Avaliação de complicações tardias em fraturas maxilares do ... ·...

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    Rev Fac Odontol Bauru 2002; 10(4):257-62

    Avaliao de complicaes tardias emfraturas maxilares do tipo Le FortEVALUATION OF LONG TERM COMPLICATIONS INLE FORT MAXILLARY FRACTURES

    Marcelo Silva MONNAZZIResidente do Servio de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade de Odontologia de Araraquara UNESP

    Eduardo HOCHULI-VIEIRAProfessor Assistente Doutor da Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade deOdontologia de Araraquara UNESP

    Marisa Ap. Cabrini GABRIELLIProfessor Assistente Doutor da Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade deOdontologia de Araraquara UNESP

    Mario Francisco Real GABRIELLIProfessor Titular da Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade deOdontologia de Araraquara UNESP

    Valfrido Antonio PEREIRA FILHOProfessor Assistente Doutor da Disciplina de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Faculdade deOdontologia de Araraquara UNESP

    O s autores avaliaram 36 pacientes tratados cirurgicamente de fraturas do tipo Le Fort I, II, III e associa es, com um ps-operatrio mnimo de 6 meses, procurando enumerar as principais complicaestardias deste tipo de fratura e as suas incidncias, com o objetivo de expor valores e posteriormente atentars principais complicaes e tentar reduzir a incidncia das mesmas.

    UNITERMOS: Fraturas maxilares; Fraturas cominutivas; Complicaes ps-operatrias.

    INTRODUO

    A etiologia das fraturas faciais variam de umlugar para outro e o nmero de fraturas faciais teraumentado em relao ltima dcada,1,6,17 tmsido sugerido que a violncia pessoal vem tomandoo lugar dos acidentes de trnsito como maior causade fraturas faciais11. Tambm se sabe que aspessoas jovens so particularmente maissusceptveis a terem fraturas faciais 1,8,11,15,16, e queestas fraturas esto geralmente relacionadas ao usoexcessivo de lcool 16,17.

    O tratamento das fraturas faciais sofreu umavano considervel, desde o bloqueio intermaxilarou osteossntese a fio, at a fixao interna rgida,usada nos dias atuais 2,3. A reduo aberta e fixao

    com mini ou microplacas tornaram-se um meio maisseguro e eficaz de tratamento, favorecendo aestabilidade 2,3,14.

    As fraturas do tero mdio da face so bastantecomuns, assim como as fraturas do Tipo Le Fort.Diversos estudos, de diferentes lugares, tempo emtodos de avaliao, tm sugerido incidnciasvariadas das fraturas Le Fort; Haug et al.7 (1990)relataram uma porcentagem de 11% de fraturasmaxilares em um estudo que avaliou 402 pacientesem cinco anos; Togersen et al. 16 em 1992encontraram 17% de fraturas maxilares em umestudo de trs anos com 169 pacientes, jSchortingbuys et al.13 (1999) relataram umaincidncia de 25 % de fraturas do tipo Le Fort em44 pacientes no decorrer de um ano.

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    As complicaes e seqelas tm sidoreconhecidas como uma real ocorrncia dascirurgias de correo de fraturas do tero mdio daface 8,9. Apesar da ocorrncia ser frustrante tantopara o paciente quanto para o profissional, oreconhecimento, avaliao, e a discusso abertadestes problemas so o nico meio pelo qual osclnicos podem tentar minimizar e prevenir taiscomplicaes e seqelas.

    MATERIAIS E MTODOS

    Este estudo foi realizado na Faculdade deOdontologia de Araraquara (UNESP), em pacientesque sofreram fraturas do tipo Le Fort I, II, III e/ouassociaes destas, e que foram tratadoscirurgicamente pela equipe de Cirurgia e TraumatologiaBuco-Maxilo-Facial desta Faculdade. Este estudo foiaprovado pelo Comit de tica desta unidade.

    O estudo abrangeu exame clnico detalhado econtrole radiogrfico ps-operatrio de rotina, empacientes traumatizados com o mnimo de seis mesesde controle ps-operatrio. As fraturas foramidentificadas de acordo com a localizao anatmica,idade, sexo do paciente, causa do trauma, fraturasassociadas e comprometimento sistmico.

    Para o estudo proposto, foram selecionados 40pacientes, seguindo os critrios descritosanteriormente, dos quais 36 compareceram para osexames propostos, tendo sido selecionados pacientesque sofreram fraturas no perodo de 1993 a inciode 2002. Estes pacientes foram avaliados pelomesmo examinador, considerando os seguintesaspectos clnicos e radiogrficos:

    1 - Dficit sensitivo,2 - Dficit motor,

    3 - Viso dupla,4 - M ocluso,5 - Pseudoartrose,6 - Cicatriz, decorrente das incises utilizadas,7 - Sinusite,8 - Assimetria facial,9 - Alterao de movimentos oculares,10 - Enoftalmia,11 - Exoftalmia,12 - Epfora,13 - Ectrpio,14 - Entrpio

    Os pacientes foram operados seguindo as tcnicasclssicas descritas por autores tais como Peterson etal.11(1992) e Fonseca et al.5 (1997), por meio dereduo aberta das fraturas e fixao interna rgidapreconizada pela AO 12. As incises usadas para osacessos cirrgicos foram as descritas por Ellis et al.4

    (1995), sendo as mais comuns a intra-oral, a sub-ciliar,o retalho coronal e a inciso supra-palpebral.

    RESULTADOS

    Foram selecionados para a pesquisa quarentapacientes, dos quais apenas trinta e seiscompareceram para os exames programados. Dostrinta e seis pacientes, vinte e sete eram homens enove eram mulheres. O perodo ps-operatriomdio foi de 3,4 anos, sendo seis meses o perodomnimo e nove anos o ps-operatrio mais tardio.

    A idade mdia dos pacientes avaliados foi de 35,6anos, tendo vinte anos o paciente mais jovem e setentae oito anos o mais idoso. Com relao etiologia, 81%das fraturas foram causadas por acidenteautomobilstico, 8% por agresso, 8% por queda daprpria altura e 3% por exploses (Figura 1).

    FIGURA 1 - Etiologia das Fraturas Le Fort

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    A incidncia das fraturas do tipo Le Fort foi de25% para a Le Fort I isolada, 16,6% Le Fort II,2,7% Le Fort III, 41,6% de Le Fort I e II associadas,2,7% de Le Fort II e III associadas, 2,7% de LeFort I e III associadas e 8,3% de fraturas Le Fort I,II e III associadas; sendo estas fraturas associadasou no a outras fraturas faciais (Figura 2).

    destes casos a necessidade de remoo do materialde fixao se deu em virtude de exposio intra-oral do material de fixao seguido de infeco; e8,3% foi devido a queixas de sensibilidade localaumentada, por parte do paciente, sendo feita aremoo por opo do mesmo.

    FIGURA 2 - Incidncia dos tipos de Fratura Le Fort

    Alm das fraturas do tipo Le Fort I, II, III e/ouassociaes destas, dentre os trinta e seis pacientesavaliados, ainda foram encontradas 9 fraturas docomplexo zigomtico (29%), 7 fraturas de seiofrontal (22%), 6 fraturas de mandbula (19%), 3fraturas de nariz(9%), 2 fraturas naso-orbito-etmoidais(6%), 2 fraturas Blow-out (6%), 2 fraturasde arco zigomtico (6%) e 1 fratura de colunacervical (3%). Somando um percentual de 58% deoutras fraturas faciais ou do complexo crnio-cervical associadas s fraturas do tipo Le Fort(Figura 3).

    O mtodo de osteossntese mais utilizado foi afixao interna rgida, por meio de placas eparafusos em 94,5% dos casos, sendo usado em5,5% dos casos a associao de fios de ao,juntamente com as placas e parafusos. A remoodo material de fixao, quer seja de todas as placase parafusos ou ao menos de uma placa, ocorreu em30% dos casos analisados. Sendo que em 91,6%

    FIGURA 3 - Fraturas associadas

    As complicaes tardias mais freqentementeencontradas (Figura 4), foram as seguintes:

    - Cicatrizes, em 16 casos (44,4%) , provenientesna totalidade dos casos de ferimento corto-contuso decorrente do fator etiolgico, e no dasincises aplicadas para a correo das fraturasfaciais,

    - Parestesia, em 15 casos (41,6%), aferidas pormeio de exame subjetivo e objetivo (teste desensibilidade com algodo), em reas inervadaspelo nervo infra e supra-orbital na maioria doscasos,

    - Anosmia, em 10 casos (27,7%), aferidas por meiode exame subjetivo (questionrio) e objetivo (testecom essncia de cravo),

    - Assimetria facial, em 10 casos (27,7%), sendoque em 70 % destes casos a assimetria foi notadana regio do seio frontal,

    - Dor, em 7 casos (19,4%), sendo na maioria dasvezes crises de algia decorrentes da mudanado tempo,

    - Epfora, em 6 casos (16,6%), sendo quase quena totalidade dos casos transitria. Apenas emum caso a paciente teve que ser submetida auma dacriocistorrinostomia para a correocirrgica do problema,

    - Sinusite, em 3 casos (8,3%), diagnosticadas pormeio de exame radiogrfico e exame clnico comsintomatologia positiva,

    - Ectrpio, em 3 casos (8,3%), encontrados empequeno grau, com ligeira everso e laxido daplpebra inferior, no acarretando problemasfuncionais para o paciente, apenas desconforto

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    esttico. Quando questionados a respeito dodesejo de fazer correo cirrgica, nenhumpaciente demonstrou interesse,

    - Extrao dentria, em 3 casos (8,3%), extraode um ou mais dentes devido s fraturas faciais,

    - Diplopia, em 2 casos (5,5%), sendo em todos oscasos binocular e de pequeno grau, corrigidaspor meio do uso de lentes corretivas,

    - Distopia, em 2 casos (5,5%), sendo de grau levee no acarretando prejuzo funcional para opaciente,

    - M-ocluso, em 1 caso (2,7%), encontrada emapenas um caso, provavelmente devido fraturamandibular associada, que apresentava extensacominuio, devido exploso de um pneuprximo ao rosto do paciente,

    - Enoftalmia, em 1 caso (2,7%), tambm presenteem somente um caso (o mesmo do item anterior),sendo em pequeno grau, no proporcionandoprejuzo funcional para o paciente,

    - Entrpio, em 1 caso (2,7%), apresentando umaleve inverso da plpebra inferior, responsvelpor uma ligeira irritao conjuntival.

    FIGURA 4 - Incidncia das com