Bolhetim educação social janeiro 2014
-
Upload
daniela-azevedo -
Category
Education
-
view
428 -
download
5
description
Transcript of Bolhetim educação social janeiro 2014
Veroacutenica Clow
Se natildeo respeitares as diferenccedilas jamais
descobriraacutes as semelhanccedilas
A Educaccedilatildeo Social em Portugal Boletim Informativo da Associaccedilatildeo Promotora da Educaccedilatildeo Social
Nordm 7 Janeiro 2014
Foto
Joseacute
MM
In
aacuteci
o
2
Editorial Bem vindos agrave primeira ediccedilatildeo
de 2014 do nosso Boletim Digi-
tal
O ano que inicia apresenta-se
como um grande desafio para
todos noacutes Chegou a hora de
colocar um ponto final no dis-
curso da crise e de enfrentar o
recomeccedilo
A equipa da APES recomeccedila
com uma nova equipa eleita
no passado dia 14 de Dezem-
bro e que tomou posse no dia
12 deste mecircs O foco continua
o mesmo de sempre a promo-
ccedilatildeo da Educaccedilatildeo Social e a gar-
ra e determinaccedilatildeo que nos
caracterizaram satildeo alimenta-
dos a cada dia que passa com a
crenccedila de que vale a pena
Olhando para traacutes todos os
pequenos passos que jaacute demos
na nossa curta existecircncia fize-
ram a diferenccedila e eacute um orgulho
ver a nossa famiacutelia aumentar
com a entrada de novos soacutecios
Obrigada por se juntarem a
noacutes
Esta ediccedilatildeo eacute mais uma prova
de que a Educaccedilatildeo Social eacute uma
profissatildeo de excelecircncia Com o
tema ldquoEducaccedilatildeo para a diferen-
ccedilardquo reunimos mais testemu-
nhos do magniacutefico trabalho que
eacute realizado pelos nossos profis-
sionais
A nossa entrevistada e duas
colegas mostram-nos como o
trabalho na aacuterea da deficiecircncia
eacute ao contraacuterio do que agrave primei-
ra vista pode parecer muito
enriquecedor A soma de
pequenas vitoacuterias resulta numa
quantia valiosa tanto para as
pessoas com quem se trabalha
como para os proacuteprios profis-
sionais E para se laacute chegar eacute
apenas necessaacuterio ultrapassar a
barreira do preconceito
O preconceito tambeacutem reina
quando se fala em ciganos e
minorias eacutetnicas Que o confir-
mem as nossas quatro colegas
que abordam o trabalho com
estas populaccedilotildees Natildeo seraacute a
diferenccedila de culturas uma van-
tagem uma forma de nos com-
pletarmos uns aos outros E
seraacute que somos assim tatildeo dife-
rentes enquanto seres huma-
nos
Um especial agradecimento a
todas as nossas colegas que nos
ajudam a responder a estas e a
outras questotildees Este eacute mais
um boletim que nos orgulha e a
responsabilidade eacute toda vossa
Agradecemos tambeacutem agrave Cerci-
poacutevoa por todo o apoio que
tem dado agrave APES Nesta ediccedilatildeo
fomos visitaacute-la e conversaacutemos
com as pessoas que laacute vivem e
que laacute trabalham Obrigada por
nos terem acolhido na vossa
casa e por nos terem contado
os projetos que desenvolvem
A proacutexima ediccedilatildeo vai ter como
tema ldquoO Educador e a Pobre-
zardquo Mais um tema sugestivo e
que nos coloca muitas duacutevidas
Se trabalham nesta aacuterea con-
tem-nos como eacute Enviem-nos
os vossos testemunhos e refle-
xotildees para
boletimrea-
peseducadoresociaiscom
ou
httpswwwfacebookcom
groups463570190343005
Saudaccedilotildees Sociais
Clara Inaacutecio
Coordenadora do Boletim
Caacutetia Vaz - APES
Marlene Borges - APES
Sandra Afonso - APES
Colaboradores desta ediccedilatildeo
3
Iacutendice Paacuteg
APES
Nova Equipa APES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 5
V Encontro Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 6
Repoacuterter APES
Entrevista a Ana Mendes helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 8
Educaccedilatildeo para a Diferenccedila
Educar para a diferenccedila educar com a diferenccedila - Siacutelvia Franco helliphelliphelliphelliphelliphellip 11
Educaccedilatildeo Social com Ciganos A diferenccedila Sou eu - Sofia Aurora Santos helliphellip 14
Educar para a diferenccedila - Susana Rebocho helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 19
Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip23
Testemunho de um estaacutegio com portadores de deficiecircncia - Catarina Aleixo helliphellip 26
A Buacutessula individual da aceitaccedilatildeo do diferente - Daniela Azevedo helliphelliphelliphelliphelliphellip 29
Instituiccedilatildeo
Cercipoacutevoa helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 31
Biblioteca APEShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 34
4
Inscriccedilotildees e mais informaccedilotildees em httpwwwjoaodedeusptcursoindexaspid_cnt=73
5
Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho
Mesa da Assembleia Geral
Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio
Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos
Direccedilatildeo
Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben
Amorim Tesoureira - Joana Oliveira
Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes
Vera Soares Marlene Borges
Ana Mendes
Conselho Fiscal
Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas
Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu
Ferreira Ana Maggiolly
Marta Carvalho
6
V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social
Chegou o ansiado dia 16 de
Novembro de 2013 marcado pelo
V Encontro dos Teacutecnicos Superio-
res de Educaccedilatildeo Social Depois de
Lisboa Algarve Leiria e Lisboa
novamente eacute chegada a vez da
cidade Invicta ndash o Porto
Este Encontro fica inevitavelmen-
te marcado pelo iniacutecio da venda e
entrega das agendas da APES -
Associaccedilatildeo Promotora da Educa-
ccedilatildeo Social mais uma atividade
que tem sido um marco no per-
curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-
fissatildeo
Natildeo podiacuteamos estar mais felizes
pelo grande caminho percorrido
ateacute aos dias de hoje E este dia eacute
mais o culminar de muito traba-
lho Agradecemos desde jaacute a
todos os que connosco tecircm cola-
borado e nos tecircm ajudado nas
accedilotildees realizadas Desta vez ende-
reccedilamos um especial agradeci-
mento agrave Universidade Catoacutelica
que nos acolheu neste evento
O dia iniciou-se com as boas-
vindas a todos os presentes na
voz da presidente da APES a cole-
ga Sandra Afonso feliz pela pla-
teia recheada e agrave qual se seguiu o
Professor Ruacuteben Cabral
Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-
nel do Encontro moderado pela
colega Raquel Vau e dando a
palavra ao Professor Adalberto
Dias de Carvalho que captou des-
de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia
Posteriormente chegou a vez da
Professora Soacutenia Galinha que per-
correu tantos quiloacutemetros para
estar connosco neste dia Seguiu-
se Moacutenica Mesquita que muito
bem se fez acompanhar pelo Dur-
val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-
nho que trouxeram testemunhos
na primeira pessoa de uma dura
realidade de duas comunidades
Comunidade Bairro e Comunidade
Piscatoacuteria da Costa da Caparica
explicitando a dificuldade no aces-
so agrave Aacutegua
Ainda na parte da manhatilde mas jaacute
depois do coffee break deu-se
iniacutecio ao segundo painel de orado-
res iniciado pelo colega Honoreacute
Gregorius membro da Associaccedilatildeo
Internacional de Educadores
Sociais (AIEJI) bem como de
outras associaccedilotildees que nos trans-
mitiu a sua praacutetica no Luxembur-
go Esta presenccedila estreitou os
laccedilos da APES com outras Associa-
ccedilotildees Internacionais ajudando a
unir esforccedilos e perceber a Educa-
ccedilatildeo Social no Mundo O modera-
dor deste painel o Professor Jor-
ge Lemos passou a palavra a
Cindy Vaz que nos falou de Peda-
gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-
comunitaacuteria referenciado a sua
experiecircncia profissional na Trofa
Terminada a nossa manhatilde realiza-
mos uma pausa para almoccedilo de
modo a repor as energias gastas e
tempo de partilha entre colegas
A parte da tarde iniciou com o
terceiro painel composto pelos
Professores Jaime Santos Jorge
Lemos Jorge Serrano e Anabela
Correia apresentando a Poacutes-
graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e
Desenvolvimento Comunitaacuterio
que como foi explicado visa criar
um espaccedilo privilegiado de apoio
teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao
desenvolvimento de saberes e de
competecircncias de profissionais
envolvidos em processos de
desenvolvimento comunitaacuterio
7
bem como dar uma contribuiccedilatildeo
relevante para um maior desen-
volvimento da atitude investigati-
va e reflexiva dos atores nestes
processos Os oradores explicita-
ram ainda algumas temaacuteticas
que seratildeo abordadas
Apoacutes o coffee break da tarde o
quarto e uacuteltimo painel foi iniciado
Depois das apresentaccedilotildees efetua-
das pelo moderador Maacutercio Rodri-
gues o painel seguiu com a apre-
sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza
Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-
ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo
Social na Rede de Cuidados Conti-
nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-
ccedilatildeo da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes
da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e
reinserccedilatildeo familiar e social As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquan-
to profissionais podemos desem-
penhar nesta aacuterea Tivemos de
seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge
Rosado ou como prefere ser tra-
tado o Dr Risotto que nos apre-
sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-
tal que tem como principal obje-
tivo implementar um programa de
intervenccedilatildeo dentro dos hospitais
da regiatildeo centro atraveacutes da visita
de palhaccedilos profissionais e com
formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea
com foco essencial no Idoso Com
a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo
(como o afirma com orgulho)
levou-nos a encarar o termo
palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-
ta funccedilatildeo de uma outra forma
Posteriormente a Professora Isa-
bel Batista falou-nos da luta jaacute
percorrida pela Educaccedilatildeo Social
ao longo destes anos uma aacuterea
em que a proacutepria indica como
sendo sua Ressalvou tambeacutem a
importacircncia do contacto com
outras Associaccedilotildees Internacionais
Terminou-se este V Encontro com
duas intervenccedilotildees muito interes-
santes O Projeto Transformers eacute
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
superpoder uma forma de expri-
mir e intervir positivamente na
comunidade A apresentaccedilatildeo final
foi realizada pelo grupo de danccedila
da Academia Reacutegia Porque a dan-
ccedila aleacutem de ser uma arte permite
a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-
do utilizada muitas vezes como
meio da Educaccedilatildeo Social
E foi assim que encerraacutemos
levando para casa novas aprendi-
zagens novas perspetivas novas
partilhas e novas amizades
8
Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social
Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-
da por teres aceite ser a entrevis-
tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana
Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos
Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo
com base na compreensatildeo e con-
fianccedila gosto de me envolver nas
suas atividades e procuro dar-lhes
o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes
natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos
um casal de geacutemeos e na fase da
adolescecircncia ehehhellip a mais velha
jaacute se encontra encaminhada traba-
lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-
ra em animaccedilatildeo sociocultural mas
continua sempre a procurar o meu
apoio
Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-
prios mas vou tentar Sou uma
pessoa alegre comunicativa e bas-
tante dedicada em tudo o que me
proponho a fazer Entendo que a
empatia que criamos com os
outros eacute muito importante para
desenvolver com sucesso todas as
nossas atividades principalmente
as que envolvem pessoas
Eacute com este lema que me proponho
a cumprir aquilo a que chamo mis-
satildeo
Repoacuterter APES - Quando e porque
eacute que decidiste ser uma
educadora social
Ana - Sempre fui boa alu-
na e muito assiacutedua mas
na minha adolescecircncia
decidi comeccedilar a traba-
lhar Mais tarde senti necessidade
de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e
assim decidi voltar aos estudos por
considerar que o estudo e a
empregabilidade caminham juntos
Desde 1992 que trabalho na aacuterea
da deficiecircncia achei que podia
fazer muito mais por esta popula-
ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute
cerca de 10 anos a voltar a estudar
agrave noite e de seguida fui tirar a
minha licenciatura como forma de
ir ao encontro da minha opccedilatildeo
profissional Tirei Educaccedilatildeo Social
na Escola Superior de Educaccedilatildeo de
Santareacutem com meacutedia de 12 valo-
res que me orgulho muito pois
sendo matildee de trecircs filhos trabalhar
e estudar soacute conseguindo ir agrave
faculdade uma manhatilde por semana
por motivos profissionais foi para
mim uma grande vitoacuteria e um
motivo de orgulho Continuo a
fazer sempre que posso forma-
ccedilotildees a participar em eventos con-
gressos seminaacuterios e cursos liga-
dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de
manter atualizados os meus
conhecimentos aproveito para
estreitar relacionamento com pro-
fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-
da facilita a administraccedilatildeo do dia-a
-dia na troca de experiecircncias
Repoacuterter APES - Podes falar-nos
um pouco do teu trabalho
Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991
Comecei como auxiliar passando
depois a monitora onde era res-
ponsaacutevel por um grupo de utentes
com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo
e orientaccedilatildeo do grupo
Desde 2008 que integrei o CRI- -
Centro de Recursos para Inclusatildeo
da Cercipoacutevoa que presta apoio
teacutecnico em vaacuterios agrupamentos
de escolas
As minhas funccedilotildees satildeo variadas
dependendo de cada agrupamen-
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
2
Editorial Bem vindos agrave primeira ediccedilatildeo
de 2014 do nosso Boletim Digi-
tal
O ano que inicia apresenta-se
como um grande desafio para
todos noacutes Chegou a hora de
colocar um ponto final no dis-
curso da crise e de enfrentar o
recomeccedilo
A equipa da APES recomeccedila
com uma nova equipa eleita
no passado dia 14 de Dezem-
bro e que tomou posse no dia
12 deste mecircs O foco continua
o mesmo de sempre a promo-
ccedilatildeo da Educaccedilatildeo Social e a gar-
ra e determinaccedilatildeo que nos
caracterizaram satildeo alimenta-
dos a cada dia que passa com a
crenccedila de que vale a pena
Olhando para traacutes todos os
pequenos passos que jaacute demos
na nossa curta existecircncia fize-
ram a diferenccedila e eacute um orgulho
ver a nossa famiacutelia aumentar
com a entrada de novos soacutecios
Obrigada por se juntarem a
noacutes
Esta ediccedilatildeo eacute mais uma prova
de que a Educaccedilatildeo Social eacute uma
profissatildeo de excelecircncia Com o
tema ldquoEducaccedilatildeo para a diferen-
ccedilardquo reunimos mais testemu-
nhos do magniacutefico trabalho que
eacute realizado pelos nossos profis-
sionais
A nossa entrevistada e duas
colegas mostram-nos como o
trabalho na aacuterea da deficiecircncia
eacute ao contraacuterio do que agrave primei-
ra vista pode parecer muito
enriquecedor A soma de
pequenas vitoacuterias resulta numa
quantia valiosa tanto para as
pessoas com quem se trabalha
como para os proacuteprios profis-
sionais E para se laacute chegar eacute
apenas necessaacuterio ultrapassar a
barreira do preconceito
O preconceito tambeacutem reina
quando se fala em ciganos e
minorias eacutetnicas Que o confir-
mem as nossas quatro colegas
que abordam o trabalho com
estas populaccedilotildees Natildeo seraacute a
diferenccedila de culturas uma van-
tagem uma forma de nos com-
pletarmos uns aos outros E
seraacute que somos assim tatildeo dife-
rentes enquanto seres huma-
nos
Um especial agradecimento a
todas as nossas colegas que nos
ajudam a responder a estas e a
outras questotildees Este eacute mais
um boletim que nos orgulha e a
responsabilidade eacute toda vossa
Agradecemos tambeacutem agrave Cerci-
poacutevoa por todo o apoio que
tem dado agrave APES Nesta ediccedilatildeo
fomos visitaacute-la e conversaacutemos
com as pessoas que laacute vivem e
que laacute trabalham Obrigada por
nos terem acolhido na vossa
casa e por nos terem contado
os projetos que desenvolvem
A proacutexima ediccedilatildeo vai ter como
tema ldquoO Educador e a Pobre-
zardquo Mais um tema sugestivo e
que nos coloca muitas duacutevidas
Se trabalham nesta aacuterea con-
tem-nos como eacute Enviem-nos
os vossos testemunhos e refle-
xotildees para
boletimrea-
peseducadoresociaiscom
ou
httpswwwfacebookcom
groups463570190343005
Saudaccedilotildees Sociais
Clara Inaacutecio
Coordenadora do Boletim
Caacutetia Vaz - APES
Marlene Borges - APES
Sandra Afonso - APES
Colaboradores desta ediccedilatildeo
3
Iacutendice Paacuteg
APES
Nova Equipa APES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 5
V Encontro Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 6
Repoacuterter APES
Entrevista a Ana Mendes helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 8
Educaccedilatildeo para a Diferenccedila
Educar para a diferenccedila educar com a diferenccedila - Siacutelvia Franco helliphelliphelliphelliphelliphellip 11
Educaccedilatildeo Social com Ciganos A diferenccedila Sou eu - Sofia Aurora Santos helliphellip 14
Educar para a diferenccedila - Susana Rebocho helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 19
Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip23
Testemunho de um estaacutegio com portadores de deficiecircncia - Catarina Aleixo helliphellip 26
A Buacutessula individual da aceitaccedilatildeo do diferente - Daniela Azevedo helliphelliphelliphelliphelliphellip 29
Instituiccedilatildeo
Cercipoacutevoa helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 31
Biblioteca APEShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 34
4
Inscriccedilotildees e mais informaccedilotildees em httpwwwjoaodedeusptcursoindexaspid_cnt=73
5
Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho
Mesa da Assembleia Geral
Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio
Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos
Direccedilatildeo
Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben
Amorim Tesoureira - Joana Oliveira
Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes
Vera Soares Marlene Borges
Ana Mendes
Conselho Fiscal
Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas
Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu
Ferreira Ana Maggiolly
Marta Carvalho
6
V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social
Chegou o ansiado dia 16 de
Novembro de 2013 marcado pelo
V Encontro dos Teacutecnicos Superio-
res de Educaccedilatildeo Social Depois de
Lisboa Algarve Leiria e Lisboa
novamente eacute chegada a vez da
cidade Invicta ndash o Porto
Este Encontro fica inevitavelmen-
te marcado pelo iniacutecio da venda e
entrega das agendas da APES -
Associaccedilatildeo Promotora da Educa-
ccedilatildeo Social mais uma atividade
que tem sido um marco no per-
curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-
fissatildeo
Natildeo podiacuteamos estar mais felizes
pelo grande caminho percorrido
ateacute aos dias de hoje E este dia eacute
mais o culminar de muito traba-
lho Agradecemos desde jaacute a
todos os que connosco tecircm cola-
borado e nos tecircm ajudado nas
accedilotildees realizadas Desta vez ende-
reccedilamos um especial agradeci-
mento agrave Universidade Catoacutelica
que nos acolheu neste evento
O dia iniciou-se com as boas-
vindas a todos os presentes na
voz da presidente da APES a cole-
ga Sandra Afonso feliz pela pla-
teia recheada e agrave qual se seguiu o
Professor Ruacuteben Cabral
Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-
nel do Encontro moderado pela
colega Raquel Vau e dando a
palavra ao Professor Adalberto
Dias de Carvalho que captou des-
de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia
Posteriormente chegou a vez da
Professora Soacutenia Galinha que per-
correu tantos quiloacutemetros para
estar connosco neste dia Seguiu-
se Moacutenica Mesquita que muito
bem se fez acompanhar pelo Dur-
val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-
nho que trouxeram testemunhos
na primeira pessoa de uma dura
realidade de duas comunidades
Comunidade Bairro e Comunidade
Piscatoacuteria da Costa da Caparica
explicitando a dificuldade no aces-
so agrave Aacutegua
Ainda na parte da manhatilde mas jaacute
depois do coffee break deu-se
iniacutecio ao segundo painel de orado-
res iniciado pelo colega Honoreacute
Gregorius membro da Associaccedilatildeo
Internacional de Educadores
Sociais (AIEJI) bem como de
outras associaccedilotildees que nos trans-
mitiu a sua praacutetica no Luxembur-
go Esta presenccedila estreitou os
laccedilos da APES com outras Associa-
ccedilotildees Internacionais ajudando a
unir esforccedilos e perceber a Educa-
ccedilatildeo Social no Mundo O modera-
dor deste painel o Professor Jor-
ge Lemos passou a palavra a
Cindy Vaz que nos falou de Peda-
gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-
comunitaacuteria referenciado a sua
experiecircncia profissional na Trofa
Terminada a nossa manhatilde realiza-
mos uma pausa para almoccedilo de
modo a repor as energias gastas e
tempo de partilha entre colegas
A parte da tarde iniciou com o
terceiro painel composto pelos
Professores Jaime Santos Jorge
Lemos Jorge Serrano e Anabela
Correia apresentando a Poacutes-
graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e
Desenvolvimento Comunitaacuterio
que como foi explicado visa criar
um espaccedilo privilegiado de apoio
teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao
desenvolvimento de saberes e de
competecircncias de profissionais
envolvidos em processos de
desenvolvimento comunitaacuterio
7
bem como dar uma contribuiccedilatildeo
relevante para um maior desen-
volvimento da atitude investigati-
va e reflexiva dos atores nestes
processos Os oradores explicita-
ram ainda algumas temaacuteticas
que seratildeo abordadas
Apoacutes o coffee break da tarde o
quarto e uacuteltimo painel foi iniciado
Depois das apresentaccedilotildees efetua-
das pelo moderador Maacutercio Rodri-
gues o painel seguiu com a apre-
sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza
Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-
ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo
Social na Rede de Cuidados Conti-
nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-
ccedilatildeo da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes
da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e
reinserccedilatildeo familiar e social As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquan-
to profissionais podemos desem-
penhar nesta aacuterea Tivemos de
seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge
Rosado ou como prefere ser tra-
tado o Dr Risotto que nos apre-
sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-
tal que tem como principal obje-
tivo implementar um programa de
intervenccedilatildeo dentro dos hospitais
da regiatildeo centro atraveacutes da visita
de palhaccedilos profissionais e com
formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea
com foco essencial no Idoso Com
a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo
(como o afirma com orgulho)
levou-nos a encarar o termo
palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-
ta funccedilatildeo de uma outra forma
Posteriormente a Professora Isa-
bel Batista falou-nos da luta jaacute
percorrida pela Educaccedilatildeo Social
ao longo destes anos uma aacuterea
em que a proacutepria indica como
sendo sua Ressalvou tambeacutem a
importacircncia do contacto com
outras Associaccedilotildees Internacionais
Terminou-se este V Encontro com
duas intervenccedilotildees muito interes-
santes O Projeto Transformers eacute
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
superpoder uma forma de expri-
mir e intervir positivamente na
comunidade A apresentaccedilatildeo final
foi realizada pelo grupo de danccedila
da Academia Reacutegia Porque a dan-
ccedila aleacutem de ser uma arte permite
a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-
do utilizada muitas vezes como
meio da Educaccedilatildeo Social
E foi assim que encerraacutemos
levando para casa novas aprendi-
zagens novas perspetivas novas
partilhas e novas amizades
8
Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social
Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-
da por teres aceite ser a entrevis-
tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana
Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos
Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo
com base na compreensatildeo e con-
fianccedila gosto de me envolver nas
suas atividades e procuro dar-lhes
o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes
natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos
um casal de geacutemeos e na fase da
adolescecircncia ehehhellip a mais velha
jaacute se encontra encaminhada traba-
lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-
ra em animaccedilatildeo sociocultural mas
continua sempre a procurar o meu
apoio
Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-
prios mas vou tentar Sou uma
pessoa alegre comunicativa e bas-
tante dedicada em tudo o que me
proponho a fazer Entendo que a
empatia que criamos com os
outros eacute muito importante para
desenvolver com sucesso todas as
nossas atividades principalmente
as que envolvem pessoas
Eacute com este lema que me proponho
a cumprir aquilo a que chamo mis-
satildeo
Repoacuterter APES - Quando e porque
eacute que decidiste ser uma
educadora social
Ana - Sempre fui boa alu-
na e muito assiacutedua mas
na minha adolescecircncia
decidi comeccedilar a traba-
lhar Mais tarde senti necessidade
de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e
assim decidi voltar aos estudos por
considerar que o estudo e a
empregabilidade caminham juntos
Desde 1992 que trabalho na aacuterea
da deficiecircncia achei que podia
fazer muito mais por esta popula-
ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute
cerca de 10 anos a voltar a estudar
agrave noite e de seguida fui tirar a
minha licenciatura como forma de
ir ao encontro da minha opccedilatildeo
profissional Tirei Educaccedilatildeo Social
na Escola Superior de Educaccedilatildeo de
Santareacutem com meacutedia de 12 valo-
res que me orgulho muito pois
sendo matildee de trecircs filhos trabalhar
e estudar soacute conseguindo ir agrave
faculdade uma manhatilde por semana
por motivos profissionais foi para
mim uma grande vitoacuteria e um
motivo de orgulho Continuo a
fazer sempre que posso forma-
ccedilotildees a participar em eventos con-
gressos seminaacuterios e cursos liga-
dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de
manter atualizados os meus
conhecimentos aproveito para
estreitar relacionamento com pro-
fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-
da facilita a administraccedilatildeo do dia-a
-dia na troca de experiecircncias
Repoacuterter APES - Podes falar-nos
um pouco do teu trabalho
Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991
Comecei como auxiliar passando
depois a monitora onde era res-
ponsaacutevel por um grupo de utentes
com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo
e orientaccedilatildeo do grupo
Desde 2008 que integrei o CRI- -
Centro de Recursos para Inclusatildeo
da Cercipoacutevoa que presta apoio
teacutecnico em vaacuterios agrupamentos
de escolas
As minhas funccedilotildees satildeo variadas
dependendo de cada agrupamen-
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
3
Iacutendice Paacuteg
APES
Nova Equipa APES helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 5
V Encontro Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 6
Repoacuterter APES
Entrevista a Ana Mendes helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 8
Educaccedilatildeo para a Diferenccedila
Educar para a diferenccedila educar com a diferenccedila - Siacutelvia Franco helliphelliphelliphelliphelliphellip 11
Educaccedilatildeo Social com Ciganos A diferenccedila Sou eu - Sofia Aurora Santos helliphellip 14
Educar para a diferenccedila - Susana Rebocho helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 19
Um ato de amor - Ana Sofia Bexiga helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip23
Testemunho de um estaacutegio com portadores de deficiecircncia - Catarina Aleixo helliphellip 26
A Buacutessula individual da aceitaccedilatildeo do diferente - Daniela Azevedo helliphelliphelliphelliphelliphellip 29
Instituiccedilatildeo
Cercipoacutevoa helliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 31
Biblioteca APEShelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 34
4
Inscriccedilotildees e mais informaccedilotildees em httpwwwjoaodedeusptcursoindexaspid_cnt=73
5
Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho
Mesa da Assembleia Geral
Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio
Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos
Direccedilatildeo
Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben
Amorim Tesoureira - Joana Oliveira
Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes
Vera Soares Marlene Borges
Ana Mendes
Conselho Fiscal
Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas
Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu
Ferreira Ana Maggiolly
Marta Carvalho
6
V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social
Chegou o ansiado dia 16 de
Novembro de 2013 marcado pelo
V Encontro dos Teacutecnicos Superio-
res de Educaccedilatildeo Social Depois de
Lisboa Algarve Leiria e Lisboa
novamente eacute chegada a vez da
cidade Invicta ndash o Porto
Este Encontro fica inevitavelmen-
te marcado pelo iniacutecio da venda e
entrega das agendas da APES -
Associaccedilatildeo Promotora da Educa-
ccedilatildeo Social mais uma atividade
que tem sido um marco no per-
curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-
fissatildeo
Natildeo podiacuteamos estar mais felizes
pelo grande caminho percorrido
ateacute aos dias de hoje E este dia eacute
mais o culminar de muito traba-
lho Agradecemos desde jaacute a
todos os que connosco tecircm cola-
borado e nos tecircm ajudado nas
accedilotildees realizadas Desta vez ende-
reccedilamos um especial agradeci-
mento agrave Universidade Catoacutelica
que nos acolheu neste evento
O dia iniciou-se com as boas-
vindas a todos os presentes na
voz da presidente da APES a cole-
ga Sandra Afonso feliz pela pla-
teia recheada e agrave qual se seguiu o
Professor Ruacuteben Cabral
Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-
nel do Encontro moderado pela
colega Raquel Vau e dando a
palavra ao Professor Adalberto
Dias de Carvalho que captou des-
de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia
Posteriormente chegou a vez da
Professora Soacutenia Galinha que per-
correu tantos quiloacutemetros para
estar connosco neste dia Seguiu-
se Moacutenica Mesquita que muito
bem se fez acompanhar pelo Dur-
val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-
nho que trouxeram testemunhos
na primeira pessoa de uma dura
realidade de duas comunidades
Comunidade Bairro e Comunidade
Piscatoacuteria da Costa da Caparica
explicitando a dificuldade no aces-
so agrave Aacutegua
Ainda na parte da manhatilde mas jaacute
depois do coffee break deu-se
iniacutecio ao segundo painel de orado-
res iniciado pelo colega Honoreacute
Gregorius membro da Associaccedilatildeo
Internacional de Educadores
Sociais (AIEJI) bem como de
outras associaccedilotildees que nos trans-
mitiu a sua praacutetica no Luxembur-
go Esta presenccedila estreitou os
laccedilos da APES com outras Associa-
ccedilotildees Internacionais ajudando a
unir esforccedilos e perceber a Educa-
ccedilatildeo Social no Mundo O modera-
dor deste painel o Professor Jor-
ge Lemos passou a palavra a
Cindy Vaz que nos falou de Peda-
gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-
comunitaacuteria referenciado a sua
experiecircncia profissional na Trofa
Terminada a nossa manhatilde realiza-
mos uma pausa para almoccedilo de
modo a repor as energias gastas e
tempo de partilha entre colegas
A parte da tarde iniciou com o
terceiro painel composto pelos
Professores Jaime Santos Jorge
Lemos Jorge Serrano e Anabela
Correia apresentando a Poacutes-
graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e
Desenvolvimento Comunitaacuterio
que como foi explicado visa criar
um espaccedilo privilegiado de apoio
teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao
desenvolvimento de saberes e de
competecircncias de profissionais
envolvidos em processos de
desenvolvimento comunitaacuterio
7
bem como dar uma contribuiccedilatildeo
relevante para um maior desen-
volvimento da atitude investigati-
va e reflexiva dos atores nestes
processos Os oradores explicita-
ram ainda algumas temaacuteticas
que seratildeo abordadas
Apoacutes o coffee break da tarde o
quarto e uacuteltimo painel foi iniciado
Depois das apresentaccedilotildees efetua-
das pelo moderador Maacutercio Rodri-
gues o painel seguiu com a apre-
sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza
Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-
ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo
Social na Rede de Cuidados Conti-
nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-
ccedilatildeo da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes
da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e
reinserccedilatildeo familiar e social As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquan-
to profissionais podemos desem-
penhar nesta aacuterea Tivemos de
seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge
Rosado ou como prefere ser tra-
tado o Dr Risotto que nos apre-
sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-
tal que tem como principal obje-
tivo implementar um programa de
intervenccedilatildeo dentro dos hospitais
da regiatildeo centro atraveacutes da visita
de palhaccedilos profissionais e com
formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea
com foco essencial no Idoso Com
a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo
(como o afirma com orgulho)
levou-nos a encarar o termo
palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-
ta funccedilatildeo de uma outra forma
Posteriormente a Professora Isa-
bel Batista falou-nos da luta jaacute
percorrida pela Educaccedilatildeo Social
ao longo destes anos uma aacuterea
em que a proacutepria indica como
sendo sua Ressalvou tambeacutem a
importacircncia do contacto com
outras Associaccedilotildees Internacionais
Terminou-se este V Encontro com
duas intervenccedilotildees muito interes-
santes O Projeto Transformers eacute
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
superpoder uma forma de expri-
mir e intervir positivamente na
comunidade A apresentaccedilatildeo final
foi realizada pelo grupo de danccedila
da Academia Reacutegia Porque a dan-
ccedila aleacutem de ser uma arte permite
a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-
do utilizada muitas vezes como
meio da Educaccedilatildeo Social
E foi assim que encerraacutemos
levando para casa novas aprendi-
zagens novas perspetivas novas
partilhas e novas amizades
8
Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social
Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-
da por teres aceite ser a entrevis-
tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana
Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos
Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo
com base na compreensatildeo e con-
fianccedila gosto de me envolver nas
suas atividades e procuro dar-lhes
o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes
natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos
um casal de geacutemeos e na fase da
adolescecircncia ehehhellip a mais velha
jaacute se encontra encaminhada traba-
lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-
ra em animaccedilatildeo sociocultural mas
continua sempre a procurar o meu
apoio
Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-
prios mas vou tentar Sou uma
pessoa alegre comunicativa e bas-
tante dedicada em tudo o que me
proponho a fazer Entendo que a
empatia que criamos com os
outros eacute muito importante para
desenvolver com sucesso todas as
nossas atividades principalmente
as que envolvem pessoas
Eacute com este lema que me proponho
a cumprir aquilo a que chamo mis-
satildeo
Repoacuterter APES - Quando e porque
eacute que decidiste ser uma
educadora social
Ana - Sempre fui boa alu-
na e muito assiacutedua mas
na minha adolescecircncia
decidi comeccedilar a traba-
lhar Mais tarde senti necessidade
de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e
assim decidi voltar aos estudos por
considerar que o estudo e a
empregabilidade caminham juntos
Desde 1992 que trabalho na aacuterea
da deficiecircncia achei que podia
fazer muito mais por esta popula-
ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute
cerca de 10 anos a voltar a estudar
agrave noite e de seguida fui tirar a
minha licenciatura como forma de
ir ao encontro da minha opccedilatildeo
profissional Tirei Educaccedilatildeo Social
na Escola Superior de Educaccedilatildeo de
Santareacutem com meacutedia de 12 valo-
res que me orgulho muito pois
sendo matildee de trecircs filhos trabalhar
e estudar soacute conseguindo ir agrave
faculdade uma manhatilde por semana
por motivos profissionais foi para
mim uma grande vitoacuteria e um
motivo de orgulho Continuo a
fazer sempre que posso forma-
ccedilotildees a participar em eventos con-
gressos seminaacuterios e cursos liga-
dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de
manter atualizados os meus
conhecimentos aproveito para
estreitar relacionamento com pro-
fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-
da facilita a administraccedilatildeo do dia-a
-dia na troca de experiecircncias
Repoacuterter APES - Podes falar-nos
um pouco do teu trabalho
Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991
Comecei como auxiliar passando
depois a monitora onde era res-
ponsaacutevel por um grupo de utentes
com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo
e orientaccedilatildeo do grupo
Desde 2008 que integrei o CRI- -
Centro de Recursos para Inclusatildeo
da Cercipoacutevoa que presta apoio
teacutecnico em vaacuterios agrupamentos
de escolas
As minhas funccedilotildees satildeo variadas
dependendo de cada agrupamen-
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
4
Inscriccedilotildees e mais informaccedilotildees em httpwwwjoaodedeusptcursoindexaspid_cnt=73
5
Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho
Mesa da Assembleia Geral
Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio
Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos
Direccedilatildeo
Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben
Amorim Tesoureira - Joana Oliveira
Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes
Vera Soares Marlene Borges
Ana Mendes
Conselho Fiscal
Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas
Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu
Ferreira Ana Maggiolly
Marta Carvalho
6
V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social
Chegou o ansiado dia 16 de
Novembro de 2013 marcado pelo
V Encontro dos Teacutecnicos Superio-
res de Educaccedilatildeo Social Depois de
Lisboa Algarve Leiria e Lisboa
novamente eacute chegada a vez da
cidade Invicta ndash o Porto
Este Encontro fica inevitavelmen-
te marcado pelo iniacutecio da venda e
entrega das agendas da APES -
Associaccedilatildeo Promotora da Educa-
ccedilatildeo Social mais uma atividade
que tem sido um marco no per-
curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-
fissatildeo
Natildeo podiacuteamos estar mais felizes
pelo grande caminho percorrido
ateacute aos dias de hoje E este dia eacute
mais o culminar de muito traba-
lho Agradecemos desde jaacute a
todos os que connosco tecircm cola-
borado e nos tecircm ajudado nas
accedilotildees realizadas Desta vez ende-
reccedilamos um especial agradeci-
mento agrave Universidade Catoacutelica
que nos acolheu neste evento
O dia iniciou-se com as boas-
vindas a todos os presentes na
voz da presidente da APES a cole-
ga Sandra Afonso feliz pela pla-
teia recheada e agrave qual se seguiu o
Professor Ruacuteben Cabral
Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-
nel do Encontro moderado pela
colega Raquel Vau e dando a
palavra ao Professor Adalberto
Dias de Carvalho que captou des-
de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia
Posteriormente chegou a vez da
Professora Soacutenia Galinha que per-
correu tantos quiloacutemetros para
estar connosco neste dia Seguiu-
se Moacutenica Mesquita que muito
bem se fez acompanhar pelo Dur-
val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-
nho que trouxeram testemunhos
na primeira pessoa de uma dura
realidade de duas comunidades
Comunidade Bairro e Comunidade
Piscatoacuteria da Costa da Caparica
explicitando a dificuldade no aces-
so agrave Aacutegua
Ainda na parte da manhatilde mas jaacute
depois do coffee break deu-se
iniacutecio ao segundo painel de orado-
res iniciado pelo colega Honoreacute
Gregorius membro da Associaccedilatildeo
Internacional de Educadores
Sociais (AIEJI) bem como de
outras associaccedilotildees que nos trans-
mitiu a sua praacutetica no Luxembur-
go Esta presenccedila estreitou os
laccedilos da APES com outras Associa-
ccedilotildees Internacionais ajudando a
unir esforccedilos e perceber a Educa-
ccedilatildeo Social no Mundo O modera-
dor deste painel o Professor Jor-
ge Lemos passou a palavra a
Cindy Vaz que nos falou de Peda-
gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-
comunitaacuteria referenciado a sua
experiecircncia profissional na Trofa
Terminada a nossa manhatilde realiza-
mos uma pausa para almoccedilo de
modo a repor as energias gastas e
tempo de partilha entre colegas
A parte da tarde iniciou com o
terceiro painel composto pelos
Professores Jaime Santos Jorge
Lemos Jorge Serrano e Anabela
Correia apresentando a Poacutes-
graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e
Desenvolvimento Comunitaacuterio
que como foi explicado visa criar
um espaccedilo privilegiado de apoio
teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao
desenvolvimento de saberes e de
competecircncias de profissionais
envolvidos em processos de
desenvolvimento comunitaacuterio
7
bem como dar uma contribuiccedilatildeo
relevante para um maior desen-
volvimento da atitude investigati-
va e reflexiva dos atores nestes
processos Os oradores explicita-
ram ainda algumas temaacuteticas
que seratildeo abordadas
Apoacutes o coffee break da tarde o
quarto e uacuteltimo painel foi iniciado
Depois das apresentaccedilotildees efetua-
das pelo moderador Maacutercio Rodri-
gues o painel seguiu com a apre-
sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza
Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-
ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo
Social na Rede de Cuidados Conti-
nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-
ccedilatildeo da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes
da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e
reinserccedilatildeo familiar e social As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquan-
to profissionais podemos desem-
penhar nesta aacuterea Tivemos de
seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge
Rosado ou como prefere ser tra-
tado o Dr Risotto que nos apre-
sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-
tal que tem como principal obje-
tivo implementar um programa de
intervenccedilatildeo dentro dos hospitais
da regiatildeo centro atraveacutes da visita
de palhaccedilos profissionais e com
formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea
com foco essencial no Idoso Com
a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo
(como o afirma com orgulho)
levou-nos a encarar o termo
palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-
ta funccedilatildeo de uma outra forma
Posteriormente a Professora Isa-
bel Batista falou-nos da luta jaacute
percorrida pela Educaccedilatildeo Social
ao longo destes anos uma aacuterea
em que a proacutepria indica como
sendo sua Ressalvou tambeacutem a
importacircncia do contacto com
outras Associaccedilotildees Internacionais
Terminou-se este V Encontro com
duas intervenccedilotildees muito interes-
santes O Projeto Transformers eacute
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
superpoder uma forma de expri-
mir e intervir positivamente na
comunidade A apresentaccedilatildeo final
foi realizada pelo grupo de danccedila
da Academia Reacutegia Porque a dan-
ccedila aleacutem de ser uma arte permite
a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-
do utilizada muitas vezes como
meio da Educaccedilatildeo Social
E foi assim que encerraacutemos
levando para casa novas aprendi-
zagens novas perspetivas novas
partilhas e novas amizades
8
Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social
Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-
da por teres aceite ser a entrevis-
tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana
Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos
Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo
com base na compreensatildeo e con-
fianccedila gosto de me envolver nas
suas atividades e procuro dar-lhes
o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes
natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos
um casal de geacutemeos e na fase da
adolescecircncia ehehhellip a mais velha
jaacute se encontra encaminhada traba-
lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-
ra em animaccedilatildeo sociocultural mas
continua sempre a procurar o meu
apoio
Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-
prios mas vou tentar Sou uma
pessoa alegre comunicativa e bas-
tante dedicada em tudo o que me
proponho a fazer Entendo que a
empatia que criamos com os
outros eacute muito importante para
desenvolver com sucesso todas as
nossas atividades principalmente
as que envolvem pessoas
Eacute com este lema que me proponho
a cumprir aquilo a que chamo mis-
satildeo
Repoacuterter APES - Quando e porque
eacute que decidiste ser uma
educadora social
Ana - Sempre fui boa alu-
na e muito assiacutedua mas
na minha adolescecircncia
decidi comeccedilar a traba-
lhar Mais tarde senti necessidade
de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e
assim decidi voltar aos estudos por
considerar que o estudo e a
empregabilidade caminham juntos
Desde 1992 que trabalho na aacuterea
da deficiecircncia achei que podia
fazer muito mais por esta popula-
ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute
cerca de 10 anos a voltar a estudar
agrave noite e de seguida fui tirar a
minha licenciatura como forma de
ir ao encontro da minha opccedilatildeo
profissional Tirei Educaccedilatildeo Social
na Escola Superior de Educaccedilatildeo de
Santareacutem com meacutedia de 12 valo-
res que me orgulho muito pois
sendo matildee de trecircs filhos trabalhar
e estudar soacute conseguindo ir agrave
faculdade uma manhatilde por semana
por motivos profissionais foi para
mim uma grande vitoacuteria e um
motivo de orgulho Continuo a
fazer sempre que posso forma-
ccedilotildees a participar em eventos con-
gressos seminaacuterios e cursos liga-
dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de
manter atualizados os meus
conhecimentos aproveito para
estreitar relacionamento com pro-
fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-
da facilita a administraccedilatildeo do dia-a
-dia na troca de experiecircncias
Repoacuterter APES - Podes falar-nos
um pouco do teu trabalho
Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991
Comecei como auxiliar passando
depois a monitora onde era res-
ponsaacutevel por um grupo de utentes
com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo
e orientaccedilatildeo do grupo
Desde 2008 que integrei o CRI- -
Centro de Recursos para Inclusatildeo
da Cercipoacutevoa que presta apoio
teacutecnico em vaacuterios agrupamentos
de escolas
As minhas funccedilotildees satildeo variadas
dependendo de cada agrupamen-
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
5
Nova Equipa APES No passado dia 14 de Dezembro de 2013 foram eleitos os novos oacutergatildeos sociais da APES As lis-tas vencedoras tomaram posse no dia 12 de Janeiro de 2014 Desejamos a todos um bom tra-balho
Mesa da Assembleia Geral
Presidente - Clara Inaacutecio Vice Presidente - Maacutercio
Rodrigues Secretaacuteria - Sofia Santos Suplente - Andreacute Santos
Direccedilatildeo
Presidente - Sandra Afonso Vice Presidente - Ruben
Amorim Tesoureira - Joana Oliveira
Secretaacuteria - Caacutetia Vaz Vogal - Ivacircnia Alexandre Suplentes - Siacutelvia Lopes
Vera Soares Marlene Borges
Ana Mendes
Conselho Fiscal
Presidente - Daacuterio Gomes Secretaacuteria - Joana Botas
Relatora - Ana Raquel Vau Suplentes - Maria do Ceacuteu
Ferreira Ana Maggiolly
Marta Carvalho
6
V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social
Chegou o ansiado dia 16 de
Novembro de 2013 marcado pelo
V Encontro dos Teacutecnicos Superio-
res de Educaccedilatildeo Social Depois de
Lisboa Algarve Leiria e Lisboa
novamente eacute chegada a vez da
cidade Invicta ndash o Porto
Este Encontro fica inevitavelmen-
te marcado pelo iniacutecio da venda e
entrega das agendas da APES -
Associaccedilatildeo Promotora da Educa-
ccedilatildeo Social mais uma atividade
que tem sido um marco no per-
curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-
fissatildeo
Natildeo podiacuteamos estar mais felizes
pelo grande caminho percorrido
ateacute aos dias de hoje E este dia eacute
mais o culminar de muito traba-
lho Agradecemos desde jaacute a
todos os que connosco tecircm cola-
borado e nos tecircm ajudado nas
accedilotildees realizadas Desta vez ende-
reccedilamos um especial agradeci-
mento agrave Universidade Catoacutelica
que nos acolheu neste evento
O dia iniciou-se com as boas-
vindas a todos os presentes na
voz da presidente da APES a cole-
ga Sandra Afonso feliz pela pla-
teia recheada e agrave qual se seguiu o
Professor Ruacuteben Cabral
Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-
nel do Encontro moderado pela
colega Raquel Vau e dando a
palavra ao Professor Adalberto
Dias de Carvalho que captou des-
de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia
Posteriormente chegou a vez da
Professora Soacutenia Galinha que per-
correu tantos quiloacutemetros para
estar connosco neste dia Seguiu-
se Moacutenica Mesquita que muito
bem se fez acompanhar pelo Dur-
val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-
nho que trouxeram testemunhos
na primeira pessoa de uma dura
realidade de duas comunidades
Comunidade Bairro e Comunidade
Piscatoacuteria da Costa da Caparica
explicitando a dificuldade no aces-
so agrave Aacutegua
Ainda na parte da manhatilde mas jaacute
depois do coffee break deu-se
iniacutecio ao segundo painel de orado-
res iniciado pelo colega Honoreacute
Gregorius membro da Associaccedilatildeo
Internacional de Educadores
Sociais (AIEJI) bem como de
outras associaccedilotildees que nos trans-
mitiu a sua praacutetica no Luxembur-
go Esta presenccedila estreitou os
laccedilos da APES com outras Associa-
ccedilotildees Internacionais ajudando a
unir esforccedilos e perceber a Educa-
ccedilatildeo Social no Mundo O modera-
dor deste painel o Professor Jor-
ge Lemos passou a palavra a
Cindy Vaz que nos falou de Peda-
gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-
comunitaacuteria referenciado a sua
experiecircncia profissional na Trofa
Terminada a nossa manhatilde realiza-
mos uma pausa para almoccedilo de
modo a repor as energias gastas e
tempo de partilha entre colegas
A parte da tarde iniciou com o
terceiro painel composto pelos
Professores Jaime Santos Jorge
Lemos Jorge Serrano e Anabela
Correia apresentando a Poacutes-
graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e
Desenvolvimento Comunitaacuterio
que como foi explicado visa criar
um espaccedilo privilegiado de apoio
teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao
desenvolvimento de saberes e de
competecircncias de profissionais
envolvidos em processos de
desenvolvimento comunitaacuterio
7
bem como dar uma contribuiccedilatildeo
relevante para um maior desen-
volvimento da atitude investigati-
va e reflexiva dos atores nestes
processos Os oradores explicita-
ram ainda algumas temaacuteticas
que seratildeo abordadas
Apoacutes o coffee break da tarde o
quarto e uacuteltimo painel foi iniciado
Depois das apresentaccedilotildees efetua-
das pelo moderador Maacutercio Rodri-
gues o painel seguiu com a apre-
sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza
Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-
ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo
Social na Rede de Cuidados Conti-
nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-
ccedilatildeo da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes
da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e
reinserccedilatildeo familiar e social As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquan-
to profissionais podemos desem-
penhar nesta aacuterea Tivemos de
seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge
Rosado ou como prefere ser tra-
tado o Dr Risotto que nos apre-
sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-
tal que tem como principal obje-
tivo implementar um programa de
intervenccedilatildeo dentro dos hospitais
da regiatildeo centro atraveacutes da visita
de palhaccedilos profissionais e com
formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea
com foco essencial no Idoso Com
a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo
(como o afirma com orgulho)
levou-nos a encarar o termo
palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-
ta funccedilatildeo de uma outra forma
Posteriormente a Professora Isa-
bel Batista falou-nos da luta jaacute
percorrida pela Educaccedilatildeo Social
ao longo destes anos uma aacuterea
em que a proacutepria indica como
sendo sua Ressalvou tambeacutem a
importacircncia do contacto com
outras Associaccedilotildees Internacionais
Terminou-se este V Encontro com
duas intervenccedilotildees muito interes-
santes O Projeto Transformers eacute
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
superpoder uma forma de expri-
mir e intervir positivamente na
comunidade A apresentaccedilatildeo final
foi realizada pelo grupo de danccedila
da Academia Reacutegia Porque a dan-
ccedila aleacutem de ser uma arte permite
a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-
do utilizada muitas vezes como
meio da Educaccedilatildeo Social
E foi assim que encerraacutemos
levando para casa novas aprendi-
zagens novas perspetivas novas
partilhas e novas amizades
8
Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social
Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-
da por teres aceite ser a entrevis-
tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana
Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos
Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo
com base na compreensatildeo e con-
fianccedila gosto de me envolver nas
suas atividades e procuro dar-lhes
o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes
natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos
um casal de geacutemeos e na fase da
adolescecircncia ehehhellip a mais velha
jaacute se encontra encaminhada traba-
lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-
ra em animaccedilatildeo sociocultural mas
continua sempre a procurar o meu
apoio
Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-
prios mas vou tentar Sou uma
pessoa alegre comunicativa e bas-
tante dedicada em tudo o que me
proponho a fazer Entendo que a
empatia que criamos com os
outros eacute muito importante para
desenvolver com sucesso todas as
nossas atividades principalmente
as que envolvem pessoas
Eacute com este lema que me proponho
a cumprir aquilo a que chamo mis-
satildeo
Repoacuterter APES - Quando e porque
eacute que decidiste ser uma
educadora social
Ana - Sempre fui boa alu-
na e muito assiacutedua mas
na minha adolescecircncia
decidi comeccedilar a traba-
lhar Mais tarde senti necessidade
de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e
assim decidi voltar aos estudos por
considerar que o estudo e a
empregabilidade caminham juntos
Desde 1992 que trabalho na aacuterea
da deficiecircncia achei que podia
fazer muito mais por esta popula-
ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute
cerca de 10 anos a voltar a estudar
agrave noite e de seguida fui tirar a
minha licenciatura como forma de
ir ao encontro da minha opccedilatildeo
profissional Tirei Educaccedilatildeo Social
na Escola Superior de Educaccedilatildeo de
Santareacutem com meacutedia de 12 valo-
res que me orgulho muito pois
sendo matildee de trecircs filhos trabalhar
e estudar soacute conseguindo ir agrave
faculdade uma manhatilde por semana
por motivos profissionais foi para
mim uma grande vitoacuteria e um
motivo de orgulho Continuo a
fazer sempre que posso forma-
ccedilotildees a participar em eventos con-
gressos seminaacuterios e cursos liga-
dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de
manter atualizados os meus
conhecimentos aproveito para
estreitar relacionamento com pro-
fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-
da facilita a administraccedilatildeo do dia-a
-dia na troca de experiecircncias
Repoacuterter APES - Podes falar-nos
um pouco do teu trabalho
Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991
Comecei como auxiliar passando
depois a monitora onde era res-
ponsaacutevel por um grupo de utentes
com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo
e orientaccedilatildeo do grupo
Desde 2008 que integrei o CRI- -
Centro de Recursos para Inclusatildeo
da Cercipoacutevoa que presta apoio
teacutecnico em vaacuterios agrupamentos
de escolas
As minhas funccedilotildees satildeo variadas
dependendo de cada agrupamen-
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
6
V Encontro dos Teacutecnicos Superiores de Educaccedilatildeo Social
Chegou o ansiado dia 16 de
Novembro de 2013 marcado pelo
V Encontro dos Teacutecnicos Superio-
res de Educaccedilatildeo Social Depois de
Lisboa Algarve Leiria e Lisboa
novamente eacute chegada a vez da
cidade Invicta ndash o Porto
Este Encontro fica inevitavelmen-
te marcado pelo iniacutecio da venda e
entrega das agendas da APES -
Associaccedilatildeo Promotora da Educa-
ccedilatildeo Social mais uma atividade
que tem sido um marco no per-
curso e na divulgaccedilatildeo desta pro-
fissatildeo
Natildeo podiacuteamos estar mais felizes
pelo grande caminho percorrido
ateacute aos dias de hoje E este dia eacute
mais o culminar de muito traba-
lho Agradecemos desde jaacute a
todos os que connosco tecircm cola-
borado e nos tecircm ajudado nas
accedilotildees realizadas Desta vez ende-
reccedilamos um especial agradeci-
mento agrave Universidade Catoacutelica
que nos acolheu neste evento
O dia iniciou-se com as boas-
vindas a todos os presentes na
voz da presidente da APES a cole-
ga Sandra Afonso feliz pela pla-
teia recheada e agrave qual se seguiu o
Professor Ruacuteben Cabral
Passaacutemos entatildeo ao primeiro pai-
nel do Encontro moderado pela
colega Raquel Vau e dando a
palavra ao Professor Adalberto
Dias de Carvalho que captou des-
de o iniacutecio a atenccedilatildeo da plateia
Posteriormente chegou a vez da
Professora Soacutenia Galinha que per-
correu tantos quiloacutemetros para
estar connosco neste dia Seguiu-
se Moacutenica Mesquita que muito
bem se fez acompanhar pelo Dur-
val Carvalho e pelo Sr Liacutedio Gali-
nho que trouxeram testemunhos
na primeira pessoa de uma dura
realidade de duas comunidades
Comunidade Bairro e Comunidade
Piscatoacuteria da Costa da Caparica
explicitando a dificuldade no aces-
so agrave Aacutegua
Ainda na parte da manhatilde mas jaacute
depois do coffee break deu-se
iniacutecio ao segundo painel de orado-
res iniciado pelo colega Honoreacute
Gregorius membro da Associaccedilatildeo
Internacional de Educadores
Sociais (AIEJI) bem como de
outras associaccedilotildees que nos trans-
mitiu a sua praacutetica no Luxembur-
go Esta presenccedila estreitou os
laccedilos da APES com outras Associa-
ccedilotildees Internacionais ajudando a
unir esforccedilos e perceber a Educa-
ccedilatildeo Social no Mundo O modera-
dor deste painel o Professor Jor-
ge Lemos passou a palavra a
Cindy Vaz que nos falou de Peda-
gogia Social e Intervenccedilatildeo Socio-
comunitaacuteria referenciado a sua
experiecircncia profissional na Trofa
Terminada a nossa manhatilde realiza-
mos uma pausa para almoccedilo de
modo a repor as energias gastas e
tempo de partilha entre colegas
A parte da tarde iniciou com o
terceiro painel composto pelos
Professores Jaime Santos Jorge
Lemos Jorge Serrano e Anabela
Correia apresentando a Poacutes-
graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Social e
Desenvolvimento Comunitaacuterio
que como foi explicado visa criar
um espaccedilo privilegiado de apoio
teoacuterico metodoloacutegico e praacutetico ao
desenvolvimento de saberes e de
competecircncias de profissionais
envolvidos em processos de
desenvolvimento comunitaacuterio
7
bem como dar uma contribuiccedilatildeo
relevante para um maior desen-
volvimento da atitude investigati-
va e reflexiva dos atores nestes
processos Os oradores explicita-
ram ainda algumas temaacuteticas
que seratildeo abordadas
Apoacutes o coffee break da tarde o
quarto e uacuteltimo painel foi iniciado
Depois das apresentaccedilotildees efetua-
das pelo moderador Maacutercio Rodri-
gues o painel seguiu com a apre-
sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza
Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-
ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo
Social na Rede de Cuidados Conti-
nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-
ccedilatildeo da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes
da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e
reinserccedilatildeo familiar e social As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquan-
to profissionais podemos desem-
penhar nesta aacuterea Tivemos de
seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge
Rosado ou como prefere ser tra-
tado o Dr Risotto que nos apre-
sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-
tal que tem como principal obje-
tivo implementar um programa de
intervenccedilatildeo dentro dos hospitais
da regiatildeo centro atraveacutes da visita
de palhaccedilos profissionais e com
formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea
com foco essencial no Idoso Com
a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo
(como o afirma com orgulho)
levou-nos a encarar o termo
palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-
ta funccedilatildeo de uma outra forma
Posteriormente a Professora Isa-
bel Batista falou-nos da luta jaacute
percorrida pela Educaccedilatildeo Social
ao longo destes anos uma aacuterea
em que a proacutepria indica como
sendo sua Ressalvou tambeacutem a
importacircncia do contacto com
outras Associaccedilotildees Internacionais
Terminou-se este V Encontro com
duas intervenccedilotildees muito interes-
santes O Projeto Transformers eacute
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
superpoder uma forma de expri-
mir e intervir positivamente na
comunidade A apresentaccedilatildeo final
foi realizada pelo grupo de danccedila
da Academia Reacutegia Porque a dan-
ccedila aleacutem de ser uma arte permite
a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-
do utilizada muitas vezes como
meio da Educaccedilatildeo Social
E foi assim que encerraacutemos
levando para casa novas aprendi-
zagens novas perspetivas novas
partilhas e novas amizades
8
Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social
Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-
da por teres aceite ser a entrevis-
tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana
Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos
Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo
com base na compreensatildeo e con-
fianccedila gosto de me envolver nas
suas atividades e procuro dar-lhes
o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes
natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos
um casal de geacutemeos e na fase da
adolescecircncia ehehhellip a mais velha
jaacute se encontra encaminhada traba-
lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-
ra em animaccedilatildeo sociocultural mas
continua sempre a procurar o meu
apoio
Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-
prios mas vou tentar Sou uma
pessoa alegre comunicativa e bas-
tante dedicada em tudo o que me
proponho a fazer Entendo que a
empatia que criamos com os
outros eacute muito importante para
desenvolver com sucesso todas as
nossas atividades principalmente
as que envolvem pessoas
Eacute com este lema que me proponho
a cumprir aquilo a que chamo mis-
satildeo
Repoacuterter APES - Quando e porque
eacute que decidiste ser uma
educadora social
Ana - Sempre fui boa alu-
na e muito assiacutedua mas
na minha adolescecircncia
decidi comeccedilar a traba-
lhar Mais tarde senti necessidade
de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e
assim decidi voltar aos estudos por
considerar que o estudo e a
empregabilidade caminham juntos
Desde 1992 que trabalho na aacuterea
da deficiecircncia achei que podia
fazer muito mais por esta popula-
ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute
cerca de 10 anos a voltar a estudar
agrave noite e de seguida fui tirar a
minha licenciatura como forma de
ir ao encontro da minha opccedilatildeo
profissional Tirei Educaccedilatildeo Social
na Escola Superior de Educaccedilatildeo de
Santareacutem com meacutedia de 12 valo-
res que me orgulho muito pois
sendo matildee de trecircs filhos trabalhar
e estudar soacute conseguindo ir agrave
faculdade uma manhatilde por semana
por motivos profissionais foi para
mim uma grande vitoacuteria e um
motivo de orgulho Continuo a
fazer sempre que posso forma-
ccedilotildees a participar em eventos con-
gressos seminaacuterios e cursos liga-
dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de
manter atualizados os meus
conhecimentos aproveito para
estreitar relacionamento com pro-
fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-
da facilita a administraccedilatildeo do dia-a
-dia na troca de experiecircncias
Repoacuterter APES - Podes falar-nos
um pouco do teu trabalho
Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991
Comecei como auxiliar passando
depois a monitora onde era res-
ponsaacutevel por um grupo de utentes
com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo
e orientaccedilatildeo do grupo
Desde 2008 que integrei o CRI- -
Centro de Recursos para Inclusatildeo
da Cercipoacutevoa que presta apoio
teacutecnico em vaacuterios agrupamentos
de escolas
As minhas funccedilotildees satildeo variadas
dependendo de cada agrupamen-
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
7
bem como dar uma contribuiccedilatildeo
relevante para um maior desen-
volvimento da atitude investigati-
va e reflexiva dos atores nestes
processos Os oradores explicita-
ram ainda algumas temaacuteticas
que seratildeo abordadas
Apoacutes o coffee break da tarde o
quarto e uacuteltimo painel foi iniciado
Depois das apresentaccedilotildees efetua-
das pelo moderador Maacutercio Rodri-
gues o painel seguiu com a apre-
sentaccedilatildeo conjunta de Evaniza
Vieira e Siacutelvia Lopes que aborda-
ram a temaacutetica da ldquoEducaccedilatildeo
Social na Rede de Cuidados Conti-
nuadosrdquo cuja missatildeo eacute a Promo-
ccedilatildeo da autonomia e melhoria da
funcionalidade da pessoa em
situaccedilatildeo de dependecircncia atraveacutes
da reabilitaccedilatildeo readaptaccedilatildeo e
reinserccedilatildeo familiar e social As
oradoras explicitaram e insistiram
no papel importante que enquan-
to profissionais podemos desem-
penhar nesta aacuterea Tivemos de
seguida a apresentaccedilatildeo de Jorge
Rosado ou como prefere ser tra-
tado o Dr Risotto que nos apre-
sentou o projeto Palhaccedilos drsquoOpi-
tal que tem como principal obje-
tivo implementar um programa de
intervenccedilatildeo dentro dos hospitais
da regiatildeo centro atraveacutes da visita
de palhaccedilos profissionais e com
formaccedilatildeo especiacutefica nesta aacuterea
com foco essencial no Idoso Com
a sua apresentaccedilatildeo este palhaccedilo
(como o afirma com orgulho)
levou-nos a encarar o termo
palhaccedilo e o proacuteprio exerciacutecio des-
ta funccedilatildeo de uma outra forma
Posteriormente a Professora Isa-
bel Batista falou-nos da luta jaacute
percorrida pela Educaccedilatildeo Social
ao longo destes anos uma aacuterea
em que a proacutepria indica como
sendo sua Ressalvou tambeacutem a
importacircncia do contacto com
outras Associaccedilotildees Internacionais
Terminou-se este V Encontro com
duas intervenccedilotildees muito interes-
santes O Projeto Transformers eacute
um programa de voluntariado que
mobiliza mentores de todos os
desportos artes e atividades para
orientar jovens a encontrar no seu
superpoder uma forma de expri-
mir e intervir positivamente na
comunidade A apresentaccedilatildeo final
foi realizada pelo grupo de danccedila
da Academia Reacutegia Porque a dan-
ccedila aleacutem de ser uma arte permite
a criaccedilatildeo de relaccedilotildees sociais sen-
do utilizada muitas vezes como
meio da Educaccedilatildeo Social
E foi assim que encerraacutemos
levando para casa novas aprendi-
zagens novas perspetivas novas
partilhas e novas amizades
8
Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social
Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-
da por teres aceite ser a entrevis-
tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana
Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos
Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo
com base na compreensatildeo e con-
fianccedila gosto de me envolver nas
suas atividades e procuro dar-lhes
o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes
natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos
um casal de geacutemeos e na fase da
adolescecircncia ehehhellip a mais velha
jaacute se encontra encaminhada traba-
lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-
ra em animaccedilatildeo sociocultural mas
continua sempre a procurar o meu
apoio
Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-
prios mas vou tentar Sou uma
pessoa alegre comunicativa e bas-
tante dedicada em tudo o que me
proponho a fazer Entendo que a
empatia que criamos com os
outros eacute muito importante para
desenvolver com sucesso todas as
nossas atividades principalmente
as que envolvem pessoas
Eacute com este lema que me proponho
a cumprir aquilo a que chamo mis-
satildeo
Repoacuterter APES - Quando e porque
eacute que decidiste ser uma
educadora social
Ana - Sempre fui boa alu-
na e muito assiacutedua mas
na minha adolescecircncia
decidi comeccedilar a traba-
lhar Mais tarde senti necessidade
de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e
assim decidi voltar aos estudos por
considerar que o estudo e a
empregabilidade caminham juntos
Desde 1992 que trabalho na aacuterea
da deficiecircncia achei que podia
fazer muito mais por esta popula-
ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute
cerca de 10 anos a voltar a estudar
agrave noite e de seguida fui tirar a
minha licenciatura como forma de
ir ao encontro da minha opccedilatildeo
profissional Tirei Educaccedilatildeo Social
na Escola Superior de Educaccedilatildeo de
Santareacutem com meacutedia de 12 valo-
res que me orgulho muito pois
sendo matildee de trecircs filhos trabalhar
e estudar soacute conseguindo ir agrave
faculdade uma manhatilde por semana
por motivos profissionais foi para
mim uma grande vitoacuteria e um
motivo de orgulho Continuo a
fazer sempre que posso forma-
ccedilotildees a participar em eventos con-
gressos seminaacuterios e cursos liga-
dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de
manter atualizados os meus
conhecimentos aproveito para
estreitar relacionamento com pro-
fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-
da facilita a administraccedilatildeo do dia-a
-dia na troca de experiecircncias
Repoacuterter APES - Podes falar-nos
um pouco do teu trabalho
Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991
Comecei como auxiliar passando
depois a monitora onde era res-
ponsaacutevel por um grupo de utentes
com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo
e orientaccedilatildeo do grupo
Desde 2008 que integrei o CRI- -
Centro de Recursos para Inclusatildeo
da Cercipoacutevoa que presta apoio
teacutecnico em vaacuterios agrupamentos
de escolas
As minhas funccedilotildees satildeo variadas
dependendo de cada agrupamen-
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
8
Repoacuterter APES Entrevista a Ana Mendes Educadora Social
Repoacuterter APES - Olaacute Ana Obriga-
da por teres aceite ser a entrevis-
tada desta ediccedilatildeo Quem eacute a Ana
Ana - Sou casada e matildee de 3 filhos
Procuro ter com eles uma relaccedilatildeo
com base na compreensatildeo e con-
fianccedila gosto de me envolver nas
suas atividades e procuro dar-lhes
o maacuteximo apoio possiacutevel Agraves vezes
natildeo eacute faacutecil sendo os mais novos
um casal de geacutemeos e na fase da
adolescecircncia ehehhellip a mais velha
jaacute se encontra encaminhada traba-
lha e estuda estaacute a tirar licenciatu-
ra em animaccedilatildeo sociocultural mas
continua sempre a procurar o meu
apoio
Natildeo eacute faacutecil falarmos sobre noacutes proacute-
prios mas vou tentar Sou uma
pessoa alegre comunicativa e bas-
tante dedicada em tudo o que me
proponho a fazer Entendo que a
empatia que criamos com os
outros eacute muito importante para
desenvolver com sucesso todas as
nossas atividades principalmente
as que envolvem pessoas
Eacute com este lema que me proponho
a cumprir aquilo a que chamo mis-
satildeo
Repoacuterter APES - Quando e porque
eacute que decidiste ser uma
educadora social
Ana - Sempre fui boa alu-
na e muito assiacutedua mas
na minha adolescecircncia
decidi comeccedilar a traba-
lhar Mais tarde senti necessidade
de ter mais formaccedilatildeo acadeacutemica e
assim decidi voltar aos estudos por
considerar que o estudo e a
empregabilidade caminham juntos
Desde 1992 que trabalho na aacuterea
da deficiecircncia achei que podia
fazer muito mais por esta popula-
ccedilatildeo o que me levou a decidir haacute
cerca de 10 anos a voltar a estudar
agrave noite e de seguida fui tirar a
minha licenciatura como forma de
ir ao encontro da minha opccedilatildeo
profissional Tirei Educaccedilatildeo Social
na Escola Superior de Educaccedilatildeo de
Santareacutem com meacutedia de 12 valo-
res que me orgulho muito pois
sendo matildee de trecircs filhos trabalhar
e estudar soacute conseguindo ir agrave
faculdade uma manhatilde por semana
por motivos profissionais foi para
mim uma grande vitoacuteria e um
motivo de orgulho Continuo a
fazer sempre que posso forma-
ccedilotildees a participar em eventos con-
gressos seminaacuterios e cursos liga-
dos a aacuterea e fora dela Aleacutem de
manter atualizados os meus
conhecimentos aproveito para
estreitar relacionamento com pro-
fissionais da aacuterea o que sem duacutevi-
da facilita a administraccedilatildeo do dia-a
-dia na troca de experiecircncias
Repoacuterter APES - Podes falar-nos
um pouco do teu trabalho
Entrei para a Cercipoacutevoa em 1991
Comecei como auxiliar passando
depois a monitora onde era res-
ponsaacutevel por um grupo de utentes
com deficiecircncia pela planificaccedilatildeo
e orientaccedilatildeo do grupo
Desde 2008 que integrei o CRI- -
Centro de Recursos para Inclusatildeo
da Cercipoacutevoa que presta apoio
teacutecnico em vaacuterios agrupamentos
de escolas
As minhas funccedilotildees satildeo variadas
dependendo de cada agrupamen-
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
9
mentohellip Vou tentar dar uma ideia
das mesmas
Trabalho integrada no departa-
mento de educaccedilatildeo especial com
os alunos com necessidades edu-
cativas especiais Como sabem
estes alunos tem necessidades
diferentes dos outros alunos e
assim temos de ajudar na sua
integraccedilatildeo na sociedade por isso
eacute importante comeccedilar a fazer a
sua preparaccedilatildeo para a vida ativa
Consoante as caracteriacutesticas de
cada um oriento o seu encami-
nhamento para formaccedilatildeo profis-
sional para o Cao- Centro de Ati-
vidades Ocupacionais para pro-
gramas de voluntariado etc
Trabalho tambeacutem ao niacutevel do
desenvolvimento de competecircn-
cias pessoais e sociais a parte da
comunicaccedilatildeo interpessoal resolu-
ccedilatildeo de problemas assertividade
emoccedilotildees etc aacuterea onde por
vezes tecircm muitas dificulda-
des Como pretendemos que
sejam o mais autoacutenomos possiacute-
veis faccedilo apoio direto na aacuterea
casacomunidade onde faccedilo trei-
nos de autonomia na comunida-
de como por exemplo ir agraves com-
pras saber para que servem e
como utilizar os serviccedilos puacuteblicos
da comunidade (correios banco
junta de freguesia etc) em casa
ao niacutevel da sua independecircncia
pessoal vestirdespir sozinhos
tarefas em casa etc tudo isto
aplicado em contexto real ao
niacutevel dos transportes puacuteblicos
treino trajetos consoante as suas
necessidades de deslocaccedilatildeo para
que num futuro o possam fazer
com autonomia por exemplo
para o seu local de trabalho
Colaboro tambeacutem na elaboraccedilatildeo
dos PEI ndash Programa Educativo
Individual CEI- Curriacuteculo Especifi-
co Individual PIT- Plano Indivi-
dual de Transiccedilatildeo que satildeo docu-
mentos onde eacute registado o traba-
lho a desenvolver com estes alu-
nos
Na implementaccedilatildeo do PIT- Plano
Individual de Transiccedilatildeo pretende-
se preparar os alunos para a vida
poacutes-escolar Fazem estaacutegios de
sensibilizaccedilatildeo profissional nas
empresas da comunidade (em
alguns casos dentro da escola
primeiramente e soacute depois na
comunidade) e cabe-me a mim
fazer a orientaccedilatildeo e acompanha-
mento dos estaacutegios junto das
empresas acolhedoras e tambeacutem
sensibilizar as empresas para
receberem estes alunos o que
por vezes natildeo eacute faacutecil
Neste processo de transiccedilatildeo reuacute-
no com os pais pois satildeo eles tam-
beacutem intervenientes importantes
neste processo Promovo visitas
reuniotildees a instituiccedilotildees ou empre-
sas
Integro tambeacutem as reuniotildees de
Conselhos de turmas e Departa-
mento de Educaccedilatildeo Especial
No final de cada periacuteodo tenho
tambeacutem de elaborar relatoacuterios do
trabalho desenvolvido com cada
aluno
Outra das funccedilotildees eacute a colaboraccedilatildeo
em elaboraccedilatildeo de projetos
Eacute importante salientar que tudo eacute
desenvolvido em parceria com os
docentes de educaccedilatildeo especial
que acompanham cada aluno
O trabalho eacute muito diversificado e
por vezes surgem outras tare-
fas eacute difiacutecil estar a descrever
todas mas de uma maneira geral
eacute assim o meu dia-a-dia
Repoacuterter APES - Qual eacute o maior
desafio quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia
Ana - Quando se trabalha com
pessoas com deficiecircncia todos os
dias satildeo um desafio pois satildeo um
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
10
um puacuteblico muito diversificado
com caracteriacutesticas muito proacute-
prias Eu costumo dizer que para
se trabalhar nesta aacuterea eacute preciso
gostar o resto vem por acumula-
ccedilatildeo Eacute importante todos os dias
manter uma boa relaccedilatildeo acarinhaacute
-los motivaacute-los apoiaacute-los faze-los
sentir que satildeo capazes pois assim
conseguem mais facilmente ultra-
passar obstaacuteculos As vitoacuterias nes-
ta aacuterea por vezes podem ser mui-
to pequenas mas tem o sabor de
grandes conquistas
Eacute preciso um incremento contiacutenuo
de estrateacutegias e procedimentos
que lhes proporcionem mais e
melhores condiccedilotildees de aprendiza-
gemoportunidades de forma
solidaacuteria e cooperativa de manei-
ra a desenvolverem o mais possiacute-
vel as suas competecircncias pessoais
e sociais e a sua autonomia para
que exista uma verdadeira inclu-
satildeo
Por isso o lema eacute paciecircncia e per-
sistecircncia e muito importante
nunca desistir
Repoacuterter APES - Achas que ainda
existem muitos preconceitos por
parte dos profissionais e da socie-
dade em geral em relaccedilatildeo agrave defi-
ciecircncia
Ana - Sim acho apesar de ser
uma situaccedilatildeo que tem vindo a
melhorar nos uacuteltimos anos Cada
vez mais se ouve falar em inclusatildeo
e nota-se jaacute uma preocupaccedilatildeo da
parte da maioria dos profissionais
e da sociedade em geral no com-
bate ao preconceito e com o direi-
to de igualdade de oportunidades
para as pessoas com deficiecircncia
Mas neste campo existe ainda
muito trabalho a desenvolver
Porque todos noacutes temos precon-
ceitos em maior ou menor grau
O que acontece eacute que alguns dei-
xam extravasar para as suas atitu-
des e magoam as pessoas sem
pensar nas consequecircncias dos
seus atos Outros fazem-no de
uma forma mais dissimulada Mas
felizmente existem pessoas que
conseguem lidar com esse senti-
mento aceitam e respeitam as
diferenccedilas dos outros Temos
cada um de noacutes de combater esse
proacuteprio preconceito em cada con-
tato em cada nova amizade em
cada conversa em cada decisatildeo
dando oportunidades e acreditan-
do no potencial de cada um
Repoacuterter APES - Que conselho
darias aos nossos colegas que
natildeo estatildeo a trabalhar
Ana - O conselho que daria aos
colegas que natildeo estatildeo a trabalhar
na aacuterea eacute que natildeo desistam de
lutar por aquilo em que acredi-
tam Cada vez mais o nosso traba-
lho faz sentido Satildeo mais a cada
dia que passa as pessoas que pre-
cisam de noacutes Sei que natildeo eacute faacutecil
mas com persistecircncia e envolven-
do-nos todos na divulgaccedilatildeo da
nossa profissatildeo havemos de con-
seguir ir cada vez mais longe
Repoacuterter APES - Obrigada Ana
foi um prazer entrevistar-te
Ana - Foi com muito gosto que
participei nesta entrevista onde
tentei mostrar um pouco do meu
trabalho que ADORO Espero ter
conseguido transmitir um pouco
do meu dia-a-dia aos colegas que
nunca trabalharam na aacuterea Dese-
jo a todos a continuaccedilatildeo de um
bom trabalho para os que natildeo
estatildeo na aacuterea que a oportunidade
chegue depressa para que pos-
sam mostrar os bons profissionais
que satildeo e continuarem a dignificar
a nossa profissatildeo
Todos juntos faremos a diferenccedila
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
11
Educar para a diferenccedila Educar com a diferenccedila
Siacutelvia Franco
Mestre em Ciecircncias da Educaccedilatildeo e Formaccedilatildeo Para mim educar eacute viver um pro-
cesso em que abraccedilamos a oportu-
nidade de ensinar bem como a de
aprender Ensinar e aprender com
aqueles que nos rodeiam e com os
que se cruzam no nosso caminho
com os que satildeo chamados de pro-
fessores mas tambeacutem com os alu-
nos os agricultores os mecacircnicos
os pescadores os fiacutesicos os bioacutelo-
gos os historiadoreshellip com todos
independentemente dos ldquoroacutetulosrdquo
que a sociedade lhes coloca
Da minha passagem por diferentes
contextos educativos aprendi a
valorizar o que chamo de diversi-
dade dialogante (Franco 2013)
bem como a abertura para a mes-
ma Na minha passagem por uma
licenciatura intercultural indiacutegena
no Brasil pude presenciar um pro-
cesso dialoacutegico construiacutedo por
todos os envolvidos e interessados
Neste processo as opiniotildees e
desejos dos alunos e da comunida-
de eram valorizados e parte funda-
mental no desenvolvimento do
curriacuteculo bem como no decurso de
todas as etapas do curso para as
quais era solicitada a presenccedila de
membros das comunidades indiacutege-
nas locais enquanto especialistas
em determinadas mateacuterias ou
seja na sua proacutepria cultura Bus-
cava-se diariamente uma escola
reflexiva (Alarcatildeo 2001) na qual
todos se sentissem responsaacuteveis
pelo sucesso pessoal e coletivo
pois a concretizaccedilatildeo deste curso
era jaacute uma vitoacuteria
Enquanto investigadora do Projeto
Fronteiras Urbanas cuja accedilatildeo se
desenvolve na Costa de Caparica
tenho podido vivenciar reflexos
dessa mesma diversidade dialo-
gante O Projeto Fronteiras Urba-
nas foi construiacutedo em diaacutelogo bus-
cando a voz de trecircs comunidades
Comunidade Bairro Comunidade
Piscatoacuteria e Comunidade Acadeacutemi-
ca Estas comunidades uniram-se
pela histoacuteria partilhada com o
intuito de buscar a visibilidade
para comunidades invisiacuteveis aos
olhos de entidades poliacuteticas e
sociais
Cada comunidade tinha agrave partida
um objetivo primordial e um obje-
tivo coletivo O objetivo coletivo
que une estas trecircs comunidades
centra-se na uniatildeo que fortaleceraacute
cada comunidade isto eacute na diver-
sidade dialogante que une trecircs
comunidades nas lutas de cada
uma
A Comunidade Bairro luta haacute mais
de trecircs geraccedilotildees por aacutegua mais
perto das suas casas uma vez que
tecircm de fazer um percurso de dois
quiloacutemetros (ida e volta) por cami-
nhos acidentados para recolher
numa bica aacutegua para as suas roti-
nas diaacuterias a Comunidade Piscatoacute-
ria debate-se com as crescentes
proibiccedilotildees que lhes satildeo impostas
sem que as vozes dos pescadores
que compotildeem a comunidade
sejam ouvidas e a Comunidade
Acadeacutemica busca uma Educaccedilatildeo
Emancipatoacuteria cuja essecircncia eacute o
diaacutelogo e ldquoonde o professor eacute o
aprendiz e o aprendiz eacute o profes-
sorrdquo (Bunker Roy 2013 0538)
Numa primeira etapa foram dese-
nhadas as tarefas Alfabetizaccedilatildeo
Criacutetica Cartografia Muacuteltipla Histoacute-
rias de Vida e Mediaccedilatildeo Comunitaacute-
ria segundo os desejos dos mem-
bros das comunidades No desen-
volvimento destas tarefas procu-
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
12
raacutemos ter em mente as palavras de
Paulo Freire
natildeo eacute possiacutevel o diaacutelogo entre os
que querem a pronuacutencia do mundo
e os que natildeo a querem entre os
que negam aos demais o direito de
dizer a palavra e os que se acham
negados deste direito Eacute preciso
primeiro que os que assim se
encontram negados no direito pri-
mordial de dizer a palavra recon-
quistem esse direito proibindo que
este assalto desumanizante conti-
nue (Freire 2008 91)
Em consciecircncia de que o envolvi-
mento dos indiviacuteduos na luta pela
sua proacutepria liberalizaccedilatildeo passa por
ldquorefletir sobre a sua proacutepria situa-
cionalidade na medida em que
desafiados por ela agem sobre
elardquo (Freire 2008 118) fomo-nos
deparando com momentos enri-
quecedores de partilha de conheci-
mentos e accedilatildeo sobre o seu meio
implementando diaacutelogos com insti-
tuiccedilotildees poliacuteticas sociais e educati-
vas reforccedilando os seus desejos e
direitos
Estes movimentos possibilitaram o
regresso de vaacuterios jovens a contex-
tos escolares a eleiccedilatildeo de uma
comissatildeo de moradores a partici-
paccedilatildeo de membros das trecircs comu-
nidades em eventos de dissemina-
ccedilatildeo acadeacutemica bem como o atual
movimento Escola do Bairro Nesta
escola criam-se espaccedilos e tempos
para a diversidade dialogante
numa dinacircmica de partilha onde
um membro da Comunidade Bair-
ro de naturalidade cabo-verdiana
ensina kriolu a outros moradores e
a amigos interessados das outras
duas comunidades ou que se apro-
ximaram deste movimento Da
mesma forma satildeo recebidas pes-
soas da aacuterea de Histoacuteria Muacutesica e
outras disciplinas para partilharem
os seus conhecimentos fazendo-se
um intercacircmbio de conhecimentos
e praacuteticas
Eacute no sentido desta Escola do Bairro
que falo em ldquoeducar com a dife-
renccedilardquo pois na minha opiniatildeo eacute
importante educar para a diferen-
ccedila para nos conscientizarmos de
que satildeo as diferenccedilas que nos tor-
nam todos iguais Contudo consi-
dero que a essecircncia da educaccedilatildeo
estaraacute essencialmente em educar
com aprender com fazer comhellip
Aula de kriolu na Escola do Bairro (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Moradora da Comunidade Bairro - Aula sobre o peacute de ervilha (Foto Siacutelvia Franco)
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
13
Referecircncias
Alarcatildeo I (2001) A escola reflexiva In I Alarcatildeo (Ed) Escola reflexiva e nova racionalidade Porto Alegre
Artmed Editora
Franco S (2013) A Diversidade Dialogante num processo educativo indiacutegena observaccedilotildees num curso de
Etnomatemaacutetica Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo na aacuterea de especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inter-
cultural - Estudo Etnograacutefico Criacutetico Universidade de Lisboa Lisboa Retrieved from http
hdlhandlenet104518118
Freire P (2008) Pedagogia do Oprimido Satildeo Paulo Paz e Terra
TED Ideas Worth Spreading (Producer) (2013) Bunker Roy - Universidade dos Peacutes-Descalccedilos Retrieved from
httpswwwyoutubecomwatchv=NUX8elbPkRY
Mesa redonda - Foacuterum Fronteiras UrbanasEncontro APOCOSIS 2013 (Fotografia de Siacutelvia Franco)
Jovens em diaacutelogo com instituiccedilotildees escolares (Fotografia de Catarina Pereira)
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
14
Educaccedilatildeo Social com ciganos A diferenccedila Sou eu
Sofia Aurora Santos
Mestre em Educaccedilatildeo Social
ldquoPor mim os ciganos iam-se embo-
ra para o paiacutes delesrdquo ldquoPara mim os
ciganos eram todos mortosrdquo ldquoPor
mim eclodia o bairro dos ciganosrdquo
ldquoSatildeo uma cambada de bandidos
tecircm tudordquo rdquoO Governo soacute daacute o
Rendimento aos ciganosrdquo etc
etc etc Estas satildeo algumas das
expressotildees que oiccedilo constante-
mente sobre os ciganos e certa-
mente satildeo familiares a muitas pes-
soas O desconhecimento das tra-
diccedilotildees e costumes dos ciganos
reforccedila a ignoracircncia da maioria
que se acha superior A compreen-
satildeo e o conhecimento satildeo impor-
tantes no processo de integraccedilatildeo
do grupo eacutetnico e as caracteriacutesticas
fiacutesicas ou culturais natildeo podem ser
motivo de exclusatildeo social
Estas expressotildees natildeo satildeo funda-
mentadas nem dignas de respeito
por quem as diz Foram pensamen-
tos expressotildees e comportamentos
deste tipo que um senhor chama-
do Adolfo Hitler fez o que fez
durante a 2ordf Guerra Mundial pen-
so que natildeo seja necessaacuterio descre-
ver mas vale a pena parar para
refletir e ver que infelizmente o
neonazismo estaacute a aparecer na
Europa Prova disso eacute o que se pas-
sa atualmente na Hungria que foi
o primeiro Estado-membro da
Uniatildeo Europeia a ser acusado de
violar os valores europeus e como
consequecircncia a Comissatildeo Europeia
suspendeu todas as negociaccedilotildees
com a Hungria ateacute que o paiacutes repo-
nha o Estado de Direito
Atos impensaacuteveis incontrolados
desumanos satildeo todos os dias pra-
ticados contra os ciganos e outros
grupos eacutetnicos em todo o mundo
mas o grupo dos ciganos eacute o mais
sacrificado Mas porquecirc os ciga-
nos Eacute esta a questatildeo para a qual
tento obter uma resposta haacute mui-
tos anos e certamente estaacute longe
de ser respondida
Foi principalmente devido a um
comentaacuterio racista vindo de um
membro da autarquia farense em
2007 (em contexto de estaacutegio da
licenciatura) que comeccedilou a minha
luta mais vincada pelos direitos
humanos dos ciganos
Desde muito jovem que tenho um
espiacuterito humanitaacuterio e lutador a
favor dos direitos humanos A
minha adolescecircncia no Corpo
Nacional de Escutas (CNE) fez-me
despertar para ajudar o proacuteximo
os que mais precisam e a respeitar
a Natureza e a Pacha Mama
(Terra)
A escolha do curso de Educaccedilatildeo
Social foi faacutecil faze-lo foi simples
praticaacute-lo eacute difiacutecil Satildeo muitos os
obstaacuteculos encontrados na socie-
dade para se poder trabalhar a
diferenccedila entre grupos e pessoas
O Educador Social tem de ter uma
grande capacidade de adaptaccedilatildeo
aos contextos e aos seus protago-
nistas Deve saber muito bem o
que quer e para onde quer ir ou
seja traccedilar e definir objetivos Tra-
balhar no que se gosta ajuda a con-
tribuir para a felicidade natildeo soacute a
proacutepria mas tambeacutem a dos outros
Assim prossigo o meu caminho
pela Educaccedilatildeo Social traccedilo os
objetivos e enquanto natildeo os reali-
zo natildeo descanso
Nesta minha aventura pelo
ldquoMundo dos Ciganosrdquo devo dizer
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
15
que um dos momentos mais mar-
cante da minha vida foi a visita ao
Campo de Concentraccedilatildeo de Ausch-
witz (Poloacutenia) Ver sentir ouvir
cheirar tocar e imaginar tudo o
que laacute se passou foi muito intenso
Momento inexplicaacutevel Acho que
qualquer pessoa que visite este
local certamente vai mudar a sua
opiniatildeo e comportamento acerca
da luta pelos direitos humanos
A experiecircncia em intercacircmbios e
formaccedilotildees internacionais foram
dos momentos mais interessantes
e importantes para adquirir conhe-
cimento e partilhar experiecircncias
com outros ativistas ciganos e natildeo
ciganos sobre os direitos humanos
Jaacute trabalhei com vaacuterios grupos de
risco (viacutetimas de violecircncia domesti-
ca sem-abrigo crianccedilas com
necessidade educativas especiais
etc) mas eacute a trabalhar com os ciga-
nos que ldquome sinto em casardquo Natildeo eacute
faacutecil falar sobre os ciganos mas
ainda eacute mais difiacutecil falar com as
pessoas natildeo ciganas O sentimento
de discriminaccedilatildeo estaacute bem presen-
te quando se fala com os ciganos
todos tecircm uma experiecircncia discri-
minatoacuteria para contar
A legislaccedilatildeo portuguesa natildeo dife-
rencia nem reconhece politicamen-
te qualquer minoria eacutetnica no paiacutes
ou seja do ponto de vista juriacutedico
e poliacutetico natildeo existem ciganos
Atualmente trabalhar com ciganos
estaacute ldquona modardquo porque eacute engraccedila-
do ou porque ldquovem ai dinheirordquo
para fazer projetos para os ciga-
nos De repente desperta-se a
ldquoconsciecircnciardquo de muitas institui-
ccedilotildees para os pro-
blemas do grupo
eacutetnico Um dos
meacutetodos que tecircm
vindo a ser experi-
mentados no senti-
do da promoccedilatildeo da
integraccedilatildeo deste
grupo tem sido a
execuccedilatildeo de proje-
tos nacionais eou
internacionais com
intervenccedilotildees no
terreno que permi-
tam produzir
conhecimento
acerca dos seus
modos de vida Na
sua maioria os pro-
jetos natildeo satildeo do
conhecimento dos
ciganos e muitas vezes natildeo corres-
pondem agraves necessidades das popu-
laccedilotildees Os principais problemas
que afetam grande parte dos por-
tugueses ciganos satildeo as privaccedilotildees
ao niacutevel educativo e habitacional o
desemprego a inserccedilatildeo no merca-
do de trabalho a pobreza a exclu-
satildeo social as situaccedilotildees de discrimi-
naccedilatildeo e a marginalizaccedilatildeo
Em Faro no bairro da Av Cidade
Hayward no bairro da Horta da
Areia e noutros perifeacutericos estaacute
concentrada uma parte da pobreza
e da exclusatildeo social da cidade o
que tem suscitado a intervenccedilatildeo
de projetos de luta contra a pobre-
za maioritariamente financiados
por fundos europeus Todos estes
contextos se caracterizam por uma
forte desqualificaccedilatildeo territorial e
social reconhecida poliacutetica e
socialmente Contudo normal-
mente estes projetos satildeo de cara-
ter experimental e satildeo limitados
no tempo e no espaccedilo pelo que
natildeo originam mudanccedilas estruturais
nem permitem obter muitos resul-
tados positivos na integraccedilatildeo dos
ciganos
A integraccedilatildeo social dos ciganos
tem vindo a constituir-se como um
verdadeiro imperativo na socieda-
de contemporacircnea O resultado
desta afirmaccedilatildeo retrata-se na cria-
ccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de uma medida da
Comissatildeo Europeia (em 2012) o
Quadro europeu para as estrateacute-
gias nacionais para a integraccedilatildeo
dos ciganos que se prevecirc melhorar
a inclusatildeo e integraccedilatildeo dos ciganos
ateacute 2020 e que Portugal tambeacutem
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
16
teraacute a sua estrateacutegia
Em Portugal as desigualdades
sociais e as diferenccedilas culturais
entre os grupos eacutetnicos existentes
na sociedade ainda natildeo tecircm visibi-
lidade suficiente para desenvolver
processos de politizaccedilatildeo da etnici-
dade como tem acontecido em
vaacuterios paiacuteses da Europa Os portu-
gueses ciganos ainda natildeo estatildeo
organizados o suficiente para se
afirmarem e lutarem pelos seus
direitos enquanto cidadatildeos portu-
gueses com tradiccedilotildees culturais proacute-
prias A falta de comunicaccedilatildeo e
compreensatildeo entre os ciganos e a
maioria dificulta a integraccedilatildeo do
grupo
A ausecircncia de recursos materiais e
econoacutemicos traduz-se nas situa-
ccedilotildees de pobreza e exclusatildeo social
dos ciganos assim como as dificul-
dades de acesso agrave educaccedilatildeo agrave sauacute-
de agrave habitaccedilatildeo ao emprego e aos
serviccedilos Os obstaacuteculos agrave inserccedilatildeo
social deste grupo eacutetnico devem-se
principalmente aos baixos niacuteveis
de escolaridade ao desemprego e
ao estigma criado agrave sua volta As
poliacuteticas de integraccedilatildeo normal-
mente falham em relaccedilatildeo aos ciga-
nos porque a sociedade tenta mui-
tas vezes a integraccedilatildeo atraveacutes de
processos de assimilaccedilatildeo cultural
que prevecirc a adoccedilatildeo de novos haacutebi-
tos A resistecircncia dos ciganos agrave
integraccedilatildeo social vai ao encontro
das discrepacircncias entre os direitos
e a identidade eacutetnica A oposiccedilatildeo
aos valores da sociedade dominan-
te ou seja aos aspetos de acultu-
raccedilatildeo acontece frequentemente e
por consequecircncia os ciganos
desenvolvem estrateacutegias de adap-
taccedilatildeo agrave modernidade ao mesmo
tempo que tentam preservar a tra-
diccedilatildeo cultural Como exemplo
temos o benefiacutecio do Rendimento
Social de Inserccedilatildeo que obriga todas
as crianccedilas a frequentar a escola
inclusive as raparigas o que para
os ciganos eacute um dilema entre a
sobrevivecircncia e a preservaccedilatildeo cul-
tural Contudo eacute um processo que
estaacute a mudar alguns comporta-
mentos e ao mesmo tempo que se
reflete sobre uma redefiniccedilatildeo de
identidades A conciliaccedilatildeo do
modo de vida cigano com o Progra-
ma de Inserccedilatildeo eacute dos assuntos
mais problemaacuteticos na relaccedilatildeo
Rendimento Social de Inserccedilatildeo
com os ciganos Para os ciganos eacute
uma situaccedilatildeo ambiacutegua onde por
um lado estaacute a submissatildeo ao Esta-
do para receber uns tostotildees e por
outro lado o desejo de preservaccedilatildeo
dos traccedilos culturais
Para desenvolver o meu conheci-
mento sobre os ciganos desde
2007 que trabalho e estudo este
grupo De modo a procurar conhe-
cimento e partilhar o meu traba-
lho jaacute participei em vaacuterios con-
gressos nacionais e internacionais
pois satildeo os melhores locais para se
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
17
estar atualizado e fazer contatos
Em Junho de 2013 defendi a
minha dissertaccedilatildeo de mestrado
sobre o Rendimento Social de
Inserccedilatildeo e os Beneficiaacuterios Ciganos
no Concelho de Faro onde dei
uma particular atenccedilatildeo agraves injusti-
ccedilas contra os ciganos A importacircn-
cia do trabalho de terreno permitiu
tomar consciecircncia dos inuacutemeros
sacrifiacutecios que os beneficiaacuterios
ciganos fazem para sobreviver
numa cidade desenvolvida A reali-
dade natildeo eacute como muitas pessoas
pensam Alguns dados sobre o RSI
como por exemplo um estudo do
Instituto da Seguranccedila Social de
Dezembro 2008 estimou que exis-
tiam 5275 famiacutelias ciganas benefi-
ciaacuterias do RSI correspondente a
21100 beneficiaacuterios perfazendo
um peso de 39 total de famiacutelias
beneficiaacuterias do RSI no Concelho
de Faro em Novembro 2012 das
550 famiacutelias referentes ao protoco-
lo de RSI 145 satildeo agregados fami-
liares ciganos que correspondem a
599 beneficiaacuterios Como se pode
constatar os ciganos natildeo satildeo a
maioria dos beneficiaacuterios do RSI
Mas porquecirc tanta perseguiccedilatildeo
contra eles De forma sucinta pos-
so partilhar as conclusotildees do meu
estudo
A importacircncia atribuiacuteda ao RSI
pelos beneficiaacuterios ciganos eacute
imensa dada a precariedade em
que vivem e tentam conciliar o
modo de vida cigano com o Pro-
grama de Inserccedilatildeo
A perceccedilatildeo de discriminaccedilatildeo eacute
sentida pelos beneficiaacuterios ciga-
nos nos vaacuterios domiacutenios da vida
social procura de emprego no
acesso aos serviccedilos e por rece-
berem o RSI
Relativamente agrave perceccedilatildeo do
princiacutepio de solidariedade para
os beneficiaacuterios ciganos o apoio
do RSI como um direito e natildeo
como uma medida de solidarie-
dade social de uns cidadatildeos para
os outros
Os teacutecnicos queixam-se da falta
de criatividade na elaboraccedilatildeo
dos Programas de Inserccedilatildeo
Os teacutecnicos sentem que a socie-
dade natildeo tem respostas para a
inserccedilatildeo social dos beneficiaacuterios
de RSI o que se traduz nas difi-
culdades no combate agrave pobreza
Concluiacutedo o trabalho e depois de
apresentadas as conclusotildees impor-
ta agora apresentar algumas refle-
xotildees no sentido de uma melhoria
da eficaacutecia das futuras poliacuteticas
sociais de combate agrave pobreza
entre os ciganos
Formaccedilatildeo especiacutefica para teacutecni-
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
18
cos que trabalhem com ciganos
Desenvolver Programas de
Inserccedilatildeo adequados agraves necessi-
dades das famiacutelias ciganas de
modo a facilitar a sua integraccedilatildeo
social e reduzir as situaccedilotildees de
acomodaccedilatildeo
Apostar na criaccedilatildeo do proacuteprio
emprego
Numa loacutegica de discriminaccedilatildeo
positiva para combater a discri-
minaccedilatildeo negativa apostar na
contrataccedilatildeo de beneficiaacuterios
ciganos nas empresas puacuteblicas
Criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo mista
constituiacuteda por ciganos e natildeo
ciganos no Concelho de Faro
com o objetivo de defender os
interesses do grupo e minimizar
os estereoacutetipos existentes na
sociedade
Alguns ciganos adotam atitudes de
autoexclusatildeo e conformistas sobre
as expectativas que a maioria faz
de si e preferem natildeo ldquolutarrdquo ao
assumirem comportamentos resi-
lientes Importa realccedilar que os
ciganos satildeo cidadatildeos portugueses
e como tal cidadatildeos de direitos e
deveres como estaacute estabelecido na
Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portu-
guesa Poreacutem a maioria natildeo se
reconhece como tal isto porque
natildeo veem reconhecidas as suas
tradiccedilotildees e traccedilos culturais e pelo
contraacuterio satildeo cercados pela discri-
minaccedilatildeo e diferenciaccedilatildeo
Atualmente o termo ciganofobia
ou romafobia estaacute presente em
muitos discursos de ativistas para
os direitos humanos que tentam
denunciar as inuacutemeras situaccedilotildees
racistas e discriminatoacuterias contra
os ciganos em vaacuterios paiacuteses apesar
de muitas vezes passarem desper-
cebidos
Ningueacutem disse que trabalhar com
ciganos eacute faacutecil mas tambeacutem natildeo eacute
impossiacutevel Basta acreditar e res-
peitar E assim sinto-me uma Edu-
cadora Social diferente e continuo
a minha luta pela defesa dos direi-
tos humanos dos ciganos
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
19
Educar para a diferenccedila
Susana Rebocho
Educadora Social Questiono inuacutemeras vezes o signifi-
cado de diferenccedila de indiferenccedila
de diferente ou desigual Qual eacute o
sentido da diferenccedila nas praacuteticas
educativas Qual eacute a intenccedilatildeo da
diferenccedila na interculturalidade
Afinal o que eacute ser diferente e o que
isso tem a ver com educaccedilatildeo
Diferenccedila segundo o dicionaacuterio da
liacutengua portuguesa eacute o caraacuteter que
distingue um ser de outro ser uma
coisa de outra coisa Simples de
entender
Mas a forma como este caraacutecter
que distingue um ser de outro eacute
considerado nas praacuteticas educati-
vas e na intervenccedilatildeo social origina
muita discussatildeo
Se por um lado a educaccedilatildeo espe-
cial as adaptaccedilotildees curriculares ou
a criaccedilatildeo de turmas alternativas
tentam responder agrave diversidade de
alunos por outro os alunos que
natildeo satildeo incluiacutedos nessas alternati-
vas fazem parte de turmas com o
dobro dos alunos que seria funda-
mental agrave aprendizagem dos con-
teuacutedos curriculares exigidos bem
como ao desenvolvimento bio-
psico-emocional saudaacutevel O que
acontece na realidade eacute uma valo-
rizaccedilatildeo exces-
siva da instru-
ccedilatildeo em detri-
mento de uma
conceccedilatildeo mais
ampla de educaccedilatildeo onde a dimen-
satildeo pessoal e social satildeo claramente
subalternizadas
Natildeo eacute de todo minha intenccedilatildeo
apontar criticas ao trabalho dos
professores muito pelo contraacuterio
Haacute 7 anos que trabalho em escolas
e durante este tempo tive o privileacute-
gio de conhecer profissionais
extremamente conscientes do seu
papel de educador A questatildeo aqui
eacute essencialmente politica e muito
acima do que qualquer educador
possa sequer tentar mudar
O que me tranquiliza neste cenaacuterio
eacute o facto da ldquoescolardquo ou melhor
dos professores reconhecerem a
importacircncia da ldquopessoalidaderdquo do
ensino e recorrerem a apoios
externos Aqui entra o trabalho do
educador social do assistente
social do psicoacutelogo do terapeuta
Eacute neste hiato que a intervenccedilatildeo
social tem o seu lugar na escola na
diferenccedila na diversidade na inter-
culturalidade na dimensatildeo eacutetica
do processo educativo
Natildeo sou defensora da educaccedilatildeo
para a diferenccedila sou sim apologis-
ta de uma valorizaccedilatildeo da diversida-
de ndash educar para a diferenccedila pode
levar-nos em uacuteltima instacircncia a
acentuar a distacircncia entre as pes-
soas a destacar as suas desigual-
dades a salientar alguma diferen-
ciaccedilatildeo Na valorizaccedilatildeo da diversi-
dade as praacuteticas educativas desen-
volvem-se em torno do respeito
da responsabilizaccedilatildeo individual da
liberdade pessoal
A minha experiecircncia de interven-
ccedilatildeo social nas escolas eacute particular-
mente com os alunos de etnia ciga-
na por ser a uacutenica minoria com
uma grande representatividade
nos agrupamentos onde trabalho
E esta eacute sem duacutevida uma experiecircn-
cia riquiacutessima
O combate ao absentismo e aban-
dono escolar satildeo os objetivos
gerais da intervenccedilatildeo suportados
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
20
pelos objetivos da valorizaccedilatildeo da
diversidade conhecer-se a si mes-
mo conhecer o outro ser capaz de
interagir numa contiacutenua constru-
ccedilatildeo de identidade de afirmaccedilatildeo
dos valores Para aleacutem da interven-
ccedilatildeo direta com os alunos e famiacutelias
de etnia cigana a intervenccedilatildeo com
os professores e comunidade esco-
lar assume tambeacutem uma grande
importacircncia neste trabalho inclusi-
vo Os professores questionam
muitas vezes como lidar com crian-
ccedilas que apresentam haacutebitos e cos-
tumes diferentes das demais crian-
ccedilas e como ldquoadaptaacute-lasrdquo agraves nor-
mas condutas e valores vigentes
Como ensinar-lhes os conteuacutedos
que se encontram nos livros didaacuteti-
cos Como integrar a sua experiecircn-
cia de vida de modo coerente com
a funccedilatildeo especiacutefica da escola Con-
sidero que os trabalhadores sociais
nas escolas dotados de um saber e
de ferramentas indispensaacuteveis agrave
inclusatildeo tecircm um papel crucial jun-
to da comunidade educativa glo-
bal alunos professores auxiliares
de educaccedilatildeo e encarregados de
educaccedilatildeo A intervenccedilatildeo isolada
natildeo ajudaraacute na inclusatildeo a inter-
venccedilatildeo com todas as partes envol-
vidas criaraacute pontes aproximaraacute
pessoas potenciaraacute o sucesso
escolar o desenvolvimento pes-
soal e social e consequente inclu-
satildeo social
Este tipo de intervenccedilatildeo concerta-
da surge na educaccedilatildeo inclusiva
como Ensino Cooperativo ndash ensino
baseado na colaboraccedilatildeo entre o
professor titular de turma e um
auxiliar um outro colega ou um
outro profissional Considero que
na intervenccedilatildeo com os alunos de
etnia cigana em contexto escolar
este ensino cooperativo assume
uma grande importacircncia eacute aqui
atraveacutes de um apoio especiacutefico
que por inuacutemeras razotildees natildeo
pode ser dado pelo professor
durante a rotina diaacuteria na sala de
aula que se avanccedila no combate ao
insucesso escolar eacute aqui que se
cria um espaccedilo de aprendizagem
individual e coletivo simultanea-
mente eacute aqui que os alunos come-
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
21
ccedilam a ganhar as competecircncias preacute-
escolares que os demais alunos jaacute
adquiriram eacute aqui que se tenta
ldquoapanhar o comboiordquo e desenvol-
ver capacidades
Outra caracteriacutestica do ensino coo-
perativo eacute o combater o isolamen-
to do professor Os professores
aprendem com as estrateacutegias dos
outros e obteacutem um feedback ade-
quado Consequentemente a coo-
peraccedilatildeo natildeo eacute apenas eficaz para o
desenvolvimento cognitivo e emo-
cional mas permite responder agraves
necessidades dos professores
Nos esforccedilos da educaccedilatildeo inclusiva
e da educaccedilatildeo intercultural deve-
ratildeo estar presentes algumas condi-
ccedilotildees desenvolver atitudes positi-
vas ndash eacute essencial ao sucesso de
qualquer intervenccedilatildeo educativa
criar um sentimento de pertenccedila ndash
essencial ao bem estar interesse e
motivaccedilatildeo O insucesso escolar
traduz-se na maior parte dos casos
por um desinteresse continuado
um descreacutedito crescente em rela-
ccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola enquanto
instituiccedilatildeo educativa e socializado-
ra Outra condiccedilatildeo essencial eacute a
adoccedilatildeo de teacutecnicas de comunica-
ccedilatildeo eficazes Eacute nas falhas de comu-
nicaccedilatildeo que nascem muitos dos
entraves agrave educaccedilatildeo para a dife-
renccedila eacute a comunicaccedilatildeo que deter-
mina o sucesso das praacuteticas de
intervenccedilatildeo Nesta linha e conti-
nuando na intervenccedilatildeo com os
alunos de etnia cigana sou seacuteria
defensora da contrataccedilatildeo de
mediadores soacutecio-culturais a
mediaccedilatildeo eacute uma teacutecnica que con-
tribui em larga escala para que a
realidade intercultural se torne
possiacutevel eacute um processo comunica-
cional de transformaccedilatildeo social que
requalifica as relaccedilotildees sociais e
concebe novos percursos onde eacute
possiacutevel entender o outro como
diferente eacute uma ponte uma apro-
ximaccedilatildeo um verdadeiro diaacutelogo
onde a mensagem eacute entendida
claramente Sem esta ponte sem
este ldquoentendimentordquo a diferenccedila
soacute se torna mais excluiacutevel a diver-
sidade soacute se torna mais intoleraacutevel
e desvalorizaacutevel sem este diaacutelogo
real de compreensatildeo e transmis-
satildeo concreta de propoacutesitos e nor-
mas culturais continuamos a
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
22
fomentar o ldquoassimilacionismordquo
criando contextos desfavoraacutevel agrave
igualdade de oportunidades
A educaccedilatildeo para a diferenccedila ou
valorizaccedilatildeo da diversidade deveraacute
seguir no sentido de combater a
desigualdade tentando impedir
que a escola silencie as vozes que
lhe pareccedilam dissonantes do discur-
so culturalmente padronizado Em
uacuteltima instacircncia a escola deveraacute
trabalhar para uma diversidade de
seres que estatildeo inseridos num
mundo diverso os trabalhadores
sociais deveratildeo promover o direito
de todos agrave educaccedilatildeo e agrave igualdade
de oportunidades educar dentro
de uma perspectiva de cidadania
plena
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
23
Um ato de amor Ana Sofia Bexiga Educadora Social
Ateacute haacute alguns meses atraacutes tam-
beacutem eu fazia parte do grupo dos
das muitosas Educadoresas
Sociais a quem a deficiecircncia fiacutesica e
mental assustava (enquanto aacuterea
de trabalho) e bastantehellip
Mas o destino (ouchamem-lhe
o que quiserem) colocou no meu
caminho a possibilidade de vir a
trabalhar nesta aacuterea Cheguei a
desejar que depois da entrevista
natildeo me telefonassem mas ao
mesmo tempo a convicccedilatildeo de que
nada eacute por acaso falou mais alto
Se o IEFP me tinha convocado e se
na Instituiccedilatildeo depois da entrevis-
ta me tinham selecionado era
porque o desafio tinha que ser
aceite
Os primeiros tempos foram um
(des) equiliacutebrio consideraacutevel entre
o adaptar-me agravequele puacuteblico tatildeo
especial e ser aceite por eles e
noutro prisma corresponder agraveque-
la que era a minha funccedilatildeo - traba-
lhar a expressatildeo corporal
Foi partir pedra durante vaacuterios
dias mas no seguimento das mui-
tas conversas que fui tendo (que
agradeccedilo de coraccedilatildeo) das muitas
horas de pesquisa na Internet e na
Biblioteca e do
apoio incondicio-
nal das minhas
colegas as ideias
comeccedilaram a
surgir
Apesar de a
minha experiecircn-
cia ser ainda muito curta atual-
mente sinto-me mais segura e a
gostar muito do que faccedilo
A Instituiccedilatildeo na qual estou a
desenvolver um CEI (Contrato
Emprego-Inserccedilatildeo) possui um Lar
Residencial para Deficientes e
como complemento um CAO
(Centro de Atividades Ocupacio-
nais) No total temos quase qua-
renta utentesclientes sendo que
apenas oito vatildeo e vecircm todos os
dias de segunda a sexta-feira das
9h agraves 17h Os restantes clientes
utentes vivem no Lar da Institui-
ccedilatildeo
Sobre as suas deficiecircncias temos
um pouco de tudo desde deficien-
tes mentais (profundos modera-
dos e ligeiros) a deficientes fiacutesicos
portadores de trissomia 21 parali-
sia cerebral ateacute portadores de siacuten-
dromes diversas
No acircmbito do CAO a minha funccedilatildeo
eacute Monitora de Expressatildeo Corporal
O dia de trabalho estaacute dividido em
cinco tempos (trecircs de manhatilde e
dois agrave tarde) sendo que em cada
tempo contamos com um grupo
diferente dentro da sala
Quanto agraves atividades dinamizadas
de uma forma geral centram-se
em dinacircmicas e jogos de controlo e
perceccedilatildeo do corpo (onde se
incluem dramatizaccedilotildees simples e a
questatildeo dos sons) de cooperaccedilatildeo
os jogos de miacutemica o recurso a
fantoches as sombras chinesas
percussatildeo como forma de explo-
rar os sons produzidos atraveacutes do
proacuteprio corpo e ainda em algumas
dinacircmicas que provoquem o riso
Nas minhas sessotildees a muacutesica eacute um
elemento sempre presente quer
como base de trabalho na medida
em que possa ser parte integrante
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
24
da dinacircmica a desenvolver quer
como catalisador de um ambiente
mais estimulante e motivador
A participaccedilatildeo e contributo dos
utentes satildeo promovidos ao maacutexi-
mo em cada uma das dinacircmicas
que podem ser (e satildeo muitas
vezes) adaptadas e reajustadas
de modo a ir ao encontro das
necessidades gostos e motivaccedilotildees
de cada um
A Instituiccedilatildeo conta ainda com
transporte proacuteprio pelo que sem-
pre que surge a oportunidade
(mais no veratildeo pelas condiccedilotildees
atmosfeacutericas propiacutecias) efetuamos
saiacutedas ao exterior com os utentes
clientes que satildeo sempre muito
apreciadas
Pelas especificidades das pessoas
com as quais trabalho os objetivos
das atividades que proponho natildeo
podem ser demasiado ambiciosos
Tem que se considerar sempre
que qualquer um deles levaraacute mais
tempo a atingir o que se pretende
do que levaraacute uma pessoa sem
deficiecircncia e que para alguns
pelo teor das limitaccedilotildees que pos-
suem ser-lhes-aacute mesmo impossiacute-
vel avanccedilar mais que um determi-
nado niacutevel dentro de um exerciacutecio
No iniacutecio do meu trabalho com
esta populaccedilatildeo natildeo tinha noccedilatildeo
do quatildeo importante eacute termos sem-
pre presentes estas ideias mas
hoje reconheccedilo que satildeo funda-
mentais quer para natildeo nos frus-
trarmos a noacutes proacuteprios quer para
natildeo frustrarmos as proacuteprias pes-
soas com e para as quais trabalha-
mos
A motivaccedilatildeo eacute outro aspeto extre-
mamente importante e transversal
a todo o meu trabalho Apesar de a
minha funccedilatildeo ser trabalhar a aacuterea
da Expressatildeo Corporal o meu prin-
cipal e primaacuterio interesse e foco
deveraacute ser a satisfaccedilatildeo estabilida-
de e bem-estar dos utentes
clientes Relembro que trabalho
num CAO cujo objetivo eacute promo-
ver atividades que ocupem estas
pessoas (como o proacuteprio nome
ldquoCAOrdquo indica) natildeo havendo uma
componente de reabilitaccedilatildeo
Quando se conseguem reunir estas
trecircs condiccedilotildees todo o trabalho
seguinte acaba por fluir natural-
mente No entanto quando por
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
25
algum motivo algum deles ou o
grupo natildeo estaacute bem todo o traba-
lho corre o risco de ficar compro-
metido sendo que a intervenccedilatildeo
deveraacute ser redirecionada passan-
do essencialmente por tentar esta-
bilizar o elemento ou grupo para
que possa (m) voltar a encontrar a
tal estabilidade e bem-estar
Para concluir por tudo o que jaacute vivi
e experienciei durante estes uacutelti-
mos meses acredito plenamente
que as pessoas com e para as quais
trabalho satildeo pessoas com uma
missatildeo extremamente especial
verdadeiras luzinhas Com carac-
teriacutesticas patologias e feitios todos
diferentes entre eles mas com
uma pureza muito superior agrave nos-
sa que soacute equiparo agrave das crianccedilas
(enquanto noacutes natildeo comeccedilamos o
nosso processo de socializaccedilatildeo e
natildeo as viciamosapesar do melhor
que tentamos fazer e fazemos)
Natildeo fala nem ouve mas com-
preende gestos Natildeo pode usar as
pernas para andar mas serve-se
das rodas da cadeira Tem capaci-
dade mental ao niacutevel de uma crian-
ccedila de dois cinco ou dez anos
entatildeo agimos como se fosse essa
crianccedila de dois cinco ou dez anos
Baba-se muito entatildeo recorremos
ao babete e natildeo deixamos descu-
rar a higiene Natildeo consegue sorrir
com a boca mas o coraccedilatildeo passa a
mensagem aos olhos e eles sor-
riem pela boca que natildeo o consegue
fazer
Foi pelo desafio que aceitei este
trabalho e hoje eacute com muito
amor que o faccedilo dando o melhor
de mim e tentando evoluir sempre
Ateacute quando Ateacute que o destino
assim o queira Bem-haja
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
26
Testemunho de um estaacutegio com pessoas com deficiecircncia
Catarina Aleixo Educadora Social
Em Julho de 2012 terminei a licen-
ciatura em Educaccedilatildeo Social pela
Escola Superior de Educaccedilatildeo do
Instituto Politeacutecnico de Braganccedila
No meu segundo ano do curso
(20102011) realizei o estaacutegio
numa instituiccedilatildeo de pessoas com
deficiecircncia mais precisamente no
CAO (Centro de Atividades Ocupa-
cionais) dessa instituiccedilatildeo
Existia uma vasta lista de locais
para estagiar mas apenas uma
instituiccedilatildeo tinha como populaccedilatildeo-
alvo pessoas com deficiecircncia
Antes de conhecer essa lista de
locais jaacute tinha na ideia de que se
tivesse possibilidades gostaria de
estagiar com este tipo de popula-
ccedilatildeo
E o porque de querer estagiar com
essa populaccedilatildeo Em primeiro
lugar porque este tipo de popula-
ccedilatildeo eacute uma populaccedilatildeo muito diver-
sificada pois existem diferentes
tipos de deficiecircncia Em segundo
porque existiam pessoas de dife-
rentes idades o que me permitia
lidar com jovens adultos e idosos
E em terceiro porque com idosos
crianccedilas e adultos dito ldquonormaisrdquo
lidamos com mais frequecircncia
no nosso dia-a-dia
Esta instituiccedilatildeo onde estagiei
acolhia nas suas instalaccedilotildees clien-
tes com diversas tipologias de defi-
ciecircncia (auditivos esquizofrenia
mentais motores multideficiecircncia
fiacutesica portadoras de paralisia cere-
bral visuais e tetrapleacutegica)
Contactei pela primeira vez com a
instituiccedilatildeo a 25 de Outubro de
2010 Embora o estaacutegio fosse de
observaccedilatildeo do funcionamento da
instituiccedilatildeo foi logo estabelecido
que era importante interagir com
todos os profissionais e clientes
No iniacutecio havia um pouco de receio
devido ao facto de natildeo saber como
haveria de lidar com os clientes
mas com o passar do tempo estes
medos foram-se dissipando
Muitos educadores sociais se lhes
perguntar se gostariam de traba-
lhar com este tipo de populaccedilatildeo
talvez digam que natildeo gostariam
muito E porque natildeo Talvez por-
que tecircm o mesmo receio que eu
tinha Porque tecircm medo em natildeo
conseguir fazer o mesmo trabalho
como eles como o fariam com
outra populaccedilatildeo sem tantas restri-
ccedilotildees Mas se experimentassem
talvez essas ideias e esses medos
se fossem dissipando como acon-
teceu no meu caso pois muitos
deles conseguem fazer o mesmo
que noacutes e que os outros E outra
coisa talvez se admirassem e ficas-
sem surpreendidos pois muitos
deles tecircm vontade de aprender
coisas novas e ficam felizes por
conseguir fazer determinadas coi-
sas
A instituiccedilatildeo onde estagiei possuiacutea
diversas salas onde os clientes rea-
lizavam atividades ao longo do dia
A sala das TIC permitia que os
clientes adquirissem as competecircn-
cias baacutesicas em Tecnologias da
Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo elabo-
ravam artigos para o Jornal de
Parede e realizavam jogos interati-
vos Na sala de atelier efetuavam
trabalhos manuais na aacuterea da tape-
ccedilaria pintura em tela trabalhos
em pedra rendas bordados e
malhas fada do lar Na sala de
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
27
recreaccedilatildeo e lazer realizavam-se
diversos jogos
Realizavam-se tambeacutem atividades
recreativas e de lazer (visitas a
museus e monumentos bibliote-
cas jogar dominoacute e cartas televi-
satildeo cinema e teatro) atividades
pedagoacutegicas (jogos psicopedagoacutegi-
cos que contribuem para o desen-
volvimento e para uma aprendiza-
gem mais significativa) e atividades
desportivas (expressatildeo corporal
musicoterapia para que os utentes
realizem movimentos com o seu
corpo ginaacutestica de manutenccedilatildeo
nataccedilatildeo caminhadas)
Ao logo do meu estaacutegio de obser-
vaccedilatildeo colaborei em diversas ativi-
dades tentando corresponder agraves
dificuldades de cada cliente Auxi-
liei na elaboraccedilatildeo de textos escri-
tos agrave matildeo e no computador ajudei
em diversas fichas de exerciacutecios de
matemaacutetica e de portuguecircs
(escrever os nuacutemeros e a sua leitu-
ra elaboraccedilatildeo de figuras geomeacutetri-
cas preenchimento de frases com
os respetivos verbos entre outras)
participei na realizaccedilatildeo de diversos
jogos didaacuteticos para que os utentes
pudessem desenvolver certas
capacidades que estavam menos
desenvolvidas
Na sala de ateliecirc de arte e artesa-
nato foi-me possiacutevel observar a
elaboraccedilatildeo de tapetes e carteiras
feitos de trapilhos realizados por
um senhor e por uma senhora invi-
suais
Ao interagirmos com pessoas com
deficiecircncia devemos ter perma-
nentemente presente as limitaccedilotildees
que cada um possui e tentarmos
ajudar a ultrapassar essas dificul-
dades
Construccedilatildeo em pedra por parte de um cliente da instituiccedilatildeo
Pinturas de Carnaval Atividades de desenvolvimento da matemaacutetica
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
28
A pessoa com deficiecircncia depara-
se com diversos problemas na nos-
sa sociedade particularmente no
que diz respeito a questotildees de
exclusatildeo social
Enfrentam diversas barreiras em
relaccedilatildeo agrave locomoccedilatildeo dificuldades
para terem acesso a diversos locais
(escolas preacutedios instituiccedilotildees
entre outras) e na utilizaccedilatildeo de
transportes puacuteblicos
Eacute de grande importacircncia sensibili-
zar e informar a comunidade para
esta problemaacutetica da deficiecircncia
revelando as capacidades destas
pessoas facilitando o seu processo
de integraccedilatildeo soacutecio profissional
Atraveacutes de campanhas de sensibili-
zaccedilatildeo noacutes teacutecnicos podemos sen-
sibilizar a comunidade para esta
problemaacutetica e atraveacutes da exposi-
ccedilatildeo e da divulgaccedilatildeo de trabalhos
elaborados (trabalhos manuais)
por pessoas com deficiecircncia pode-
mos demonstrar muitas das capa-
cidades que estas pessoas tecircm Era
importante que estas pessoas con-
seguissem uma interaccedilatildeo profissio-
nal para elevar a sua autoestima
para contribuir para a sua integra-
ccedilatildeo na sociedade e sobretudo para
que as pessoas desconstruiacutessem o
mito de que os deficientes satildeo pes-
soas invaacutelidas pois eles podem
contribuir para o trabalho e suces-
so de qualquer empresa como
outra pessoa qualquer
Considero que o meu estaacutegio veio
completar a minha apren-
dizagem pois colocou-me
em contacto com uma
realidade que ateacute ao
momento me era um pou-
co desconhecida e permi-
tiu-me tomar contacto
com pessoas com diferen-
tes dificuldades Alguns
clientes tinham dificulda-
des de leitura outros na
matemaacutetica outros em
determinados dias natildeo
lhes apetecia fazer nadahellip
as dificuldades eram diver-
sificadas e eu tinha que
me adaptar
agraves dificuldades deles
Apesar das dificuldades que muitos
dos deficientes se deparam (de
locomoccedilatildeo de aprendizagem de
exclusatildeohellip) essas dificuldades satildeo
ultrapassadas com ajudas de fami-
liares amigos teacutecnicos e principal-
mente por eles proacuteprios
Cumprimentos Sociais
Construccedilatildeo de um puzzle Atividades de desenvolvimento do portuguecircs
Eu na elaboraccedilatildeo dos fatos de Carnaval
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
29
A buacutessola individual da aceitaccedilatildeo do diferente Daniela Azevedo Diretora do Centro CEAC
Vou tentar conduzir-vos a algum
patamar cognitivo desconhecido
ou pouco visitado por cada um de
vocecircs E porquecirc Porque para
mim sempre que optamos apenas
pelo convencionalismo pelo cami-
nho que sempre foi seguido pelos
padrotildees que definimos como nor-
mais natildeo estamos a crescer e
como consequecircncia se natildeo cresce-
mos individualmente a sociedade
natildeo evoluiraacute
Haacute uma ligaccedilatildeo entre o nosso
crescimento individual e as mudan-
ccedilas sociais Natildeo existem mudanccedilas
sociais se natildeo existirem mudanccedilas
no subconsciente individual um a
um ateacute alastrar e atingir o subcons-
ciente coletivo Isso acontece sem-
pre que a maioria das pessoas se
encontrar em posiccedilatildeo de mudanccedila
e de ousadia
O leitor tal como a maioria das
pessoas nesta altura acenaraacute com
a cabeccedila evidenciando um concor-
dacircncia a afirmativa agrave minha
expressatildeo acima identificada mas
essa sua aparente concordacircncia
com o meu artigo trata-se de mera
retoacuterica teoria decorati-
va ilusatildeo mental de
quem lecirc um mero texto
na web e se encontra
enclausurado em seu
escritoacuterio
O que eu quero dizer eacute que basta-
va confrontar o leitor com uma
cultura ou uma histoacuteria muito afas-
tada da sua realidade para rapida-
mente toda essa aparente concor-
dacircncia se desvanecer e ser facil-
mente abalada
A minha missatildeo neste texto eacute para
aleacutem de vos dar a compreender o
que eacute a Educaccedilatildeo Educaccedilatildeo Ciacutevica
Civismo e vida em sociedade eacute
mostrar vos o que eacute diferente
muito diferentehellip e conduzi-los
habilmente a um enamoramento
do diferente atraveacutes do conheci-
mento do belo que mora no con-
teuacutedo do diferente e do estranho
para noacutes Eacute na empatia que mora a
felicidade da sociedade de ama-
nhatilde eacute disso que estou a falar e isso
natildeo seraacute possiacutevel se eu natildeo conse-
guir apaixonar-me pelo que eacute dife-
rente
Como perceberatildeo em breve neste
texto este natildeo vai ser um caminho
faacutecil mas eacute preciso que algueacutem se
atreva a fazecirc-lo Conto convosco
para fazermos juntos esta viagem
cognitiva reflexiva e emocional
Toda a Educaccedilatildeo Ciacutevica implica a
assunccedilatildeo de regras e todas essas
regras ciacutevicas parecem emergir de
um medo intriacutenseco da essecircncia do
ser humano Seraacute que com o
desenvolvimento do autoconheci-
mento do equiliacutebrio espiritual da
empatia e maior literacia emocio-
nal seria necessaacuterio esta ldquoprisatildeo de
regrasrdquo a que por vezes estamos
sujeitos numa sociedade que
denominamos de civilizada
Tal como pergunta o tiacutetulo como
aceitar e a amar o diferente sem
viver aprisionado de regras ciacutevicas
Ao ler o texto vaacute atribuindo uma
pontuaccedilatildeo entre zero e dez que
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
30
quantifique o seu grau de aceita-
ccedilatildeo e entendimento do diferente
A cultura que escolhi para vos
desafiar trata-se da cultura cigana
O motivo que me levou a tal esco-
lha deve-se ao facto de considerar
proacuteximo da excentricidade a exis-
tecircncia de uma comunidade dotada
de tatildeo particulares especificidades
culturais que milagrosamente
resistiram agraves reconstruccedilotildees sociais
assegurando a manutenccedilatildeo das
suas caracteriacutesticas culturais que o
definem como povo ainda que as
consequecircncias discriminatoacuterias se
edifiquem e alastrem fortemente
principalmente devido agrave ignoracircncia
e incompreensatildeo da histoacuteria e dos
valores da comunidade cigana
Possuem um sistema cultural
estruturado num tipo de cultura
aacutegrafa de transmissatildeo oral valori-
zam a aprendizagem praacutetica ape-
nas a suficiente para desempenha-
rem os seus trabalhos quotidianos
e consideram os ensinamentos
para aleacutem desta linha desnecessaacute-
rios
A escola eacute encarada um territoacuterio
desconhecido e ameaccedilador pois a
sociedade eacute uma estrutura hege-
moacutenica e como tal frequente-
mente discrimina a especificidade
e como consequecircncia a crianccedila
cigana sente-se inferior agrave maioria
Essa circunstacircncia que contribui
para o tatildeo frequente absentismo e
os baixos niacuteveis de sucesso escolar
Os ciganos satildeo instintivos e espon-
tacircneos logo de cultura pouco dis-
ciplinada
De espirito noacutemada valorizam a
liberdade e devido a isso dificil-
mente de acomodam se adaptam
e se inserem numa estrutura roti-
nizada como a escola Seratildeo ape-
nas os ciganos que natildeo se encon-
tram integrados
Os pais na sua grande maioria satildeo
feirantes e comerciantes indivi-
duais provavelmente devido ao
preconceito que gera dificuldade
de aproximaccedilatildeo e integraccedilatildeo social
em outra atividade
Fortemente etnocecircntricos pos-
suem leis internas valorizam a
uniatildeo do seu grupo e a manuten-
ccedilatildeo das suas tradiccedilotildees
Possuem um sotaque especiacutefico e
se recuarmos na histoacuteria constata-
remos que dispotildeem de uma liacutengua
de origem o Romani
A Musica a danccedila as festas gran-
diosas os casamentos precoces a
importacircncia da virgindade e o res-
peito pelos mais velhos satildeo outros
fatores que importa realccedilar quan-
do tentamos caracterizar este
povo cigano motivos pelos quais
satildeo fortemente estigmatizados
Como se encontra agora a sua
buacutessola de aceitaccedilatildeo do diferente
agora
Acredito que quando maior eacute o
conhecimento que obtemos sobre
determina-
do ele-
mento
diferente
mais esta-
remos proacute-
ximos de
os aceitar
e amar
Isso natildeo
quer dizer
que ceguemos a nossa visatildeo racio-
nal a atos humanos pouco dignos
que encontremos nesta ou em
outra cultura
O importante eacute conhecermos o
belo de cada cultura e encaramos
esse atos humanos pouco dignos
como algo que faz parte da huma-
nidade e jamais cairmos no erro
essencial de caracterizarmos esses
erros como fazendo parte de uma
cultura
Mesmo que racionalmente agrave pri-
meira vista seja isso que vecirc natildeo
alimente esse pensamento ldquoerva-
daninhardquo Grandes atrocidades que
foram cometidas no mundo come-
ccedilaram com esse pensamento erva-
daninha de que determinadas ati-
tudes negativas pertencem a
determinada classe
Como pode observar o pensamen-
to racional nem sempre nos con-
duz ao melhor caminho este eacute um
desses casos
Gerir empatia com loacutegica requer
uma mente que processe pensa-
mentos de forma flexiacutevel e multidi-
mensional Como conseguimos
isso Como sabemos se temos uma
mente flexiacutevel Essa questatildeo ficaraacute
para um proacuteximo textohellipateacute laacutehellip
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
31
Cercipoacutevoa A Cercipoacutevoa eacute parceira da APES
e nesta ediccedilatildeo fomos visitaacute-la para
conhecer o trabalho que desen-
volvem a equipa crianccedilas jovens
e adultos que a frequentam
A CeacuterciPoacutevoa eacute uma cooperativa
de solidariedade social fundada na
Poacutevoa de Santa Iria em Maio de
1977 por um grupo de pais e ami-
gos de crianccedilas e jovens portado-
res de deficiecircncia Esta Instituiccedilatildeo
presta vaacuterios serviccedilos a crianccedilas
jovens e adultos com deficiecircncia
ou sem deficiecircncia e apoia vaacuterias
famiacutelias desfavorecidas
Algumas das respostas sociais
serviccedilos satildeo
Centro de Apoio Soacutecio educativo ndash
Aqui eacute criado um projeto de vida
para cada crianccedila e jovem deficien-
te de acordo com as suas necessi-
dades e potencialidades de uma
forma o menos restritiva possiacutevel
Tem como objetivos o desenvolvi-
mento da autonomia e indepen-
decircncia pessoal a aprendizagem de
uma comunicaccedilatildeo alternativa o
aperfeiccediloamento da motricidade
global e fina e a promoccedilatildeo do rela-
cionamento interpessoal sempre
com a finalidade de fornecer bases
para a transiccedilatildeo para a vida adulta
As atividades satildeo feitas tanto em
sala de aula como no exterior
Centro de Atendimento Residen-
cial ndash Presta atendimento em Lar
Residencial a 30 pessoas portado-
ras de deficiecircncia mental maiores
de 16 anos que se encontram
impedidas de residir no seu meio
familiar
Centro de atividades ocupacionais
ndash Eacute destinado a pessoas com defi-
ciecircncia mental grave profunda ou
com multideficiecircncia com os obje-
tivos de facilitar o desenvolvimen-
to possiacutevel das capacidades rema-
nescentes das pessoas com defi-
ciecircncia grave criar condiccedilotildees para
uma maior autonomia e proporcio-
nar a oportunidade de realizaccedilatildeo
pessoal As atividades satildeo variadas
desde as sensoacuterio-ocupacionais agraves
laborais e laborais em contexto de
trabalho
Centro de Recursos para a Inclu-
satildeo ndash Estrutura que disponibiliza
teacutecnicos especializados para traba-
lhar nas escolas atraveacutes de uma
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
32
parceria com o Ministeacuterio de Edu-
caccedilatildeo para prestaccedilatildeo de serviccedilos
complementares para apoio agrave
inclusatildeo
Centro de Intervenccedilatildeo e Orienta-
ccedilatildeo Precoce ndash Consiste na inter-
venccedilatildeo em crianccedilas dos 0 aos 6
anos com deficiecircncia ou atraso
grave no desenvolvimento assim
que detetado Para aleacutem de se
assegurar condiccedilotildees facilitadoras
do desenvolvimento da crianccedila
apoia tambeacutem os pais
ATL Centro de atividades luacutedicas e
expressivas ndash Frequentado por
crianccedilas dos 1ordm 2ordm e 3ordm ciclos e de
Jardins de Infacircncia da aacuterea nos
tempos livres
Cantina Social ndash Que apoia 100
pessoas no acircmbito do Programa
de Emergecircncia Alimentar
Programa Comunitaacuterio de ajuda
alimentar a carenciados ndash Que
apoia 75 pessoas atraveacutes do forne-
cimento de geacuteneros alimentares
O entusiasmo e dedicaccedilatildeo que os
profissionais que trabalham nesta
Instituiccedilatildeo tecircm pelo seu trabalho eacute
notoacuterio como podemos verificar
nos testemunhos que deram para
o nosso Boletim
Eacute a minha vida eacute fazer aquilo que
gosto Aleacutem de uma grande res-
ponsabilidade eacute um orgulho muito
grande poder contribuir para a
qualidade dos serviccedilos que presta-
mos agrave Comunidade em geral e agrave
pessoa com deficiecircncia em particu-
lar O meu trabalho eacute um trabalho
vasto e abrangente Acima de tudo
eacute um trabalho e apoio e de garantir
que todas as aacutereas e serviccedilos
desenvolvam o seu traba-
lho Quando necessaacuterio e satildeo bas-
tantes vezes carrego moacuteveis
biombos cadeiras alimentos faccedilo
de motorista desentupo canos
faccedilo de jardineiro enfim o que
seja necessaacuterio Todos os dias satildeo
um desafiomas em nossa casa
fazemos o que eacute necessaacuterio
Luiacutes Carlos Santos ndash Diretor Geral
da Cercipoacutevoa
Enfim monotonia natildeo eacute algo que
eu sinta no meu dia-a-dia e espe-
cialmente porque me sinto muito
realizada no trabalho que desen-
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
33
volvo Gosto muito de trabalhar na
Cercipoacutevoa sobretudo pelas pes-
soas com quem trabalho que me
fazem sentir que vale a pena dar-
mos tudo que sabemos e temos
nesta causa que partilhamos em
conjunto
Teresa Pedras Psicoacuteloga ndash Direto-
ra Teacutecnica do Centro de Orienta-
ccedilatildeo Precoce e Coordenadora Teacutec-
nica do Centro de Recursos para a
inclusatildeo
Para mim trabalhar na Cercipoacutevoa
eacute um privileacutegio mas tambeacutem uma
grande responsabilidade saber
que diariamente os nossos jovens
contam com a nossa presenccedila para
os ajudar na satisfaccedilatildeo das suas
necessidades garantindo desta
forma a sua qualidade de vida e o
seu bem-estar Eacute uma felicidade
saber que diariamente podemos
fazer a diferenccedila na vida de
algueacutem tatildeo especial como os nos-
sos utentes
Cristina Silva ndash Professora
Trabalhar na Cerci para mim eacute a
minha vida e natildeo me vejo a traba-
lhar noutra coisa porque viver
para estes utentes e fazer algo por
eles todos os dias eacute sentir-me reali-
zada todos os dias Os meus dias
de trabalho na Cerci satildeo dias de
muito trabalho e animaccedilatildeo Satildeo
dias tambeacutem de terapia emocional
quando me sinto mais em baixo de
forma Claro que existem dias
melhores e dias piores mas com
boa vontade e bom senso tudo se
vai resolvendo
Paula Louccedilatildeo ndash Monitora
Conversaacutemos tambeacutem com a Ana
Paula Serrano uma Utente da Cer-
cipoacutevoa que nos contou as vaacuterias
atividades que preenchem o seu
dia-a-dia
Acordo por volta das 0630h (eu
normalmente acordo a esta hora)
Com a ajuda das funcionaacuterias faccedilo
a minha higiene pessoal indo
depois pelas 8 horas tomar o
pequeno almoccedilo tudo isto no CAR
Desccedilo para o CAO mais ou menos
agraves 0840 fico na sala das saiacutedas Agraves
0900h vamos para as respetivas
salas onde realizo algumas ativi-
dades A atividade diaacuteria eacute o emba-
lamento de talheres onde fico com
os meus colegas ateacute mais ou
menos agraves 11h Haacute dias em que
tenho atividades desportivas como
o pavilhatildeo e piscina Pelas 12h vou
almoccedilar ao refeitoacuterio regressando
depois agrave sala pelas 13h onde ldquobato
uma sornardquo (descanso um pouco)
O resto da tarde realizo atividades
luacutedicas Eu faccedilo parte de um grupo
de danccedila pelo que em determina-
dos dias tenho ensaios Tenho ain-
da aulas de Competecircncias Pessoais
e Sociais e sessotildees de terapia da
fala Lancho pelas 1530 Regresso
ao CAR pelas 17h No CAR fico a
aguardar pelas 19 horas que eacute a
hora do jantar vou andando de um
lado para outro conversando com
as funcionaacuterias e alguns colegas
com quem me identifico Aproveito
tambeacutem para ler e ver algumas
revistas Janto pelas 19 horas e
depois vejo televisatildeo ateacute agraves 23h
que eacute a hora em que me vou deitar
ateacute ao outro dia
Frequentar a Cerci eacute bom porque
tenho atividades e saiacutedas Se esti-
vesse em casa natildeo tinha esse tipo
de coisas Eacute uma forma de passar o
tempo os dias tornam-se mais
faacuteceis e raacutepidos de passar
A equipa da APES congratula a Cer-
cipoacutevoa pelo trabalho tatildeo impor-
tante que realiza e aproveita tam-
beacutem para agradecer a ajuda que
sempre tem dado agrave APES Obrigada
pela visita
34
Biblioteca APES
35
36
34
Biblioteca APES
35
36
35
36
36