Bras. Aula 4. Crítica e Resignação.pdf

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Flavia de Paiva Brites Martins No livro Crítica e Resignação, o professor Gabriel Cohn apresenta um Weber que surge e ressurge como a invenção de uma opção nova em um campo dominado por grandes forças conceituais em batalha, apesar dessas irem mudando ao longo da obra. A impressão que eu tive é que o prof. Cohn estabelece uma figura do seu personagem Weber como um herói da autonomia, por debaixo de sua resignação. Como composição poética, há que se considerar uma narrativa que se inicia com o que o próprio autor chama de “o mundo dividido” que parece estabelecer esses campos de força que percorrem a obra dedicada a Weber. O personagem Weber, da narrativa cohniana surge como um herói que parece, ao início, estabelecer posições conciliadoras entre os campos em disputa, neste caso, o lukácsiano e o durkheimiano, mas que por fim toma deles aquilo que ele necessita, sem se comprometer com nenhum, acabando por desejar, por vias indiretas, "a plague on both of your houses” (p. 9). Nesse primeiro sentido, a narrativa cohniana é uma saga conceitual do estabelecimento da autonomia do terceiro dos que informalmente são chamados 3 porquinhos da sociologia. Estabelecendo desde início o caráter desse personagem não só como o portador da novidade, bem como um herói de uma coerência levado aos limites do suportável, e como um herói da parrésia, a coragem de falar a verdade. Ele se coloca entre o naturalismo positivista e a totalidade espiritual irredutível a leis em uma Alemanha atrasada, mas plena de possibilidades, da mesma forma como Gabriel Cohn talvez tenha se visto, entre durkheimianos e marxistas em, digamos assim, uma situação ambígua, porém promissora? A narrativa construída no livro é fascinante, não deixando de ter muita qualidade, mas, suspeito, podendo conter alguns possíveis exageros pontuais no estabelecimento do valor de autonomia que define o Weber construído pelo professor Cohn em seu próprio esforço, pelo qual sou grata, para cavar na rocha dura da sua universidade a possibilidade de uma posição weberiana. Essa é a primeira vez que eu leio o livro e essa pode ser uma impressão injusta, se bem que não deixa de ser respeitosa pelo imenso esforço do professor Cohn em trazer uma grande multiplicidade de autores para o debate com um autor como Weber que, de fato, debateu com uma multiplicidade de autores. Me chamou a atenção, na verdade, um nó de questões que se encontram juntos na p. 80: 1) a consideração do prof. Cohn segundo a qual, para Weber, não só os próprios fenômenos sociais sempre envolveriam valores, o que está claro na construção dos textos analisados na aula passada, mas o fato um pouco distinto de que Weber consideraria que o analista deve sempre levar os valores em jogo em sua análise – e isso seria bastante mais radical do que eu havia interpretado – por não haver análise possível sem a perspectiva valorativa. Em outras palavras, para Weber, não seria absolutamente possível fazer sociologia sem a consideração de valores? Esta é uma dúvida. e 2) Achei muito interessante a discussão sobre liberdade contra Windelband (p. 80), que me lembrou Foucault. 3) Um ponto que eu tenderia a discordar do professor Cohn seria a ideia de que Weber defenderia que a previsibilidade do conhecimento científico da ação humana fosse, para Weber, maior do que a dos fenômenos naturais. (p. 80). 4) (p. 116) Concordo e acho importante frisar que não há qualquer afinidade entre o hegelianismo e o weberianismo, mas por uma razão que me parece diversa da exposta pelo professor.

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  • Flavia de Paiva Brites Martins

    No livro Crtica e Resignao, o professor Gabriel Cohn apresenta um Weber que surge e ressurge comoa inveno de uma opo nova em um campo dominado por grandes foras conceituais em batalha,apesar dessas irem mudando ao longo da obra. A impresso que eu tive que o prof. Cohn estabeleceuma figura do seu personagem Weber como um heri da autonomia, por debaixo de sua resignao.Como composio potica, h que se considerar uma narrativa que se inicia com o que o prprio autorchama de o mundo dividido que parece estabelecer esses campos de fora que percorrem a obradedicada a Weber. O personagem Weber, da narrativa cohniana surge como um heri que parece, aoincio, estabelecer posies conciliadoras entre os campos em disputa, neste caso, o lukcsiano e odurkheimiano, mas que por fim toma deles aquilo que ele necessita, sem se comprometer comnenhum, acabando por desejar, por vias indiretas, "a plague on both of your houses (p. 9). Nesseprimeiro sentido, a narrativa cohniana uma saga conceitual do estabelecimento da autonomia doterceiro dos que informalmente so chamados 3 porquinhos da sociologia. Estabelecendo desde incio ocarter desse personagem no s como o portador da novidade, bem como um heri de uma coerncialevado aos limites do suportvel, e como um heri da parrsia, a coragem de falar a verdade. Ele secoloca entre o naturalismo positivista e a totalidade espiritual irredutvel a leis em uma Alemanhaatrasada, mas plena de possibilidades, da mesma forma como Gabriel Cohn talvez tenha se visto, entredurkheimianos e marxistas em, digamos assim, uma situao ambgua, porm promissora? A narrativaconstruda no livro fascinante, no deixando de ter muita qualidade, mas, suspeito, podendo conteralguns possveis exageros pontuais no estabelecimento do valor de autonomia que define o Weberconstrudo pelo professor Cohn em seu prprio esforo, pelo qual sou grata, para cavar na rocha durada sua universidade a possibilidade de uma posio weberiana.Essa a primeira vez que eu leio o livro e essa pode ser uma impresso injusta, se bem que no deixade ser respeitosa pelo imenso esforo do professor Cohn em trazer uma grande multiplicidade deautores para o debate com um autor como Weber que, de fato, debateu com uma multiplicidade deautores.Me chamou a ateno, na verdade, um n de questes que se encontram juntos na p. 80:1) a considerao do prof. Cohn segundo a qual, para Weber, no s os prprios fenmenos sociaissempre envolveriam valores, o que est claro na construo dos textos analisados na aula passada, maso fato um pouco distinto de que Weber consideraria que o analista deve sempre levar os valores emjogo em sua anlise e isso seria bastante mais radical do que eu havia interpretado por no haveranlise possvel sem a perspectiva valorativa. Em outras palavras, para Weber, no seria absolutamentepossvel fazer sociologia sem a considerao de valores? Esta uma dvida. e2) Achei muito interessante a discusso sobre liberdade contra Windelband (p. 80), que me lembrouFoucault.3) Um ponto que eu tenderia a discordar do professor Cohn seria a ideia de que Weber defenderia quea previsibilidade do conhecimento cientfico da ao humana fosse, para Weber, maior do que a dosfenmenos naturais. (p. 80).4) (p. 116) Concordo e acho importante frisar que no h qualquer afinidade entre o hegelianismo e oweberianismo, mas por uma razo que me parece diversa da exposta pelo professor.

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