Benefícios da implantação e implementação de um Programa...

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1 Benefícios da implantação e implementação de um Programa de Ginástica Laboral adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM) - Estudo de caso Maevilin dos Santos Freire 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia 2 Pós-graduação em Ergonomia: Produto e Processo Faculdade FASERRA Resumo A implantação de Programa de Ginastica Laboral - PGL constitui, dentre muitos benefícios, importante método preventivo para evitar o aparecimento de doenças ocupacionais e até mesmo interferir na produtividade. A pausa com exercícios (Ginástica Laboral GL) tem sido amplamente estudada em função dos benefícios com relação à saúde do trabalhador, porém um programa inadequado ao público alvo pode comprometer seus resultados. O presente estudo teve como objetivo principal mostrar os benefícios da implantação e implementação de um Programa de Ginástica Laboral PGL adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM). Os dados foram obtidos através de pesquisa quanti-qualitativa com base num estudo de caso descritivo. A análise da implantação e implementação do PGL deu-se através de entrevistas com os facilitadores setoriais e utilizaram-se os dados derivados de questionário semiaberto, onde foram identificadas as possíveis causas da problemática levantada: baixa adesão ao PGL em virtude do desconhecimento dos benefícios da GL. Após o estudo observou-se que as intervenções para a adequação do PGL foram salutares e de suma importância para sua melhoria, estimulando a participação voluntária de um número maior de funcionário, 60% a mais, e contribuindo de maneira significativa com a prática da ergonomia. Palavras-chave: Ergonomia; Programa de Ginastica Laboral; Benefício. 1. Introdução A constante busca por ambientes de trabalho mais sadios e com melhoria na qualidade de vida para os funcionários é preocupação crescente entre as empresas que prezam o destaque em seus negócios dentro da acirrada concorrência do mundo atual. 1 Considerando-se que, em todos os setores das empresas, investir em ergonomia é viável para intervir preventivamente em fatores como o aparecimento de dores em diversos segmentos corporais, repetitividade, stress, dentre outros, expõem o trabalhador ao risco de desenvolver doenças ocupacionais. 2 Diariamente, durante o período laboral, os trabalhadores podem assumir diferentes posturas e demandar inúmeros esforços musculares que a curto, médio ou longo prazo, podem causar doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho como inúmeras patologias. 3 Segundo Martins 4 com processos de trabalhos em crescente informatização o uso de computadores acompanhados dos avanços tecnológicos acarretam inúmeros problemas devido às múltiplas exigências posturais na execução das tarefas, que em maior parte do tempo sentado (estática) desencadeia o sedentarismo. Acrescentando-se à falta de preocupação ergonômica, per se, justifica a adoção de intervenções ergonômicas. 1 Pós Graduando em Ergonomia: Produto e Processo 2 Fisioterapeuta, especialista em Metodologia do Ensino Superior, mestre em Bioética e Direito em Saúde.

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Benefícios da implantação e implementação de um Programa de Ginástica

Laboral adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM) -

Estudo de caso

Maevilin dos Santos Freire1

[email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia2

Pós-graduação em Ergonomia: Produto e Processo – Faculdade FASERRA

Resumo A implantação de Programa de Ginastica Laboral - PGL constitui, dentre muitos benefícios,

importante método preventivo para evitar o aparecimento de doenças ocupacionais e até mesmo

interferir na produtividade. A pausa com exercícios (Ginástica Laboral – GL) tem sido amplamente

estudada em função dos benefícios com relação à saúde do trabalhador, porém um programa

inadequado ao público alvo pode comprometer seus resultados. O presente estudo teve como

objetivo principal mostrar os benefícios da implantação e implementação de um Programa de

Ginástica Laboral – PGL adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM). Os dados

foram obtidos através de pesquisa quanti-qualitativa com base num estudo de caso descritivo. A

análise da implantação e implementação do PGL deu-se através de entrevistas com os facilitadores

setoriais e utilizaram-se os dados derivados de questionário semiaberto, onde foram identificadas

as possíveis causas da problemática levantada: baixa adesão ao PGL em virtude do

desconhecimento dos benefícios da GL. Após o estudo observou-se que as intervenções para a

adequação do PGL foram salutares e de suma importância para sua melhoria, estimulando a

participação voluntária de um número maior de funcionário, 60% a mais, e contribuindo de

maneira significativa com a prática da ergonomia.

Palavras-chave: Ergonomia; Programa de Ginastica Laboral; Benefício.

1. Introdução

A constante busca por ambientes de trabalho mais sadios e com melhoria na qualidade de vida para

os funcionários é preocupação crescente entre as empresas que prezam o destaque em seus negócios

dentro da acirrada concorrência do mundo atual. 1

Considerando-se que, em todos os setores das empresas, investir em ergonomia é viável para

intervir preventivamente em fatores como o aparecimento de dores em diversos segmentos

corporais, repetitividade, stress, dentre outros, expõem o trabalhador ao risco de desenvolver

doenças ocupacionais. 2

Diariamente, durante o período laboral, os trabalhadores podem assumir diferentes posturas e

demandar inúmeros esforços musculares que a curto, médio ou longo prazo, podem causar doenças

ocupacionais relacionadas ao trabalho como inúmeras patologias. 3

Segundo Martins4 com processos de trabalhos em crescente informatização o uso de computadores

acompanhados dos avanços tecnológicos acarretam inúmeros problemas devido às múltiplas

exigências posturais na execução das tarefas, que em maior parte do tempo sentado (estática)

desencadeia o sedentarismo. Acrescentando-se à falta de preocupação ergonômica, per se, justifica

a adoção de intervenções ergonômicas.

1 Pós Graduando em Ergonomia: Produto e Processo 2 Fisioterapeuta, especialista em Metodologia do Ensino Superior, mestre em Bioética e Direito em Saúde.

2

Estudos mostram que as empresas que aplicam a ergonomia de forma efetiva melhoram a saúde do

colaborador e aumentam a qualidade de seus produtos e serviços. 5

O presente trabalho tem como objetivo mostrar os benefícios da implantação e implementação de

um Programa de Ginástica Laboral adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus - PIM.

2. Fundamentação Teórica

2.1 - Evolução do trabalho

Conforme Felizardo et al.6 a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra a partir de 1760 (no século

XVIII) ocorreu em principio à razão do rápido crescimento da população e a constante migração do

homem do campo para a cidade provocando o excesso de mão-de-obra barata concentrando

trabalhadores em fábricas e tornando-os operários assalariados.

Segundo Cavalcante & Silva7 esta revolução foi grande precursora da consolidação do capitalismo

industrial indo além da ideia de grande desenvolvimento dos mecanismos tecnológicos aplicados à

produção. Também originou mudanças nos comportamentos sociais, formas de acumulação de

capital, modelos políticos, nova visão do mundo e avanços em descobertas cientificas acompanhada

da redução do salário devido à mecanização de processos que desqualificava a força humana de

trabalho.

Para Rodrigues e Rodrigues8 o capitalismo industrial inaugura um novo tipo de comercio, as

empresas começam a investir pesado em produção em grande escala através do surgimento dos

bancos que viabilizam créditos direcionados ao aumento de lucro/consumo, também se ignoram

condições de segurança e higiene/alimentação e limites do trabalho humano.

Assim nasce a sociedade da tecnologia, sendo fundamental para a consolidação da unidade

produtiva típica que sustenta todo o sistema atual de qualquer empresa de capital privado. 6

Segundo Iida9 à medida do desenvolvimento da tecnologia em que sistemas produtivos evoluem e

as máquinas a diariamente assumem o trabalho pesado, aumenta-se a produtividade e a qualidade

dos produtos, ao homem é designado e aumentado o esforço mental e dos sentidos. Assim,

gradativamente, o homem foi migrando seu trabalho para tarefas que as máquinas ainda não são

capazes de executar, como por exemplo, tarefas informatizadas com uso de computadores

comumente utilizadas na área administrativas.

Para Dejours10 o modelo administrativo-produtivo iniciado registra que as reivindicações operárias

já apareciam durante as duas grandes guerras mundiais. A luta pela sobrevivência deu lugar à luta

pela saúde do corpo, melhoria das condições de trabalho, segurança higiene e prevenção das

doenças.

A relação entre trabalho e saúde é afetada pela organização do trabalho e por fatores psicológicos

relacionados ao trabalho, podendo contribuir para o aparecimento de disfunções, doenças e

acidentes de trabalho. 2

No contexto atual e futuro o estudo do posto de trabalho administrativo tem importância

significativa, pois uso da informática na realização das tarefas deve-se considerar a interação do

homem com o equipamento, o mobiliário e o meio ambiente, bem como impactos a saúde e

segurança, o que acabou por gerar a necessidade de desenvolver estudo para adequação do trabalho

ao homem conhecido como Ergonomia. 11

3

2.2 - Historia e conceitos de Ergonomia

Derivada do grego ergo (trabalho) e nomos (leis), para denotar a ciência do trabalho, ergonomia é

uma disciplina orientada aos sistemas que agora se estende por todos os aspectos da atividade

humana.12

Segundo Barbosa Filho13 relata que o termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez em 1857 pelo

polonês Woitej Yastembowky na publicação de um artigo intitulado “Ensaios de ergonomia ou

ciência do trabalho, baseado nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”.

Conforme Militão14, a ergonomia pode ser definida como uma ciência multidisciplinar que estuda a

relação do homem com o seu trabalho que tem o objetivo básico de humanizar e melhorar a

produtividade do sistema de trabalho. Ela fornece meios para a melhoria da qualidade de vida dos

trabalhadores, adaptando o trabalho às características anatômicas, fisiológicas e psicológicas destes.

Dessa maneira Dul e Weerdmeest2, acrescentam que: a ergonomia difere de outras áreas do

conhecimento pelo seu caráter interdisciplinar e pela sua natureza aplicada. Quando interdisciplinar,

se apoia em diversas áreas do conhecimento humano e ao aplicada se configura na adaptação do

posto de trabalho e do ambiente às características e necessidades do trabalhador a fim de oferecer

melhores condições para o desempenho saudável de suas atividades.

A Associação Brasileira de Ergonomia - ABERGO define a ergonomia como sendo o estudo das

interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente para intervenções corretivas e

projetos que visem melhorar de forma integrada e não dissociada a segurança, o conforto, o bem-

estar e a eficácia das atividades humanas. 21

Segundo retrata NASCIMENTO & MORAES16 a ergonomia no Brasil inicia nos meados dos anos

70:

“No ano de 1970, a ergonomia começou a ganhar espaço no Brasil. Em 1975,

apareceram os primeiros postos informatizados. Já em 1980, com a intensidade do trabalho

informatizado, houve necessidade de atuação de profissionais com conhecimento de

ergonomia para solucionar situações existentes nos ambientes de trabalho, consideradas

desencadeadoras de alterações osteomusculares em digitadores. Em 1990, a ergonomia

estabeleceu-se plenamente no Brasil, com atuação nas mais diversas áreas de trabalho”.

No Brasil a aplicação da ergonomia tem notoriedade e às exigências do Ministério do Trabalho e

Emprego através do cumprimento da Norma Regulamentadora NR 17 (Portaria nº 3.751,

23/11/1990) resultada de reivindicação sindical, mas seu texto contém parâmetros que devem ser

seguidos, de uma forma muito mais ampla e abrangente em todos os ramos como o item que delega

ao empregador a realização da Análise Ergonômica do Trabalho – AET ressaltando os trabalhos

com equipamentos de processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo. 27

Somente após as análises sistemáticas nos focos, natureza das tarefas executadas será possível

aferir, com mais precisão, os problemas e seus custos, revendo as expectativas de retorno dos

projetos de transformação.17-18

A Ergonomia continuou a crescer a partir dos anos 80, particularmente, devido às novas tecnologias

informatizadas que propiciaram novos desafios à Ergonomia. O papel do profissional de Ergonomia

nas indústrias nucleares e de controle de processos, cresceu após os acidentes de Three Mile Island,

nos Estados Unidos, e de Bhopal, na Índia. 15

Atualmente os ergonomistas contribuem no planejamento e desenvolvimento de projetos através da

avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los

compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações humanas. 17

4

A origem e a evolução da ergonomia estão relacionadas às transformações socioeconômicas e,

sobretudo, tecnológicas que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. 18

Silveira e Salustiano21 declaram que conforme a Previdência Social (2010), as estatísticas de

acidentes e doenças nos ambientes laborais retratam a necessidade da intensificação no

conhecimento da ergonomia como fator de extrema importância para as organizações com a

finalidade de prevenir e/ ou mitigar problemas ergonômicos.

2.3 - Principais problemas relacionados a Ergonomia

Historicamente, o primeiro relato a associar queixas dolorosas nos membros superiores a tipos de

atividade de trabalho foi feito, provavelmente, por Ramazzini, em 1713. Apesar de esta primeira

associação datar do século XVIII, só recentemente o assunto despertou interesse mundial. 5

Segundo Tavares22 os riscos ergonômicos que têm maior relação com o uso de computadores são:

exigência de postura inadequada, utilização de mobiliário impróprio, imposição de ritmos

excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e

repetitividade. Além desses riscos, as condições gerais do ambiente (iluminação, temperatura e

ruído) têm grande influência no comportamento dos trabalhadores.

A partir desta abordagem, a demanda inicial da área administrativa dá-se pela obrigatoriedade em

atender os parâmetros estabelecidos que permitam a adaptação das condições de trabalho às

características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto,

segurança e desempenho eficiente. 15

De acordo com Souza & Júnior23 as atividades desempenhadas pelo grupo administrativo se

caracteriza pelo trabalhador permanecer a maior parte do dia sentado, realizando trabalhos de

natureza manual com fina coordenação motora, e com utilização dos músculos da cervical m.

esternocleidomastóide; Ombro - m. trapézio e m. deltóide; Mãos e punhos - m. palmar longo, m.

flexores e extensores da mão.

Segundo Oliveira24 com o crescimento das empresas de indústria, comércio e serviços, cresceu

também o número de profissionais em serviços burocráticos que comumente relatam não possuir

tempo para as atividades físicas.

Nahas25 explica que este fator é muito agravante para a saúde física neste ritmo de trabalho estático,

em sua maioria em postura sentada incorreta, pois além do longo tempo que os trabalhadores

passam no interior das empresas, a maioria ainda dedicam horas do seu dia/noite aos estudos ou de

maneira passiva aumentando o tempo sem atividade física, visto que até a locomoção se dá pela a

utilização de algum meio para o transporte reduzindo ainda mais o uso das funções do sistema

locomotor fortalecendo um ciclo de hábitos sedentários.

As ramificações econômicas em diversos momentos se deram sem um adequado planejamento

físico e/ ou organizacional, com a cobrança direta de resultados que gerassem ganhos e lucros, deste

modo abriu-se margem para a difusão do estresse no ambiente de trabalho, que como consequência

proporcionou o aumento de diversas patologias relacionadas ao trabalho. 24

O exercício de trabalhos informatizados onde não há preocupação com a ergonomia desses postos/

processos laborais aumentam a exposição aos riscos ergonômicos agravados pelo sedentarismo e

como consequência fatídica o aparecimento das doenças laborais que ao longo do tempo levam

esses trabalhadores a incapacidade temporária ou definitiva da musculatura. 26

Segundo Nahas25 diz que o comportamento sedentário provoca uma série de manifestações no

sistema cardiovascular, sistema vegetativo e nas glândulas endócrinas, provocando doenças

hipocinéticas.

O indivíduo que permanece sem flexão anterior do tronco e com a falta de apoio lombar e do

antebraço, potencializa a pressão intradiscal para mais de 70%, o que pode predispor a maiores

5

índices de desconfortos tais como dor, sensação de peso e formigamento em diferentes partes do

corpo e, principalmente, a processos degenerativos, como a hérnia de disco, tendinites, LER e

DORTs que são irreversíveis. 28

Mediante ao exposto, faz-se necessário o estudo do tema em voga, uma vez que sua importância e

abrangência devem ser conhecidas por parte das empresas no que se as possíveis medidas para

eliminar ou mitigar os problemas ergonômicos.

2.4 - Principais medidas para eliminar ou mitigar os problemas ergonômicos

As propostas de intervenções nestes processos podem ir além da adequação do imobiliário,

equipamentos, condições ambientais, revezamentos, organização do trabalho até os programas de

pausas com exercícios estabelecendo o incentivo a promoção da saúde do trabalhador sendo que

esta combinação será eficaz e não apenas paliativa para a finalidade almejada pelas empresas. 15,13

Fonte: O próprio autor

Tabela 1 – Patogênese e sintomatologia dos agentes ergonômicos

Guerra et al.26 afirma que desenvolver nos trabalhadores um sistemático modelo de mudanças de

hábitos que inclua atividade física no ambiente de trabalho é o primeiro passo para ajudar a resolver

os problemas relacionados ao sedentarismo, má postura, postura sentada e falta de preocupação com

a ergonomia confirmando a importância da pausa ativa como experiência positiva no alcance de

6

resultados esperados podendo ainda evitar incidentes e acidentes e até mesmo encargos trabalhistas

futuros.

2.5 – Ginastica laboral e seus benefícios

Segundo Grandjean29 a pausa durante a jornada de trabalho é fundamental para que haja a

manutenção do ritmo produtivo do trabalhador, tendo em vista que sua principal função fisiológica

é permitir aos tendões lubrificação adequada pelo líquido sinovial. 30

O “carro-chefe” de um Programa de Ginástica Laboral - PGL é a Ginástica Laboral – GL, mas

também apresenta outras ações voltadas para melhorar qualidade de vida do trabalhador podendo

ser vista como uma ferramenta ergonômica se a considerarmos como “pausa ativa”. Convém frisar

que a ergonomia viabiliza a consolidação do PGL através da GL. 5

Conforme LIMA19 a palavra Ginástica é derivada de Gymnos em grego e significa desn'udo. A

atividade nasceu na antiga Grécia há aproximadamente 3.000 anos como um meio de integrar o

corpo e a mente. Existem registros desse tipo de atividade, desde 1925, na Polônia, Bulgária,

Alemanha Oriental, Holanda e Rússia, quando então era chamada de Ginástica de Pausa.

Os benefícios da implantação da GL trazem melhoria do funcionamento geral do aparelho

musculoesquelético, sendo útil em situações de esforço postural estático excessivo onde o PGL será

contribuinte para efeitos benéficos a saúde humana no ambiente de trabalho. 3

Benefícios com a implantação da Ginástica Laboral

Melhora os movimentos bloqueados por tensões emocionais

Aumenta a amplitude muscular

Melhora a coordenação motora

Eliminação de toxinas pela melhora da circulação sanguínea

Reduz o sedentarismo

Reduz a fadiga mental e física

Melhora a concentração e agilidade

Prevenção de lesões musculares

Motiva para a mudança de estilo de vida com realização de atividade física

regular

Desenvolve a consciência corporal

Melhora o bem-estar físico e mental

Melhora a socialização

Fonte: ZILLI, 2002, p.66)

Tabela 2 – Benefícios com a implantação da Ginástica Laboral

A GL quando bem orientada, conforme estudos disponíveis, pode contribuir com a ergonomia

reduzindo as dores, fadiga, monotonia, estresse, o absenteísmo (faltas ao trabalho), acidentes e

doenças ocupacionais dos trabalhadores devendo ser associada às demais melhorias ergonômicas e

a conscientização para a correção postural promovendo um alívio destas sintomatologias e atenuar a

carga laboral. 13

Para MARTINS20 e ZILLI31 a GL apresenta-se com caráter preparatório (antes da jornada de

trabalho) ou compensatório (durante ou após o trabalho) podendo citar-se ainda os benefícios como

7

a promoção do bem-estar e da motivação, aumentar a integração no ambiente de trabalho e até a

produtividade.

Contudo, para que a GL solidifique seus benefícios é imperativo que haja um embasamento

ergonômico, pois de nada adiantaria um trabalhador realizar a GL durante quinze minutos se tivesse

que retornar a um posto de trabalho inadequado durante horas. 5

Assim, através da AET a implementação de ajustes ergonômicos que objetivem, no mínimo, a

adaptação do posto de trabalho às características do funcionário, tornam-se indispensáveis.

3. Metodologia

O estudo baseou-se em pesquisa bibliográfica para levantar informações e fornecer a base de

sustentação a respeito do tema abordado, através de pesquisas em diversas fontes (artigos, teses,

dissertações e monografias). Após esta fase deu-se a entrevista com a equipe desenvolvedora do

trabalho para conhecer o caso de implantação e implementação de um Programa de Ginástica

Laboral - PGL num setor administrativo. O programa foi implantado no ano de 2012 numa empresa

do Polo Industrial de Manaus - PIM e realizado o estudo de seus aspectos conforme as informações

disponíveis que se teve acesso.

O referido estudo deu-se no período de março a outubro/2016, com encontros semanais com a

equipe no âmbito da própria empresa, também se realizou visitas in loco no setor onde o programa

foi implantado.

4. Resultados e Discussão

De acordo com o relato da equipe de implantação, o estudo começou a partir na necessidade de se

desenvolver um tema para melhoria no ambiente de trabalho. Após minucioso estudo sob diversos

temas e a análise de alguns parâmetros de controle o número de pessoas do departamento em

tratamento fisioterápico chamou atenção da equipe conforme mostrado na figura abaixo:

Figura 1 - FUNCIONÁRIOS POR SETOR EM TRATAMENTO MÉDICO

Em etapas posteriores do estudo, realizou-se uma pesquisa de campo com aplicação de questionário

semiaberto no total de 122 trabalhadores do turno administrativo no departamento estudado o que

proporcionou a estratificação nos seguintes aspectos: sexo, tempo de serviço, queixas e tipos de

queixas ergonômicas.

Quanto ao sexo o departamento está composto por 92 homens e 30 mulheres distribuídos em

diversos setores realizando atividades:

8

Figura 2 – Composição do departamento por sexo

Em reação ao tempo de casa o departamento apresenta uma grande diversidade de experiência

qualificações sendo agrupados da forma abaixo:

Figura 3 – Divisão do departamento por tempo de casa

O formulário de avaliação do posto de trabalho administrativo, próprio da empresa, foi entregue aos

colaboradores com seis questões formuladas e distribuídas entre três categorias conceituais:

Participação em atividades físicas;

Avaliação das condições de segurança e saúde no trabalho;

E a investigação de problemas de saúde com ênfase ergonômica onde detectou-se que 79,5%

dos colaboradores relataram queixas ocasionais de dores musculares com frequência

semanal mínima até duas vezes por semana.

Figura 4 – REGISTRO DE QUEIXAS MUSCULARES

Os segmentos corporais mais citados como queixas álgicas com frequência esporádica pelo

questionário aplicado foram:

9

Figura 5 – Segmento corporal x Queixas dolorosas

Segundo pesquisas as queixas de dores e lesões na coluna vertebral são frequentes em pessoas com

idade entre 25 e 45 anos, nos homens atingem mais a região lombar e as mulheres são mais

frequentes na região cervical, sendo a causa que mais afastam as pessoas do trabalho,

impossibilitam as diversas atividades diárias, prejudicam o descanso atrapalhando o sono e

diminuem a Qualidade de Vida. 18

A seguir obteve-se os resultados do primeiros questionário:

Item Quantidade Percentual

Participação no PGL 35 28,6%

Satisfação com PGL 20 16,3%

Percepção de dor 97 79,5%

Fonte: Adaptado de dados fornecidos

Tabela 3 – Pesquisa quanti-qualitativa antes das melhorias no PGL

Nota-se, através da tabela 3, que havia participação efetiva de apenas 28% do público alvo em no

máximo 3 vezes por semana do programa oferecido, essas pausas eram usadas para outros fins.

Posteriormente a implantação das melhorias verificou-se que as adequações foram realizadas um

período de 6 meses (maio a novembro de 2012) conforme o cronograma estabelecido, todas as fases

e informações foram organizadas, tabuladas e registradas pela equipe conforme a descrição. O

objetivo era intervir nas possíveis causas da problemática da baixa participação dos funcionários no

PGL. Quanto a análise da situação atual dos postos de trabalho foi realizado o mapeamento

ergonômico onde o ambiente/ imobiliário apresentava-se adequado a natureza da atividade

conforme as recomendações legais aplicáveis.

Utilizou-se, pelos profissionais do setor de ergonomia com o apoio da comissão a ferramenta de

avaliação postural RULA (Rapid Upper Limb Assessment) que avaliou a postura, força e

movimentos associados com a tarefa sedentária pelo trabalho com uso do computador onde o escore

foi 3 (Risco baixo) para as atividades desenvolvidas sendo necessária a intervenção para a melhoria

do programa.

Com base no resultado do questionário e da AET foram determinadas medidas de correção postural,

pequenas adequações do posto de trabalho e a adequação ao programa de Ginastica Laboral, estas

ações conjuntas visaram contribuir para o conforto, evitar o desenvolvimento de doenças

ocupacionais, minimizar as inadequações posturais e consequentemente aumentar em 50% a

participação dos trabalhadores no PGL.

10

Na fase de experimento das adequações propostas para o programa foi criado, no setor estudado,

grupo piloto da Comissão Ergonômica Administrativa, aplicado um treinamento específico para

facilitadores pelos profissionais do setor de Ergonomia da própria empresa para as 6 componentes

da equipe com o objetivo de identificar as causa do problema e intervir preventivamente nas

condições de trabalho que podem desencadear doenças ocupacionais. Verificou-se que a causa não

adesão ao PGL era desconhecimento dos benefícios ergonômicos que a GL pode trazer a saúde.

As melhorias no PGL envolveu a divisão de 1 sessão (anteriormente existente) de em 2 sessões de

GL com duração de 10 minutos diários, realizada nos horários de 7h às 7h05min e de 9h as

9h05min, com frequência de 5 vezes por semana contando com a participação voluntária dos

colaboradores. As sessões de GL consistiram em exercícios de alongamento (estáticos e dinâmicos),

de mobilizações articulares, de exercícios de flexibilidade, resistência e relaxamento, com ênfase

nos membros superiores e coluna vertebral, visando preparar e compensar os trabalhadores pelas

atividades laborais.

E como medida principal foi definido também que o PGL seria acompanhado de Diálogo Quinzenal

de Segurança – DQS para a difusão de informações sobre a importância da prática da ergonomia no

ambiente de trabalho bem como a incorporação do conhecimento sobre consequências das posturas

incorretas/ inadequadas e correto ajuste para uso do mobiliário e equipamentos disponíveis para

manutenção e melhorias no programa.

É importante salientar que dos 122 colaboradores após a adequação das melhorias e realizada a

pesquisa, mais de 60% dos entrevistados aderiram ao PGL, em média 3 vezes por semana,

superando a meta proposta no inicio dos estudos pois demostravam desinteresse e descrédito ao

programa.

Item Quantidade Percentual

Participação no PGL 109 89,3%

Satisfação com PGL 105 86,6%

Percepção de dor 97 79,5%

Fonte: Adaptado de dados fornecidos

Tabela 4 – Pesquisa quanti-qualitativa após das melhorias no PGL

Houve participação com sugestões para as temáticas abordadas nos DQS e interação de 85% em

todas as palestras principalmente em esclarecer dúvidas sobre os riscos relacionados às atividades

exercidas e uso correto dos recursos disponíveis.

Apenas 3,6% dos entrevistados assinalaram ruim, tal fato poderia ser explicado pela ausência de

novas estratégias para aumentar (ou manter) a motivação ao programa.

Figura 5 – SATISFAÇÃO COM AS MELHORIAS DO PGL ESTUDADO

11

Os resultados da análise do questionário após a implantação do PGL não demonstraram

comprovação das melhoras nos relatos de percepção de dor após as intervenções ergonômicas,

porém foi ampliada a participação total no PGL em 60,6% dos entrevistados junto a relatos de

efeitos dos benefícios da GL em funcionários considerados fisicamente inativos.

Com o presente estudo pôde-se se observar na prática que as intervenções para adequação do PGL

foram salutares e de suma importância para a compreensão dos seus benefícios.

Dos 3 itens reavaliados: participação no PGL, satisfação com PGL e percepção de dor, apenas o

último não apresentou diferença significativa entre os respondentes dos formulários (pré e pós-

implantação) servindo como sugestão de tema para estudos mais aprofundados na área.

3. CONCLUSÃO

Após a análise dos resultados do estudo dos “Benefícios da implantação e implementação de um

Programa de Ginástica Laboral adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM)”,

especificamente numa área administrativa concluiu-se que:

- os riscos laborais mais comuns na área administrativa estão relacionados à Ergonomia devido ao

excesso de tempo em posturas e/ou mobiliários inadequados gerando consequências primárias como

as queixas álgicas em diversos segmentos corporais;

- as intervenções para a adequação do PGL estudado foram importantes para comprovar na prática

seus benefícios e efeitos, bem como mostrar a importância da prática da ergonomia no ambiente de

trabalho;

- a adequação do PGL, aumentou a satisfação dos funcionários, estimulando-os após as melhorias,

difundir o conhecimento dos benefícios da GL.

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