Avaliação e Caraterização por Métodos Computacionais de...

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Francisco Diogo Carvalho Guerra Liberal Avaliação e Caraterização por Métodos Computacionais de Diferentes Radioisótopos no Contexto da Terapia Paliativa de Metástases Ósseas Julho 2013

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  • Francisco Diogo Carvalho Guerra Liberal

    Avaliação e Caraterização por

    Métodos Computacionais de

    Diferentes Radioisótopos no

    Contexto da Terapia Paliativa de

    Metástases Ósseas

    Julho 2013

  • Avaliação e Caracterização por Métodos

    Computacionais de Diferentes Radioisótopos no

    Contexto da Terapia Paliativa de Metástases

    Monografia do Curso de Mestrado em Engenharia Biomédica da

    Universidade do Porto

    Francisco Diogo Carvalho Guerra Liberal

    Licenciado em Engenharia Biomédica pela Universidade

    de Trás-os-Montes e Alto Douro (2013)

    Orientador:

    João Manuel R. S. Tavares

    Professor Associado do Departamento de Engenharia

    Mecânica da Faculdade de Engenharia da

    Universidade do Porto

    Coorientador:

    Adriana Alexandre S. Tavares

    Investigadora da Molecular Neurolmaging (MNI), LLC New

    Haven, Connecticut, USA

  • Agradecimentos

    Ao Professor João Manuel R. S. Tavares pela orientação e disponibilidade fornecidos ao

    longo deste trabalho, fundamentais para a correta elaboração do mesmo.

    A Dr.ª. Adriana Alexandre S. Tavares pelo apoio prestado a este trabalho, bem como,

    pelo auxílio e ajuda fornecida para a realização do mesmo.

    E a todos aqueles de que forma direta e indireta contribuíram de forma positiva para o

    desenvolvimento deste trabalho.

  • Sumário

    O objectivo principal do presente trabalho (Avaliação e Caraterização por Métodos

    Computacionais de Diferentes Radioisótopos no Contexto da Terapia Paliativa de

    Metástases Ósseas) é determinar o eventual impacto de alguns radiofármacos

    utilizados atualmente em terapias paliativas ou em testes clínicos, através do recurso a

    métodos computacionais de forma a realizar uma análise comparativa entre os

    diferentes radioisótopos disponíveis.

    Sabe-se que um agente ideal para radioterapia tumoral dirigida deve apresentar, entre

    outras características, semi-vida física entre 30 minutos e 10 dias, nuclídeos filhos

    estáveis (semi-vida superior a 60 dias) e química adequada a captação pelo tecido

    ósseo.

    A radioterapia interna com utilização de radioisótopos tem sido amplamente utilizada

    para terapia paliativa das metástases ósseas, encontrando-se múltiplos radioisótopos

    em utilização como, Samário-153, o Estrôncio-89, o Rénio-186 e 188, o Fósforo-32, o

    Tecténio-99m, o Hólmio-166, o Estanho-117m, o Lutécio-177, o Samário-153 e o

    Rádio-223.

    Para a realização da Dissertação final de Mestrado é necessário proceder a uma

    recolha e pesquisa bibliográfica de estudos científicos desenvolvidos nesta área de

    interesse, bem como, da informação sobre algumas técnicas a utilizar para a execução

    prática do trabalho envolvido, dais quais se destaca os simuladores radiobiológicos

    desenvolvidos pelo Prof. Robert Stewart da Universidade de Washington, sendo eles,

    Monte Carlo Damage Simulaton (MCDS), Monte Carlo Excision Repair (MCER) e o

    Virtual Cell (VC), que em conjunto realizam uma simulação detalhada dos efeitos

    biológicos da radiação a nível celular e molecular.

    Uma vez finalizada essa pesquisa, realiza-se a definição do projeto a desenvolver,

    nomeadamente pela abordagem ao protocolo a utilizar, os dados mais importantes

    para a realização das simulações. Serve o presente documento como planificação dos

    Trabalhos Práticos a realizar no âmbito desta Dissertação

  • Índice

    1.1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 14

    1.2. PRINCIPAIS OBJETIVOS ........................................................................................................... 15

    1.3. ESTRUTURA ORGANIZATIVA .................................................................................................. 16

    1.4. CONTRIBUIÇÕES PRINCIPAIS .................................................................................................. 17

    2.1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 21

    2.2. PRINCÍPIOS DO CICLO CELULAR .............................................................................................. 22

    2.3. CINÉTICA CELULAR ................................................................................................................. 24

    2.4. APOPTOSE E NECROSE ........................................................................................................... 26

    2.5. SUMÁRIO ............................................................................................................................... 28

    3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 32

    3.2 EFEITOS CELULARES DA RADIAÇÃO ............................................................................................. 33

    3.3 EFEITOS DIRETOS E INDIRETOS DA RADIAÇÃO ............................................................................ 34

    3.4 TIPO DE DANOS E DESTINO DAS CÉLULAS RADIOINDUZIDOS ...................................................... 36

    3.4.1. MÉTODO DE CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES AO ADN .................................................................................. 37

    3.5 MECANISMOS DE REPARAÇÃO DO ADN ..................................................................................... 38

    3.6 CURVAS DE SOBREVIDA .............................................................................................................. 41

    3.7 SUMÁRIO .................................................................................................................................... 43

    4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 47

    4.2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS RADIOISÓTOPOS ................................................................. 48

    4.2.1 FÓSFORO-32 ................................................................................................................................... 49

    4.2.2 ESTRÔNCIO-89 ................................................................................................................................. 49

    4.2.3 ÍTRIO-90 ......................................................................................................................................... 50

    4.2.4 ESTANHO-117M ............................................................................................................................... 50

    4.2.5 SAMÁRIO-153 ................................................................................................................................. 51

    4.2.6 HÓLMIO-166 ................................................................................................................................... 52

    4.2.7 TÚLIO-170 ...................................................................................................................................... 52

    4.2.8 LUTÉCIO-177 ................................................................................................................................... 53

  • 4.2.9 RÉNIO-186 ...................................................................................................................................... 53

    4.2.10 RÉNIO-188 ............................................................................................................................ 54

    4.2.11 RÁDIO-223 ............................................................................................................................ 54

    4.3 SUMÁRIO .................................................................................................................................... 55

    5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 59

    5.2 SIMULADORES ............................................................................................................................ 59

    5.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS .................................................................................................. 61

    5.4 MONTE CARLO DAMAGE SIMULATION – MCDS .......................................................................... 62

    5.4.1 INFORMAÇÃO DE ENTRADA E SAÍDA ...................................................................................................... 66

    5.5 MONTE CARLO EXCISION REPAIR – MCER ................................................................................... 68

    5.5.1 INFORMAÇÃO DE ENTRADA E SAÍDA ...................................................................................................... 72

    5.6 VIRTUAL CELL - VC....................................................................................................................... 73

    5.6.1 INFORMAÇÃO DE ENTRADA E SAÍDA ...................................................................................................... 75

    5.7 SUMÁRIO .................................................................................................................................... 79

    6.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 84

    6.2 PROCEDIMENTOS ....................................................................................................................... 84

    6.3 SUMÁRIO .................................................................................................................................... 93

    7.1 CONCLUSÕES FINAIS ................................................................................................................... 97

    7.2 PERSPETIVAS FUTURAS ............................................................................................................... 98

  • Capítulo 1

    Introdução ao Trabalho e Estrutura

    da Monografia

  • 1.1. Introdução

    As metástases ósseas são uma das mais importantes complicações associada ao

    desenvolvimento e proliferação de células malignas. Estas são também um dos

    maiores problemas que um doente com cancro pode experienciar, sendo que cerca de

    80-100% dos doentes que morrem de cancro da próstata, mama e pulmão possuem

    metástases ósseas. De entre esses doentes, mais de 75% experienciam significativas

    dores ósseas e 50 % dos mesmos reportam analgia inadequada [13].

    O alívio dos sintomas induzidos pelas metástases ósseas pode ser conseguido por via

    de um tratamento de corpo inteiro ou meio corpo com feixes de radiação externo de 8

    Gy, com uma taxa de sucesso a rondar os 80%. Contudo com o uso desta modalidade

    de irradiação corporal externa, todos os tecidos do corpo estão expostos a elevados

    níveis de radiação de forma semelhante, o que pode causar efeitos secundários

    consideráveis, em particular para os tecidos saudáveis que se encontram à volta do

    tecido tumoral maligno [8].

    A terapia com radiofármacos é menos invasiva, tipicamente melhor tolerada e produz

    resultados no alívio da dor óssea, com a vantagem de limitar a exposição da radiação

    aos tecidos alvos [15]. Contudo, estudos são necessários para investigar,

    nomeadamente, quais as melhores vias de administração, dose, frequência de

    administração e radioisótopos que resultarão numa melhor captação do radiofármaco

    por parte do tecido alvo [8, 13].

    Atualmente vários estudos têm vindo a apresentar dados favoráveis ao tratamento

    paliativo de metástases ósseas quando este é aplicado em estados menos avançados

    da doença oncológica e muitos radiofármacos novos têm sido apontados como tendo

    elevado potencial terapêutico [13]. Outros estudos têm demonstrado que os

    radioisótopos que decaem por emissão de partículas β- e por captura eletrónica são os

    que apresentam maior potencial terapêutico, bem como, alguns radioisótopos com

    decaimento α, como o caso do rádio-223, onde a sua elevada energia é depositada

    num volume muito reduzido [10, 17].

    Irradiação de células tumorais com recurso a partículas radioativas como as acima

    mencionadas, por via de uso de radiofármacos, pode induzir lesões na estrutura do

  • ADN da célula alvo, as quais podem subsequentemente levar à morte da mesma por

    um processo de morte celular programada designado de apoptose [13]. Tal resultaria

    numa destruição seletiva de células tumorais por um processo de morte celular

    controlado. Uma variedade de fatores contribui para a eficiência dos radiofármacos,

    dado que os efeitos da radiação nas células é um processo complexo e vários esforços

    têm vindo a ser realizados para melhor compreender todo este processo através de

    estudos in vitro e in vivo, bem como avanços científicos na área da radiobiologia. Para

    além disso, nos últimos anos têm vindo a ser desenvolvidos, com sucesso, vários

    simuladores computacionais que têm vindo a acelerar a obtenção de resultados in

    silico e melhorar o conhecimento científico atual na área de radiobiologia celular,

    nomeadamente na área de efeitos da radiação ionizante em células.

    1.2. Principais Objetivos

    Estudos e publicações recentes documentam o interesse da terapia com recurso a

    radiação, com múltiplas aplicações na área oncológica, constituindo assim um tema

    em voga nos dias de hoje. Neste sentido, os estudos radiobiológicos, como os que se

    pretendem realizar, são absolutamente pertinentes e necessários para de uma forma

    simples e barata melhor caraterizar a natureza dos efeitos produzidos pelos diferentes

    radioisótopos em diferentes cenários de oncologia, bem como o seu potencial como

    agente terapêutico.

    Assim, uma vez concluída esta Dissertação com o tema “Avaliação e Caraterização por

    Métodos Computacionais de Diferentes Radioisótopos no Contexto da Terapia

    Paliativa de Metástases Ósseas”, espera-se contribuir para um maior conhecimento

    cientifico sobre:

    • O eventual potencial terapêutico de cada radioisótopo estudado,

    nomeadamente através da análise dos efeitos radiobiológicos produzidos

    pelas principais emissões de cada radioisótopo;

    • A avaliação dos efeitos radiobiológicos das principais emissões de cada

    radioisótopo em vários cenários de simulação.

  • Por seu lado, após a conclusão dos Trabalhos Práticos, espera-se conseguir abordar de

    forma correta e global o plano de trabalhos a desenvolver, no que toca ao uso dos

    diferentes simuladores e parâmetros de simulação para os diferentes cenários, pela

    recolha de informação cientifica que funciona como explicação introdutória de alguns

    dos métodos utilizados, seguida de uma breve explicação dos procedimentos a

    desenvolver para realizar a Dissertação.

    1.3. Estrutura Organizativa

    Pretende-se organizar o presente documento de uma forma autónoma e

    independente para facilitar o acesso as diversas áreas estruturas em 7 capítulos.

    Assim, descreve-se sumariamente de seguida o que será abordado em cada capítulo:

    • Capítulo 2. Biologia Celular

    Neste capítulo realiza-se uma descrição global, dos principais conceitos do ciclo

    celular, com acessória relação deste com a morte celular programada, isto é, apoptose.

    Este capítulo reveste-se de capital importância pois para o desenvolvimento desta

    Dissertação é fundamental o conhecimento da cinética celular, em particular, as suas

    relações com o processo apoptótico.

    • Capítulo 3. Radiobiologia Celular

    Neste terceiro capítulo são explicados os conceitos básicos associados ao uso de

    radiação em células e os efeitos que esta provoca nas mesmas, esclarecendo-se

    conceitos como curvas de sobrevida, e principais mecanismos de reparação celular.

    • Capítulo 4. Radioisótopos para Terapia Paliativa

    Neste quarto capítulo são enumeradas as principais características de cada

    radioisótopo com potencial terapêutico, bem como as características das suas

    principais emissões radioativas.

  • • Capítulo 5. Simuladores em Radiobiologia

    Neste quinto capítulo são enumerados e descritos os simuladores que se prevê utilizar

    para a realização da Dissertação, bem como todos os parâmetros necessários para o

    controlo de cada cenário. Realizando também de uma forma sucinta uma comparação

    da utilização dos simuladores em relação a uma cultura celular.

    • Capítulo 6. Introdução a Simulação

    Neste penúltimo capítulo são expostas algumas simulações simples utilizadas para

    melhor compreender o funcionamento dos simuladores anteriormente descritos,

    explicando-se também como se pretende realizar os futuros cenários de irradiação.

    • Capitulo 7. Conclusões Finais e Perspetivas Futuras

    Neste último capítulo são apresentas algumas conclusões finais sobre o trabalho

    desenvolvido, indicando igualmente quais as perspetivas futuras da continuação do

    desenvolvimento deste trabalho para posterior apresentação como Dissertação.

    1.4. Contribuições Principais

    Como principais contribuições dos Trabalhos Práticos, enquanto trabalho guia para a

    execução prática dos procedimentos para o desenvolvimento correto desta

    Dissertação, salientam-se o estudo dos diferentes simuladores, processo apoptótico e

    ciclo celular, a revisão bibliográfica, bem como, a descrição algo detalhada dos

    radioisótopos e funcionamento dos simuladores que se pretendem utilizar durante um

    projeto desta natureza.

    No que diz respeito à Dissertação espera-se que esta contribua para melhorar o

    conhecimento científico neste tema em particular, pois é um campo de intensa

    pesquiza e interesse crescente.

  • Capítulo 2

    Biologia Celular

  • 2.1. Introdução

    De um modo geral, as células crescem, aumentam o seu conteúdo e por fim dividem-

    se. Cada célula origina duas células-filhas que, se tudo ocorrer dentro da normalidade,

    serão geneticamente idênticas á célula-mãe. Por sua vez, estas células-filhas podem

    tornar-se células-mães da geração seguinte. Assim, a vida de uma célula começa

    quando esta surge a partir da célula-mãe e acaba, quando ela própria se divide para

    originar duas células-filhas.

    O conjunto de transformações e processos que decorrem desde a formação da célula

    até ao momento em que ela própria se divide constitui um processo dinâmico e

    continuo, denominado ciclo celular.

    Durante a divisão celular, os organelos, enzimas e outros constituintes da célula são

    distribuídos pelas células-filhas. O ADN é exatamente auto-duplicado e as copias

    rigorosamente divididas. É esta fidelidade na duplicação e na distribuição do material

    genético pelas células-filhas que assegura a continuidade genética.

    Todo o procedimento do ciclo celular e controlado por diversas proteínas e enzimas

    que além de garantirem a ausência de erros, transmitem a cinética do ciclo, isto é, a

    duração de cada fase especifica do processo e o tempo total necessário para que todo

    o processo ocorra. Uma pequena mutação numa proteína ou enzima de controlo, pode

    ter consequências dramáticas na cinética celular, como no caso das células

    carcinogénicas, em geral o período do ciclo celular é muito inferior as celular normais.

    Um destino final das células, muito característico e importante do ponto de vista

    terapêutico é a morte celular por apoptose, isto é, morte celular programada que tem

    um efeito mínimo ou mesmo ausente sobre as células vizinhas.

    A apoptose é um mecanismo de segurança presente nas células que é desencadeado

    sempre que as células são danificadas de forma irreversível, garantindo assim mais

    uma vez a continuidade genética.

    Mais uma vez, o processo apoptótico é controlado por um vasto número de enzimas e

    proteínas específicas, que iniciam todo o processo assim que algum recetor é ativado.

  • 2.2. Princípios do Ciclo Celular

    As células crescem e dividem-se de acordo com o seu ciclo celular. Este ciclo é o

    processo através do qual uma célula somática duplica o seu material genético e o

    reparte igualmente às suas células-filhas, e é dividido em interfase e fase mitótica. A

    interfase corresponde ao período entre o fim de uma divisão celular e o início da

    divisão seguinte, enquanto, a fase mitótica enquadra o período durante o qual ocorre

    a divisão celular propriamente dita.

    São conhecidas aproximadamente 50 proteínas que atuam como fatores de

    crescimento. As células que possuem o recetor específico para um determinado fator

    de crescimento serão iniciadas no ciclo, enquanto as que não expressarem esse

    recetor permanecerão inativas.

    A interfase, que antecede a fase mitótica divide-se em três subfases: G1, S e G2. O

    intervalo G1, ou pós-mitótico, inicia-se quando a célula é estimulada a multiplicar. Este

    intervalo corresponde ao período entre o fim da mitose e o início da síntese de ADN

    (fase S), e caracteriza-se por um amento do volume celular e intensa síntese de

    proteínas e enzimas. Na fase S, ocorre a autorreplicação de cada uma das moléculas de

    ADN, a fim de que cada cromossoma seja formado por dois cromatídeos ligados por

    um centrómero. O intervalo G2, ou pré-mitótico, ocorre após a síntese de ADN (fase S)

    e antes do início da mitose. Neste período ocorre sobretudo a síntese de biomoléculas

    e ARN necessários à divisão celular, consultar figura 1.

    Ilustração 1: Progressão do ciclo celular depende de uma sequência de ativação e desativação de diversos

    complexos CDKs e CDKIs (Stewart e Kleihues, 2003)

  • Durante o ciclo celular existem etapas de avaliação interna relativamente ao

    prosseguimento do ciclo celular, designados por Checkpoint 1, que ocorre no final do

    intervalo G1 e Checkpoint 2, que ocorre no final do intervalo G2. Se o resultado da

    avaliação for negativo as células param o seu processo de divisão e permanecem no

    estádio denominado G0 por tempo indeterminado ou até à sua morte. Se pelo

    contrário, a avaliação efetuada for positiva, estas processem para a fase seguinte do

    ciclo celular, a fase mitótica.

    Relativamente à fase mitótica esta é comummente dividida em duas etapas principais:

    a mitose, que corresponde à divisão do núcleo, e a citocinese, que corresponde à

    divisão do citoplasma. A mitose, embora seja um processo continuo, é dividido

    didaticamente em: prófase, metáfase, anáfase e telófase. A prófase é, de um modo

    geral, a etapa mais longa da mitose. Nesta fase, sucede a condensação dos

    cromossomas, tornando-se mais espessos e curtos, e os dois centríolos começam a

    afastar-se em sentidos opostos, formando-se o fuso acromático. Na metáfase os

    cromossomas atingem o máximo de encurtamento, o fuso acromático fica completo e

    os centríolos atingem os pólos da célula. Para além disso, os cromossomas orientam-se

    com os centrómeros no plano equatorial, voltados com as terminações para fora.

    Durante a anáfase surge a clivagem dos centrómeros, separando-se os dois

    cromatídeos que passam a constituir dois cromossomas independentes. Durante nesta

    fase ocorre a ascensão dos cromossomas filhos. Por ultimo, na telófase, a membrana

    nuclear reorganiza-se em torno dos cromossomas de cada célula-filha o fuso mitótico é

    degradado e os cromossomas descondensam, terminado assim a mitose.

    A citocinese carateriza-se pela divisão do citoplasma e consequente individualização

    de cada célula-filha. Estre processo começa a ser preparado durante a mitose com a

    formação do anel contrátil de filamentos proteicos. Estes durante a citocinese

    contraem-se e puxam a membrana celular para dentro, causando um sulco de

    clivagem, que vai lentamente estrangulando o citoplasma até separar as células-filhas.

    A duração das subfases do ciclo celular varia com as espécies, tipo de tecido e com o

    estado de desenvolvimento do organismo. Tipicamente o tempo de duplicação celular

    varia entre 10 a 40 horas com a fase G1 a durar 30%, fase S 50%, fase G2 15% e a

    mitose 5% do tempo do ciclo celular. A radiossensibilidade celular também varia ao

  • longo do ciclo celular, em geral, a fase final do estádio S é a mais radiorresistente, a

    fase G2 e M são as mais radiossensíveis.

    2.3. Cinética celular

    Todo o ciclo celular de cada tipo de célula é controlado por diversos marcadores,

    enzimas e proteínas que lhes proporciona uma cinética particular, que pode ser

    alterada se ocorrer alguma alteração genética, como no caso das células

    carcinogénicas da próstata e mama.

    As células carcinogénicas metastáticas da próstata, tal como as células normais que as

    originam, são sensíveis a estimulação por hormonas de crescimento. Estas células são

    dependentes de hormonas, uma vez que, na presença de certas hormonas a sua

    percentagem de proliferação (Kp) é estimulada, enquanto na ausência aumenta a sua

    taxa de morte celular (Kd). Na presença das hormonas corretas, ocorre o contínuo

    crescimento destas células, uma vez que, a taxa de proliferação supera a taxa de morte

    celular [22].

    Estudos realizados por Carter e colaboradores concluíram que o tempo necessário de

    duplicação de células da próstata é de 2.4±0.6 anos enquanto para células

    metastáticas era de 1.8±0.2 anos. Por seu lado os estudos realizados por Schmid e

    colaboradores obtiveram 5.8 e 3.6 anos respectivamente.

    O Kp, expressa em percentagem a taxa de proliferação diária de um tipo particular de

    células, é calculado dividindo o valor GF para esse tipo de célula pelo período

    intermitótico Tc, expresso em dias, e posteriormente multiplicado o resultado por 100.

    O GF é determinado por análises imunocitoquimicas para detetar células em ciclo

    celular, através da deteção do antigene Ki67 presente em células em proliferação (G1,

    S, G2) e ausente em células fora de ciclo (G0). O GF é então a porção de células da

    amostra marcadas positivamente para o antigene Ki67.

    O Tc é determinado usando culturas de células da próstata saudáveis e carcinogénicas

    (DU-145, PC-3 e LNCaP), observando o tempo entre mitoses sucessivas através do

  • recurso a vídeo, conclui-se pelo estudo de Berges e colaboradores que para ambas as

    amostras o Tc é de 48±5 horas.

    O Kd expressa em percentagem a taxa de morte celular diária, é calculado dividindo a

    fração de células que a extremidade do ADN é marcada com TTF (terminal transferase)

    exógena purifica pela meia vida das células marcadas, geralmente 12 horas, e depois

    multiplicado por 100.

    Mais propriamente um valor de meia vida de 12±2 horas para células normais, 12±3

    para células metastáticas da próstata.

    Por fim conclui-se então que a taxa de crescimento é dada pela subtração de Kd a Kp

    para cada tipo particular de célula. Quando Kd < Kp o tempo de duplicação é dado pela

    formula:

    𝐷𝑇 =𝑙𝑛2

    [𝑘𝑝 − 𝑘𝑑]

    Quando Kd = Kp, o tempo de renovação de todo o tecido é calculado por:

    𝑇𝑡 = 1 𝑘𝑝�

    A percentagem de proliferação das células normais da próstata é baixa, contudo, é

    elevada o suficiente para equilibrar a baixa percentagem de morte celular espontânea.

    Demonstrando assim que as células da próstata estão em equilíbrio, tendo um Tt de

    500±79 dias. Quando as células da próstata entram numa fase inicial de carcinogénese,

    ocorre um aumento de 6.9 vezes o valor normal de Kp, e com um aumento de 4 vezes o

    valor de Kd. Levando assim a acumulação diária de 0.45±0.11% de celulas. Ficando

    assim um tempo de duplicação de 154±22 dias para estas células.

    Os resultados demostraram também que o valor Kp das células metastáticas é 10.7

    vezes superior comparado com as células normais e o valor de Kd é unicamente 3.8

    vezes superior ao das células normais. Levando assim a uma taxa de crescimento

    celular no osso das células metastáticas de 1.28±0.23%, traduzindo-se assim num

    tempo de duplicação de 54±5 dias, consultar tabela 1.

    Tabela 1: Parâmetros da cinética das células da próstata (adaptado Berges 1995)

    Tipo celular Kp (%) Kd (%) Tempo de

    duplicação (dias) Células epiteliais da

    próstata 0.19±0.03 0.20±0.03 500±79

  • Células de elevado valor neoplástico 1.25±0.30 0.80±0.24 154±22

    Células metastáticas da próstata no osso 2.04±0.29 0.79±0.16 54±5

    2.4. Apoptose e Necrose

    Apoptose, ou morte celular programada, carateriza-se por ocorrer de forma individual,

    não infligindo, por isso, morte às células vizinhas. A morte celular por apoptose

    participa em múltiplas situações fisiológicas. A combinação da apoptose com a

    proliferação celular é responsável pelo delineamento de tecidos e órgãos nos

    embriões. Por exemplo, a apoptose regula a separação dos dedos nos fetos. Problemas

    na regulação da apoptose podem conduzir ao aparecimento de inúmeras patológicas,

    nomeadamente cancro, (Tavares 2009).

    O processo apoptótico tem o seu início após a captação de um sinal ou estimulo pelas

    células para entrarem em apoptose, realizando um vasto conjunto de alterações.

    Uma família de proteínas denominada caspase, é tipicamente ativada nas fases iniciais

    do processo, sendo responsáveis pela degradação de componentes celulares

    fundamentais para o funcionamento celular normal, incluindo enzimas responsáveis

    pela reparação do ADN. Por outro lado, as caspases podem ativar enzimas

    destruidoras, tais como, ADNases, que iniciam a quebra do ADN.

    A célula em apoptose apresenta uma morfologia distinta e caraterística, que tem início

    com o encurtamento celular devido a destruição dos filamentos de actina e lâminas do

    citoesqueleto. Posteriormente o núcleo celular apresenta uma aparência em ferradura

    devido a quebra da cromatina e condensação nuclear e um contínuo encurtamento

    celular é observado de forma a permitir a posterior remoção dos restos celulares pelos

    macrófagos. Na fase final da apoptose surgem pequenas bolsas membranares, que

    formam vesículas, denominados corpos apoptóticos. Estas alterações morfológicas são

    comuns a todas as células em apoptose explícita, independentemente do agente

    indutor do processo. Quer isto dizer que a ação das caspases representa uma via

    comum, que opera em todas as células programadas para morrer, (Anazetti e Melo

    2007).

  • A sensibilidade da célula face a um estímulo apoptótico depende de um número de

    fatores como a expressão de proteínas indutoras e anti-apoptóticas, a intensidade do

    estímulo e o estádio do ciclo celular. Existe um extenso número de mecanismos que

    induzem apoptose. A apoptose pode ser desencadeada por estímulos extrínsecos, tais

    como, a ligação de indutores de apoptose a recetores da membrana celular,

    denominados recetores de morte celular. Para além dos processos referidos, a

    apoptose pode ser induzida por sinais intrínsecos que produzem stresse celular, devido

    à exposição à radiação, a químicos ou vírus. Pode igualmente resultar de uma privação

    de fatores de crescimento ou stresse oxidativo induzido pela formação de radicais

    livres.

    Existe uma grande correlação entre o ciclo celular e a apoptose, reconhecida pelos

    genes que codificam as proteínas c-Myc, p53, Rb, ras, PKA, PKC, Bcl-2, NF-kB, CDK,

    ciclinas e CKI. Após estimulação, estas proteínas podem induzir proliferação celular,

    interrupção do ciclo celular ou morte celular programada. A resposta celular é

    fortemente influenciada pela informação genética existente, o microambiente, a

    extensão de dano no ADN e a concentração de diferentes proteínas.

    Por outro lado, a morte celular por necrose ocorre, geralmente, em resposta a danos

    severos nas células e é caraterizada, morfologicamente, por um aumento do volume

    citoplasmático e mitocondrial, seguido da rutura da membrana plasmática e

    extravasamento do conteúdo celular, induzindo deste modo uma resposta

    inflamatória, que pode causar dano e, por vezes até morte às células vizinhas. Deste

    modo, quando a morte celular ocorre por via da necrose, um grande número de

    células é afetado e lesado durante o processo inflamatório. Contrariamente ao

    processo de retração celular observada aquando do processo apoptótico, na necrose

    observa-se um edema celular devido as lesões no citoesqueleto e inibição das bombas

    de Na+/K+, o que origina a perda da permeabilidade seletiva da membrana.

    Em síntese, na apoptose, ou morte celular programada, as células morrem como

    resultado de uma grande variedade de estímulos, contudo, o processo é controlado e

    regulado. Contrariamente a necrose, corresponde à morte celular descontrolada, que

    conduz ao aparecimento de lise celular e consequente resposta inflamatória, consultar

    imagem 2.

  • Ilustração 2: Apoptose e a necrose são distinguidas por alterações morfológicas características

    (Stewart e Kleihues, 2003)

    2.5. Sumário

    Deste capítulo conclui-se que a célula começa a sua vida quando se origina a partir da

    divisão da célula-mãe e termina quando ela própria se divide em duas células-filhas,

    dai se denomina esta existência cíclica das células por ciclo celular. O ciclo celular, bem

    como toda a cinética associada desempenham um papel fundamental na resposta

    celular à irradiação pois aquando de um dano pode repara-lo, pode ordenar a morte

    celular, por apoptose, ou pode retirar essas células do ciclo celular, permanecendo

    num estádio de paragem, designado G0. A apoptose é o processo de morte celular que

    menos danos causa às células vizinhas, sendo o processo ideal de fim celular aquando

    da irradiação.

  • Capítulo 3

    Radiobiologia Celular

  • 3.1 Introdução

    Quando a radiação ionizante interage com células ou tecidos, ocorrem interacções e

    deposição de energia nos diversos componentes da célula, principalmente no ADN, por

    este ser o componente mais sensível.

    Os efeitos da radiação podem ser diversos dependendo do grau de maturação e tipo

    celular em causa, bem como da qualidade da radiação. Podendo ser provocados de

    uma forma direta, isto é, a própria radiação interage diretamente com o alvo, neste

    caso o ADN ou outro qualquer constituinte da célula, ou podem ser provocados de

    forma indireta, nesta, a radiação atua sobre moléculas de água, produzindo radicais

    livres altamente reativos, que por sua vez interagem e provocam lesões nos

    constituintes celulares.

    A irradiação de uma célula pode resultar em nove destinos finais:

    • Ausência de efeito;

    • Atraso na divisão: a célula atrasa a entrada no processo de divisão;

    • Apoptose: a célula morre antes de se dividir ou após divisão por fragmentação

    em pequenos corpos;

    • Falha reprodutiva: a célula morre na tentativa de executar mitose;

    • Instabilidade genómica: carateriza-se por um atraso da falha reprodutiva

    como resultado da introdução de instabilidade genómica;

    • Mutação: a célula sobrevive, mas esta mutada;

    • Transformação: a célula sobrevive, mas a mutação leva a alterações de

    fenótipo e possibilidade de carcinogénese;

    • Efeito bystander: uma célula irradiada envia sinais às células vizinhas não

    irradiadas, induzindo nestas danos genéticos;

    • Reposta adaptativa: a célula irradiada é estimulada a reagir e torna-se mais

    resistente a radiação, (Suntharalingam 2002).

    Dos destinos finais, enumerados anteriormente, aquele que é mais interessante do

    ponto de vista da radioterapia metabólica dirigida, é a apoptose, pois este destino

  • induz menos danos nas células vizinhas e, adicionalmente, impede a propagação de

    aberrações cromossómicas radioinduzidas.

    As células têm mecanismos intrínsecos de resposta as diversas lesões que a radiação

    ionizante pode provocar no ADN. Estes mecanismos de uma forma geral após a

    detecção do local lesado procedem a uma substituição das bases incorrectas ou

    mesmo de um segmento da cadeia de ADN, de forma a tentar corrigir a lesão e

    assegurar a integridade genética.

    Dos mecanismos conhecidos, tem especial destaque os mecanismos de reparação mais

    simples que são utilizados principalmente nas quebras simples como o caso da

    reparação por excisão de bases (Base Excision Repair, BER) que permite corrigir

    problemas em bases individuais, reparação por excisão de nuclídeos (Nucleotide

    Excision Repair, NER) que corrige através da remoção e substituição de oligonuclídeos,

    com comprimentos entre 24 e 32 nucleótidos. Este processo é a via primaria de

    remoção de espécies reativas do oxigénio.

    Quando existem ou ocorrem danos irreparáveis no ADN, geralmente o próximo passo

    é a apoptose, ou more celular programada, de forma a evitar, as consequências de

    reparações altamente mutagénicas.

    3.2 Efeitos Celulares da Radiação

    Pelas leis de Bergonie e Tribondeau (1906), conclui-se que quanto mais diferenciada é

    a célula, maior é a sua radiorresistência e quanto maior é a taxa de proliferação, de

    crescimento e atividade metabólica da célula, maior é a radiossensibilidade. Assim,

    tecidos ou órgãos em desenvolvimento e proliferação ativa são mais radiossensível

    que tecidos ou órgãos totalmente desenvolvidos e diferenciados, ilustração 4.

    Em 1925, Ancel e Vitemberger modificam a lei de Bergonie e Tribondeau, introduzindo

    a noção de tempo de latência, afirmando que a suscetibilidade das células à lesão por

    radiação é o mesmo, mas o tempo de aparecimento das lesões produzidas pela

    radiação vária de acordo com o tipo de célula, influenciadas pela quantidade de

  • stresse biológico que a célula está sujeita, necessidade de divisão, e às condições de

    pré e pós-radiação da célula exposta.

    Ilustração 3: Relação entre a radiossensibilidade das células e as suas características de divisão e diferenciação celulares.

    Os efeitos celulares da radiação podem também ser classificados com base na sua

    probabilidade de ocorrência, sendo divididos em dois tipos distintos:

    • Efeitos estocásticos: Podem aparecer a partir da lesão de uma ou várias células,

    não existe limiar, pelo que os efeitos são de natureza aleatória, isto é, assume-se

    que existe sempre a probabilidade de ocorrerem, mesmo para pequenas doses

    de radiação. Um aumento da dose implica um aumento da frequência do efeito e

    não da sua gravidade.

    • Efeitos determinísticos: estão associados a um limiar a partir do qual surgem, são

    os efeitos cuja severidade aumenta com o aumento da dose.

    3.3 Efeitos Diretos e Indiretos da Radiação

    Quando as células são expostas a radiação ionizante, ocorrem primeiramente efeitos

    físicos entre os átomos e moléculas da célula e a radiação, e só mais tarde se verificam

    os danos biológicos. Os efeitos biológicos da radiação resultam sobretudo de lesões

    • Vida curta • Indiferenciadas • Dividem-se regularmente

    Muito Alta

    • Dividem-se um número limitado de vezes • Algum grau de diferenciação Alta

    • Dividem-se irregularmente • Esperança de vida muito variavel Média

    • Vida longa • Não se dividem muitas vezes • Grau variavel de diferenciação

    Baixo • Não se dividem • Altamente diferenciadas Muito Baixo

  • provocadas ao ADN, o qual é o componente mais sensível da célula no que toca a

    radiação ionizante. Contudo, existem outros componentes da célula, que uma vez

    danificados, podem produzir efeitos biológicos na célula como por exemplo enzimas,

    lípidos estruturais, entre outros.

    Quando a radiação incidente interage com o material biológico, transfere energia para

    a célula, provocando danos que pode ser resultado de efeitos diretos ou indiretos da

    radiação. No efeito direto, a radiação interage diretamente com a molécula alvo, ou

    seja o ADN. Os átomos do ADN são ionizados ou excitados, conduzindo a uma cascata

    de eventos físicos e químicos, que eventualmente produzem o dano biológico. O efeito

    direto é o processo dominante em interações de radiação de alta LET.

    No efeito indireto, a radiação interage com outas moléculas ou átomos,

    principalmente moléculas de água, no interior da célula, produzindo radicais livres, os

    quais posteriormente provocam a ionização da molécula alvo. As interações da

    radiação com as moléculas de água no interior da célula produzem radicais livres de

    curta vida, nomeadamente, o H2O+ e o OH·. Os radicais livres em causa podem induzir

    danos no ADN, os quais conduzem a danos biológicos. Cerca de dois terços do dano

    biológico provocado por radiação de baixa LET é devido ao efeito indireto da radiação,

    consultar imagem 4 [2].

    Ilustração 4: Efeitos Diretos versos Efeitos Indiretos (Hall e Giaccia, 2006)

  • 3.4 Tipo de Danos e Destino das Células

    Radioinduzidos

    As células expressam os danos radioinduzidos aquando da sua divisão e multiplicação.

    Lesões que provocam aberrações cromossómicas e mutações genéticas nas células,

    podem levar à morte celular, inibição da divisão celular ou a transformações malignas.

    Estas alterações celulares podem ter como consequências finais a alteração da função

    tecidular, morte tecidular ou indução de cancro.

    A interação de radiação ionizante com material biológico provoca uma cascata de

    eventos nefastos para a estrutura e função do material em causa. Quando existe

    interação entre radiação e o ADN, um dos seguintes efeitos biológicos na estrutura do

    ADN podem ocorrer: 1) alteração das ligações entre as bases, devido a substituição de

    bases, adição de novas bases ou remoção de bases existentes, substituição cruzada de

    bases; 2) Single Strand Break (SSB), quebras simples da cadeia; ou 3) Double Strand

    Break (DSB), quebras duplas da cadeia. Estes danos do ADN podem conduzir a

    alterações na função do ADN levando uma das seguintes consequências: inibição

    temporária ou permanente da síntese de ADN, síntese de ADN incorreto, inibição ou

    prevenção da mitose ou mesmo síntese de proteínas incorretas. Por outro lado

    quando a interação da radiação ocorre com enzimas, alterações da estrutura terciária

    ou disrupção das ligações químicas das enzimas podem ocorrer, levando à inibição da

    atividade enzimática ou a alterações do metabolismo celular. Se as interações ocorrem

    nas membranas celulares, pode ocorrer um aumento da permeabilidade aos iões,

    resultando em potenciais alterações da composição intracelular e extracelular da

    célula.

    Suntharalingam em 2002 classifica os danos provocados em células de mamíferos em

    três grandes grupos:

    • Danos letais: os quais são irreversíveis, conduzindo à morte da célula;

    • Danos subletais: podem ser reparados em algumas horas exceto se outros

    danos subletais forem adicionados durante a reparação celular, o que

    conduzirá ao aparecimento de um dano letal;

  • • Danos potencialmente letais: podem ser manipulados pelos mecanismos de

    reparação quando as células são retidas no estádio G0.

    Como consequência dos danos provocados pela radiação a célula pode-se encaminhar

    para um de nove possíveis destinos finais, (Suntharalingam 2002):

    • Ausência de efeito;

    • Atraso na divisão: célula fica retida no estádio G0;

    • Apoptose: a célula morre por fragmentação;

    • Falha reprodutiva: a célula morre na tentativa de executar mitose;

    • Instabilidade genómica: carateriza-se por um atraso da falha reprodutiva como

    resultado da introdução de instabilidade genómica;

    • Mutação: a célula sobrevive, mas está mutada;

    • Transformações: a célula sobrevive, mas a mutação leva a alterações de

    fenótipo e possibilidade de carcinogénese;

    • Efeito bystander: a célula irradiada envia sinais as células vizinhas não

    irradiadas, induzindo danos genéticos nas mesmas;

    • Resposta adaptativa: a célula irradiada é estimulada para reagir e tornar-se

    mais resistentes à radiação.

    A escala temporal associado à quebra de ligações químicas e subsequente dano

    biológico, período de latência, situa-se entre algumas horas a anos, dependendo do

    tipo de dano. Caso a morte celular seja o resultado da irradiação, esta pode ocorrer

    dentro de algumas horas, isto é, efeitos precoces da radiação. Contudo, se o dano for

    oncogénico, a sua expressão pode ser adiada durante anos, isto é, efeito tardio da

    radiação.

    3.4.1. Método de Classificação das Lesões ao ADN

    Nikjoo e colaboradores, em 1997, definiram dois métodos alternativos de classificação

    de quebras nas cadeias de ADN.

    Esses esquemas de classificação consideravam 1) os padrões de quebras de acordo

    com a complexidade do dano (simples, duplo e combinações) numa ou ambas as

  • cadeias de ADN, figura 5; e 2) classificação das quebras como resultado direto ou

    indireto da radiação (devido a radicais livres). As classificações são apresentadas na

    tabela 2, (Nikjoo 1997 e 2001).

    Ilustração 5: Esquema de classificação de danos do ADN segundo (Nikjoo 1997 e 2001)

    Classificação Descrição

    Ausência de quebra Não ocorre deposição energética por efeito direto, nem a

    deposição energética devido a radicais livres (efeito indireto) conduz à formação de quebras do ADN

    SSB Quebra simples do ADN SSB+ Duas quebras simples na mesma cadeia ADN

    2SSB Duas ou mais quebras simples em cadeias opostas separadas por >10 bp, mas não classificadas como quebras duplas DSB Duas quebras simples opostas e separadas por ≤10 bp

    DSB+ Uma quebra dupla acompanhada por uma ou mais quebras simples separadas por menos de 10 bp

    DSB++ Mais de uma quebra dupla no segmento de ADN separadas por 10 bp ou mais Tabela 2: lassificação das diferentes quebras do ADN, segundo (Nikjoo 1997, 2001)

    3.5 Mecanismos de Reparação do ADN

    Quando a radiação ionizante interage com material biológico, principalmente o ADN,

    provoca alterações na sua estrutura num curto espaço de tempo, entre 10-3 e 10-5

    segundos, estimulando a quebras de ligações químicas do ADN. Contudo, os efeitos

    biológicos de tal lesão surgem tardiamente, após um período de latência quem pode

    demorar desde algumas horas até vários anos. Como consequência dos danos no ADN

  • a célula pode sofrer uma mutação, entrar em apoptose ou tornar-se numa célula

    carcinogénica.

    Dependendo da energia depositada pela radiação ionizante na célula irradiada podem

    ocorrer quebras de apenas uma cadeia de ADN ou quebras nas duas cadeias de ADN

    (mencionadas anteriormente). Em termos biológicos as quebras simples são

    tipicamente de fácil reparação, não apresentando assim grandes consequências

    celulares, a não ser em caso de reparação incorreta a qual pode conduzir ao

    aparecimento de uma mutação. Também as quebras duplas separadas por vários pares

    de bases são frequentemente facilmente reparados pelos mecanismos celulares.

    Porém as quebras duplas complexas, separadas por poucos pares de bases são uma

    das lesões mais toxicas e mutagénicas nas células humanas, uma única DSB tem

    potencial para remover mais de 100 milhões de pares de base de informação genética.

    O número de lesões no ADN geradas pela radiação é elevado, mas o número de células

    que morrem devido as lesões é substancialmente mais reduzido. O número de lesões

    induzidas no ADN por uma radiação de 1-2 Gy é aproximadamente de 1000 SSB e 40

    DSB. Dados experimentais demonstram que as DSB induzida por radiações de baixo

    LET são tipicamente mais facilmente reparadas que as DSB provocadas por radiações

    de alto LET. Conhecimento relativo à interação e trajeto da radiação (track structure)

    com a matéria tem vindo a ser utilizado para explicar as variações e diferentes

    distribuições das lesões no ADN.

    Existem múltiplos mecanismos enzimáticos de reparação do DNA nas células que

    atuam em diferentes tipos de lesões. Para as lesões DBS, os principais mecanismos de

    reparação são a recombinação homóloga (Homologous Recombination) e a

    recombinação não homóloga (Non-Homologous End Joining, NHEJ) [37].A

    recombinação homóloga requer que parte do ADN não esteja danificado para servir

    como molde para síntese de novo ADN, é um mecanismo raro, sem erros e que

    acontece essencialmente após a replicação, na fase final do estádio S e G2 do ciclo

    celular. Inicia-se com a ligação de um complexo proteico nos locais das lesões. Ocorre

    a síntese dos nuclídeos em falta, criando assim um complexo cruzado entre as cadeias

    de ADN lesadas e normais, designado de junção de Holliday. A quebra da junção

    Holliday garante a recombinação homóloga no final do mecanismo de reparação. Por

    seu lado, a recombinação não homóloga provoca lesões pré-mutagénicas, podendo ser

  • letais no caso de aberrações em anel, dicêntrico ou ponte de anáfase ou não-letais se

    forem pequenas deleções ou translocações simétricas. Este mecanismo opera na

    ponta do fragmento de ADN, após a identificação por parte da proteína Ku70/Ku80 do

    local da lesão, de seguida a proteína de reparação é ligada a DNA-PK, que promove

    uma religação dos fragmentos. Este mecanismo ocorre essencialmente na fase final do

    estádio G1 e fase S do ciclo celular.

    A radiossensibilidade difere dentro do ciclo celular, em geral, a fase final do estádio S é

    a mais radiorresistente, a fase G2 e M são as mais radiossensíveis, tomando a fase G1

    um valor intermedio. A proporção favorável da reparação por HR em vez da NHEJ na

    fase final de S pode explicar a sua maior radiorresistência, ver imagem 6.

    Ilustração 6: Fração de células que sobrevivem a uma dose de 6.6 Gy de raio-X em função do tempo, A

    sobrevivência celular cresce até um máximo na fase final do estádio S (Wang, 2000)

    Existem mecanismos de reparação mais simples que são utilizados principalmente nas

    quebras simples como o caso da reparação por excisão de bases (Base Excision Repair,

    BER) que permite corrigir problemas em bases individuais através da produção de um

    local AP (local apurínico ou apirimidínico), reparação por excisão de nuclídeos

    (Nucleotide Excision Repair, NER) que corrige dímeros de timina através da remoção e

    substituição de oligonuclídeos, com comprimentos entre 24 e 32 nucleótidos, por

    reparação enzimática distinta do ADN. Este processo é a via primaria de remoção de

    espécies reativas do oxigénio capazes de induzir ciclopurinas em células de mamíferos.

    Por último existe ainda a reparação de erros de emparelhamento (Mismatch Repair,

    MMR).

    Dois modos de reparação BER têm sido observados em células procarióticas e

    eucarióticas: a excisão e substituição de um único nucleótido, denominado BER de

  • curta substituição (Short-Patch BER – SP-BER), que ocorre na maioria dos casos; e a

    remoção de fragmentos de 2 a 13 nucleótidos, denominado BER de longa duração

    (Long-Patch BER – LP-BER). Segundo Dianov e colaboradores (2000), em células

    humanas, as vias de reparação LP-BER e NER têm um papel relativamente minoritário

    na reparação dos danos, sendo estes na sua maioria removidos pela via SP-BER.

    Quando existem ou ocorrem danos irreparáveis no ADN, geralmente o próximo passo

    é a apoptose, ou more celular programada, de forma a evitar, as consequências de

    reparações altamente mutagénicas.

    3.6 Curvas de Sobrevida

    O procedimento padrão para medir a radiossensibilidade de uma população celular é a

    retenção da sua integridade reprodutiva, isto é referido como a sobrevida celular e

    percentagem de sobrevida após irradiação, assumindo que existe uma relação clara

    entre a apoptose e o crescimento e a sobrevivência celular para um grande intervalo

    de doses e níveis de sobrevivência.

    O tipo de radiação influencia a forma da curva, sendo que radiações densamente

    ionizantes apresentam curvas de sobrevida quase exponenciais face à dose absorvida,

    enquanto radiações pouco ionizantes apresentam uma pequena diminuição inicial,

    seguida de uma região denominada em ombro, mantendo-se quase e decréscimo

    constante para altas doses, consultar imagem 7.

  • Ilustração 7: Curvas de sobrevida celular típica para radiação de alta LET e baixa LET: (a) Primeiro modelo e

    (b) modelo atual (Tavares, 2009)

    As curvas de sobrevida são melhor expressas em gráficos semilogarítmicos de

    sobrevivência por dose irradiada, geralmente com doses de 1 a 10 Gy por célula. O

    modelo mais utilizado na atualidade é o modelo linear-quadrático, usando um

    polinómio de segunda ordem, utilizando as constantes α que representa a inclinação

    inicial da curva e β a componente quadrática de morte celular para descrever o declive

    da sobrevida (S) com o aumento da dose (D).

    𝑆 = 𝑒−(𝛼𝐷+𝛽𝐷2)

    A razão α/β fornece a dose para a qual os componentes quadráticos e lineares da

    morte celular são iguais.

    A taxa de sobrevivência celular é maior quando uma dose é administrada de forma

    fracionada num período superior a 2 horas, comparado com uma única dose. Esta

    variação é atribuída às reparações das lesões subletais entre frações. Em geral o

    período de reparação de metade das lesões subletais varia entre 0.5 a 1 hora para

    células em cultura podendo ser maior em tecidos. E a reparação completa pode

    demorar entre 6 a 8 horas, podendo também ser mais moroso em tecidos.

    O sucesso da reparação do dano depende da dose absorvida e do tempo de exposição,

    existindo uma velocidade máxima de reparação observada quando a lesão atinge

    níveis de saturação, análogo à cinética enzimática. A reparação é menos bem-sucedida

    para irradiações de altas taxas de doses, apresentado maior sucesso para baixas taxas

    de doses. O sucesso crescente da sobrevivência celular a baixas doses ou com doses

  • muito espaçadas no tempo e consistente com a importância dada ao tempo de

    reparação das lesões subletais.

    Outro efeito importante na sobrevida celular é o chamado efeito bystander, em que as

    células próximas das células irradiadas, mas que não foram atingidas diretamente pela

    radiação, exibem lesões similares aquelas observadas em células diretamente

    atingidas pela radiação.

    3.7 Sumário

    Pretende-se, uma vez finalizada a leitura deste capítulo, que se compreenda e retenha

    os conceitos básicos dos efeitos das interacções da radiação com as células e material

    biológico, com particular importância para os mecanismos de reparação presentes nas

    células eucarióticas.

    Do capítulo verificou-se que os efeitos finais da radiação dependem do tipo de célula

    em causa, bem como a fase do ciclo celular em que se encontra, pois sabe-se que uma

    célula em estádio G1 é mais radioresistente do que a mesma célula em estádio M.

    Por outro lado, a qualidade da radiação utilizada, influencia de forma drástica o tipo de

    danos provocados no ADN da célula, quanto maior o LET da radiação, mais complexo e

    difíceis de reparar vão ser os danos, garantindo assim que a célula inicia o seu processo

    apoptótico.

  • Capítulo 4

    Radioisótopos

    para Terapia Paliativa

  • 4.1 Introdução

    A radiação ionizante pode ser utilizada para destruição das celulares carcinogénicas,

    por via de métodos de irradiação externa com raios-X ou partículas de elevada energia

    ou métodos de irradiação interna com recurso a técnicas de braquiterapia ou uso de

    radiofármacos.

    A radiação transmitida internamente a uma área específica ou a um órgão lesado será

    tendencialmente mais seletiva que feixes de radiação externos. Contudo é importante

    definir qual a quantidade certa de radiação a fornecer às células cancerosas alvo e ao

    mesmo tempo definir qual a estratégia de administração mais eficiente e que evitará

    lesar as células normais que rodeiam o tumor.

    O primeiro caso de sucesso de métodos de irradiação interna de tumores com recurso

    ao uso de radioisótopo foi o tratamento do cancro da tiroide com uso de iodo

    radioativo. O Iodo-131 (131I), produzido num reator nuclear, é instável devido ao

    elevado número de neutrões e emite radiação β e γ para alcançar a estabilidade. Para

    além disso, quando injetado por via endovenosa ou administrado por via oral, o 131Iodeto de sódio, concentra-se preferencialmente na tiroide, glândulas salivares e

    mucosas. Dado que a radiação β libertada pelo 131I é capaz de destruir as células

    cancerosas e o 131Iodeto de sódio se localiza preferencialmente na tiroide, este

    método de irradiação interna de tumores com recurso a radioisótopos tem sido

    utilizado para tratamento do cancro da tiroide com elevado sucesso.

    Existem outros isótopos utilizados com fiz terapêuticos ou de diagnóstico são captados

    por áreas especificas do corpo, por exemplo, o Fosfato-32 e o Estrôncio-89

    amplamente usados na terapia óssea e o Rádio-223 é um promissor agente para

    tratamento ósseo.

    Contudo, uma grande parte dos radioisótopos utilizados para radioterapia dirigida

    necessitam de ser incorporados num composto químico, o qual será captado especifica

    e seletivamente por um determinado tipo de recetor, transportador ou enzima na

    célula alvo. Uma vez atingido o alvo, a radiação emitida pelo radioisótopo presente no

    radiofármaco pode conduzir à morte celular.

  • 4.2 Principais Características dos Radioisótopos

    Para fins terapêuticos, a seleção do radionuclídeo adequado para uma aplicação

    específica tem em consideração uma vasta gama de fatores, que incluem as

    características físicas do radionuclídeo, principalmente o tipo e a energia da radiação

    emitida e a sua meia-vida. Para além disso, é importante considerar o local de

    deposição da energia do radionuclídeo, a localização anatómica da área a tratar, custos

    e disponibilidade do radionuclídeo. A estratégia dos radiofármacos é depositar a maior

    quantidade de energia possível num curto espaço de tempo nas células malignas, em

    particular no ADN das mesmas, poupando as células saudáveis da radiação indesejável.

    Na prática, radionuclídeos com emissão de partículas β-, bem como aqueles com

    capacidade de captura eletrónica e emissão de eletrões Auger, são os únicos que tem

    vindo a ser usados amplamente na terapia paliativa de metástases ósseas com

    radiofármacos. As partículas β têm um poder de penetração nos tecidos na ordem dos

    milímetros até alguns centímetros, sendo apropriadas para a irradiação de pequenos

    tumores até tumores de tamanho médio. Alguns dos radionuclídeos promissores que

    emitem partículas β-, terem valores de meia-vida adequados à radioterapia de

    metástases ósseas, variando de algumas horas até dias. Para além disso, estes

    radionuclídeos frequentemente decaem originando num nuclídeo filho estável. Por

    ultimo, muitos destes radionuclídeos são facilmente produzidos. Ver tabela 3.

    Nuclídeo Semi-vida física (dias)

    Tipo de decaimento

    Energia média (MeV)

    Energia emissão γ

    (MeV)

    Penetração no tecido

    (mm) 90Y 2.67 β- 2.28 0 2.7

    188Re 17.0 β- 2.12 0.155 (15%) 2.4 166Ho 26.8 β- 1.85 0.81 (6.33%) 8.6

    32P 14.3 β- 1.71 0 8.0 89Sr 50.5 β- 1.49 0 6.7

    186Re 3.77 β- 1.08 0.137 (9%) 4.7 153Sm 1.95 β- 0.81 0.103 (29%) 3.4

    131I 8.04 β- 0.61 0.364 (81%) 0.8 67Cu 2.58 β- 0.57 0.184 (48%) 0.05-2.1 177Lu 6.7 β- 0.497 0.113 (6.4%) 0.04-1.8

    170Tm 1.10 β- 0.96 0.027 (2.83%) 117mSn 13.6 β- 0.16 0.158 (87%) 0.3 223Ra 11.43 α 5.97 0.118 (1.97%) 0.1

  • 125I 60.3 EC 0.4 (Auger e-) 3.98 (6.6%) 10 nm Tabela 3: Exemplos de radioisótopos com potencial aplicabilidade em radioterapia e as suas características.

    Legenda: EC - Captura eletrónica, β- - emissão de partículas beta menos, α – emissão de partículas alfa (adaptado de Volkert (1999));

    4.2.1 Fósforo-32

    O Fósforo-32 (32P) decai por emissão β- para Enxofre-32 no estado fundamental, com

    um tempo de semi-vida de 14.28 dias e uma energia total de 1710.66 KeV. Este

    radioisótopo apresenta um poder de penetração medio de 3mm nos tecidos e de

    1.7mm no osso, atingindo um máximo de 8.5m. È obtido através da irradiação do

    Enxofre-32 com neutrinos de alta velocidade, apresentando assim um baixo custo de

    produção, consultar tabela 4.

    Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) β0,0 695.5 100.0

    Tabela 4: Tabela de decaimento do Fósforo-32

    4.2.2 Estrôncio-89

    O Estrôncio-89 (89Sr) decai principalmente por emissão β- para Ítrio-89 no estado

    fundamental e uma pequena fração de 0.0096% decai para o Ítrio-89 isomérico com

    subsequente decaimento para Ítrio-89 via raios γ de 909 KeV. O [89Sr] tem um valor de

    semi-vida de 50.57 dias e uma energia de decaimento de 1495,1 KeV, com um poder

    de penetração de 2.4mm nos tecidos moles e um poder efetivo de 5 a 6mm. Este

    radioisótopo é preparado a partir do Estrôncio-82 num reator com alto fluxo de

    neutrões, consultar tabela 5.

  • Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) β0,0 584.6 99.9903 β0,1 189.1 0.0096 ɣ0,0 909.0 0.0095

    Tabela 5: Tabela de decaimento do Estrôncio-89

    4.2.3 Ítrio-90

    O Ítrio-90 (90Y) decai maioritariamente por emissão β- para o estado fundamental do

    Zircónio-90 e para um nível excitado a 1760 KeV com uma probabilidade de 0.017%. O

    [90Y] tem um valor de semi-vida de 2.668 dias e uma energia total de decaimento β- de

    2279.8 KeV. Com um poder de penetração de 4mm no tecido ósseo, fazem dele ideal

    para aplicações terapêuticas, consultar tabela 6.

    Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) CE-K 768.7 0.003 β0,1 163.7 0.017 β0,0 926.7 99.98

    Tabela 6: Tabela dos principais decaimentos do Ítrio-90

    4.2.4 Estanho-117m

    O Estanho-117m (117mSn) decai por transformação isomérica com emissão de fotões

    gama para o Estanho-117 estável. Tendo um tempo de semi-vida 13,6 dias e uma

    energia de fotões gama de 158,6 KeV e emite eletrões de baixa energia, com

    penetração efetiva medida em micrómetros, consultar tabela 7.

    Os eletrões de baixa energia são emitidos através de conversão eletrónica entre

    camadas, com especial interesse os produzidos pela camada K e L.

  • Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) Auger-L 3.0 91.0 Auger-K 21.0 10.8

    CE-K1 126.8 64.8 CE-K2 129.4 11.7 CE-L1 151.9 26.1 CE-L2 154.1 1.5 CE-M1 155.1 5.6

    Fotões Gama 158.6 86.4 Tabela 7: Tabela dos principais decaimentos do Estanho-117

    4.2.5 Samário-153

    O Samário-153 (153Sm) desintegra-se via 3 ramos principais e pelo menos mais 10

    ramos fracos de emissões β- para Európio-153. O [153Sm] tem um tempo de semi-vida

    de 1.92849 dias e uma energia de 808,2 KeV.

    A emissão β- média do Samário-153 é de 0.233 MeV, com penetração média no tecido

    mole de 0.5mm e uma penetração efetiva de 2 a 3 mm. O (153Sm) também liberta

    radiação γ, 29% da sua energia total com um valor de 0.1 MeV, permitindo assim a

    realização de uma cintilografia do radionuclídeo administrado. O Samário-153 é

    produzido num reator nuclear através do bombardeamento com neutrinos do

    Samário-152.

    Este radioisótopo tem uma a tabela de decaimentos extremamente complexa,

    podendo decair por emissão de eletrões Auger, captura eletrónica, emissão β-, fotões

    gama, de diversos níveis de energia, dos quais se destacam os presentes na tabela 8.

    Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) Auger-L 3.4 – 7.8 53.0 CE-K5,3 21.154 20.5 CE-K3,0 54.66 41.4

    β0,5 199.7 30.4 β0,3 225.3 49.2 β0,0 264.3 19.5 ɣ3,0 103.2 29.2

    Tabela 8: Tabela dos principais decaimentos do Samário-153

  • 4.2.6 Hólmio-166

    O Hólmio-166 (166Ho) decai por emissão β- para níveis excitados do Érbio-166, com um

    valor de energia de decaimento total de 1854.5 KeV e um tempo de semi-vida de

    26.795 dias. Apresenta um elevado poder de penetração na ordem dos 8 mm. O

    Hólmio tal como o Samário decai com emissão de um largo espectro de partículas, os

    principais decaimentos do Hólmio podem ser consultados na tabela 9.

    Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) Auger-L 3.9 – 7.6 28.0 CE-L1,0 70.82 – 72,2 20.5

    β0,1 651.1 50.5 β0,0 693.8 48.2

    Tabela 9: Tabela dos principais decaimentos do Hólmio-166

    4.2.7 Túlio-170

    O Túlio-170 (170Tm) desintegra-se tanto por decaimento β-, para um nível excitado

    intermédio de 84.25 KeV (18.3%) com subsequente decaimento para o estado

    fundamental do elemento Itérbio-170 (Yb-170), como por decaimento β- diretamente

    para o estado fundamental do elemento Yb-170 (81%). Para além disso, o 170Tm pode

    também decair por captura eletrónica para um nível excitado intermédio de 78.6 KeV

    (0.03%) com subsequente decaimento para o estado fundamental do Érbio-170 (Er-

    170) ou diretamente para o estado fundamental (0.12%) do Er-170.Com um tempo de

    semi-vida de 127.8 dias e uma energia total de emissão β- de 968 Kev e de captura

    eletrónica de 314,4 KeV e emissão γ suficiente para imagiologia, ver tabela 10.

    Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) CE-L1,0 73.77 – 75.31 9.4

    β0,1 290.5 18.3 β0,0 323.1 81.6

    Tabela 10: Tabela dos principais decaimentos do Túlio-170

  • 4.2.8 Lutécio-177

    O Lutécio-177 (177Lu) desintegra-se por emissão β- para o estado fundamental e três

    estados excitados do Háfnio-177 (Hf-177), com um valor de meia-vida de 6.647 dias e

    energia de emissão de 498.3 KeV, também tem emissão γ suficiente para a produção

    de imagem médica, ver tabela 11.

    Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) Auger-L 4.3 – 11.2 8.75 CE-L1,0 101.67 6.84

    β0,3 47.66 11.64 β0,1 111.7 9.1 β0,0 149.4 79.3 ɣ3,1 208.36 10.38

    Tabela 11: Tabela dos principais decaimentos do Lutécio-177

    4.2.9 Rénio-186

    O Rénio-186 (186Re) decai por emissão β- principalmente para o estado fundamental e

    excitado a 137 KeV do Ósmio-186 e por captura eletrónica para o Tungsténio-186. O

    (186Re) tem uma semi-vida de 3,7186 dias e uma energia de decaimento β- de 1069.5

    KeV e de captura eletrónica de 581,6 KeV [38]. Sendo um emissor β com energia média

    de 0.349 MeV e uma penetração média nos tecidos moles de 1.1mm e um máximo de

    4.5mm. Também emite uma pequena componente de radiação γ (9%, 0.137 MeV),

    permitindo assim uma imagem da pós-administração da biodistribuição, consultar

    tabela 12.

    Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) Auger-L 4.7 – 12.9 6.43 CE-T1,0 63.3 – 137.11 12.15

    β0,1 306.7 21.5 β0,0 359.6 70.9

    Tabela 12: Tabela dos principais decaimentos do Rénio-186

  • 4.2.10 Rénio-188

    O Rénio-188 (188Re) decai por emissão β- para diferentes estados do Ósmio-188, dos

    quais 71.1% decai diretamente para o estado fundamental. O (188Re) tem uma semi-

    vida de 17,005 dias e uma energia de 2120,4 KeV [38]. Este radioisótopo apresenta

    uma penetração média de 3 mm nos tecidos moles e máxima de 10 mm. O valor

    elevado de energia de emissão β tem potencial para provocar danos letais nas células

    tumorais na região de decaimento, ver tabela 13.

    Emissão Energia Máxima (KeV) Intensidade (%) β0,0 2120.4 71.1% β0,1 1965.4 25.6%

    Fotões Gama 155 15% Tabela 13: Tabela dos principais decaimentos do Rénio-188

    4.2.11 Rádio-223

    O Rádio-223 (223Ra) decai por emissão de partículas α para níveis excitados do Radão-

    219. O (223Ra) apresenta uma semi-vida de 11,43 dias e uma energia de emissão α de

    5978,99 KeV. Apresenta um poder de penetração inferior a 0.1mm nos tecidos, e

    fotões gama que possibilitam a realização de imagem médica. Os principais

    decaimentos do Rádio-223 podem ser consultados na tabela 14.

    Emissão Energia Média (KeV) Intensidade (%) α0,6 5539.43 10.6 α0,5 5606.95 25.8 α0,4 5715.81 45.6 α0,3 5747.14 10.0

    Auger-L 5.66 – 17.95 30.1 CE-T4,2 51.5 – 54.9 15.42 CE-K4,1 55.81 18.0 CE-T4,1 55.811 – 154.165 22.4 CE-T5,0 171.066 – 269.420 11.23

    Tabela 14: Tabela dos principais decaimentos do Radio-223

  • 4.3 Sumário

    Neste quarto capítulo foram explicados os conceitos básicos associados ao uso de

    radioisótopos na área terapêutica, sendo de salientar as características físicas de cada

    candidato.

    Sabendo que um radioisótopo emissor de partículas β, partículas α ou eletrões Auger

    apresentam elevado potencial terapêutico, quando a ele esta associado um período de

    semi-vida física adequado e um nuclídeo-filho estável, com possibilidade de ser

    captado pelo tecido ósseo de uma forma direta ou através da ligação a outro agente

    químico.

  • Capítulo 5

    Simuladores em Radiobiologia

  • 5.1 Introdução

    Um passo essencial sobre a eficiência da terapia com radioisótopos é a análise dos

    efeitos provocados por este no material biológico em estudo. Uma forma muito

    apetecível de realizar estudos e ensaios na área é através do recurso a simuladores,

    onde se utilizam código Monte Carlo para descrever o transporte e interacção de

    energia com um meio descrito por diversos parâmetros extrapolados de ensaios in

    vitro e in vivo.

    A principal vantagem da utilização destes simuladores é a sua versatilidade e a

    capacidade de em intervalos reduzidos de tempo, obter informação, que de outro

    qualquer modo demoraria largos meses ou mesmo anos.

    Para o desenvolvimento destes ensaios foram escolhidos os seguintes simuladores

    Monte Carlo Damage Simutaion, que simula as lesões provocadas pela radiação, o

    Monte Carlo Excision Repair, que simula os mecanismos de reparação e por último o

    Virtual Cell, que simula todo o processo de interacção entre a radiação e o tecido alvo.

    5.2 Simuladores

    Os simuladores computacionais de radiobiologia celular são desde há algum tempo

    uma fonte útil de informação sobre o potencial efeito terapêutico de diferentes

    agentes irradiantes, entre eles, os radiofármacos utilizados em metástases ósseas,

    sendo de crucial importância no campo da radioterapia molecular e projeção de

    tratamentos.

    Um dos primeiros simuladores dos efeitos da radiação desenvolvido foi o simulador

    Monte Carlo. Segundo a história, decorria o ano de 1945 quando apareceu um modelo

    matemático notável e que ainda hoje é amplamente aplicado em diversas áreas da

    ciência.

    O método Monte Carlo é um conjunto de técnicas estocásticas baseadas em números

    aleatórios e probabilidades estatísticas para investigar problemas científicos, ode o seu

    uso possibilita analisar sistemas complexos, como o caso da radiobiologia celular, que

    de outro modo não seriam possíveis de estudar, pois descrever a interação de um par

  • de átomos é relativamente elementar, contudo, resolver as mesmas equações para

    centenas ou milhares de átomos é impensável. Com o método Monte Carlo um

    sistema complexo pode ser amostrado em números de configurações aleatórias e a

    informação recolhida pode ser utilizada para descrever o sistema como um todo,

    (Woller 1996).

    Como já foi referido, atualmente os métodos Monte Carlos aplicados nos simuladores

    dos efeitos da radiação possibilitam o planeamento, o estudo das interações entre a

    radiação e a matéria, entre outros.

    Porém, algumas desvantagens têm sido apontadas a este simulador, entre as quais a

    sua exigência computacional. Assim, comparativamente ao algoritmo Monte Carlo,

    computacionalmente mais complexo e detalhado, o algoritmo de Monte Carlo rápido

    (MCDS) utilizado como ferramenta base para esta Dissertação, apresenta uma boa

    correlação para a maioria dos espectros de danos radioinduzidos do ADN, o que sugere

    que a distribuição espacial de danos elementares do ADN é determinada

    primariamente por eventos independentes estocásticos.

    A sua rapidez face ao Monte Carlo, em termos de processamento de informação,

    possibilita a simulação de um cenário de 100000 células a 1 Gy de radiação em 1.5

    minutos num Intel Pentium III Xeon a 2.4 GHz, necessitando de uma memoria de 1.3

    megabytes, (Semenenko e Stewart 2004).

    Contrariamente a este simulador MCDS, o algoritmo CELLDOSE Monte Carlo para

    avaliar os efeitos da radiação em esferas de agua isoladas, necessita de algumas horas

    num Pentium 4-EM64T a 3 GHz com 1 Gb de memoria RAM, (Champion 2008).

    Em contraste o simulador de radiobiologia a usar (VC – Virtual Cell) fornece

    informações sobre sobrevida celular, probabilidade de controlo tumoral, indução a

    mutagénese entre outros em apenas alguns minutos.

    Existem outros códigos baseados em código Monte Carlo para o estudo dos efeitos da

    radiação no ADN, como o GEANT4-DNA, PENELOPE (PENetration and Energy LOss os

    Positrons and Electrons), consultar tabela X.

  • 5.3 Vantagens e Desvantagens

    Uma das principais vantagens destes simuladores é a sua versatilidade e a capacidade

    de em intervalos de tempo reduzidos, por vezes de poucos minutos, obter informação,

    de que qualquer outro modo demoraria longos períodos de tempo e exigiriam grande

    disponibilidade de recursos e capacidades. Por exemplo, as culturas de células, de

    grande utilidade, possibilitam o conhecimento do comportamento e função de uma

    população isolada de células, bem como, o estudo de fenómenos impossíveis de

    produzir em tecidos intatos, possuem várias características desvantajosas e limitantes,

    entre as quais se realçam: gastos elevados em material; dependência das condições de

    crescimento da cultura; instabilidade da cultura celular e perda de características de

    fenótipo; entre outras.

    Em relação às culturas de células, os simuladores computacionais possuem algumas

    vantagens; nomeadamente, o facto de permitirem obter informação de uma forma

    mais rápida e flexível, possibilitando assim a cobertura de múltiplos parâmetros do

    cenário de irradiação em causa num curto ciclo de tempo; não existem as limitações

    impostas pela cinética das culturas, isto é, instabilidade, risco de contaminação que

    inviabiliza a utilização dos resultados e força os investigadores a repetir todo o

    processo; e o custo associado a simulação do processo é largamente inferior, existindo

    mesmo simuladores para investigação na área de domínio publico.

    Por outro lado, os simuladores também possuem desvantagens, tais como avaliações

    estimadas em resultados experimentais prévios e conhecimentos atuais o por

    interpolação destes dados, que pode não ser efetivamente verdadeiro no organismo

    vivo; e a modelização da cinética celular de forma mecanista, que pode subvalorizar ou

    sobrevalorizar certos parâmetros e resultados, por último os simuladores são limitados

    a uma gama de entradas de cada parâmetro que nem sempre cobre todos os valores

    necessários para os diversos estudos bem como a exigência computacional de alguns

    simuladores mais detalhados.

  • 5.4 Monte Carlo Damage Simulation – MCDS

    Como referido nos modelos de trilhos estruturais, radiações de baixa LET conduzem à

    formação de aproximadamente 1000 quebras simples (SSB) e 40 quebras duplas (DSB)

    por gray (GY) numa célula de mamífero típica. O nível de danos provocados e bases é

    estimado em 2500 para 25000/Gy/célula e, para além dos danos isolados, a radiação

    ionizante tem a capacidade de produzir também múltiplos locais de danos (Multiply

    Damage Sites - MDS), que consistem em dois ou mais danos elementares num curto

    espaço de hélices enroladas em torno do ADN. As quebras isoladas ou múltiplas em

    cada cadeia de ADN são detetadas como SSB na maioria dos ensaios. Por outro lado,

    DSB são formadas quando pelo menos duas quebras do ADN se formam em

    proximidade nas cadeias opostas do ADN. As DSB e outras classes de MDS são,

    geralmente, as causas primárias de indução de apoptose por radiação ou mutagénese.

    Informação detalhada sobre o espectro de possíveis configurações de danos induzidos

    pela radiação ionizante é frequentemente obtida pelo uso de simuladores de trilos

    estruturais Monte Carlo em combinação com modelos geométricos do ADN e da

    Cromatina.

    O simulador de danos Monte Carlo (MCDS), é um método simplitas e rápido para a

    produção do espectro de danos no ADN que apresenta apenas quatro parâmetros

    ajustáveis, dois dos quais podem ser restringidos a um intervalo de valores razoáveis

    com base em resultados experimentais, (Semenenko e Stewart 2004).

    Sendo estes parâmetros: número de quebras/Gy/célula (σSb), número de danos a bases

    do ADN/Gy/célula (σBd), comprimento do segmento de ADN medido em pares de bases

    (bp)/Gy/célula (nseg) e comprimento mínimo de ADN não danificado entre danos

    elementares entre segmentos vizinhos medido em pares de bases (Nmin). O algoritmo

    do simulador processa-se em duas fases: 1) distribuição aleatória no segmento de ADN

    (parâmetro nseg) do número esperado de danos elementares produzidos numa célula

    por uma determinada quantidade e qualidade de radiação e 2) subdivisão da

    distribuição de danos elementares no segmento em lesões, sendo aqui determinante o

    parâmetro Nmin, consultar figura 8.

  • Ilustração 8: Representação esquemática do simulador MCDS

    O algoritmo do simulador MCDS pode ser descrito pelos seguintes passos:

    A primeira fase, distribuição aleatória dos danos do ADN é composta por 5 passos:

    1. Computação dos parâmetros para uma específica dose absorvida D (Gy). O

    comprimento do segmento por célula é dado por:

    𝑁𝑠𝑒𝑔 = 𝑔𝑛𝑠𝑒𝑔𝐷;

    Já o número total de quebras por célula é dado por:

    𝑆𝑏 = 𝑔𝜎𝑆𝑏𝐷;

    Sendo g um fator de escala adimensional que pode ser utilizado para ajustar o

    rendimento absoluto das lesões de ADN para melhor mimetizar as

    observações experimentais para cada tipo de célula. Quando o tipo de célula é

    desconhecido, o valor de g deve ser unitário. Este valor para células

    eucarióticas pode ser aproximado a razão entre o conteúdo de ADN da célula

    em estudo com o conteúdo da célula de mamíferos (6x109 bp).

    O número de danos de base/célula pode ser calculado através do número de

    quebras por célula pela equação:

    𝐵𝑑 = 𝑓 𝑆𝑏.

    •Número de quebras/Gy/célula (σSb)

    •Número de danos debases/Gy/célula (σBd)

    • Comprimento do segmento de ADN (nseg)

    •Comprimento mínimo do segmento não danificado (Nmin)

    Parâmetros Inicias

    •Distribuição aleatoria dos danos no ADN

    1ª Fase

    •Subdivisão dos danos em lesões

    2ª Fase

  • 2. Seleção aleatória de um par de nucleótidos a partir do segmento de ADN, ou

    seja, seleção de um integral distribuído de forma uniforme no intervalo [1,

    Nseg].

    3. Seleção aleatória da cadeia de ADN (cadeia 1 ou 2). Caso o nucleótido

    selecionado não seja danificado, procede-se ao registo da quebra na

    localização, caso contrário retorna-se ao passo 2.

    4. Criação de um relógio

    𝑆𝑏 = 𝑆𝑏 − 1;

    𝑆𝑒 𝑆𝑏 > 0 , 𝑟𝑒𝑡𝑜𝑟𝑛𝑎𝑟 𝑎𝑜 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 2.

    5. Repetição dos passos 2 a 5 para os danos nas bases.

    Na segunda fase do algoritmo, subdivisão dos danos em lesões, Nmin é o parâmero que

    determina a forma de agrupamento dos danos elementares em lesões, segundo a

    propriedade de que danos separados por pelo menos Nmin pares de bases são tratados

    como lesões diferentes, consultar figura 9.

    Ilustração 9: Representação esquemática do processo de agrupamento de danos em lesões (Semenenko e

    Stewart 2004)

    O algoritmo da segunda fase é descrito nos seguintes quatro passos:

    1. Iniciar a contagem no fim o segmento de ADN e localizar o primeiro dano

    elementar em cada uma das cadeias de ADN o em ambas. Iniciar a lesão do

  • ADN aquando da localização do dano elementar ou dos diversos danos

    elementares.

    2. Começando no par de base apos o ultimo dano elementar identificado,

    proceder à movimentação ao longo do segmento de ADN, na mesma direção e

    contar o número de pares de bases não danificadas antes do próximo dano

    elementar detetado. Caso o fim do segmento seja atingido antes de se

    encontrar outro dano elementar, considerar a lesão do ADN na localização do

    último dano detetado e finalizar o processo.

    3. Caso o número de pares de base não danificadas for ≥Nmin registar o fim da

    poção da lesão na última localização de dano elementar detetado. De seguida

    registar a posição de início da próxima lesão na localização do ultimo dano

    elementar desta.

    4. Retornar o passo 2.

    Uma vez concluído o processo de agrupamento dos danos elementares do ADN em

    lesões, estas podem ser analisadas em termos de natureza de distribuição espacial dos

    danos elementares que as formam, (Semenenko e Stewart 2004).

    O estudo realizado por Semenko e Stewart em 2004 onde comparam o desempenho

    deste simulador com outros aceites pela comunidade cientifica mostram resultados

    muito semelhantes em todas as gamas de radiações utilizadas, tornando este

    simulador muito útil devido a sua simplicidade e rapidez a juntar a sua eficiência nos

    resultados, consultar imagem 10.

  • Ilustração 10: Comparação do espectro de danos obtido com o método de Monte Carlo rápido e detalhado

    (Semenenko e Stewart 2004)

    5.4.1 Informação de Entrada e Saída

    O simulador MCDS consiste num algoritmo simplificado do código Monte Carlo re-

    parametrizado de forma a fornecer informação (outputs) sobre o rendimento das

    lesões no ADN (DSB, SSB e locais de múltiplos danos de bases) após simulação com

    eletrões, protões e partículas alfa de diferentes radioisótopos. Os ficheiros de saída

    fornecem informação sobre as características de várias classes de danos do ADN,

    incluindo o número médio de lesões por conjunto de danos do ADN e comprimento

    medio do conjunto de danos em pares de bases (bp).

    Para a realização da simulação basta intro