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Relaes BrasilEstados UnidosAssimetrias e Convergncias

www.saraivauni.com.br

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Paulo Roberto de Almeida Rubens Antnio Barbosa (Organizadores)

Relaes BrasilEstados UnidosAssimetrias e Convergncias

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ISBN 85-02-05385-XAv. Marqus de So Vicente, 1697 CEP 01139-904 Barra Funda Tel.: PABX (0XX11) 3613-3000 Fax: (11) 3611-3308 Televendas: (0XX11) 3613-3344 Fax Vendas: (0XX11) 3611-3268 So Paulo SP Endereo Internet: http://www.editorasaraiva.com.br

CIPBRASIL. CATALOGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. Relaes BrasilEstados Unidos : assimetrias e convergncias / Paulo Roberto de Almeida, Rubens Antnio Barbosa (organizadores) So Paulo : Saraiva, 2006. ISBN 85-02-05385-X 1. Brasil Relaes exteriores Estados Unidos. 2. Estados Unidos Relaes exteriores Brasil. 3. Brasil Relaes econmicas exteriores Estados Unidos. 4. Estados Unidos Relaes econmicas exteriores Brasil. 5. Desenvolvimento econmico. I. Almeida, Paulo Roberto de, 1949. II. Barbosa, Rubens Antnio. 05-2590 CDD 327.81073 CDU 327(81):(73)

Distribuidores RegionaisAMAZONAS/RONDNIA/RORAIMA/ACRE Rua Costa Azevedo, 56 Centro Fone/Fax: (0XX92) 633-4227 / 633-4782 Manaus BAHIA/SERGIPE Rua Agripino Drea, 23 Brotas Fone: (0XX71) 3381-5854 / 3381-5895 / 3381-0959 Salvador BAURU/SO PAULO (sala dos professores) Rua Monsenhor Claro, 2-55/2-57 Centro Fone: (0XX14) 3234-5643 3234-7401 Bauru CAMPINAS/SO PAULO (sala dos professores) Rua Camargo Pimentel, 660 Jd. Guanabara Fone: (0XX19) 3243-8004 / 3243-8259 Campinas CEAR/PIAU/MARANHO Av. Filomeno Gomes, 670 Jacarecanga Fone: (0XX85) 3238-2323 / 3238-1331 Fortaleza DISTRITO FEDERAL SIG Sul Qd. 3 Bl. B Loja 97 Setor Industrial Grco Fone: (0XX61) 344-2920 / 344-2951 / 344-1709 Braslia GOIS/TOCANTINS Av. Independncia, 5330 Setor Aeroporto Fone: (0XX62) 225-2882 / 212-2806 / 224-3016 Goinia MARANHO R. Godofredo Viana, 546 Centro Fone: (0XX99) 524-0032 Imperatriz MATO GROSSO DO SUL/MATO GROSSO Rua 14 de Julho, 3148 Centro Fone: (0XX67) 382-3682 / 382-0112 Campo Grande MINAS GERAIS Rua Alm Paraba, 457 Bonm Fone: (0XX31) 3429-8300 Belo Horizonte PAR/AMAP Travessa Apinags, 186 Batista Campos Fone: (0XX91) 3222-9034 / 3224-9038 / 3241-0499 Belm PARAN/SANTA CATARINA Rua Conselheiro Laurindo, 2895 Prado Velho Fone: (0XX41) 3332-4894 Curitiba PERNAMBUCO/PARABA/R. G. DO NORTE Rua Corredor do Bispo, 185 Boa Vista Fone: (0XX81) 3421-4246 / 3421-4510 Recife RIBEIRO PRETO/SO PAULO Av. Francisco Junqueira, 1255 Centro Fone: (0XX16) 610-5843 / 610-8284 Ribeiro Preto RIO DE JANEIRO/ESPRITO SANTO Rua Visconde de Santa Isabel, 113 a 119 Vila Isabel Fone: (0XX21) 2577-9494 / 2577-8867 / 2577-9565 Rio de Janeiro RIO GRANDE DO SUL Av. Cear, 1360 So Geraldo Fone: (0XX51) 3343-1467 / 3343-7563 / 3343-2986 / 3343-7469 Porto Alegre SO JOS DO RIO PRETO/SO PAULO (sala dos professores) Av. Brig. Faria Lima, 6363 Rio Preto Shopping Center V. So Jos Fone: (0XX17) 227-3819 / 227-0982 / 227-5249 So Jos do Rio Preto SO JOS DOS CAMPOS/SO PAULO (sala dos professores) Rua Santa Luzia, 106 Jd. Santa Madalena Fone: (0XX12) 3921-0732 So Jos dos Campos SO PAULO Av. Marqus de So Vicente, 1697 Barra Funda Fone: PABX (0XX11) 3613-3000 / 3611-3308 So Paulo

Copyright : Paulo Roberto de Almeida, Rubens Antnio Barbosa, Lincoln Gordon, Thomas Skidmore, Eduardo Viola, John DeWitt, Eliana Cardoso, Joseph Love, Jeffrey Schott, Marcelo de Paiva Abreu, Paolo Giordano, Thomaz Guedes da Costa, Peter Hakim. 2006 Editora Saraiva Todos os direitos reservados.

Diretor editorial: Henrique Farinha Gerente editorial: Flvia Helena Dante Alves Bravin Editor: Marcio Coelho Marketing editorial: Diana Alcantara Nastri Cerveira Desenvolvimento editorial: Rita de Cssia da Silva Produo editorial: Juliana Rodrigues de Queirz Viviane Rodrigues Nepomuceno Reviso: Flvia Reis da Costa Menezes Apndice cronolgico: colaborao de Eduarda Villanova Coordenadora de reviso (heliogrca): Livia M. Giorgio Arte e produo: Marco Zero Capa: Marco Zero

Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva. A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

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Nos Estados Unidos, (...) os bancos do mais dinheiro imaginrio, fazem os particulares empreendedores [irem] alm das suas posses reais; eis porque h tantas rotas [falncias] e quebras. (...) Uma prova da pobreza das famlias nos Estados Unidos (...) a grande quantidade de boardings e lodgings (...) quase todas as casas admitem gente para morar e comer por uma certa paga; ora, isso no aconteceria se eles tivessem dinheiro (...). A outra prova da pobreza desta terra que as rendas [impostos] so pagas quase todas em frutos [produtos] (...) (4 e 12 de junho de 1799) Indubitavelmente, o comrcio dos Estados Unidos demasiado, no sendo por nenhum modo proporcionado agricultura e [] produo do pas. [O] resultado que eles tm desprezado a agricultura, e empregado-se de tal modo ao comrcio, que a paixo dominante; a especulao o esprito pblico; o dinheiro a nica virtude que ambicionam. (14 de julho de 1799) Hiplito Jos da Costa, Dirio da minha viagem para a Filadla (17981799)

No Brasil fala-se muito bem ou muito mal dos Estados Unidos. Seus admiradores o apontam como o nico modelo a seguir sem discrepncias, o melhor gurino a copiar nos mais ligeiros pormenores, sem cogitarem da diferena dos meios, das respectivas tradies nacionais e dos costumes de cada povo. Os seus detratores os culpam de todos os crimes, desde a ambio devoradora de terras e de nacionalidades at a corrupo poltica e social mais desbragada. parte dos exageros do fanatismo, a verdade est incomparavelmente mais com os primeiros. pelo menos o que ensinou-me uma estada de trs anos no grande pas americano, que eu tanto desejaria ver imitado pelo meu no ingente progresso material, sem o qual a verdadeira cultura hoje um sonho, e ao mesmo tempo, no so discernimento dos males da demagogia, na tolerncia, na paixo pelo estudo, na energia individual, na vontade perseverante de atingir a perfeio. Manoel de Oliveira Lima, Nos Estados Unidos: impresses polticas e sociais (1899)

Venho a Washington para trazer, do Brasil, uma mensagem de amizade. Pretendo (...) dar incio a quatro anos de convivncia franca, construtiva e benca entre os nossos dois pases. Brasil e Estados Unidos tm muito em comum. Detm, no continente, as duas maiores populaes. Somos democracias pujantes, com economias complexas e industrializadas. Brasil e Estados Unidos constituem um rico mosaico de etnias, credos, histrias e culturas. So naes de imigrantes e de oportunidades. Brasil e Estados Unidos so a expresso de um mesmo sonho de liberdade, oportunidades justas e mobilidade social. Essas anidades, necessariamente condicionadas pelos diferentes estgios de desenvolvimento em que nos encontramos, devem ser a base do entendimento entre Brasil e Estados Unidos. Presidente eleito Luiz Incio Lula da Silva, National Press Club, Washington, 10 de dezembro de 2002

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Sobre os AutoresEsto relacionados aqui, acompanhados de suas notas curriculares, todos os autores e debatedores do seminrio sobre as relaes BrasilEstados Unidos (Brazil and United States in a Changing World: political, economic, and diplomatic relations in regional and international contexts), organizado pela Embaixada do Brasil em Washington, com a colaborao ativa do Programa Brasil, do Woodrow Wilson International Center for Scholars (WWIC), e realizado em Washington, no WWIC, em 4 de junho de 2003, que contou ainda com a participao especial, como palestrante, do embaixador Roger Noriega, ento Secretrio de Estado Assistente para o Hemisfrio Ocidental do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Atuaram como organizadores o professor Lus Bitencourt, do WWIC, e o socilogo e diplomata Paulo Roberto de Almeida, ento ministro-conselheiro na Embaixada em Washington. Contato com os autores: [email protected].

Eduardo ViolaNascido em Buenos Aires, na Argentina, em 1949, vive no Brasil desde 1976 e naturalizou-se brasileiro em 1990. Doutorado em Cincia Poltica pela Universidade de So Paulo (1981) e ps-doutorado em Economia Poltica Internacional pela Universidade de Colorado (1991). professor titular no Instituto de Relaes Internacionais da Universidade de Braslia desde 1992. Publicou trs livros e mais de 70 artigos em revistas (de nove pases) sobre problemas de globalizao e governabilidade, segurana internacional, poltica ambiental internacional, transies comparadas para a democracia e regimes polticos na Argentina e no Brasil. Foi professor visitante nas seguintes universidades: Stanford, Colorado e Notre Dame nos Estados Unidos; Amsterd nos Pases Baixos; Bonn na Alemanha; Buenos Aires e San Martin na Argentina; Unicamp, UFSC e UFRGS no Brasil; e Nacional na Costa Rica. Foi consultor dos ministrios brasileiros de Cincia e Tecnologia, Educao e Meio Ambiente. atualmente membro do Comit sobre Mudana Ambiental Global da Academia Brasileira de Cincias, da Comisso Nacional de Populao e Desenvolvimento e do Comit Internacional sobre as Dimenses Humanas da Mudana Ambiental Global. E-mail: [email protected].

Eliana CardosoPh.D. em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), consultora independente e Especialista Visitante na Universidade de Georgetown,

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em Washington, DC. Foi professor William Clayton na Fletcher School of Diplomacy (Universidade de Tufts, em Boston, Massachusetts) e tambm professora visitante ps-graduada de Economia no MIT e na Universidade de Yale (New Haven, Connecticut). Atuou como Economista Chefe e Gerente de Setor no Banco Mundial, como Secretria para Assuntos Internacionais no Ministrio da Fazenda do Brasil e como Consultora no Departamento de Pesquisa do Fundo Monetrio Internacional. Publicou mais de 100 ensaios sobre dvida, inao e desenvolvimento em revistas acadmicas. Escreve uma coluna semanal para o jornal Valor Econmico. Desde 2004 professora na FGV-SP.

Jeffrey SchottBacharel graduado magna cum laude pela Universidade de Washington, St. Louis (1971) e Mestre com distino em relaes internacionais pela School of Advanced International Studies da Johns Hopkins University (Baltimore, Maryland, 1973). Pesquisador avanado do Institute for International Economics. Durante seu mandato no Instituto, Jeffrey Schott tambm foi conferencista visitante na Universidade de Princeton (New Jersey, 1994) e professor adjunto na Universidade de Georgetown (Washington, DC, 19861988). Anteriormente, foi ps-graduado avanado no Carnegie Endowment for International Peace (19821983) e funcionrio do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos (19741982) nas reas de comrcio internacional e poltica energtica. Durante a Rodada Tquio de negociaes multilaterais de comrcio do Gatt, foi membro da delegao dos Estados Unidos que negociou o Cdigo de Subsdios do Gatt. Autor, co-autor ou editor de vrios livros sobre comrcio, incluindo Prospects for free trade in the Americas (2001), Free trade between Korea and the United States? (2001), Nafta and the environment: Seven years late (2000), The WTO after Seattle (2000), Launching new global trade talks: An action agenda (1998), Restarting fast track (1998) e The world trading system: Challenges ahead (1996).

John DeWittMestre e Ph.D. pela Universidade da Flrida. Funcionrio do Servio Exterior do Departamento de Estado durante 25 anos, esteve na Frana, Brasil, Equador, Colmbia e Mxico. Seis anos no Brasil incluem pesquisa graduada na Bahia, designao para o Servio Exterior em Braslia e no Rio de Janeiro e residncia em Curitiba e Barra Mansa. Aps aposentar-se do Servio Exterior, DeWitt ensinou geograa durante 11 anos na Universidade de Radford (Virgnia) e deu vrios cursos

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SOBRE OS AUTORES

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de pequena durao na Universidade Federal de Pernambuco. Recentemente foi professor adjunto na Universidade da Flrida. autor de Early globalization and the economic development of United States and Brazil (Greenwood Publishing Group, 2002).

Joseph LoveProfessor de Histria e Pesquisador Universitrio Avanado na Universidade de Illinois, tambm dirigiu o Centro de Estudos Latino-Americanos de Illinois durante oito anos. Recebeu seu Ph.D. da Universidade de Colmbia (Nova York), sendo autor de trs livros sobre histria brasileira (Rio Grande do Sul and Brazilian regionalism, So Paulo and the Brazilian federation e Crafting the Third World: Theorizing underdevelopment in Rumania and Brasil), editados pela Stanford University Press (Califrnia). Seus livros em co-autoria incluem Guiding the invisible hand: Economic liberalism and the State in Latin American history e Liberalization and its consequences: A comparative perspective on Latin America e Eastern Europe. Tambm o autor de 50 artigos e ensaios sobre histria brasileira e latino-americana. Love obteve bolsas da Guggenheim, Ford, National Endowment for the Humanities, Fulbright e Social Sciences Research Council, assim como designaes para pesquisador visitante no St. Antonys College, em Oxford, no Instituto de Estudos Avanados da Universidade de So Paulo e no Instituto Ortega y Gasset, em Madrid.

Lincoln GordonEconomista poltico, doutorado em Estudos Sociais pela Universidade de Oxford. De 1936 a 1961 esteve na Universidade de Harvard (Massachusetts), onde foi professor de Relaes Econmicas Internacionais (19551961). Presidente (reitor) da Universidade Johns Hopkins (Baltimore, 1967 a 1971). Membro da delegao dos Estados Unidos Comisso de Energia Atmica das Naes Unidas (1946), Plano Marshall (19471955, Washington, Paris e Londres). Em 1958, iniciou um projeto de pesquisa em Harvard sobre o desenvolvimento econmico no Brasil e em 19601961 ajudou a desenvolver a proposta do presidente Kennedy da Aliana para o Progresso na Amrica Latina. Embaixador dos Estados Unidos no Brasil de agosto de 1961 at abril de 1966, e em seguida Secretrio de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos at junho de 1967. Pesquisador convidado da Brookings Institution, em Washington, desde 1984. Seus livros incluem Government and the american economy (1941, 1959), A new deal for Latin America (1963), Growth policies and the international order (1979), Energy strategies for developing nations (1981), Eroding empire (1987) e Brazils second chance (2001; traduzido para o portugus em 2002).

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Luis BitencourtLuis Bitencourt diretor do Brasil @ The Wilson Center. Anteriormente, trabalhou como professor visitante na Universidade de Georgetown (Washington, DC) e como consultor das Naes Unidas no Timor Oriental e no Tadjiquisto. Tambm atuou em diferentes cargos de elaborao de polticas e de planejamento estratgico do governo brasileiro. Alm disso, trabalhou na Universidade Catlica de Braslia, onde foi professor, decano e chefe de Pessoal da Reitoria. matemtico e cientista poltico, sendo Mestre e Ph.D. em Poltica Mundial pela Universidade Catlica da Amrica (Washington, DC) e Mestre em Cincia Poltica pela Universidade de Braslia.

Marcelo de Paiva AbreuProfessor de Economia da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, onde foi presidente do Departamento de Economia entre 19901997. Em licena sabtica, foi especialista em integrao e comrcio no Banco Interamericano de Desenvolvimento (20022004). Pesquisador, grau 1A, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientco e Tecnolgico do Brasil (CNPq). Ph.D. em economia pela Universidade de Cambridge (Reino Unido) e foi professor visitante ou pesquisador visitante em universidades do Reino Unido (Cambridge e Oxford), dos Estados Unidos (Colmbia e Illinois) e Itlia (Modena e Veneza). Escreveu extensivamente sobre economia internacional, desenvolvimento econmico e histria econmica. Seus livros e artigos foram publicados no Brasil, nos Estados Unidos, no Reino Unido e em vrios pases da Amrica Latina. Desde 1995, escreve regularmente para O Estado de S. Paulo. CV completo: .

Maria Regina Soares de LimaPh. D. em Cincia Poltica pela Universidade Vanderbilt (Nashville, Tennessee) dos Estados Unidos em 1986. Professora plena do Instituto Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e professora ps-graduada do Instituto de Relaes Internacionais (IRI) da Universidade Catlica do Rio de Janeiro. Foi Diretora Executiva da Iuperj entre 19891991. Membro da Associao Nacional de Ps-Graduao em Cincias Sociais (Anpocs), 19982000, da Associao Brasileira de Cincia Poltica (ABCP), 19982000, e tambm do Comit Consultivo Acadmico (Cincia Poltica) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientco e Tecnolgico do Brasil (CNPq), 19961997. Atualmente membro do Conselho Consultivo Acadmico (Cincia Social) da Fundao de Pesquisa do Estado

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do Rio de Janeiro (Faperj). Escreveu extensivamente sobre poltica externa brasileira, instituies polticas, poltica internacional e anlise de poltica externa. Sua pesquisa atual est focada nas instituies polticas e na poltica externa e nas instituies e formao de polticas pblicas.

Marshall C. EakinPh.D. (Universidade da Califrnia em Los Angeles, UCLA, 1981). Ensina na Universidade Vanderbilt (Nashville, Tennesse) no Departamento de Histria e no programa de estudos ibricos e latino-americanos. Sua pesquisa est voltada industrializao, em particular ao crescimento econmico de Minas Gerais. Suas publicaes incluem Brazil: The once and future country (New York: St. Martins, 1996), British enterprise in Brazil: The St. John dEl Rey Mining Company and the Morro Velho Gold Mine, 18301960 (Durham, NC: Duke University Press, 1989) e Tropical capitalism: The industrialization of Belo Horizonte, Brazil (New York: St. Martins, 2001). Atualmente detentor da Cadeira de Excelncia Pedaggica, premiado pela Diretoria Eleita da Vanderbilt.

Paolo GiordanoPh.D. e Mestre em Economia pelo Institut dEtudes Politiques, ParisSciences Po (Frana) e Bacharel pela Universidade Bocconi (Milo, Itlia). economista no Departamento de Integrao e Programas Regionais do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Especialista em comrcio e integrao, projetos de formao de habilidade para negociaes comerciais, polticas de cooperao da Unio Europia e da Organizao Mundial do Comrcio (OMC). Trabalhou durante seis anos na Sciences Po como conferencista em poltica de comrcio internacional, macroeconomia e desenvolvimento econmico na Amrica Latina. Tambm foi consultor no Escritrio Especial do BID na Europa e Coordenador do Grupo de Trabalho sobre as Negociaes da Unio EuropiaMercosul do Chaire Mercosur de Sciences Po. Seu trabalho no BID est voltado principalmente cooperao tcnica em assuntos relativos ao comrcio, emprstimos de facilidade comercial e anlise poltica sobre comrcio e integrao. Suas recentes publicaes incluem: The external dimension of Mercosur, INTALITDSTA Occasional Papers, n. 19, 2003; An integrated approach to the EU Mercosur association (Ed.), Editions de la Chaire Mercosur, Paris, 2002; Macroeconomic stability, trade and regional integration (com R. Devlin, A. Estevadeordal, J. Monteagudo e R. Sez), em Integration and Trade, n. 13, IDB/INTAL, 2001.

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Paulo Roberto de AlmeidaDoutor em Cincias Sociais (Universidade de Bruxelas, 1984), Mestre em Planejamento Econmico (Universidade de Anturpia, 1976) e diplomata de carreira desde 1977. professor e pesquisador em histria econmica, integrao e relaes econmicas internacionais do Brasil, reas nas quais tem publicado livros e artigos. No momento da realizao do seminrio, era Ministro-Conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington, tendo sido anteriormente chefe da Diviso de Poltica Financeira no Ministrio das Relaes Exteriores. Editor Adjunto da Revista Brasileira de Poltica Internacional. Obras publicadas e inditas: .

Peter HakimBacharel pela Universidade de Cornell (estado de Nova York), Mestre em Fsica pela Universidade da Pensilvnia e Mestre em Negcios Pblicos e Internacionais pela Escola Woodrow Wilson, da Universidade de Princeton (New Jersey). Presidente do Dilogo Interamericano, principal centro dos Estados Unidos para anlise poltica e debates sobre negcios do hemisfrio ocidental. Escreve e fala amplamente sobre assuntos hemisfricos, concede entrevistas a programas de rdio e televiso regularmente e testemunhou mais de uma dzia de vezes no Congresso. Seus artigos foram publicados em Foreign Affairs, Foreign Policy, New York Times, Washington Post, Financial Times e Christian Science Monitor. Foi vice-presidente da Fundao Interamericana e trabalhou para a Fundao Ford em Nova York e na Amrica Latina. Lecionou no MIT e na Columbia University. Atualmente atua em diretorias e comits consultivos para a Foundation of the Americas, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Foreign Affairs en Espaol, Intellibridge Corporation e Human Rights Watch. membro do Conselho de Relaes Exteriores (Nova York).

Rubens Antnio BarbosaEmbaixador brasileiro nos Estados Unidos de junho de 1999 a maro de 2004. Antes de sua designao para os Estados Unidos, atuou como embaixador brasileiro no Reino Unido, de 1994 a 1999. Ocupou uma variedade de postos no governo e nas relaes exteriores: Secretrio para Assuntos Internacionais do Ministrio da Fazenda, Representante brasileiro na Associao de Integrao LatinoAmericana (Aladi), Subsecretrio-Geral para a Integrao, Assuntos Econmicos e de Comrcio Exterior do Ministrio das Relaes Exteriores e Coordenador da

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Seo Brasileira do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Tem o grau de Mestre em Economia e Cincia Poltica pela London School of Economics. tambm autor de vrios artigos e ensaios e tambm de trs livros, um sobre a integrao econmica latino-americana, Panorama visto de Londres, que trata de poltica exterior e econmica, e The Mercosur Codes, editado pela British of International and Comparative Law.

Thomas E. SkidmoreFoi professor emrito de Histria Moderna da Amrica Latina (cadeira Carlos Manuel de Cspedes) e ex-diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brown (aposentado). Foi membro do Departamento de Portugus e de Estudos Brasileiros da Brown. bacharel pela Universidade de Denison (Granville, Ohio), bacharel e Mestre pela Universidade de Oxford (Magdalen College, Reino Unido) e Ph.D. pela Universidade de Harvard (Massachusetts). Recebeu apoio para pesquisas do Kellogg Institute (Notre Dame University, Indiana), Guggenheim Foundation, Social Science Research Council, Universidade de Harvard e pela American Philosophical Society (Filadla, Pensilvnia). Recebeu bolsas da Fulbright para estudar em Oxford e realizar pesquisas no Brasil e na Argentina. Tambm foi consultor na Amrica Latina para a Fundao Ford. Skidmore foi presidente da Associao de Estudos Latino-Americanos (LASA) em 1972 e em 1989 ganhou o primeiro prmio Bryce Wood da LASA por seu Politics of military rule in Brazil (traduzido como Brasil: de Castelo Branco a Tancredo Neves). Em 2001 recebeu o prmio Kalman Silvert da LASA. Tambm foi Presidente do Conselho da Nova Inglaterra (nordeste dos Estados Unidos) de Estudos Latino-Americanos em 1996. Freqentemente faz conferncias nos Estados Unidos, na Amrica Latina e na Europa. Seus quatro principais livros sobre o Brasil foram traduzidos para o portugus e foram bastante lidos no pas. A edio brasileira de Politics in Brazil (Brasil: de Getlio a Castello) est em sua 11a edio no Brasil e foi adotada como livro-texto em muitas escolas e universidades brasileiras. Visita o Brasil anualmente, onde costuma atuar como comentarista em programas de rdio e televiso.

Thomaz Guedes da CostaThomaz Guedes da Costa Ph.D. em Cincia Poltica pela Columbia University (Nova York). Ex-funcionrio de carreira do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientco e Tecnolgico (CNPq) do Brasil, onde sua ltima posio

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foi a de chefe de pessoal para o presidente e coordenador de avaliao para o fundo de pesquisa Pronex Centros de Excelncia. Atuou na assessoria da Presidncia da Repblica do Brasil como pesquisador de segurana internacional, defesa nacional, planejamento estratgico e inteligncia. Trabalhou como analista de marketing para a Embraer e como membro do grupo de trabalho para a formulao da Poltica de Defesa Brasileira (19941995), no Planejamento do Oramento Plurianual para o Setor de Defesa (19961999) e na comisso especial de reviso da Poltica de Defesa Brasileira (20002001). Ensinou relaes internacionais e estudos estratgicos no Departamento de Relaes Internacionais da Universidade de Braslia (19901999) e participou de vrias iniciativas internacionais de pesquisa cooperativa. Atualmente, professor de Assuntos de Segurana Nacional na National Defense University, em Washington, DC, e estuda as relaes entre os Estados Unidos e o Brasil e as tendncias polticas. Tem publicado sobre assuntos de segurana internacional e de defesa brasileira.

William PerryChefe da William Perry & Associates, empresa estabelecida em Washington que oferece servios de consultoria sobre negcios no hemisfrio ocidental para o setor privado e rgos pblicos, e pesquisador avanado no Centro de Estudos Estratgicos e Internacionais (CSIS, Washington). Atuou em rgos legislativos e executivos do governo dos Estados Unidos e tambm como assistente das campanhas presidenciais republicanas de 1988, 1992, 1996 e 2000. Anteriormente, ensinou ou realizou pesquisas no Foreign Policy Research Institute, da School of Advanced International Studies da Universidade Johns Hopkins (em Washington), no Stanford Research Institute (Califrnia), no Departamento de Relaes Internacionais e Cincia Poltica da Universidade de Braslia e no CSIS. Recebeu o ttulo de bacharel da Universidade de Vermont, o de Mestre da Universidade da Pensilvnia e autor de numerosos trabalhos, estudos e artigos sobre assuntos interamericanos, com especial ateno ao Brasil.

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SUMRIO

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PrefcioEste livro se insere no conjunto de empreendimentos de carter acadmico que tomei a iniciativa de lanar desde minha assuno como Embaixador do Brasil em Washington, em junho de 1999. J no ms seguinte daquele ano, decidi convidar os responsveis de programas de estudos brasileiros e, de forma ampla, os diretores dos centros de estudos latino-americanos das principais universidades americanas para uma reunio na Embaixada. Concebido como um mero encontro informal para um primeiro contato e troca preliminar de idias, o evento recebeu a adeso inesperada de um nmero crescente de interessados. J no ms de outubro seguinte, foi realizada provavelmente a maior reunio de brasilianistas e de estudiosos da regio em um contexto diplomtico e fora dos circuitos habituais de reunies acadmicas de entidades como a Latin American Studies Association (LASA) ou a prpria Brazilian Studies Association (BRASA). Naquela oportunidade, o ministro-conselheiro e socilogo Paulo Roberto de Almeida, que coordena comigo o presente livro, props que se zesse um balano crtico da produo brasilianista acumulada desde meados do sculo XX, com trabalhos setoriais encomendados a reconhecidos especialistas em suas respectivas reas, com a coordenao geral assegurada de forma conjunta por um cientista social brasileiro e um americano. O resultado, depois de novo seminrio de discusso e de reviso dos textos preparados pelos brasilianistas convidados, realizado em dezembro de 2000, novamente na Embaixada, foi publicado no Brasil, em sua verso em portugus, sob a forma do livro O Brasil dos brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 19452000 (So Paulo: Paz e Terra, 2002), organizado por mim, por Marshall C. Eakin e por Paulo Roberto de Almeida. A verso americana dessa mesma obra, com o ttulo Envisioning Brazil: a guide to Brazilian Studies in the United States, foi publicada pela Wisconsin University Press. Paralelamente, eu dava incio a um bem-sucedido esforo para ampliar os estudos sobre o Brasil em algumas das principais universidades e centros de pesquisa dos Estados Unidos. Com o apoio nanceiro de empresas brasileiras e americanas, foi possvel iniciar um programa de estudos brasileiros na Georgetown University, em Washington, criar um Centro de Estudos Brasileiros na Columbia University, em Nova York, bem como sustentar o Brazil Program, do Woodrow Wilson International Center for Scholars, tambm em Washington. Foram tambm intensicados os projetos de cooperao em estudos e iniciativas de informao sobre problemas brasileiros com diversas outras entidades

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acadmicas americanas, dos quais resultaram inmeros seminrios especializados e discusses com personalidades pblicas do Brasil. Viajei a convite ou por iniciativa prpria a praticamente todas as grandes universidades americanas, da costa leste costa oeste, vrias no interior desse imenso pas, fazendo palestras ou participando de seminrios sobre o Brasil e os problemas da regio, ou ainda sobre negociaes comerciais hemisfricas e multilaterais. A Embaixada sempre acompanhou com interesse a designao de acadmicos brasileiros para estgios de ensino e pesquisa em algumas das principais universidades americanas, no quadro do programa gerido pelo Instituto Rio Branco sob o rtulo Cadeiras Rio Branco e tem mesmo sido freqentemente consultada, por vrias universidades interessadas, sobre a possibilidade de criao de novas cadeiras desse tipo. Em outra vertente, a dos estudos sobre os Estados Unidos no prprio Brasil, sempre foi minha inteno preencher essa inexplicvel lacuna de nossas instituies acadmicas, tendo em vista a importncia do pas para as relaes exteriores do Brasil, de modo amplo, como para seu desenvolvimento econmico de maneira especial, buscando portanto estimular a criao de centros de estudos americanos em universidades brasileiras. Com satisfao registro o surgimento oportuno de grupos de pesquisas dedicados a tal rea e mesmo a criao de centros especcos para esse objetivo em universidades importantes, como a Universidade Federal de Pernambuco, com resultados amplamente satisfatrios at aqui. A Universidade de So Paulo tambm est examinando a possibilidade da criao de um centro de estudos sobre os Estados Unidos. A prpria Embaixada americana no Brasil tem estimulado esses esforos, seja mediante programas consagrados, como o Fulbright Fellowships, seja por meio de outros mecanismos de cooperao acadmica que tm colocado as comunidades universitrias dos dois pases em mais estreito contato. Desde minha chegada a Washington, procurei realizar, ademais dos encontros voltados para o mundo dos negcios e da tecnologia, pelo menos um seminrio anual dedicado aos estudos brasileiros e interao com os Estados Unidos. Assim, na continuidade dos esforos que culminaram na preparao do livro sobre a produo brasilianista no ltimo meio sculo, foi organizado, em novembro de 2001, em cooperao com o Brazil Program, do Wilson Center, o seminrio BrazilU.S. relations; a new agenda for the 21st century, com especialistas acadmicos de ambos os pases, inclusive da rea cientca. Como de hbito, os vrios painis constitudos sobre as relaes polticas e diplomticas, sobre a cooperao cientca e tecnolgica, sobre os temas de segurana e cooperao militar e sobre as relaes comerciais colocaram

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lado a lado dois pares de expositores e de comentaristas representando ambos os pases, de modo a se lograr uma apresentao recproca dos pontos de vistas nacionais de forma aberta e interativa. No campo mais especco dos estudos histricos, decidi constituir um Projeto Resgate em moldes similares ou equivalentes ao que vinha sendo feito com Portugal e outros pases europeus de identicao e disponibilizao das fontes documentais sobre o Brasil em arquivos americanos. Empreendido com base em trabalho voluntrio de estagirios, depois apoiado em generosa dotao nanceira da Vitae, o projeto permitiu efetuar uma descrio relativamente completa dos principais centros depositrios de papis e outras fontes primrias para a pesquisa histrica sobre o Brasil nos Estados Unidos. Dentre essas instituies, as mais importantes situam-se justamente na capital americana: os Arquivos Nacionais, a Biblioteca do Congresso e a Biblioteca Oliveira Lima, na Universidade Catlica da Amrica. Em relao a esta ltima, a Embaixada vem procurando contribuir com a preservao e a disseminao, em benefcio dos pesquisadores brasileiros, dos materiais ali depositados, legados pelo famoso diplomata e historiador brasileiro da passagem do sculo XIX ao XX. Insatisfeito com o tratamento que est sendo dispensado pela Universidade Catlica a esse importante acervo de livros, manuscritos e documentos sobre o Brasil, ao no cumprir, por exemplo, a regra testamentria deixada por Oliveira Lima que determinava a manuteno de um programa de estudos brasileiros, cheguei mesmo a iniciar conversaes com a presidncia daquela instituio com vistas a trazer para o Brasil aquela biblioteca. Um dos resultados desse projeto de resgate de papis histricos, objeto de novo seminrio realizado na Embaixada em outubro de 2002, est sendo publicado na forma de um volume de referncia intitulado Guia dos arquivos americanos sobre o Brasil, que constitui assim um valioso instrumento de auxlio pesquisa para todos os estudiosos do Brasil trabalhando com documentao dos Estados Unidos. Muito ainda resta a ser feito, no entanto, justamente no sentido de se lograr copiar algumas das mais importantes sries documentais nessas instituies, objetivando disponibiliz-las aos historiadores e cientistas sociais do Brasil. Por ocasio desse seminrio de resgate da memria histrica do Brasil, decidi instituir um certicado de mrito de estudos brasileiros, um diploma de Distinguished Brazilian Studies Scholar que em sua primeira atribuio homenageou, pelo trabalho acumulado ao longo de vrias dcadas sobre o Brasil nos Estados Unidos, os seguintes acadmicos: os historiadores Thomas Skidmore e Joseph Love, o economista Werner Baer, o professor de portugus e de literatura brasileira Jon Tolman, grande mentor da BRASA, ademais do historiador Robert

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Levine, este em carter pstumo. Outros brasilianistas certamente merecem ser agraciados com esse diploma, como de fato o sero no futuro. Alm disso, tendo em vista que o estudo do Brasil nos Estados Unidos se faz normalmente com base em material didtico local e bibliograa produzida pelos estudiosos americanos, com as vantagens e as desvantagens desse tipo de abordagem, no h como deixar de mencionar outra iniciativa minha, j concretizada com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil para os custos de traduo para o ingls , no sentido de ser criada uma Coleo Brasiliana, uma srie destinada a publicar, nos Estados Unidos, em cooperao com duas editoras acadmicas do pas (Duke e Carolina do Norte), obras de autores brasileiros, geralmente no campo das humanidades, elaboradas a partir de uma perspectiva brasileira e com base em pesquisas e metodologias desenvolvidas no Brasil. A despeito desses e de vrios outros empreendimentos acadmicos da Embaixada em Washington como uma adaptao s condies educacionais dos Estados Unidos da brochura que eu havia concebido quando embaixador na Gr-Bretanha para o estudo do Brasil nas escolas mdias, Brazil in the School (Discover Brazil, nos Estados Unidos), ou ainda a coletnea sobre objetos brasileiros nos museus Smithsonian, publicada sob o ttulo Brazil at the Smithsonian: the Brazilian presence in the collections of the Smithsonian Institution (em edio bilnge) , eu vinha sentindo a falta de uma obra geral que descrevesse, analisasse e discutisse os vrios aspectos da rica interao entre o Brasil e os Estados Unidos, tanto do ponto de vista histrico como em sua dimenso atual, podendo igualmente servir como volume de referncia sobre os principais instrumentos dessas relaes bilaterais. A bem da verdade, esse campo de estudos conhece trabalhos clssicos sobre os quase 200 anos de interaes bilaterais ou regionais, hoje um pouco defasados, seja quanto ao mtodo, seja quanto cobertura temporal. Ele ressentia-se, contudo, da falta de uma avaliao dos vrios aspectos dessas relaes que fosse conduzida por um enfoque no meramente acadmico, mas feita com certo sentido de conhecimento direto das questes tratadas. So bastante comuns na literatura da rea, por exemplo, as referncias a pesquisas de historiadores e de cientistas polticos, como Gerson Moura ou Moniz Bandeira, para car apenas nos autores mais conhecidos, mas minha inteno era a de oferecer algo mais atualizado ou que enfocasse questes tpicas ou setoriais por vezes pouco freqentes na bibliograa das relaes bilaterais, como os uxos de comrcio ou as negociaes para a liberalizao dos intercmbios, a exemplo da ALCA e das rodadas da OMC. Um dos ltimos livros que conseguiram - embora muito parcialmente satisfazer esses critrios havia sido publicado 20 anos antes, quando Mnica Hirst organizou o volume BrasilEstados Unidos na transio democrtica (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985), ainda assim adotando uma perspectiva essencialmente brasileira.

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O presente livro, consoante minha viso da relao bilateral segundo a qual essa relao se fortalece mediante um dilogo de igual para igual, seguiu o critrio de propor as mesmas reas temticas a duplas de especialistas dos dois pases, que teriam a liberdade de tratar de questes similares, mas com abordagens e estilo prprios. A mesma diviso binacional de trabalho foi seguida na seleo dos comentaristas convidados, que leram os captulos preparados de sua rea e comentaram os textos resumidos pelos autores. Os trabalhos e comentrios orais foram apresentados em seminrio sobre as relaes bilaterais realizado no Wilson Center, em 4 de junho de 2003, duas semanas antes da primeira visita de trabalho a Washington do presidente Luiz Incio Lula da Silva. Os resultados, se me permitem o lugar-comum, superaram amplamente as expectativas, ensejando debates vivos sobre os principais problemas selecionados para anlise crtica pelos quatro painis do seminrio, que so exatamente os ttulos das quatro partes do livro e que constituem segundo a abordagem binacional j consagrada os oito captulos que o compem. Uma introduo geral situa o contexto diplomtico, econmico e poltico, inclusive no plano regional e internacional, das relaes bilaterais e apresenta resumidamente cada um dos textos preparados. Os apndices fornecem material de referncia sobre as relaes, com cronologia, lista dos atos e comisses bilaterais e pequena bibliograa indicativa. Um agradecimento especial cabe aos comentaristas participantes dos painis relacionados, com os demais colaboradores, na lista de autores , uma vez que eles permitiram transformar o que seria um mero seminrio acadmico em um foro de debates sobre as relaes bilaterais e o processo em curso de negociaes comerciais, altamente relevantes, no apenas para o sistema multilateral de comrcio como para o prprio formato futuro da interdependncia econmica entre o Brasil e os Estados Unidos. No poderia deixar de ressaltar e agradecer a colaborao inestimvel do socilogo e diplomata, colega e amigo, ministro Paulo Roberto de Almeida, um dos meus ministros-conselheiros em Washington. Sua iniciativa, dedicao, competncia e capacidade de trabalho foram essenciais para a realizao de tudo o que est descrito nesse prefcio. Sem Paulo Roberto este livro no teria sido possvel. O livro apresenta e discute as relaes bilaterais entre o Brasil e os Estados Unidos, mobilizando diversos paradigmas conceituais nesse empreendimento, entre eles o de assimetria e o de interdependncia, que sem dvida alguma correspondem a diferentes percepes dos elementos-chave dessas relaes. Mas, um conceito recorrente em vrios dos textos aqui reunidos, que tambm comparece, ao longo do tempo, nos discursos dos presidentes dos dois pases,

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parece-me ser a noo-chave na busca de uma denio para essa relao que apresenta mltiplas caractersticas: o de parceria. O termo apresenta uma conotao positiva para caracterizar no s o estado atual como a congurao futura das relaes entre os dois grandes pases do hemisfrio americano. Espero que este livro possa ser uma contribuio til para o estudo dessas relaes, mas tambm para a emergncia de um tratamento prtico e de uma viso pblica que seja menos eivada de preconceitos superados e injusticados, em nossa poca, e marcada, de maneira bem mais armada, por uma vontade comum de construir uma interdependncia ativa e mutuamente benca. O gabinete de trabalho do chefe do posto, no terceiro andar da Embaixada em Washington, ostenta na parede o quadro a leo, pintado em 1826 por Sarah Miriam Peale, retratando Jos Silvestre Rabelo, que aqui tinha chegado dois anos antes para inaugurar uma histria de relaes que podem ser classicadas, sem deslustro para qualquer outro pas, como as mais importantes, densas e prometedoras de toda a agenda diplomtica brasileira. De volta ao Rio de Janeiro, vrios anos depois, Rabelo sugeriu que as Cmaras autorizassem o ministro dos Negcios Estrangeiros a mandar adidos ao estrangeiro a m de copiar manuscritos importantes relativos ao Brasil. Segundo consta da ata de uma das primeiras sesses do Instituto Histrico e Geogrco Brasileiro, criado em 1838 em torno da idia de promover a histria e o conhecimento geogrco da Ptria, essa proposta, junto com as instrues para um primeiro adido, foi aprovada, mas ela foi implementada sobretudo em direo dos pases europeus, que obviamente continham, naquela poca, as mais importantes referncias documentais interessando histria do Brasil. com satisfao que constato que este livro, e sua oportuna complementao pelo Guia dos arquivos americanos sobre o Brasil, constitui uma realizao prtica do desejo formulado por meu pioneiro predecessor de 180 anos atrs. Ele promove o conhecimento do Brasil nos Estados Unidos e dos Estados Unidos no Brasil, ao mesmo tempo em que esclarece amplamente sobre as diversas facetas dessa complexa interao entre duas naes soberanas e dois povos amigos. Espero que ele possa continuar informando o pblico em geral, e formando estudantes em particular, pelos prximos anos, pois foi com esse esprito que foi concebido e est sendo agora publicado.

Rubens Antnio Barbosa Ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos (junho de 1999 a maro de 2004)

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1. Novas relaes para um novo sculo: a parceria BrasilEstados Unidos Paulo Roberto de Almeida e Rubens Antnio Barbosa 1 PRIMEIRA PARTE RELAES BRASILESTADOS UNIDOS EM PERSPECTIVA HISTRICA 2. As relaes do Brasil com os Estados Unidos em perspectiva histrica Paulo Roberto de Almeida 13 2.1 Introduo 14 2.2 Breve retrospecto histrico 15 2.3 Substituio de hegemonias na era do caf 17 2.4 Tio Sam e a americanizao do Brasil na era da Guerra Fria 21 2.5 Redemocratizao brasileira e acirramento de conitos comerciais 2.6 A era FHC: globalizao assimtrica e crises nanceiras 29 2.7 As principais questes da agenda diplomtica BrasilEstados Unidos 2.8 Concluses: a presidncia Lula e a busca de uma relao madura

23 33 39

3. Variaes do nacionalismo: meio sculo de relaes brasileiro-americanas Lincoln Gordon 41 3.1 Retrospecto histrico 42 3.2 Nacionalismo positivo e nacionalismo negativo 46 3.3 Crescimento acelerado, instabilidade, golpe de estado e supercrescimento acelerado 48 3.4 Nacionalismo romntico 53 3.5 Rumo a um relacionamento mais estvel e durvel parceria sem hegemonia 56 3.6 Uma parceria madura 57 Comentrios: Thomas E. Skidmore 62 Comentrios: Eduardo Viola 64 SEGUNDA PARTE PROCESSOS PARALELOS DE DESENVOLVIMENTO E DE INTERDEPENDNCIA ECONMICA 4. Etapas iniciais do desenvolvimento e da interdependncia econmica John DeWitt 79

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4.1 Introduo 80 4.2 Ventos, correntes e comrcio 82 4.2.1 Rota dos pesqueiros 84 4.2.2 Rota do Caribe 84 4.2.3 Rota do Brasil 84 4.2.4 Sistemas de trocas e comrcio do Atlntico 85 4.3 Duas novas civilizaes mundiais 86 4.3.1 A civilizao da Amrica de plantation 87 4.3.2 A civilizao martima e de fazendas familiares 91 4.3.2.1 Pesca 92 4.3.2.2 Caa baleia 93 4.3.2.3 Construo de navios 95 4.3.2.4 Invisveis 97 4.3.2.5 Trocas e comrcio 97 4.3.2.6 Agricultura em fazendas familiares 100 4.4 O ano de 1808 e as relaes com a Gr-Bretanha 101 4.4.1 Estados Unidos: desastre martimo ativa a revoluo industrial 101 4.4.2 Brasil: da frigideira do mercantilismo para o fogo do livre-comrcio 104 4.5 Transformaes no decorrer do sculo XIX 105 4.5.1 Sistemas de distribuio de terras 107 4.5.2 Estados Unidos: fazendas para famlias de fazendeiros 4.5.3 Brasil: fazendas para grandes proprietrios 109 4.5.4 A produo de caf no planalto de So Paulo 111 4.5.5 Diculdades dos pobres do meio rural da Amrica de plantation 111 4.6 Enfrentando o sculo XX 113 4.7 Interaes econmicas e diplomticas 115 4.8 Concluses 118

108

5. Uma perspectiva macroeconmica do crescimento brasileiro: comparaes internacionais Eliana Cardoso 122 5.1 Introduo 123 5.2 Comparaes internacionais 123 5.3 Modelos e hipteses sobre as razes da diferena entre o desenvolvimento no Brasil e nos Estados Unidos 126

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5.4 O sculo XX e a macroeconomia 132 5.5 O Brasil e a macroeconomia 136 5.6 Referncias 146 Comentrios: Joseph Love 150 TERCEIRA PARTE COMRCIO BILATERAL E REGIONAL E NEGOCIAES HEMISFRICAS E MULTILATERAIS 6. As relaes econmicas BrasilEstados Unidos e as negociaes comerciais Rubens Antnio Barbosa 155 6.1 As relaes econmico-comerciais em perspectiva histrica 156 6.2 Brasil e Estados Unidos no sistema multilateral de comrcio: de Punta del Este a Doha 159 6.3 Experincias diferenciadas de regionalizao: Nafta e Mercosul 162 6.4 Brasil e Estados Unidos nas negociaes hemisfricas e multilaterais: viso brasileira 165 6.5 Impasses e diculdades das negociaes comerciais a partir de 2003 173 7. As relaes comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil em uma nova era Jeffrey J. Schott 181 7.1 Comrcio e investimento 184 7.2 Atritos do comrcio bilateral 191 7.3 Encurtando as distncias 203 7.4 Concluso 210 7.5 Referncias 211 Comentrios: Marcelo de Paiva Abreu 214 Comentrios: Paolo Giordano 216 QUARTA PARTE PERSPECTIVAS FUTURAS DAS RELAES BILATERAIS

8. Perspectivas do Brasil como modelador das relaes bilaterais com os Estados Unidos Thomaz Guedes da Costa 221 8.1 Introduo 222 8.2 O foco atual: de novo o pragmatismo responsvel? 224 8.3 Negociaes comerciais: luzes ofuscantes e nuvens escuras?

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8.4 Problemas de segurana internacional 230 8.4.1 As Naes Unidas e o multilateralismo 232 8.4.2 A regio das trs fronteiras 233 8.4.3 Colmbia 233 8.5 Nenhuma relao exclusiva entrelaar-se a outros 8.5.1 Amrica do Sul 237 8.5.2 Reforando outras parcerias estratgicas 238 8.6 Concluso: o Brasil como modelador 240 9. As relaes BrasilEstados Unidos: a parceria indenida Peter Hakim 243

235

9.1 A indenvel importncia das relaes bilaterais 244 9.2 Os anos Fernando Henrique Cardoso (19952002) 246 9.3 Lula assume (2003 ) 251 9.4 Olhando para o futuro 256 APNDICES 1. Cronologia das relaes BrasilEstados Unidos no contexto regional e mundial, 19942003 261 2. Atos bilaterais e mecanismos de consulta entre os dois pases 272 3. Relao dos embaixadores brasileiros e americanos 286 4. Bibliograa seletiva 292

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Lista de Figuras e TabelasTABELAS 5.1 PIB per capita medido em paridade de poder de compra e expresso em porcentagem do PIB per capita de Brasil, Chile e Coria do Sul entre 19001994 124 O peso da dvida externa entre 1970 e 2001 (em porcentagem do PIB) 144 Comrcio entre os Estados Unidos e o Brasil, 19902002 (em milhes de dlares) 184 Comrcio dos Estados Unidos com o Brasil por produto, 2002 185 Investimentos diretos dos Estados Unidos, 19902001 (em milhes de dlares) 188 Investimentos dos Estados Unidos no Brasil, por setor, no nal de 2001 (em milhes de dlares) 189 Tarifas aduaneiras recprocas, Estados Unidos e Brasil, em 2002 192 Medidas de defesa comercial entre os Estados Unidos e o Brasil, 20022003 196 Importaes americanas de ao do Brasil, 19962002 199 Controvrsias entre os Estados Unidos e o Brasil na OMC, 19952003 201

5.2 7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 7.6 7.7 7.8

FIGURAS 5.1. Produto per capita medido em paridade de poder de compra em porcentagem do produto per capita dos Estados Unidos para o Brasil, o Chile e a Coria do Sul entre 1960 e 2000 125 5.2. Produto per capita em paridade de poder de compra de Brasil e Chile entre 1960 e 2000 (em dlares) 126 5.3. Produto per capita em paridade de poder de compra de Brasil e Coria do Sul entre 1960 e 2000 (em dlares) 127 5.4. Logaritmo da taxa de cmbio real de Brasil, Chile e Coria do Sul entre 1960 e 1999 135 5.5. PIB real per capita do Brasil entre 1947 e 2002 (em reais de 2002) 136 5.6. Taxa de inao do Brasil entre 1945 e 2002 (em porcentagem ao ms) 137 5.7. ndice do salrio mnimo real do Brasil entre 1944 e 2002 138

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5.8. Resultado scal primrio do Brasil entre 1995 e 2003 (em porcentagem do PIB) 139 5.9. Duas medidas de sobrevalorizao cambial do Brasil entre 1955 e 2002 140 5.10. Dvida do setor pblico do Brasil entre 1994 e 2002 (em porcentagem do PIB) 141 5.11. Balana comercial do Brasil entre 1998 e 2003 (em bilhes de dlares) 142 5.12. Dcit em conta-corrente do Brasil entre 1998 e 2003 (em bilhes de dlares) 143

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Muitos especialistas acadmicos dessa rea de pesquisa, estudiosos das relaes internacionais do Brasil, em geral, ou mesmo observadores ocasionais dos meios de comunicao no importa agora que eles sejam de centro, de esquerda ou de direita no hesitam em descrever as relaes BrasilEstados Unidos como sendo centrais, ou cruciais do ponto de vista do Brasil, obviamente. Do ponto de vista dos Estados Unidos, eles no teriam muita objeo em colocar essas relaes em um segundo ou at mesmo em um terceiro plano da escala de prioridades poltico-estratgicas do grande hegemon da atualidade, da mesma forma, alis, como ocorre com outros pases dotados de estatuto similar digamos, por convenincia, potncias mdias quando inseridos no sistema de relaes internacionais da hiperpotncia do sculo XXI. Como interpretar essa equao poltico-estratgica abertamente desigual, ou essa relao econmica na qual os pratos da suposta balana tm peso, composio e formato diferentes? De fato, se essas relaes podem ser caracterizadas para o Brasil como centrais ou cruciais, o outro conceito que poderia realisticamente deni-las seria o de assimetria. Nisso, tampouco o Brasil est sozinho, j que cerca de 190 outras naes da comunidade internacional o acompanham nessa condio de subalternidade tecnolgica ou at de irrelevncia estratgica em relao ao poder da nova Roma. Com efeito, no h hoje um s Estado na face da terra que no ostente essa dupla condio em suas relaes com os Estados Unidos: por um lado, centralidade direta ou indireta da interao econmica e poltica e, por outro, desigualdade quase absoluta na equao do poder estratgico, em maior ou menor grau segundo a dotao militar respectiva. A esse respeito, todos os pases so iguais, e menos importantes, na interao com a super-Roma da atualidade, embora alguns deles sejam obviamente mais iguais do que outros. O fator nuclear poderia aparecer aqui como um equalizador de ltima instncia, mas na verdade tal vetor no entra normalmente em linha de conta quando se trata de confrontar recursos efetivamente disponveis no grande jogo do poder mundial. Os critrios geralmente computados na mobilizao dos chamados excedentes de poder podem ser resumidos a dois prosaicos fatores soldados e talo de cheques , e so poucos os pases, como os Estados Unidos, que conseguem exibir tal abundncia de um e de outro, ao mesmo tempo, e com tal pletora de meios para entreg-los em qualquer canto do planeta. Essa uma realidade estrutural, com certa tendncia permanncia at onde a vista alcana em nossa conjuntura histrica de transformao, mesmo se a lgica ltima do processo de globalizao aponte claramente no sentido da convergncia progressiva das capacidades de base dos pases participantes da grande interdependncia mundial dos sistemas de mercado, aqui compreendidos tanto a

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China quanto a Rssia. Os Estados Unidos continuaro provavelmente ocupando o centro nervoso das relaes internacionais contemporneas mesmo no caso de uma aproximao gradual dos demais grandes atores mundiais a seus indicadores atuais em termos de produto global, de estoque de inovaes tecnolgicas, de exibilidade e de disponibilidade dos fatores de produo (a comear pelos uxos contnuos de inteligncia incorporada, dentro e fora de suas fronteiras), pela simples razo de que os vetores de produtividade que podero estar sendo mobilizados por seus competidores atuam igualmente, e com maior ecincia relativa, em seu favor. Em certa terminologia materialista que preconiza a sucesso dos modos de produo a partir do desenvolvimento das foras produtivas , pode-se dizer que os Estados Unidos conseguiram conformar um modo inventivo de produo, suscetvel de revolucionar constantemente as relaes de produo, evitando assim a propalada ameaa do eventual esclerosamento das foras produtivas, anunciado na prometida superao do velho modo capitalista de produo. Em outros termos, nada como uma revoluo depois da outra, ou melhor, a sucesso constante de processos revolucionrios no contexto de uma mesma revoluo geral capitalista, tal como vem ocorrendo na formao social americana desde o incio da primeira revoluo industrial, pelo menos. A intensidade e a profundidade das mudanas estruturais incorporadas pelo modo de produo americano no podem ser medidas apenas pelos ndices gerais de produtividade, j que essa formao social traz embutida em seus vetores internos de acumulao para usar outro conceito vinculado alavancas sistmicas de inovao, cujas fontes primitivas parecem situar-se na auto-organizao democrtica da sociedade, na valorizao social e na promoo igualitria da educao de base e em um certo senso prtico da organizao social da produo a praticality e o sentido de pequenos improvements na vida diria que so to americanos quanto o sentimento do progresso individual. De fato, desde a poca da primeira grande exposio universal do Crystal Palace, de Londres, em 1851, um desses espritos prticos proclamava que a indstria, no futuro, precisa ser apoiada no mais na competio de vantagens locais, mas na competio dos intelectos1. O Brasil, em pocas de alto crescimento, j chegou a aproximar-se bem mais do potencial econmico americano, mas a combinao de anos e anos, seno dcadas, de baixo crescimento do PIB com a vigorosa expanso econmica nos Estados Unidos da ltima dcada do sculo XX fez aumentar a distncia1

Citado em DERRY, T. K. e WILLIAMS, Trevor I. A short history of technology: from the earliest times to A.D. 1900. New York: Dover Publications, 1993, p. 704 (edio original de 1960).

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entre a renda global e per capita dos dois gigantes do hemisfrio ocidental2. Os diferenciais de produtividade que se explicam basicamente pelo abismo de qualicao educacional e de competncia tcnica entre as duas populaes se situam no corao da divergncia entre as duas economias ao curso do longo perodo mais do que secular que vem dos primrdios da primeira revoluo industrial processos praticamente contemporneos na Inglaterra e na nova Inglaterra at o mago da terceira, atualmente em curso. No tero nal desse perodo, Brasil e Estados Unidos intensicaram uma frutuosa relao de cooperao e de interdependncia econmica e tecnolgica que muito fez para colocar o pas do Norte no centro de nossas relaes econmicas internacionais, sem que no entanto essa centralidade e intensidade dos intercmbios contemporneos tenham logrado diminuir, longe disso, os elementos de assimetria que ainda marcam a relao. A partir da, os sentimentos podem diferir no que se refere ao que fazer com essa relao central-desigual. Vrios tipos de resposta so possveis, ainda que as escolhas no sejam sempre fceis ou as opes todas possveis com base nos recursos existentes os j referidos excedentes de poder. Os mesmos observadores especializados poderiam argir que lderes de esquerda seriam mais tentados a, justicando o desconforto da situao, tentar superar a dominao imperial via capacitao tecnolgica ou militar ou por meio de aliana com outros subalternos rebeldes, com maior ou menor sucesso segundo o diferencial de poder. Os de direita, presumivelmente, se acomodariam mais facilmente com tal tipo de situao, acolhendo favoravelmente a relao privilegiada e aproveitando para economizar na defesa, colocando-se ao abrigo do guarda-chuva estratgico (como o zeram alguns derrotados de guerra ou dependentes assumidos). Polticos de centro tentariam, provavelmente, manter um dilogo equilibrado, respeitoso das diferenas e dos interesses recprocos, mas certos de compartilhar, em ltima instncia, uma mesma viso do mundo, que seria liberal de mercado e progressista-social. Esse cenrio valeria igualmente para o Brasil? Em termos, como tenta demonstrar este livro sobre as relaes polticas, diplomticas e econmicas entre os dois maiores pases do hemisfrio americano em um quadro internacional2

Para uma viso macro-histrica do desempenho econmico relativo das diferentes naes inseridas na economia mundial na longa durao, veja o estudo de Angus Maddison, The world economy: a millenial perspective. Paris: Development Center of the Organisation for Economic Cooperation and Development, 2001. Para uma avaliao do desempenho da economia brasileira, utilizando-se desse tipo de abordagem (com base em verso anterior dessa obra de Maddison), veja o captulo O Brasil no contexto econmico mundial: 18201992, no livro de Paulo Roberto de Almeida, O estudo das relaes internacionais do Brasil. So Paulo: Unimarco, 1999, p. 17-38.

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manifestamente em mutao. O gigante setentrional nunca conheceu uma situao de poder mais hegemnica e propriamente avassaladora como a vivida atualmente e que talvez no esteja nem no seu znite, como gostariam alguns adeptos do declnio imperial , quando no Brasil, o maior dos menores da regio meridional, tomou posse um governo denido pelos meios de comunicao como progressista. Os rtulos jornalsticos so, porm, enganosos, na medida em que os governos, em geral, no defendem grandes princpios ideolgicos, mas so, ou pelo menos procuram ser, essencialmente pragmticos e guiados pelo bom senso dos resultados concretos. Os especialistas convidados para integrar, e comentar, esta compilao de ensaios analticos sobre as relaes bilaterais no se denem como de direita, de centro ou de esquerda embora alguns possam ser uma ou outra coisa legitimamente. Todos eles, no entanto, autores colaboradores ou comentaristas dos textos no seminrio em que foram originalmente apresentados, parecem convictos das duas caractersticas apontadas acima: a de que essas relaes so centrais para o Brasil e a de que a relao hemisfrica mesmo assimtrica, como alis aquela mantida pela grande potncia ocidental com o resto do mundo. Cabe registrar, porm, que no momento do convite formulado aos vrios autores para a elaborao de seus textos, nenhum termo de referncia ou qualquer qualicao prvia quanto ao contedo e ao signicado das relaes bilaterais foram-lhes impostos como diretrizes analticas de redao, cabendo-lhes to-somente elaborar, com base em sua prpria perspectiva nacional americana e brasileira, em cada caso , e com mtodos prprios, denidos por cada um deles, uma descrio e uma discusso crtica dos problemas selecionados para sua rea: as relaes bilaterais ao longo da histria, o desenvolvimento econmico em perspectiva comparada, as relaes comerciais e as negociaes em curso e as questes estratgicas e de segurana. A partir da, contudo, no se produziu nenhuma paralisia analtica, pois que cada um deles enfrentou, com perspectivas e mtodos prprios, a tarefa de descrever, explicar, interpretar e oferecer alternativas de polticas sobre os diferentes aspectos econmicos, polticos, diplomticos dessa complexa interao entre dois pases que mantm relaes ininterruptas h quase dois sculos e que s zeram reforar, sempre mais, os laos da interdependncia recproca. Essa interao nem sempre foi dominada pela American Economic Eagle e pelo Brazilian Developing Parrot (vagamente identicado, por alguns, com o Z Carioca), pois que os Estados Unidos tambm j foram um pas em desenvolvimento, ainda que a comparao possa parecer cronologicamente defasada ou mesmo historicamente anacrnica. Aqueles que concebem a desigualdade e a assimetria como um pecado original dessa relao, que deveria determinar a interao dos dois pases at

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o dia do juzo nal, deveriam contudo reler um livrinho to modesto quanto desconhecido do pai da nossa imprensa: esse Tocqueville avant la lettre que foi Hiplito Jos da Costa visitou os Estados Unidos h mais de dois sculos, deixando em testemunho um dirio que permaneceu indito por um sculo e meio e que o habilita, tranqilamente, a ser considerado o founding father do americanismo brasileiro3. Nesse Baedecker de prospeco agrcola-manufatureira, Hiplito nos descreve um pas essencialmente agrcola (como se dizia do Brasil ainda nos anos 1950), basicamente voltado para si mesmo (ou seja, introspectivo economicamente), frtil em novos cultos religiosos e em especulaes mercantis, inconstante partidria e politicamente (com estados disputando espaos com o poder central) e temeroso diante das grandes potncias (europias). Os textos respectivos de John DeWitt e de Eliana Cardoso, animados pela mais moderna metodologia histrica e econmica, nos conrmam, na segunda parte deste volume, essa realidade to velha quanto a Constituio da Filadla e o decreto de abertura dos portos: nada havia de predestinado no itinerrio econmico ou tecnolgico de cada um dos pases, mas em ambos os casos suas elites zeram escolhas de polticas econmicas e de investimentos sociais que determinaram trajetrias basicamente distintas a partir da primeira e, sobretudo, da segunda revoluo industrial. Antes deles, na primeira parte, Lincoln Gordon j autor de um livro sobre o processo brasileiro de desenvolvimento4 chama a ateno para o fato de que, antes da era Vargas e do nascimento do moderno nacionalismo econmico no Brasil, a postura das elites brasileiras era bastante simptica e positiva em relao ao gigante do Norte, buscando uma relao especial o incio do projeto vem da poca do Baro do Rio Branco, ou qui mesmo antes mutuamente benca e garantidora de certa preeminncia alguns diriam liderana em cada uma das regies respectivas. Bons tempos aqueles, parece reetir Lincoln Gordon, quando os brasileiros se congratulavam com a abertura do Canal do Panam, que diminuiu enormemente a distncia e o tempo em direo da costa oeste dos Estados Unidos. Pouco depois, o Brasil abandonava a carta britnica pela opo americana, situao decerto tornada inevitvel em virtude da crise econmica de 1929 e

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Cf. COSTA, Hiplito Jos da. Dirio de minha viagem para Filadla, 17981799. Rio de Janeiro: Publicaes da Academia Brasileira, 1955. Veja igualmente Paulo Roberto de Almeida, O nascimento do pensamento econmico brasileiro. In COSTA, Hiplito Jos da. Correio Braziliense, ou, Armazm Literrio. So Paulo: Imprensa Ocial do Estado; Braslia: Correio Braziliense, 2002. Reedio fac-similar, v. XXX, p. 323-369. GORDON, Lincoln. Brazils second chance: en route toward the First World. Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 2001. Edio brasileira: A segunda chance do Brasil: a caminho do Primeiro Mundo. So Paulo: Editora Senac, 2002.

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da inconversibilidade da libra (em 1931) e depois obrigatria por situao de guerra europia. Os anos de guerra e seu imediato seguimento correspondem ao que, no texto inaugural, Paulo Roberto de Almeida chama, tomando emprestado o ttulo do excelente livro de Gerald K. Heines, de americanizao do Brasil, provavelmente mais cultural do que econmica, poltica ou tecnolgica. Em todo caso, o nacionalismo se arma tambm nessa poca, com algumas tinturas antiamericanas que nem todas eram derivadas da situao da Guerra Fria e da chamada propaganda subversiva do movimento comunista internacional. Lincoln Gordon aventa a hiptese embora reconhecendo que os counter-factuals so duros de ser conrmados de que, se os Estados Unidos tivessem iniciado, naquele momento, um modesto programa de assistncia econmica ao Brasil, essa injeo de capitais (pblicos, entenda-se, pois desde ento gostvamos do capital estrangeiro, mas preferamos dispensar os capitalistas, como lembrou mais de uma vez Roberto Campos), talvez as mais duras manifestaes de antiamericanismo no se tivessem desenvolvido, pari-passu ao nacionalismo brasileiro. O fato que desde essa poca as relaes polticas se tornaram mais problemticas, com surtos e impulsos de aproximao e de rejeio, como examina o restante do texto de Paulo Roberto de Almeida. Coincidncia ou no, foi tambm a partir dessa poca que a Coria, at ento dotada da metade da renda per capita brasileira, comea sua arrancada para frente, superando o Brasil em pouco mais de 20 anos. pelo menos curioso que, nessa poca, o economista sueco Gunnar Myrdal mais tarde ganhador de um Prmio Nobel, no se sabe se por isso escrevia um livro sobre a sia demonstrando que ela estava, infelizmente, condenada a uma misria asitica, ao passo que a Amrica Latina parecia exibir, em virtude de sua identicao com o padro ocidental e talvez por desfrutar de economistas to inovadores como o prprio Myrdal, a exemplo de Ral Prebisch , as melhores condies possveis para uma arrancada para o crescimento, teoria popularizada no manifesto anticomunista de Walt Rostow5. Eliana Cardoso mostra, em todo caso, que depois de se aproximar um pouco do patamar de riqueza dos americanos, os brasileiros recuaram novamente nos ltimos 20 anos, conseqncia do desregramento scal do Estado e de uma poltica cambial errtica. Com maiores ou menores nfases na aproximao poltica e independentemente da qualidade de nossas polticas econmicas, Rubens Antnio Barbosa constata essa realidade singular desde o incio do sculo XX, a de que os Estados5

Veja ROSTOW, Walt W. The stages of economic growth, a non-communist manifesto. Cambridge: Cambridge University Press, 1960.

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Unidos so nosso principal parceiro econmico. Certo, a Gr-Bretanha ainda fornecia o grosso dos capitais e dos servios at a Primeira Guerra Mundial e sustentou duramente sua condio de primeira fornecedora manufatureira do Brasil, primeiro contra a Alemanha, depois contra os Estados Unidos, at 1927 pelo menos. Mas a mudana de hegemonia econmica era inevitvel: os Estados Unidos eram o primeiro comprador de nosso produto bsico de exportao desde o ltimo tero do sculo XIX, e no seguinte se tornaram rapidamente o principal investidor industrial e o credor de primeira instncia. A Segunda Guerra faria o resto, consagrando os Estados Unidos na primeira posio enquanto parceiro comercial, tecnolgico e nanceiro, mesmo quando a Europa comunitria ocupava um espao maior considerada enquanto bloco. Depois de um longo passeio pela histria das relaes econmico-comerciais bilaterais, inclusive do ponto de vista das posies respectivas no sistema multilateral de comrcio desde o surgimento do Gatt (1947), Barbosa se concentra nas atuais negociaes comerciais, multilaterais e hemisfricas, sublinhando as grandes diferenas de interesses at agora prevalecentes. Ele constata alguns impasses negociadores, mas tambm indica possveis caminhos de compromisso. A questo da ALCA, bem como suas implicaes para os demais processos comerciais, ocupa posio central no texto de Jeffrey Schott, conhecido especialista de polticas (e prticas) comerciais desde longo tempo, h pelo menos trs rodadas de negociaes do GattOMC e economista totalmente familiarizado com os esquemas (e as armadilhas) de liberalizao comercial no hemisfrio (a comear pelo Nafta). Ele examina os dados brutos de comrcio, os uxos de investimento e os componentes tarifrios e no tarifrios do enfrentamento brasileiro-americano na ALCA, para concluir que uma soluo mutuamente vantajosa possvel, desde que alguns trade-offs o jargo inevitvel nesse tipo de situao sejam feitos e que expectativas mais modestas e realistas sejam contempladas de lado a lado. A situao global do relacionamento bilateral, sua condio geopoltica digamos assim, abordada nos dois ltimos textos deste livro, respectivamente por Peter Hakim, o lder do Dilogo Interamericano, e Thomaz Guedes da Costa, um dos mais conhecidos pensadores estratgicos do Brasil, atualmente professor na National Defense University. Essa ltima parte do volume tem por objetivo fazer um balano das relaes americano-brasileiras a partir de uma viso mais ampla, regional, hemisfrica e mesmo global, e oferecer algumas chaves para seu desenvolvimento futuro, se possvel em um sentido harmonioso. No se trata certamente de tarefa fcil, uma vez que a j mencionada assimetria estrutural torna difcil um dilogo de igual para igual, como gostariam os brasileiros e do qual esto privados mesmo os aliados da Otan. O eventual estabelecimento de uma

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estratgia de alianas com parceiros porventura em situao similar no resolve, de fato, o problema do dilogo, incontornvel, com o gigante do Norte. Peter Hakim analisa, no ltimo texto, as diferentes perspectivas, no necessariamente opostas, que adotam os lderes brasileiros e americanos em relao a essa interao central para os primeiros, igualmente importante, diz ele, para os segundos, ainda que com objetivos e preocupaes algo diversos. Os brasileiros tendem a propor uma cooperao mais pragmtica, talvez mais oportunista, ainda segundo ele, em torno de questes concretas e especcas, particularmente (mas no exclusivamente) em comrcio, investimento, tecnologia e em outras reas econmicas. Os americanos gostariam de ter a colaborao dos brasileiros em uma srie de outras reas nas quais estes no esto dispostos ou no so capazes de fornec-la, como em segurana regional, controle do narcotrco etc. Esse desencontro no est condenado a perdurar, mas um srio esforo de dilogo constante entre as duas partes parece ser condio essencial para superar os desencontros e lograr o reforo de uma relao ainda indenida. Guedes da Costa, no texto anterior, tambm focaliza as relaes globais e comea por se perguntar, retomando Sidney Weintraub, se essas relaes no esto contaminadas pelo componente do desconhecimento. Em todo caso, o perodo recente produziu algumas boas surpresas nas percepes recprocas, com um acolhimento excepcionalmente favorvel da parte americana por um governo que em outras pocas seria visto com alguma suspeita. A mudana igualmente recproca e ele se pergunta se, do lado brasileiro, a nova poltica externa no estaria retomando os padres do antigo pragmatismo responsvel. A pergunta pertinente, pois de ambos os lados, sobretudo do brasileiro, o desejo parece evidente de inaugurar uma relao com os Estados Unidos altamente frutfera, pragmtica e orientada para resultados que contemplem os velhos objetivos brasileiros de crescimento econmico, de capacitao tecnolgica e, agora, como candidato a modelador dessas relaes, de promoo social e de desenvolvimento humano. Essa viso do relacionamento bilateral foi colocada de modo claro pelo presidente Luiz Incio Lula da Silva, quando de sua primeira viagem a Washington, ainda como presidente eleito, em 10 de dezembro de 2002: Venho a Washington, disse ele no National Press Club, para trazer, do Brasil, uma mensagem de amizade. Pretendo [] dar incio a quatro anos de convivncia franca, construtiva e benca entre os nossos dois pases. Depois de traar um paralelo entre os dois pases, ele explicitava: A histria nos ensina que no soubemos aproveitar, no passado, alguns momentos propcios para construirmos uma parceria mais abrangente. Poderamos ter tirado maiores benefcios do impulso resultante da luta que travamos juntos contra o nazismo, na Europa, para criarmos, em tempos de paz,

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uma cooperao altura dos nossos pases. Estou convencido, no entanto, de que o nosso vnculo pode melhorar. Se as nossas sociedades se conhecerem mais. Se nos livrarmos de esteretipos e preconceitos. Se aprendermos a valorizar as anidades e respeitar as diferenas que existem entre ns. Este livro foi concebido e organizado com esse mesmo esprito: conhecimento mtuo, respeito das diferenas, benefcios recprocos, a partir de uma interao mais intensa, maiores vantagens respectivas, tanto no entorno geogrco quanto no cenrio mundial. Os ensaios aqui reunidos fazem um balano do passado, um diagnstico do presente e oferecem alguns caminhos para o futuro. Nossa aspirao de bem servir ao objetivo do fortalecimento de uma longa amizade e de relacionamento entre os povos que comeou ainda na era portuguesa, em plena Incondncia mineira ter sido atingida se este livro puder bem informar os estudantes, os simples curiosos e o pblico em geral, se ele puder formar os agentes futuros dessa interao multiforme e se puder tambm, nunca demais esperar, forjar as bases de uma relao mais madura, totalmente desprovida de restries mentais, de parte e outra, e inteiramente aberta cooperao e ao enriquecimento mtuo. Para tentar alcanar esses objetivos, este livro se dedicou ao exame dos desaos e das tenses nas relaes bilaterais, bem como das divergncias econmicas acumuladas no decorrer dos ltimos dois sculos de desenvolvimento desigual e combinado, e tambm das convergncias construdas no contexto do multilateralismo contemporneo, buscando responder questo bsica que prende a ateno e mobiliza a vontade poltica dos estadistas brasileiros no decurso desse longo perodo: como superar as assimetrias estruturais existentes entre os dois pases herdadas, construdas ou aprofundadas e alcanar certo patamar de interdependncia que melhor reita as potencialidades e as possibilidades de uma nova parceria entre os dois grandes do hemisfrio ocidental. A obra no tem a pretenso de ter respondido a todas as questes de um relacionamento to complexo quanto os problemas internos do Brasil, mas espera ter, pelo menos, colocado todas as perguntas pertinentes para uma anlise adequada dessa problemtica.

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2.1 Introduo

Os Estados Unidos foram o primeiro pas a reconhecer a independncia do Brasil, em 1824, e as relaes entre ambos os pases representam uma das maiores linhas de continuidade da diplomacia bilateral brasileira em quase dois sculos de relaes exteriores enquanto pas independente. De fato, desde antes da independncia, em 12 de agosto de 1822, Jos Bonifcio, com a concordncia do ento prncipe regente, D. Pedro, j havia designado um agente diplomtico junto aos Estados Unidos, que no chegou todavia a embarcar6. Esse agente era ningum menos do que o prprio ocial-maior da Secretaria de Estado posto hoje equivalente ao de secretrio-geral do Itamaraty e, como relata um historiador, estava por demais ocupado com seu cargo no Rio de Janeiro para ser dispensado de suas funes7. Um ano e meio depois, Jos Silvestre Rebelo desembarcava em Baltimore, para servir durante mais de cinco anos como representante diplomtico brasileiro em Washington, primeiro como encarregado de negcios, depois como ministro plenipotencirio, inaugurando assim um relacionamento que se estende, atualmente, aos mais diversos campos da vida poltica, econmica, cultural e, obviamente, diplomtica de ambos os pases, em dimenses no conhecidas pelo Brasil em relao a qualquer outro pas ou grupo de pases. Esse relacionamento entre o Brasil e os Estados Unidos foi claramente mais intenso no perodo contemporneo do que no sculo XIX, quando a Inglaterra dominava grande parte de nossa interface externa, na rea comercial, nanceira, de investimentos e mesmo diplomtica. Este ensaio, de carter essencialmente histrico, seguir as grandes linhas do desenvolvimento dessas relaes ao longo do sculo XX; mas o essencial do texto se dedicar a um exame mais detalhado do relacionamento no decorrer da ltima dcada e meia, grosso modo o perodo psredemocratizao (a partir de 1985), com nfase nos anos Fernando Henrique Cardoso (FHC) e no incio do governo do presidente Luiz Incio Lula da Silva. A abordagem aqui adotada privilegiar os elementos econmico-nanceiros da relao, comparativamente aos tradicionais temas poltico-diplomticos,6

WHITAKER, Arthur. Jos Silvestre Rebelo: o primeiro representante diplomtico do Brasil nos Estados Unidos. In: Ministrio das Relaes Exteriores, Comisso de Estudo dos Textos da Histria do Brasil. Estudos americanos de histria do Brasil, introduo de Jos Honrio Rodrigues. Rio de Janeiro: Diviso de Documentao, 1967. p. 99-125, cf. p. 101; artigo originalmente publicado em The Hispanic American Historical Review, v. 20, n. 3, ago. 1940, p. 380-401. CALGERAS, J. Pandi. A poltica exterior do Imprio. Rio de Janeiro: IHGB, 1928. v. II: O Primeiro Reinado, p. 48.

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mais presentes na historiograa corrente8, ou os de sociologia comparada9. Essa literatura no ser necessariamente repassada ao longo do texto, uma vez que a inteno do autor no oferecer uma anlise de tipo acadmico, mas sim enfocar essas relaes com base na perspectiva, talvez privilegiada, de um observador participante da agenda diplomtica bilateral. Tendo exercido, entre 1999 e 2003, o cargo de ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington, o autor se julga capacitado para oferecer uma avaliao pragmtica, e o mais possvel objetiva, dessas relaes, ao combinar conhecimento histrico e domnio dos principais pontos dessa agenda em um texto que junta, precisamente, o enfoque linear do itinerrio bilateral e a seleo de alguns temas-chave nesse relacionamento, como podem ser as questes econmicas e nanceiras10. 2.2 Breve retrospecto histrico Os primeiros vnculos, indiretos, entre ambas as naes, ainda durante o perodo colonial, datam provavelmente do estabelecimento em Nova Amsterd (mais tarde convertida em Nova York) dos judeus fugidos do Brasil, no seguimento da reconquista pelos portugueses do Nordeste ocupado durante a primeira metade do sculo XVII pelos holandeses. A independncia das treze colnias motivou patriotas brasileiros entre eles os incondentes mineiros a8

Veja NAPOLEO, Aluizio. Rio Branco e as relaes entre o Brasil e os Estados Unidos. Rio de Janeiro: Ministrio das Relaes Exteriores, 1947. HILL, Lawrence F. Diplomatic relations between Brazil and the United States. New York: AMS Press, 1971 (ed. orig.: Durham, NC: Duke University Press, 1932). MOURA, Gerson. Autonomia na dependncia: a poltica externa brasileira de 1935 a 1942. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. Idem. Tio Sam chega ao Brasil: a penetrao cultural americana. So Paulo: Brasiliense, 1986. Idem. Sucessos e iluses: relaes internacionais do Brasil durante e aps a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Fundao Getulio Vargas, 1991. BANDEIRA, Luis Alberto Moniz. Brasil, Argentina e Estados Unidos: da Trplice Aliana ao Mercosul. Rio de Janeiro: Revan, 2003. Idem. Relaes BrasilEUA no contexto da globalizao: I Presena dos EUA no Brasil. 2. ed., rev. So Paulo: Senac, 1998. Idem. Relaes BrasilEUA no contexto da globalizao: II Rivalidade emergente. 2. ed., rev. So Paulo: Senac, 1999. MOOG, C. Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. Porto Alegre: Livraria O Globo, 1954 (ed. amer.: Bandeirantes and Pionners transl. by L. Barret. New York: Braziller, 1964). OLIVEIRA, Lcia Lippi. Americanos: representaes da identidade nacional no Brasil e nos EUA. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2000. Veja, entre outros trabalhos do autor, O Brasil e o sistema de Bretton Woods: instituies e polticas em perspectiva histrica, 19442002. In: MAZZUOLI, Valrio e SILVA, Roberto Luiz. O Brasil e os acordos econmicos internacionais: perspectivas jurdicas e econmicas luz dos acordos com o FMI (So Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 30-64. Diplomacia nanceira: o Brasil e o FMI, de 1944 a 2003. In: Relaes internacionais e poltica externa do Brasil: histria e sociologia da diplomacia brasileira. 2. ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. O Brasil e o multilateralismo econmico. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1999.

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buscar ajuda americana para a libertao de seu pas. Um pequeno nmero de confederados americanos emigrou para o Brasil aps a derrota na Guerra de Secesso, dando origem a slidos estabelecimentos agrcolas no interior de So Paulo. O imperador Pedro II era um sincero admirador dos progressos tcnicos dos Estados Unidos, tendo visitado a exposio do centenrio da independncia em Filadla, em 1876, assistindo a uma demonstrao pioneira do telefone de Alexander Graham Bell11. A proclamao da repblica no Brasil faz seu regime poltico car um pouco mais prximo do modelo americano, a comear pelo prprio nome (Estados Unidos do Brasil) e pelo regime presidencialista com legislativo bicameral. As relaes bilaterais entre o Brasil e os Estados Unidos no sculo XX passaram por diferentes situaes e atitudes por parte dos respectivos governos, da aproximao indiferena, da aliana militar desconana, da cooperao poltica competio comercial, nas diversas fases de desenvolvimento de um relacionamento que remonta originalmente ao perodo anterior independncia do Brasil. Na esfera da sociedade e da economia, essas relaes tornaram-se crescentemente intensas, sobretudo na rea cultural e dos investimentos privados, medida que o Brasil se inseria cada vez mais nos circuitos internacionais. A partir de um intercmbio basicamente comercial, a relao evoluiu para muitos outros campos de cooperao e de interdependncia recproca, mas uma das caractersticas da interao no incio do sculo XXI conrmou-se no terreno da dependncia nanceira do Brasil em relao aos uxos nanceiros oriundos dos Estados Unidos, tanto privados (capitais negociados basicamente em Nova York) como pblicos (nanciamentos multilaterais ou bilaterais tratados em Washington). Os Estados Unidos como primeira potncia hemisfrica em todo o perodo e principal potncia planetria desde o nal da Segunda Guerra Mundial estiveram presentes em quase todos os lances importantes da diplomacia brasileira no sculo XX, assim como ocuparam parte signicativa da interface externa do Brasil no campo econmico, cientco, tecnolgico e cultural no ltimo meio sculo. As relaes foram e ainda so marcadas por uma evidente assimetria no plano econmico, tecnolgico e militar, ainda que o Brasil, em diversas pocas, tenha buscado introduzir, no plano diplomtico, maior equilbrio poltico, com base na reciprocidade e na igualdade de tratamento, objetivos difceis de ser alcanados, mesmo por potncias mais avanadas, em vista dos evidentes (e crescentes) diferenciais de potencial estratgico e de exerccio de poder entre os Estados Unidos e os demais pases a partir de meados do sculo XX. Com o m11

Veja LYNN, Roa. Brazil and the USA: what do we have in common? 2. ed. Washington, D.C.: Brazilian Embassy, Cultural Section, 1999, p. 13.

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da Guerra Fria e a bvia ascenso dos Estados Unidos a uma solitria posio de preeminncia estratgica, em face do declnio relativo da outra superpotncia da era bipolar, a busca de paridade por parte dos demais poderes nucleares tornouse um exerccio meramente retrico, j que no apoiada em disponibilidades similares no plano militar ou tecnolgico. Mais recentemente, a postura unilateralista americana em poltica externa ampliou um fosso de tipo hegemnico em relao aos demais pases que talvez no tenha existido em qualquer outra poca histrica anterior com outros imprios universalistas. 2.3 Substituio de hegemonias na era do caf Os desnveis de desenvolvimento entre o Brasil e os Estados Unidos j se tinham tornado evidentes desde o nal do sculo XIX12, quando o Brasil participou, na transio da monarquia para a repblica, de uma primeira tentativa de integrao comercial hemisfrica patrocinada pelos Estados Unidos, na conferncia americana de 18891890. A partir de 1902, o Baro do Rio Branco, armado de uma concepo diplomtica baseada no equilbrio de poderes (representada basicamente pela competio com a Argentina por certa hegemonia regional), opera uma primeira poltica de aproximao com os Estados Unidos13. Brasil e Argentina buscaro em vrios momentos capturar a ateno dos Estados Unidos na busca de uma relao especial que sempre revelou-se ilusria14. O gigante do Norte tinha proclamado o corolrio Roosevelt doutrina Monroe, justicando suas intervenes no entorno imediato como o exerccio de um papel de polcia segundo padres de civilizao estabelecidos mediante acordo tcito com as potncias europias15.12

Cf. LIMA, Manuel de Oliveira. Nos Estados Unidos: impresses sociais e polticas. Leipzig: Brockaus, 1899; The evolution of Brazil compared with that of Spain and Anglo-Saxon America. Stanford: California University Press, 1914; edited with introduction and notes by Percy Alvin Martin (new ed.: New York: Russell and Russell, 1966; ed. bras.: Amrica Latina e Amrica inglesa: a evoluo brasileira comparada com a hispano-americana e com a anglo-americana. Rio de Janeiro: Garnier, s.d. [1913]). DEWITT, John. Early globalization and the economic development of the United States and Brazil. Westport, Conn.: Praeger, 2002. ALMEIDA, Paulo Roberto de. Formao da diplomacia econmica no Brasil: as relaes econmicas internacionais no Imprio. 2. ed. So Paulo: Senac, 2005. Cf. BURNS, E. Bradford. A aliana no escrita: o Baro do Rio Branco e as relaes BrasilEUA. Braslia: Funag, 2003 (ed. orig.: The Unwritten Alliance: Rio Branco and Brazilian-American Relations. New York: Columbia University Press, 1966). Cf. BANDEIRA, Luis Alberto Moniz. Brasil, Argentina e Estados Unidos: da Trplice Aliana ao Mercosul, op. cit. Veja LIMA, Manoel de Oliveira. Pan-Americanismo: Monroe, Bolivar, Roosevelt. Ed. fac-similar: Braslia: Senado Federal, 1980 (ed. orig.: 1907).

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Tendo assistido, na Europa, ao surgimento e consolidao de grandes imprios coloniais, Rio Branco alimentava, a despeito de seu sincero desejo de uma entente entre a Argentina, o Brasil e o Chile, um no muito secreto desejo de fortalecer militarmente o Brasil, colocando-o no mesmo p de igualdade que o gigante do Norte. Assim foi sua manifestao na abertura do Terceiro Congresso Cientco Latino-Americano, realizado no Rio de Janeiro em 1905: indispensvel que, antes de meio sculo, pelo menos quatro ou cinco das maiores naes da Amrica Latina, por nobre emulao, cheguem, em recursos defensivos, como o nosso grande irmo do Norte, a competir com os mais poderosos Estados do Mund