Biografia Manoel de Goes

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Presente da família em comemoração ao aniversário de oitenta anos.

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BIOGRAFIA

MANOEL DE GOES FILHOAos 80 anos

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BIOGRAFIA

POR JÂNIO DUARTE OLIVEIRA

MANOEL DE GOES FILHOAos 80 anos

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AutorJânio Duarte Oliveira

RevisãoFabíola Albuquerque Marques

Nilvan Silva de Gois

ColaboraçãoClara Maria de Gois

Manoel de Goes Filho

DiagramaçãoHudson Lima

ImpressãoSupernova Soluções Gráficas

Duarte Oliveira, Jânio. A biografia Manoel de Goes Filho / Jânio Duarte Oliveira, Cariús: Editora Supernova Soluções Gráficas, 2014. 96p.; 21cm

1. Manoel de Goes 2. Cariús 3. Jucás 4. Malhada Grande

FICHA CATOLOGRÁFICA

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1. Sítio Peixe: a origem 92. A viuvez do pai 163. Primeiro casamento da mãe 174. A morte do pai 215. O nascimento 236. O segundo casamento da mãe 267. Gangorra: nova morada 288. Malhada Grande - um novo recomeço 349. Primeiro casamento 3910. O nascimento dos filhos 4411. A viuvez 4812. Segundo casamento 5213. Vida nova com Cristo 6314. Filhos dos seus filhos 6815. Árvore genealógica 7016. Tempos vindouros 7316. Cronologia 76 Anexo - Fotos 78

Sumário

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Antiga casa do Sítio Peixe, onde nasceu Manoel de Goes Filho.

1Sítio Peixe: A Origem

Ainda era madrugada quando Manoel de Goes Mendonça (Ma-noel Mendonça) percorria as veredas do sítio Peixe, município de São Ma-teus, hoje Jucás, para buscar seu meio de transporte - o mais comum daquela época e que sem dúvida contribuiu enormemente para o desenvolvimento do Ceará do início do século XX: o burro. Ele o chamava carinhosamente de Bem Feito e o considerava quase um membro da família.

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Batentes que dão acesso à cozinha da velha casa do Sítio Peixe, onde nasceu Manoel de Goes.

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Velho fogão à lenha da casa onde nasceu Manoel de Goes

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Em casa, Chiquinha, sua esposa, já preparava o café adoçado com raspas de rapadura e junto com este serviria tapioca, feitos no ve-lho fogão à lenha que ela tanto estava acostumada a usar. Ela sabia que essa “sustanciosa” comida era forte o bastante para manter de pé alguém que passaria o dia inteiro fora sem saber quando come-ria outra vez. A vida no sertão começa muito cedo e logo meninos e me-ninas passam a entender que ser criança e gozar as virtudes dessa fase da vida não é nada fácil. Essas lições, aprendidas desde cedo, vão atravessando gerações e ensinando que homem forte e valente é aquele que trabalha sob sol ou chuva. Manoel Mendonça logo aprendera com seu pai essas lições e durante toda a sua vida as colocou em prática. Nascido em 1894, no sítio Peixe, era um conhecido co-merciante de algodão e diariamente percorria as circunvizinhanças comprando de pequenos produtores o que mais tarde seria chama-do de o “ouro branco” do Sertão. Homem de poucas palavras sabia como ninguém a hora certa de abordar uma pessoa e lançar uma proposta de compra ou troca de seja lá o que fosse. Sua habilidosa natureza para os negócios o tornou popular entre os grandes compradores de algodão da época, dentre eles, Chico Gurgel, da fazenda Poço dos Paus (atual Cariús) que fre-quentemente negociava com ele. Nas primeiras décadas do século XX, o algodão acabou por se tornar o principal produto responsável por movimentar a economia do Ceará. Em 1927, o comércio do produto no Estado chegou inclusive a superar São Paulo.

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À medida que o cultivo do algodão foi prosperando no Estado, estabeleceu-se um modelo de economia cearense predomi-nante baseado na agricultura e também na pecuária, e que durou até meados da década de 1970. Em meio a este cenário de valoriza-ção do algodão, Manoel Mendonça logo prosperou, ajudado pelo conhecimento que tinha das letras e dos números. Além da atividade com o comércio do algodão, Manoel Mendonça também cultivava milho, arroz e feijão no terreno de sua propriedade.

Fundos da velha casa do Sítio Peixe, ainda hoje habitada.

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Na vasta planície localizada ao pé dos serrotes do Peixe, o casal vivia em uma grande casa de tijolos, cercada de pés de ata, cajarana e tamarindo. Aquela vida pacata e tranquila tinha, às vezes, sua dura rotina quebrada pelo contagiante som da sanfona que ele tanto gostava de manusear. Aliás, não muito raramente, costumava frequentar as festas (“sambas”) que apareciam pelos arredores. Sua natureza alegre e festiva não permitia que Manoel Mendonça apenas assistisse ao espetáculo, pois era mestre da dan-ça e da diversão. Naquela época era bastante comum rapazes e moças se casarem muito cedo. As ocasiões para que um rapaz conversasse com uma moça e a pedisse em namoro raramente aconteciam. Por esse motivo, logo na primeira oportunidade o casal já firmava compromisso e o casamento não tardava a acontecer. Sen-do assim, com Manoel Mendonça e Chiquinha não foi diferente. Ela ainda era muito mocinha quando desposou-se com o belo ra-paz de altura mediana e sorriso atraente. Outra característica dos arranjos familiares da época era a enorme quantidade de filhos que vinham com o casamento e estes não demoraram a aparecer. As condições para se ter uma criança não eram nada fá-ceis. As mulheres não recebiam nenhuma orientação por parte de profissionais da saúde e por essa razão, sobrava para as parteiras - mulheres de meia idade e com certa experiência maternal - a tarefa de orientar, conduzir e realizar o parto. Sendo assim, os abortos espontâneos e a morte de mulheres e crianças por complicações durante a parição eram bastante comuns. Ao final da gravidez,

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pelo temor de algo pior, muitas mulheres recorriam a simpatias nada comuns (desamarrar todos os nós da própria roupa ou não permitir que o marido cruzasse as pernas no ato do nascimento da criança eram costumes bastante usuais). Da união de Manoel Mendonça e Chiquinha, primeiro nasceu Gertrudes, em 1917. Depois dela, Antônio, que recebeu este nome em homenagem ao Santo casamenteiro. Do terceiro parto, em 1924, nasceu uma menina, Celeste, e depois dela Vi-cente, o quarto filho do casal. Vicente recebeu esse nome em ho-menagem a um dos irmãos de seu pai, também chamado assim. Manoel Mendonça sempre manteve boa relação com seus irmãos e estes frequentemente visitavam sua casa. Com a chegada das crianças, o tempo parecia passar “vo-ando” e Chiquinha, que outrora dedicava seu tempo a ajudar o marido e a cuidar da casa, tinha agora outra grande tarefa: zelar pelos quatro filhos pequenos. Não tardou muito e nasceu o último filho do casal: Car-mélio, em 1933. A diferença de idade entre as cinco crianças não era muita, tendo Gertrudes, a mais velha, dezesseis anos quando nasceu seu irmão caçula. A vida continuava com sua rotina e a jovem família, agora de sete membros, permanecia com a sua. Enquanto Manoel Men-donça tocava seu trabalho de comerciante, sua companheira zelava pela prole e pela casa.

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2A viuvez do pai

Em janeiro de 1934, a vida pregara uma peça no seio da família. Durante o nascimento do sexto filho do casal, as du-ras circunstâncias do parto causaram a morte de Chiquinha e da criança. Uma tragédia que, sem dúvida, mudaria para sempre o destino de todos e, mais ainda, a do patriarca da família. Depois da morte da esposa, Manoel Mendonça continuou mo-rando no mesmo local. A ausência de sua fiel companheira trouxe para sua vida um grande vazio e olhar para os filhos sem a presen-ça da mãe tornava sua dor ainda maior. O homem alegre e cheio de animação de outrora, parecia não existir mais. Antônio, o filho mais velho do casal, tinha apenas quinze anos de idade quando sua mãe faleceu.

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3Primeiro casamento da mãe

Maria de Sousa Leite (Mariquinha), sua mãe.

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Em junho do mesmo ano, com apenas seis meses de viuvez, Manoel Mendonça, com 40 anos de idade, conhece a jo-vem Maria de Sousa Leite (Mariquinha). Ela, nascida no Sítio Ser-raria (Jucás) no dia 01 de dezembro de 1914, tinha nesta época, apenas dezoito anos de idade quando foi pedida em casamento pelo então viúvo. Com o consentimento da família e sua vontade, ela e Manoel Mendonça se casaram em uma tarde de sábado na igreja de São Mateus.

Casa da Gangorra onde Mariquinha viveu com seus pais antes de se casar.

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Quando se mudou para seu novo lar, no sítio Peixe, Mari-quinha trouxe consigo Luíza, uma menina de oito anos de idade. Elas não eram parentas de sangue, pois Luíza havia sido adotada pela mãe de Mariquinha, já falecida, há alguns anos. Na grande seca de 1932, o Nordeste brasileiro sofria com as consequências da estiagem e era comum a migração de centenas de flagelados para os grandes centros urbanos em busca de melho-res condições de vida. Com o temor da intensa invasão de desabrigados para For-taleza - e para outras grandes cidades do Ceará - o governo criou os chamados Currais do Governo ou Campos de Concentração. Nesses espaços os sertanejos eram alojados e recebiam algum cui-dado e comida, e podiam trabalhar nas frentes de obras, sempre sob a vigilância de soldados. Suas vestimentas eram confecciona-das com o tecido das sacas de açúcar e este uniforme rudimen-tar se assemelharia, mais tarde, aos trajes usados pelos judeus nos campos de Concentração da Alemanha Nazista. Um desses Cam-pos foi construído no Distrito de Poço dos Paus, que exatamente a partir dessa data (1932) passou a se chamar Cariús. De origem indígena, o nome Cariús significa “rio do cari”, um conhecido peixe de água doce, muito comum na região. Muitas pessoas morriam nesses lugares e foi nesse contexto de desgraça que a menina Luíza perdeu seus pais para a fome e as doenças que surgiam frequentemente. Ela e sua irmã mais nova não tinham para onde ir e foram adotadas por duas famílias dis-tintas. Luíza, pelos pais de Mariquinha e sua irmã mais nova, por uma família da sede de São Mateus.

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Agora com uma nova esposa, Manoel Mendonça não mais estava só. Seus cinco filhos possuíam, a partir dali, uma nova mãe que, apesar de não terem nascido de seu ventre, dedicava a eles cuidado e carinho como sendo seus. A vida enfim, apesar de fragilizada pela perda de Chiqui-nha, procurava seguir seu rumo e a rotina de árduo trabalho e cor-reria no dia a dia de Manoel Mendonça começava a normalizar-se.

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4A Morte do Pai

Homem estimado por todos e bastante conhecido na região, Manoel Mendonça frequentemente era chamado para apa-drinhar as crianças filhas de seus vizinhos ou familiares que mora-vam distante dali. Numa dessas ocasiões, na manhã do dia 27 de janeiro de 1934, a família participou de uma missa em Cariús, ainda Distrito de São Mateus. Nessa missa, celebrada na capela de Nossa Senho-ra Auxiliadora, atual Igreja Matriz da paróquia, o casal apadrinha-va uma criança filha de conhecidos do lugar. Logo após a celebração da missa, Mariquinha se dirigiu para o Sítio Barra do Jaguaribe, no mesmo município, onde vivia seu tio Miguel Leite. Nessa ocasião, Manoel Mendonça a aguarda-va no centro comercial do Distrito para juntos retornarem ao Sítio Peixe. Mas os prodígios do destino traria novamente uma gran-de tragédia para a família. Acometido de fortes dores no peito, Manoel Mendonça sofreu um infarto e veio a falecer. A causa do infortúnio foi atribuída ao susto que ele levou após cair do animal que o conduzia. Depois da queda, ele se queixou de fortes dores no peito e minutos depois, teve a morte confirmada. Com apenas 40 anos de idade, o homem que tanto fez pelos seus e que, pela boa conduta e presteza, era respeitado por

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todos, já não existia mais. Mariquinha, grávida de três meses de seu primeiro filho, mal con-seguia acreditar no que acabara de acontecer. Seu jovem e amado esposo, pai de seu filho que em breve nasceria, havia morrido. Manoel Mendonça foi sepultado no Cemitério de Jucás, hoje cha-mado de Cemitério Velho. Celeste, sua filha mais nova, tinha ape-nas dois anos de idade na época. Com apenas 18 anos de idade e esperando seu primeiro filho, Ma-riquinha tinha, agora, grandes responsabilidades, dentre elas, cui-dar dos negócios do marido e dos enteados que ainda não eram crescidos.

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5O Nascimento

Seis meses depois, em sua casa no Sítio Peixe, onde con-tinuou vivendo, sob os cuidados da parteira Mãezinha Benedita,

Sítio Peixe - casa onde Manoel de Goes nasceu em 1934

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““Mariquinha dá à luz seu primogênito. Eram onze horas da manhã do dia doze de julho. Mas o nascimento não ocorreu como espera-do. As sérias dificuldades durante o parto trouxeram riscos à vida da criança. Assim como seus pais e depois seus avós que a criaram, Mariquinha nutria grande fé no Padre Cícero de Juazeiro. As suas orações sempre eram dirigidas ao milagreiro padre do Cariri. Es-perançosa pela recuperação do bebê, a jovem mãe faz uma pro-messa ao “Santo Padre” assegurando-lhe que quando a criança completasse dez anos de idade ela a levaria em sua igreja, localiza-da no município de Juazeiro do Norte. Em razão das dificuldades que enfrentou em sua vida e de uma trajetória marcada por gran-des desafios, Mariquinha somente pagou a promessa vinte anos depois. Passado o susto e restabelecida a saúde do menino, ela o chamou de Manoel de Goes Filho, como forma de homenagear seu marido. A criança, que já nascera órfã de pai, foi acolhida por todos e batizada meses depois na Igreja Matriz de São Mateus, recebendo como padrinhos Vicente, seu tio, e sua esposa Anaelina.

Mamãe contava que, na ocasião de meu nascimento, quando ela deu à luz, a parteira que a auxiliava exclamou: “Para sem-pre seja louvado nosso Senhor Jesus Cristo.” Uma voz masculi-na retrucou lá de fora: “Para sempre seja louvado.” A voz em questão era a de um senhor chamado Chico Cariús, que nessa ocasião fazia um trabalho de vigilância para combater a febre amarela, que nesse período, já se tornara uma epidemia em todo o Ceará, vitimando centenas de pessoas.

(Manoel de Goes Filho)

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O tempo passava, a família, agora incompleta, continuava a tocar a vida zelando das propriedades rurais e das criações de gado bovino e de ovelhas deixadas pelo patriarca.

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6O Segundo Casamento da Mãe

Raimundo Ferreira Marques(Raimundo Doca) -padrasto de Manoel de Goes

Maria de Sousa Leite (Mariquinha), sua mãe.

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Distante dali, na comunidade da Gangorra, municí-pio de São Mateus, vivia Raimundo Ferreira Marques (conhecido como Raimundo Doca). Ele e Mariquinha, agora viúva e mãe de um filho, já se conheciam do passado. Antes dela se casar, por cer-to tempo, os dois haviam namorado. Ele viu então nesse contexto que se apresentava uma oportunidade para voltar a cortejá-la. Ta-manha foi sua investidura que em pouco tempo estavam casados. Inteirado um ano e meio da morte de seu primeiro mari-do, Mariquinha casa-se pela segunda vez e com Luíza e seu filho pequeno muda-se para o Sítio Gangorra, para ali viver com sua nova família. Mulher de poucas palavras, mas de grande sapiência, an-tes de fazer a mudança para a Gangorra, Mariquinha vende sua propriedade rural, herança deixada pelo primeiro marido. Com o dinheiro (três mil e quinhentos contos de réis) ela compra um terreno de tamanho e valor equivalentes, localizado às margens do Rio Bastiões, na comunidade de Malhada Grande. Ao sair do Sítio Peixe, ela deixa seu enteado mais velho, Antônio, com 17 anos de idade, cuidando de tudo. A esperança da jovem mãe de 19 anos lança-se agora para novos horizontes. Uma nova casa, um novo marido e uma criança pequena para criar ge-ravam para ela uma situação bastante desafiadora.

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7Gangorra: nova morada

Manoel de Goes e Clarita em frente à casa da Gangorra, construída no mesmo lugar onde ficava a casa em que viveu até os 10 anos de idade.

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Localizada também às margens do Rio Jaguaribe, a nova morada lhe parecia bastante agradável. Uma grande casa de taipa, com um grande fogão à lenha e um alto paiol de milho, as-pectos que lhe traziam lembranças da Serraria, lugar onde nasceu e viveu sua infância. Raimundo Doca, seu novo marido, era agricultor e cul-tivava alimentos em um terreno de propriedade sua e de seus ir-mãos. Homem ativo e trabalhador passou a dedicar seu tempo e esforços à esposa e ao enteado Manoel, a quem logo atribuiu atenção e cuidados de filho. O novo lugar parecia menos populoso que o primeiro. Poucas casas de taipa e uma pequena bodega (comércio) de pro-priedade de Raimundo Cabano. Lá somente eram vendidos uten-sílios como fumo, rapadura, biscoitos e farinha de mandioca.

““

Quando íamos à bodega se Seu Raimundo Cabano, geralmente fazer alguma compra que mamãe nos pedia, eu e meus irmãos sempre mantínhamos muita atenção para não pronunciar seu último nome - cabano - pois isso o deixava extremamente irri-tado.

(Manoel de Goes)

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Na década de 1930, a região do Cariri, no Ceará, se desta-cou pela alta produção de cana de açúcar e consequentemente de rapadura. Durante esse período, era bastante comum ver homens a cavalo ou a pé, os comboieiros, que durante dias conduziam os comboios de mulas carregadas de rapadura e outras mercadorias pela “Ribeira Cariús” - estrada de terra que ligava o Distrito de Cariús à vasta zona do Cariri. Além dos trabalhos com agricultura, Raimundo Doca, desde muito cedo, lidava com o transporte da rapadura. Essa lucrativa atividade da época lhe rendeu o apelido de Raimundo Comboieiro e era tamanha a sua fama na região que logo se tornou um próspero e conhecido comerciante. A infância do menino Manoel, já agora com cinco anos de idade, se resumia nas poucas brincadeiras que improvisava e na doce companhia de Luiza, a quem tinha como irmã. À sombra das velhas oiticicas (árvore frondosa típica da caatinga) que rodeavam a casa, as crianças não viam a hora passar. Uma brincadeira atrás da outra, interrompida às vezes pelos gritos preocupados da mãe que sempre dizia que toda criança inspira muito cuidado. Os dias e as noites da Gangorra pareciam intermináveis. Vez ou outra a tranquilidade era quebrada com a visita de um pa-rente. À noite, o regougar da raposa que espreitava as galinhas de Mariquinha podia ser ouvido ao longe e ainda com mais clareza quando trazido pelo barulhento “Aracati” (vento), lá pelas nove horas. Dia após dia, noite após noite a jovem mãe de família acor-dava sem a companhia do marido, pois a atividade com o trans-porte da rapadura não cessava e Raimundo Doca chegava a ficar

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até dez dias sem por os pés em casa. Quando o pequeno Manoel chegou à idade dos cinco anos, sua mãe deu à luz outro menino a quem chamou de José (Zé de Doca). Não diferentemente de seu primogênito, Mariquinha teve a criança em casa, ajudada por uma parteira. Com a chegada de um novo filho logo a rotina de todos foi alterada. No ano seguinte, nasceu o segundo filho do casal, Nonato e depois dele, Antônia, a única filha que teriam durante sua vida. Agora com oito anos de idade, o menino Manoel já não dedicava inteiramente seu tempo às doces e inesquecíveis brinca-deiras. Quando não estava cuidando de seus irmãos mais novos, ocupava-se com os trabalhos da lavoura. Ao raiar do dia, acom-panhava seu padrasto nas tarefas, que de tão duras, eram às vezes realizadas somente por homens adultos. Além da enxada pesada, o franzino garoto levava consigo uma pequena trouxa de tecido. Dentro dela, o cuscuz de arroz adoçado com rapadura - a primeira refeição do dia, que aconteceria lá por volta das oito horas damanhã.

““

Desde muito cedo comecei a lidar com roça. Aprendi que é pre-ciso fazer com dedicação e afinco qualquer coisa que venhamos a fazer. Quando menino sentia vontade de fazer muitas coisas, mas os deveres para com as minhas responsabilidades estavam em primeiro lugar.

(Manoel de Goes)

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Embora cada membro da família desempenhasse uma ta-refa na organização dos afazeres diários, Raimundo Doca e Ma-riquinha não privaram as crianças de frequentar a escola. Nesse período era bastante comum que as famílias abastadas enviassem seus filhos, do sexo masculino geralmente, para estudarem nas es-colas da capital ou das cidades que apresentavam avanços de de-senvolvimento - Crato, Sobral, ou Juazeiro do Norte, por exemplo. Mas para a sua família essa possibilidade estava fora do alcance. Primeiro porque as crianças eram muito pequenas e depois porque as simples condições financeiras da família não eram suficientes. Sendo assim, o precário estudo das crianças do lugar era ofereci-do pela professora Tudinha, filha de Martins Ferreiro, de Cariús. Numa pequena sala cedida por um morador do lugar, pequenos bancos de madeira e couro serviam de acento para os educandos. Meninos e meninas de diferentes idades compartilhavam momen-tos de concentração e assimilação de saberes. Para as horas em que não era mais possível conter a vontade de brincar e as vontades da professora eram contrariadas, a temida palmatória trazia ordem ao recinto. As coisas já não eram mais as mesmas. O avançar da idade e a resposta do corpo aos excessivos esforços do pesado trabalho que levava, começaram a causar problemas de vista em Raimundo Doca. Com frequência ele visitava Dr. Agenor, famoso farmacêu-tico de Iguatu, para aliviar seu tormento. Com este agravante, a vida de comboieiro já não era mais a mesma e logo a lucrativa atividade do passado foi deixada para trás. As contínuas secas do Rio Jaguaribe, única fonte de água

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que provia a região, afetava duramente as plantações de milho, arroz e feijão, cultivados no terreno. Ainda havia o fato de que Raimundo Doca precisava dividir com seus dois irmãos as terras cultiváveis que ficavam na propriedade dos três. Desse modo, as farturas providas das enchentes invernosas e do lombo das mulas nos tempos da rapadura pareciam ter chegado ao fim e em novem-bro de 1944, a família decide se mudar para outro lugar. As terras que durante anos proveram fartura e bonança à família de Rai-mundo Doca, não mais satisfaziam os interesses de seu mentor.

Manoel de Goes no Sítio Gangorra. Ao fundo, a cen-tenária mangueira onde brincava quando criança.

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8Malhada Grande - Um novo recomeço

Com as crianças e a pouca mobília no lombo das mu-las, a família segue em direção ao Sítio Malhada Grande, lugar onde, há alguns anos, Mariquinha havia comprado uma proprie-dade rural.

Manoel de Goes, aos 17 anos de idade, e sua mãe Maria de Sousa Leite com 37.

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Ao sair do Sítio Gangorra, Raimundo Doca vende a parte que lhe cabe do terreno, herança de seu pai. Com o dinheiro ele compra uma bela propriedade também na Malhada Grande, lugar em que viveria por trinta anos. Na época da mudança da família para a Malhada Grande, o jovem Manoel, com dez anos de idade, protegia seus dois irmãos menores, José, com cinco anos e Nonato com dois. Sua irmã, Antônia, de apenas seis meses de vida, era levada por sua mãe que aliviava o cansaço revezando o peso da criança com Luíza, já com dezenove anos de idade.

Localizada à beira do estreito Rio Bastiões, a comunidade da Malhada Grande oferecia grandes extensões de terras para o plantio e a criação de animais. Além disso, os grandes lençóis de água subterrâneos ofereciam excelentes condições de prosperidade aos ribeirinhos dali. Estabelecidos no novo local, Raimundo Doca logo procu-rou colocar o enteado Manoel na escola e mais uma vez o garoto iria dividir com outros meninos e meninas uma sala de aula im-provisada. Situada na casa de Neném de Cotinha, o espaço era

““

Ainda guardo boas lembranças da Gangorra. Os anos passados ali ainda me fazem lembrar de muita coisa: a paisagem azul da alta Serra da Mutuca, o grande pé de manga jasmim que ficava em volta de nossa casa e os refrescantes banhos nas águas do Jaguaribe.

(Manoel de Goes)

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demasiadamente apertado e, apesar dos esforços da professora, pouco contribuía na aprendizagem. O garoto ficou ali somente dois anos, não chegando a concluir a quarta série primária. Aque-les que desejavam prosseguir nos estudos, deveriam se dirigir ao município de Cedro, onde era oferecido até o ensino médio, antigo ginasial, mas a necessidade de ajudar seu padrasto na agricultura e na criação de animais levou o menino a abandonar a escola. Aos doze anos de idade, iniciando sua adolescência, o jo-vem Manoel conhece uma veterana moradora do local com quem logo inicia um namoro. A jovem em questão era Maria Jesus de Sousa, uma moça de porte elegante, filha de Chico de Totinha e Carlota, moradores da comunidade. De família humilde, Maria Jesus também ajudava seus pais na agricultura e coincidentemente tinha a mesma idade de Manoel. As fartas chuvas que caíam em tempos de inverno, ajuda-das pelas ligeiras cheias dos Bastiões, faziam nascer no coração de Raimundo Doca e sua família a esperança de continuar tirando daquele solo as farturas que podia dar. Os paióis cheios de milho, as sacas repletas de feijão e o alto e verde capim do baixio perto de casa enchiam de orgulho e alegria o coração de todos. Com exceção da Festa de Nossa Senhora do Carmo, pa-droeira de Jucás, as festividades ocorridas pelas redondezas eram muito raras. Sendo assim, a diversão da Malhada Grande ficava por conta dos “sambas” que ocorriam na casa da viúva Adelaide. Essas festas eram muito animadas e a diversão era responsabilida-de de Zé Preto, um sanfoneiro cheio de ginga que vivia perto dali, no Tinguijado.

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Apesar de sempre termos sido muito trabalhadores, numa ocasião na Festa de Nossa Senhora do Carmo, em Jucás, tive que me esconder em meio às bananeiras próximas à nossa casa, para não dizer aos amigos que me procuravam que eu não tinha roupa para usar.

Mamãe ficou muito aliviada ao pagar a promessa ao Padre Cí-cero. Ela foi devota dele até o fim de sua vida. Até os trinta e dois anos de idade eu também fui devoto do Padre.

(Manoel de Goes)

(Manoel de Goes)

Passados dois anos da chegada da família à Ribeira Basti-ões, nasce Francisco, o quarto filho da família. Um ano depois, em 1947, Mariquinha dá à luz uma nova criança a quem chamaram de Vicente. Foi exatamente nessa fase que o jovem Manoel, agora com dezesseis anos de idade, conhece seus irmãos, filhos de seu pai Ma-noel Mendonça, pela primeira vez. Passados quinze anos de sua saída do sítio Peixe, ele tem finalmente o prazer de abraçar aqueles com quem conviveu ainda bebê. Ao completar vinte anos de idade, Manoel finalmente consegue pagar sua promessa ao Padre Cícero de Juazeiro. Na companhia de seus pais, ele segue pela Ribeira Cariús em direção às terras do “Padim Pade Ciço”.

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38 Em 1952 a família de Raimundo Doca e Mariquinha rece-be mais um membro, o último filho de sua prole de seis, ali mesmo na Malhada Grande a valente matriarca da família deu à luz ao caçula Irineu.

Manoel de Goes com seus irmãos Irineu e Francisco Nonato, irmão de Manoel de Goes

Manoel de Goes e seus irmãos - José, Antonia, Vicente e Irineu.

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Manoel de Goes e Maria Jesus de Sousa, sua primeira esposa.

9Primeiro casamento

Ainda de namoro firme com a jovem Maria Jesus, Manoel tinha sua rotina preenchida com a dura lida da roça e as poucas atividades de lazer que apareciam. Nos anos de chuva abundante, a rica fartura de legumes permitia ao esforçado traba-lhador vender um pouco da colheita no mercado de Cariús e Jucás e assim juntar pequenas quantias de dinheiro. Com essa idade, o dedicado rapaz prometera a si mesmo que somente se casaria quando já tivesse uma casa e uma pequena garra de terra para viver. O grande amor e afeição que nutria por Maria Jesus, aliado à imensa vontade de constituir uma família, ajudaram o rapaz a logo cumprir sua promessa.

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Pouco tempo depois, deu início à construção de sua pri-meira casa, localizada em um terreno de sua propriedade, o qual media vinte e duas braças de largura por meia légua de compri-mento, bem próximo ao local onde viviam seus pais, na Malhada Grande. Nessa ocasião, escutou uma pregação do Evangelho atra-vés de um dos pedreiros da obra. O crente Domingos Duarte, do sítio Jatobá (Cariús), era da igreja Batista e viu naquele momento a oportunidade para falar de Deus aos jovens à sua volta. Embora as incisivas palavras do pregador tenham atingido o manso coração do rapaz Manoel, a sua conversão à nova crença (religião) aconteceria anos depois, em 1966. Desde o dia em que ouviu Domingos Duarte, Manoel deixou de frequentar a igreja católica. Para ele, a tradicional dou-trina que seguira até ali não mais trazia alegria ao seu coração. Essa repentina mudança causou grande espanto na família e, logo que tomou conhecimento do fato, sua mãe, Mariquinha, de tão decepcionada, chegou a perder cinco quilos. Contudo, pelas con-venções da época e a religiosidade da noiva, se dispôs a receber o sacramento do matrimônio na igreja católica.

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“ “Ainda lembro do momento em que ouvi as palavras de Seu Do-mingo. Sua voz tranquila e suave chamou minha atenção para aquilo que ele dizia com tanta certeza, com tanta fé. Ao citar a passagem da Bíblia sobre a glória do Senhor e a vaidade dos ídolos, exortou a confiar só em Deus: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade. Por que dirão as nações: Onde está o seu Deus? Mas o nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz. Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não ouvem; nariz têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e todos os que neles confiam. Confia, ó Israel, no Senhor; ele é teu auxílio e teu escudo”. E quando ouvi esta mensagem prometi que se tivesse na minha bíblia católica eu deixaria de ser romeiro do Padre Cícero e passaria a ser adorador de Jesus Cristo.

(Manoel de Goes)

Aos vinte e cinco anos de idade, numa manhã de sábado, de 1959, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Jucás, o jovem casal recebe as bênçãos do então vigário Padre João Sticker. Para a ocasião, o cuidadoso rapaz mandou fazer para si um paletó de linho, tecido muito apreciado na época e caro para os padrões populares. A igreja vazia e as poucas rosas que enfeitavam o local em nada se comparavam ao mútuo sentimento de amor e cumpli-cidade que unia o casal naquele dia. Manoel e Maria Jesus tinham planos de viver juntos a vida inteira e debaixo do céu da Malhada Grande constituir um lar abençoado e feliz. Para celebrar o casamento do filho e a alegria de estar re-cebendo sua primeira nora, dentro de sua simplicidade, Mariqui-

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nha e Raimundo Doca ofereceram aos recém-casados um jantar em sua casa. As saborosas bolinhas de carne suína e as cevadas galinhas de chiqueiro preparadas pela anfitriã foram saboreadas apenas pela família do noivo, pois por alimentar desgostos contra o casamento da filha, os pais de Maria Jesus preferiram não parti-cipar da comemoração. Apesar da simplicidade de moça da roça e das grandes dificuldades da época, antes do casamento, Maria Jesus já havia produzido um pequeno enxoval. Além de redes para dormir, deste faziam parte também algumas toalhas de linho e uns poucos len-çóis com bordados artesanais. Para a mobília da casa, o casal man-dou fazer uma mesa de madeira com quatro cadeiras forradas com couro cru de boi e algumas panelas de barro com uma oleira que morava próximo dali. Os potes onde era colocada a doce água das cacimbas de areia, usada para o cozimento dos alimentos e para matar a sede do casal, também eram feitos de barro e sustentados por uma forquilha de madeira em formato de tripé. Apesar das condições simples, o casal recém-formado, estava feliz. Nada pare-cia melhor. Nada parecia inquietar a rotina tranquila dos amantes em sua vida nova. Com a correria do trabalho e as novas responsabilidades de dono de casa, sobrava pouco tempo para desfrutar de alguma atividade de lazer. Homem de poucos vícios, Manoel apreciava a companhia de um bom cigarro de fumo e tamanha era sua paixão por essa prática que era sempre possível ver os tufos de fumaça quando ele passava.

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Eu era viciado em tabaco. Gostava muito de fumar. Além de fu-mar cachimbo, também mascava e cheirava. O tabaco era feito com fumo torrado e em seguida misturado às raspas de cumaru.

(Manoel de Goes)

***

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10O nascimento dos filhos

Os filhos do primeiro casamento: Neuma, Nilton, Nestor e Doraci.

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Um ano depois de casados, em 1960, aos 26 anos de idade, o casal tem seu primeiro filho. Assim como todos os quatro que teriam durante seu casamento, o primogênito, José Nilton, nasceu em casa, sob os cuidados de Zezinha, conhecida parteira de Cariús, e a atenção da avó materna. A chegada de uma criança trouxe imensa alegria ao casal Manoel e Maria Jesus, e os cuidados para com o pequeno faziam o tempo andar ainda mais depressa. Assim, os dias quentes e as noites solitárias do lugar passavam despercebidos. Dois anos depois, em 1962, nasce Francisca Neuma, a primeira filha de Maria Jesus. Seu nome foi escolhido pelo pai durante o registro do nascimento que, contrariando a sugestão da funcionária do cartório, recusou-se de chamar a filha de Francisca das Chagas. A terceira criança, a quem chamaram de Maria Doraci, nasceu em 1963 e veio trazer ainda mais alegria ao casal, sobretu-do, porque Maria Jesus queria muito outra filha. Três anos após o nascimento de seus três primeiros filhos, Nilton, Neuma e Doraci, Manoel de Goes, já com 32 anos, decide que é chegada a hora de assumir sua conversão, iniciada anos atrás, à nova religião: Protestantismo, na Igreja Assembleia de Deus, tor-nando-se o “primeiro crente” da região de Malhada Grande. Nesse período, o Evangelho estava sendo bastante difun-dido em São Bartolomeu, distrito de Cariús. Lá, os já convertidos Alcides Fernandes e Sabino, realizavam grandes eventos de difu-são da doutrina e mobilizavam a comunidade em torno da igreja.

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E foi exatamente em São Bartolomeu que Manoel de Goes mer-gulhou nas águas santas do batismo. E assim, pelas abençoadas mãos do então Pastor assembleiano, Ecílio Santiago, ressurge das limpas águas do Rio Cariús a nova vida em Cristo do homem que se tornaria uma das fortalezas da igreja que o acolheu. A partir dali, com o exemplo e a obstinação de um guer-reiro, ele ganharia centenas de almas para Jesus.

Depois de seu batismo nas águas, Manoel de Goes teve as suas responsabilidades aumentadas, pois além da dedicação à família e à lavoura, havia agora os trabalhos com a congregação dos crentes que se juntavam para adorar a Deus. Suas poucas ho-ras de descanso do final da tarde passaram a ser usadas em visitas e estudos do evangelho. Tamanha era a sua força de vontade e perseverança que logo se tornou conhecido pela sua eloquência e facilidade em atingir os corações mais hostis através da Palavra de Deus. Com frequência era convidado para participar dos cultos que ocorriam pela região e isso mais tarde lhe garantiu assento no grupo de dirigentes da igreja. Em 1967, em sua casa na Malhada Grande, Maria Jesus

““

Minha vida mudou a partir daquele momento. Eu me sentia como se fosse invencível. Tudo o que eu fazia e falava, tinha somente um propósito: exaltar a Deus.

(Manoel de Goes)

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tem seu quarto filho, Nestor. Assim como os outros três que teve, a sábia mãe, já no avançar da gravidez, começava a cevar as me-lhores galinhas que seriam usadas em sua dieta logo depois do parto. Desse modo, logo que as crianças nasciam, as aves eram usadas para o preparo de pirões, à base de farinha de mandioca, e suculentos caldos. Além do gosto agradável a leve mistura pa-recia restituir as forças perdidas pelo esforço da parição. Aliadas a esse cuidado com a alimentação, havia também as precauções com a higiene pessoal. Assim, um lenço amarrado sobre a cabeça era usado para evitar resfriados e o primeiro banho - de água morna - somente acontecia quinze dias após o parto. Todos esses cuidados, aprendidos com as gerações passadas, serviam para evitar a “que-bra” do resguardo.

Os quatro filhos do primeiro casamento, Nestor, Doraci, Neuma e Nilton, com Manoel ao centro (da esquerda para a direita).

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11A Viuvez

Após o nascimento das crianças, a vida parecia dife-rente na Malhada Grande. As coisas pareciam estar melhores. Os trabalhos com a igreja prosperavam a cada dia e as vastas terras de baixio produziam como nunca. A boa relação de Manoel e Maria Jesus com os pais dele faziam o casal receber visitas constantes de

Primeira casa em que Manoel de Goes viveu com sua primeira esposa Maria Jesus no Sítio Malhada Grande.

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Mariquinha e Raimundo Doca e tudo isto trazia muita alegria para todos. Passados dois anos do nascimento de seu último filho, Nestor, Maria Jesus novamente espera uma criança, aquela que seria o quinto filho do casal. Assim como as demais, eram guarda-das para esta criança grandes expectativas e o dedicado marido se preparava para logo receber outro filho. Mas algo parecia diferente com essa gestação. Após entrar em trabalho de parto, Maria Jesus sente sérias complicações e a criança não consegue nascer. Os es-forços feitos por ela e por suas companheiras de apoio parecem de nada adiantar e, após duradouros lamentos e já sem resistência, vem a falecer. Ela, lamentavelmente, não sobreviveu ao momento e aprouve o Senhor recolher aquela que durante dez anos foi sua companheira. Com a notícia da morte da esposa, Manoel de Goes custa a acreditar no que aconteceu. Que desígnios teriam causado tama-nha desgraça e tirado dele dois tesouros de uma única vez? O fato da morte de Maria Jesus se espalhou por toda a região e até pessoas desconhecidas lastimavam a tragédia. Seu corpo foi sepultado do cemitério de Cariús.

““

Fiquei muito abalado com a notícia da morte dela e levei muito tempo para acreditar. Tinha a intenção de ter ainda muitos fil-hos com Maria Jesus e com ela envelhecer na Malhada Grande.

(Manoel de Goes)

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Logo após a morte da esposa, Manoel de Goes decide que a Malhada Grande não lhe daria mais condições para cuidar de seus filhos. Imbuído do desejo de dar a eles uma vida melhor re-solve viajar em busca de melhores condições de trabalho. O lugar escolhido foi o Estado de Goiás, que na época, recebia centenas de imigrantes nordestinos em busca de frentes de trabalho. Diante da situação decidiu que Nilton, seu filho mais velho, iria com ele, e quanto aos três mais novos ficariam sob a responsabilidade de seus familiares. Doraci foi enviada para viver com sua tia Antônia, em Jucás. Neuma foi deixada sob a proteção de um parente do Sítio Jaguaribe (Jucás) e Nestor, o caçula, foi entregue a seus avós pater-nos. Nesse período, D. Mariquinha e Sr. Raimundo Doca ainda moravam na mesma casa da Malhada Grande, mas já estavam sem companhia. Com exceção de Vicente e Irineu que moravam próximos, em Cariús, cuidando de uma padaria de propriedade dos dois. Luíza havia se mudado para São Paulo e os outros filhos do casal já haviam se casado e moravam fora do lugar. A fé em Deus e a esperança de dias melhores povoavam o coração do jovem viúvo e o faziam crer que tudo o que acontecera em sua vida era providenciado pelo Criador, pois aqueles que co-mungam de seus ensinamentos e partilham de suas obras sempre são recompensados. Foi exatamente esse pensamento que fez Ma-noel de Goes acreditar que o futuro de sua família seria abençoado e promissor. Ele ficava feliz ao perceber que a fé presente em seu coração era a mesma de outrora. Durante sua partida para o Estado de Goiás, um fato inu-sitado colocaria novamente o destino de Manoel de Goes e sua

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família em um novo caminho. Ao não encontrar seus documentos pessoais no momento da viagem, Manoel de Goes não consegue viajar e acaba permanecendo na Malhada Grande. Pouco tempo depois, ele reúne toda a família e passa a viver na casa de sua mãe. Na companhia do pai e dos pacientes avós, a vida das crianças começa a voltar à rotina. As doces e saudosas lembranças da mãe iam sendo preenchidas pelas alegres brincadeiras que im-provisavam e pelo generoso tempo que aos poucos tudo faz passar.

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12Segundo casamento

Manoel de Goes eClara Maria (Clarita).

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Manoel de Goes eClara Maria (Clarita).

Manoel e Clarita – em sua agricultura de feijão no Sítio Malhada Grande - Década de 80.

Restabelecida então a rotina na vida da família, Ma-noel de Goes continuou com a missão de evangelizar e usar o seu tempo para dedicar atenção e cuidado aos filhos. Durante o dia compenetrava-se com a garantia do sustento de todos dedicando-se inteiramente aos trabalhos da roça. À noite, respondendo aos convites da igreja, saía para pregar nas comunidades vizinhas. Um ano depois da morte de sua primeira esposa, em 1970, o perspicaz evangelizador conhece Clara Maria de Jesus (Clarita), com quem inicia um relacionamento. Também membro da igreja

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Assembleia de Deus, a jovem agricultora é natural do Sítio Poço Dantas, uma comunidade rural vizinha à Malhada Grande. O relacionamento não se estenderia por muito tempo, pois logo em dezembro daquele ano os dois estariam casados. Filha de José Alves da Silva (Zé Chicô) e Altina Maria Ledo, a jovem, nascida em 1953, era 19 anos mais nova que seu futuro marido. Essa diferença de idade entre os dois teria causa-do estranheza em Dona Altina e a feito alimentar certo desprazer com o casamento da filha.

Apesar do descontentamento da mãe, os dois se unem pelo sagrado matrimônio ali mesmo em sua casa, no Poço Dantas. Pela vontade do casal as bodas seriam celebradas três meses antes, em setembro, mas a imprudência do juiz de paz da época, Dr. Edgar,

José Alves da Silva (Zé Chicô) e Altina Maria Ledo – pais de Clara Maria.

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o fez esquecer-se de realizar a partilha dos bens entre Manoel de Goes e os herdeiros de sua falecida. Dessa forma, a cerimônia foi interrompida e os noivos, decepcionados, retornaram às suas casas para aguardar ainda por três meses. Depois desse episódio, Mano-el de Goes decide não mais ficar na casa de sua mãe e retorna com seus filhos para sua casa.

““

Antes de receber Clarita como minha esposa, fiquei com meus quatro filhos em minha casa e apesar da pouca idade, minha filha Neuma me ajudava com os afazeres diários, cozinhando e cuidando dos irmãos menores.

(Manoel de Goes)

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Clarita com 9 anos de idade.

Depois do casamento, em dezembro de 1970, Clarita mu-da-se para a casa de seu esposo e passa a constituir com ele e seus filhos uma só família. Acostumada às pesadas lidas do trabalho com a lavoura, a nova esposa de Manoel de Manoel de Goes com-partilha com ele os cuidados com as plantações e com as poucas cabeças de gado bovino que começavam a aparecer. O respeito e dedicação de Clarita para com os enteados logo os fizeram se aproximar dela e, com pouco tempo depois de casada, todos mantinham estimada relação com a mesma, passan-

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do a chamá-la carinhosamente de “madinha”. Não tardou muito e logo vieram as crianças. Dois anos depois do casamento, em 1972, nasceu Nertan, seu primeiro filho, e em 1974, Nereu, outro menino que chegava para trazer mais alegria ao casal. Foi exatamente nesse ano que Raimundo Doca e Mariquinha, já vivendo sozinhos há alguns anos, decidiram se mudar para a cidade de Jucás, depois de passados trinta anos da chegada do casal à Malhada Grande. Nessa época, os filhos do primeiro casamento de Mano-el de Goes ainda moravam com ele e uma de suas preocupações era em oferecer-lhes uma educação melhor do que aquela que a vida lhe ofertou. Uma de suas primeiras providências, logo que as crianças atingiam a idade escolar, era levá-las à escola.

Depois do nascimento de seu segundo filho, Clarita teve outra criança, a quem deu o nome de Nivan. Devido a problemas de saúde, incompreendidos naquela época, o bebê, de apenas dez meses de idade, veio a falecer. Após esse triste episódio, a já ex-periente dona de casa, teve seu quarto filho, nascido em 1977 e

““

Sempre soube que a escola traria condições de vida melhor pra minha família, por isso nunca deixei de incentivar a cada um de meus filhos. Cheguei, inclusive, a fazer parte do Conselho escolar de uma escola de Cariús.

(Manoel de Goes)

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chamado de Natan. Além de grande felicidade, a chegada das crianças e o cres-cimento da família traziam para Manoel de Goes grandes respon-sabilidades. Mas isso não impedia que ele e sua esposa deixassem de participar das atividades da igreja e de sua vida cristã. Com frequência os dois trilhavam, a pé, as veredas da serra da Malhada Grande em direção ao Distrito de São Bartolomeu, onde os cultos eram realizados. Quando Clarita não podia acom-panhar o marido, ele ia sozinho e, para amenizar o doloroso can-saço das pernas, galopeava no lombo macio da burra Buchuda. Ajudado pelo bom preço do algodão, também cultivado em sua propriedade, e por umas poucas cabeças de gado, em 1977 Manoel de Goes amplia seu pequeno pedaço de terra. Por trinta mil cruzeiros ele adquire de seu irmão Nonato o terreno em que vive hoje. Além de uma casa melhor, a nova propriedade, que media quarenta braças de largura por seiscentas de comprimento, possuía grandes áreas de baixios, possibilitando ainda mais a atividade agropecuária. Logo em seguida, a família muda-se para a nova casa e como prova do grande valor que dá à educação e ao conhecimento, Manoel de Goes doa a antiga casa, onde morava, para que a prefei-tura mantenha ali a escola da comunidade. Nesse espaço, onde funcionavam turmas até a quarta série primária, Doraci, filha de Manoel, lecionou para os meninos e meninas das diversas redondezas e, mais tarde, a professora Maria de Lourdes foi a responsável pela educação escolar dos filhos do

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Manoel de Goes exibindo uma macaxeira de sua plantação que pesou 34 quilos.

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casal. Ali também, em 1985, por vontade de Manoel, o espaço foi cedido para que funcionasse a sede da congregação dos crentes da igreja Assembleia de Deus. No ano de 1978, o nascimento da primeira filha do casal, enche de alegria o coração de Clarita. Nereide, a única filha dos dois, nasceu em casa, como os quatro irmãos que a antecederam. Em 1980 e 1982, nasciam respectivamente, Nilvan e Nilcivan, os dois caçulas da família. Na década de 80, o sistema de saúde no Brasil, começava a chegar às classes mais pobres da população e fazendo uso desse recurso, Clarita preferiu ter os meninos com o apoio de um profis-sional qualificado na cidade de Jucás. Em outubro de 1992 Manoel de Goes perde sua mãe e três anos depois, em 1995, seu padrasto. Mariquinha e Raimundo Doca tinham 78 anos de idade quando falecem. Os dois foram sepultados no cemitério de Jucás.

Plantação de laranjeiras e bananeiras em seu terreno, próximo a sua casa na Malhada Grande

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Clarita alimentando as galinhas no quintal de sua casa na Malhada Grande

Manoel de Gois eClarita com os filhos, Nereu, Nertan,Natan, Nilvan, Nilcivan e Nereide.

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Os filhos do segundo casamento: Natan, Nereu, Nertan, Nereide, Nilvan e Nilcivan (da esquerda para a direita) e Manoel e Clarita à frente.

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13Vida nova com Cristo

Oito anos depois de ter sido evangelizado pelo Pastor Domingos Duarte e ao encontrar na Bíblia católica a mesma pas-sagem do Salmo 115 que o pregador havia citado, convencido da verdade, decidira que era chegada a hora de cumprir o que havia prometido. Como não havia igreja em local próximo à sua casa, deixou as crianças com sua mãe e foi com sua esposa ao templo da igreja Batista na cidade de Iguatu, onde, pela primeira vez, assistiu

(Esq. para Dir.): Zé Chicô - pai de Clarita (2º), Manoel de Goes (5º), Irineu Marques - irmão de Manoel de Goes (10º) –

Na igreja Assembleia de Deus de Cariús.

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a um culto. Depois de ouvir a mensagem e ser convidado a aceitar a Jesus Cristo como seu único e suficiente salvador, foi tocado no coração e, juntamente com a sua esposa, aceitou o convite. Ao tomar a decisão de aceitar a Cristo como Salvador grandes mudanças ocorreram em sua vida, prova do verdadeiro poder do Evangelho e do Espírito Santo. Como toda mudança traz consequências, com ele não foi diferente. A primeira delas foi a enorme rejeição e perseguição advinda da sociedade e dos familiares, inclusive de sua mãe, que de tão decepcionada, deixou de cuidar dos netos que ficavam em sua companhia quando ele precisava. Animado com o seu novo modo de viver, obteve a liberta-ção dos vícios da nicotina e passou a se dedicar ao conhecimento da Palavra de Deus. Com a leitura da Bíblia e os incentivos do programa evangélico do Pastor Zé Ferreira, da Rádio Iracema, fortalecia ainda mais a sua fé. Costumava ouvir o programa na casa de Cazuzinha, sogro de sua irmã Antônia, pois não possuía aparelho de rádio em sua casa, considerado um item de luxo para a época. Como foi o primeiro evangélico da sua região, costumava percorrer, a cavalo, longas distâncias, para congregar com os ir-mãos da sua igreja. Muitas vezes foi a pé até a congregação mais próxima, que ficava em São Bartolomeu, a quase vinte quilôme-tros de distância. Convicto de sua salvação e cheio do poder de Deus, sem-pre levou a pregação aos que não conheciam o evangelho de forma

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pessoal e convincente, ganhando novos adeptos à mesma fé que agora professava. E com o crescente número de convertidos, Manoel de Goes formou, em 1968, uma congregação na casa de seu cunha-do, Irmão Antônio, no Poço Dantas. Mais tarde, em 1970, a mes-ma congregação passaria a funcionar na casa do Irmão Felisberto (Beto) e da Irmã Carmem. No ano de 1974, foi consagrado a Diácono e, três anos depois, em 1977, a Presbítero. Com muita dedicação, apesar de poucos recursos, doou uma área do seu terreno para a igreja. Nela, construiu um belo templo para nele se congregar com os irmãos de fé e receber mais pessoas de forma mais adequada. Nesse templo, inaugurado em 1994, presenciou muitos milagres de curas divinas e salvação de almas (conversão de vidas à verdade do Evangelho de Jesus Cristo). Manoel de Goes é um crente dedicado e temente aos prin-cípios divinos. O seu prazer é meditar na Palavra de Deus - A Bíblia - a qual tem quase toda memorizada e a usou como fonte de sabedoria para ensinar os seus filhos no “caminho em que devem andar” (Provérbios 22:6). Como está escrito no livro de Salmos, Capítulo 128: “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem. A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos, como plantas de oliveira, à roda da tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor! O Senhor te abençoará desde Sião, e tu verás o bem de Jerusalém em todos os dias da tua

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vida. E verás os filhos de teus filhos e a paz sobre Israel.” Manoel de Goes tem sido prova da fidelidade do Senhor, pois todas as promessas contidas nesses versículos têm se cumpri-do em sua vida, como fruto desse temor e fé no Deus que tudo pode. E é também de onde vem o impulso que ainda o mantém ativo nos trabalhos da igreja, em favor da pregação do evangelho do reino de Deus.

Templo de Malhada Grande

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Manoel de Goes dirigindo o culto no templo de Malhada Grande

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14Filhos dos seus filhos

Manoel também viu a mão de Deus sobre sua vida quando recebeu a cura de uma doença, a qual lhe deixou pros-trado em um leito e desenganado pelos médicos, em 1992. Ao contrário do que temia, Deus aumentou os seus anos de vida, pois como acontecera com seu pai aos quarenta anos de idade, sempre pensou que morreria muito jovem. Pensava também não chegar a conhecer seus netos.

Porém o cumprimento do Salmo 128 em sua vida se deu com uma grande quantidade de netos, e maravilhado ele viu os filhos dos seus filhos:““

Sempre pensei que morreria muito jovem, pois como o meu pai havia falecido aos quarenta anos de idade eu também não che-garia a conhecer os meus netos. Mas o meu maior desejo naquele momento era poder ver o templo terminado.

(Manoel de Goes)

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16Tempos vindouros

Manoel de Goes e Clarita estavam em estado de graça com sua numerosa e abençoada família, restando-lhes agora cui-dar para que tivesse boa conduta e educação. E assim procederam criando os filhos dentro dos princípios da fé e da moral. Não tardou para que os frutos surgissem em suas vidas e logo seus filhos começarem a vislumbrar caminhos novos.

Sítio Malhada Grande - Igreja e casa do terreno de Manoel de Goes

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Movidos pela vontade de crescer, descobrir novos horizon-tes e construir um futuro melhor, seus filhos deixaram o Ceará e mudaram-se para São Paulo e Brasília, onde vivem. A determina-ção, o esforço e o trabalho em conjunto, aliados à excelente criação que receberam, os levaram a lograr êxito em suas vidas, tornando-se homens e mulheres de bem dedicados à família e aos projetos de Deus. Com o crescimento e o desejo dos filhos de estudar e cres-cer na vida, Manoel de Goes incentivou-os a se mudarem para grandes cidades e a investirem seus esforços em busca de melhores condições de vida. Nessa jornada enfrentaram muitas dificuldades e preconceitos, mas com temor a Deus, persistência e os frutos da sábia criação obtida com o pai, estudaram até o nível mais alto de escolaridade oferecido pela educação pública de sua cidade natal, contando sempre com o apoio incondicional do patriarca. Com muita garra e honestidade, seus filhos foram trocan-do a “vida na roça” pela vida na “cidade grande”, onde começaram a trabalhar e usar as economias para cursar uma universidade - desejo que seu pai sempre alimentou, mas devido as simples con-dições de homem da roça, não conseguira. Hoje se encontra reali-zado por ver a concretização desse sonho na vida de seus filhos. Ao mesmo tempo em que iam concluindo seus cursos su-periores, se tornavam empreendedores e, com as bênçãos de Deus, frutos de incessantes orações dos pais, lograram êxito na vida, tor-nando-se empresários bem sucedidos, fundadores do Grupo Em-presarial Gois, no Estado de Goiás - mesmo destino que Manoel de Goes pensara em tomar para si no passado.

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Sempre digo que tenho os melhores filhos que um pai poderia ter. Oro a Deus para que meus netos e seus descentes sejam abençoa-dos como eu sou.

(Manoel de Goes)

Ao lado de sua valiosa esposa, a qual ele diz não trocar nem mesmo pelos dez filhos que tem, Manoel de Goes hoje pode regozijar-se por uma vida repleta de desafios e conquistas. Suas ví-vidas memórias não lhe permitem esquecer do homem que sempre foi - um batalhador abençoado por Deus. Os alvos cabelos que enfeitam sua cabeça aos oitenta anos de idade são a marca da longa jornada que trilhou até aqui. Sob o alpendre de sua casa, olhando para as terras que o abrigou desde a juventude e sentindo no rosto a brisa suave que veste a Malhada Grande todas as manhãs, seu coração se enche de alegria e graça.

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17Cronologia

1895 Nascimento de Manoel de Gois Mendonça (pai)1914 Nascimento de Maria de Sousa Leite (mãe)1927 Algodão movimenta a economia no Ceará1930 Região do Cariri tem economia impulsionada pela cana de açúcar1932 Grande seca no nordeste brasileiro1933 Fevereiro: Falecimento de Chiquinha Outubro: Casamento de Manoel Mendonça e Maria de Sousa Leite.1934 Janeiro: Falecimento de Manoel de Gois Mendonça Julho: Nascimento de Manoel de Goes Filho1936 Casamento de Maria de Sousa Leite e Raimundo Ferreira Marques. Mudança para a Gangorra1944 Mudança para a Malhada Grande1959 Casamento com Maria Jesus de Sousa1960 Nascimento do primeiro filho do casal: José Nilton Goes1962 Nascimento de Francisca Neuma Gois de Araújo1963 Nascimento de Maria Doraci de Sousa Gois1966 Conversão à Assembleia de Deus1967 Nascimento de Nestor de Sousa Goes1969 Falecimento de Maria Jesus de Sousa1970 Em 09 de Dezembro: Casamento com Clara Maria de Goes

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1972 Nascimento de Nertan Silva de Gois1974 Nascimento de Nereu Silva de Gois1976 Nascimento de Nivan Silva de Gois (In Memoriam)1977 Nascimento de Natan Silva de Gois1978 Nascimento de Nereide Silva de Gois Cordeiro1980 Nascimento de Nilvan Silva de Gois1982 Nascimento de Nilcivan Silva de Goes1994 Inauguração da Igreja Assembleia Deus de Malhada Grande

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Família reunida na casa aonde foi a primeira residência, escola e igreja

Família reunida na casa aonde foi a primeira residência, escola e igreja

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ANEXO

Manoel de Goes e Clara Maria

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Nilton com Simone e os filhos Raul e Renato

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Neuma com Zuca e as filhas Danielle e Kelly

Danielle e Jailton

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Doraci com Antônio e os filhos Fábio com a esposa Arielly e Marcus com a esposa Valeria

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Nestor

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Nertan com Juciléia e os filhos Júlia, Giovana e Samuel

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Nereu com Isabela e a filha Manuela

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Natan com Dahiany e a filha Maria Clara

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Nereide com Alex e os filhos Amanda, Arthur e Alícia

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Nilvan e Ada Thays

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Nilcivan com Marilya e os filhos Nícolas e Lucas

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Manoel e sua Irmã Celeste

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Igreja de Malhada Grande

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Manoel de Goes pregando na igreja em Malhada Grande

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