AVALIAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE BLOCOS CERÂMICOS POR ...

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Revista Técnico-Científica do CREA-PR - ISSN 2358-5420 edição especial - agosto de 2016 - página 1 de 16 AVALIAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE BLOCOS CERÂMICOS POR MEIO DO CONTROLE ESTATÍSTICO DO PROCESSO Fabíola Kaczam (Graduanda em Engenharia de Produção, UTFPR, Medianeira PR); [email protected] Rafael Vieira dos Santos (Graduando em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, UTFPR, Medianeira PR) José Airton Azevedo dos Santos (Professor Doutor, UTFPR, Medianeira PR) Edna Possan (Professora Doutora, UNILA, Foz do Iguaçu PR) Carla Adriana Pizarro Schmidt (Professora Doutora, UTFPR, Medianeira PR) Resumo: O Controle de Processo é importante para as indústrias a ponto da qualidade ser descrita por alguns autores como inversamente proporcional à variabilidade, dessa forma a busca por padronização e redução na variabilidade dos processos produtivos deve ser a meta das indústrias que pretendem alcançar a excelência em termos de qualidade total. O objetivo deste estudo foi conhecer o processo produtivo e avaliar os atributos físicos de Blocos Cerâmicos fabricados por uma indústria, por meio da construção de Gráficos de Controle Estatístico de Processo por variáveis. Foram amostrados 130 Blocos Cerâmicos nos quais foram coletadas as medidas de massa, espessura, diâmetro do furos, largura, comprimento e altura. Em seguida, os Gráficos de Controle foram construídos. Ao analisá- los, percebeu-se que todos os itens avaliados estiveram sob controle dentro do processo estudado. Palavras-chave: Controle de Qualidade, Engenharia de Processos, Cerâmica Vermelha. EVALUATION OF CERAMIC BLOCKS PRODUCTION PROCESS THROUGH OF STATISTICAL CONTROL PROCESS Abstract: The process control is important for industries to quality point is described by some authors as inversely proportional to the variability, thus the search for standardization and reduction in variability of production processes should be the goal of the industries that

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AVALIAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE BLOCOS

CERÂMICOS POR MEIO DO CONTROLE ESTATÍSTICO DO

PROCESSO

Fabíola Kaczam (Graduanda em Engenharia de Produção, UTFPR, Medianeira – PR); [email protected]

Rafael Vieira dos Santos (Graduando em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, UTFPR, Medianeira – PR)

José Airton Azevedo dos Santos (Professor Doutor, UTFPR, Medianeira – PR) Edna Possan (Professora Doutora, UNILA, Foz do Iguaçu – PR)

Carla Adriana Pizarro Schmidt (Professora Doutora, UTFPR, Medianeira – PR)

Resumo: O Controle de Processo é importante para as indústrias a ponto da qualidade ser

descrita por alguns autores como inversamente proporcional à variabilidade, dessa forma a

busca por padronização e redução na variabilidade dos processos produtivos deve ser a

meta das indústrias que pretendem alcançar a excelência em termos de qualidade total. O

objetivo deste estudo foi conhecer o processo produtivo e avaliar os atributos físicos de

Blocos Cerâmicos fabricados por uma indústria, por meio da construção de Gráficos de

Controle Estatístico de Processo por variáveis. Foram amostrados 130 Blocos Cerâmicos

nos quais foram coletadas as medidas de massa, espessura, diâmetro do furos, largura,

comprimento e altura. Em seguida, os Gráficos de Controle foram construídos. Ao analisá-

los, percebeu-se que todos os itens avaliados estiveram sob controle dentro do processo

estudado.

Palavras-chave: Controle de Qualidade, Engenharia de Processos, Cerâmica Vermelha.

EVALUATION OF CERAMIC BLOCKS PRODUCTION PROCESS

THROUGH OF STATISTICAL CONTROL PROCESS

Abstract: The process control is important for industries to quality point is described by

some authors as inversely proportional to the variability, thus the search for standardization

and reduction in variability of production processes should be the goal of the industries that

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aim to achieve excellence in terms total quality. The aim of this study was to evaluate the

production process and the physical attributes of Ceramic Blocks manufactured by an

industry, by building Statistical Process Control Graphs for variables. Were sampled 130

Ceramic Blocks in which it was collected measurements of weight, thickness, hole diameter,

width, length and height. Then, the Control Charts were built. By analyzing them, it was

observed that all the evaluated items have been under control within the studied process.

Keywords: Quality Control, Process Engineering, Red Ceramic.

1. INTRODUÇÃO

O Bloco Cerâmico é um dos componentes básicos da construção de alvenaria, seja ela de

vedação ou estrutural. A produção se dá, essencialmente, por meio do tratamento e

conformação da Argila. Em geral, as peças produzidas possuem a forma de paralelepípedo,

de coloração avermelhada, com furos ao longo do seu comprimento. Os Blocos de Vedação

são aqueles destinados à execução de paredes que suportarão o próprio peso e pequenas

cargas de ocupação (armários, pias, lavatórios) e geralmente são utilizados com os furos na

posição horizontal (ANICER, 2002).

A produção cerâmica é feita, em sua maioria, por empresas de pequeno e médio

porte, de capital nacional (NUNES E RESENDE, 2013). Estas empresas empenham-se em

apresentar produção para atender a demanda do mercado. Entretanto, muitas delas, não

atendem os critérios de qualidade estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT) e pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

(INMETRO).

Sendo assim, para auxiliar o setor industrial, o Sindicato das Indústrias Cerâmicas

(SINDICER), a Associação Brasileira de Cerâmica (ABC), o Centro Cerâmico do Brasil

(CCB), dentre outras instituições, têm realizado esforços a fim de mobilizar do setor,

incentivando o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas, visando a certificação de seus

produtos por meio de procedimentos estabelecidos pelo Programa Setorial de Qualidade de

Blocos Cerâmicos PSQ-BC, (ANICER, 2010).

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A qualidade e o desempenho1 das alvenarias, afeta diretamente os subsistemas dos

edifícios como: estruturas, instalações, esquadrias, revestimentos e impermeabilização.

Além disso, tem influência na vida útil, nos custos de execução e manutenção das

edificações.

Samohyl (2009), explica que a importância da aplicação do Controle Estatístico de

Processos é a produção com menor variabilidade propiciando níveis melhores de qualidade,

o que, por sua vez, também representa menores custos. A redução dos custos é de

primordial importância para as indústrias sendo, portanto, o principal motivo da busca pela

implantação do controle estatístico nos processos produtivos.

Devido à importância da qualidade da produção cerâmica para a Construção Civil, o

objetivo deste estudo foi o de conhecer, acompanhar e investigar o processo de produção

de Blocos Cerâmicos de Vedação, fabricados por uma indústria da Região Oeste do Estado

do Paraná, por meio da descrição das etapas do processo, levantamento de dados e

construção de Gráficos Estatísticos de Controle da Massa, Espessura, Diâmetro (dos furos)

e Dimensões Geométricas Efetivas (Largura, Altura e Comprimento), com vistas a conhecer

os valores médios e os limites inferiores e superiores que a indústria tem alcançado ao

longo de sua produção para esses atributos do produto.

2. METODOLOGIA

Inicialmente, a produção foi acompanhada e todos os aspectos do processo produtivo foram

estudados com base nas literaturas da área, com vistas a observar as possiveis

interferências existentes nos controles estabelecidos. A indústria em estudo produz dois

tipos de Bolcos Cerâmicos para Vedação, porém escolheu-se apenas um como objeto de

estudo, com as seguintes Dimensões Geométricas Efetivas: Largura (90 mm), Altura (140

mm) e Comprimento (240 mm), como ilustra a Figura 1.

1 Segundo a NBR 15575: 2013, Desempenho é “comportamento em uso”

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Figura 1- Bloco Cerâmico de Vedação

Os dados coletados para análise foram as massas (em kg), por meio do uso de uma

balança e, as medidas de Diâmetro dos Furos, Espessura, Comprimento, Altura e Largura

(em mm), com auxílio de um paquímetro. Os valores foram registrados em uma Planilha

Eletrônica Microsoft® Excel.

De acordo com Ryan (2011), a amostragem mínima necessária para construção de

Gráficos de Controle é de 100 peças, sendo que o uso de valores médios é o mais indicado

por, quase sempre, obedecerem aos pressupostos de normalidade dos dados pois, de

acordo com o teorema do limite central, a média de uma amostra de n elementos de uma

população tende a distribuição normal.

Sendo assim, o pressuposto da normalidade foi avaliado antes da construção dos

Gráficos de Controle, com auxílio do software Gretl por meio do teste de Doornik-Hansen. A

hipótese nula (H0) deste teste afirma que os dados provêm de uma distribuição normal,

contra a hipotése alternativa (H1), para a qual, os dados não provêm de uma distribuição

normal. A análise das hipóteses é feita com base no p-valor e no nível de significância (α):

Se p-valor ≤ α, rejeita-se H0;

Se p-valor > α, não rejeita-se H0.

O p-valor pode ser interpretado como o menor valor do nível de significância (α), para

o qual rejeitamos H0. Desta forma, se o nível de significância (α) proposto for menor que o p-

valor, H0 não é rejeitada, ou seja, é possível afirmar que os dados seguem uma distribuição

normal. O nível de significância (α) indica a probabilidade de rejeitar H0,quando esta é

verdadeira (PORTAL ACTION, 2016). Para este estudo utilizou-se o valor de α igual a 5%.

Para utilizar os Gráficos de Controle, de maneira que os limites dos mesmos possam

ser considerados confiáveis, é necessário que as observações do processo sejam

normalmente distribuídas e independentes entre si.

Os Gráficos de Controle tem como objetivo, auxiliar a identificar se a característica de

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qualidade de interesse sofre desvios do valor alvo, causando desajustes no processo. A

representação gráfica destas características, para o monitoramento da média, quando a

distribuição é simétrica em torno da média, consiste em três linhas horizontais. A linha

central, denominada Limite Central (LC), representa o valor alvo do processo, isto é, o valor

médio da característica de interesse. As outras duas linhas, equidistantes ao LC, são

denominadas de Limite Superior de Controle (LSC) e Limite Inferior de Controle (LIC)

(MONTGOMERY, 2004). O cálculo dos limites LSC, LC e LIC, envolve as Equações 1, 2 e

3.

(1)

(2)

(3)

Onde, μ0 é o valor alvo do processo sob controle (a média das amostras), k é uma

constante que indica a largura do intervalo (geralmente é tomado o valor 3 para k) e

indica o desvio padrão da média.

A norma NBR 15.270-1:2005 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),

intitulada “Componentes cerâmicos Parte 1: Blocos Cerâmicos para Alvenaria de Vedação

— Terminologia e Requisitos”, também estabelece condições para a análise das amostras.

Para cada lote (1.000 a 100.000 unidades) devem ser coletadas 13 amostras para análise

(ABNT, 2005).

Para atender, tanto as necessidades estatísticas, quanto norma NBR15.270-1:2005,

como a undústria possui fornos com capacidade unitária de 20.000 peças, optou-se por

coletar 13 peças a cada lote de produção de 20.000 unidades, o mesmo foi realizado ao

longo da produção de 10 lotes, totalizando 130 peças. Os valores médios foram obtidos com

base nas 10 repetições do processo, pelos dados de uma peça de cada lote, escolhida

aleatoriamente, objetivando ao final ter a representação da média geral do processo

produtivo da empresa.

A construção dos Gráficos de Controle e obtenção dos valores médios e limites

superiores e inferiores de produção foram realizados com o auxílio do software Action Stat®

3.0. Os valores obtidos nos gráficos foram, sempre que possível, comparados com os

valores padrão descritos para esse produto pela norma NBR15.270-1:2005 da ABNT

(ABNT, 2005), ou com valores obtidos em outros estudos presentes na literatura científica.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a realização de qualquer estudo de Controle Estatístico de Processos é importante o

conhecimento e acompanhamento da realidade do processo produtivo, com vistas a

conhecer suas etapas e todos os pontos que podem interferir nos itens que estão sendo

controlados. Para tanto, o Fluxograma do processo produtivo foi elaborado, como ilustra a

Figura 2.

A formulação da massa é feita, geralmente, de maneira empírica. A mistura é

composta por uma Argila “gorda”, caracterizada pela alta plasticidade, granulometria fina e

composição essencialmente de argilominerais, e por uma Argila “magra”, rica em quartzo e

menos plástica, que pode ser caracterizada como um material redutor de plasticidade, que

permite a drenagem adequada das peças nos processos de secagem e queima (JUNIOR; et

al, 2005).

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Figura 2 – Fluxograma do Processo Produtivo dos Blocos Cerâmicos de Vedação

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Segundo Junior et al. (2005), busca-se, por meio dessa mistura, a composição de uma

massa com as seguintes características:

a. Plasticidade: Propicia a moldagem das peças;

b. Resistência mecânica à massa verde e crua: Confere coesão e solidez às

peças moldadas, permitindo a sua trabalhabilidade na fase pré-queima;

c. Fusibilidade: Favorece a sinterização e, consequentemente, a resistência

mecânica e a diminuição da porosidade;

d. Drenagem: Facilita a retirada de água e a passagem de gases durante a

secagem e queima, evitando trincas e agilizando o processo;

e. Coloração das peças: A presença de corantes naturais (óxidos de ferro e

manganês) atribui cores às peças cerâmicas.

Estudos realizados pela MINEROPAR (2007), comprovam que a preparação das

Argilas, a fim de homogeneizar a composição da massa, corrigir a granulometria e remover

ou destruir materiais indesejáveis, é a etapa que mais tem influência na qualidade do

produto cerâmico.

A Extração de Argila ocorre a céu aberto, preferencialmente, em períodos de pouca

precipitação. Pode ser realizada manualmente ou com auxílio de escavadeiras, pás

carregadeiras, trator de esteira com lâmina, entre outros equipamentos. Após a Extração,

deve-se armazenar a Argila em pequenos montes cobertos com lona plástica para acelerar

o processo de decomposição da matéria orgânica (MINEROPAR, 2007).

A preparação da massa consiste na homogenização (mistura) dos diferentes tipos de

Argila, além da adição de água. Geralmente são utilizados Misturadores Horizontais com fila

dupla de pás helicoidais, como ilustra a Figura 3. O Laminador também proporciona uma

excelente homogenização, é composto de dois cilíndros, como ilustra a Figura 4, que com

velocidades diferentes proporcionam atrito e desintegram a Argila, funcionando como

homogeneizador e triturador ao mesmo tempo (SANTOS, 2006).

A qualidade da Laminação é determinante para a qualidade do acabamento dos

produtos, evita perdas e contribui para a redução no consumo de energia na queima,visto

que a granulometria do material diminui (NUNES E RESENDE, 2013).

Após a Laminação, inicia-se a etapa de conformação da massa argilosa, na qual se dá

o formato final ou parcial para as peças. Segundo Santos (2006), os métodos

tradicionalmente empregados para a conformação dos produtos cerâmicos são: Tornearia,

Extrusão e Prensagem. No caso da Cerâmica Vermelha, é comum a utilização do Método

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de Extrusão na produção de Blocos Cerâmicos.

A Extrusão consiste em forçar, por pressão, a massa homogeneizada (também

chamada de “lesma”) a passar através de uma Boquilha apropriada ao tipo de peça a ser

produzida. A Extrusora, também conhecida por “maromba” (Figura 5), recebe a massa

preparada para ser compactada e forçada, por meio de um pistão ou eixo helicoidal, através

da Boquilha (Figura 6). Assim, obtém-se a coluna de argila extrudada (Figura 7) que, por

meio de um cortador, recebe cortes de acordo com a dimensão desejada para os Blocos

Cerâmicos (NUNES E RESENDE, 2013).

Após o corte, os Blocos Cerâmicos são acondicionados em vagonetas de ferro que,

com o auxílio de empilhadeiras, são transportadas até as estufas. Inicia-se assim, o

processo de Secagem.

Figura 3 – Misturador

Figura 4 – Laminador

Figura 5 - Extrusora à Vácuo

Figura 6 - Boquilha de

9 cm x 14 cm com 6 Furos

Figura 7 - Argila Extrudada

Os processos de Secagem podem ser naturais ou artificiais. Nos naturais, as peças

são expostas ao ar ambiente, sendo protegidas do vento e dos raios solares. Já os

artificiais, que podem ser contínuos ou intermitentes, em geral aproveitam o calor dos fornos

de queima, otimizando o consumo de energia.

De acordo com Santos (2006), o funcionamento da maioria dos secadores cerâmicos

é baseado no processo de convecção, que sofre influência de diversos fatores, sendo os

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principais: a temperatura do ar, a umidade relativa do ar de secagem, a velocidade do ar, a

espessura e a permeabilidade da peça submetida ao processo de Secagem.

No caso dos Secadores Estáticos, também conhecidos como Estufas ou Secadores de

Câmara, os produtos não se movimentam e a vazão de ar, assim como, a temperatura

sofrem variações ao longo do tempo. Estes secadores têm a função de elevar a temperatura

incial ambiente do material cru, a uma temperatura de aproximadamente 100°C. O período

de permanência das peças nas Estufas é definido pelo ceramista, com base nas

experiências de produção.

É durante o processo de Queima, também conhecido como Cozimento ou Cocção,

que os Blocos Cerâmicos adquirem as propriedades finais. Trata-se da fase onde ocorrem

as transformações físico-químicas (variações da estrutura química e cristalina) e mecânicas

(dilatação, porosidade e resistência mecânica), sofridas pelas argilas devido à ação do fogo

(SANTOS, 2006).

O material cerâmico é queimado a temperaturas de 750°C a 1.000 °C, passando pelos

estágios de pré-aquecimento (até 200 °C), fogo fraco (entre 200°C e 600°C), fogo forte (de

600°C até a temperatura máxima de queima), sustentação da temperatura e resfriamento

(MINEROPAR, 2000).

Os fornos variam em tamanho e em nível de aproveitamento do calor. Em um forno do

tipo Abóboda, por exemplo, leva-se cerca de cinco dias entre enfornar as peças, queimá-las,

resfriá-las e desenforná-las. Já, em um Forno Túnel, o processo é mais rápido, leva 36

horas (MINEROPAR, 2000).

As quedas de temperatura durante o período de resfriamento devem ocorrer

lentamente, especialmente entre 600°C e 350°C, onde ocorrem as trincas (SANTOS, 2006).

Finalizado o processo de Queima, os Blocos Cerâmicos, devidamente resfriados,

estão prontos para a comercialização porém, antes, devem passar pelo controle de

qualidade a fim de verificar a conformidade com as normas técnicas vigentes.

De acordo com os resultados, apresentados na Figura 8, para as médias dos 6

atributos, avaliados em cada um dos 130 Blocos Cerâmicos, os atributos que mais se

adequaram à distribuição normal foram a Largura e Diâmetro dos Furos, enquanto a

Espessura foi o atributo que menos se adequou. Contudo, todos os atributos atenderam ao

pressuposto da normalidade, possibilitando a construção dos Gráficos de Controle para

todas as 6 variáveis acompanhadas ao longo do processo produtivo dos 10 lotes.

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Figura 8 – Histogramas de distribuição dos valores obtidos nas 13 médias, resultantes das 10

repetições do processo de produção da empresa para os seis atributos dos Blocos Cerâmicos

acompanhados

Na sequência, foram construídos os Gráficos de Controle pertinentes as 6 variáveis

acompanhadas e, podem ser visualizados nas Figuras 9 a 14.

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Figura 9 – Gráficos de controle de média e do Desvio Padrão das Massas dos Blocos Cerâmicos.

Figura 10 – Gráficos de controle de média e do Desvio Padrão do Diâmetro dos Blocos Cerâmicos.

Figura 11 – Gráficos de Controle de Média e do Desvio Padrão da Espessura dos Blocos Cerâmicos.

Figura 12 – Gráficos de Controle de Média e do Desvio Padrão do Comprimento dos Blocos Cerâmicos.

Figura 13 – Gráficos de Controle de Média e do Desvio Padrão da Altura dos Blocos Cerâmicos.

Figura 14 – Gráficos de Controle de Média e do Desvio Padrão da Largura dos Blocos Cerâmicos.

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Ao observar os Gráficos de Controle notou-se que, tanto a média quanto o desvio

padrão (para cada uma das 13 médias, resultantes de 10 repetições do processo, para

todos os atributos acompanhados) estiveram sob controle, não saindo dos limites de

controle previamente estabelecidos. Isso nos leva a concluir que o processo estudado está

isento de causas especiais pois, tanto os gráficos da média quanto os gráficos do desvio

padrão, não apresentam grande variabilidade.

Costa, Epprecht e Carpinetti (2012), explicam que os limites de especificação não

podem ser confundidos com os limites naturais do processo, ou, com os valores indicados

como Limites Superiores e Inferiores de Controle, apresentados na Tabela 1.

Os mesmos autores explicam, ainda, que mesmo que os processos estejam sob

controle, podem não ser capazes. Assim como, processos capazes podem não estar sob

controle. A verificação da capacidade do processo, ou seja, do atendimento aos limites de

especificação (exigidos pelas normas), se dá por meio da análise de capacidade.

Tabela 1 – Valores calculados pelo software Action Stat® para a média e os limites de controle do

processo da empresa para o gráfico de Média (X-Barra) e para o Desvio Padrão do Processo

Valores Obtidos para o Gráfico X-Barra para os Atributos Acompanhados

Massa Diâmetro Espessura Comprimento Altura Largura

Limite Superior 2,636 35,277 11,791 241,423 144,622 93,904

Linha de centro 2,563 33,164 9,759 237,923 142,031 91,726

Limite Inferior 2,491 31,051 7,727 234,423 139,440 89,547

Valores Obtidos para o Gráfico do Desvio-Padrão para os Atributos Acompanhados

Massa Diâmetro Espessura Comprimento Altura Largura

Limite Superior 0,127 3,718 3,576 6,159 4,559 3,833

Linha de centro 0,074 2,167 2,084 3,588 2,656 2,233

Limite Inferior 0,021 0,615 0,591 1,018 0,754 0,634

Mesmo não podendo afirmar sobre a capacidade do processo, ao comparar os valores

médios obtidos para as Dimensões Geométricas Efetivas de Comprimento, Altura e Largura

e seus limites (Figura 12, 13 e 14 respectivamente), é possível verificar que estes valores

obedecem ao limite de tolerância especificado pela norma NBR15.270-1:2005 da ABNT

(ABNT, 2005), que indica um limite de 3 mm para valores médios.

A medida nomeada como “Espessura” refere-se a medida das Paredes Externas dos

Blocos Cerâmicos. A norma NBR 15.270-1 estabelece que o valor mínimo para as mesmas

é de 7 mm. A Tabela 1, mostra que o Limite Inferior de Controle (LIC) é de 7,727 mm, no

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Histograma da Espessura (Figura 8), também é possível verificar que não existem valores

inferiores a 7 mm. Sendo assim, pode-se dizer a exigência mínima estabelecida pela norma,

é atendida.

Neste trabalho, também foram analisadas as Massas e o Diâmetro dos Furos dos

Blocos Cerâmicos, a fim de complementar a análise das peças produzidas pela indústria.

Embora estes atributos estejam sob controle (Figuras 9 e 10), as medidas não são

padronizadas pelas entidades competentes tais como, a ABNT e o INMETRO.

A variabilidade dos resultados obtidos pode ser verificada nos gráficos de desvio

padrão. Ao observar os gráficos para os valores de desvio padrão do Diâmetro, Espessura,

Altura e Largura (Figuras 10, 11,13 e 14) , é possivel notar que, pelo menos um ponto

ultrapssa a linha de dois desvios, indicando que, para esses atributos, uma maior

variabilidade foi observada.

Segundo Samohyl (2009), os Gráficos de Controle podem ser atualizados

mensalmente e novos limites calculados, propriciando monitoramento contínuo do processo

e, consequentemente, dos parâmetros que determinam a qualidade do mesmo.

4. CONCLUSÕES

O entendimento do processo foi muito importante dentro do contexo da realização deste

estudo. O conhecimento das matérias primas, equipamentos e etapas produtivas trouxeram

o embasamento necessário, para o acompanhamento e escolha da forma de realização das

coletas de dados e posterior construção dos Gráficos de Controle.

Com base nos valores de Limite Inferior de Controle (LIC) e Limite Superior de

Controle (LSC) encontrados, percebeu-se que todos os atributos analisados, em média,

estiveram sob controle ao longo do processo produtivo e em conformidade com os valores

previstos pela norma.

Os Gráficos de Controle construídos para os valores de desvio padrão também

estiveram sob controle, indicando uma variabilidade baixa para o processo. Contudo, para

confirmar a capacidade produtiva do processo, uma análise de capacidade do mesmo se faz

necessária.

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REFERÊNCIAS

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