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BOLETIM DE BOLETIM DE CONJUNTURA NERINT - Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.2 n. 6 | p. 1-83 | jul./2017 | ISSN: 2525-5266 36 A FRANÇA EN MARCHE”: EMMANUEL MACRON E A POLÍTICA EXTERNA FRANCESA Bruno Luiz de Souza Ronchi 1 e Diego Luís Bortoli 2 A ascensão de Emmanuel Macron na França se deu em um contexto de sentimento anti-establishment e de crise da integração europeia. A política externa de Macron apresenta um discurso calcado no realismo de tradição gaullo-mitterrandista. Por ser pragmática, a diplomacia de seu governo pode também ser ambí- gua. A conjuntura global e a posição privilegiada da França na ordem internacional tornam possível que o país aumente sua influência no Sistema Internacional. 1 Graduando em Relações Internacionais pela UFRGS. Contato: [email protected] 2 Graduando em Relações Internacionais pela UFRGS. Pesquisador Assistente do Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacio- nais (NERINT) e Editor Assistente da AUSTRAL: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais. Contato: diegolbortoli@gmail. com Apresentação A importância da França para a política internacional, e sobretudo europeia, é inquestionável. O país é o maior em extensão da Europa ocidental, tem o segundo maior PIB da Zona do Euro e a terceira maior população da União Europeia (UE), depois da Alemanha e do Reino Unido. Após a conclusão do Brexit, será o único país do bloco a ter assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o único detentor de armas nucleares e a maior potência militar da UE. Diante dessa importância, é necessário considerar que os rumos da política francesa possam impactar fortemente o futuro da Europa e da política internacional. A eleição de Emmanuel Macron, novo presidente francês, em 8 de maio de 2017, bem como os resultados das eleições parlamentares em junho do mesmo ano, são elementos fundamentais para a compreensão da política do país atualmente. Casanova (2017, 247), aponta que a eleição do novo presidente representa “um giro econômico, político e europeu” e que a vitória de Macron configura “uma vitória do partido europeu, que acaba de compensar a derrota do Tratado Constitucional no referendo de maio de 2005, assim como Tratado de Roma em 1957 compensou o fracasso da Comunidade Europeia de Defesa em 1954”. Segundo o autor, a consolidação do euro e a unificação progressiva da Europa – defendidas por Macron – são elementos indispensáveis para a recuperação da economia francesa e sua harmonização com a economia alemã, “tarefa inaugurada por De Gaulle, perseguida por

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A frANçA “eN MArche”: eMMANuel MAcroN e A políticA exterNA frANcesA

Bruno Luiz de Souza Ronchi1 e Diego Luís Bortoli2

• A ascensão de Emmanuel Macron na França se deu em um contexto de sentimento

anti-establishment e de crise da integração europeia.

• A política externa de Macron apresenta um discurso calcado no realismo de tradição

gaullo-mitterrandista. Por ser pragmática, a diplomacia de seu governo pode também ser ambí-

gua.

• A conjuntura global e a posição privilegiada da França na ordem internacional tornam

possível que o país aumente sua influência no Sistema Internacional.

1 Graduando em Relações Internacionais pela UFRGS. Contato: [email protected]

2 Graduando em Relações Internacionais pela UFRGS. Pesquisador Assistente do Núcleo Brasileiro de Estratégia e Relações Internacio-nais (NERINT) e Editor Assistente da AUSTRAL: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais. Contato: [email protected]

Apresentação

A importância da França para a

política internacional, e sobretudo europeia, é

inquestionável. O país é o maior em extensão da

Europa ocidental, tem o segundo maior PIB da

Zona do Euro e a terceira maior população da

União Europeia (UE), depois da Alemanha e do

Reino Unido. Após a conclusão do Brexit, será

o único país do bloco a ter assento permanente

no Conselho de Segurança das Nações Unidas,

o único detentor de armas nucleares e a maior

potência militar da UE. Diante dessa importância,

é necessário considerar que os rumos da política

francesa possam impactar fortemente o futuro da

Europa e da política internacional.

A eleição de Emmanuel Macron, novo presidente

francês, em 8 de maio de 2017, bem como os

resultados das eleições parlamentares em junho

do mesmo ano, são elementos fundamentais para

a compreensão da política do país atualmente.

Casanova (2017, 247), aponta que a eleição do

novo presidente representa “um giro econômico,

político e europeu” e que a vitória de Macron

configura “uma vitória do partido europeu,

que acaba de compensar a derrota do Tratado

Constitucional no referendo de maio de 2005,

assim como Tratado de Roma em 1957 compensou

o fracasso da Comunidade Europeia de Defesa em

1954”. Segundo o autor, a consolidação do euro e

a unificação progressiva da Europa – defendidas

por Macron – são elementos indispensáveis

para a recuperação da economia francesa e sua

harmonização com a economia alemã, “tarefa

inaugurada por De Gaulle, perseguida por

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Georges Pompidou, por Valéry Giscard d’Estaing

e por François Mitterrand”.

A vitória de Macron nas eleições de 2017 A ascensão de Macron é marcada, internamente, pelo enfraquecimento do arranjo político-partidário conformado entre o Parti socialiste e Les Républicains, reproduzindo a alternância entre governos de esquerda e direita que marca a Vª República Francesa3. Segundo Wormser (2017), a eleição do novo presidente representa uma ocasião para a revisão do pacto social, na esteira de dez anos de crescimento econômico fraco, sem melhoras nas taxas de desemprego ou da dívida pública. Tal cenário foi agravado pelas denúncias de pagamentos ilícitos para Penelope Fillon, esposa do candidato republicano, e pela divisão dos socialistas a partir da escolha de Benoît Hamon como candidato às eleições, nas primárias do partido. Ernenwein (2017, 4) afirma que a vitória de Macron “foi construída face a um presidente de saída que não deixará quase nenhum arrependimento, e tanto uma direita quanto uma esquerda parlamentares divididas, marcadas por seus balanços medíocres e por suas renúncias”. Segundo o autor, “uma barreira foi levantada diante do remédio amargo proposto por François Fillon e das audácias esbanjadoras de Benoît Hamon, mal assumidas por seu campo”.

A perda de confiança nos partidos tradicionais foi catalisada pelo crescimento de partidos novos ou menos expressivos até então, como o Front National, de Marine Le Pen (extrema-direita), o En Marche !, de Emmanuel Macron (centro) e La France Insoumise, de Jean-Luc Mélanchon (extrema-esquerda), destacando-se os dois primeiros, levados ao segundo turno das eleições com mais

de 45% dos votos válidos4. Segundo Fourquet (2017, 269), “Le Pen e Macron perseguiam um interesse comum: substituir o tradicional embate esquerda/direita por uma nova divisão que o líder do En Marche chama ‘progressistas versus conservadores’ e que a terminologia frontista designa como ‘o afrontamento entre mundialistas e patriotas’”. O autor afirma que o segundo turno da eleição presidencial francesa teria sido um novo campo de afrontamento eleitoral entre os front row kids e os back row kids5 da globalização, “depois da eleição presidencial austríaca, do referendo britânico e da eleição presidencial americana” (Fourquet 2017, 269). Ernenwein (2017) complementa que a França não se deixou seguir no caminho de Le Pen, mas ressalta que a candidata da extrema-direita levou o Front National e seu projeto a níveis inimagináveis, e que seus dez milhões e meio de votos pesarão no debate político francês.

Frente a esse cenário, Macron aparece como uma alternativa moderada ao desgastado arranjo formado pelo Parti Socialiste e Les Républicains. Segundo Haddad (2017), Macron conseguiu captar alguma raiva anti-establishment que condenou os políticos tradicionais na França e nos Estados Unidos, indo de encontro às falhas econômicas dos dois principais partidos e defendendo a reforma do mercado de trabalho e o combate ao desemprego. De certa forma, paradoxalmente, Fenby (2017) aponta que Macron representa um establishment reformista, ao mesmo tempo em que, durante a campanha, representou uma alternativa consideravelmente disruptiva para o país. Além disso, a habilidade para captar o centro do espectro político, alargado pela radicalização da esquerda e da direita, teria sido um elemento importante na vitória de Macron. Segundo Wormser (2017, 8), “ter sabido captar o centro levou ao sucesso de

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Nicolas Sarkozy em 2007 e o de François Hollande em 2012”, assim como Macron, ao “se apresentar fora dos partidos sem desdenhar as instituições”. Sociologicamente embasado, segundo Schoettl (2017, 273), sobre “uma França bem adaptada à nova ordem econômica, à vontade com as novas tecnologias, viajante, móvel, falante de línguas estrangeiras, abastada, urbana, educada, otimista: a França dos ganhadores da mundialização”, Macron representa um projeto tanto disruptivo quanto ambicioso. Entre suas prioridades, estão “a educação, a segurança interna e externa, a reforma do mercado de trabalho, a transição energética e tecnológica, a Europa, a renovação da democracia” (Goulard 2017, 32). De acordo com Wormser (2017), Macron reúne os eleitores que acreditam na funcionalidade das instituições a partir de uma orientação favorável a uma “Europa que protege”, rompendo com a retórica elitizada que acompanhou o discurso político sobre a Europa desde a adoção do Tratado de Maastricht em 1992, e se dirigindo a uma população que entende os rumos da globalização e as potencialidades da França nesse contexto.

Consolidada a vitória de Macron nas eleições, apresentam-se questões práticas de seu início de mandato, sendo a mais urgente reconciliar um país dividido geográfica e demograficamente, segundo a distribuição de votos. Segundo Ernenwein (2017), a vitória do presidente é ampla, mas frágil: no primeiro turno, um em quatro eleitores votaram em Macron, e somente um a cada seis franceses aptos a votar o escolheram6; no segundo, um em cada quatro franceses se abstiveram e 12% dos eleitores votaram branco ou nulo. Apesar disso, a vitória de seu partido – renomeado La République en Marche (LEM) – nas eleições parlamentares em junho de 2018 reforça o início do mandato do novo presidente. Com o aliado Mouvement Démocrate

(Modem), Macron conta com o suporte de 361 membros do parlamento (de um total de 577). Com 126 deputados, o partido Les Républicans deverá ser a principal força de oposição, movendo-se mais à direita a fim de se distanciar do que considera como um governo de centro-esquerda (Le Corre 2017). Em menor escala, Macron deverá encontrar uma oposição diluída entre os 46 deputados do Parti Socialiste, 16 do La France Insoumise, 10 do Partido Comunista Francês, 8 do Front National e 10 independentes – resquícios do antigo sistema político francês. Segundo Le Corre (2017), muitos dos parlamentares recém eleitos do LEM vêm da sociedade civil, ainda por descobrir o mundo da política e as limitações do poder legislativo em um país onde o executivo é predominante. Além disso, o quadro do governo será composto por um time de ministros bastante balanceado, vindos de vários lados do espectro político, e funcionários experientes e altamente motivados, a maior parte vinda das melhores universidades e escolas do país. Para o autor, os deputados do LEM deverão se ajustar rapidamente a uma ampla maioria que precisa agir sem demora.

A política externa nos primeiros meses de governo

Externamente, a ascensão de Emmanuel Macron se deu em um ambiente marcado por uma nova onda conservadora, emergência da China como polo de poder global, a ameaça do terrorismo e a continuidade de conflitos no Oriente Médio e na África. Nos Estados Unidos, a eleição de Donald Trump e seu isolacionismo trouxeram incertezas quanto à tradicional aliança entre as democracias do Atlântico norte. O desengajamento de Trump em diversas questões internacionais impulsiona outras potências mundiais, entre as quais a França, a tomarem a dianteira na governança global. Na

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União Europeia, a saída do Reino Unido, as crises econômica e migratória e o descrédito popular no processo de integração fazem muitos apostarem suas fichas na França como um novo centro de gravidade e de resistência do bloco. A China, por sua vez, com sua economia pujante e iniciativas como a nova Rota da Seda, passa a ser um ator fundamental nas considerações geopolíticas e econômicas dos líderes europeus. Ameaças à segurança, por fim, completam a conjuntura. Se internamente o terrorismo atormentou a França entre 2015 e 2017, mundialmente Síria e Líbia agonizam em conflitos civis que atingiram proporções internacionais, o Kremlin exibe uma diplomacia controversa com a anexação da Crimeia e o apoio a Assad em Damasco, a instabilidade política e a violência se propagam pelo Oriente Médio e pelo Sahel e focos de tensão surgem na Ásia (Charillon 2017).

Em razão de sua pequena experiência política, quando comparado a outros líderes franceses, Emmanuel Macron é também novato em assuntos estrangeiros. Apesar disso, o novo presidente explicitou, em seu programa de governo, que as relações internacionais da França sob sua gestão prezarão pelo pragmatismo e pela herança da diplomacia de Charles De Gaulle e de François Mitterrand, que consolidou a tradição realista “gaullo-mitterrandista” da política externa francesa (En Marche 2017). Seguindo essa tradição, Macron assume um discurso de atenção à segurança e à defesa dos interesses nacionais, em detrimento do idealismo típico da centro-esquerda francesa, focado na governança global e na assistência ao desenvolvimento (Rapnouil e Shapiro 2017). No referido programa, o presidente reconhece que a França perdeu influência no cenário internacional e salienta seu desejo de restaurar e renovar a posição francesa de potência global.Muito devido ao pouco tempo que se transcorreu

desde a eleição de Macron, as diretrizes que se podem inferir de sua política externa ainda são pouco concretas e mais retóricas. Rapnouil e Shapiro (2017) apontam três características axiais do discurso diplomático da nova gestão: abertura, independência e ambiguidade. Macron vê a França como uma nação de vocação global, que deve estar aberta a um mundo em constante mudança e dele extrair oportunidades. Para isso, o país deve preservar a independência que marca sua política externa, garantindo seus próprios interesses e não se subjugando a interesses e decisões alheios. Isso não quer dizer, no entanto, isolar-se: a cooperação, especialmente dentro do quadro da União Europeia, é vista como fundamental para a garantia da soberania francesa. A ambiguidade, por fim, é resultante da opção pelo realismo e se manifestou no silêncio de Macron, em sua campanha, a questões contraditórias, como a presidência de Donald Trump, as relações com a Rússia e a China e o desafio do terrorismo.

A pouca familiaridade de Macron com assuntos estrangeiros significa que o novo Chanceler da França deve exercer papel decisivo na execução da política exterior do país. Ao mais alto posto do Ministère de l’Europe et des Affaires étrangères (o MEAE), Macron indicou Jean-Yves Le Drian. A preocupação com a segurança nacional é patente nessa indicação: Le Drian foi ministro da defesa durante os cinco anos do governo de François Hollande. O político de 69 anos, que goza de amplo respeito nos círculos militares franceses e liderou a intervenção militar contra a al Qaeda no Sahel, é o único membro do Partido Socialista no novo quadro de ministros, o que mostra o intento de certa continuidade na política externa francesa no que se refere ao continente africano (Haddad 2017). Entre as metas estabelecidas por Le Drian, a frente do MEAE, estão o fomento ao comércio, com vistas à redução do déficit comercial do país,

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a implementação do regime climático de Paris e o reforço da integração europeia (Ministère de l’Europe et des Affaires étrangères 2017).

A temática da integração europeia já tem ocupado e deve ocupar boa parte da pasta de relações exteriores da gestão Macron. Repetidas vezes, o presidente argumentou que a consecução das pretensões globais francesas, seja o combate ao terrorismo ou a competição comercial com a China, só é possível por meio da parceria com membros da União Europeia (En Marche 2017). Macron também afirmou que o Brexit foi prova cabal de que a União necessita de reformas. Em entrevista realizada no fim de junho, ele disse acreditar que a concepção ultraliberal sob a qual o bloco foi construído foi responsável pela sua crise: a livre circulação de mão de obra e os baixos salários dela decorrentes contribuíram para que países do leste europeu vissem a Europa como um mero “supermercado”, ao mesmo tempo em que as classes médias baixas da Europa ocidental, vítimas do desemprego, perderam a confiança no processo de integração (Le Figaro 2017). A França de Macron, nesse contexto, tem buscado renovar sua credibilidade e viabilidade econômica a fim de que possa assumir liderança e conduzir mudanças nas mais variadas agendas da União Europeia: governança da Zona do Euro, convergência nas políticas sociais e fiscais, revisão da livre circulação de pessoas, políticas de concessão de refúgio e asilo, e até mesmo o recrudescimento do sistema de defesa do bloco, que agora conta com o recém-lançado Fundo de Defesa Europeu (Darnis 2017).

Para isso tudo, a estratégia de Macron conta com o motor da aliança franco-alemã: ele insiste no estreitamento das relações entre Paris e Berlim, ao que Angela Merkel tem respondido com entusiasmo. Até agora, os dois governos já anunciaram diversas iniciativas de convergência

fiscal e de cooperação nas áreas de defesa, investimentos e educação, tendo como pano de fundo a reforma da União Europeia (Politico 2017). É na esteira dessa estratégia que Macron insiste na necessidade de reformar as leis trabalhistas do país, um dos principais e primeiros campos de enfrentamento do presidente recém-eleito – no sentido de aumentar a credibilidade francesa segundo os critérios atuais da zona do euro, respeitando o compromisso de que o déficit público não deva passar de 3% do PIB (Mens 2017). De acordo com Ross (2017), a reforma do Code du travail seria uma forma de tentar suavizar a devoção exagerada de Berlim à austeridade, bem como sua oposição a uma governança do euro mais federativa – com um orçamento, ministro e parlamento – e a novas formas de solidariedade financeira na Europa.

A visão europeia de Macron é cristalizada por uma concepção federativa e democrática, que propõe criar uma orientação comum para o gerenciamento de bens públicos, administrado por um ministro responsável frente ao Parlamento Europeu. O novo presidente “deseja persuadir a Alemanha a usar suas margens fiscais em benefício da Europa para reduzir seus enormes excedentes de balança de pagamento” e “reabrir o debate sobre o respaldo recíproco para os passivos financeiros do setor público na Zona do Euro” (Ibarra 2017, 16). De modo geral, a intenção é melhorar a coordenação fiscal e a proteção do mercado europeu diante da política americana de buy american e do crescimento asiático no comércio internacional. No que se refere à política migratória, Molénat (2017) afirma que a visão de Macron é europeia, mas “essencialmente repressiva, com o reforço de forças policiais nas fronteiras europeias (5000 homens) e acordos globais com países de origem, combinando ajuda ao desenvolvimento e instalação de pontos de controle para lutar contra

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os atravessadores”.

Quanto ao outro lado do Canal da Mancha, Macron prometeu reforçar uma relação pragmática com um Reino Unido pós-Brexit. Para o presidente francês, os destinos dos dois países estão ligados, razão pela qual ele deseja o trabalho conjunto com o governo de Theresa May em matérias como defesa e contraterrorismo, além da sincronização nas políticas de refúgio e asilo. Macron ainda manifestou que as negociações do Brexit devem ser perfeitamente coordenadas no âmbito da União Europeia, admitindo que qualquer tipo de discussão bilateral sobre o assunto pode prejudicar os interesses europeus (Le Figaro 2017).

O mesmo pragmatismo que rege as relações com um Reino Unido pós-Brexit orienta as relações da França de Macron com o governo de Donald Trump. Paris e Washington guardam muitas divergências. Macron evoca a independência francesa e a resistência europeia frente aos Estados Unidos. Lançando mão da retórica gaullista, critica o atlantismo – alinhamento automático à OTAN e a Washington – daqueles que esperam que a solução para seus problemas venham do outro lado do Atlântico (Rapnouil e Shapiro 2017). Trump, por sua vez, manifestou discreto apoio a Marine Le Pen nas eleições e, em junho, anunciou a retirada de seu país dos acordos climáticos de Paris. Os dois governos convergem, no entanto, quanto à prioridade do combate ao terrorismo e ao Estado Islâmico. O Palácio do Eliseu se comprometeu em agir coordenadamente com a Casa Branca em retaliação a eventuais novos ataques químicos na Síria. Em 14 de julho, durante a pomposa visita de Trump a Paris, Macron sugeriu a criação de um grupo de contato sobre o conflito sírio, que envolveria os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, potências regionais e representantes das partes conflitantes.

A ocasião relembrou a centralidade da aliança com Washington a Paris e é indicativa de que Macron está tentando convencer o presidente norte-americano a rever sua decisão de retirada dos acordos de Paris. O líder francês recentemente declarou que não é possível engajar-se de forma eficiente contra o terrorismo sem engajar-se com a questão climática (Le Monde 2017).

A tradicional parceria com os aliados ocidentais na manutenção da paz e da segurança mundiais é mantida por Emmanuel Macron, embora apresente matizes típicos da tradição gaullo-mitterrandista. O presidente francês prometeu colocar fim a uma forma de neoconservadorismo que a França importa há dez anos: “a democracia não é construída de fora, sem a participação do povo”. Para ele, a França acertou em não intervir no Iraque, mas errou ao intervir na Líbia; em ambos os casos, a mudança de regime por meio do uso da força produziu Estados falidos onde grupos terroristas prosperaram (Le Figaro 2017). Nessa linha, ele propõe que a diplomacia de seu país seja menos intervencionista e mais centrada na segurança nacional. De acordo com Haddad (2017), Macron não pretende questionar o comprometimento da França com a OTAN, mas encorajará, cada vez mais, a coordenação entre membros da União Europeia em inteligência, controle de fronteiras e combate ao terrorismo. Para a consecução de seus objetivos securitários, Macron pretende elevar o orçamento de defesa dos atuais 1,78% do PIB para 2% até 2025 – conforme as regras da OTAN (Mens 2017). Seu objetivo imediato é “enfraquecer militantes jihadistas que ameaçam a França” e “embarcar em iniciativas diplomáticas que tragam resultados concretos ao país” (Irish 2017). O caso da Síria é emblemático nesse aspecto. Macron reafirmou a existência das chamadas “linhas vermelhas” no país, e disse que a França está pronta para agir, mesmo que sozinha, contra o uso

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de armas químicas e o desrespeito aos corredores humanitários. Contrariamente a François Hollande, no entanto, a diplomacia macronista entende que a deposição de Bashar al-Assad não é requisito para a solução do conflito na Síria. Este depende do diálogo político com suporte das Nações Unidas (Le Figaro 2017).

O novo posicionamento francês em relação ao regime de Assad converge de certa forma com o de Vladimir Putin. O Chanceler Le Drian admitiu não haver solução militar para o conflito, e que pontos de convergência na diplomacia da França e da Rússia abrem uma “janela de oportunidade” para a crise na Síria (Le Monde 2017). Após uma fase de tensões entre Hollande e o Kremlin sobre temas como, além da Síria, Irã e Ucrânia, Macron tem demonstrado seu desejo de renovar o diálogo pacífico com Moscou – a suntuosa recepção a Putin no Palácio de Versalhes, ainda em maio, é prova disso. Ao fim e ao cabo, o presidente considera a Rússia um parceiro de longo prazo, e não uma ameaça direta à Europa (Le Figaro 2017).

O pragmatismo de Macron em concentrar seu corpo diplomático em áreas que possam trazer retornos concretos à França incide especialmente no continente africano. A África tem pouco valor agregado aos interesses norte-americanos e, por isso, é um ambiente propício a manobras para a diplomacia francesa, que vê na estabilidade na região do Sahel uma das suas prioridades. Enquanto ministro da defesa, Le Drian liderou operações contra militantes islâmicos em Mali e na Líbia e estreitou relações com importantes chefes de Estado, como os presidentes do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, e do Chade, Idriss Deby. A nomeação do ex-ministro para a Chancelaria sugere, para muitos, a continuidade do intervencionismo militar francês no continente nos últimos anos. Em viagem a Mali, a primeira fora da União Europeia, Macron

ofereceu apoio às tropas francesas engajadas em operações de contraterrorismo no Saara. Na mesma ocasião, renovou o G5 Sahel, iniciativa de cinco países voltada ao combate do terrorismo e do contrabando na região do Sahel, oferecendo o suporte francês e da comunidade europeia ao grupo (Darnis 2017). Macron, porém, apegado ao discurso de fim do neoconservadorismo, pretende trazer soluções pacíficas às disputas no continente. Na Líbia, a França tem esboçado planos para a consolidação da paz entre facções rivais, clamando pela formação de um exército nacional unido (L’Express 2017). A esquerda francesa tem reagido de maneira cética à política de Macron para a África, identificando contradições entre seu discurso de abandono do intervencionismo e a continuidade de uma diplomacia robusta voltada ao continente (L’Humanité 2017).

Preocupações em relação à região Ásia-Pacífico foram, por fim, esboçadas apenas de maneira tangencial pelo programa de governo de Macron. Para o presidente, o crescimento da Ásia em termos econômicos e militares e a emergência de novos atores na região têm minado o papel das democracias do Atlântico Norte no tabuleiro internacional (En Marche 2017). Interesses comerciais – especialmente a venda de equipamentos de defesa – e de segurança – o país tem possessões territoriais no Índico e no Pacífico – prendem a França ao continente asiático. Até 2016, a gestão Hollande desenvolveu vasta cooperação em defesa, manutenção da paz e assistência humanitária com Japão, China, Índia, Austrália e outros países do sudeste asiático. Em junho do ano passado, a França assumiu a intenção de coordenar frotas de países da União Europeia no Mar do Sul da China para garantir o direito à livre navegação, em um cenário de multiplicação dos focos de tensão na região (Rocher 2017). Com Macron, no entanto, essa

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atitude deve mudar. Niquet (2017) sugere que, por razões orçamentárias e de defesa, a diplomacia do novo presidente afastar-se-á do continente asiático e reorientar-se-á aos tradicionais palcos de interesses franceses: Europa, África e Oriente Médio. O presidente francês pretende, ainda, tornar a União Europeia mais robusta e competitiva em relação às emergentes economias asiáticas, especialmente a China. Na cúpula do G20, no início do mês de julho, Macron se encontrou pela primeira vez com o presidente chinês, Xi Jinping. Na conversa, os dois chefes de Estado se limitaram em manifestar seu comprometimento mútuo com o regime climático de Paris (Les Echos 2017).

Os rumos da França na política internacional

Apesar de ser relativamente jovem e de não ter grande familiaridade com a política internacional, Macron contraria, em alguma medida, as expectativas de continuidade na política externa francesa. O novo presidente começa a realinhar a diplomacia do país, colocando a segurança nacional no centro da agenda enquanto se alinha com os EUA no combate ao terrorismo e procura melhorar a posição francesa frente à Rússia, que considera como um parceiro de longa data, mas cujas ações no cenário político internacional requerem certa cautela (Irish 2017, Mens 2017). Durante uma entrevista no fim de junho de 2017, Macron afirma que “devemos reencontrar a coerência e a força de uma política internacional que nos reacredite” (Le Figaro 2017). De acordo com Irish (2017), o foco da França sob Macron parece se direcionar para áreas às quais os EUA conferem menor importância, como a África ou as mudanças climáticas, sobre as quais os dois países divergem.

No momento em que Estados Unidos e o Reino Unido optaram pelo isolamento, abriu-se à França

uma janela de oportunidade para intensificar sua projeção global. Macron soube identificar esse oportunismo e dele tem feito uso, valendo-se da retórica gaullo-mitterrandista de autonomia da França nas relações internacionais. Embora a diplomacia do novo presidente se autointitule pragmática, ela não é de todo realista. Os discursos e as primeiras iniciativas internacionais de Macron apontam para uma adaptação do realismo a um cenário mundializado, no qual a interdependência é condicionante e a cooperação internacional é instrumento necessário para se atingir objetivos. O próprio discurso europeísta do presidente, “France forte dans une Europe forte”, evidencia essa adaptação, passando a mensagem de que o método francês de inserção internacional é calcado no multilateralismo da União Europeia. De certa forma, tal método resolve e sintetiza um dilema clássico da política externa francesa: pragmatismo versus idealismo (Darnis 2017).

A França possui uma posição privilegiada na atual ordem global, sendo o único representante permanente da União Europeia (pós-Brexit) no Conselho de Segurança da ONU, cuja legitimidade é cada vez mais contestada. Delphine Allès (2017) sugere que, em razão disso, Macron tem em suas mãos a possibilidade de reinventar a diplomacia autônoma da França por meio da criação de novas interdependências e da redefinição do sistema internacional e suas instituições de governança. Essa tarefa exige que a política externa francesa saia de sua zona de conforto, deixando de ser uma mera diplomacia de “gestão de eventos” para exercer, de fato, influência sobre a estrutura do sistema. O reforço da parceria com países emergentes e do Sul global e a dedicação à reforma do Conselho de Segurança parecem ser uma boa estratégia para esse fim (Allès 2017).

De qualquer forma, é inegável que a eleição de

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Macron trouxe maior visibilidade internacional à França. Com efeito, o apelo de seu governo ao cumprimento dos Acordos climáticos de Paris, assim como o emprego de um discurso que liga seu país à tradição democrática e dos direitos humanos, à integração europeia e à recepção de refugiados aumentaram o soft power francês (The Guardian 2017). Cunhado por Joseph Nye (2004), o termo se refere à habilidade de um país de forjar alianças internacionais e moldar as preferências dos agentes com base no apelo e na atração de seus fatores políticos, econômicos e culturais. A controversa eleição de Trump nos Estados Unidos e a saída do Reino Unido da União Europeia diminuíram o soft power desses dois países no último ano, ao passo que a ascensão de Macron melhorou a percepção que a sociedade internacional tem da França.

Considerações finais

A chegada de Emmanuel Macron à presidência da França trouxe conforto em um cenário de retorno ao conservadorismo, personificado, mundialmente, na figura do presidente Donald Trump e, nacionalmente, da candidata da ultradireita Marine Le Pen. Novato na carreira política, Macron construiu sua campanha nas ideias-força de reforma econômica, livre comércio e integração europeia. Sua eleição ao Palácio do Eliseu e seu entusiasmo europeu preencheram, na União Europeia, o vácuo de poder deixado pelo Reino Unido com sua saída do bloco.

Na política externa, a França de Macron abraçou um discurso de pragmatismo e de retorno à tradição gaullo-mitterrandista que procura restaurar a imagem francesa de potência independente, humanista e europeia. Apesar do pouco tempo transcorrido desde a posse do novo presidente, suas iniciativas vão ao encontro dessas diretrizes. Por meio do estreitamento de suas relações com a

Alemanha, Macron busca tornar a União Europeia um bloco mais robusto e multiplicador do poder francês. Com os Estados Unidos de Trump, mantém uma aliança pragmática, convergindo em questões como o terrorismo, mas divergindo na questão climática. Na África, o líder prossegue operações militares antiterrorismo no continente.

Por ser pragmática, no entanto, a diplomacia de Macron guarda ambiguidades, as quais podem ser resolvidas ao longo dos cinco anos de seu governo. Enquanto defende o abandono do neoconservadorismo e do atlantismo, Macron, na prática, continua intervindo em assuntos africanos e mantém compromissos com Washington quanto ao conflito na Síria. Apesar da crescente relevância do continente asiático na política internacional, pouco falou sobre a região. E embora fale da parceria entre Paris e Moscou, o presidente ainda mantém cautela nas relações com o Kremlin.

Se Macron de fato pretende imprimir um tom realista a sua política externa, deve, antes de tudo, desenvolver uma interpretação holística da realidade mundial. Ela exige o reconhecimento da China e da Ásia-Pacífico como novo polo de poder nas relações internacionais. Demanda, também, o aproveitamento do status internacional que a França possui e da janela de oportunidade que o desengajamento dos Estados Unidos de agendas internacionais traz ao país. Requer, por fim, que a França ajuste o status quo a fim de tornar sua diplomacia mais influente.

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NERINT-

Bol. Conj. Nerint | Porto Alegre | v.2 n. 6 | p. 1-83 | jul./2017 | ISSN: 2525-5266

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Notas

3. Inaugurada por Charles de Gaulle em 1958, através da Constituição de 4 de outubro, a Vª República rompe com o

parlamentarismo vigente durante a IVª República (1946-1958) e reforça o papel do poder executivo. De Gaulle é o primeiro

presidente da Vª República, de 1959 a 1969.

4. No primeiro turno das eleições (23/04/2017), Macron recebeu 24,01% dos votos válidos e Le Pen 21,30%.

5. Os termos front row kids e back row kids foram ressignificados por Chris Arnade, colunista do The Guardian, durante as

eleições americanas, para marcar a diferença entre os eleitores de Hillary (considerados como globalization winners) e de

Trump (considerados como globalization loosers).

6. Na França, o voto não é obrigatório e é garantido aos cidadãos franceses com mais de 18 anos.

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Recebido em 24 de julho de 2017.

Aprovado em 25 de julho de 2017.