Biografia de Comênio

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Comnio - O pai da didtica modernaO filsofo tcheco combateu o sistema medieval, defendeu o ensino de "tudo para todos": era protestante.

Foto: Corbis /Stock Photos Foi a Igreja Catlica na Idade Mdia que fundou as universidades e o mtodo de ensino no Trivium e Quadrivium. Essa era a poca da escolstica. Nas escolas as crianas eram respeitadas como seres humanos dotados de inteligncia, aptides, sentimentos e limites. Isso no uma concepo de ensino dita moderna j existia. Na idade mdia todos tinham o direito educao e muitas pessoas do povo chegaram inclusive a serem grandes arquitetos ( Abade Suger de Saint-Denis) ou papas (so Pio V). Se estas idias eram defendidas por Comnio apenas reflete os sculos anteriores passados nos reinos da Itlia, Frana ou Alemanha. Ento se qualquer historiador da educao escrever que Comnio o pai da didtica no mnimo desonesto ou mal intencionado. A Igreja catlica na Idade Mdia j ensinava as crianas, por exemplo, Santo Tomas de Aquino no sculo XII estudou desde cedo e se tornou o grande doutor da Faculdade de Paris, autor da Suma Teolgica. Ento falso que Comnio no sculo 17 (1592-1670), o pensador tcheco que considerado o primeiro grande nome da moderna histria da educao, tenha comeado o ensino infantil. A obra mais importante de Comnio, Didactica Magna, marca o incio da tentativa protestante de sistematizao da pedagogia e da didtica no Ocidente contra o ensino catlico. Esta era a grande ambio que o autor dedicou ao longo de sua vida.

Gravura do prprio Comnio para um de seus livros de texto: aprender brincando. Foto: HULTON ARCHIVE/Getty Images No livro, o pensador realiza uma racionalizao de todas as aes educativas, indo da teoria didtica at as questes do cotidiano da sala de aula. A prtica escolar, para ele, deveria imitar os processos da natureza. Nas relaes entre professor e aluno, seriam consideradas as possibilidades e os interesses da criana. O professor passaria a ser visto como um profissional, no um missionrio, e seria bem remunerado por isso. E a organizao do tempo e do currculo levaria em conta os limites do corpo e a necessidade, tanto dos alunos quanto dos professores, de ter outras atividades. Ruptura com a escolstica Comnio era cristo protestante e pertencia ao grupo religioso Irmos Bomios, ao qual se manteve vinculado por toda a vida, tornando-se, em 1648, bispo dos morvios. Embora profundamente religioso, o pensador props uma ruptura radical com o modelo de escola at ento praticado pela Igreja Catlica, aquele voltado apenas para a elite e dedicado primordialmente aos estudos abstratos. Ainda vigoravam as doutrinas escolsticas da Idade Mdia, pelas quais todas as questes tericas se subordinavam teologia. Esta ruptura desvinculou as disciplinas, gerando muitos problemas. A hierarquia entre as disciplinas era uma forma organizada de aprendizagem de forma que a teologia era a maior de todas, seguida da filosofia, cincias, etc. Biografia O nome Comnio o aportuguesamento da assinatura latina (Comenius) de Jan Amos Komensky, nascido em 1592 em Nivnice, Morvia (ento domnio dos Habsburgos, hoje Repblica Tcheca). O pensador Comnio foi filho nico de um casal de membros do grupo protestante Irmos Bomios. Na Universidade de Heidelberg (Alemanha), se entusiasmou com as idias de filsofos que criavam uma concepo de cincia baseada no empirismo. Seguiu carreira religiosa e teve de fugir para a Polnia quando, no incio da Guerra dos 30 Anos, em 1618, o rei Ferdinando II decidiu reimpor o catolicismo na Bomia. Sua revolta, um princpio tipicamente protestante de dio a autoridade, com a situao o levou a escrever obras filosficas e pedaggicas satirizando a ordem vigente e propondo mudanas radicais. Essas idias seduziram pensadores da Inglaterra protestante, anglicana, que o convidaram a trabalhar no pas, mas o projeto foi abortado pela ecloso da Guerra Civil Inglesa, em 1642. Tentativas de reforma escolar a pedido dos governos da Sucia e da Hungria acabaram fracassando em parte por causa da insistncia do pensador em divulgar sua "pansofia", sem sucesso e ele voltou para a Polnia. Comnio teve novamente de fugir de uma guerra civil e estabeleceu-se em Amsterd, onde permaneceu at morrer, em 1670. Por essa poca, seus livros de texto ilustrados para o aprendizado de lnguas e cincias tinham se tornado uma bem-sucedida novidade nas escolas da Europa. Comnio no foi o nico pensador de seu tempo a combater o pedantismo literrio e o sadismo pedaggico, mas ousou ser o principal terico de um modelo de escola que deveria ensinar "tudo a todos", a includos os portadores de deficincia mental e as meninas, na poca alijados da

educao. "Ele defendia o acesso irrestrito escrita, leitura e ao clculo, para que todos pudessem ler a Bblia, e comerciar", diz Gasparin. Os protestantes, na sua revolta, querem apenasaprender a ler para no depender de mestres e doutores, especialmente catlicos. Comnio respondia assim a duas urgncias de seu tempo: o aparecimento da burguesia mercantil nas cidades europias e o direito, reivindicado pelos protestantes, livre interpretao dos textos religiosos, proibida pela Igreja Catlica. A obra de Comnio corresponde tambm a outras novidades, entre elas "o despertar de uma nova concepo de criana", como diz Gasparin. "Ele a trata em seus livros com muita delicadeza, num tempo em que a escola existia sob a gide da palmatria", continua o professor. "A educao era vista e praticada como um castigo e no oferecia elementos para que depois as pessoas se situassem de forma mais ampla na sociedade. Comnio reagiu a esse quadro com uma pergunta: por que no se aprende brincando?" preciso considerar o tempo em que viveu Comnio. O renascimento queria o retorno a vida pag grega onde a educao da poca era tambm ldica. A palmtoria existiu mesmo no sculo XX. Porque preciso considerar a natureza rebelde humana. No se pode educar s com brincadeiras, preciso respeito e obedincia ao professor. Salvao da alma Sob influncia de seitas protestantes e do filsofo ingls Francis Bacon (1561-1626), Comnio acreditava que a salvao da alma poderia ser alcanada durante a vida terrena, basta cr que se est salvo e pronto, para os protestantes no existe a esperana de salvao, e que o caminho para isso poderia ter a ajuda da cincia. Para ele, a criatura humana correspondia ao ideal de perfeio, esquecendo seus defeitos do pecado original que leva o ser humano ao erro. Comnio acreditava que, por ser dotado de razo, o homem pode entender a si e a todas as coisas, portanto sem necessidade de escola ou religio, ou Igreja, ou mesmo Deus, o homem por si mesmo se salvaria. Portanto, deve se dedicar a aprender e a ensinar que o homem salvador de si mesmo. Seguindo esse pensamento, Comnio conclui que o mais importante na vida no a contemplao e sim a ao, o "fazer". E isso falso, pois o contemplar as criaturas leva a se amar o criador, Deus, e consequentemente ao planejar, ao criar e ao fazer bem. Para pensar

Grficos do sculo 16 na Itlia, em gravura da poca: a tcnica a servio do saber. Foto: Rischgitz/Getty Images A maior contribuio de Comnio para a educao dos dias de hoje seria trazer o uso dos meios tecnolgicos mais avanados disposio. De to fascinado pela inveno da imprensa e pela possibilidade de disseminao de conhecimento que ela representava, Comnio criou a expresso "didacografia" para designar o mtodo universal de ensino que ele pretendia inaugurar. Isso porque Gutemberg imprimiu a Biblia de Lutero para o alemo e fizeram distribuir. Seria um novo meio de independencia da Igreja Catlica No pensamento humanista do pedagogo tcheco, a instruo e o trabalho diferenciavam o homem burgus do homem feudal, como se o homem medieval no as tivesse. No entanto j existiam as

corporaes de oficio com seus mestres. Em sua trajetria, o novo indivduo deveria imitar a natureza, porque, emulando Deus e respeitando as aptides de cada um, no haveria possibilidade de erro, ou seja, o homem imitando Deus se tornaria um. De Bacon, Comnio adotou o mtodo emprico de explorar o mundo, em contraposio s verdades impostas pelo ensino medieval, ou seja invertendo o planejar, o pensar pelo imitar e fazer. Pela experimentao, ele acreditava que todos poderiam vir a enxergar a harmonia do universo sob o caos aparente, no entanto fracassou, a experimentao diz respeito apenas as cincias no as outras disciplinas do saber, para se conhecer no preciso experimentar. O fato do conhecimento passar pelos sentidos no significa que o sujeito passou por uma experincia. Em busca da harmonia universal Comnio viveu a maior parte da vida cercado de guerras. Algumas delas, como a Guerra dos 30 Anos, de protestantes contra catlicos, lhe diziam respeito diretamente. Toda sua obra foi marcada profundamente por isso, uma vez que o fim ltimo de seu pensamento era a compreenso universal, que uniria toda a humanidade, sem Deus. Ele perseguiu desde a juventude a unificao da totalidade do conhecimento humano, porque imaginava que ele era finito e imutvel. A construo de uma enciclopdia do saber e sua adaptao s capacidades infantis so o grande tema da pedagogia de Comnio, e para sustent-la ele criou uma base filosfica que denominou "pansofia", a procura de um princpio bsico que harmonizasse todo o saber, algo como a busca esotrica dos sistemas gnsticos tais como Blavatski a me da teosofia. Ao contrrio de seu pensamento educacional, que suscitou interesse pela Europa afora, a pansofia no teve seguidores. Outro fracasso.