Bovinos - MODELO - grupocultivar.com.br · Comércio Exterior (MDIC), aprovada pelo Fórum de...

2
Baixa qualidade Exposição a agentes agressores deprecia o couro brasileiro, que perde valor e mercado. Propostas indicam a tendência de valorização da matéria-prima, com melhores preços ao produtor / Couro / O Brasil possui o mai- or rebanho bovino comercial do mun- do, com cerca de 176 milhões de cabeças (IBGE, 2001). A produção anual de cou- ros representa 18,5% deste total, atingin- do o patamar de 32,5 milhões de peles e colocando o país em segundo lugar no ranking dos países produtores. Os Esta- dos Unidos, cujo rebanho está estabiliza- do em 100 milhões de cabeças, ocupa a primeira posição, com 36 milhões de cou- ros ao ano. Essa situação é reflexo, em primeira instância, do baixo desfrute do rebanho brasileiro (aproximadamente 19%) em comparação ao daquele país, que tem alcançado índices de até 36%. A baixa taxa de desfrute do rebanho brasileiro é ocasionada principalmente pe- los sistemas extensivos de criação, predo- minantes nas mais variadas regiões pro- dutoras de gado de corte do país. Além disso, o manejo dos animais, por vezes inadequado, influencia diretamente a pro- dutividade do rebanho, prolongando o tempo necessário para terminação dos bovinos, que têm sido abatidos, em mé- dia, com 40 meses de idade. A conseqü- ência disso é a maior exposição do couro aos agentes agressores, reduzindo a quali- dade da matéria-prima. Muito inferior Apesar da posição de destaque con- quistada pelo Brasil no tocante à produ- ção de couro bovino, a qualidade apre- sentada pelas peles ainda é muito inferi- or à desejada. Enquanto nos Estados Unidos 85% das peles são classificadas como sendo de 1ª (melhor qualidade), aqui esse índice é de apenas 8,5%. Por esse motivo, o preço pago por quilo de couro verde brasileiro representa 50% do valor pago ao americano. Estudos indicam que 60% dos defei- tos no couro ocorrem na propriedade rural e são ocasionados, principalmente, por marca a fogo em local proibido pela legislação, arame farpado, uso de ferrão, perfuração (por galhos, parafusos, lascas de madeira etc.) e ectoparasitos. Os de- mais 40% ocorrem em função do trans- porte inadequado (caminhões mal con- servados e fora das especificações técni- cas), da esfola incorreta e da salga insufi- ciente do couro verde. Esforço conjunto Para resolver esses e outros proble- mas do setor produtivo é necessário o esforço conjunto de todos os elos com- ponentes da cadeia no sentido de otimi- zar as ações desenvolvidas pelas partes. No âmbito da empresa rural, o pecuaris- ta deve fazer uso de cercas de arame liso, vistoriar os currais para verificar presen- ça de lascas de madeira ou parafusos pro- eminentes, substituir objetos pontiagudos usados na condução dos animais, marcar os animais a fogo apenas nos locais per- mitidos pela legislação - ABNT 10.453 - (cara, joelhos, pescoço e canelas), manter as pastagens limpas e fazer a vermifuga- ção estratégica do rebanho. Cabe ressal- tar que esses pequenos ajustes no manejo Exposição a agentes agressores deprecia o couro brasileiro, que perde valor e mercado. Propostas indicam a tendência de valorização da matéria-prima, com melhores preços ao produtor Baixa qualidade Enquanto nos Estados Unidos 85% das peles são classificadas como sendo de 1ª (melhor qualidade), aqui esse índice é de apenas 8,5% l outubro2003 l l.12 l lwww.cultivar.inf.br l v ABQTIC

Transcript of Bovinos - MODELO - grupocultivar.com.br · Comércio Exterior (MDIC), aprovada pelo Fórum de...

BaixaqualidadeExposição a agentes agressores deprecia o couro brasileiro, queperde valor e mercado. Propostas indicam a tendência devalorização da matéria-prima, com melhores preços ao produtor

/ Couro /

OBrasil possui o mai-or rebanho bovinocomercial do mun-do, com cerca de 176milhões de cabeças

(IBGE, 2001). A produção anual de cou-ros representa 18,5% deste total, atingin-do o patamar de 32,5 milhões de peles ecolocando o país em segundo lugar noranking dos países produtores. Os Esta-dos Unidos, cujo rebanho está estabiliza-do em 100 milhões de cabeças, ocupa aprimeira posição, com 36 milhões de cou-ros ao ano. Essa situação é reflexo, emprimeira instância, do baixo desfrute dorebanho brasileiro (aproximadamente19%) em comparação ao daquele país, quetem alcançado índices de até 36%.

A baixa taxa de desfrute do rebanhobrasileiro é ocasionada principalmente pe-los sistemas extensivos de criação, predo-minantes nas mais variadas regiões pro-dutoras de gado de corte do país. Alémdisso, o manejo dos animais, por vezesinadequado, influencia diretamente a pro-dutividade do rebanho, prolongando o

tempo necessário para terminação dosbovinos, que têm sido abatidos, em mé-dia, com 40 meses de idade. A conseqü-ência disso é a maior exposição do couroaos agentes agressores, reduzindo a quali-dade da matéria-prima.

Muito inferior

Apesar da posição de destaque con-quistada pelo Brasil no tocante à produ-ção de couro bovino, a qualidade apre-sentada pelas peles ainda é muito inferi-or à desejada. Enquanto nos EstadosUnidos 85% das peles são classificadascomo sendo de 1ª (melhor qualidade),aqui esse índice é de apenas 8,5%. Poresse motivo, o preço pago por quilo decouro verde brasileiro representa 50% dovalor pago ao americano.

Estudos indicam que 60% dos defei-tos no couro ocorrem na propriedaderural e são ocasionados, principalmente,por marca a fogo em local proibido pelalegislação, arame farpado, uso de ferrão,perfuração (por galhos, parafusos, lascas

de madeira etc.) e ectoparasitos. Os de-mais 40% ocorrem em função do trans-porte inadequado (caminhões mal con-servados e fora das especificações técni-cas), da esfola incorreta e da salga insufi-ciente do couro verde.

Esforço conjunto

Para resolver esses e outros proble-mas do setor produtivo é necessário oesforço conjunto de todos os elos com-ponentes da cadeia no sentido de otimi-zar as ações desenvolvidas pelas partes.No âmbito da empresa rural, o pecuaris-ta deve fazer uso de cercas de arame liso,vistoriar os currais para verificar presen-ça de lascas de madeira ou parafusos pro-eminentes, substituir objetos pontiagudosusados na condução dos animais, marcaros animais a fogo apenas nos locais per-mitidos pela legislação - ABNT 10.453 -(cara, joelhos, pescoço e canelas), manteras pastagens limpas e fazer a vermifuga-ção estratégica do rebanho. Cabe ressal-tar que esses pequenos ajustes no manejo

Exposição a agentes agressores deprecia o couro brasileiro, queperde valor e mercado. Propostas indicam a tendência devalorização da matéria-prima, com melhores preços ao produtor

Baixaqualidade

Enquanto nosEstados Unidos85% das pelessão classificadascomo sendo de1ª (melhorqualidade), aquiesse índice é deapenas 8,5%

l outubro 2003 ll .12 l l www.cultivar.inf.br lv

ABQT

IC

Mariana de Aragão PereiraEmbrapa Gado de Corte

trazem benefício não apenas para o cou-ro, mas sobretudo à produção de carne,uma vez que animais debilitados perdempeso e têm seu desempenho limitado.

Cuidados no transporte

Ao setor de transportes cabe a ade-quação dos caminhões, evitando cantosvivos, parafusos expostos, tábuas pontia-gudas e pisos escorregadios. Além disso,é necessário que se estabeleçam a norma-lização do transporte de animais e a fis-calização pelo governo. Nos frigoríficos,os processos de esfola e conservação docouro verde devem ser aprimorados pormeio de capacitação de pessoal. Já os cur-tumes devem associar-se ao governo e in-vestir em programas de melhoria do cou-ro, a exemplo do Programa de Melhoria

18 de dezembro de 2002, estabelecendo oSistema de Classificação de Couro Bovi-no. Segundo essa Instrução, os “critériospara qualificação do couro bovino, visan-do sua valorização comercial” sãodescri-tas na tabela.

Porém, a proposta apresentada pelo Mi-nistério do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior (MDIC), aprovada peloFórum de Competitividade de Couro e Cal-çados, composto por representantes do setorprodutivo, das indústrias de frigoríficos e cur-tumes, órgãos governamentais e instituiçõesde pesquisa, diverge em alguns aspectos destaestabelecida pelo MAPA, em especial no quese refere à tolerância de marca a fogo no “Cou-ro tipo C”.

Divergências à parte, no âmbito insti-tucional tem-se buscado soluções para a pro-blemática da qualidade do couro, visto a im-portância desse produto e de seus derivadosna pauta de exportação e na geração de ren-da e emprego à população. Mais do que umasolução definitiva, o Sistema de Classifica-ção de Couro Bovino é o primeiro indíciode que há uma tendência de valorização dessamatéria-prima, sinalizando ao setor produ-tivo os caminhos que se pretende trilhar

MAPA

, 200

2

DEFEITOS NATURAISCouro Tipo A

Couro Tipo B

Couro Tipo C

CARRAPATOTolerado na barriga

Tolerado na barriga

Tolerado

BERNE CURADONão tolerado

Tolerado fora do grupon

Tole. até 4 marcas no grupon

PLACA DE BERNENão tolerada

Não tolerada

Tolerada fora do grupon

RISCO ABERTONão tolerado

Não tolerado

Tolerado fora do grupon

RISCO CICATRIZADONão tolerado

Tolerado fora do grupon

Tolerado

MARCA A FOGONão tolerada

Não tolerada

Tolerada

Locais de marcas nos animais determinados pela Lei nº 4.714/65

Condições para a marcação

• As marcas devem ter tamanho máximo de um círculo com 11 cm de diâmetro;• A marcação deve ser feita de modo a evitar defeitos a parte do couro de maior utilidade, denominadogrupão/grupon (conforme figura);• Os locais de marcação devem ser seriados, a fim de caracterizar a transferência de propriedades.

Para Mariana, couro de qualidade éresponsabilidade de toda a cadeia

Estudos indicamque 60% dosdefeitos no couroocorrem napropriedade rurale sãoocasionados,principalmente,por marca a fogoem local proibidopela legislação,arame farpado,uso de ferrão,perfuração eectoparasitos

l outubro 2003 l l www.cultivar.inf.br l l .13 l v

Embrapa Gado de Corte

da Qualidade do Couro Cru, estabeleci-do pelo Centro de Indústrias de Curtu-mes do Brasil - CICB e pela Agência dePromoção de Exportações - APEX.

Outros esforços relevantes têm sidoconduzidos no sentido de estimular a qua-lidade do couro bovino. O Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA) publicou no Diário Oficial daUnião a Instrução Normativa nº 12, de

daqui em diante. Um deles, certamente, pas-sa pelo incentivo à melhoria da qualidadedo couro, via bonificação ao produtor. Pro-va disso foi a proposta do MAPA encami-nhada ao Conselho Monetário Nacional(CMN), estabelecendo para o couro bovinoum preço mínimo de referência de R$90,00,com benefício nas operações de EGF para aprodução de 2003 dos curtumes. Entretan-to, para que o sistema seja posto em prática,tornou-se requisito principal a remuneraçãoao produtor pela qualidade do couro pro-duzido.

Diante desse contexto, os pecuaristas de-vem ser pró-ativos e estar preparados parausufruir do programa, quando da sua im-plantação. Para tanto, é necessário procedera mudanças, de forma a adequar, gradativa-mente, o manejo a essa nova perspectiva eco-nômica. Vale lembrar que, geralmente, asmelhorias introduzidas em sistemas de pro-dução de gado de corte dão resultados amédio e longo prazos. Portanto, para que setenha um couro de qualidade no futuro épreciso começar a investir hoje.