Aula_15_-_Transformacoes_de_fases.pdf
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A maioria das transformações de fases exige um tempo finito para atingir
a sua conclusão e a velocidade ou a taxa com que ocorrem é, com
frequência, importante na relação entre o tratamento térmico e o
desenvolvimento da microestrutura.
Uma limitação dos diagramas de fases consiste na sua incapacidade em
indicar o tempo que é necessário para que o equilíbrio seja atingido.
A taxa de aproximação do equilíbrio para sistemas sólidos é tão lenta
que estruturas em verdadeiro equilíbrio raramente são atingidas.
São mantidas condições de equilíbrio somente quando o aquecimento
ou o resfriamento é executado utilizando taxas extremamente lentas.
TRANSFORMAÇÕES DE FASES
DIAGRAMAS TTT
Nos diagramas de equilíbrio o tempo de transformação é desprezado,
pois para se obter as fases termodinamicamente estáveis é necessário
que a transformação ocorra de forma lenta, permitindo que o equilíbrio
termodinâmico em função da composição e da temperatura seja mantido.
Os Diagramas TTT (Transformação-Tempo-Temperatura)
descrevem o início e o final de uma reação (transformação) a uma
dada temperatura, em função do tempo, isto é, descrevem a cinética
da reação.
A maioria das transformações no estado sólido não ocorre
instantaneamente, mas necessita de algum tempo para que possa
ocorrer.
DIAGRAMAS TTT
Limitações dos diagramas TTT
1 – Cada liga possui um diagrama TTT correspondente, assim um
diagrama TTT para um aço com composição eutetóide é válido
somente para esta composição, para outras composições, as
curvas terão configurações diferentes.
2 – Esses gráficos são precisos somente para os casos de
transformações em que a temperatura da liga é mantida constante
ao longo de toda a duração da reação.
As condições de temperatura constante são conhecidas por
isotérmicas, devido a isso esses gráficos também são
conhecidos por Diagramas de Transformações Isotérmicas.
Fra
çã
o d
a tra
nsfo
rmação
,
y
Logarítmo do tempo de
aquecimento, t
Nucleação Crescimento
TRANSFORMAÇÕES NO ESTADO SÓLIDO
Comportamento cinético típico para a maioria das reações
em estado sólido
1 - Nucleação, que consiste na
formação de partículas, ou núcleos,
muito pequenos da nova fase, as quais
são capazes de crescer.
2 - Crescimento ao longo do qual os
núcleos aumentam de tamanho,
durante esse processo, uma parte do
volume da fase original desaparece.
A transformação atinge seu término
se for permitido que o crescimento das
partículas da nova fase prossiga até
que a proporção em condições de
equilíbrio seja atingida.
DIAGRAMAS TTT
Demonstração de como
um diagrama de
transformação isotérmica
(parte inferior) é gerado a
partir de medições da
porcentagem da
transformação em função do
logarítmo do tempo (parte
superior), para um aço com
composição eutetóide
(0,76%p C).
Tempo (s)
Tempo (s)
Te
mp
era
tura
(°C
)
Tem
pera
tura
(°F
)
Po
rce
nta
ge
m d
a
au
ste
nita
tra
nsfr
om
ad
a
em
pe
rlita
Curva de início
(0% de perlita)
Curva de conclusão
(100% de perlita)
Curva de 50% de conclusão
(50% de perlita)
Temperatura eutetóide Austenita estável
Austenita instável
Final da transformação
Início da
transformação
Temperatura de
transformação 675°C
675°C
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Tempo (s)
Tem
pera
tura
(°C
)
Tem
pera
tura
(°F
)
Ferrita Perlita gosseira
Temperatura eutetóide
Austenita estável
Perlita fina
Transformação
austenita perlita
727°C
Fe3C
1 dia 1 h 1 min 1 s
Indica que a transformação
está ocorrendo
Perlita grosseira: Camadas relativamente espessas, tanto da fase ferrita
como da fase Fe3C. Em temperaturas mais altas, as taxas de difusão são mais
elevadas, de tal modo que durante a transformação os átomos de carbono podem
se difundir ao longo de distâncias relativamente longas, o que resulta na formação
de lamelas grossas.
Perlita Grosseira
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Perlita Fina: Com a diminuição da temperatura, a taxa de difusão do carbono
diminui e as camadas se tornam progressivamente mais finas. Essa estrutura com
camadas finas é produzida na vizinhança de 540°C.
Perlita Fina
P: Perlita
A: Austenita
B: Bainita
Diagrama de transformação
isotérmica para uma liga ferro-
carbono com composição
eutetóide, incluindo as
transformações da austenita
em perlita e da austenita em
bainita.
Tempo (s)
Te
mp
era
tura
(°C
)
Tem
pe
ratu
ra (
°F)
Temperatura eutetóide
Bainita inferior
Bainita superior
Perlita grosseira
Perlita fina
Austenita
Austenita
Austenita
50% 0% 100%
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Bainita: Como ocorre com a perlita, a microestrutura de cada uma das
bainitas (superior e inferior) consiste nas fases ferrita e cementita,
entretanto, seus arranjos são diferentes da estrutura lamelar alternada
encontrada na perlita.
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Dependendo da temperatura de
transformação, dois tipos de
bainita são observados:
Bainita superior
Bainita inferior
Bainita Superior: Para temperaturas entre aproximadamente 300 e
540°C a bainita se forma como uma série de ripas paralelas (isto é, tiras
finas e estreitas) ou agulhas de ferrita que se encontram separadas por
partículas alongadas da fase cementita.
Martensita
Cementita
Ferrita
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Observação:
Neste exemplo a fase
que está em volta da
bainita é a martensita.
Na microestrutura
apresentada parte da
austenita se
transformou em bainita
e parte em martensita.
Bainita inferior: Em temperaturas mais baixas, entre aproximadamente
200 e 300°C, a bainita inferior é o produto da transformação. Na bainita
inferior, a fase ferrita existe na forma de placas finas e partículas estreitas
de cementita (na forma de bastões ou lâminas muito finas) se formam no
interior das placas de ferrita.
Martensita
Cementita
Ferrita
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Observação:
Na microestrutura apresentada
parte da austenita se transformou em
bainita e parte em martensita.
REGIÃO DE TRANSIÇÃO ENTRE PERLITA E BAINITA
Diagrama TTT para um aço eutetóide
mostrando a região de transição entre a
perlita e a bainita.
No diagrama TTT de um aço eutetóide há uma região de
transição em que existe tanto perlita como bainita.
Diagrama TTT completo para um aço com composição eutetóide
P: Perlita
A: Austenita
B: Bainita
M: Martensita
Diagrama de transformação isotérmica para uma liga ferro-carbono com
composição eutetóide (0,76%p C), incluindo todas as transformações:
Martensita: é formada quando ligas Fe-C austenitizadas são resfriadas
rapidamente (ou temperadas) até uma temperatura relativamente baixa (na
vizinhança da temperatura ambiente).
Austenitização: Aquecimento da liga Fe-C em temperaturas dentro
do campo de fases em que só há austenita () (acima de 727°C) por
tempo suficiente para que exista somente austenita na microestrutura.
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
A martensita é monofásica, com
estrutura tetragonal de corpo centrado
(a = b c; = = = 90°), que não se
encontra em equilíbrio, resultante de uma
transformação da austenita.
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Na transformação martensítica o resfriamento do material é muito
rápido, não ocorrendo a difusão do carbono.
Essa transformação ocorre quase instantaneamente, dessa
forma, a taxa de transformação martensítica, para todas as
finalidades práticas, é independente do tempo.
Sendo uma fase fora de equilíbrio, a martensita não aparece no
diagrama Fe-Fe3C.
Dependendo do teor de carbono, a martensita pode ser:
Em ripa
Lenticular ou em placas
Blocos
Ripas
Blocos
Martensita em ripa: para ligas Fe-C que contêm menos do que
cerca de 0,6%p C, os grãos de martensita se formam como ripas,
isto é, placas longas e finas, lado a lado, alinhadas paralelamente
umas com as outras.
Além disso, essas ripas estão agrupadas em entidades
estruturais maiores, conhecidas por blocos.
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Martensita lenticular ou em placas: é encontrada em ligas Fe-
C que contêm mais do que cerca de 0,6%p C.
Com essa estrutura os grãos de martensita adquirem uma
aparência em forma de agulha (isto é, lenticular).
Os grãos com formato de agulha
são a fase martensita, enquanto as
regiões em branco representam a
austenita que não se transformou
durante o processo de resfriamento
rápido (têmpera) ampliação de
1220x.
Diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
RELAÇÃO ENTRE MICROCONSTITUINTE E DUREZA
Perlita grosseira
Perlita fina
Bainita superior
Bainita inferior
INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS DE LIGA
A presença de outros elementos de liga além do carbono (por
exemplo: Cr, Ni, Mo e W) pode causar alterações significativas nas
posições e nas formas das curvas nos diagramas de transformação
isotérmica (TTT).
Essas alterações incluem:
1 – deslocamento do joelho da transformação isotérmica da
austenita em perlita para tempos mais longos (e também do
joelho da fase proeutetóide, caso tal seja existente).
2 – a formação de um joelho separado para a bainita.
INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS DE LIGA
Diagrama TTT para um aço-liga (ABNT4340)
Tem
pe
ratu
ra (
°C)
Tem
pe
ratu
ra (
°F)
Temperatura eutetóide
Austenita
Austenita F+P
B
A+B
A+F A+F+
P
50%
Martensita+Austenita
M (Início)
M (50%) M (90%)
Martensita
Tempo (s) F: Ferrita
P: Perlita
A: Austenita
B: Bainita
Composição química do aço
ABNT 4340 (% em peso):
C: 0,37-0,43% Si: 0,15-0,35%
Mn: 0,60-0,80% Cr: 0,70-0,90%
Mo: 0,20-0,30% Ni: 1,65-2,00%
S 0,025%
O aço ABNT 4340 é
utilizado, por exemplo, na
fabricação de virabrequins
para tratores, engrenagens e
eixos.
EFEITOS DA SEÇÃO DA PEÇA
A velocidade de resfriamento é afetada pela seção da peça, pois o
interior das peças de maior espessura se resfria mais lentamente que a sua
superfície.
Quando o resfriamento é realizado em água (meios mais drásticos),
a superfície esfria com velocidade superior à do centro, ou seja, a
superfície adquire a estrutura martensítica e, portanto, a máxima
dureza.
No centro da peça, uma parte da austenita se transformou em
perlita e a outra parte se transformou em martensita, ou seja, o centro
adquire, em parte dureza máxima.
Representação esquemática
do efeito da seção da peça
sobre a velocidade de
resfriamento em meios
diferentes.
Te
mp
era
tura
DIAGRAMAS TRC
A maioria dos tratamentos térmicos para os aços envolve o
resfriamento contínuo até a temperatura ambiente.
As transformações dos aços nos processos industriais em sua
maioria ocorrem por resfriamento contínuo e não isotermicamente.
Em vista disso, foram desenvolvidos os diagramas TRC.
Diagrama TRC (Transformação por Resfriamento Contínuo):
Um gráfico contendo as curvas modificadas para início e término da
reação de transformação.
No resfriamento contínuo é possível controlar a taxa de
resfriamento, dependendo do meio de resfriamento utilizado.
Superposição dos TTT e transformação por TRC para um aço com
composição eutetóide.
Austenita Temperatura eutetóide
M (Início)
M (50%)
M (90%)
Tem
pera
tura
(°C
)
Te
mp
era
tura
(°F
)
Transformação por
resfriamento
contínuo
Tempo (s)
Curvas de resfriamento moderadamente rápido e de resfriamento lento
superpostas sobre um diagrama TTT para um aço com composição eutetóide
Resfriamento
lento: no interior
do forno
Resfriamento
moderadamente
rápido: ao ar
DIAGRAMAS TRC
Normalmente, a bainita não irá se formar quando uma liga com
composição eutetóide (0,76%p C) ou para qualquer aço comum ao carbono
for resfriado continuamente até a temperatura ambiente.
Isso ocorre porque toda a austenita terá se transformado em perlita
quando a liga tiver atingido a temperatura em em que a transformação em
bainita se tornar possível.
Para qualquer curva de
resfriamento que passe através de AB,
a transformação da austenita em
perlita termina no ponto de interseção
com AB, com a continuidade do
resfriamento, o restante da austenita
que não se transformou em perlita se
transforma em martensita.
Austenita 727°C
Austenita+
Martensita
M(Início)
M(90%)
Martensita
A
A+P Perlita
A
Curva 1: aço com estrutura
formada por perlita grosseira
(resfriamento no forno)
1 2
Curva 2: aço com estrutura
formada por perlita fina
(resfriamento ao ar)
Exemplos de curvas TRC para um aço eutetóide (0,76%p C)
3
Curva 3: aço com estrutura
formada por perlita e
martensita (resfriamento em
óleo)
Austenita 727°C
Austenita+
Martensita
M(Início)
M(90%)
Martensita
A
A+P Perlita
A
Curva 4: corresponde à
menor velocidade de
resfriamento para a qual
há a transformação da
austenita em martensita,
normalmente denominada
de velocidade crítica
(resfriamento em água)
4 Curva 5: para qualquer
velocidade de resfriamento
acima da velocidade
crítica, a estrutura
resultante é martensítica
(resfriamento em água
gelada)
5
Exemplos de curvas TRC para um aço eutetóide (0,76%p C)
DIAGRAMAS TTT E TRC
Os diagramas de transformação isotérmica (TTT) e por
resfriamento contínuo (TRC) podem ser considerados diagramas de
fases onde o parâmetro tempo é introduzido.
Cada um deles é determinado experimentalmente para uma liga
com uma composição específica, onde as variáveis são a
temperatura e o tempo.
Esses diagramas permitem prever a microestrutura após um
dado intervalo de tempo em tratamentos térmicos à temperatura
constante (curvas TTT) e por resfriamento contínuo (curvas TRC).
EXEMPLO
(a) Resfriamento rápido até 350°C, manutenção dessa temperatura
durante 104s (10000s), e em seguida resfriamento rápido até a
temperatura ambiente
(b) Resfriamento rápido até 250°C, manutenção dessa temperatura
durante 102s (100s), e em seguida resfriamento rápido até a
temperatura ambiente.
(c) Resfriamento rápido até 650°C, manutenção dessa temperatura
durante 103s (1000s), e em seguida resfriamento rápido até a
temperatura ambiente.
(d) Resfriamento rápido até 600°C, manutenção dessa temperatura
durante 5s, e em seguida resfriamento rápido até a temperatura
ambiente.
Usando o diagrama TTT para um aço eutetóide, especifique a natureza da
microestrutura final (em termos dos microconstituintes presentes e das
porcentagens aproximadas) de uma pequena amostra que foi submetida aos
seguintes tratamentos tempo-temperatura. Em cada caso, suponha que a amostra
se encontra inicialmente a uma temperatura de 800°C, e que ela foi mantida a essa
temperatura por um tempo suficiente para que fosse atingida uma estrutura
austenítica completa e homogênea.
EXEMPLO - SOLUÇÃO
(a) 100% Bainita superior
(a) Resfriamento rápido até
350°C, manutenção dessa
temperatura durante 104s
(10000s), e em seguida
resfriamento rápido até a
temperatura ambiente
Observação:
Bainita superior: entre
300 e 540°C
Bainita inferior: entre
200 e 300°C
EXEMPLO - SOLUÇÃO
(b) 100% Martensita
(b) Resfriamento rápido até
250°C, manutenção dessa
temperatura durante 102s
(100s), e em seguida
resfriamento rápido até a
temperatura ambiente.
Observação: É
considerado 100% de
martensita, mas na prática
sempre há uma
porcentagem de austenita
que não se transformou,
sendo chamada de
austenita residual ou
austenita retida.
(c) 100% Perlita grosseira
(c) Resfriamento rápido até
650°C, manutenção dessa
temperatura durante 103s
(1000s), e em seguida
resfriamento rápido até a
temperatura ambiente
EXEMPLO - SOLUÇÃO
(d)
50% Perlita Fina + 50% martensita
(d) Resfriamento rápido até
600°C, manutenção dessa
temperatura durante
aproximadamente 5s, e em
seguida resfriamento rápido
até a temperatura
ambiente.
EXEMPLO - SOLUÇÃO
(a)
(a) 100%
Bainita
Superior
(a) Resfriamento rápido até
350°C, manutenção dessa
temperatura durante 104s, e em
seguida resfriamento rápido até
a temperatura ambiente
EXEMPLO - SOLUÇÃO
(b) Resfriamento rápido até
250°C, manutenção dessa
temperatura durante 100s, e em
seguida resfriamento rápido até
a temperatura ambiente
(b)
(b)
100%
Martensita
(c)
(c) 100%
Perlita
Grosseira
(c) Resfriamento rápido até
650°C, manutenção dessa
temperatura durante 103s, e em
seguida resfriamento rápido até
a temperatura ambiente
(d) Resfriamento rápido até
600°C, manutenção dessa
temperatura durante
aproximadamente 5s, e em
seguida resfriamento rápido até a
temperatura ambiente.
(d)
50% Perlita
Fina + 50%
Martensita
(d)