BOLETIM ESCOLAR Confluências · um homem sonha/ o mundo pula e avança/ como bola colorida/ entre...

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BOLETIM ESCOLAR Confluências (2ª Série) Março / Abril 2011 Confluências Com o apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal Nesta edição: Scriptomanias Uma Escola Aberta Uma Visita & um ... Iniciativas Cinema & Reflexão O que foi Abril Teatro & Reflexão Da Amareleja ao ... Breves pp. 2- 3-4-5-6 p. 7 p. 8 p. 9 p. 10 p. 10 p. 11 p. 11 p. 12 de alunos do curso de Artes Depois de um rastreio, há alguns meses, a Farmácia Salutar voltou à Escola Secun- dária de Camões, no Dia dos Namorados, para uma Consulta Aberta (v. pág. 7). No âmbito do Protocolo de Colaboração existente, os alunos, professores, funcioná- rios e familiares usufruem de condições especiais nesta Farmácia. Eles não sabem que o sonho/ é uma constante da vida/ tão concreta e definida/ como outra coisa qualquer,/ como esta pedra cinzenta/ em que me sento e descanso,/ como este ribeiro manso/ em sere- nos sobressaltos,/ como estes pinheiros altos/ que em ver- de e oiro se agitam,/ como estas aves que gritam/ em bebedei- ras de azul.// Eles não sabem que o sonho/ é vinho, é espuma, é fermento,/ bichinho álacre e sedento,/ de focinho pontiagudo,/ que fossa através de tudo/ num perpétuo movimento.// Eles não sabem que o sonho/ é tela, é cor, é pincel,/ base, fuste, capi- tel,/ arco em ogiva, vitral,/ pináculo de catedral,/ contraponto, sinfonia,/ máscara grega, magia,/ que é retorta de alquimista,/ mapa do mundo distante,/ rosa-dos-ventos, Infante,/ caravela quinhentista,/ que é cabo da Boa Esperança,/ ouro, canela, marfim,/ florete de espadachim,/ bastidor, passo de dança,/ Colombina e Arlequim,/ passarola voadora,/ pára-raios, loco- motiva,/ barco de proa festiva,/ alto-forno, geradora,/ cisão do átomo, radar,/ ultra-som, televi- são,/ desembarque em foguetão/ na superfície lunar.// Eles não sabem, nem sonham,/ que o sonho comanda a vida,/ que sempre que um homem sonha/ o mundo pula e avança/ como bola colorida/ entre as mãos de uma criança. Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar/ Vemos, ouvi- mos e lemos/ Não podemos igno- rar// Vemos, ouvimos e lemos/ Relatórios da fome/ O caminho da injustiça/ A linguagem do terror// A bomba de Hiroshima/ Vergonha de nós todos/ Reduziu a cinzas/ A carne das crianças// D’ África e Vietname/ Sobe a lamentação/ Dos povos destruí- dos/ Dos povos destroçados// Nada pode apagar/ O concerto dos gritos/ O nosso tempo é/ Pecado organizado. (do espectáculo, previsto para 4 de Maio, dar-se-á notícia no próximo Confluên- cias). Uma colaboração SALUTAR!

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BOLETIM ESCOLAR

Confluências (2ª Série)

Março / Abril 2011

Confluências

Com o apoio

do

Grupo

Desportivo

e

Cultural

do

Banco

de

Portugal

Nesta edição:

Scriptomanias Uma Escola Aberta Uma Visita & um ... Iniciativas Cinema & Reflexão O que foi Abril Teatro & Reflexão Da Amareleja ao ... Breves

pp . 2 -3-4-5-6 p. 7 p. 8 p. 9 p. 10 p. 10 p. 11 p. 11 p. 12

de alunos d

o cu

rso de Arte

s

Depois de um rastreio, há alguns meses, a Farmácia Salutar voltou à Escola Secun-dária de Camões, no Dia dos Namorados, para uma Consulta Aberta (v. pág. 7).

No âmbito do Protocolo de Colaboração

existente, os alunos, professores, funcioná-rios e familiares usufruem de condições

especiais nesta Farmácia.

Eles não sabem que o sonho/ é uma constante da vida/ tão concreta e definida/ como outra coisa qualquer,/ como esta pedra cinzenta/ em que me sento e descanso,/ como este ribeiro manso/ em sere-nos sobressaltos,/ como estes pinheiros altos/ que em ver-

de e oiro se agitam,/ como estas aves que gritam/ em bebedei-ras de azul.// Eles não sabem que o sonho/ é vinho, é espuma, é fermento,/ bichinho álacre e sedento,/ de focinho pontiagudo,/ que fossa através de tudo/ num perpétuo movimento.// Eles não sabem que o sonho/ é tela, é cor, é pincel,/ base, fuste, capi-tel,/ arco em ogiva, vitral,/ pináculo de catedral,/ contraponto, sinfonia,/ máscara grega, magia,/ que é retorta de alquimista,/ mapa do mundo distante,/ rosa-dos-ventos, Infante,/ caravela quinhentista,/ que é cabo da Boa Esperança,/ ouro, canela, marfim,/ florete de espadachim,/ bastidor, passo de dança,/ Colombina e Arlequim,/ passarola voadora,/ pára-raios, loco-motiva,/ barco de proa festiva,/ alto-forno, geradora,/ cisão do átomo, radar,/ ultra-som, televi-são,/ desembarque em foguetão/ na superfície lunar.// Eles não sabem, nem sonham,/ que o sonho comanda a vida,/ que sempre que um homem sonha/ o mundo pula e avança/ como bola colorida/ entre as mãos de uma criança.

Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar/ Vemos, ouvi-mos e lemos/ Não podemos igno-rar// Vemos, ouvimos e lemos/ Relatórios da fome/ O caminho da injustiça/ A linguagem do terror// A bomba de Hiroshima/ Vergonha de nós todos/ Reduziu a cinzas/ A carne das crianças// D’ África e Vietname/ Sobe a lamentação/ Dos povos destruí-dos/ Dos povos destroçados// Nada pode apagar/ O concerto dos gritos/ O nosso tempo é/ Pecado organizado.

(do espectáculo, previsto para 4 de Maio, dar-se-á notícia no próximo Confluên-

cias).

Uma colaboração SALUTAR!

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Título: Confluências

Iniciativa: Departamento de Línguas

(Grupo Disciplinar de Românicas)

Director: António Souto

Coordenação de edição: António Sou-to e Manuel Gomes

Periodicidade: Trimestral

Impressão: CDCBP

Tiragem: 250 exemplares

Depósito Legal:

Propriedade: Escola Secundária de Camões

Praça José Fontana

1050-129 Lisboa

Telefs. 21 319 03 80 - 21 319 03 87/88

Fax. 21 319 03 81

Nada com nada A verdade é que podia não ver, mas rio-me. Podia desviar o olhar, mas tapo a cara e assobio para o lado. Talvez fingir, mas ai, nem a ponta da unha receberia. E sorrir? Provavelmente. Sair com os meus e deixar isso para trás. Se calhar não devia. Não devia e agora estou arrependida. Não queria, não podia e nem sequer me devia importar. Mas quem sabe? Eu não. Sem impressões ou ideias, nada. Esquecer ou enevoar? Um apaga, outro esconde, se bem que… Posso sempre acelerar o passo, arregaçar as mangas e escrevinhar. “Eu posso, eu mando!”

Jéssica de Sousa, 11º B Ilustração de Jéssica de Sousa, 11º B

Sentimento A caneta desliza pela folha. Poema cantado, Sentimento entoado De poeta abandonado. O amor fugiu-lhe. Passam-se as noites, Passam-se os dias e os medos, Esses agarram-se, na verdade, Presos pelas lágrimas da saudade. Recorda-se do cheiro da sua pele, Dos momentos, dos beijos, do amor. Mas para onde terá ido? Onde pairará a sua flor? Agora cessam-se as palavras, O poeta vê-a.

O tempo perdeu-se para ele. Se a pequena deusa falasse Talvez dissesse, “Se pelo menos o tempo voltasse”.

Patrícia Sardo, 12ºD (in blogue Poetar…)

João Barro

cas, 1

2º D

O Mecanismo do Relógio Apanhaste o pequeno pássaro? Apanhaste-o mesmo? Quanto tempo fica aqui? Tens a certeza que o queres? Tens a certeza que ele te quer? Se só um desejar o outro, Pertencerão um ao outro? Desejas afinal o pequeno pássaro? Ou desejas o desejo do pequeno pás-saro por ti? (Amas o desejo ou aquilo que é dese-jado afinal?) Quanto tempo te servirá este desejo se vier outro?

E se vier logo? E se nunca parar de vir? E se nunca estiveres satisfeito? Quanto tempo falta até libertares o pequeno pássaro? Quanto tempo até o deixares voar? Quanto tempo até parares de lhe dar corda? Oh, o grande pássaro, Na sua constante inquisição, Precisa de desligar o relógio. Ou não saberá já, Condensado na inquisição, Usá-lo doutra forma?

Isa Marques, 12ºC (in blogue Poetar…)

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

As árvores da escola Na minha rua

há uma escola com o pátio coberto de árvores onde os passarinhos começam a cantar a partir das 4h da manhã. Fazem-me companhia com uma fidelidade canina. Acordo com os leves barulhos dos ramos e das folhas das árvores por entre as quais saltam frenetica-mente e, como não consigo voltar a adormecer, levanto-me e fico a olhá-los da minha janela.

Parece que quando envelhecemos as noites bem dor-midas não passam de memórias, a companhia de alguém passa a ser uma miragem e a felicidade um objectivo inatingível. É sentirmo-nos a desmanchar por

dentro. Não é a partir, é só a desmanchar, como se nada tivesse forma ou fizesse sentido. Sei de cor as árvores da escola da minha rua; de tanto as olhar, podia desenhá-las de olhos fechados. Sei de cor os barulhos dos ramos e das folhas de cada uma, os ninhos que cada uma tem. Sei de cor os corações com nomes gravados no tronco de cada uma delas, os beijos roubados à sua sombra, as promessas que cada uma guarda. Dizem que o amor também nasce nas árvores, como as laranjas. Há dias em que me sinto assim, como uma árvore, sempre parado no mesmo lugar a ver a vida passar-me ao lado ainda que tenha tanta vida em mim e tantas histórias para contar. Dizem que na velhice é assim.

Bruno Matos, Ensino Recorrente, 11, 3ª turma

(Van Gogh)

História das árvores

As árvores começam por nada ser, mas acabam por crescer e florescer sozinhas.

Pouco a pouco erguem-se do chão, alteiam-se palmo a palmo.

Crescem os ramos, ramos que dão outros ramos, e nesses ramos nas-cem folhas que também se multipli-cam.

Por entre as folhas, esboçam-se as flores que virão a dar fruto.

Desses frutos nascem as semen-tes, que se preparam para dar nova-mente novas árvores.

E assim é o ciclo da vida das árvo-res, que acontece sempre envolto numa solidão.

Sós, consigo mesmas, sem ouvir,

sem ver e sem falar. Durante o dia, durante a noite. Ao contrário dos animais, que

ouvem, falam e vêem, que se repro-duzem e vão à vida como se nada fosse.

As árvores não. São solitárias por natureza. Silenciosamente exauram terra e

solo, não pensam, não respiram e não se queixam.

Somente estendem os seus com-pridos ramos, como se de braços humanos se tratasse e implorassem; com o vento soltam gemidos mas a queixa não é sua.

Estão por toda a parte, nos mon-tes, nas planícies, nos vales e nas florestas, a crescer, a florir, sem consciência.

A virtude vegetal é viver só, cres-cer e dar flor. Manuela Machado, Recorrente,

10, 3ª Turma

Alzheimer

Não é um cancro, não é sida. O cancro e a sida corroem-nos o corpo deixando-nos ficar atentos à tristeza que nos rodeia naqueles momentos. O Alzheimer corrói-nos o pensamento e a atenção deixando o corpo às ordens de um cérebro apático.

As pessoas transformam-se em pesadas marionetas com um bocadinho de vida. Vida não…um fio que canta em tom agudo e insiste em não se partir. Fininho, vai esticando, esti-cando…por detrás de uns olhos imóveis incapazes de ver outra coisa que não esse mesmo fio persistente, que vai man-tendo abertos esses olhos. Comem porque os obrigam e falam para dizer que não sabem, não se lembram, não conhecem. Não se lembram do que são nem do que sabem e não conhe-cem pois não sabem sequer quem são.

São pais e irmãos porque lhes dizem que são pais e irmãos mas, na verdade, não são pais nem irmãos pois não se lem-

bram nem sabem que o são. Lembram-se de música, canti-gas, mas não as cantam se não tiverem quem lhas cante ao mesmo tempo. A música lembra-lhes coisas vagas que não sabem bem o que são. São memórias ténues e alegres, talvez a infância seja essa coisa vaga e alegre.

Sorriem porque sentem algo que as faz sorrir, mas esse algo é tão abstracto para elas que só o sentem, não o sabem explicar.

E choram, pois é essa a mais espontânea forma de mostrar o que sentem quando não riem. Choram porque vêem ainda pedaços de si que os fazem lembrar o que já foram antes de serem pesadas marionetas. Choram, porque os olhos estão cansados de olhar para o fio. Choram, porque no fundo de si mesmos sabem que não se lembram que são pais e irmãos.

Manuel Figueira, 11º L

(Piet Mondrian, Árvore)

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

O meu Natal é um misto de tradições e

rituais que se repetem de ano para ano, qua-se sem alterações. Embora todas as refeições sejam diferentes umas das outras, o seu con-junto forma uma inexplicável magia que prima pela genuinidade. Genuinidade essa que ultrapassa bastante a banalidade das prendas da moda e de um “ pai Natal” que as vem dar, cuja propaganda o popularizou e propagou pelo mundo todo, abafando em muitos casos aquilo que é o Natal. Diria que o meu Natal se enquadra melhor naquele que Sophia de Mello Breyner nos descreve na “Noite de Natal”.

O meu Natal começa no dia 24 logo pela

manhã. Até este dia pouco se fala de como vai ser o Natal este ano. Fala-se do número de pessoas, de algumas comidas e pouco mais. A ceia é sempre em Azeitão, variando apenas a casa. Ou em nossa casa, ou na casa de um tio meu, ou na casa de uma prima nossa, ou, como já aconteceu, no antigo palá-cio dos Duques de Aveiro pois uma parte deste pertence a um tio meu ( por afinidade). Embora vá saltitando por todas estas casas, acaba sempre por voltar à casa velha da minha tia-avó Gracinha (Gagá), a uma anti-ga sala que pertence à casa e que pertencia ao “conventinho” da Arrábida. Muito tosca e escura, proporciona um ambiente perfeito para este jantar que é único no ano.

De todos estes natais, recordo com espe-

cial carinho os que foram no palácio. Era uma excitação. A sala que usávamos era a principal, tinha nas paredes laterais quatro janelas de sacada (duas de cada lado) e nas paredes interiores quatro painéis de azulejos (dois em cada uma). Entre duas destas jane-las de sacada há uma enorme lareira emol-durada de mármore da Arrábida. O imenso pé direito da sala e o estado de degradação de todas as janelas do palácio faziam com que se tornasse impossível aquecê-lo. A sequência de salas nobres e vazias só aquecia com as estridentes gargalhadas das minhas primas e pelas músicas, poemas e pequenos teatros improvisados por todos.

Este ano, a ceia foi de novo na velha casa

da minha tia “Gagá”. Como esta estava adoentada, eu e uma prima passámos o dia a decorar, redecorar, desmontar, montar até que tudo estivesse perfeito. A mesa era uma antiga mesa de cozinha da herdade do Alen-tejo, um estrado roubado a uma das muitas camas, sob uns pés improvisados e uma tábua que encontrámos na adega sob uns pés que também lá estavam, pedindo que os usássemos. Depois de muito procurar lá encontrámos, nas arcas da casa, toalhas suficientes para cobrir esta mesa improvisa-da. Em cima da mesa pusemos uns marcado-res, dando aos pratos de papel um ar mais selecto e velas dos mais variados tamanhos

que desencantámos nas gavetas e gavetinhas da casa. No largo e antigo parapeito da jane-la montámos um presépio com figuras de diferentes espécies que encontrámos, não esquecendo os borregos a pastar que nos transportam de imediato para o nosso Alen-tejo. A salamandra, acesa desde manhã, tentava, incansavelmente, combater as fres-tas da porta empenada e da janela, que de janela já pouco tem…

A comida nunca abunda mas sempre que

entra uma travessa é aplaudida. Este ano, o primeiro a entrar foi o peru originalmente enfeitado pela minha tia que cumpriu o

ritual repetindo a frase de todos os anos –“Inauguro, na presença de todos, o peru des-te ano!” Dito isto, cravou a faca enquanto nós aplaudíamos. Depois de este ter vindo à apresentação à mesa dos adultos (à qual sempre pertenci por ser o primeiro sobrinho neto e primeiro neto) seguiu para a casa pequena (ao lado da velha), onde comem as crianças com uma empregada. Então, apare-ceram os bacalhaus. Após uma rodada de Bacalhau, voltou o peru, entretanto atacado pelas crianças. Acabada a refeição, vieram alguns doces, não tão apreciados como o res-to, talvez como consequência desta veia alen-tejana que nos marca a todos. Com os doces vêm também as crianças cantando as músi-cas da escola ou escritas por elas, ou improvi-sando um teatro de natal.

Enquanto estamos todos entretidos com

este espectáculo, a minha tia Gagá esconde-se, sorrateira e discreta, para se mascarar de pai Natal. Um pai Natal em que já nenhuma das crianças acredita, mas que mantemos pois a minha tia tem a capacidade de impro-visar e a inteligência de se “transportar” para a personagem do pai Natal e, através dela, fazer um discurso satírico em que goza, brincando, connosco, com o estado do país e do mundo. Este ano apareceu com apenas a parte de cima do fato trazendo apenas um brinquedo minúsculo. Gozou com a família

toda e brincou com ela própria, lamentando-se da sua ausência naquele momento e, por fim, lá distribuiu, ironicamente, alguns pre-sentes, visto ser essa a sua função.

Sai o pai natal e com ele sai também o

meu avô para a missa do galo. Nessa altura, a parte da família do lado da minha tia fica naquela casa e a parte da família do lado do meu avô, nós, vamos para a quinta preparar tudo para abrir as tão esperadas prendas logo que chegue o meu avô.

Reavivámos a lareira onde morriam lenta-

mente algumas brasas e afastámos um pouco os sofás de forma a cabermos todos à vonta-de. Cada um põe um sapato seu no cantinho que escolheu, onde se vão depois acumulando alegremente as prendas de cada um. Mal chegou o meu avô, foi dada ordem para abrir tudo aquilo a que já tínhamos tido tempo de tirar as medidas e de perceber o que era. Só sobre os envelopes pairava, como sempre, um saboroso mistério: será um cheque fnac? Será um cheque dos bons? Será uma viagem de avião? Ou simplesmente um cartãozinho a explicar o que são aquelas coisas a que já tirámos as medidas? Depois de uma enxurra-da de agradecimentos, beijos e de um chazi-nho que entretanto alguém se lembrou de fazer, recolhemos a casa desejando estender na cama o peso acumulado de todas estas emoções e trabalhos.

No dia 25, ao descer à sala de estar, estão,

como sempre, em frente à lareira, o monti-nho de prendas de cada um. Prendas dos meus pais para nós e entre eles. Abrimos, dizemos “Era mesmo isto que eu queria”, e vamos, à vez, tomar banho preparando o corpo para um dia que se prevê longo. Para nós, este dia diferencia “ano sim, ano não”. Um ano fazemos o natal “ Correia Figueira”, mantendo a tradição madeirense da carne vinha-d´alhos. Outro ano, fazemos o natal “Seabra Gomes” com o lado da família da minha mãe. Este ano ficámos nós encarre-gues desta refeição.

Enquanto o meu irmão se deliciava com a

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

água quente do banho, eu esperava em rou-

pão entretendo-me a explorar um livro que recebera na véspera fingindo ignorar a voz da minha mãe gritando da sala de jantar “Vem ajudar com a mesa!” Tomei um banho rápido e fui “ajudar com a mesa”. O meu pai quis “desenterrar” um serviço muito antigo da “tia Fernanda” que estava no fundo do móvel da sala de jantar que, por acaso, tam-bém era dela. Como o serviço devia estar ali estagnado há mais anos do que aqueles que eu tenho de vida, tivemos que o lavar todo para tirar o pó que se tinha confortavelmente instalado nas bordas dos pratos e no fundo das molheiras! Limpo o serviço e posta a pomposa mesa, foi chegando a comida e, com ela, alguns tios e a minha avó. O almoço começou às duas com uma sopa e algumas entradas, seguindo-se um gratinado de lulas e três alarves nacos de carne devidamente fatiados. Retiradas as travessas e molheiras e terrinas do tal serviço, cobriu-se a mesa oval de doces entrando de imediato uma enxurrada de crianças barulhentas de prato de plástico em punho.

Enquanto o meu tio tentava convencer as

crianças que a lampreia de ovos mordia as mãos dos meninos que se aproximassem, eu deliciava-me com o pudim de vinho e a sopa dourada no outro extremo da mesa. Quando

a mancha de crianças voltou a desaparecer para o mundo de antigos brinquedos do sótão, o meu pai foi buscar à garrafeira uma garrafa de Porto Vintage que tinha guardada para uma ocasião especial, servindo peque-nos cálices que distribuiu por cada um de nós. Só às cinco subimos à sala de estar, fazendo horas para ir para o jantar de um tio-avô meu, irmão da minha avó materna, na casa deste em Setúbal. Tirámos as habituais fotografias de família: a avó com os netos, a avó com os filhos, a avó com todos, etc. As crianças estavam entretidas com um jogo qualquer, alguns adultos conversavam sobre política, educação, etc. E enquanto isto, o grupo do outro sexo fofocava acerca do vesti-do daquela e da festa do outro que era uma snobeira de novos-ricos! Nós estávamos, entretanto a folhear umas revistas, ouvindo a conversa da política, e, principalmente, a fofoquice do decote propositadamente mal cortado.

Finalmente fomos dar um jeito à toillete e

partimos para a casa do meu tio Ricardo. O portão verde, os cães simpáticos, a fachada da casa, a porta de madeira com vidrinhos da cozinha são marcos daquela tradicional e última refeição de Natal. A eternamente elegante “tia São”, sempre sorridente, a lareira, a tia “Teça”, o presépio sempre igual, a prima “Maguidas” e a sua aperaltada filha Marta são exemplos do que todos os anos encontro naquela espaçosa sala, indicando que é Natal. Enquanto os mais velhos con-

versavam sentados nos acolhedores sofás da lareira ou nos mais espaçosos, em frente à mesinha e ao presépio, eu e um outro primo atacávamos a tábua dos queijos e o presunto. Depois de levadas ao quarto das crianças umas fatias de peru e batatas fritas, começa a circular na sala o tabuleiro com as cháve-nas de canja. Depois da canja, o merecida-mente famoso bacalhau espiritual da minha tia antecedendo o enorme peru, cuja primei-ra parte a ser devorada é o recheio.

Acabada esta refeição que “remata”, com

muita qualidade, o Natal, os adultos são chamados para os sofás da mesinha e as crianças para o chão ao lado do presépio. A tia senta-se numa cadeira ao lado delas e cada uma das crianças tem de ou tocar um instrumento, ou recitar um poema, ou can-tar. Começaram os filhos do meu tio Tomás tocando violino. Seguiram-se algumas can-ções cantadas por todos (coro de que já fiz parte), um poema dito em francês.

Para terminar, a família da casa, os meus

tios, filhos e netos recitaram um poema que tinham feito, ilustrando por palavras a histó-ria que nos faz todos os anos viver estes dois dias de forma tão especial e intensa e repeti-los iguais de ano para ano, fazendo com que esperemos ansiosamente pelo Natal do ano seguinte.

Manuel Figueira, n.º 20 – 11.ºL

SÓ MAIS UM ESFORÇO DE METACRACIA

À la très-belle, qu’a refleuri mon cœur. não há voz mais fiel que aquela que permanece calada fugazmente silenciosa contrastando com os berros ordinários. também eu queria ser calado e viver como se o silêncio fosse tudo o que em mim faz sentido. também eu gostava de saber se há riso no som e tristeza no silêncio; se há descompassos na paixão, se há impulsos amorosos nestas horas em que me confio a um etéreo reduto a esta forma informal de silêncio e és Literatura. de facto és a minha Literatura e eu amo o silêncio. o silêncio, sim. gostava de saber se são mais reais estes minutos em que te falo e anseio a tua voz ou todas as horas que me prendem

o quotidiano em que nada sei nada sou em que me sinto como uma gota de água num deserto lisboeta. de que necessito eu senão de alguém que viva? alguém que não morra pelos caminhos que percorre diariamente num esforço de rotina. eu não quero coisas mortas amava também eu ser vivo nestes movimentos arbitrários que produzo com os dedos. sinto e sei que cada homem tem um fim: a escravidão da liberdade intelectual confina-me ao que sonho, um dia, ser (excessiva racionalidade) e tudo me diz que em breve não farei nada mais senão sentir

João de Matos, 11º J

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Esses teus olhos Esses teus olhos, Salgados pela brisa, Preenchidos pela doçura do mar e do sal que corre no vento, Esses teus olhos que me olham, como se não houvesse sol, nem chuva. Esses olhos, que me dizem que não estou só, são os mesmos olhos que anunciam a Primavera. E esses pés que, quando eras pequeno,

te fizeram tropeçar e cair. Esses mesmos pés com que jogavas à bola, e andavas de bicicleta. Se amo os teus pés, é apenas por terem andado anos e anos Até me encontrarem. Esse teu sorriso tão meigo, Que leva consigo toda a doçura quando parte. Esse sorriso que por vezes se desfaz em lágrimas, quando sofre. Esse sorriso, só o amo, porque faz nascer um sor-riso em mim também.

Alice Martins, 11º A

“Episódios da Vida Romântica”

Quando se fala em Os Maias vem à memória o enfadonho tijolo que somos obrigados a ler. Contudo, essa ideia da obra parece ter sido desfeita para as turmas do 11º ano que, no dia 21 de Fevereiro, assistiram no Auditório a uma adaptação deste grande romance de Eça de Queirós.

Provavelmente, se todos os alunos tivessem concluído a leitura desta obra até à data do espectáculo, este teria sido muito mais proveitoso. Apesar disso, esta representação teatral terá levado muitos alunos a aventurarem-se naque-las 700 páginas…

Em cerca de hora e meia, os três actores da Companhia de teatro Há Cultu-ra – Elisabete Piecho, João Loy e Paulo Oliveira – conseguiram dar-nos a conhecer os “Episódios da Vida Romântica” (numa adaptação de Norberto Bar-roca,) sem nunca nos deixarem de fazer rir. Aliás, a relação com o público foi

excepcional! A peça descreve, à semelhança do romance, o contexto social de meados do séc. XIX, através de

personagens como Carlos da Maia, Maria Eduarda, João da Ega e Dâmaso Salcede. A peça põe em palco cenas como o incesto, as conversas ora sérias ora hilariantes entre Carlos

da Maia e João da Ega, ou a caricatura de Dâmaso, apostado em imitar Carlos da Maia na moda e com ele rivalizar nos amores.

Os casacos foram os recursos usados pelos actores para, no decurso da representação, mudarem de personagem: muda o casaco, muda a personagem. Engenhoso processo que permite economizar tempo e recursos.

Guiões extensos, irónicos e rigorosamente reproduzidos foram curiosamente acessíveis para um público “indouto”, mas deliciado com a representação.

Concluindo, trata-se de uma peça que superou as expectati-vas e que se recomenda a todos quantos gostaram, gostam ou gostariam de ler Os Maias.

Vera Korchevnyuk, 11º B

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Confluências

UMA ESCOLA ABERTA

“Sim, vou ser um bom pai. Mais Tarde.” “Eu faço sexo, seguro. Uso Preservativo.”

“Eu Amo. Eu Respeito.”

CONSULTA ABERTA AOS JOVENS CAMONIANOS No passado dia 14 de Fevereiro, Dia dos Apaixona-

dos, quero dizer, Dia dos Namorados, a Farmácia Salutar esteve presente na Escola Secundária de Camões para uma Consulta Aberta.

A acção decorreu no pátio norte da escola, junto ao bar, onde duas das nossas colegas – Dra. Joana Marques e Dra. Margarida Prata – estiveram à disposição dos alunos, e não só, para esclarecer dúvidas sobre as temáticas relacionadas com a sexualidade, sem preconceitos, sem tabus e com confi-dencialidade, a saber:

• O ciclo menstrual, em particular o período ovulatório. • O início das relações sexuais. • Os métodos contraceptivos disponíveis e utilizados. • A gravidez, pílula do dia seguinte e aborto. • As consequências físicas, psicológicas e sociais da maternidade e da paternidade na juventude. • As doenças e as infecções sexualmente transmissíveis. • Os maus tratos e as aproximações abusivas.

As questões mais colocadas pelos jovens alunos prenderam-se com a utilização do preservativo, a toma da

pílula e o que fazer em caso de um imprevisto... Quer rapazes quer raparigas, sem tabus, aproveitaram a pre-sença da Farmácia Salutar, para esclarecer dúvidas!

Ainda tens dúvidas? Não hesites! A Farmácia Salutar esclarece.

Aparece! Aqui tão perto: Rua do Conde de Redondo, nº 9 A (junto à sede da PJ)

Telefona: 21 353 34 11

Escreve! E-mail: [email protected] ou www.facebook.com

“Sim, quero ser mãe. Daqui a uns anos.” “Eu gosto de mim. Muito.”

”Eu tenho dúvidas. Eu pergunto.”

Os Três Grandes Objectivos da Consulta Aberta:

• Contribuir para uma melhoria dos relacionamentos afectivo-sexuais entre os jovens.

• Contribuir para a redução das possíveis consequências negativas dos comportamentos sexuais, tais como a gravidez não planeada e as infecções sexualmente transmissíveis.

• Contribuir para a tomada de decisões conscientes na área da educação para a saúde – educa-ção sexual.

A partir do presente número, o Boletim Confluências passa a contar com um apontamento temático da Farmácia Salutar (empresa que mantém com a Escola Secundária de Camões um Protocolo de Colaboração).

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Confluências

UMA VISITA & UM CONVITE

VENHA CONHECER UM PAÍS CHAMADO PORTUGAL!

Como resposta à proposta da nossa professora de Geografia – reali-

zação de um trabalho sobre um concelho do interior do nosso país, caracterizando-o do ponto de vista demográfico, socioeconómico e cultural, e apresentando estratégias possíveis de desenvolvimento regional – escolhemos o concelho de Mértola.

A exemplo de outros concelhos fronteiriços, Mértola enfrenta pro-blemas demográficos, como o envelhecimento da população, ligado a baixas taxas de natalidade, ao êxodo rural e à emigração dum núme-ro significativo dos adultos jovens nascidos no concelho. A perda de população residente está associada à falta de emprego e à carência de equipamento social básico, particularmente nas áreas da saúde, do ensino e das comunicações.

Naturalmente que a maioria destes concelhos possui recursos naturais e humanos que podem e devem ser mobilizados para pro-mover o desenvolvimento local e regional.

Em Mértola, tem-se verificado a aposta no desenvolvimento do turismo rural, de carácter ambiental e cultural, com base na oferta de actividades que permitem a ocupação do território e, ao mesmo tempo, preservam o ambiente, o património arqueológico, histórico e etnográfico local. A Câmara Municipal de Mértola possui um Gabi-nete de Planeamento e Desenvolvimento cujos objectivos consistem em desenvolver a actividade económica, apoiar possíveis investido-res e empresários e promover iniciativas para o desenvolvimento local. Tem também em curso um projecto local, de nome Agenda 21, para o desenvolvimento sustentável, prosseguindo o desenvolvimen-to económico a par da protecção ambiental.

Para desenvolvimento turístico, Mértola possui uma empresa municipal a Merturis.

Do trabalho realizado, propomo-nos divulgar os eventos culturais ligados à arte, à música, à dança, ao desporto e à gastronomia, como o festival islâmico, que, a exemplo dos anos anteriores, se realizará no próximo mês de Maio. E, claro, convidar os leitores do nosso jor-nal a visitar Mértola.

Como chegar a Mértola? (Mapa de Portugal com o concelho de Mértola assinalado e mapa da rede de estradas do concelho de Mértola, nas fotos.)

Mértola situa-se no Alentejo, mais precisamente, no distrito de Beja, pertencendo à NUT III Baixo Alentejo. As principais estradas que passam no concelho de Mértola são a Estrada Nacional número 122, com ligação ao IC17 (que liga Beja a Castro Marim), a Estrada Nacional 267, que liga Mértola a Almodôvar, a Estrada Nacional 123, que liga Mértola a Castro Verde, e a Estrada Nacional 265. É ainda de notar que a Auto-Estrada 2 se encontra a 52 Km de distância do concelho. Mértola encontra-se a 52 Km de Beja, a sede de distrito, a 232 Km de Lisboa e a 36 Km da fronteira com Espanha.

Mértola, uma cidade em festa todo o ano! (Festival islâmico e festas da Vila, nas fotos.)

Mértola é considerada uma Vila Museu, pois nela são visíveis vestígios de povos que a habitaram desde o neolítico até hoje – Ibe-ros, Fenícios, Cartagineses, Gregos, Romanos e Mouros, todos eles se fixaram em Mértola, devido ao rio Guadiana, que permitia as rotas comerciais, e ao posiciona-mento estratégico, que facilitava a defesa em caso de ataque. Foram os “mouros”, vindos do Norte de África, que deixaram maiores evidências da sua per-manência, pois, em razão do seu posicionamento geográfico, Mér-tola foi uma das últimas cidades a ser reconquistada. Myrtilis Iulia, como era cha-

mada no tempo dos Romanos, guardou consigo vários objectos de grande interesse arqueológi-co. A influência islâmica nesta região é celebrada no Festival Islâmi-co que se realiza de 2 em 2 anos durante o mês de Maio, em que as ruas se enchem de turistas e habitantes locais que adquirem produ-tos no mercado árabe improvisado e apreciam os concertos de músi-ca. No mês de Maio realiza-se também o Festival da Juventude, que inclui provas desportivas, música (concertos e dj`s), dança, feiras alternativas, corridas de carrinhos de rolamentos e de karts. As Festas da Vila, em Junho, são um convite à dança no Castelo de Mértola e no cais do Guadiana. O “Mértola Radical”, festival de

desportos radi-cais, marca também o Verão.

Para além destes festi-vais, realizam-

se, no Outono, festas e feiras, como a Feira da Caça de Mértola, que atrai os adeptos do turismo cinegé-tico e inclui provas e demonstrações culinárias, e a Feira do Mel, Queijo e Pão, que além de promover estes produtos gastronómicos típicos, promove tam-bém a música tradicional, atraindo os turistas amantes da degustação.

O Inverno é animado pelo “Mértola Arte”, entre Fevereiro e Mar-ço, que compreende variadíssimas exposições, workshops, concertos e concursos de arte – pintura, escultura, fotografia, desenho e vídeo –, contando com a participação de artistas locais, e pelo Festival do Peixe do Rio, no mês de Março, no Pomarão, um festival gastronómi-co, onde se provam iguarias típicas acompanhadas com música, con-cursos de pesca, passeios de barco e exposições.

Ana Silva e Susana Pinto, 11º J

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Confluências

INICIATIVAS

Projecto “Educação e Patri-mónio Cultural: escolas, objectos e práticas” (FCT) Visita à Escola Secundária

de Camões

Na manhã do dia 19 de Fevereiro, sábado, foi realizada uma visita à Escola Secundária de Camões no âmbito do Projecto “Educação e Património Cultural: Escolas, objec-tos e práticas”, financiado pela Fun-dação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e com sede no Instituto de Educação da Universidade de Lis-boa, coordenado pela Professora Doutora Maria João Mogarro.

Esta visita foi organizada por duas professoras ligadas à escola, Dra. Anabela Teixeira e Dra. Cata-

rina Leal, e contou com a colabora-ção da Dra. Adelina Precatado, vice-directora, e dos professores Dr. José Luís Vasconcellos e Dra. Leonor Borralho, que guiaram o grupo pela escola, levando-o ao encontro da história da instituição, através de corredores, do ginásio, da biblioteca, do arquivo, do núcleo museológico, entre outros.

Esta visita integrou-se nas activi-dades do Projecto, que decorreram nos dias 18 e 19 de Fevereiro de 2011.

No dia 18 realizou-se o Colóquio “Os rituais escolares, em gestos e objectos”, no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, com a intervenção de especialistas inter-nacionais, como Martin Lawn, Ian Grosvenor, Frank Simon, Agustín

Escolano Benito e Eulàlia Collellde-mont e os investigadores portugue-ses Justino Magalhães e Maria João Mogarro.

No dia seguinte, 19 de Fevereiro, a escolha desta Escola Secundária de Camões para realizar a visita, deveu-se ao reconhecimento da importância e significado do seu património, permitindo o contacto directo com os valiosos espólios arquivísticos, bibliográficos e museológicos que o compõem e ilus-trando, assim, perante os investiga-dores e os convidados estrangeiros do projecto, que também integra-ram esta visita, a riqueza cultural e patrimonial de uma das instituições históricas mais representativas da rede escolar portuguesa.

Sintra: descrição da vista através do Arco de Seteais

Através do Arco que liga as duas alas do Palácio de Seteais, consigo ver um grande relvado delimitado por

arbustos bai-xos, bem trata-dos, devida-mente apara-dos; paralela-mente aos pila-res que susten-tam o Arco, encontram-se dois Cedros que se destacam, não só pelo tama-nho, mas também pela cor mais escura em relação à restante vegetação do Jardim de Seteais. Mais à frente, está uma bonita escadaria já um pouco gasta e esverdeada pelo musgo. À volta do relvado que tenho em frente, há uma infinidade de plátanos que fazem com o Palácio a forma de um rectângulo. Depois da propriedade de Seteais, avisto, entre uma densa vegetação, duas casas vestidas de cinzento. No cimo do mon-te, após várias e diferentes tonalidades de verde, lobrigamos, por fim, o Palácio da Pena vestido de cores festivas como amarelo, vermelho, cinzento… Este Palácio está tão alto que quase parece tocar no céu.

Marta Nogueira Leite, 11º B (texto e ilustração elaborados na sequência da visita de estudo a

Sintra, 31/03/2011)

Marta

Leite, 11º B

André Santos, 11º A (Arco de Seteais)

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Confluências

Cinema & Reflexão

Os ciclos de cinema Para despertar o engenho e a (7ª) Arte são uma organização conjunta do Cineclube Camões, do ABCineClube e da Sociedade Portuguesa de Autores. Deste ciclo constarão, no presente ano lectivo, quatro fil-mes dedicados a realizadores portugueses que tenham

adaptado obras de escritores que passaram, enquanto alunos ou professores, pela Escola Secundária de Camões.

Na exibição dos filmes estarão presentes os seus realizadores ou actores princi-pais.

O filme O Delfim foi exibido no dia 24 de Fevereiro, no Auditório, pelas 15h15, e contou com a presença de Fernando Lopes, seu realizador (na foto).

Vergílio Ferreira publica, em 1954, o romance Manhã Submersa. Cinco anos mais tarde, em 1959, Vergílio Ferreira ingressa como professor no Liceu Camões,

onde permanece até 1981. Entretanto, em 1980, Lauro António apresenta, a partir desta obra, a longa metragem homó-

nima, filme que continua sendo um dos trabalhos de referência do realizador. “Manhã Submersa é o retrato implacável da existência de muitos jovens de diferentes gerações que, em Portugal, viveram enclausurados em seminários, não por vocação, mas por ser a única solução para estudar devido à sua pobre-za e à miséria social que assolava a sociedade portuguesa da época. Os liceus eram só para elites e, num segundo tempo, as escolas comerciais e industriais eram inacessíveis à maioria da população. Jovens submersos numa manhã, adolescência estrangulada e esmaga-da por duas transcendências: a do Bem, ancorada em Deus, e a do Mal, protagonizada no Dia-bo.” (José Esteves, prof. de Filosofia)

No dia 31 de Março, no âmbito do Ciclo de Cinema, este filme passou no Auditório Camões e foi apresentado por Lauro António (na foto) .

Dia 27 de Abril – dois dias após a data da celebração da “revolução dos cravos”, e por iniciativa do grupo de História, com organiza-ção e moderação dos professores Francisco Pereira e Clara Sil-va (na foto, primeiro e terceira, da esquerda para a direita), assistiu-se no Auditório Camões a uma interessante sessão sobre os antecedentes da revolu-ção e a intervenção dos protago-nistas.

Os comandantes João Falcão de Campos e Eugénio Cava-lheiro (na foto, segundo e quinto, da esquerda para a direita), ambos ex-alunos do Liceu Camões, fizeram uma breve carac-

terização das causas e consequên-cias da guerra colonial (de 1961 a 1974) cujo “cansaço”, segundo ambos, esteve na base do golpe militar, desenvolvendo um pouco os propósitos dos Movimento das

Forças Armadas (MFA): “ d e m o c r a t i z a r ” , “ d e s c o l o n i z a r ” e “desenvolver”. Joaquim Furtado (na

foto, o quarto, da esquerda para a direita) falou sobretudo da sua experiência de jornalista durante o período da ditadura, do papel interventivo e cruel da polícia do estado (PIDE/DGS), do partido único e da viciação das eleições, da censura e do modo como actua-va (na imprensa como na rádio

(sobretudo no Rádio Clube Portu-guês e na Rádio Renascença).

No final, houve espaço para um período de debate, tendo alguns alunos colocado algumas questões deveras pertinentes sobre o modo como os portugueses tomaram consciência da realidade nua e crua da guerra em África ou, ain-da, sobre os motivos que levam os manuais (ou o programa) a dedi-car tão pouco espaço a este perío-do da nossa história.

O que foi Abril? (o “antes” e o “durante”)

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Confluências

Teatro & Reflexão

Episódios da Vida Romântica – 21 de Fevereiro de 2011 (Auditório) À semelhança de anos anteriores, o grupo de teatro Há Cultura foi convidado para

apresentar na escola uma representação fundamentalmente destina-da aos alunos do 11º ano. Na prática, esta representação enlaça um conjunto de episódios adaptados da obra queirosiana Os Maias. Ainda que se trate de uma adaptação livre, os alunos tiveram oportunidade de fazer uma aproxi-mação epocal (finais do séc. XIX) e de contactar, alguns pela primeira vez, com aspectos da gramática do teatro. (Ver texto p.6)

Dia 4 de Abril, no Auditório Camões, o Grupo de Teatro da Escola Secundária de Camões levou à cena a peça pessoana O Marinheiro, um “drama estático”, como o próprio poeta teve o cui-dado de registar.

Com encenação da professora Maria Clara e representação de Ana Enes, Graça Gomes, Filipe Gonçalves (professores), Alexandra Tor-res e Filipa Pedroso (alunas), esta representação, de grande profis-sionalismo, cativou a assistência e terá seguramente contribuído para uma sempre renovada ‘leitura’ reflexiva da obra de Fernando Pessoa.

Nos dias 27 e 28 de Abril, nos primeiros dias do terceiro período, algumas turmas do 10º ano tiveram oportu-nidade de visitar duas centrais de energias renováveis, a Central Solar Fotovoltai-ca da Amareleja e a Central Hidroeléctrica do Alqueva.

As fotos deste apontamento dizem respeito à visita efectuada no segundo dia (com alunos das turmas G, H e L, acompanhados pelos professores Paula Dourado, Margarida Menezes, Célia Mendes, Sandra Viegas e António Souto).

Com uma produção anual estimada de 93 GWh, a energia gerada na Central foto-voltaica (a maior do mundo) permite um consumo equivalente a 30.000 casas. O projecto desta Central, segun-do a sua gestora, promove um forte desenvolvimento local, designadamente em termos sociais, de emprego e de qualificação profissional.

Também o projecto do Alqueva veio impulsionar uma nova dinâmica numa vasta região alentejana que envol-ve 14 concelhos. A agricultura, essencialmente de sequeiro, alarga-se agora a novas variedades de regadio. Sobre o coroamento da barragem (com 458 m), uma estrada liga os concelhos de Moura e de Portel. A meio, o visitante tem direito a um parque de estacionamento com uma vista privilegiada sobre a albufeira que alberga, algures, a memória da aldeia da Luz (submersa, depois de desmantelada em 2003).

Da Amareleja ao Alqueva (entre o sol e a água)

Ao longo de quase 250 Ha, na Cen-tral solar da Amare-

leja, distribuem-se 2.520 seguidores, num total de 262.080 módulos (painéis).

No Alqueva, a barragem impõe-se, dei-xando à vista alguns dos

vários descar-regadores embutidos na montanha de betão.

E o Guadiana, cruzada a barra-

gem, segue lento o seu curso.

Um espelho de água a perder de

vista!

As obras con-tinuam numa das margens.

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Confluências

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Confluências Envia os teus trabalhos para: [email protected]

Com o generoso apoio do

Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES

http://www.escamoes.pt

BE/CRE

http://esccamoes.blogspot.com/

Ao professor Lino das Neves, ao funcionário José Alvega e a todos quantos cola-boraram com a cedência de fotos e trabalhos para este Boletim (bem como aos alu-

nos de Artes, com alguns desenhos seus), uma palavra de agradecimento.

BR

EV

ES

Res et non verba

22 de Fevereiro de 2011

(Biblioteca) Apresentação à comunidade

escolar da página WEB criada pelos formandos do curso EFA de dupla certificação Museo-grafia e Gestão do Patri-

mónio.

Dia 17 de Fevereiro – Englishman on the Road Turmas do 10º e 11º anos (e ainda duas turmas de Formações

Modulares) participaram em sessões dinamizadas por um "native speaker", praticando, de forma lúdica, a língua inglesa (uma suges-tão da EF, Education First, uma empresa que actua no sector da aprendizagem de línguas). Foi no Auditório Camões, das 15h00 às 20h30, com o envolvimento das professoras de Inglês.

Dia 30 de Março – Por iniciativa da Asso-ciação de Pais, foi realizada, no Auditório Camões, a conferência “A Educação sexual: Os pais e as Escola”, pelo Prof. Doutor Daniel Sampaio. De acordo com os testemunhos ouvidos, o debate permitiu esclarecer uma série de dúvidas existentes sobre esta proble-mática.

Uma exposi-ção (no átrio da

Biblioteca) no final do 2º Perío-

do. Uma iniciativa do PPT (Português para Todos) −−−− a história, as línguas, as tradições, os

c o s t u -mes, a g a s t r o -nomia… de países de vários quadran-

tes: África do Sul Brasil Bulgária Croácia França Guiné-Bissau Hungria Índia Irão Letónia Lituânia Nepal Peru Roménia Rússia Senegal Sérvia Turquia Ucrânia

Dia 23 de Março de 2011 – Às dez horas da manhã, à semelhança do ano transacto, e durante quarenta e cinco minutos, o silêncio da escola fez-se de novo ouvir. As palavras lidas mistura-ram-se, numa simbiose perfeita, ao chil-reio dos pássaros.

Dia 25 de Março, com orquestração de André Cunha Leal, mais um concerto em directo da Antena 2, a partir do Auditório Camões.

Ouvir o silêncio a ler