Base de acusação de antígona

6
Faculdade Católica de Rondônia  Acadêmicos (as): Vani za Cordeiro de Souza Victor Samuel Sá Ribeiro Bruno Biliatto Miquéias Pereira Iris de oliveira Docente: Carina Clemes Disciplina: Introdução ao Estudo do Direito 1ºperido/Manhã Assunto: Relatório sobre o livro Antígona de Sófocles Grupo de acusação de Antígona Porto Velho/RO 2014

Transcript of Base de acusação de antígona

  • 7/14/2019 Base de acusao de antgona

    1/6

    Faculdade Catlica de Rondnia

    Acadmicos (as): Vaniza Cordeiro de Souza

    Victor Samuel S Ribeiro

    Bruno Biliatto

    Miquias Pereira

    Iris de oliveira

    Docente: Carina Clemes

    Disciplina: Introduo ao Estudo do Direito

    1perido/Manh

    Assunto:Relatrio sobre o livro Antgona de SfoclesGrupo de acusao de Antgona

    Porto Velho/RO

    2014

  • 7/14/2019 Base de acusao de antgona

    2/6

    Introduo a Antgona

    O que representa Antgona para ns? Um sinnimo de coragem, de justia e dehumanidade? O que isto significa? Em geral, ns a vemos como a herona queenfrenta sozinha o tirano, defendendo a liberdade (to cara ao indivduo moderno)

    em nome de leis divinas inalienveis.

    Ns a admiramos por ter-se insurgido contra regras arbitrrias que contrariam odireito natural da famlia e por defender a conscincia religiosa contra a opressodo Estado. Esta viso tem sua razo de ser, mas ela corre o risco de tornar-se umclich, um mito moderno, uma projeo repetitiva de nossos sonhos. Por isto,convm voltar, sempre de novo, ao texto original, ao quebra-cabea das incrveisironias trgicas de Sfocles.

    Para perceber esta arte insupervel preciso distanciar-se das concepes

    corriqueiras de tragdias cotidianas desastres de grandes propores,acidentes de trnsito, assassinatos ou outros tipos de fato. No centro da arte dospoetas trgicos est sempre uma situao que coloca o heri diante da escolhaentre dois bens. Em outras palavras, a ao trgica leva infalivelmente a uma aoque negligencia um desses dois bens equivalentes. nisto que consiste areviravolta trgica: o heri age escolhendo um bem, mas desde o incio de sua aoj se anunciam as sombras do erro isto , de uma limitao prpria do homem,

    incapaz de realizar todos os bens.

    O segredo da arte sofocliana est nessas ambigidades, nos sentidos dbios eenigmticos nos quais eclode a tenso dramtica. Para alm das razes explcitas,que levam ao enfrentamento pessoal e religioso de Antgona e Creonte, existe notexto grego uma sutil trama poltica e genealgica que repercute secretamentesobre as posturas bastante matizadas dos diferentes personagens. Quem sedebrua sobre a trama enigmtica que subjaz ao enredo superficial encontra nestatragdia de Sfocles um drama intenso e vivaz. Na leitura do poeta Hlderlin, ospersonagens de Sfocles deixam de ser meros smbolos, adquirindo a textura

    densa e labirntica digna do mestre da ironia. Assim, essas figuras tornam-seinfinitamente mais ricas e sua luta mais verossmil do que no conflito polarizadoque faz de Creonte um simples tirano vido de poder e de Antgona uma santa quese sacrifica pela famlia e pelo dever religioso.

    As personagens principais: Antgona e Creonte. Para compreender o que est emjogo no enfrentamento de Antgona e de Creonte, preciso compreender o peso depequenos sinais que Sfocles colocou nas falas dos seus heris sinais estes quepodem passar despercebidos para leitores que no conhecem bem os mitosantigos, os costumes e as instituies ou a lngua da poca clssica. Delinearemos,portanto, algumas das passagens chaves nas quais se desenha um conflito poltico

    e dinstico que faz de Antgona no apenas a representante de ideais humanitriosabstratos (justia, piedade, leis eternas), mas uma figura com real peso poltico.

  • 7/14/2019 Base de acusao de antgona

    3/6

    Nessa perspectiva, tambm Creonte aparece como algo mais do que um brbaroque abusa do poder, antes revelando os motivos de um esforo sincero para salvar

    Tebas da catstrofe iminente o que aparentemente contradiz as evidncias.

    O hbito nos acostumou a ver Creonte como um tirano egosta e vido de poder. No

    entanto, desde os primeiros versos, Sfocles d tambm Antgona os mesmostraos egocntricos: sublinha que ela se atribui um estatuto privilegiado no palcioe na linhagem dos Labdcidas. A etimologia de seu nome refora essa indicao:Anti-gone significa: anti-, no lugar da (ou contra), gone, a progenitura. Em outraspalavras, a herona marca sua presena como aquela que substitui (a falta de)descendentes de dipo. O poeta equilibrou a ao trgica opondo ao rei ou regente,Creonte, uma mulher, filha dos reis mais prestigiosos que afirma com veemnciasua posio de destaque. Seria ela egocntrica ou apenas consciente de seu papelno direito sucessrio de sua linhagem? Eis a ambigidade trgica que confere aos

    primeiros versos seu estranho frmito. Antgona totalmente diferente de suairm, Ismena.

    Esta representa o que a mulher na plis clssica (um ser frgil, suspeito,insignificante, cujo valor consiste em ser bonita e submissa), ao passo queAntgona tem a presena de esprito, o faro e a truculncia de seu pai. Desde asprimeiras palavras no Prlogo, ela fala com inaudita altivez, com umasuperioridade surpreendente para uma moa to jovem, comparvel apenas aurados heris lendrios.

    Resumo da obra

    A famlia de Antgona tinha relao direta com trono de Tebas e aps tragdiase discusses familiares instaura-se um conflito em torno do reinado. Seusirmos Polnice e Etecles foram amaldioados pelo pai que rejeitaram, edestinados a morrer um pelas mos do outro, o que no deixou de ocorrer, poisse rivalizavam pela posse do trono vazio: Etocles, a favor do tio Creonte, ePolnice, pleiteando reaver para si o trono que fora de seu pai, colocou-secontra Tebas. Creonte que havia tomado o poder prestou honras fnebres aEtocles, seu aliado, mas proibiu, sob pena de morte, que o corpo de Polnicefosse sepultado, decretando que os restos mortais ficassem expostos s avescarniceiras, justificando e legitimando seus atos, repita-se, pelo apego frreo "manipulvel" lei dos homens. Tendo por base que Polnice era um traidordaquela terra e seu inimigo direto. Antgona desobedeceu as ordens do rei esepultou seu irmo passando por cima de leis soberanas.

    Argumentos de acusao contra Antgona

    Lei positivada

    Desobedeceu a uma ordem legal, direta, legtima e vlida do Rei seuGovernante.

  • 7/14/2019 Base de acusao de antgona

    4/6

    Insurgiu-se de maneira egosta e inconsequente contra o Rei e a Cidade deTebas.

    Ameaou diretamente o equilbrio e a ordem social.

    Desafiou de forma deliberada a Soberania do Rei e de Tebas.Antgona abre um duplo conflito: com a polis e com a vontade do seugovernante.

    Recusou-se em obedecer a leis civis, por ach-las inferiores aos desgniosdivinos.

    Aliou-se a um traidor, que matou o legtimo herdeiro do trono, Etocles, e erainimigo de Tebas fazendo aliana com os argivos para conquistar o poder emsua prpria terra pela invaso violenta. Portanto, ficou imediatamente sujeito s

    sanes para inimigos Tebanos.

    Lei natural ou divina

    Ousada e indomvel, atreveu-se a desafiar o rei Creonte (seu tio Creonte), emesmo ciente da pena de morte que seu ato implicaria, recusou-se emobedecer a leis civis, por ach-las inferiores aos desgnios divinos.

    Polnice e Etocles eram amaldioados.

    Preferiu o crime, a desobedincia, o conflito, a afronta direta, ao invs de tentarprimeiro apelar para os laos de parentesco que os unia ao ponto de serchamada de louca pelo Coro.

    Os deuses de baixo eram venerados por Antgona, e os deuses olmpicos,Creonte invoca como protetores da cidade. Zeus o deus maior e protetor dacidade.

    [...] meu crime de hoje ser louvado, pois terei muito mais a quem agradar noreino das sombras do que entre os vivos [...] Admite a arrogncia egosta,assume o crime e usa o divino para defesa de seu crime.

    As catstrofes sucessivas provocadas pelos Labdcidas atraram a ira dosdeuses, e Creonte acredita que preciso afastar-se dessa linhagem infeliz epurificar o solo de Tebas.

    Inicialmente, cabe contextualizar, que Antgona era filha do incesto entreJocasta e dipo (v. dipo Rei), cuja maldio acompanharia tambm asgeraes futuras. Tinha por irmos (mesmos pais): Etocles, Polinice eIsmnia. Antgona, jovem virgem, seria esposa futura de Hmon, filho deCreonte.

  • 7/14/2019 Base de acusao de antgona

    5/6

    A ideia generalizada de direitos subjetivos independentes e acima do direitopositivo perdurou por eras.

    Bases de Argumentao

    Ns a admiramos por ter-se insurgido contra regras e normas positivadas quecontrariam o direito natural da famlia e por defender a conscincia religiosacontra a opresso do Estado. Esta viso tem sua razo de ser, mas ela corre orisco de tornar-se um clich, um mito moderno, uma projeo repetitiva denossos sonhos (Kathrin Rosenfiled)

    Parece prefervel uma sociedade de celerados tementes lei, como diria Kant,a uma sociedade de santos que viram a luz, pois estes s seguem a luz quedescobriram[...]. (ADEODATO, 2009, p.3).

    Para Creonte, que assume o reinado de Tebas, considera Polnice como traidortendo em vista que o reinado era de Etocles. Algumas ou quase a maioria dasobras no citam essa passagem, apenas se referem a uma guerra tendoEtocles de lado oposto e no em busca de seu reino por direito.

    Kathrin Rosenfield observa em sua obra que: Antgona diz, en passant, noprlogo o grande Creonte, ela assinala, entre outras coisas, a inferioridadetradicional da linhagem de Creonte (no s sua indignao pelo decreto queordena a exposio do cadver de Polnice. (Rosenfield, Katrin, Ed. Zahar2009).Para o leitor atento e sensvel as mscaras usadas por Antgona, consegueenxergar que ela usou um fato dos campos familiar, religioso e humanitriopara disfarar e maquiar sua inteno de derrubar o trono de Creonte eassumir o governo de Tebas.Vejamos o que diz a carta magna a respeito desta situao pontual:

    Art. 5/CF

    VIII ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou deconvico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigao

    legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada emlei;

    Ela no se inclua na cidade ou nas leis que a regiam, tanto que fala paraIsmene que Creonte decretou uma lei para todos e pasmes, tambm paramim.O hbito nos acostumou a ver Creonte como um tirano egosta e vido depoder. No entanto, desde os primeiros versos, Sfocles d tambm Antgonaos mesmos traos egocntricos: sublinha que ela se atribui um estatutoprivilegiado no palcio e na linhagem dos Labdcidas.

    Desde as primeiras palavras no Prlogo, ela fala com inaudita altivez, com umasuperioridade surpreendentemente egosta e poltica.

  • 7/14/2019 Base de acusao de antgona

    6/6

    Estamos falando de algum que colocou seus interesses, suas paixes e seuegocentrismo principesco acima do Rei, da Sociedade, da Estabilidade, daSoberania e da Segurana de um povo, manipulando o povo atravs de um

    pseudo ato heroico mascarado com o vu da enganao de seus verdadeirosmotivos, que eram o de tomar o trono de Tebas e reinar mesmo contrariandoas leis divinas que ela mesmo pregava, mesmo sabendo que era a ltima dacasa dos Labdcidas que foram amaldioados at a ltima gerao, portantoesta se encerrava nela.

    Antgona sabe que pode morrer, mas escolhe o dever religioso e a glria."Deixe-me, deixe minha imprudncia correr esse risco. Ainda que me sejanecessrio sofrer, morrerei gloriosamente" insiste ela, contra uma irm quereconhece em seu gesto a marca de uma loucura, de uma loucura de quem"sabe amar aqueles que ama" (ANT. 94-l(K)).

    Creonte no tirano, legtimo.Creonte em sua primeira fala pretende esposar um ponto de vista humano porexcelncia, o lugar da poltica e das leis criadas pelos homens. Por isso seuprimeiro discurso todo voltado para uma lgica que a cidade democrtica dosculo V conhece e adota. Num primeiro momento, ele mostra que ocupa opoder de maneira legtima: "... o poder soberano me foi concedido por ser oparente mais prximo" (Ant. 170).No caracterizando com isso que seu mando seja imediatamente caracterizadocomo tirnico. Em segundo lugar, procura opor os atos rebeldes necessidadede conservao da cidade: "... Que Zeus saiba, ele que l nos coraes: nosou homem a me calar, quando vejo a desordem de um s pr em perigo a

    sorte de todos" (ANT. 180-185). Como observa Lanza, trata-se de umprograma poltico, de um discurso de investiduraE no podemos negar-lhe aeficcia.Como observa Knox, ele professa uma religio da cidade, um culto dosdefensores da polis, que nada tem de irreligioso, embora algum possa indicarcerta superficialidade de crena, no entanto, no foi recusada pelos ateniensesdo sculo V.Ismena se curva (aceita) sob a vergonha da maldio, ao passo que Antgona(69-77) encara esses insucessos como se sua audcia pudesse reverter asituao.