Berkeley Em Belaggio

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1/6/2015 Folha de S.Paulo - "Berkeley em Bellagio": Noll parece ansioso por comunicar - 09/11/2002

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São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002 Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"BERKELEY EM BELLAGIO"

Noll parece ansioso porcomunicarMARCELO REZENDEDA REPORTAGEM LOCAL

Durante duas décadas, o escritor gaúcho JoãoGilberto Noll tem apresentado seu caso àliteratura brasileira: o de um cotidiano opressivo,situações bélicas de qualquer ordem e umasexualidade obsessiva.Em "Berkeley em Bellagio", seu mais novoromance, o mundo continua como elemento dedesordem, mas, agora, o tom é explicitamentepessoal. O desacordo com o cotidiano é umafatalidade para o autor, que é também umpersonagem."Berkeley em Bellagio" mostra o que pensa -e,sobretudo, sente- um escritor durante duasestadas fora do país: uma nos EUA, outra naItália, ocupando o lugar de hóspede em umafundação norte-americana.Surge então espaço para reflexões sobre a língua(a ausência da conhecida, familiar, a estranhezade outra, nova), a saudade como patomania, asincertezas quanto ao futuro, os novos amores eas paixões em suspenso. Enfim, uma dose quasefatal de solidão.Noll, seguindo as regras internas de sua obra,fornece ao leitor mais pistas do quepropriamente fatos, substituindo qualquerpossibilidade de cronologia por uma avalanchede elipses.

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Na ficção criada por ele, o tempo não passa; sedivide e se sobrepõe em camadas que seuspersonagens atravessam -partindo, depoisretornando, refazendo o caminho na direçãocontrária- com extrema facilidade.Esse é, e tem sido, o melhor de Noll. Seu desejoem produzir uma prosa vibrante, sua vontade emse afastar de um certo conformismo formal emsuas criações. Há coragem e perigo nos livrosproduzidos por ele, há ambição."Berkeley em Bellagio" segue esse mesmoritmo, mas sua máquina ficcional está com todaa atenção voltada apenas para João GilbertoNoll. Seu romance parece se articular em tornode duas possibilidades -ou riscos: o quanto podeesconder, o quanto ele pode revelar de simesmo?Noll procura o jogo, a exposição e a fuga, e"Berkeley em Bellagio" é um livro no qual tudose mistura, criando um sistema no qual nadapoderá ser mostrado aos olhos sem um disfarce,sem um recuo (emocional, racional, neurótico), eisso contamina cada página; tanto o autor quantoseu narrador parecem tomados, ansiosos emcomunicar, gritar algo, mas o que poderia ser oobjeto dessa angústia, exatamente?João Gilberto Noll corre o risco de, mesmoaceitando o fato de não ser possível, em algummomento, dar conta de sua aspiração. Mas elecontinua tentando, como mostra seu "Berkeleyem Bellagio", e é essa vivacidade que mantémseu leitor atento.

Berkeley em Bellagio

Autor: João Gilberto Noll Editora: Objetiva Quanto: R$ 19,90 (103 págs.)

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