. Acertar o relgio imprio da literatura nacional. Realizada essa etapa, o problema outro. Ser regional e puro em sua poca.A reao contra todas as indigestes de sabedoria. O melhor de nossa tradio lrica. O melhor de nossa demonstrao moderna. Apenas brasileiros de nossa poca. O necessrio de qumica, de mecnica, de economia e de balstica. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Prticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscncias livrescas. Sem comparaes de apoio. Sem pesquisa etimolgica. Sem ontologia.Deglutio cultural: V. lego. Assimilao desrecalcada (local e universal da expresso) encontra-se a europa no detalhe brasileiro/ a juno de todas as literaturas/ para uma devorao ritual dos valores europeus (superar o patriarcalismo)

  • Da estrutura:O manifesto como literatura: o ensaio como forma e o hibridismo inter-gnerosQual era a conscincia (linguagem) dominante da poca? Bilac & Cia.O Pau-Brasil vem para reformular esse pensamento:O trabalho contra o detalhe naturalista - pela sntese; contra a morbidez romntica - pelo equilbrio gemetra e pelo acabamento tcnico; contra a cpia, pela inveno e pela surpresa. Conflito: estrutura e a linguagem, a tcnica: linguagem diferente da realidade.A atitude metafrica (plano semntico) preterida pela atitude metonmica (plano sinttico)

  • Depurao formal para captar a originalidade nativa subjacente Choque que subverte o comum, mesmo custa de parecer trivial/ inveno, surpresa: valorizao dos signos (qualquer um)

    Nossa poca anuncia a volta ao sentido puro. Um quadro so linhas e cores. A estaturia so volumes sob a luz.A forma passa a 1 plano e o enredo a 2O real como entrave da imaginao >> Poesia em versus: Ver renovao dos temas na esttica realista/naturalista x renovao formal)

  • Algumas achegas ao debate: preciso ser absolutamente moderno?

    Ser mesmo que os andradides no nos levaram mais alto do que aquilo que se vira em literatura at ento?De onde viria ento a crise da representao positivista/realista to em voga na atualidade?E a atitude crtica de reviso do passado que o sucesso das metafices historiogrficas d exemplo singular?Mais, teria Graciliano realizado o que realizou, aproximando linguagem e personagem, seno fosse a rebeldia da primeira gerao modernista que Oswald representa?

  • Se no fosse a dessacralizao da poesia e o questionamento do belo em arte, o que chamamos hoje de arte contempornea seria possvel?O questionamento do poder estabelecido, do discurso e da ideologia dominante, o questionamento do cnone, seriam possveis se no fosse a abertura do radicalismo inicial?Ainda, se o que temos na ps-modernidade so intensificaes daquilo que o modernismo, quando no o fez, sugeriu, seria correto encarar uma ruptura entre os dois?Ou seria mais adequado uma viso que considerasse um, como desdobramento do outro?Se manifestos de Oswald so encarados como literatura, no teria sido sua obra realizada?

  • Se o que se desejou insistentemente na histria da literatura brasileira, desde sua gnese, foi a ratificao de uma identidade nacional por intermdio de uma linguagem que estivesse a representar a maioria do povo brasileiro, o que hoje chamamos best sellers de pssima qualidade so o que?O enquadramento (ou no) deles em arte esto ligados a preconceitos sociais que se refletem na concepo valorativa? A elitismo e pedantismo literrio?Ser absolutamente moderno implica negar a tradio? A negao, a subverso, j no so formas de referenciao?O que ser absolutamente moderno?