Balanço 2014/1

12
Porto Alegre :: Agosto de 2014 B ALANÇO DAS L UTAS DO S EMESTRE DE 2014 Sumário Avaliação das eleições do CPERS . . 2 Avaliação da greve e desfecho da campanha salarial em São Le- opoldo .............. 5 Gravataí: Educação em Luta! .... 8 A importante greve dos municipá- rios de Porto Alegre, e um pro- tagonismo de base que foi su- focado! .............. 9

description

Avaliação das lutas do 1º semestre a partir da inserção da RP Sindical.

Transcript of Balanço 2014/1

Page 1: Balanço 2014/1

Porto Alegre :: Agosto de 2014

BALANÇO DASLUTAS DO 1º

SEMESTRE DE 2014

Sumário

Avaliação das eleições do CPERS . . 2

Avaliação da greve e desfecho da

campanha salarial em São Le-

opoldo . . . . . . . . . . . . . . 5

Gravataí: Educação em Luta! . . . . 8

A importante greve dos municipá-

rios de Porto Alegre, e um pro-

tagonismo de base que foi su-

focado! . . . . . . . . . . . . . . 9

Page 2: Balanço 2014/1

2

Saudações, companheirxs!A Tendência Sindical da Resistência

Popular apresenta, neste material, umamodesta contribuição a respeito das lutassindicais que se desenrolaram durante oprimeiro semestre de 2014 em Porto Ale-gre e na região metropolitana. O nossofoco está nas peleias a que tivemos condi-ções de somar esforços, juntamente comoutrxs companheirxs, e, particularmente,nos locais onde temos constituído nossamilitância, inserção e atuação.

A conjuntura do sindicalismo nacionalvem apresentando mudanças significati-vas (mesmo que ainda lentas e setoriais)na sua forma de atuação e organização.Isso se dá, especialmente, no que se refereao protagonismo das bases frente à bu-rocracia e a centralização levadas a efeitopor direções personalistas e por correntessindicais partidarizadas. Estas que são ex-pressões de práticas sindicais defasadas,que, em geral, não constroem o protago-nismo da classe trabalhadora e, portanto,não podem dar conta de suas urgências.

Seja com os operários das grandesobras de infraestrutura, com os garis doRio de Janeiro, com os rodoviários dePorto Alegre, com os metroviários de SãoPaulo, experiências de autonomia, lutae solidariedade de classe emergem pelopaís, demonstrando, na prática, que a lutacomeça desde baixo. Essas são apenas al-gumas das experiências que comprovamprincípios que para nós, da TendênciaSindical da Resistência Popular, são basi-lares e representam nossa posição, clas-sista e combativa.

Para nós, a luta se faz desde baixo,desde os locais de trabalho, estudo e mo-radia. Lado a lado, ombro a ombro comxs companheirxs de classe, fazendo frentee dando combate nas peleias. Nossa ten-dência reivindica o Sindicalismo Revolu-cionário, através dos princípios de: inde-pendência da classe trabalhadora frenteaos governos, patrões e partidos políticos;

solidariedade de classe; ação direta; de-mocracia direta e de base; classismo; fe-deralismo político e internacionalismo.

Tais princípios são compartilhados nasexperiências de nossas atuações locais, edemonstram que muitos dos limites en-contrados nas lutas estão ligadas ao pró-prio formato em que o movimento sin-dical se estrutura - reduzido e com difi-culdade de descentralizar decisões e or-ganização nas bases. Assim, também énecessário enfrentar a burocracia sindi-cal, que anda em sintonia com os inimi-gos de classe e em nada favorece os ga-nhos reais das categorias e sua organi-zação/mobilização. Neste material, con-tamos com relatos e análises de conjun-tura das eleições do CPERS Sindicato, dagreve dos municipários de Porto Alegre(SIMPA), de São Leopoldo (Frente Unifi-cada de Sindicatos - CEPROL, Sindisaúde,e SSPM-SL) e dos professores de Gravataí(SMPG).

Seguimos firmes na luta, construindocoletivamente, desde baixo, ações e es-paços de democracia e ação direta, queproporcionem o fortalecimento das ba-ses, a continuidade e a articulação das lu-tas, para avançar nas conquistas dxs tra-balhadorxs!

Boa Leitura! Seguir lutando e criandoPoder Popular!

Tendência Sindical da ResistênciaPopular - Agosto de 2014.

Avaliação das eleiçõesdo CPERS

A partir de um debate que envolveu xs mi-litantes de várias frentes de atuação sin-dical que compõem a Tendência Sindi-cal da Resistência Popular, chegou-se aoconsenso de participar das eleições doCPERS, sob a forma de um apoio críticoà Chapa 3, “Romper Amarras”.

Page 3: Balanço 2014/1

3

“...para além de um nomeem uma nominata a sua partici-pação e apoio se dá na proposi-ção de formas de atuação bemcomo na participação ativa edeliberativa das atividades edebates que permeiam o fazersindical.”

“Para incentivar e criar umacultura de participação polí-tica entendemos como funda-mental que tenhamos um pro-grama (diretoria) de formaçãopolítico-cultural que esteja emconexão permanentes com acategoria, especialmente coma sua base. Nós enquantoTendência Sindical da RP nospropomos planejar e execu-tar esse programa de formaçãopolítico-cultural a partir dosnúcleos em que temos repre-sentação podendo se expandirpara os demais núcleos a ní-vel regional. Que o fortaleci-mento da participação no sin-dicato, estimule a retomada decada escola como um espaçopolítico que também possa ser(cri)ativo em sua formação eação, específicas ao seu con-texto!”

Na avaliação e análise de conjunturaque realizamos, chegamos ao entendi-mento de que a composição com as de-mais forças políticas que se agregavamem torno da Chapa 3 (CEDES, CS, Ali-cerce, Unidade Classista, Arma da Crí-tica, Unidos para Lutar...) poderia seruma alternativa interessante para levar aefeito um sindicalismo mais próximo dosnossos princípios. O programa mínimobaseava-se nas “amarras” a serem rom-pidas (CUT, distanciamento da base, oaparelhamento partidário, a burocratiza-ção e a centralização), entraves que tam-

bém identificamos como elementos a se-rem transformados, para que o sindicatotenha a força necessária para defenderos interesses dos trabalhadores em edu-cação. Portanto, mesmo que, em certosmomentos, estivesse divergindo do estilode trabalho que desenvolvemos, o pro-grama defendido pela chapa não estavaem oposição às concepções que defende-mos no sindicalismo: a ideia de um sin-dicato que tenha como princípio orienta-dor a dimensão classista e combativa, queseja focado no diálogo, no trabalho e naconstrução de base, a partir da democra-cia direta. Isto é, um sindicato menos bu-rocratizado, centralizado e verticalizado,que tenha na criação de espaços de for-mação e de participação, desde os locaisde trabalho e estudo (escolas), passandopelos núcleos e chegando ao nível regio-nal, um objetivo permanente de sua atua-ção.

Por uma questão de princípio e de coe-rência com a nossa capacidade numéricade militantes, tínhamos claro que a nossaparticipação se daria a partir dos núcleosregionais onde contamos com militância,de modo que a composição junto à dire-ção central seria um salto na escuridãoque, possivelmente, não teríamos pernaspara dar. O processo de construção dacampanha nos núcleos (38º, de Porto Ale-gre, e 14º, de São Leopoldo) demonstrouque essa avaliação estava correta.

Percebemos que o espaço do núcleo,que é a estrutura mais descentralizada etecnicamente mais próxima da categoria(consequentemente mais envolvida como trabalho de base), também reproduz

Page 4: Balanço 2014/1

4

práticas e espaços centralizadores e ver-ticalizadores. Portanto, mesmo essa di-mensão de trabalho demanda um traba-lho mais institucional e burocrático quese afasta, muitas vezes, da construção co-tidiana. Logo, seria impensável aumentaressa demanda na central, o que nos afas-taria ainda mais do trabalho, que é nossoobjetivo enquanto tendência. O nossofoco é a construção do trabalho coletivojunto à base, que é o nosso local de origeme no qual não abrimos mão de nos fazer-mos presentes e atuantes.

Nossa experiência também mostrouos limites e desafios aos quais precisa-remos nos adequar para o próximo pe-ríodo. Nossa militância sindical no CPERSé jovem e iniciante; por isso, o traba-lho em nível de tendência também cami-nha aos poucos. A participação nas elei-ções do núcleo mostrou a necessidade denos posicionarmos na conjuntura, entre-tanto, explicitou também a necessidadeda consolidação prévia de um grupo. Te-mos, pela frente, o trabalho de militarcom nossa concepção e prática sindical,inseridos na direção de um núcleo e emnossos locais de trabalho.

O processo de campanha eleitoral foifundamental para estimular o diálogocom a categoria e para o conhecimentode diferentes contextos escolares. Essediálogo foi feito com professores e funci-onários, concursados e contratados, sin-dicalizados e não sindicalizados, ou seja,foi um momento fundamental de reflexãosobre as condições de trabalho e sobre aorganização de um sindicato que possibi-lite espaço e ação frente a tantas deman-das das realidades das escolas.

A campanha também mostrou a ne-cessidade e a importância da existênciade uma opção entre a situação (que en-frenta muitas críticas e insatisfações nabase) e o governismo (que traz a insatis-fação com o governo do PT e a relaçãodas outras chapas nesse ponto), pois isso

possibilitou que, do diálogo estabelecido,surgissem debates e reflexões necessáriasna categoria sobre a urgência de se reto-mar o CPERS pela base: seja nos espaçosque antes eram ativos (como as reuniõesentre delegados de escola no núcleo), sejaem uma outra postura de sindicalismo dadireção central.

Entretanto, as eleições demonstraramque muitas dessas percepções não estãopresentes nos filiados mais antigos (mai-oria entre os sindicalizados), para quema relação com o governo estadual é vistacomo menos problemática, ou nos servi-dores que não são sindicalizados (muitossendo dos últimos concursos). Isso ajudaa compreender um pouco a falta de re-lação entre o que se ouviu nas escolas eo resultado final das eleições, e tambémindica algumas tarefas necessárias para opróximo período.

A falta/ausência de sindicalização en-tre os professores e funcionários quecompõem o quadro dos servidores daeducação no RS foi um dos pontos em-blemáticos que percebemos a partir danossa inserção e participação na divulga-ção da chapa nas escolas. Esse ponto, nosparece, é uma demonstração sintomáticada ausência de trabalho político e forma-tivo junto à base, bem como o resultadode anos de gestões reféns da burocracia eque fazem sindicalismo desde cima e pordentro dos gabinetes. Um sindicalismoque vira as costas para as demandas dabase, e deixa à própria sorte a categoriaque deveria representar, acaba semeandoo desalento e a descrença na participaçãosindical.

O resultado, a médio e longo prazo, é oenfraquecimento do sindicato como fer-ramenta essencial de organização e lutados trabalhadores, e sua abertura para ooportunismo aparelhista dos setores go-vernistas, conservadores ou até mesmoretrógrados. É nas lacunas abertas pelafragilização da categoria que esses setores

Page 5: Balanço 2014/1

5

se afirmam e se fortalecem.

O cenário que apontamos acima acabase refletindo no que veio a ser o resul-tado das eleições, com a vitória da Chapa2 (composta por setores vinculados ao PTe a outros partidos e organizações com-prometidas com um projeto elitista, neo-liberalizante e tecnicista de sindicato, desociedade e de educação). A conjunturaque se apresenta com a vitória da Chapa 2é a de um esvaziamento e aparelhamentocada vez mais acelerado das instâncias dosindicato. Para além do sentimento delamento, desânimo ou derrota, nós, en-quanto Tendência Sindical da Resistên-cia Popular, entendemos que este – maisdo que nunca – é o momento de se fazeruma autocrítica reflexiva, mas sem perdero foco na luta que teremos pela frente. Aconjuntura posta não nos assusta e nemnos desmobiliza; pelo contrário, nos for-talece e nos dá gana para fazer luta. Não éde hoje que enfrentamos o oportunismo,a burocracia e o aparelhamento sindical,cerrando fileiras, ombro a ombro, junto àsbases, desde o nosso lugar de origem. Écom esse espírito, classista e combativo,que encararemos nossa participação no38º Núcleo.

Fortalecer as bases, fomentando espa-ços para a participação, através de proces-sos formativos desde o local de trabalho.Trabalhar e militar com democracia diretae de base, como fermento para o prota-gonismo dos trabalhadores em educação.Buscar a união entre todos os segmentosda escola e fortalecer o vínculo com ascomunidades escolares, para enfrentar aprecarização e o sucateamento da educa-ção.

Educar e resistir!Para avançar: organização e luta!Lutar, criar, poder popular!

Avaliação da greve edesfecho da campanhasalarial em SãoLeopoldo

Acumular forças: dos ganhosorganizativos aos ganhos reais

A greve dos trabalhadores municipais deSão Leopoldo durou 13 dias (29/05 à10/06), somados a 4 dias de paralisação(14-20-21-22/05) e a cerca de 3 meses denegociações desde o dissídio das catego-rias.

Depois de 10 anos sem um movi-mento de greve unificado, os trabalha-dores municipais conseguiram fazer ummovimento forte, mesmo com uma ade-são reduzida. Os ganhos dessa greve sãoorganizativos: a articulação de diferentessetores do serviço municipal, a retomadada discussão sobre o movimento sindicale sobre a necessidade da organização alongo prazo.

Analisar e refletir sobre as dificuldadesda campanha salarial que culminou noperíodo de greve é possibilitar uma orga-nização mais sólida entre os trabalhado-res do município. Fazer um balanço dasações é um exercício de autocrítica neces-sário para um processo de acumulação deforças do movimento, em que os sindica-tos tenham respaldo e trabalho na base,criando condições para lutas com ganhosmateriais.

Greve para intensificar a luta

A opção pela greve não foi um consenso.A contrariedade, no entanto, esteve base-ada em experiências sindicais falidas, querefletem um sindicalismo burocrático quepouco se aproxima, trabalha e incentiva abase para as lutas.

Page 6: Balanço 2014/1

6

Uma sequência de paralisações, posi-ção defendida por um grande grupo antesda decisão pela greve, demandava menosesforço das categorias (momentos pontu-ais, com a visualização certa da recupera-ção das horas) e menos trabalho dos sin-dicatos, mantendo ainda a manifestaçãoda indignação. É uma estratégia de lutaválida, quando não se reduz a ela mesma.Deve estar ancorada em um objetivo, complanejamento no processo de mobiliza-ções, além de uma conjuntura com sindi-catos e bases fortalecidas. Dessa forma,as paralisações se tornam momentos deconcentração e impulsionamento das lu-tas.

Não foi exatamente o que tivemos, oque reflete uma construção de sindica-lismo presente na cidade, além da mácondução da assembleia do dia 22/05,que não gerou sentimento de “segurança”nos trabalhadores lá presentes. A assem-bleia do dia 27/05, que decidiu a greve, eraem grande parte daqueles que a queriam.Quem votou nessa posição foram traba-lhadores/as com um maior nível de dis-posição para a luta - seja por outras ex-periências de mobilização, seja pela situa-ção limite nas suas condições de trabalho- o que se refletiu no desenvolvimento dosdias parados.

O grupo que optou pela greve, mesmoquando as ferramentas “representativas”de suas categorias demonstravam con-tentamento com as paralisações ou ga-rantiam pouco apoio, foi o motor para amanutenção do movimento grevista. Ospiquetes foram espaços fundamentais desocialização, discussão e ação do movi-mento de greve, em especial o do HospitalCentenário, que se manteve firme do iní-cio ao final da greve. Esses espaços, mui-tas vezes, até substituíam a falta de orga-nicidade do Comando de Greve.

Papel dos sindicatos e (falta de)aumento das adesões

A greve trouxe à tona um sério problemade representação e participação: umabase que não se sente representada e nãoparticipa, sindicatos que não desenvol-vem a formação, o debate e a participaçãode forma permanente em suas categoriase, por isso, não conseguem ter o alcancenecessário em momentos de mobilização.

Somada a esse problema, tambémhouve a desconfiança em relação a partedas direções, que demonstraram poucafirmeza diante da negociação do governoou na continuidade da greve. Percebe-mos isso fortemente no diálogo com oscolegas não grevistas, bem como no inícioda segunda semana de greve, quando areivindicação do reajuste salarial foi aba-fada frente à discussão dos dias parados(quando ainda não havia indicativo defim da greve).

É fundamental defender a indepen-dência dos sindicatos frente a governose partidos, para garantir a autonomiado movimento. No movimento sindical,quem deve decidir e organizar são os/astrabalhadores/as, de forma a não com-prometer o nível de enfrentamento e demobilização a se ter. Os sindicatos devemser o espaço para fomentar as reivindica-ções e anseios de seus trabalhadores, nãopara jogar contra eles.

No entanto, além de um governo in-transigente, tivemos o papel de direçõesque tentaram travar o movimento sempre

Page 7: Balanço 2014/1

7

que podiam. Com a estratégia de mudaro foco do reajuste salarial para a negocia-ção dos dias parados, o cansaço e a faltade uma maior adesão começaram a pesar.Assim, na assembleia que definiu o fim dagreve, a insatisfação com a falta de ganhosreais não foi proporcional à disposição decontinuar em greve, reforçada pelos dis-cursos de “se ninguém faz, ficamos sozi-nhos” que vieram, muitas vezes, das dire-ções, na tentativa de encobrir suas irres-ponsabilidades e seu burocratismo.

Por mais disposição que houvesse porparte do movimento de greve em conti-nuar, fomos derrotados por governos e di-reções sindicais (representadas pelas figu-ras de suas presidências). O caminho na-quele momento não deveria ser murcharo movimento, e sim buscar ampliá-lo coma reorganização do Comando de Greve(com organicidade, delegações por localde trabalho, discussão e planejamento daluta) e com um calendário claro de ações(com viés mais combativo). Porém, paraalcançar essa decisão, é possível que ou-tra construção da greve devesse ter acon-tecido.

Pós-Greve

A sequência da luta carregou consigo osproblemas que a marcaram. Com o fimda greve, uma paralisação foi marcada naquinta-feira (12/06) para acompanhar epressionar a votação do projeto que en-caminha o reajuste de 1% de ganho realnegado na Câmara de Vereadores. A para-lisação se misturou com o primeiro jogoda Copa, quando muitos expedientes fo-ram reduzidos, e, obviamente, ela nãoteve o volume dos outros quatro dias, in-clusive pelo efeito do pós-greve. A sessãofoi marcada por um forte aparelho repres-sivo de segurança privada e de servido-res da Guarda Municipal usados para talfim. Como o ponto dos servidores não en-trou na pauta nesse dia, ele seguiu para

apreciação no dia 17/06, quando nova-mente não foi discutido. No dia 26/06, aquestão não foi aprovada, por erro no ín-dice do INPC, para finalmente a propostade governo ser aprovada na sessão do dia03/07.

Esses dias de sessão na Câmara foramimportantes para “marcar presença”, maso período entre o final da greve e a vota-ção do projeto deixou um vazio na mo-bilização, reflexo das dificuldades enfren-tadas na greve. Uma concepção sindicalafastada das bases e com independênciade partidos relativa mostrou que, no pe-ríodo após a greve, a aposta foi pela viade ação parlamentar, o que obviamente semostrou insuficiente.

Com a aproximação das férias escola-res, a Educação enfrentou a intransigên-cia de um governo (Dr. Moacir - PSDB)que considera greve um crime; da mesmaforma, outros setores (Assistência Social,SEMAE...) sofreram com pressões e ame-aças mais perto ao final da greve. Jogou-se com aquilo que a Educação mais re-ceia: recuperação de aula nas férias. Se osmunicipários de São Leopoldo têm umagrande fatia de professores/as, é estraté-gico botar medo nessa categoria nume-ricamente expressiva. O atraso no paga-mento da 1º parcela do 13º também sina-liza o jogo de força que a prefeitura estárealizando para “dar uma lição” aos mu-nicipários. Porém, se o recado que estásendo dado é para que todos “pensemduas vezes na hora de fazer greve”, a res-posta só pode ser uma: da luta não nosretiramos! Não nos intimidarão!

A luta continua!

Para a campanha salarial de 2014, a basefez aquilo que suas forças conseguiram.Tivemos limitações e devemos buscaridentificá-las para poder romper e criaralternativas. A luta sindical não se re-duz a campanhas salariais; por isso, ainda

Page 8: Balanço 2014/1

8

temos muito trabalho ao longo desseano. Tanto escrachar o governo (especial-mente nos momentos de visibilidade pú-blica para a cidade: Dia do Imigrante eDesfile da Independência) quanto voltarnossas ações para dentro dos sindicatos epara o fortalecimento da base.

A unificação e o protagonismo da baseque se envolveu no processo de greve sãosaldos positivos que não podem se esvairnesse momento e ser resgatados apenasna próxima campanha salarial. Devemosmanter ao longo do ano um espaço contí-nuo de debates e de formação sobre nos-sas questões, que vão da situação do IAPS,ao assédio moral, à carga horária e às con-dições de trabalho. Manter um espaço dearticulação é fundamental para uma lutaa longo prazo, bem como para produzirdisposição e consciência na base.

É necessário ampliar a capacidade departicipação e mobilização dos/as traba-lhadores/as municipais. Essa mudançapassa pelo questionamento da concepçãode sindicalismo e também pela formaçãode espaços descentralizados que favore-çam o empoderamento das categorias.

O caminho é seguirmos mobilizados:desenvolver a organização por lugar detrabalho, consolidar a articulação produ-zida na greve, produzir espaços de for-mação e debate. Nos sindicatos, as insa-tisfações geradas devem ser transforma-das em questionamentos e construção in-terna para desenvolver um sindicalismoque seja fermento dos anseios e açõesde suas categorias, resgatando sindicatos

fortes que conquistem e retomem o valorda luta como caminho da transformação!

Gravataí: Educação emLuta!

Com pouca cobertura dos grandes meiosde comunicação, os trabalhadores e tra-balhadoras em educação do municípiode Gravataí, na região metropolitana dePorto Alegre, travaram uma dura batalhacontra a administração municipal. Foramdez dias (de 11 a 21 de junho) de umagreve que contou com a quase total ade-são da categoria.

A principal reivindicação foi a valori-zação salarial: a categoria exigia a repo-sição da inflação, cerca de 5%, mais umganho real de 6%, totalizando 11% de au-mento. Porém, outras demandas faziamparte da pauta de reivindicações, como ahora-atividade para as professoras de sé-ries iniciais (atualmente essas profissio-nais não contam com um dia de planeja-mento para suas aulas), vale-alimentaçãoe estrutura para as escolas.

O prefeito Marco Alba, do PMDB(ex-secretário do governo Yeda Crusius,envolvido em escândalo de corrupção),mostrando descrédito absoluto em rela-ção aos trabalhadores e trabalhadoras domunicípio, não cedeu em momento al-gum nas poucas reuniões de negociaçãoem que esteve presente pessoalmente.Poucas, pois o prefeito adotou uma pos-tura de se esconder da categoria, envi-ando o procurador do município em seulugar.

Há que se destacar a grande uniãoapresentada pela categoria durante todoo movimento grevista. Durante dias, fa-zendo chuva ou sol, ninguém arredava péda Praça Borges de Medeiros, em frenteà sede da prefeitura municipal. Todasas atividades, marchas, trancamento de

Page 9: Balanço 2014/1

9

ruas, ocupação da praça e da prefeitura,contaram com a participação massiva deprofessores, professoras e representantesde outras categorias de municipários queaderiram à luta. O prefeito teve de entrarcom um pedido de ilegalidade da greve,alegando que os alimentos destinados àmerenda escolar estavam estragando nasescolas. O mais surpreendente é que esseargumento foi aceito pela juíza responsá-vel em Gravataí. Surpreendente, porqueesse tipo de decisão só se aplica em casode greves no setor de transporte, segu-rança ou saúde.

Ainda que a greve tenha terminadosem uma conquista material, os traba-lhadores e trabalhadoras em educação deGravataí não saíram derrotados, pois hámais de uma década não ocorria uma mo-vimentação da categoria nesse sentido.É importante nos mantermos mobiliza-dos, pois a luta não acabou. Essa foisomente uma etapa de um conflito queexigirá mais ousadia do magistério nasações, para avançar nas conquistas.

A importante greve dosmunicipários de PortoAlegre, e umprotagonismo de baseque foi sufocado!

Durante 11 dias, os municipários de PortoAlegre pararam a cidade em uma impor-

tante luta por melhores condições de tra-balho e valorização. A construção das rei-vindicações da data-base de 2014 ocorreudesde as assembleias setoriais, regionais egeral ocorridas em março, incluindo de-mandas de longa data, tais como o com-bate ao assédio moral, o fim das terceiri-zações e o plano de saúde.

No mês de abril, os municipários apre-sentaram à prefeitura suas demandas.Dada a contraproposta desrespeitosa deFortunati, de conceder um ridículo au-mento de 2,5%, que sequer atingia a in-flação, a categoria iniciou com firmeza aconstrução da greve. A mobilização in-cluiu um piquete no transbordo do DMLUno dia 26 de maio, dando um prelúdio doque seria o principal foco de resistênciada greve, responsável por desatar a ira deFortunati e seus porta-vozes nos meios de(des)informação.

Em uma grande e acirrada assembleiarealizada no dia 15 de maio, decidiu-secorretamente por iniciar a greve no dia02/06, aproveitando as semanas préviaspara ampliar a mobilização para o maiornúmero de setores, além de aproveitar ocontexto da Copa como forma de intensi-ficar as pressões em direção a prefeitura.

No dia da assembleia para iniciar agreve, pouco tempo antes de seu início, oprefeito convocou a direção do sindicatopara uma pretensa negociação. A mano-bra de Fortunati tratava-se antes de maisnada de uma afronta à categoria, bus-cando disseminar desconfianças, na me-dida em que atrasava demasiadamente oinício da assembleia para repetir sua an-tiga proposta. Os trabalhadores mais umavez rejeitaram categoricamente a afronta

Page 10: Balanço 2014/1

10

de Fortunati e deflagraram o início dagreve.

Um protagonismo de basesurpreende a direção

Um elemento importantíssimo nessaúltima greve foi a grande iniciativa de par-ticipação da categoria ao longo do pro-cesso, demarcando um importante prota-gonismo de base. Nos piquetes e na mo-bilização permanente em frente ao PaçoMunicipal, os municipários se reconhe-ciam, se enxergavam e denunciavam osdesmandos do governo, destacando osinúmeros casos de assédio moral, princi-palmente na área da saúde, a precariza-ção das relações de trabalho e o avançoda terceirização (ápice da política de re-tirada de direitos e de redução e arrochosalarial) – um exemplo foi o caso do his-tórico e aguerrido piquete no transbordodo DMLU. Estava em curso não um apoio“passivo” e “simpático” da base em tornoda pauta de reivindicações, mas sim umacontundente disposição de tomar inicia-tiva na luta.

As municipárias e municipários de-monstravam a forte disposição da cate-goria em grandes marchas pelo centroda cidade, expondo suas precárias con-dições de trabalho aos demais trabalha-dores da cidade, exigindo valorização efim do assédio moral. O governo seguiutentando marcar as mesas de negociaçãona mesma hora de assembleias agenda-

das, como forma de dispersar a mobiliza-ção. Na assembleia de 6 de junho, quandoesta afronta se repetiu, a categoria deu adevida resposta, ocupando em massa aCâmara de Vereadores (onde se realizavaa “negociação”), medida que gerou pâ-nico em diversos dirigentes sindicais bemcomportados, que buscavam um ambi-ente “ordeiro”, que não colocasse a “opi-nião pública” contra a categoria.

Esse temor em se apoiar na disposi-ção de luta para radicalizar a mobiliza-ção, também era visto na conduta dis-simulada nas assembleias. Nenhum di-rigente sindical minimamente experientedefende abertamente o fim de uma grevena primeira migalha que cai da mesa dosgovernos e patrões, pois tal iniciativa seriaum verdadeiro suicídio de suas respecti-vas carreiras de gestores burocráticos. Re-correm, portanto, a diversas dissimula-ções, com o objetivo de frear a disposiçãode luta e pavimentar o caminho da capi-tulação. Isso ficava claro quando, por umlado, se liam as afrontas, travestidas depropostas, de Fortunati com um “ânimo”sonolento e, por outro, quando se insinu-ava que já havíamos “conseguido avan-ços” e que a “assembleia estava mais re-duzida”, embora não houvesse dados con-cretos sobre as adesões da greve. Isso tudoera feito em um momento onde a ten-são se acirrava, aumentando significativa-mente a revolta da categoria com a pos-tura truculenta de Fortunati e Melo.

O lamentável desfecho da greve

Com o início da Copa do Mundo e coma marca de 1 semana de greve, o deses-pero da direção sindical por acabar com agreve aumentava significativamente, de-fendendo que bastava naquele momentonegociar os dias parados. No entanto, naassembleia de 10/07, a categoria não acei-tou tal saída desmoralizante.

A permanência na greve arrancou,

Page 11: Balanço 2014/1

11

logo em seguida, um reajuste de acordocom a inflação IPCA, um aumento deR$2,00 no vale-alimentação, a garantiade salário mínimo como básico de todosos municipários, comissão paritária doplano de carreira e encaminhamento doplano de saúde, além da compensação dedias e garantia de não punição de muni-cipários em estágio probatório e com fun-ções gratificadas.

Ao fim, a greve não se encerrou por umentendimento dos trabalhadores do mu-nicípio de que haviam chegado ao seu li-mite na luta, mas pela direção sindical,que pautou a capitulação pela compensa-ção do direito de greve. A categoria cla-ramente não estava se sentindo vitoriosa.O estado de greve foi mantido, e o prazode 60 dias foi fixado para nova assembleiae para o encaminhamento de reivindica-ções específicas de cada secretaria.

O comando de greve foi o espaço am-pliado de representação da categoria du-rante o período, sendo esse o espaço emque encaminhamentos políticos e de mo-bilização deveriam ocorrer democratica-mente. A direção sindical deve semprediscutir neste espaço os rumos e os passosda greve, por ser um momento de maioraprofundamento, abertura e transparên-cia das questões. Cancelamentos de reu-niões e encaminhamentos realizados emreuniões paralelas e obscuras ao conjuntoda categoria demonstraram a centraliza-ção do poder, a burocratização e o per-sonalismo que pairam sobre nosso sindi-cato, que devem ser combatidos de formapermanente.

A categoria retornou ao trabalho sem asensação de vitória após o esforço de umagrande batalha, pois mesmo demons-trando intenção de permanecer firme,pautando a assembleia, foi consciente-mente sufocada pela direção do sindicato.

Por uma nova reconquista doSIMPA

Por muitos anos, nosso sindicato ficoucontrolado nas mãos de um grupo mafi-oso que o transformou em mera fachadade arrecadação de fundos, que, em se-guida, eram desviados. No ano de 2006,tivemos uma importante reconquista denosso sindicato, quando esse grupo mafi-oso foi derrotado e, enfim, passamos a terno SIMPA um espaço organizativo, capazde ter instâncias de discussão e delibera-ção que minimamente reunissem a cate-goria.

Não temos a menor dúvida de que talreconquista foi importante para a cate-goria! Porém, reconhecê-la não deve seruma carta branca para recorrermos a todasorte de burocracia, inviabilizando todapossibilidade de alavancarmos uma ver-dadeira retomada sindical. Uma reto-mada que não seja medida pelo controlede um aparelho e sua respectiva distribui-ção de cargos e liberações, mas sim pelacapacidade de empoderar a categoria, au-mentando sua moral em cada luta, ao nãose dobrar às chantagens de nossos opo-nentes. Ao criar mecanismos que demo-cratizem sua estrutura nas práticas, nãonos estatutos. De nada nos adianta umadireção colegiada se, na prática, as deci-sões são controladas a mão de ferro porum grupo de dirigentes.

É preciso uma nova retomada doSIMPA! Para tanto, acreditamos ser degrande importância a nossa organizaçãonos locais de trabalho, a permanente ava-liação dos passos de nossa luta, assimcomo uma maior relação com os demaismovimentos sociais, em especial com aslutas da juventude e o sindicalismo debase e combativo, que, mesmo não tendogrande expressão, começa a se reerguerem todo o país, ameaçando seriamente osburocratas de plantão.

Temos visto com entusiasmo estas re-

Page 12: Balanço 2014/1

12

tomadas combativas das lutas sindicaisno país; tal foi o caso da greve dos rodo-viários em Porto Alegre e São Paulo, dosgaris do Rio de Janeiro, dos operários dasobras do PAC, principalmente no Norte eNordeste do país, dos metroviários de SãoPaulo, entre outras. Não raras vezes, estaslutas estão sendo feitas à revelia e inclu-sive contra as direções sindicais, em umaclara demonstração de que quem deve tero controle das lutas é o conjunto da base,e não um grupo dirigentes “iluminados”.Cabe a nós, municipárias e municipários,nos somarmos a esse importante movi-mento que se desenvolve em todo o país.

O momento é de avaliarmos rigorosa-mente nossa importante experiência deluta de classe, travada com muita disposi-ção nos primeiros dias de junho e, a partirdaí, retirarmos conclusões para não tro-peçar nas mesmas pedras e poder, o maisrápido possível, superar a burocracia e otemor à luta que paira sobre diversos diri-gentes sindicais.

Por um sindicalismo de base!Classista e combativo!

Participe da Resistência!Somos um coletivo de trabalhado-res que, organizados por local de tra-balho, lutam para garantir e ampliaros direitos historicamente conquis-tados pelos de baixo. Acreditamosque é apenas pela organização, lutae solidariedade dos próprios traba-lhadores que conseguiremos arran-car os direitos que nos são negadose conquistar novos, rompendo a ex-ploração e enfrentando a opressãoa que estamos expostos cotidiana-mente. Somos uma tendência (es-tilo de trabalho/método de luta) nomovimento sindical; não para subs-tituir o sindicato, mas para atuarno interior do movimento com umalinha combativa, coerente e cons-truída desde a base. Acreditamosque a luta sindical é a nossa ferra-menta para alcançar conquistas. Porisso, nos unimos e lutamos!

[email protected]