BARROS José D’Assunção Teoria da História Vol. I. Princípios e conceitos

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    Outros Tempos, vol. 10, n.16, 2013 p. 324-330. ISSN:1808-8031

    BARROS, Jos DAssuno. Teoria da Histria Vol. I. Princpios e conceitos. Petrpolis/RJ.Editora Vozes, 3 Ed., 2013, 319 p.

    TEORIA E METODOLOGIA EM DEBATE : maneiras de ver e fazer histria1

    THEORY AND METHODOLOGY IN DEBATE : ways of see and make history

    EDUARDO DE MELO SALGUEIRODoutorando em Histria PPGH/UFGD

    Universidade Federal da Grande DouradosBolsista CAPES

    Dourados / Mato Grosso do Sul, [email protected]

    Iniciamos esta resenha nos remetendo a algumas questes feitas por Jos Carlos Reis,

    em um instigante e provocante artigo. Diz o autor: Pode um historiador ser considerado culto

    e competente sem nenhuma preparao terico-metodolgica?, ou ento, Pode um

    professor, mesmo do ensino fundamental e mdio, ensinar histria sem nenhuma bagagem

    terico-metodolgica?. 2

    Reis est entre os historiadores mais dedicados especialistas a abordar as questes

    terico-metodolgicas da disciplina da Histria no Brasil e, a seu lado, outro proeminentehistoriador, Jos DAssuno Barros igualmente tem feito sua parte. Este ltimo, escritor de

    tantos artigos e livros, vem igualmente despertando a ateno do pblico leitor especializado

    em Histria, com uma trajetria consagrada ao estudo de Teoria, Metodologia e

    Historiografia, propondo que debatamos e discutamos tais esferas do nosso ofcio desde o

    incio da graduao nas diversas licenciaturas em Histria espalhadas pelo pas.

    Barros, tal como Jos C. Reis, avalia que essencial para qualquer profissional da

    Histria, ter denso conhecimento terico sobre sua rea de atuao. Conforme ressalta o autor,

    A Teoria da Histria constitui um campo de estudos fundamental para a formaodo historiador. No possvel desenvolver uma adequada conscinciahistoriogrfica, nos atuais quadros de expectativas relacionadas ao nosso ofcio, semsaber se utilizar de conceitos e hipteses, sem compreender as relaes da Histriacom o Tempo, com a Memria ou com o Espao, ou sem conhecer as grandescorrentes e paradigmas tericos disponibilizados aos historiadores da prpriahistria da historiografia. 3

    1 Resenha submetida avaliao em 13/08/2013 e aprovado para publicao em 27/10 /20132 REIS, Jos Carlos. O lugar da teoria-metodologia na cultura histrica. Revista de Teoria da Histria, ano 3, n.

    6, dezembro de 2011, p. 5.3 BARROS, Jos DAssuno. Teoria da Histria Vol. I. Princpios e conceitos. 2013, p. 11. Os grifos so

    nossos.

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    No por acaso o livro aqui resenhado, Teoria da Histria, Vol. I. Princpios e

    conceitos, foi lanado originalmente em 2011 e, j no ano de 2013, encontra-se em mais uma

    edio, a terceira. Tal obra faz parte de um ambicioso projeto, que contar com seis volumes,

    cinco dos quais j foram publicados.

    Ainda que negue ser do tipo especialista que se dedica a um nico tema, conforme

    relatou em recente entrevista, 4 Jos DAssuno Barros tem ocupado lugar de destaque na

    rea de Teoria, produzindo uma respeitada bibliografia acerca do tema, tanto em formato de

    artigos, ou em seus livros, tais como, O campo da Histria 5 e O projeto de pesquisa em

    Histria 6. Isso no significa que o referido autor esteja limitado Teoria e Metodologia,

    pois como se sabe, pesquisou temas medievais em seu mestrado e doutorado, alm de ter

    estudado a msica, lanando h pouco tempo o livro Razes da msica brasileira, 7 dentre

    outros, confirmando sua transitoriedade em diversos assuntos.

    Trata-se, neste sentido, de um projeto que vem de longa data, amadurecida no

    decorrer dos anos em que o autor tem publicado dezenas de textos sobre Teoria e

    Metodologia. Segundo Barros, sua principal inteno foi pensar a coleo Teoria da

    Histria, como um livro que buscasse suprir as demandas, nos cursos de graduao, para a

    disciplina que recebe este mesmo nome.8

    Desse modo, no primeiro volume de sua coleo, o autor pretender situar seus

    leitores sobre questes pertinentes ao Campo Disciplinar, Teoria, Metodologia, Escola

    histrica, Paradigmas Historiogrficos, dentre outros temas. Sua preocupao em ser

    didtico est presente, e esta uma de suas caractersticas, isto , fazer da Teoria da

    Histria um tema que possa ser atrativo e, ao mesmo tempo, indispensvel para o estudante

    de graduao.

    No captulo inicial, de suma importncia para toda a coleo, Barros pretendermostrar essencialmente o que so Teoria e Metodologia, quais as suas diferenas, e em que

    momento elas se aproximam e mantm o que ele chama de confronto interativo. Segundo o

    autor, tal cuidado pertinente e necessrio, pois no so raras, por exemplo, a confuso entre

    4 ROIZ, Diogo da Silva. Teoria e Metodologia da Histria no Brasil: entrevista com Jos D Assuno Barros. Historiae : revista de histria da Universidade Federal do Rio Grande, v. 3(1), p. 249-258, 2012.

    5 BARROS, Jos D'Assuno. O Campo da Histria - especialidades e abordagens. Petrpolis: Editora Vozes,2004. v. 1. 222p.

    6 BARROS, Jos D'Assuno. O Projeto de Pesquisa em Histria . Petrpolis: Editora Vozes, 2005. v. 1. 236p.7 BARROS, Jos DAssuno. Razes da msica brasileira. Ed. Hucitec, 2011.8 ROIZ, Diogo. Op. Cit., p. 256.

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    Teoria e Mtodo e, mais particularmente, entre Teoria da Histria e Metodologia da

    Histria. 9

    Para tanto, inicialmente o autor tem a louvvel preocupao de apresentar para o seu

    leitor o que exatamente uma disciplina, ou um campo disciplinar, pois uma vez que ele

    est a falar de Histria enquanto disciplina, bastante produtiva sua preocupao em

    esmiuar tal questo, evidenciando como todo campo disciplinar, seja da Qumica, Fsica,

    Astronomia, Geologia, Medicina, etc., possui uma histria e se modifica com o tempo,

    conjuntamente com suas prticas e objetos. Neste sentido, Barros apoiado em Bourdieu -,

    entende que as regras de um campo disciplinar se transformam e podem ser redefinidas a

    partir de seus embates internos.

    Assim, o autor bastante instrutivo na sua tentativa de reflexo sobre quais

    elementos so necessrios para que exista uma disciplina, ou um campo disciplinar. Desse

    modo, ele nos apresenta um quadro, com dez caractersticas, apresentadas da seguinte

    maneira. Toda a disciplina constituda, antes de tudo, por, 1) campo de interesses (por

    exemplo, a Histria e o estudo daquilo que humano e nas mudanas dos nveis no tempo e

    no espao que ocorrem na histria); 2) singularidades (isto , conjunto de parmetros

    definidores que justificam sua existncia. No caso da Histria, a considerao do tempo, o uso

    de fontes, etc.); 3) campos intradisciplinares (os desdobramentos dentro da prpriadisciplina em microdisciplinas, tais como Histria Cultural, Micro-histria, Histria

    Poltica, etc.); 4) aspectos expressivos; 5) aspectos metodolgicos; 6) aspectos

    tericos (estes trs tpicos se referem ao fato de que nenhuma disciplina se desenvolve sem

    que sejam construdas certas prticas discursivas, metodologias e teorias); 7) oposies e

    dilogos interdisciplinares (ainda que tenha sua singularidade, todo campo de saber est

    inserido em uma constante luta disciplinar, desde o seu surgimento, e o dilogo entre vrias

    disciplinas inevitvel); 8) interditos (aquilo que se coloca como proibido ouinterditado para os praticantes de uma determinada disciplina, mas que pode se alterar com

    o tempo); 9) rede humana (trata-se do prprio ato de fazer, isto , os prprios indivduos de

    um determinado campo o modificam, com maior ou menor grau de impacto, no exerccio de

    seu ofcio); 10) olhar sobre si (seria a reflexo sobre o campo, no caso da Histria, isso se

    d por meio de disciplinas como a Historiografia, que uma tentativa de compreender e

    analisar historicamente o desenvolvimento dos trabalhos histricos). 10

    9 BARROS, Jos DAssuno. Op. Cit., 2013, p. 12.10 Id., p. 19-40.

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    Sero mais de vinte pginas dedicadas a explicar os aspectos inerentes a um campo

    disciplinar e que so bastante teis para a compreenso de todo o texto, pois situa o leitor, a

    compreender melhor o funcionamento das disciplinas como um todo e, especialmente a

    Histria. Aps esse tpico, Jos D Assuno Barros ir se debruar na tentativa de deixar

    claro o que Teoria e Metodologia, suas aproximaes e peculiaridades. Segundo o

    autor, a teoria seria um modo de ver e a metodologia, um modo de fazer. Nas suas

    palavras,

    A teoria remete (...) a uma maneira especfica de ver o mundo ou de compreendero campo de fenmenos que esto sendo examinados (...) Por outro lado, a Teoriaremete ainda aos conceitos e categorias que sero empregados para encaminhar uma

    determinada leitura da realidade (...)J a Metodologia remete sempre a uma determinada maneira de trabalhar algo,de eleger ou constituir materiais, de extrair algo especfico desses materiais (...) Ametodologia vincula-se a aes concretas (...) mais do que o pensamento, remete ao e a prtica. 11

    No entanto, conforme j foi mencionado, o autor enfatiza que h um confronto

    interativo entre ambas, nos mostrando como isso se d, pois como informa, frequente que

    uma deciso terica possa encaminhar um tipo de escolha metodolgica ou vice-versa. O

    Materialismo Histrico foi utilizado como exemplo pelo autor,

    (...) no raro que o Materialismo Histrico um dos paradigmas historiogrficoscontemporneos seja referido como um campo terico-metodolgico, uma vez queenxergar a realidade histrica a partir de certos conceitos como a luta de classesou como os modos de produo tambm implica necessariamente umadeterminada metodologia direcionada percepo dos conflitos, das relaes entrecondies concretas imediatas e desenvolvimentos histricos e sociais. [Destemodo] Uma certa maneira de ver as coisas (uma teoria) repercute de alguma maneiranuma determinada maneira de fazer as coisas em termos de operaeshistoriogrficas (uma metodologia). 12

    Desta maneira, teoria e metodologia so, nas suas palavras, irms siamesas e que

    vivem inseparveis na prtica da pesquisa cientfica e, evidentemente, da operao

    historiogrfica.

    No captulo seguinte, intitulado de Teoria da Histria e Filosofia da Histria,

    dividido em trs subcaptulos -, Barros mostra o encontro entre a historiografia e a cincia a

    partir da Teoria, e o papel desta ltima na formao do historiador, ontem e hoje, alm de

    explicar as diferenas entre teoria e filosofia da Histria.

    11 BARROS, Jos DAssuno. Op. Cit., 2013, p. 65-67. Os grifos so nossos.12 Ibid., p. 73.

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    O autor faz um percurso acerca da teorizao da Histria enquanto conhecimento

    cientfico, nos mostrando que se antes do sculo XVIII havia uma Historiografia, entretanto,

    no se pode falar que existia uma Teoria da Histria. Para ele, tanto as filosofias da Histria

    quanto as teorias da Histria so enunciadas em uma nova era historiogrfica que data da

    passagem do sculo XVIII para o XIX e que existira entre ambas, cumplicidades e diferenas.

    No campo da Histria, institucionalmente profissionalizada a partir do sculo XIX,

    pode-se falar que emergem os primeiros paradigmas historiogrficos, que eram o Positivismo,

    o Historicismo e o Materialismo Histrico. Segundo Barros, uma Teoria da Histria, ou um

    paradigma historiogrfico, corresponder a uma certa viso histrica do mundo, ou mesmo a

    uma a uma determinada viso sobre o que vem a ser Histria. 13

    Alm disso, faz uma observao bastante importante nos mostrando que dependendo

    de sua filiao terica, o historiador poder ver o mundo e pensar a historiografia de um

    modo ou de outro, o que no anula, evidentemente, que o mesmo transite por diversas

    correntes tericas. Neste sentido, diz ele, com certeira observao:

    Diante do amplo conjunto de teorias que se disponibilizam ao historiador, sersempre preciso escolher, pois no existem frmulas consensuais com vistas aentender ou praticar a histria. Em termos de Teoria, cada historiador estcondenado a ser livre. 14

    Para finalizar, Barros apresenta efetivamente as diferenas entre as teorias da histria

    e as filosofias da histria. Para ele, as primeiras preocupam-se com a escrita e o ofcio da

    Histria-Disciplina, enquanto as segundas procuram decifrar o sentido da histria-processo.

    Em termos bastante didticos, dir o autor que as filosofias da histria podem ser

    entendidas como um gnero filosfico que produz uma reflexo ou especulao sobre a

    histria, 15 ou, em outras palavras, sobre seu fim. O autor, no entanto, pondera que ainda que

    as especulaes sejam bem mais limitadas nas teorias, elas existem num certo nvel. Bastaver os casos do Positivismo de Comte, que pensava em um fim da histria com a

    sociedade positiva, ou ento o Marxismo e sua sociedade sem classes.

    Para simplificar, o autor nos apresenta um ilustrativo quadro mostrando as principais

    caractersticas das filosofias da histria e das teorias da histria. Em tal ilustrao, as

    primeiras teriam maior carga de especulao filosfica , preocupao primordial com o

    sentido da histria , produzidas predominantemente por filsofos , que seriam muito mais

    13 BARROS, Jos DAssuno. Op. Cit., 2013, p. 87.14 Id., Ibid., p. 91-92. Os grifos so nossos.15 Id., Ibid., p. 117.

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    realizaes pessoais dos filsofos , enquanto as segundas carregariam consigo uma menor

    carga de especulao filosfica , preocupao primordial com a realidade histrica

    percebida atravs das fontes , produzidas predominantemente por historiadores e cientistas

    sociais , espaos de discusso coletiva de setores da historiografia .16

    Assim, ser a partir do sculo XIX, com o afastamento das filosofias da histria e a

    partir da formao da comunidade cientfica dos historiadores e sua institucionalizao, que

    esse profissional passar a teorizar e pensar incessantemente no seu ofcio. Isso significa dizer

    que com a Teoria da Histria, o campo disciplinar Histria passou a olhar sobre si. Desde

    ento, a Teoria da Histria estabeleceu-se como um horizonte obrigatrio para todo

    historiador que aprende e desenvolve seu ofcio. 17

    O terceiro e ltimo captulo mais extenso e aborda uma poro de questes que so

    divididas em cinco subcaptulos. Barros apresentar essencialmente os principais conceitos

    para o estudo de Teoria da Histria. Primeiramente o autor divide a Teoria da Histria em trs

    direes: a primeira seria aquela mais geral, ou seja, o campo de estudos que examina todos

    os aspectos tericos envolvidos na produo do conhecimento histrico; a segunda, Teoria

    da Histria II , mais voltadas s grandes correntes de concepo da Histria no interior de

    cada paradigma (ex: variaes do Positivismo [...] do Materialismo Histrico), ou mesmo

    entre os paradigmas e at independente deles; e a terceira, Teoria da Histria III temligao aos problemas mais particulares, ou seja, sistemas coerentes para a compreenso de

    processos histricos especficos (a Revoluo Francesa, o Nazismo, etc.) desenvolvidos por

    um ou mais historiadores. 18

    Alm dessas trs, o autor nos mostra alguns outros importantes conceitos, tais como

    Matriz disciplinar , Conjunto de preceitos e atributos da Histria (forma de conhecimento)

    que aceito pela ampla maioria dos historiadores; Paradigma Historiogrfico , isto ,

    Grandes linhas dentro da historiografia (...) que apresentam uma forma especfica deconceber e lidar com a Histria, como por exemplo, o Positivismo, Historicismo e

    Materialismo Histrico; Escola Histrica , grandes conjuntos coerentes de historiadores,

    unidos por um programa de ao em comum; e Campo Histrico , que se divide em dois, pois

    seria tanto Modalidades no interior da Histria, que estabelecem conexo umas com as

    outras e, subespecializaes da Histria. 19

    16 Fizemos um resumo de tais caractersticas, que so apresentadas mais detalhadamente em BARROS, JosDAssuno. Op. Cit., 2013, p. 126.

    17 Id., Ibid., p. 147.18 Id., Ibid., p. 163.19 BARROS, Jos DAssuno. Op. Cit., 2013, p. 163.

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    Devemos lembrar, claro, que Barros dedica todo restante de sua obra para esmiuar

    tais conceitos. Trata de mostrar as especificidades das Cincias Humanas em relao s

    Cincias Naturais e Exatas, enfatizando, por exemplo, a ideia de que o historiador, desde a sua

    graduao, deve ter conscincia de que no existe apenas um paradigma historiogrfico

    verdadeiro. Por esta razo, pode exercer a liberdade para transitar em vrios deles, ou, pelo

    menos, respeit-los e aceit-los como plausveis dentro do grande campo disciplinar que a

    Histria, para no cair naquilo que Jos Carlos Reis chama de pirronismo histrico. 20

    Para citarmos um exemplo, no tpico quarto do terceiro captulo, o autor indica que

    devemos nos afastar de alguns vcios que, segundo ele, so nocivos ao historiador. Para citar

    alguns, o pssimo costume de atacarmos autores pessoalmente, em vez de fazermos uma

    discusso eminentemente terica, ou ento, o fetiche do autor, isto , o endeusamento de

    determinados tericos como se fossem os nicos corretos, ou at mesmo a f cega em um

    nico paradigma ou teoria, como se todos os outros fossem errados. Nas suas palavras, no

    podemos incorrer no erro de transformarmos determinadas correntes tericas em dogmas,

    uma vez que tal atitude pode transformar uma boa cincia em m religio (p. 256).

    Nesse sentido, o texto de Jos DAssuno Barros tem diversas qualidades, desde sua

    notria erudio, quanto sua disposio em auxiliar (jovens) pesquisadores, pois nessa obra, a

    principal caracterstica ali encontrada, reside nas suas cirrgicas explicaes dadas aopesquisador da Cincia da Histria. Com uma boa quantidade de exemplos, diversos quadros

    explicativos, e uma narrativa bastante suave, acreditamos que o autor foi bem-sucedido em

    seu objetivo, uma vez que tal obra merece ateno dos professores de Teoria da Histria da

    graduao. No entanto, no se trata de ser apenas uma obra de apresentao da Teoria da

    Histria, trata-se de uma demonstrao de que no possvel escrever uma histria

    problematizada, sem que haja um exerccio terico-metodolgico na orientao das nossas

    pesquisas e do nosso ensino de Histria.

    20 REIS, Jos Carlos. O desafio historiogrfico. Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2010.