Avaliação - Perturbação Autística
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PERTURBAÇÕES GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO
PERTURBAÇÃO AUTÍSTICA
INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação é o primeiro passo essencial para uma futura e correta intervenção nas
crianças com diagnóstico de perturbação autística. Estas crianças apresentam défices em
todas as áreas de ocupação, no entanto manifestam mais comprometidas as áreas de
comunicação – interação e comportamento, entre outras. Assim a avaliação deve ser
feita por uma equipa de vários profissionais com experiência em todas as áreas de
desenvolvimento.
Numa primeira fase é possível avaliar e determinar se o diagnóstico foi correto através
de entrevistas e checklists de avaliação psicológica e comportamental das crianças
diagnosticadas com PEA.
Instrumentos de Avaliação do PEA:
Diagnostic Checklist for Behavior – Disturbed Children;
Autism Behaviour Checklist;
Childhood Autism Rating Scale (CARS);
Behavioral Observation Scale for Autism (BOS);
Autism Diagnostic Interview - Revised (ADI-R);
Checklist for Autism in Toddlers (CHAT);
Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS);
Autism Spectrum Questionnaire (ASQ).
Instrumentos a aplicar aos responsáveis da criança avaliada:
PIA (The Parent Interview for Autism);
WADIC (Wing Autistic Disorder Interview Checklist).
Atualmente, em Portugal, os instrumentos mais utilizados são:
Childhood Autism Rating Scale (CARS);
Checklist for Autism in Toddlers (CHAT);
Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil (SGS II) (0-5
anos)
Escala de Desenvolvimento da Griffths;
Currículo de Carolina.
Alguns dos utilizados para confirmação de diagnóstico são ainda o:
Gilliam Autism Rating Scale (GARS) (comercializada em Portugal);
Pervasive Development Disorders Screnning Test (PDDST);
Childhood Asperger Syndrome Test (CAST);
Australian Scale for Asperger’s Syndrome (ASAS);
Kaufman Assessment Battery for Children (K-ABC);
WISC III Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC);
Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence - Revised (WPPSI – R);
BLR (Brunet - Lezine);
Escala de Desenvolviemnto Psicomotor para a Primeira Infância – Revista;
Vineland Adaptative Behavioural Scales (VABS).
Bibliografia:
· www.cadin.net/pls/dcadin/get_page_file?id=3172727&tp=1
· Lampreia C., AVALIAÇÕES QUANTITATIVA E QUALITATIVA DE UM MENINO AUTISTA: UMA
ANÁLISE CRÍTICA, 2003. Acedido em: www.scielo.br/pdf/pe/v8n1/v8n1a08.pdf
· Santos I. M., Sousa M. P. L., COMO INTERVIR NA PERTURBAÇÃO AUTISTA. Acedido em:
http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0262.pdf
Anexo(s) – DESCRIÇÃO INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PEA
A Diagnostic Checklist for Behavior – Disturbed Children (2ª Edição) é constituída
por um grupo de 109 questões que devem ser completadas pelos pais da criança. Alguns
dos temas abordados são interação social, linguagem, competências motoras,
inteligência, reações a estímulos sensoriais e características familiares desde o
nascimento até aos 5 anos de idade.
A Autism Behaviour Checklist é preenchida por profissionais e visa diferenciar crianças
autistas de crianças com deficiência mental severa, cegas-surdas e com perturbações
emocionais.
A Childhood Autism Rating Scale (CARS) é uma escala com o objetivo de identificar
as crianças com autismo e distingui-las das crianças com atraso de desenvolvimento
sem autismo.
Esta inclui quinze itens comportamentais:
Relação com pessoas;
Imitação;
Resposta emocional;
Uso do corpo;
Uso de objetos;
Adaptação à mudança;
Resposta visual;
Resposta auditiva;
Resposta e uso do paladar, cheiro e tato;
Medo ou nervosismo;
Comunicação verbal e comunicação não-verbal;
Nível de atividade;
Nível e consistência de resposta intelectual;
Impressões gerais.
As avaliações são feitas a partir de diferentes fontes de observação, tais como: testes
psicológicos ou participação na sala de aula; entrevistas com os pais; anamnese, desde
que inclua a informação requerida para todos os itens. Na aplicação do CARS, depois da
obtenção de todas as informações e dados, cada item é pontuado da seguinte forma: 1
ponto – normal, 2 pontos – levemente anormal, 3 pontos – moderadamente anormal e 4
pontos – severo, admitindo-se intervalos de 0,5 ponto. A soma da pontuação dos quinze
itens permite o diagnóstico de acordo com o seguinte critério: <30 pontos =" normal,">
30 <36,5 pontos =" autismo"> 37 pontos = autismo severo. O ADOS é um instrumento
na mesma linha de avaliação.
A Behavioral Observation Scale for Autism (BOS) permite distinguir autistas de
indivíduos com atraso mental severo, bem como, identificar subgrupos de autistas e
desenvolver um instrumento objetivo para descrição do autismo em termos de
investigação comportamental e biológica. A criança é colocada a brincar com
brinquedos adequados à sua idade, sendo filmada e posteriormente é analisado o filme,
sendo registado os comportamentos observados, avaliando-se assim informalmente.
A Autism Diagnostic Interview - Revised (ADI-R) é um questionário que permite obter
informações detalhadas sobre três áreas fundamentais: linguagem e comunicação,
desenvolvimento social e jogo e desenvolvimento em geral. Baseia-se numa entrevista
aos pais.
A Checklist for Autism in Toddlers (CHAT) é um instrumento de avaliação constituído
por 9 questões sim/não dirigida para os pais e 5 questões de observação que é
preenchida pelo médico. Este instrumento tem por objetivo detetar e diagnosticar
precocemente as crianças com perturbações do espectro autista, sendo aplicado a
crianças a partir dos 18 meses com elevado risco genético de possuir este tipo de
perturbações. Pretende-se que este instrumento seja de fácil e rápida aplicação, que
possa ser usado por Clínicos Gerais ou qualquer outro tipo de técnicos, tais como
terapeutas ocupacionais, não especificamente treinados para o diagnóstico do autismo.
Alguns dos pontos abordados são o jogo intencional, o apontar protodeclarativo
(apontar para obter aquilo que se pretende), a atenção partilhada, o interesse social e o
jogo social. Existe também uma versão modificada denominada Modified Cheklist for
Autism in Toddlers (M-Chat) cujo objetivo é deteção do autismo e perturbações
invasivas do desenvolvimento dos 18-25 meses. A utilização é feita pelos médicos e
psicólogos em entrevista ou auto-preenchimento pelos pais. O questionário comporta 23
itens com respostas sim/não.
A Autism Spectrum Questionnaire (ASQ) é um instrumento indicado para uma
avaliação a crianças com mais de 4 anos. Numa fase mais posterior pretende-se que a
avaliação seja direcionada para a intervenção.
Autism Diagnostic Observation Schedule (ADOS) é um instrumento de diagnóstico e
avaliação do Autismo . O protocolo consiste numa série de tarefas estruturadas e semi-
estruturadas que envolvem a interação social entre o examinador e a criança. O
examinador observa e identifica segmentos de comportamento do sujeito e atribui estes
para determinar critérios/categorias de observação. Os ADOS não deve ser usado para o
diagnóstico formal com indivíduos que são cegos , surdos , ou seriamente prejudicada
por distúrbios sensoriais ou motoras, como a paralisia cerebral ou distrofia muscular .
PIA (The Parent Interview for Autism foi desenvolvido para medir a gravidade dos
sintomas do autismo em uma ampla gama de domínios de comportamento. Destina-se a
obter informações relevantes sobre as crianças que funcionam no nível pré-escolar e
abaixo. O PIA é uma entrevista que exige que os pais façam julgamentos sobre a
frequência da ocorrência de comportamentos específicos. Os itens do PIA são
administrados oralmente. A administração da PIA leva aproximadamente 30-45
minutos.
WADIC (Wing Autistic Disorder Interview Checklist) sem informação adicional.
A Escala de Avaliação das Competências no Desenvolvimento Infantil - SGS – II (0-5
anos), que permite identificar o nível de desenvolvimento da criança em 9 áreas de
competências – Controlo Postural Passivo, Controlo Postural Ativo, Locomotoras,
Manipulativas, Visuais, Audição e Linguagem, Fala e Linguagem, Interação Social e
Autonomia Pessoal;
Escala de Desenvolvimento da Griffths (2-8 anos), avalia seis áreas: Locomoção,
Pessoal-Social, Audição e Linguagem, Coordenação óculo-manual, Realização e
Raciocínio Prático;
Currículo de Carolina (0-2 anos) que é composta por uma avaliação e intervenção
Psicopedagógica para bebés e crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE).
Currículo Carolina é uma avaliação e intervenção psicopedagógica para bebés e
crianças pequenas com necessidades especiais. Currículo Carolina é um programa de
intervenção especificamente elaborado para crianças com necessidades educativas
especiais desde o nascimento até aos 24/36 meses de idade. O programa encontra-se
dividido em 24 sequências pedagógicas que abrangem cinco áreas do desenvolvimento:
Cognição, Comunicação, Pessoal-Social, Motricidade Fina e Motricidade Grosseira.
Após uma avaliação inicial do desenvolvimento, é possível criar uma intervenção
psicopedagógica adequada a cada caso, adaptando os exercícios a crianças com
dificuldades visuais, auditivas ou motoras e integrar as atividades nas rotinas diárias da
criança. Está indicado especialmente para crianças que apresentem alguma dificuldade
de aprendizagem ou incapacidade, mas pode ser utilizado em crianças sem qualquer tipo
de problemática. Isto porque permite, sem rigidez, um leque de possibilidades e de
sugestões adaptáveis às necessidades e preferências da criança. É para ser aplicado de
forma individual e o pacote inclui o manual, os cadernos de avaliação e as tabelas de
evolução no desenvolvimento.
O Psychoeducational Profile (PEP), que tem por objetivo observar a criança a vários
níveis. O PEP está integrado no programa TEACCH e garante a determinação de um
perfil desenvolvimental e funcional de cada criança.
O PEP-R (Psychoeducational Profile – Revised) é um questionário com base num
instrumento educacional para o planeamento de programas educacionais especiais
individualizados. Avalia tanto os atrasos de desenvolvimento como os comportamentos
típicos do autismo, com o propósito de diagnóstico, baseados no CARS, devendo ser
aplicado entre os 6 meses e 12 anos de idade. Ele oferece informações relativas a sete
áreas de desenvolvimento (imitação, perceção, motora fina, motora grossa, coordenação
óculo-manual, cognição, cognitivo-verbal), envolvendo um total de 131 itens. Também
identifica níveis de anormalidades de comportamento típicas do autismo, em quatro
áreas (relacionamento e afeto; brincar e interesse por materiais; respostas sensoriais;
linguagem), num total de 43 itens. Os materiais de avaliação incluem diferentes
brinquedos e materiais pedagógicos apresentados à criança, como actividades
estruturadas de brincar e as técnicas de aplicação incluem instruções verbais, gestos,
demonstrações e ajuda física. A pessoa que está a avaliar observa, avalia e toma notas
sobre as diferentes respostas da criança durante o teste. Cada item de desenvolvimento
pode ser avaliado como: aprovado, emergente ou reprovado, enquanto os itens de
comportamento devem ser avaliados como: adequado, moderado ou grave.
No final da aplicação do teste é feita a avaliação de desenvolvimento e comportamental,
de acordo com critérios proporcionados pelo instrumento.
A Adolescent and Adult Psychoeducational Profile (AAPEP) é uma extensão do PEP-
R a grupos de adolescentes e a grupos mais velhos com atraso mental de moderado a
severo. Foca-se mais em avaliar as capacidades funcionais nas rotinas e no dia-a-dia
(casa, escola,…).
Para além dos instrumentos referidos anteriormente, existem outros instrumentos que
podem completar a avaliação da criança e funcionam como forma de despiste e
diagnóstico das perturbações do espectro autista.
ABC - MATRIX
A avaliação a crianças com PEA pode ser feita através do modelo de avaliação de
contextos, ABC - Matrix, que “providencia à criança oportunidades de aprendizagem e
desenvolvimento baseada nos seus interesses e contextos reais da vida” (Dunst, 2004).
Este modelo conceptual tem como componentes de avaliação, os contextos de
aprendizagem/ desenvolvimento:
(a) Familiar - atividades diárias e acontecimentos em que a criança e a família
participam (rotinas, tarefas, acontecimentos sociais, brincar no interior e no
exterior, tradições familiares);
(b) Vida comunitária - atividades e interações da criança e da família (ida ao
parque, atividades de recreação);
(c) Programas de intervenção precoce – aqueles que ocorrem em centros de
prestação de cuidados à criança (programa de educação pré - escolar);
(d) Características do comportamento da criança (5) -interesses e recursos,
comportamentos e interações funcionais e significativas e oportunidades de
aprendizagem e de participação. Nos interesses e recursos é importante não
esquecer que os interesses incluem a forma como a criança empreende o seu tempo
e em que atividades mantém a sua atenção; já os recursos incluem competências e
os pontos fortes da criança assim como os comportamentos como sorrir, vocalizar,
apontar, gatinhar, falar, saltar, alcançar. É de salientar que à medida que a criança
usa as suas competências para participar em diferentes atividades está a fortalecê-
las e aprender novas competências. As atividades que ocorrem nos contextos reais,
experiências diárias onde a criança despende tempo, envolvendo-se em interações
com as pessoas e objetos, providenciam oportunidades para a criança aprender e
expressar os seus interesses e recursos; adquirir comportamentos funcionais e
significativos em contextos específicos, produzir um leque variado de competências
sócio-adaptativas (Wilson e Mott, 2002).
ABC – MATRIX: Estrutura
VIDA FAMILIAR
PROGRAMAS INTERVENÇÃO
PRECOCE
VIDA COMUNITÁR
IA
Estruture a recolha de informação por:
(ESTSP.IPP, 2008)
COMPONENTES DE AVALIAÇÃO
Atividades Diárias Tomar banho
Interesses Chapinhar na águaBrincar com os barcos
Recursos ChapinharPernepear
Comportamentos funcionais e significativos
Usa as mãos e as pernas para chapinhar e para chamar a atenção dos pais
Oportunidades de Aprendizagem
O tomar banho acontece todos os dias
Participação Tem oportunidade de chapinhar e é encorajada a empurrar os barcos
INTERAÇÃO DA CRIANÇA E RECURSOS
OPORTUNIDADES DE APRENDIZAGEM E DE
PARTICIPAÇÃO
DESEMPENHO
COMPORTAMENTOS E INTERAÇÕES FUNCIONAIS E
SIGNIFICATIVAS
Possibilidade de Aprendizagem
Encorajar a criança a arrumar os barcosObservar outras atividades onde a criança tem oportunidade de chapinhar
Contexto de atividades O que é que a criança e a família fazem durante o dia?Quais são as atividades ou exercícios em que a criança e a família participam?
Intervenção da criança e família
Quais são os brinquedos, pessoas ou acontecimentos preferidos da criança?Como é que a criança e a família preferem despender o tempo?
Recursos da criança e da família
Em que é que a família e a criança são especialmente boas?Quais são os pontos fortes e competências da criança?
Interações funcionais e significativas
Como a criança inicia o brincar?Como é que a criança faz chegar onde quer?
Oportunidades Onde estão os locais que a criança tem de aceder para buscar materiais?Com quem interage a criança para brincar?
Participação Como é que a criança age durante outra atividade?De que forma a criança participa nas interações com os outros e com os objetos?
Possibilidade De que forma pensa que as oportunidades atuais podem ser expandidas?Que interações e competências e gostaria que a criança desenvolvesse?
(Wilson & Mott, 2002)
A informação pode ser recolhida através da conversação, conduzida por algumas
questões chave e é necessário ter em atenção a forma de abordagem discreta, aos
cuidadores.
Vários estudos demonstraram que o ambiente pode suportar, prevenir ou inibir o brincar
da criança, isto é mais evidente em crianças com atraso de desenvolvimento,
deficiências físicas, cognitivas ou com dificuldades de aprendizagem. O terapeuta
ocupacional tem como objectivo criar formas de promover a brincadeira através dos
recursos do ambiente, ou até modificando-o de acordo com as características da criança
(Letts, Rigby e Stewart, 2003).
Referências bibliográficas:
. ESTSP-IPP. (2008). Slides disponibilizados pela Terapeuta Mónica Maia: Avaliação dos Contextos.
. Letts, L., Rigby, P. e Stewart, D. (2003). Using Environments to Enable Occupational Performance.
Slack Incorporated: Thorofare.
. Wilson, L. e Mott, D. (2002). Assess Based Context Matrix: An assessment tool for developing
Contextually- Based Child Outcomes, Fipp-case Tools.
TPBA – AVALIAÇÃO TRANSDISCIPLINAR CENTRADA NO JOGO
O modelo TPBA centra-se naquilo que as crianças mais gostam de fazer - brincar -
observa-se a criança comprometida com as tarefas e atividades que lhe são mais
significativas. Esta avaliação deve ser feita por uma equipa que vai trabalhar no sentido
de um esforço cooperativo. É necessário também envolver os pais/educadores da
criança. Neste tipo de avaliação as vantagens são várias para todos os intervenientes.
Para a criança, a situação é menos ameaçadora e muito mais divertida. Assim, a criança
terá maior oportunidade para demonstrar uma gama mais completa de comportamentos
no seu reportório. Para os pais, o processo tem muito mais significado e torna-se menos
frustrante. Uma vez que a criança é avaliada em atividades bastante parecidas com as
que ocorrem na sua vida diária em casa, os pais podem participar ativamente. Para os
profissionais da equipa, é uma forma de observar a criança em conjunto e uma forma de
partilhar informação.
O processo permite assim, uma observação holística da criança através da avaliação
coletiva.
O TPBA envolve a criança em situações de jogo estruturadas e não estruturadas,
com um facilitador, os pais e até outra criança. É destinado à observação do
desenvolvimento nos domínios cognitivo, sócio-emocional, comunicação e linguagem e
o sensório-motor.
O processo deve ser conduzido num ambiente de brincadeira. Geralmente, usa-se uma
sala de intervenção com crianças ou uma sala de jardim-de-infância, pois são locais já
preparados com materiais que promovem o brincar. Também é possível utilizar a casa
da criança e pode-se complementar o ambiente com brinquedos e materiais trazidos pela
equipa. Uma vez que todas as áreas de desenvolvimento são avaliadas, é necessário
incluir brinquedos e recursos que facilitem a exploração, a manipulação, a resolução de
problemas, a expressão emocional e as capacidades de linguagem (Linder, 1995).
Sessão de avaliação baseada no TPBA
Uma sessão de avaliação para crianças com PEA pode ser delineada segundo uma
Avaliação Transdisciplinar Centrado no Jogo – TPBA.
O TPBA é um processo de avaliação iniciado a partir da informação revelada pelos pais
acerca do nível de desenvolvimento da criança, que é de seguida utilizada no
planeamento da sessão de brincar. Os brinquedos e materiais apropriados à idade da
criança são colocados de forma a aliciá-la a brincar, utilizando várias estratégias e
habilidades. Um dos membros da equipa atua como facilitador, encorajando a criança na
expressão das suas capacidades.
O processo é dividido em fases. Inicialmente, os pais integram a sessão com a criança e
ficam com ela até que esta se sinta confortável com o facilitador.
A fase I inicia-se com jogo não estruturado, durante o qual a criança lidera a brincadeira
e o facilitador apenas imita, modela e expande. Esta fase dura cerca de vinte minutos.
Na fase II, permite-se o jogo estruturado para incorporar aspetos que não foram
demonstrados, espontaneamente, pela criança. Nesta situação pretende-se iniciar o jogo
cooperativo com a criança, para avaliar outras competências de socialização, interação,
etc. Dura cerca de 15 minutos.
Durante a fase III introduz-se outra criança de forma a observar-se a interação entre
pares.
A fase IV destina-se à observação da interação da criança com os pais durante a
brincadeira estruturada e não estruturada. Quando os pais se retiram novamente da sala,
a equipa pode avaliar os comportamentos da criança perante a separação e reunião.
Na fase V inclui-se o jogo motor estruturado e não estruturado.
A fase final (VI) permite avaliar as competências da criança durante a alimentação,
proporciona-se um lanche para avaliar outras competências, como por exemplo a
motricidade oro-facial, a interação da criança enquanto come, etc. Se necessário, inclui-
se uma fase de vestir e/ou de higiene para se verificar outras habilidades a nível das
rotinas diárias da criança.
Por vezes, a filmagem da sessão é recomendada, pois a sua análise e comparação com a
informação recolhida, vai possibilitar documentar o progresso da criança.
Após a sessão, são seguidos determinados passos de forma a levar a equipa a definir o
plano de intervenção para a criança. Realiza-se uma reunião com o facilitador e os
observadores para se discutir impressões, partilhar informações e formular questões. De
seguida, analisa-se o vídeo, o que permite a observação de comportamentos
negligenciados durante a sessão. Posteriormente, correlacionam-se as observações e as
“guidelines” de desenvolvimento, o que vai possibilitar a determinação daquilo que a
criança já consegue fazer e, consequentemente, do que está pronta para fazer. Logo a
seguir, completam-se as folhas de sumário que acompanham as “guidelines” de
observação e desenvolve-se em equipa um plano preliminar de recomendações. De
seguida, numa reunião de equipa prepara-se o planeamento do programa. Finalmente,
escreve-se um relatório formal onde se inclui o desempenho quantitativo e qualitativo
da criança e que vai servir como base para o planeamento da intervenção (Linder,
1995).
Referências bibliográficas:
Linder T. (1995), Transdisciplinary Play-Based Assessment, Paul H. Brookes Publishing Co.
CIF
A CIF é um novo sistema de classificação inserido na Família de Classificações
Internacionais da Organização Mundial de Saúde (OMS) (World Health Organization
Family of International Classifications - WHO-FIC), constituindo o quadro de
referência universal adotado pela OMS para descrever, avaliar e medir a saúde e a
incapacidade quer ao nível individual quer ao nível da população.
A CIF e a CID-10 - Classificação Estatística Internacional das Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde - Décima Revisão, abreviadamente designada por
Classificação Internacional das Doenças - são duas classificações cruciais da WHO-
FIC, esta última utilizada sobretudo pelos sectores da Saúde. As duas classificações têm
objetivos distintos e podem ser utilizadas complementarmente. A CID-10 fornece uma
estrutura de base etiológica, proporciona um diagnóstico de doenças, perturbações ou
outras condições de saúde. A CIF classifica a funcionalidade e a incapacidade,
associadas a uma condição de saúde. Diz-nos a OMS que a CIF é uma classificação com
múltiplas finalidades, para ser utilizada de forma transversal em diferentes áreas
disciplinares e sectores: saúde, educação, segurança social, emprego, economia, politica
social, desenvolvimento de politicas e de legislação em geral e alterações ambientais.
Foi por isso aceite pelas Nações Unidas como uma das suas classificações sociais,
considerando-a como o quadro de referência apropriado para a definição de legislações
internacionais sobre os direitos humanos, bem como, de legislação nacional (Instituto
Nacional Para a Reabilitação, 2008, 13 de Novembro).
CIF mudança de paradigma
A CIF introduz uma mudança radical de paradigma, do modelo puramente médico para
um modelo Biopsicossocial e integrado da funcionalidade e incapacidade humana.
Sintetiza, assim, o modelo médico e o modelo social numa visão coerente das diferentes
perspetivas de saúde: biológica, individual e social, (CIF-OMS, 2001).
A CIF define a funcionalidade e incapacidade como conceitos multidimensionais e
interativos que relacionam:
· As Funções e Estruturas do Corpo da pessoa;
· As atividades e as tarefas que a pessoa faz e as diferentes áreas da vida nas quais
participam (Atividades e Participação);
· Os fatores do meio-ambiente que influenciam essas experiências (Fatores Ambientais).
A CIF operacionaliza o modelo Biopsicossocial da incapacidade (disability),
enfatizando a identificação das experiências de vida e das necessidades reais de uma
pessoa, assim como, a identificação das características (físicas, sociais e atitudinais) do
seu meio circundante e das condições que precisam de ser alteradas para que a
funcionalidade e participação dessa pessoa possa ser otimizada.
Substitui, assim, os modelos tradicionais de cariz biomédica baseados em diagnósticos
de deficiências (aspetos biológicos), que ao longo dos anos foram condicionando a
definição de políticas, de medidas e critérios de elegibilidade, as ações de natureza
estatística, os programas e práticas interventivas.
A funcionalidade e incapacidade de uma pessoa são concebidas como uma interação
dinâmica entre os estados de saúde (doenças, perturbações, lesões, etc.) e os fatores
contextuais (fatores ambientais e pessoais). A incapacidade não é um atributo da pessoa,
mas sim um conjunto complexo de condições que resulta da interação pessoa-meio.
Por isso, a CIF não propõe uma definição universal do que constitui uma incapacidade
(disability) nem quem deve ser considerado como tendo uma incapacidade […], mas
estabelece uma estrutura multidimensional para definir a população com incapacidades
e não uma definição única e clara.
Decorrente do modelo Biopsicossocial, a CIF tem como princípios orientadores:
· a incapacidade não é especifica de um grupo minoritário, mas sim uma experiência
humana universal;
· a incapacidade não deve ser diferenciada em função da etiologia ou de diagnósticos.
Pessoas com a mesma etiologia e diagnóstico apresentam perfis muito diferentes a nível
da execução das Atividades e da Participação;
· os domínios de classificação na CIF são neutros, permitindo expressar tanto os aspetos
positivos como negativos do perfil funcional e de participação de uma pessoa;
· os fatores Ambientais assumem um papel crucial, como facilitadores ou barreiras, na
funcionalidade e incapacidade das pessoas.
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
A CIF permite uma nova conceptualização das noções de saúde e incapacidade.
Para uma correta compreensão do quadro conceptual e do sistema de classificação e de
codificação da CIF, quer das suas implicações politicas e sociais, importa ter bem
presente qual o significado para a OMS de alguns termos e conceitos-chave:
· Funcionalidade - é o termo genérico (“chapéu”) para as funções e estruturas do corpo,
atividades e participação. Corresponde aos aspetos positivos da interação entre um
indivíduo (com uma condição de saúde) e os seus fatores contextuais (ambientais e
pessoais).
· Incapacidade (disability) - é o termo genérico (“chapéu”) para deficiências, limitações
da atividade e restrições na participação. Corresponde aos aspetos negativos da
interação entre um indivíduo (com uma condição de saúde) e seus fatores contextuais
(ambientais e pessoais).
Na CIF, o conceito de deficiência (impairment) apenas nos diz da existência ou não de
uma alteração (biomédica) na estrutura ou função do corpo da pessoa, sem que daí se
possa estabelecer uma relação causal para a sua funcionalidade/incapacidade.
A OMS define saúde como um estado global de bem-estar físico, mental e social e não a
mera ausência de doença ou de enfermidade. Importa, assim, clarificar o significado de
certas expressões da CIF que incluem o termo saúde:
· Condição de saúde – termo genérico (“chapéu”) para doenças (agudas ou crónicas),
perturbações, lesões ou traumatismos (pode também incluir outras circunstâncias como
gravidez, envelhecimento, stress, anomalia congénita, ou predisposição genética). As
condições de saúde são codificadas através da CID-10.
· Domínios da saúde referem-se às áreas de funcionalidade que são a principal
responsabilidade de um sistema de saúde, (ver, ouvir, recordar, força muscular, etc.). Os
estados de saúde são o nível de funcionalidade num determinado domínio de saúde.
· Domínios relacionados com a saúde referem-se às áreas de funcionalidade que,
embora tenham uma relação com uma condição de saúde, não são uma responsabilidade
do sistema de saúde, mas sim de outros sectores (transporte, educação, trabalho,
interacções sociais, etc.). Os estados relacionados com a saúde são o nível de
funcionalidade nestas mesmas áreas.
Os objetivos da CIF
A CIF tem como objetivo principal: proporcionar uma linguagem unificada e
padronizada que sirva como quadro de referência para a descrição da saúde e dos
estados relacionados com a saúde.
A CIF é uma ferramenta a utilizar universalmente na abordagem da incapacidade e
funcionalidade humana, proporcionando-nos:
· Um quadro conceptual de referência universal assente em bases científicas;
· Uma linguagem comum e padronizada para aplicação universal que uniformiza
conceitos e terminologias, de molde a facilitar a comunicação entre profissionais,
investigadores, pessoas com incapacidades, decisores políticos, etc.
· Um sistema de classificação multidimensional e de codificação sistemática para
documentar as experiências de vida, o perfil funcional e de participação das pessoas,
facilitando a comparabilidade entre países, entre várias disciplinas, entre serviços e em
diferentes momentos ao longo do tempo (Instituto Nacional Para a Reabilitação, 2008, 8
de Janeiro).
Componentes da CIF
O sistema de classificação da CIF é constituído por três componentes:
· As Funções e Estruturas do Corpo;
· As Atividades e Participação;
· Os Fatores Ambientais..
DEFINIÇÃO DOS COMPONENTES
Funções do Corpo – são as funções fisiológicas dos sistemas orgânicos (incluindo as
funções psicológicas ou da mente
Estruturas do Corpo – são as partes anatómicas do corpo, tais como, órgãos, membros e
seus componentes.
Deficiências – são problemas nas funções ou estruturas do corpo, tais como, um desvio
importante ou perda.
Atividade – é a execução de uma tarefa ou acção por um indivíduo.
Participação -é o envolvimento de um indivíduo numa situação da vida real.
Limitações da Atividade – são as dificuldades que um indivíduo pode ter na execução de
atividades.
Restrições de Participação – são os problemas que um indivíduo pode enfrentar quando
está envolvido em situações da vida real.
Fatores Ambientais – constituem o ambiente físico, social e atitudinal em que as
pessoas vivem e conduzem sua vida (Instituto Nacional Para a Reabilitação, 2007, 20 de
Dezembro).
A CIF para Crianças e Jovens (CIF-CJ)
Uma versão da CIF adaptada à especificidade dos períodos da infância e adolescência
foi desde logo sentida como uma necessidade, atendendo ao facto; das primeiras
décadas de vida se caracterizarem pelo rápido crescimento e desenvolvimento com
mudanças significativas no funcionamento físico, social e psicológico.
Por isso, a OMS promoveu a elaboração de uma versão da CIF para crianças e jovens
[ICF-CY] para utilização universal nos sectores da saúde, educação e social […] que
fosse sensível às mudanças associadas com o desenvolvimento e que acompanhasse as
características dos diferentes grupos etários e dos contextos [mais significativos] para as
crianças e jovens; (OMS, 2006).
Para a sua elaboração, em 2002, a OMS constituiu um grupo de trabalho, que integrou
um conjunto de peritos com a coordenação de R. Simeonsson, para a elaboração da
versão da CIF para crianças e jovens.
Esta versão, concluída recentemente, embora obedecendo à estrutura e organização da
CIF original, engloba um total de 237 novos códigos que contemplam conteúdos
específicos e detalhes adicionais relevantes na infância e na adolescência. Nesta versão
adaptada foi dado especial relevo a questões chave no desenvolvimento e crescimento
das crianças e jovens:
· A criança no contexto da família;
· O atraso de desenvolvimento;
· A participação;
· E os contextos da criança.
O termo e conceito de atraso de desenvolvimento é um aspeto crucial nesta nova versão.
Ele foi incluído na definição do qualificador genérico (que determina a gravidade e
extensão do problema) para as funções e estruturas do corpo, atividades e participação,
atendendo ao carácter relevante, sobretudo nos períodos da infância, das variações no
tempo na emergência de funções ou estruturas do corpo ou na aquisição de
competências associadas com diferenças individuais no crescimento e desenvolvimento
da criança. É crucial reconhecer o mais precocemente possível estas falhas ou
problemas, ainda que possam não ser permanentes, e identificar os fatores a elas
associados e as intervenções a introduzir (Instituto Nacional Para a Reabilitação, 2008,
26 de Maio).
Bibliografia:
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