Avaliação Da Qualidade de Vida

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    6Avaliao da Qualidade de Vida

    dos Participantes do Grupo de Alimentao Saudvel da FUNCAMP

    Ricardo Martineli MassolaEspecialista em Gesto da Qualidade de Vida nas Empresas

    Roberto VilartaProf. Titular em Qualidade de Vida, Sade Coletiva e Atividade Fsica

    Faculdade de Educao Fsica da UNICAMP

    Um dos principais objetivos com o desenvolvimento do programa de alimentao saudvel e controle de peso corporal realizado no am-biente de trabalho o de manter e/ou melhorar a percepo subjetiva dos colaboradores com relao sua Qualidade de Vida, atravs de uma modificao de aspectos de estilo e hbitos de vida. Neste captulo, iremos mostrar e discutir os resultados obtidos sobre os ndices de Qualidade de Vida do grupo antes e aps o desenvolvimento do programa.

    Definies

    Acredita-se amplamente que a mudana do padro alimentar para uma condio saudvel possa influenciar a Qualidade de Vida. Vemos, portanto, a influncia na crena pblica de que os hbitos de vida so fa-tores primordiais para os aspectos de sade de um grupo. MINAYO (2000) aponta para o fato da Qualidade de Vida possuir trs componentes princi-pais: estilo de vida, modo de vida e condies de vida, estando o primeiro relacionado a aspectos subjetivos (como alimentao, atividade fsica, uso de tabaco, etc.) e os demais aos aspectos objetivos (saneamento bsico, transporte, renda, etc.).

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    Portanto, a alimentao saudvel vem sendo apontada como um fator de influncia na Qualidade de Vida das pessoas (NAHAS, 2001).

    A Organizao Mundial da Sade (OMS), por intermdio do WHO-QOL Group (1995), definiu a Qualidade de Vida como sendo a percepo do indivduo de sua posio na vida, contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes. Com isso, promoveu a colaborao internacional de 15 pases do mundo todo para gerar um instrumento de avaliao multidi-mensional, passvel de traduo e adaptao para diversas lnguas, con-tendo 24 facetas ou dimenses da Qualidade de Vida, organizadas hierar-quicamente em 6 domnios: fsico, psicolgico, nvel de independncia, relaes sociais, ambiente e espiritualidade, religio e crenas pessoais. A esse instrumento chamou-se WHOQOL-100. A necessidade de instru-mentos curtos que demandem pouco tempo para seu preenchimento, mas com caractersticas psicomtricas satisfatrias, fez com que o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma verso abreviada do WHO-QOL-100, chamado de WHOQOL Abreviado (UFRGS, 2006). O WHOQOL Abreviado consta de 26 questes, sendo duas questes gerais e as demais 24 representando cada uma das 24 facetas que compem o instrumento original. Assim, diferentemente do WHOQOL-100 em que cada uma das 24 facetas avaliada a partir de 4 questes, no WHOQOL Abreviado cada uma avaliada por apenas uma questo. Ainda, o WHOQOL Abreviado resumi-se em 4 domnios: fsico, psicolgico, relaes sociais e ambiente.

    A tabela 1 mostra os domnios e facetas do WHOQOL Abreviado.

    Tabela 1:

    DOMNIOS E FACETAS DO WHOQOL Abreviado

    Domnio I - Domnio fsico

    Dor e desconforto

    Energia e fadiga

    Sono e repouso

    Atividades da vida cotidiana

    Dependncia de medicao ou de tratamentos

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    Mobilidade

    Capacidade de trabalho

    Domnio II - Domnio psicolgico

    Sentimentos positivos

    Pensar, aprender, memria e concentrao

    Auto-estima

    Imagem corporal e aparncia

    Sentimentos negativos

    Espiritualidade /religio/ crenas pessoais

    Domnio III - Relaes sociais

    Relaes pessoais

    Suporte (Apoio) social

    Atividade sexual

    Domnio V - Ambiente

    Segurana fsica e proteo

    Ambiente no lar

    Recursos financeiros

    Cuidados de sade e sociais: disponibilidade e qualidade

    Oportunidades de adquirir novas informaes e habilidades

    Participao em e oportunidades de recreao / lazer

    Ambiente fsico (poluio/rudo/trnsito/clima)

    Transporte

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    Sujeitos e Mtodos

    A Qualidade de Vida do grupo da FUNCAMP foi avaliada utilizando-se como instrumento de anlise o WHOQOL Abreviado, validado em portu-gus por FLECK (2000). Todos os participantes foram convidados a preen-cher o questionrio no incio do programa (pr-teste) e outro ao final do programa (ps-teste). Participaram desta avaliao 19 indivduos, 18 mu-lheres e 1 homem, todos vinculados FUNCAMP. A anlise dos dados foi realizada de acordo com os preceitos da OMS (WHO, 1996), sendo apresen-tados os ndices mdios para cada domnio no pr e ps-teste. Os resultados so apresentados em seus ndices reais e em uma escala de 0 a 100.

    Resultados

    As tabelas e o grfico abaixo mostram as mdias no pr e ps-teste para todos os domnios e questes especficos.

    Tabela 2:ndices mdios reais dos domnios do WHOQOL Abreviado

    no pr-teste e ps-teste para o grupo da FUNCAMP

    Domnios Pr-teste Ps-testeFsico 3,75 3,93

    Psicolgico 3,65 3,87Relaes Sociais 3,6 3,67

    Ambiente 3,4 3,58Geral 3,27 3,83

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    Tabela 3Pontuao transformada em escala de 0 a 100 para os domnios do

    WHOQOL Abreviado no pr-teste e ps-teste, para o grupo da FUNCAMP

    Domnios Pr-teste Ps-testeFsico 75 78,6

    Psicolgico 73 77,4Relaes Sociais 72 73,4

    Ambiente 68 71,6Geral 65,4 76,6

    Grfico 1ndices mdios reais das questes do WHOQOL Abreviado no pr-teste e

    ps-teste para o grupo da FUNCAMP

    Com isso, podemos observar que todos os domnios obtiveram melho-ra no ps-teste, com destaque para o domnio psicolgico e para o aspecto geral. Nas questes, vemos que muitas permaneceram em um patamar semelhante ou com discreta melhora / piora. Porm, algumas questes se destacam por sua melhora aparente. So elas: questo 1 (avaliao geral da qualidade de vida); questo 2 (avaliao sobre sade geral); questo 10 (energia para o dia-a-dia); questo 11 (aceitao da aparncia fsica); questo 13 (disponibilidade de informaes); e questo 19 (satisfao con-sigo mesmo).

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    Discusso

    Embora muitas variveis no possam ser controladas com a aplicao deste programa de alimentao saudvel e sabendo que muitos dos ndices possam ter tido influncias desconhecidas de nossa parte, algumas consi-deraes so pertinentes e importantes, principalmente observando-se o padro dos ndices melhorados.

    As questes 1 e 2 fazem parte da avaliao dos aspectos gerais de sa-tisfao com a sade e a Qualidade de Vida. Sabendo-se que a alimentao saudvel parte fundamental da sade e aspecto de grande influncia no estilo de vida de um indivduo, possvel que a melhora nesses ndices se dem pelo fato dos participantes do grupo estarem mais engajados na mu-dana de seus comportamentos, e transmitirem isso para sua percepo subjetiva de sade e Qualidade de Vida.

    Um outro domnio de grande destaque na melhora de seu ndice foi o domnio psicolgico. Nele, esto contidas duas questes de maior evolu-o na pontuao: a questo 11, que pergunta para o indivduo o quanto ele capaz de aceitar sua aparncia fsica, e a questo 19, que pergunta sobre o quo satisfeito o indivduo est consigo mesmo. So questes que nos fazem pensar sobre a maneira como nosso corpo visto por ns mes-mos ou a representao mental de nosso prprio corpo, ou seja, nossa imagem corporal (TAVARES, 2004). Tal imagem, ainda segundo TAVARES (2004), se relacionam com nossas percepes. A percepo subjetiva do indivduo est conectada sua imagem corporal e um aspecto freqen-temente enfatizado nas definies de Qualidade de Vida. A alimentao modifica nossa estrutura fsica pelo ganho, manuteno ou diminuio de peso e, conseqentemente, modifica nossa imagem corporal. Um progra-ma de alimentao saudvel capaz de modificar positivamente a imagem corporal de um indivduo, a partir do momento que lhe traz uma maior satisfao consigo mesmo, no que diz respeito a sua aparncia e percepo de si. Devido a isso, perfeitamente compreensvel que ambas as questes, e por conseqncia o domnio psicolgico, tenham tido um ndice mdio maior no ps-teste.

    O domnio fsico apresentou um ndice de melhora principalmente na questo sobre a fadiga. Embora a alimentao seja o combustvel que gera nossa energia diria, e que uma alimentao equilibrada e saudvel d ao corpo condies de disponibilizar tal energia, podemos cogitar uma outra interpretao: o fato de que, durante todas as aulas do programa, os participantes foram incentivados prtica de atividades fsicas. Muitas so

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    as evidncias cientficas que mostram que a atividade fsica proporciona uma melhor disposio e diminuio da fadiga no dia-a-dia (O CONNOR, 2005). De fato, percebemos, durante todo o processo, que muitos segui-ram as orientaes e deram incio aos exerccios fsicos.

    J o domnio do ambiente teve o mesmo ndice de melhora que o fsico. Sua questo que chama mais ateno foi a de nmero 13, que per-gunta ao respondente sobre o quo disponvel esto as informaes que ele precisa para o dia-a-dia. Sabemos que num programa de mudana de comportamento, a sensibilizao atravs da informao fundamental. No desenvolvimento do programa, com uma etapa de mudana de estilo de vida, proporcionamos uma oportunidade de adquirir, discutir, refletir e processar diversas informaes sobre uma alimentao saudvel e o con-trole de peso corporal. Isso envolveu uma rdua preparao e interpreta-o de assuntos no apenas referentes rea de nutrio, mas s diversas reas da sade, biologia humana, s questes sociais, psicologia e aos aspectos culturais. Com o apoio de profissionais especializados, os partici-pantes puderam obter informaes que dificilmente seriam discutidas em outro meio.

    Portanto, mesmo tendo em vista possveis limitaes ou dificuldades no controle de variveis, acreditamos na educao para a alimentao sau-dvel como forma transformadora dos hbitos de vida, trazendo benefcios sade e Qualidade de Vida.

    Referncias Bibliogrficas

    FLECK, M. P. A., et al. Aplicao da verso em portugus do instrumento abrevia-do de avaliao de Qualidade de Vida WHOQOL-Bref. Revista de Sade Pblica, So Paulo, v. 34, n. 2, p. 178-83, abril. 2000

    MINAYO, M. C. S.; HARTZ, Z. M. A.; BUSS, P. M. Qualidade de Vida e Sade: um debate necessrio. Cincia e Sade Coletiva. 5(1):7-18, 2000.

    NAHAS, Markus Vincius. Atividade fsica, sade e qualidade de vida. Londrina, Mid-iograf, 2001.

    O CONNOR, P. J.; PUETZ, T. W. Chronic physical activity and feelings of energy and fatigue. Med. Sci. Sports Exerc., v. 37, n. 2, p. 299-305, feb. 2005.

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    TAVARES, M. C. G. C. F. Imagem Corporal e Qualidade de Vida. In: Gonalves, A. & Vilarta, R. (orgs.) Qualidade de Vida e Atividade Fsica : explorando teoria e prti-ca. Barueri, Manole. 2004.

    WHOQOL Group. The World Health Organization Quality of Life assessment (WHOQOL): Position paper from the World Health Organization. Soc. Sci. Med., 41:1403-9, 1995.

    WHO. WHOQOL Bref: Introduction, administration, scoring and generic version of the assessment. Geneve, 1996.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Psiquiatria. Diviso de Sade Mental. Grupo WHOQOL. Disponvel em http://www.ufrgs.br/psiq/who-qol3.html. Acesso em: 10 de outubro de 2006.