Brasilpandeir Oyy 1
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BRASIL PANDEIRO A VIDA E OBRA DE PERNAMBUCO DO PANDEIRO
INÁCIO SOBRINHO PINHEIRO
EZALMONE MOREIRA DOS SANTOS
DEDICATÓRIA
“MEUS IRMÃOS EM ARMAS”: OS MÚSICOS QUE DIVIDIRAM O PALCO COMIGO
SUMÁRIO
1ª. PARTE - FASE NORDESTINA 1. O MEU LUGAR 2. O ENCONTRO COM LAMPEÁO 3. Os VALORES E COSTUMES 4. A IDA PARA O RIO DE JANEIRO
2ª. PARTE – MINHA VIDA NO RIO DE JANEIRO
1. APRENDENDO A VIVER NO RIO DE JANEIRO. 2. O CONVÍVIO COM A ALTA MALANDRAGEM 3. O CONTATO COM A MÚSICA 4. MEU ENCONTRO COM O PANDEIRO 6. O BATISMO DE FOGO 7. O INICIO NO MUNDO MUSICAL Os programas de calouros O ponto dos músicos
8. PARTICIPAÇÃO NOS CONJUNTOS REGIONAS 9. O REGIONAL DE PERNAMBUCO DO PANDEIRO 10. A ENTRADA DE HERMETO PASCOAL NO REGIONAL 11. A CARREIRA INTERNACIONAL Excursão com Carmélia Alves A caravana Humberto Teixeira
12. O MUNDO MUSICAL DAS RÁDIOS E GRAVADORAS 3ª PARTE. MINHA VIDA EM BRASÍLIA O CONVITE DE JK
O ABANDONO DE UM MÚSICO INTERNACIONAL NO CERRADO
O TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DA NOVA CAPITAL
A PRISÃO
PARTICIPAÇÃO NO MEIO MUSICAL EM BRASÍLIA
A FUNDAÇÃO DO CLUBE DO CHORO
A PARTICIPAÇÃO NO CONJUNTO DE WALDIR AZEVEDO
MINHA CONVIVENCIA EM MINAS GERAIS
O RETORNO A BRASÍLIA
PEQUENA HOMENAGEM AOS MEUS “IRMÃOS DE ARMAS”.
APRESENTAÇÃO
‘SERÁ FEITA POR HERMETO PASCOAL’
BRASIL PANDEIRO
Coração de sambista brasileiro Quando bate no pulmão Lembra a batida de um pandeiro. “Noel Rosa.”
PRIMEIRA PARTE
1. O meu lugar. Maria Francisca. Assim chamava minha mãe, uma paraibana do sertão,
legítima descendente de Severino Vitoriano de Souza Pinheiro, proprietário do
Engenho São Tomé, de família tradicional que davam ordens e eram obedecidos por
todos. Seus antepassados foram donos escravos e era o arrimo de muitas famílias
que sobreviviam como empregados da Usina; a maioria agregados a um pedaço de
chão cedido para plantar a meia parte.
Uma mulher dona de suas vontades, personalidade forte e obediente sincera
das suas intuições, engraçou-se logo com João Bezerra, da mesma família do
Sargento que matou Lampião na tocaia de Angicos. Uma amizade proibida. A família
Bezerra do lugar onde nasci era gente honesta, mas muito brigões. Arruaceiros nos
forrós atiravam no candeeiro, furavam fole de concertina e botavam a barraca
abaixo. Era um desespero quando alguém dessa família chegava às reuniões
sociais de Lagoa da Roça.
Meu pai era um homem bonito: cabelos cacheados, estatura mediana, tez
morena e olhos verdes, o que certamente provocou o interesse por parte de minha
mãe, Maria Francisca, a ponto de se romper com a família casar-se com ele.
Tiveram 19 filhos e como conseqüência da desobediência, passou ser tratada como
uma fotografia virada contra a parede, esquecida, banida e deserdada. Casamento
naquela quadra era uma forma de manter o poder e a tradição da família, os Souzas
não viam em João Bezerra essa possibilidade.
A sua desobediência foi como uma sentença de morte. Sua família nunca a
perdoou, nem aceitou seus filhos como herdeiros legítimos. Certa vez quando a
fome apertou o cerco em Lagoa da Roça, coloquei um saco nas costas e fui pedir
um adjutório para um tio materno, Antônio Pinheiro. Fui enxotado de sua casa como
um cão pestilento jurado de tomar uma surra se tivesse a insolência de voltar outra
vez lá. A sua falta de caridade cristã me impressionou que até hoje peço a Deus em
minhas preces que o perdoe, por que eu mesmo até hoje nunca senti vontade em
fazê-lo.
Dona Maria Francisca não era mulher de andar com a cabeça baixa não!
Encarou a situação e tocou a vida dentro de suas possibilidades. Abraçou a
profissão de costureira amparada na fé em Padre Cícero. Fazia ternos, uniformes,
vestidos, camisas, cobertas de chita e mortalhas; costurava toda sorte de roupas
que os sertanejos precisassem. Tinha muita força. Virou rezadeira. Contra
quebranto, mal olhado, espinhela caída e erisipela. Criança chegava obrando verde,
e mãe reclamando que o “peste” quando dormia acordava avechado em solavancos
e com batedeira. Isso era o suficiente para o diagnóstico perfeito: quebranto ou mal
olhado.
Caminhava medindo os passos para o fundo do quintal levando a criança e a
mãe, com um ramo benzia, e terminava a unção com os olhos lacrimados,
bocejando e reclamando que o menino estava “carregado”. Pedia à mãe que
trouxesse a criança nos “dias fortes” quarta ou sexta-feira para um reparo, e
prescrevia por cima, uma figa para o inocente usar como penduricalho no pescoço,
por função de absorver essas maldades transmitidas sem querer por quem nasceu
com a sina de olhar ruim.
Ficou mais conhecida como Dona Maria Francisca parteira. Era aparadeira de
mão cheia, a preferida de todas as gestantes da região. A parturiente só acalmava
quando “Siá” Maria Francisca chegava. Assumia o comando. Com voz decidida
clamava por trapos limpos, tesoura, faca fervidas e exigia aguardente e pólvora; se
acaso a mulher perdesse as forças, era forçada a beber essa mistura para
restabelecer-se. Não permitia manifestações de dor, não podia gemer de forma
alguma, gritar estava fora de cogitação, mulher procedesse assim ganhava a fama
de fraca. Eu imagino que inconscientemente ela percebia o inconveniente de
desperdiçar energia à toa, sabia da necessidade de usar toda força no momento
certo para retirar o bebê das entranhas. Assistiu muitas mulheres lutar até o fim.
Parto no sertão era risco de vida, se a criança atravessasse, na maioria casos eram
fatais, morria mãe e filho.
Vivia fé e caridade no dia a dia, não medindo esforços para fazer o bem.
Ajudou muita gente em 1932 durante o surto de varíola que ceifou muitas vidas no
sertão paraibano. Eu mesmo fui parar na folha de bananeira, artifício muito usado
para não “pregar” no lençol quando a varicela “bexiguenta” tomava conta do corpo
todo. Como diz o sertanejo, “depois do coice a queda”, veio a febre bubônica,
provocando imensa mortandade no local. Fazia de graça as mortalhas, preparava os
corpos para serem enterrados, misturava com os doentes e para espanto de todos,
não era contaminada. Explicava-se dizendo que era a fé no Padre Cícero Romão
Batista, a razão de toda força e proteção que aquela bela sertaneja, que tinha a
ternura de um beija-flor e a coragem de uma onça parida quando era para proteger
os seus.
Eu nasci dessa mulher em 1924, décimo – oitavo dos dezenove filhos seus.
Nascido no município de Gravatás, região do agreste pernambucano. Naquela
época quando a seca castigava o sertão, os que tinham oportunidade se refugiavam
no Agreste, por isso que nasci no Pernambuco, na fazenda de Neco Porto, antigo
prefeito de Caruaru. Fui batizado com o nome de Inácio Pinheiro Sobrinho, devido
ser homônimo a um tio materno incorporaram o “sobrinho” para diferenciar nós dois.
Com quatro meses de idade voltei para a Lagoa da Roça, lugarejo situado a
10 km de Campina Grande, no Estado da Paraíba. Por isso é que me considero um
pernambucano de coração paraibano. Construi toda minha infância entre as
dificuldades próprias de quem nasceu em uma região desassistida, cresci
trabalhando e amadureci prematuramente sem deixar de ser um moleque levado e
espirituoso.
Ainda hoje, durante as noites quando o sono me abandona, recordo aqueles
dias difíceis, as reminiscências anestesiadas por mais de 85 anos vividos me
conduzem no tempo com uma boa intenção de felicidade. Imagino com o olhar e o
sentimento daquela criança que vive ainda dentro de mim. As dificuldades de
sertanejo pobre que me deram a força da superação. Caí várias vezes na vida, mas
sempre dei a volta por cima, amparado pela experiência de quem fez um macabro
vestibular para a vida. Criança que sobrevivesse naquelas condições naturalmente
se transformaria em um homem determinado. Tenho a impressão que foi isso que
me transformou em um homem otimista, como dizem na gíria popular, “prá cima”.
Sempre gostei de “incendiar” as pessoas que estivessem ao meu redor, aprendi a
ver o mundo como se fossem um palco, as pessoas atuando cumprindo o seu papel,
e eu o encarregado de alegrá-los, talvez por isso seja que eu tenha me tornado um
artista popular.
Não conheci meu pai. Minha mãe o desobedeceu para seguir uma romaria
para Juazeiro do Norte a fim de receber uma Benção de Padre Cícero. Era um
sonho dela, já era tempo de pagar tanta graça que havia recebido, e aquela visita
era uma forma de demonstrar gratidão. Para levar a cabo o seu intento, teve que
passar por cima do filho mais velho e do marido para se ter com o beato. Assim que
regressou foi violentamente agredida e teve que separar do marido que a
abandonou com os últimos quatro filhos, os outros já haviam debandado em busca
de melhores condições do que aquelas oferecidas pelo sertão paraibano na terceira
década do século vinte.
Comecei trabalhar aos quatro anos de idade, cortando capim, fazia os feixes
e vendia na feira para alimentar os animais dos mercadores. Entre seis a sete anos
já fazia a proeza de montar em animais bravios, caia muito, não sei quantas vezes
machuquei. Mas mantinha sempre a determinação de domar aqueles animais
chucros. E depois de domados vinha a parte que eu mais gostava: ensinar os
animais marchar no ritmo certo, já possuía espírito de perfeccionista. Há três tipos
de marcha; o “trotão”, quando o cavalo anda em solavancos, “thum, thum, thum, o
“esquipador”, é um andar mais suave, que não castiga tanto os “bofes” do cavaleiro,
e por último o “bacheiro”, cavalo marchador, cavalga no ritmo certo marcado,
“pacatá, pacatá, pacatá, pacatá...”. Foi essa mania de corrigir os cavalos é quem me
deu esse ritmo da “moléstia” que tenho no seu sangue.
Uma criança no sertão virava adulto rápido, quatro a cinco anos já começava
a ajudar no que podia. A luta para matar a fome era terrível e desqualificadora, não
dependia somente da vontade e capacidade de trabalhar. Tinha que contar coma
ajuda do sobrenatural, se não chovesse meus amigos, era certeza de miséria.
Somente as pessoas de recursos conseguiam manter estoques de alimentos, o povo
de um modo geral não conseguia. Na época de chuvas o que colhiam tinha que
repartir com o proprietário das terras. Que ainda tirava da outra parte o pagamento
para dívidas vencidas, normalmente alimentos adiantados que o sertanejo retirava
antecipado para pagar dobrado.
Quase todo povo tinha suas criações de terreiro, galinhas poedeiras, capão,
frango, para o almoço no final de semana. O porco cevado era para o Natal e São
João. Mas no dia a dia, alimentava-se predominantemente de favas, de jabá, ou
carne do Ceará, muito seca e salgada. Também a carne de sol, um pouco mais
úmida e macia. De verduras sómente o maxixe, quiabo, jerimum e macaxeira.
Comer feijão era para pessoas de posses, o feijão de corda nem se fala. Leite,
somente se criasse uma cabra, tínhamos uma. De vez em quando comíamos o “pão”
do dia seguinte. Muito duro, mas, mais barato, em vez de jogar fora o padeiro vendia
pela metade do preço para os mais necessitados.
Naquele tempo o povo dava um duro danado e o resultado não aparecia, tinha
que se valer da fé meus camaradas, e cada vez que o sofrimento aumentava, era a
maior a certeza que havia uma força maior acima daquela aflição capaz de escrever
um destino conforme cada qual merecesse. Um vizinho, que o tempo me fez
esquecer o nome, jurava que já nascíamos escalados para sofrer devido às
maldades que fizemos em existências anteriores. Que já tínhamos contas debitadas
de vidas passadas e que nessa estávamos tendo a oportunidade de pagar.
Tínhamos que ter fé e, sobretudo resignação, essa última eu nunca consegui
desenvolver.
A fé do sertanejo era muito grande, havia um respeito generalizado às coisas
sagradas. Qualquer morador abria a porta da sua moradia em alta madrugada se
alguém clamasse “bendito seja nosso senhor Jesus Cristo”! Dentro de casa
respondia: ”para sempre seja louvado, tão bom senhor”! Em seguida a porta abria,
para qualquer um. Nem o pior dos bandidos ousava quebrar esse acordo, pelo temor
de cair sobre si a santa ira divina. E com isso ninguém se arriscava. Até o pior dos
salteadores recolhia-se em oração, trazia orações presas em patuás, reza forte
contra arma de fogo e arma branca, diziam que alguns tinham o corpo fechado e
que só podiam ser atingidos com balas benzidas ou adaga virgem, sem uso.
O povo vivia e divertia-se como podiam nas feiras e em forrós. A feira ainda é
o mercado tradicional mercado onde se compra e vende-se de tudo: animais, carne,
quitandas, cabrestos, arreios, rapadura, farinha, feijão, carne seca. Era o ponto dos
tocadores afamados, alguns com fama de ter “pauta” com o maligno, para poder
dominarem a concertina de oito baixos, conhecida por sanfona “pé de bode.”
Instrumento difícil de ser tocados, devidos os poucos recursos que possui. Tem
sómente oito baixos e um fole muito complicado de controlar, quando abre é uma
nota e quando fecha é outra.
Os sanfoneiros do nordeste iniciavam-se sempre por ela, por isso quando
passavam para a de 80 ou 120 baixos a coisa aí ficava fácil. Os grandes do pé-de-
bode do meu tempo nas imediações de Lagoa de Roça foram Pólino, Severino de
Guiné, Zé Tempero e o Severino “Galeguinho do Fole” de Itabaiana, nada mais nada
menos do que mestre Sivuca. Fui vê-los várias vezes, não sei se gostava mais da
música ou do bolo de mandioca mole com café servido por uma cabocla bonita de
nome Maria do Joá, quem Sivuca mais tarde lembrou-se de homenageá-la no baião
“feira de mangaio”
“Tinha uma vendinha no canto da rua Onde o mangaieiro ia se animar Tomar uma pitada com lambú assado, E olhar prá “Maria do Joá.” A presença de alguns sanfoneiros era sucesso garantido em qualquer forró e
garantia do desempenho comercial da feira. Severino de Guiné era tratado como um
desses astros de televisão de hoje. Aonde chegava os outros sanfoneiros mais
novos iam vê-lo tocar, ficavam sem piscar os olhos em reverencia, silenciosos para
aprender tudo que pudessem. Ali funcionava a pedagogia do talento e do esforço,
que exclui e projeta. O próprio Sivuca em vida afirmava que aprendeu muito com
“mestre” Severino de Guiné. E logo ele, uma das maiores expressões do acordeom
que o mundo teve noticia. Os gênios aprendem com os menos favorecidos. Por isso
é que são gênios.
Sivuca, Hermeto Pascoal, eu, e outros tantos que fizeram carreira
internacional, tivemos nesse ambiente o início de um aprendizado importante para
uma consagração posterior. Evidentemente que todos nós continuamos estudando a
fundo, mas o substrato cultural, a nossa base estrutural foi apreendida lá. É dela que
propiciou o nosso estilo diferenciado e rico que temos, e, sobretudo a criatividade
espetacular que caracteriza o músico nordestino, sobretudo os sanfoneiros.
Eu botava mais sentido no triângulo e no zabumba, aquele tilingo lingo ligo
extraído do ferro batido, com têmpera especial, encomendado aos melhores
ferreiros me fascinava, não menos que a zabumba. Essa me tirava o juízo, mexia
comigo nas entranhas. Feita de taboa de barrica, mais leve, ou então de baraúna,
madeira preta que dá na caatinga, muito pesada, mas muito sonora. Cortava-se a
árvore e tirava um pedaço assim de um trinta a quarenta centímetros, deixava no sol
para secar, e depois ia tocando fogo do meio para a beirada, quando ficava somente
um aro de uns dois centímetros de largura, estava pronto para ser vestido com um
couro de bode molhado, a seguir era posto no sol inclemente para secar. Depois de
secado couro era pregado tendo como suporte uma vara de jucá cozida,
enrolava-se o restante com uma corda, até o couro ficar bem espichado. Para fazer
o teste acendia-se um candeeiro e deixava-o no meio da sala, batia-se bem forte no
centro da zabumba se o candeeiro apagasse estava aprovada.
Eu não gosto da zabumba de baraúna, tem um som bom, mas o instrumento
fica muito pesado e complica o desempenho de quem está tocando. Hoje pode dá-
se o luxo de escolher, a tecnologia fez aparecer diversos materiais alternativos
fazendo diminuir o peso do instrumento, mas naquele tempo não tinha para onde
correr. Não me lembro de ver naquela época alguém usando o “bacalhau”, aquela
vareta de bambu usada para fazer o contratempo. Essa invenção deu outra vida
para o instrumento, Luís de Januario (mais tarde Gonzaga) foi quem popularizou a
zabumba com o “bacalhau” por intermédio do grande Catamilho, virtuose desse
instrumento trazido do norte pelo próprio Gonzaga.
Aprendi tocar zabumba batendo em caixote, quando faltavam os maiorais. Era
só dar uma chance lá estava eu, imitando os melhores do lugar. O ambiente de feira
foi minha primeira escola com mestres informais e exigentes. Foi ali que tomei
contato com essa variedade de ritmos que compõe a música nordestina: shotish,
xaxado, baião, coco, choro, samba, embolada, maracatu, rojão, galope, os mais
populares, agora se colocarmos os ritmos da Bahia e do Maranhão, Estados do
nordeste com maior influência africana, precisaríamos de muitas páginas e tempo
para pesquisar.
A raiz dos nossos ritmos está na áfrica, nas diversas nações indígenas, e na
musica árabe trazida pelos portugueses descendentes dos mouros que vieram com
a colonização. O Brasil é um país muito rico em variedade musical, precisamos levar
isso mais a sério, hoje é necessário ser músico pesquisador para conhecer esse rico
patrimônio legado pelo próprio povo. Muito dos ritmos que ouvíamos naquele tempo
nas feiras e nos forrós, estão em acelerado processo de extinção.
Não tive professores, vim aprender a escrever quando mudei para o Rio de
Janeiro, mas aprendi muito no sertão, e como o sertanejo além de ser um forte é um
sábio. Aprender ler era para poucos, somente para os filhos de abastados que
contratavam professores itinerantes, ou que mandavam os filhos para colégios de
religiosos. Quando o governo mandava um professor para “desasnar” o povo, era
preciso dividir a cartilha com mais cinco. Além disso, as famílias precisavam do
trabalho dos filhos para sobreviver. Meus amigos preste bem atenção nesse baião
”Oricuri” de João do Vale:
Oricurí madurou
e é sinal, que arapuá já fez mel Catingueira fulorou lá no sertão
vai cair chuva a granel Arapuá esperando oricurí madurecer
Catingueira fulorando sertanejo esperando chover
Lá no sertão, quase ninguém tem estudo um ou outro que lá aprendeu ler
Mas tem homem capaz de fazer tudo, doutor! Que antecipa o que vai acontecer
Catingueira fulora: vai chover andorinha voou: vai ter verão gavião se cantar: é estiada
vai haver boa safra no sertão se o galo cantar fora de hora:
é mulher dando fora, pode crer acauã se cantar perto de casa:
é agouro, é alguém que vai morrer São segredos
que o sertanejo sabe
e não teve o prazer de aprender ler oricurí madurou
e é sinal, que arapuá já fez mel...
João do Vale explica com sabedoria o que é essa universidade sertaneja,
cujo acesso é dado pela terrível prova de conseguir romper a infância com vida.
2. O Encontro com Lampião
O meu sonho de menino era que quando crescesse entrar para o bando do
Capitão Virgulino, o Lampião, para ser visto e respeitado como e um justiceiro do
sertão. Essa vontade nasceu de uma desavença acontecida quando fazíamos “um
quarto” para um vizinho que havia falecido. Nesses velórios havia a parte espiritual e
religiosa, com um discurso exaltando as qualidades em vida do falecido, seguido de
rezas e incelenças, lamento langoroso entoado diante do corpo inanimado. Mas
havia o lado profano com folguedos para passar o tempo. A brincadeira que todos
gostavam era o Gurufim, mas sempre terminava encrenca. O participante era
questionado por quem conduzia o brinquedo a revelar um segredo íntimo, quase
sempre, uma amizade inconfessa.
Essa brincadeira envolveu meu cunhado, que era apelidado de “o coentro”.
O puxador do gurufim perguntou para uma prima minha, muito safada por sinal: -
Luzia, você esta doente? Você cura com que? Ela respondeu com coentro. Minha
irmã viu-se humilhada devido a essa fulerice com o marido dela. Contou o caso para
dona Maria Francisca que sentiu a honra da família abalada. A velha esperou um
cavaleiro chegar munido de uma vara de jucá cozida, dessas que podia dobrar e
colocar no bolso que a “bicha” não quebrava. Tomou a vara emprestada e disse
para a Luzia: sua doença cura é com cipó de jucá, e sapecou um corretivo
inesquecível na moça. A atingida, por sua vez, era um “chamego” do Sargento
Feitosa, e suplicou a este que tomasse as dores por ela, por isso minha mãe foi
presa e amarrada em um tronco como um bicho.
Passei a noite toda chorando vendo aquela cena do Sargento batendo na
porta com “coice fuzil”, invadindo a casa, dando ordem de prisão, e levando minha
para o tronco. De manhã fui cedinho para a residência do Prefeito Medeiros, sentei-
me no baldrame e comecei a chorar, até que saíram para fora para saber o motivo
daquele pranto. Contei tudo para ele e a esposa muito sensibilizada, foi junto com o
marido para a delegacia e ela mesma deu ordem para que soltasse minha mãe. Mas
aquilo não foi suficiente, eu precisava vingar do “macaco” que fizera aquilo, e isso só
era possível se entrasse no bando do Capitão Virgulino.
Isso passou ser uma fixação para mim, até que um dia na feira Pocinhos, foi
aquele disse me disse para tudo quanto foi canto, todo mundo assustado, a polícia
correndo para o mato e os ricos enterrando objetos de valor. Era a notícia de que
Lampião estava chegando no lugarejo. Mandou um aviso instantes antes por que
sabia que os “macacos” não tinham peito para enfrentar seus homens e nem teriam
tempo de pedir reforços. Era costume dele como um guerrilheiro astuto, evitar
qualquer confronto desnecessário que envolvesse risco de vida de seus homens.
Sua presença tomou conta das atenções, foi apropriando-se do lugar, até
chegar um ponto que existia sómente a pessoa dele naquela praça. Quando
começou dar ordens todos o obedeciam automaticamente. Exigiu que dessem de
comer aos pobres, com voz determinada, imperativo, dizia que domingo era dia de
nosso senhor, bom para fazer caridade aos mais necessitados. Os pobres sairam de
lá munidos de mantas de carne, feijão e farinha. O Capitão ainda lembrou que se
alguém no outro dia fizesse qualquer tido de ameaças para os beneficiados, iam ter
com ele quando voltasse ali de novo. Nesse dia a fome sumiu de Pocinhos, o
Capitão do Cangaço, a seu modo fez justiça social.
Assisti tudo posicionado há uns vinte metros dele. Com ele havia mais dez
cabras bem vestidos e bem armados. Calças de feitio matuto e blusão de mangas
compridas. Chapéus de feltro outros de couro, no estilo de Napoleão Bonaparte.
Alpercatas ferradas, feitas de sola macia e curtidas, cobriam todo o pé terminando
em um orifício pelo qual saiam o dedo grande e o vizinho. O calcanhar ficava
descoberto para facilitar os movimentos e poder correr sempre que fosse
necessário.
Suas armas eram a carabina “papo amarelo”, revólveres e a temida
“parabelum”. Carregavam até 18 quilos de munição distribuídos em duas
cartucheiras duplas atravessadas no peitoral e uma terceira amarrada na linha da
cintura. Ter um “parabelo” era se sentir grande, capaz de fazer ostentação concreta
de poder e respeito. Essa pistola, desenvolvida pelo alemão Georg Luger, entrou no
Brasil no início do século passado em um cenário onde a ausência de justiça era a
matriz de atitudes de desespero e revolta. Um ambiente onde o ser humano estava
destruído moralmente e materialmente pela fome provocada pela tragédia da seca.
O controle político estabelecido pelos coronéis da Guarda Nacional, o grave
problema fundiário, a imensidão das caatingas, a possibilidade de fazer justiça
experimentada pelos Cangaceiros, fermentava em um cadinho social de difícil
compreensão pelo cidadão comum sem os recursos das letras. A junção destes
fatores explica muito bem o cenário onde o instinto natural sobrepunha a civilidade,
ambiente propício para o “parabelo” servir como instrumento de poder e status
social. Potente, bela e precisa de morte, era a arma das odiadas volantes, dos
coronéis, do Capitão Virgulino Ferreira e de seus comandados.
Entretanto, havia por outro lado estava a condição humana, frágil e carente
de cuidados. Ao lado das armas letais era conduzido com todo cuidado diversos
tipos de remédios para primeiros socorros: água oxigenada, água boricada, iodo,
pomadas, álcool, ácido fênico para combate a dor de dentes, algodão, gase e
esparadrapo. A guaraína usada para combater a dor, a gripe e o resfriado. A
vaidade era contemplada com a brilhantina Glostora, a loção Dirce e o tônico capilar
Petrolina Minâncora. Carregavam jóias e dinheiro, anéis de brilhantes, fumo de
corda, palha de milho para fazer cigarros, cachimbo de barro e fósforo. O
equipamento do cangaceiro ficava estrategicamente acima da cintura, por que
freqüentemente eles precisavam rastejar e correr.
Quando as volantes estavam próximas, não podiam acender fogo temendo
revelar o esconderijo. Ás vezes passava dias e dias sem beber água, tomando
cachaça de ração, chupando rapadura e assando carne na ponta das facas.
No meu breve contato com o Capitão Virgulino vi algo de bom nele que não
consigo até hoje desvencilhar da simpatia que me provocou. Carrego comigo essa
visão favorável apreendida na minha memória naquele longínquo domingo de 1932,
quando tinha apenas 8 anos de idade. Fui vivendo e aprendendo a razão da luta do
Capitão, e pude saber que houve vários dele no mundo. Onde ocorre a exploração
dos mais pobres aparece uma versão dele, como um espírito vingador que tira dos
ricos para dar aos pobres.
3.OS VALORES E COSTUMES
O culto a honra e a valentia faziam com que em todo lugar tivesse um valentão
denominado “galo do lugar”. Geralmente essa coragem vinha amparada por família
numerosa e parecida com ele. Era honesto e trabalhador, habilidoso no que fazia,
mas quando bebia se transformava em um arruaceiro temerário. Era o caso de João
Badoque, exímio amansador de animais, que cito em uma das minhas músicas. O
povo sertanejo tem limites demarcados para provocações, um deles é a honra
familiar, não bula com ela, é procurar morte certa. Sabe-se de muitos valentões que
morreram nas mãos de pacatos cidadãos.
João Badoque tinha esse grave defeito, não respeitava mulher casada, chegou a um
forró e desrespeitou Clotilde, mulher companheira de um primo meu por nome de
Manoel Pinheiro. Este piscou para ela ordenando que “dessa corda” para ver aonde
ele chegaria. E o Badoque foi gostando, se engraçando, tomando coragem,
começou a acariciar o cabelo dela e a falar impropérios. Quando menos esperava,
levou um golpe de peixeira por baixo do sangrador, nem pediu água, morreu sem ter
tempo sequer de colocar uma vela na sua mão.
Manoel Pinheiro sabia que seria caçado igual a um bicho pela família do morto, mas
como dizem no norte “a sorte anda com tem razão”, montou no seu cavalo e caiu no
mundo e ninguém o encontrou. Depois de algum tempo, quando a poeira abaixou,
mandou buscar Clotilde, contratou pessoas para conduzi-la debaixo do maior sigilo.
Nunca mais em Campinote alguém soube mencionar o paradeiro dos dois, naquele
tempo uma pessoa perseguida lá no norte, descia para o sul e se desterrava, em
pouco tempo era riscada da memória e dada como morta.
A igreja católica naquela quadra ditava as ordens no sertão, cuidava das almas e de
outros interesses materiais menos nobres. Seus expoentes Padre Cícero e Frei
Damião eram reverenciados como santos, e até hoje em todo nordeste, nas regiões
onde falta a presença do Estado, lá estão eles a operar milagres e realizar curas.
Para revigorar as esperanças no além os padres dos lugarejos convidavam os freis
com suas missões itinerantes. Preparavam a paróquia para receber os religiosos e
os romeiros que vinham de muitos lugares do sertão nordestino.
O teor das Missões era verificar se os braços da Santa Igreja estavam estendidos de
forma eficiente para abarcar as almas daquele mundo abandonado e sem lei. A
pregação era estrategicamente preparada para assustar o aquele povo desassistido
intelectualmente. Pintavam o inferno com cores assustadoras, mencionava tachos
de água fervente, piscinas incandescentes e o cheiro sufocante de enxofre. As dores
e o ranger de dentes eram exaltados. O sofrimento daquela pobre gente não poderia
ser comparado com a eterna aflição que teria se acaso viessem a perder a salvação
da alma. O final daquela retórica macabra era consumado com a formação de
imensas filas de pessoas que julgavam ter se distanciado dos santos ofícios.
O alvo preferido deste discurso era os casais que viviam sob o manto do pecado,
amancebados. Geralmente formado por jovens que tinham quebrado as ordens do
costume de casamentos combinados. Havia o costume dos pais acertarem
antecipadamente o matrimônio dos filhos, ora voltado a cumprir interesse econômico
ou para selar a amizade entre os dois chefes de família. Depois do combinado,
mantinham a palavra dada, e isso naquela época era mais importante do que manter
a própria vida, a quebra de compromisso significava desonra e descrédito.
Se ocorresse a desventura de um amor proibido, o único meio de livrar desse acordo
feito era fugir para viverem juntos dispensando as bênçãos da família e da igreja.
Por isso os Padres diziam que estavam na companhia do diabo, e que ainda era
tempo de reconciliarem com a igreja e com seus familiares. Se arrependessem,
receberiam o infinito perdão de Deus com a interseção da Igreja na remissão dos
pecados. Isso ocorrendo poderia realizar o casamento e providenciar o batismo dos
filhos pagões. Essa era a única forma possível do perdão dos terríveis pecados da
fornicação e da luxúria, considerado pelos sacerdotes iguais ou pior que o adultério.
O ataque aos amancebados era, na realidade, um modo de manter a eficiência na
arregimentação do rebanho pela lavradura do batistério, tido como documento mais
importante do que o próprio registro civil, imposto após a proclamação da República.
Eu estava na casa dos seis anos de idade quando fui abençoado em uma dessas
missões por frei Damião. Ele era de pequena estatura e tinha um forte sotaque
italianado. Até hoje me impressiono com que ele me disse, pondo a mão em minha
cabeça afirmou que eu era dotado de enorme inteligência musical e que ainda iria
ter muita fama nesse meio. Certa vez José Meneses, grande músico cearense, me
falou também, que quando menino recebeu mesma profecia pela boca de Padre
Cícero. Parece que os dois beatos tinham mesmo o poder de dar uma “espiadela”
no livro da vida, escrito quando cada ser vivente vem cumprir uma missão nesse
vale de dores.
Havia nas igrejas um rigor quase ritualístico nos modos de como se compor para
assistir as missas e participar da eucaristia. Mulher com roupa vermelha e decote
pecaminoso estava proibida. Um marido certa vez autorizou a mulher ir à igreja do
jeito que ela bem quisesse. Na ora da comunhão o padre perguntou em voz alta se
ela era solteira, casada ou se era meretriz. Ela respondeu que era casada, e
apontou para o marido, um jovem advogado temido por sua competência no domínio
das leis, naquela época um advogado naquelas plagas recebia reverência digna das
altas cortes. O padre não quis saber de encrencas com ele, deu a hóstia para a
senhora e esqueceu-se estrategicamente do decoro eclesial.
Quem mandava mesmo nos sertões era os coronéis, em Lagoa de Roça havia dois
de prestígio: Coronel Adelaide e Olinto Coura. O governo fazia o que eles
quisessem. O prefeito e o sargento estavam em suas mãos, e se porventura
houvesse quebra de confiança eram destituídos ou transferidos dos cargos. O
Coronel Coura era um tipo “populista”, distribuía cestas de alimentos para os pobres,
e não deixava nenhum dos seus morrer a míngua. Por ser generoso era um homem
de muitos compadres e afilhados, quase todos prontos para pegar em armas se ele
ordenasse. Quando um de seus afilhados ia se casar, o pai sempre queria saber se
o casamento era de gosto do compadre Olinto, se não fosse, certamente haveria
dificuldades para o casamento prosseguir.
Coronel Adelaide era do tipo truculento, homem duro e autoritário, forjado para dar
ordens e ser obedecido. Se algum policial desafiasse suas ordens era pedido a sua
transferência para Catolé do Rocha, considerado o cemitério de desobediente. Lá
os Coronéis tratavam os soldados como reles serviçal. Certa vez um dos seus
“protegidos”, que tinha um açougue na feira, foi injustamente agredido por uns
policiais. O homem dentro da rua razão pegou um porrete e bateu nos três
“macacos” que estava ameaçando-o. Pediram reforços e conseguiram com muita
dificuldade desarmá-lo e prende-lo. Quando Coronel Adelaide ficou sabendo veio
pessoalmente exigir que soltassem o seu “chegado” e deixou bem claro que da
próxima vez, Catolé do Rocha era o destino deles.
Havia muitos povoados em volta de Lagoa de Roça: Manguape, Guarabira,
Pocinhos, Puxinanã e Brejo de Areias. Um jeito de o governo tentar manter a ordem
nesses locais eram constituir uma espécie de preposto da lei. Um “cagoeta”
oficializado denominado de Inspetor de Quarteirão. Ele podia prender amarrar e
conduzir o transgressor das leis até o distrito policial em que havia sido sua
consagração de autoridade. Recebia ordens dos Coronéis, do prefeito e do
sargento. Recordo-me bem de dois deles, João dos Santos e Antônio Senhoria.
Esse último morreu cheio de “bicheiras”, teve parte do corpo levado em vida. O
compositor paraibano Rosil Cavalcante compôs um rojão que retrata a relação desse
personagem no seio da comunidade onde vivia:
Cabo Tenório (Rosil Cavalcanti)
O cabo Tenório é o maior inspetor de quarteirão O cabo era bamba, disposto, o danado
Bem considerado no seu batalhão Amigo do praça, do subtenente
De toda patente, de quinto galão Zangado, era doido, um cabra valente
Virava serpente, de punhal na mão Mas ficava manso e a briga acabava Se o povo gritasse lhe dando razão
Lhe dissesse: Cabo Tenório, É o maior inspetor de quarteirão
Viva seu cabo! Cabo Tenório, é o maior inspetor de quarteirão.
Olha aqui, na casa de Tota fizeram um forró Tenório foi só, dançar e beber
Os cabra de lá quiseram lhe bater Tenório gritou, vai ter confusão
Balançou a mão, deu murro e bufete Tomou canivete, peixeira e facão
Os brabos correram quem ficou presente Gritava contente no meio do salão e dizia
Cabo Tenório é o maior inspetor de quarteirão.
A religião do sertanejo era um catolicismo estilizado, influenciado com mitos
indígenas e africanos. O povo nos domingos ia às missas. Nas sextas-feiras,
considerado um dia forte, recorriam a benzedores sempre às escondidas dos
sacerdotes da igreja. Conheci seu Severino da Xã, um homem de aparência
tranqüila do tipo que não se assusta com notícia ruim. Além de benzedor era
muito procurado como responsador. Diziam que tinha um livro de São Cipriano
e era pautado com o “Trigueiro”.
Responsar significa ter um dom espiritual para descobrir objetos achados,
roubados ou desaparecidos. Revelar quem era o ladrão e onde ele se
encontrava em determinado momento. Certa vez um filho de Maria Touro
roubou uns cordões de ouro da própria mãe, e a culpa foi parar na minha pobre
irmã Ciça. Meus irmãos mais velhos deram um castigo exemplar na moça com
uma peça de couro. Mas como Ciça insistia que era inocente, minha mãe foi
tirar suas dúvidas com seu Severino de Xã, ele responsou e afirmou que
pudesse ficar tranqüila que a menina era mesmo inocente. E disse ainda, que
em três dias o ladrão iria aparecer.
Dentro desse período dado por seu Severino, a própria Maria Touro
surpreendeu o filho devolvendo as jóias roubadas. Arrependida teve a
hombridade de ir pedir perdão a minha irmã. Dona Maria Parteira ameaçou
enxotá-la de casa com uma pisa de cipó de jucá, mas a própria Ciça interveio
dizendo que a mulher estava com boas intenções revendo seu erro em acusá-
la prematuramente, e que a situação tinha ficado bem resolvida. E pior tinha
ficado para Maria Couro, em saber que seu filho Herculano era um ladrão. Não
tinha dor pior do que essa não!
Seu Severino da Xã não era de cobrar os serviços de seus dons, dizia que era
dado por Deus, e por isso não era autorizado receber nada. Por isso recusou o
pagamento oferecido, mas, sugeriu que receberia um agrado, um peru gordo
ou um cabrito, se fosse consoante com a vontade da minha mãe, o que
naturalmente foi atendido por ela sem que com isso pudéssemos esquecer o
grande favor feito por ele.
3. A IDA PARA O RIO DE JANEIRO
João Naval chegou em Lagoa de Roça em 1936, ninguém esperava por ele, chegou
de sopetão. Tinha ido para o Rio de Janeiro em 1925 tentar a sorte no que desse
certo. Entrou para a Marinha e virou um fuzileiro naval, um feito inimaginável para os
nossos conterrâneos. Tinha saído como retirante e voltado como uma grande
autoridade. Morávamos numa casa um pouco distante do lugarejo, isso fez com que
João permanecesse um pouco na cidade, aproveitando para visitar nosso irmão
José Preto, que era casado com uma moça filha de gente importante na cidade. Mal
teve tempo para saudar o irmão e a porque de minuto a minuto tinha que dá atenção
para um antigo conhecido curioso.
Ele fez questão de chegar paramentado exibindo-se com orgulho a farda de fuzileiro
naval chamada de garanço vermelho. Era um conjunto composto de calça azul
marinho com listas azul e branco, paletó vermelho e boné branco. Uma vizinha
nossa passando próximo à casa do velho Artur, vendo aquele jovem rapaz bem
composto conversando desenvolto com todos quase teve um “vago”. Assim que se
recompôs correu até a nós a fim de cobrar a “alvista”. Era um costume quando
alguém sabia de uma boa noticia, ia avisar com antecedência ao interessado para
receber um prêmio. A Dona Maria Francisca pagou satisfeita a alvista, combinaram
uma dúzia de ovos; meia dúzia de galinha comum e meia de guiné. Ficou muito
comovida com a notícia da vinda de João, já se passara longos onze anos ele
estava chegando sendo alvo de bons comentários e admirações, tratado como gente
importante. Soldados batendo continências, moças saindo para as ruas mais
arrumadas. O filho de dona Maria Parteira tinha virado o centro de atenções, e ela
gostou do que estava vendo, tocou na sua vaidade de mãe.
João havia saltado do navio em Cabedelo proveniente do Rio de Janeiro, seguiu
direto para João Pessoa. Lá tomou uma marinete em direção a Capina Grande, que
fica praticamente encostada em Lagoa de Roça, veio de carona em um caminhão.
Depois do reboliço que causou, com todos querendo vê-lo, saber das novidades do
Rio de Janeiro, querendo saber o que ele tinha feito para subir tanto assim na vida.
Se foi ajudado por algum político influente. No que ele rebatia de imediato, dizendo
que somente Deus, em primeiro lugar o ajudou, e depois a fé em Padre Cícero do
Juazeiro. Tudo esses imprevistos fez com que ele demorasse a chegar em casa.
Quando cruzou o baldrame da porta já foi logo ordenando para que arrumássemos
nossa bagagem, que no prazo de 15 dias iríamos com ele para o Rio de Janeiro.
Minha mãe em vez de chorar, deu uma bronca nele por ter demorado a chegar em
casa. – “Vice! Onde já se viu. Chega e demora desse tanto na rua menino.” Ele
assustou-se comigo e foi dizendo: - Esse é o Inacinho? Como o peste cresceu. – Ah!
Você vai virar gente, pode deixar comigo.
A festa continuou naquele dia um entra e sai como nunca se viu, até o Sargento
Feitosa teve a petulância de ir lá bater continência como irmãos em armas. O
comentário era grande, o rapaz é um “troço” muito alto, pessoa muito importante. E
como era de costume daquele lugarejo, ocasião como aquela não podia faltar um
peru gordo para fazer um pirão. Foi um dia inesquecível para mim sempre me
lembro daquele movimento. Enquanto preparávamos para a viagem João foi para o
sertão adentro em busca de umas malacachetas, umas pedras brilhantes usadas
como isolante de eletricidade. Queria levar algumas para vender no Rio de Janeiro,
enquanto isso ordenou que ficássemos preparando para a viagem.
Eu nunca havia calçado um sapato na minha vida, usava somente chinela de pataca
cruzada, agora precisava de um. Ficamos sabendo que Firmino Julião tinha
comprado um sapato para o filho dele com um número menor, muito apertado.
Compramos o sapato, era muito bonito, desses bicolor, marrom e branco. O sapato
entrou arrochado, mas serviu, de tanto contente que fiquei nem reclamei dos
apertos. De roupa eu até que não vestia muito mal, minha mãe aproveitava toda
sorte de retalhos que sobrava. Um comerciante de Campina Grande deixava umas
peças de pano para ela vender conforme fosse costurando. Trazia mescla azul,
gorgorão de várias cores e linho de coroá. Avisava com antecedência por meio do
motorista da “Sopa”, apelido dado às “marinetes”, os dias em que viria ao povoado.
Chegava com seu Ford Bigode, e fazia de imediato o acerto como havia combinado
com as costureiras, a seguir mostrava as novidades que havia trazido, por fim,
renovava os sortimentos de panos e aviamentos. Minha mãe tinha um cuidado
especial com as mercadorias e com o dinheiro da parte dele. Além da antiga relação
comercial mantida, tinha muita consideração por ele. Encomendava a ele coisas que
não havia em Lagoa de Roça, principalmente remédios, ele fazia questão de dizer
que não botava margem de lucro por que tinha amizade e consideração por ela.
Ganhei três calças e três camisas. Estava bem composto. Com o coração e os pés
apertados deixei Lagoa de Roça no início do mês de novembro de 1936. Eu, minha
mãe, Maria, Luís e João. Fomos para João Pessoa e ficamos hospedados na casa
de tia Santina. Ficamos lá oito dias esperando pelo navio Pará. O porto de Cabedelo
fica situado bem próximo a capital, tanto que hoje faz parte da região metropolitana
da capital paraibana. As instalações eram novinhas, o porto havia sido construído
um ano atrás, em 1935. Achei engraçado o formato do lugar era uma ilhota de uns
cinco quilômetros de largura por dezoito de comprimento, muito apropriado para a
função portuária, segundo os ensinamentos do meu irmão João Naval, conhecedor
do assunto.
Viemos no navio Pará. Era um navio previsto para três classes de gente: a primeira
para os grã-finos, a segunda para os remediados como nós e a terceira para os
menos favorecidos. Eu não conhecia navio nem por fotografia, e agora estava dentro
de um deles. Andava para todo canto, onde permitiam entrar eu entrava, me
entusiasmei. Pedi licença para entrar nos compartimentos destinados às classes A e
C. Lembro-me que no espaço destinado aos ricos havia lugares diferenciados,
decorados com quadros bonitos, possuía um restaurante amplo com mesas cobertas
com forros brancos bordados em várias tonalidades, um imponente salão de jogos,
homens bem vestidos e mulheres cheirosas, parecendo até que não suavam nunca.
Na outra classe vi passageiros empilhados como animais, empoleirados em redes,
como se tecesse uma teia de aranha, no cruzar e entrecruzar de fios daquele tear
bizarro, cuja matéria – prima assimilava à sorte daquele povo apegado aos sonhos
irreais da capital da república. Sonhos simples próprios da dimensão das suas vidas.
Encontrar um trabalho, arrumar um teto, e ter o necessário que a dignidade humana
exige de um lar.
Dentro da minha consciência de adolescente eu não saberia precisar o que esperar
daquele mundo que estava descortinando, o que eu queria mesmo, era um lugar
onde nunca mais haveria seca para não faltar comida, para mim isso já era o bilhete
de entrada para o paraíso. Mas tarde é que vim perceber que aqueles pobres
coitados tinham um destino: a construção civil. Carregar massa de cimento e cal nas
costas e morar indignamente em casas de pensão. Longe dos seus, a solidão
conduzia-os para o álcool como forma de responder aos insultos que recebiam
daquela sociedade preconceituosa. Mais tarde sempre que ouvia o samba “Pedreiro
Valdemar “de Wilson Baptista e Roberto Martins, relembrava daqueles conterrâneos
do navio.
“Vocês conhecem o pedreiro Valdemar “Faz tanta casa e não tem casa pra morar” Não vi o que comiam os pobres, não deixaram. Eu sei que a nossa era boa, quis
repetir umas três vezes, e com o prato bem cheio. Mas, dona Maria Francisca não
autorizava gula, e com um olhar circunspecto me desautorizou a vontade, sem, no
entanto, impedir que eu pudesse matar a curiosidade de experimentar iguarias que
eu desconhecia. Deixei de lado os pratos temperados com cebola. Nunca gostei de
alho e cebola,, como disfarçado, fatiados em milímetros, por saber que são bons
para evitar uma infinidade de moléstias. Chamavam-me de feiticeiro pelo meu
confesso pavor ao cheiro do alho cru. Comida boa.
Eu que fora criado em cima de lombo de animal chucro, não consegui domar o
enjoou provocado pelo balanço do mar. No começo o gangorreado até que parecia
divertido, mas, ia fazendo com que a comida tomasse o caminho de volta. Quando o
Pará passou nos Abrolhos parecia um “sabugo” de milho no mar arredio. Deram-me
limão para eu cheirar. Outros me ensinavam a fechar os olhos. Parecia que sómente
eu sentia enjoou, os outros não. Quando o mar ficava calmo, aí eu aproveitava para
andar no que era permitido. De noite observava aquela imensidão de céu estrelado,
as estrelas movimentando, como se riscassem os céus, tinham outras que caiam no
mar. De dia bisbilhotava, queria por tudo conhecer o navio por dentro, ver como
funcionava, conhecer o maquinário que fazia aquele gigante se movimentar.
Foi uma viagem e tanto, com o passar dos dias meu olhar aguçava na imensidão
das águas, até que avistei como se saísse de dentro do mar, o nosso senhor de
braços abertos. Até hoje aquela cena povoa minha memória, Cristo me recebendo
como se quisesse me abraçar. Depois vi o um morro parecendo um pedaço de pão,
meu irmão falou : -“ ta vendo, é o pão de açúcar. – “De açúcar!”Retruquei. Ele
explicou que a gente podia subir lá em cima dentro de um bonde, que subia o morro
deslizando por um fio. Fiquei imaginando como deveria ser isso. Tive que ir um dia lá
para acreditar naquilo que tinha ouvido.
Aquela imensidão de casas dispostas ao redor do mar e muitas outras que iam
galgando o morro, confundindo com a vegetação verde deste, tudo muito bonito. Um
novo ambiente aparecendo no meu olhar fustigado, me veio na cabeça, como irei
enfrentar isso tudo? Me confortava na experiência dos meus irmãos que já estavam
lá há mais de dez anos, tinha se dado bem, e com certeza saberiam como proceder.
O navio atracou no cais do porto, eu desci, pisei o solo carioca com o pé direito,
sentindo que ali era o meu novo lugar, com gente diferente, e um mundo novo para
enfrentar.
2ª PARTE: O RIO DE JANEIRO 1. APRENDENDO A VIVER NO RIO DE JANEIRO.
Descemos no cais do porto lá nosso irmão José Galego nos esperava, pegamos
uma condução de aluguel e fomos para a casa dele. Ele era funcionário da prefeitura
municipal fichado como gari. José era possuidor de um generoso espírito de
provedor, de uma dedicação total a família, quando estávamos em Lagoa de Roça,
todo mês chegava uma carta dele contando as novidades e enviando um pouco de
dinheiro para minha mãe.
Ficamos hospedados em sua casa por uns quinze dias prazo em que eles
providenciaram um barraco alugado a Dona Esperança, no morro de São Carlos
próximo ao Terreiro Grande. João morava por perto e era muito respeitado na área
de modo que nossa integração na comunidade não foi difícil. O local era
maravilhoso. Sei que é difícil de acreditar nos dias de hoje, onde os morros no Rio
vivem em clima de guerra civil, mas naquela quadra reinava a camaradagem e a
generosidade que tanto distingue o povo carioca.
Convivemos muito bem com a família de João, Carminda sua esposa, era um ser
humano de generosidade incomum, junto com sua mãe Leopoldina, conhecida como
dona Dina, ensinaram para Maria e Minha mãe como sobreviver ali naquele novo
local. Mostraram os caminhos mais seguros, os açougues e armazéns mais
confiáveis, em suma, foram de uma dedicação incomum. As cunhadas de João
Adélia e Dininha, minhas primeiras amigas naquele mundo desconhecido. Até hoje
me lembro dessa gente com muita saudade, um tempo feliz por que foi uma época
que vivemos bem, cheios de esperança com o que estaria por vir.
Mesmo contrariando Carminda minha mãe começou a costurar, a velha não gostava
de ficar parada e logo pediu a José que arrumasse uma máquina, daquelas movidas
a mão, pois não se acostumara àquelas movidas a pedal. Quando souberam que
havia uma costureira ali na área, choveu de serviços principalmente consertos, e foi
aquele entra e sai de gente. A situação tornou-se quase insustentável quando
resolveram que minha mãe era capaz de costurar fantasias para o carnaval. Umas
mulheres foram o nosso barraco e no final da tarde minha velha já havia aprendido,
e ela ainda brincou: “– É a mesma coisa de fazer mortalha!” Engraçado, que hoje
eles usam essa expressão “mortalha” para denominar as abadas usadas pelos trios
elétricos baianos. Aquilo era muito para uma senhora idosa meus irmãos e minhas
cunhadas proibiram a velha de costurar, também pelo fato de que ela estava com
um sério problema de catarata que acabou levando-a à cegueira no final da vida.
A vida tece a linha de nossa existência e nos conduzem como se fosse um lance
pensado estrategicamente. Imagine onde fui morar, no Morro de São Carlos, onde
em 1928 o grande Ismael Silva havia fundado a “Deixa Falar” e patenteado uma
batida nova para o samba que permitia facilmente diferenciá-lo do maxixe. Na
subida do Morro de São Carlos reuniam-se com freqüência bambas com o próprio
Ismael Silva, Bide, Marçal, Baiaco, Malvadeza Durão, Brancura e Mano Edgar – uma
das regiões do Rio onde convivia a generosidade com transformações e
transgressões judiciais.
Os botequins situados na Rua Maia Lacerda, próximo a Praça Onze e da tradicional
Zona do Mangue, era ponto de encontro da alta malandragem, alguns deles exímios
sambistas. Vinham de Benfica, da Gamboa, da Providência e de Madureira. Ali era o
cenário do meretrício e das rodas de carteado, vida noturna intensa que garantiu ao
Estácio o título de Berço do Samba do Rio de Janeiro, aquele estilo diferente
dolente, pausado e marcado por instrumentos de percussão. Não é fruto do acaso o
fato da primeira escola de samba a “Deixa Falar”, ter nascido no bairro do Estácio de
Sá, reduto de desocupados e trabalhadores informais, dedicados a jogatina e
exploração de mulheres naqueles meados da década de 1930. Reuniam-se em
botecos em culto a boemia e tudo que estivesse associado. Ali foi o berço da alta
malandragem do samba, o berço de Sua Majestade Ismael Silva. Negro bonito,
elegante no vestir, educadíssimo e bom de briga. Foi nesse local que a vida me
colocou e que aos poucos iria me ensinar a conhecer os segredos e os personagens
daquele palco.
Inicialmente João me matriculou em um Colégio dos Integralistas, ele não era das
fileiras do partido, embora fosse um simpatizante confesso das idéias de Plínio
Salgado. O uniforme escolar era uma camisa verde com uma letra sigma estampada
na manga. Naquela escola respirava o nacionalismo, cantavam diariamente o hino
nacional seguido de um sonoro “anauê”, grito de guerra dos integralistas extraído da
língua tupi que significa “você é meu irmão!”.
Um professor era encarregado de fazer diariamente uma palestra sobre a filosofia do
integralismo. O discurso era voltado para o crescimento e desenvolvimento do Brasil
e a ajuda aos pobres. A essência daquilo tudo eu nunca consegui entender até hoje,
parecia um teatro muito mal ensaiado com personagens folclóricas. Não fiquei muito
naquela escola, só o suficiente para mal aprender ler e escrever. Voltei de imediato
para a Universidade da Vida onde permaneço até hoje, aprendendo na observação
e na companhia dos melhores, valendo-me da experiência dos outros para poder
construir a minha. Vivendo e aprendendo a jogar.
Dona esperança desocupou uma casa maior, de quatro dois quartos, sala e cozinha,
situada próximo ao posto policial de frente a uma caixa d’água pública, aonde as
mulheres vinham buscar água para suas rotinas diárias. Fomos morar lá, ficamos
mais bem acomodados, próximo aquela coreografia do sobe e desce no morro, com
as cabrochas equilibrando as latas d’água na cabeça. Isso certamente inspirou os
compositores Luis Antonio e Oldemar Magalhães para compor o samba “Lata
D’água na Cabeça”, lançado pela cantora Marlene.
Lata d'água na cabeça Lá vai Maria Lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão Leva a criança Lá vai Maria
Maria
Lava a roupa Lá no alto
Lutando pelo pão De cada dia
Sonhando com a vida Do asfalto Que acaba
Onde o morro principia
A mensagem do samba acima diz tudo. A dura subida do morro, a luta pelo pão de
cada dia e o sonho do asfalto. Com base nisso fui, que era também a minha
realidade, fui a luta, comecei a trabalhar vendendo pastel, doce e amendoim.
Vendia no campo de futebol próximo no largo do Estácio. Depois descia e pegava a
Rua Pinto de Azevedo para chegar ao Mangue, local do baixo meretrício. Lá
consegui vários fregueses entre cafetões e prostitutas, que sempre me pagavam na
data combinada. Não corria risco de ser assaltado no valor em espécie, porém havia
uma molecada terrível que era acostumada a tomar as quitandas e dar uma surra no
vendedor. Aí Afonso, era o bamba daquela área, e com quem mais tarde ficou meu
amigo, me aconselhou a andar sempre com um cabo de aço escondido sob a roupa.
Ah! Eu tive que bater em muita gente para adquirir respeito e confiança naquelas
imediações.
Estávamos no mês de dezembro, com o natal aproximando, vida nova, costumes
diferentes. Em Lagoa de Roça não estávamos acostumados com aquela profusão
de trocas de presentes. Um malandro me garantiu que se eu deixasse um sapato na
janela o Papai Noel colocaria um presente. Coloquei o meu bicolor de estimação, em
vez de deixar um presente para mim o Papai Noel levou com ele meu único sapato.
Fiquei chateado e a partir daí perdi totalmente a confiança e a crença em Papai
Noel.
Afonso passou ser uma espécie de manual de sobrevivência para mim, a
apresentado o que havia de mais interessante naquelas paragens. Um dia me
chamou para assistir uma briga de galos na casa de um senhor por nome de
Benjamim. Era um lugar o ponto dos galistas do morro de São Carlos e adjacências.
Gostei do ambiente e comecei a freqüentar com assiduidade, tanto que acabei
conquistando a confiança de todos que freqüentavam aquela rinha. Fui conhecendo
e compreendendo todas as manhas do ofício até me consagrar como tratador de
galos de briga.
Tratava o galo da mesma forma como se cuida de um atleta profissional. Os
procedimentos têm que seguir a uma dura rotina diária. De manha começava o
trabalho para o fortalecimento da musculatura das pernas e do aparelho respiratório,
fazendo o galo pular sobre um tapete até ficar ofegante. A seguir refrescava-o com
banho de água natural seguido de um banho de sol. Logo após, o galo entrava no
passeador, um local de mais ou menos um metro e meio por oitenta centímetros,
dotado de um piso de areia para complementar o reforço da musculatura, ficando lá
geralmente das oito às onze da manha.
Voltava novamente à gaiola, agora para tomar água e alimentar-se. Sua refeição
normalmente acontecia por volta de uma da tarde, constituída a base de girassol,
milho quebrado, aveia em casca e leite. Como suplemento, uma torta extra de
tomate, agrião, couve e cenoura. Para desenvolver resistência, pílulas de robustez,
as mesmas dadas para os pombos correios. É um treinamento, com as devidas
proporções, semelhante ao de um lutador de boxe, o bicho é preparado para ter
resistência na hora de assimilar os golpes e agressividade para reagir.
As brigas de galos já estavam proibidas desde 1934, com a edição do Decreto
Federal 24.645 que proíbiu realizar ou promover lutas entre animais da mesma
espécie ou de espécies diferentes. Mas a paixão pelo galismo é tão grande que o
pessoal nunca foi de respeitar esse decreto, volta e meia ficamos sabendo de
batidas policiais e prisões em flagrante de cidadãos com alto prestígio econômico e
político, que até a polícia fica sem jeito de conduzi-los para a delegacia.
Para ser engraxate na Lapa tive que tomar umas aulas com o Lopes, um engraxate
profissional morador no morro de São Carlos, que fez questão de me ensinar as
manhas do ofício. Mas havia outra questão essencial: como sobreviver naquele
ambiente visitado pelos maiorais da malandragem. A Lapa era uma autêntica
academia de formar malandros, alguns com status de astros, como Miguelzinho,
Edgard, Baiaco, Malvadeza Durão, Ataliba, Eduardinho, Camisa Preta e Meia-Noite.
Para conviver ali a exigência era ser um deles, batizado e matriculado no assunto e
coisa e tal.
Conquistar na Lapa um ponto para trabalhar era correr riscos de levar uma surra
inesquecível. Já havia sido avisado que iria para o local mais perigoso da cidade.
Por isso fiz um diagnóstico da área para saber quais os pontos que já estavam
ocupados, para então localizar um lugar aparentemente devoluto. Encontrei um,
próximo de uma farmácia situada em frente à Travessa do Mosqueiro. Mas mesmo
assim, com toda essa precaução estratégica de boa vizinhança, um moleque do
morro dos cabritos que engraxava a uns trinta metros abaixo, não quis admitir
pacificamente a concorrência; aí um garoto grandão, que eu não conhecia, tomou
minhas dores, parecia ser muito respeitado na área, e ordenou que me deixassem
em paz. Assim pude trabalhar ali tranqüilo, confiante no meu cabo de aço escondido
dentro da caixa de engraxate.
Ainda não possuía nenhum conhecimento sobre as personalidades do mundo
folclórico da Lapa, mas de cara, engraxei os sapatos de algum deles. Lembro-me de
Madame Satã, malandro que ficou conhecido no envolvimento da morte do
compositor mineiro Geraldo Pereira. Do China da Lapa, esse não era um valentão,
mas um jogador que sobrevivia do vício, certa vez ele reconheceu Noel Rosa
passando com um violão debaixo do braço, no outro lado da rua, às dez horas dez
da manha. Lembro-me dele dizer: - “ Nossa o Noel ainda está na rua, já ouviu falar
dele menino? Ele é o maioral dos compositores”. Assim eu fui me criando naquele
ambiente, conhecendo seus códigos, no entanto, sem ostentar valentia nem
tampouco covardia. Sempre soube ouvir e por isso vez por outra recebia bons
conselhos de desconhecidos que foram fundamentais para sobreviver naquele
ambiente povoado por marginais, prostitutas, artistas e intelectuais. Gente muito boa
por sinal!
2. O CONTATO COM A MÚSICA O Afonso me levou para assistir os ensaios no Bloco “Cada Ano Sai Melhor”, tive
uma sensação de assombro com o que vi. O repicar dos tamborins, a marcação dos
surdos, e as cuícas tirando um som que imitava gente gemendo sabe lá se de dor ou
de alegria. Nem dormi o restante da noite, sensação igual aquela só quando ia às
feiras ouvir Severino de Guiné, Pólino e o Galeguinho de Itabaiana. A música
sempre me furtou as atenções, vendo aquilo eu não conseguia pensar em outra
coisa, queria ser um deles dominando meu instrumento e ser o centro das atenções,
sempre tive esse tipo de vaidade. Peço a Deus que me perdoe se isso for uma
espécie de pecado inclemente.
Depois do que vi, passei a gastar todo meu dinheiro de engraxate, para encontrar
um bilhete premiado que valia um cavaquinho numa birosca de um português muito
mal intencionado. Era um instrumento tosco, de cravelhas, e que depois tive o
dissabor de constatar que era difícil de ser afinado e pior ainda, e de modo algum
segurava a afinação. Minha irmã Maria percebeu que aquele negócio todo tinha um
xaveco por detrás, resolveu ser mais esperta que o português, falsificou com todo
cuidado o tal bilhete premiado. Comprou um envelope, abriu na frente do portuga,
ele com mais atenção na beleza dela não percebeu a troca do comprovante. Mas,
ainda simulou uma reação: “Oh! Raios me garantiram que o cavaquinho não sairia!”
Ter aquele cavaquinho em minhas mãos foi um marco na minha vida, ele ali, à
minha disposição. Não sei e nem quero comparar, mas emoção de tirar o som do
seu primeiro instrumento, com ele assim, coladinho no peito, é como ver o primeiro
sorriso dos filhos, são coisas que a gente cala nos recônditos da alma, e, com o
passar do tempo, as lembranças dessas emoções retiram lágrimas dos olhos da
gente com a maior facilidade. Naturalmente por terem sido vividas de uma
experiência feliz. Lágrimas sem remorsos e, sobretudo humanas na sua mais digna
expressão de sentir e de viver. Sou um homem feliz, por que fui conduzido pela
sorte do meu talento musical. Fiz muita coisa nessa vida, sou um artesão habilidoso,
mas nada se compara ao meu trabalho como músico. Minha paixão pelo palco é
maior do que a minha paixão pela vida, por que sem ela não valeria a pena viver.
Com o cavaquinho nas mãos no outro dia fui à casa do Nequinho, músico de
respeito e meu vizinho. Vendo minha determinação me acolheu com entusiasmo. Os
artistas de um modo geral sempre protegem as crianças talentosas. Dão aulas de
graça, por que talvez vejam neles a sequência do que fazem. Ele de cara foi
afirmando: - “Meu filho, tudo começa com o dó!”. E foi cantarolando aquela
embolada folclórica de domínio público:
“Segura o bode
meu cumpade seu Mané
o seu bode é tão malvado
machucou minha muié.”
Foi me ensinando e dizendo que prestasse atenção na pulsação da música, para eu
sentisse o momento adequado de trocar a posição dos acordes. Para seu espanto
toquei ali de prima, no calor da emoção, o Segura o Bode. Ele percebeu de imediato
a minha capacidade de aprender, e ficou entusiasmado, disse que eu fosse lá todo
dia, uma meia-hora depois que chegasse do colégio, para verificar como eu estava
indo. No dia seguinte ordenou que eu fizesse o dó em outras casas, dizia que era
um exercício muito bom, pois permitia dominar com maior desenvoltura o braço do
instrumento.
Depois fez o mesmo com a tonalidade de ré maior. Ensinou-me uma melodia com as
notas ré, sol, si, ré. As mesmas notas da afinação padrão do cavaquinho para eu
aprender afinar o cavaquinho fazendo associação com essa seqüência musical.
Fazia questão de frisar que cavaquinho não era um pedaço do violão e que tinha
sua afinação específica, e que eu deveria obedecer a esses princípios se quisesse
levar em frente à carreira de instrumentista. Nequinho tinha ojeriza de ouvir
cavaquinho afinado como violão ou bandolim, reagia como se tivesse sido insultado,
para ele era uma espécie de humilhação ao instrumento. Cada instrumento tem sua
identidade baseada em uma afinação característica. Ele era um tipo conservador,
inimigo confesso das afinações alternativas.
Cada dia que passava eu ficava mais entusiasmado com o aprendizado, fui
descobrindo os segredos daquelas quatro cordas. Sentia-me importante aprender
aquela linguagem entendida somente por músicos de respeito. Eram os relativos,
tons vizinhos, cadência, notas falsas, melodia, harmonia, ritmo, tonalidades. Aquilo
me fazia diferenciado dos demais garotos, era reconhecido e respeitado pelos mais
velhos, que me considerava um deles. Ficava impaciente para descobrir coisas
novas; uma forma mais eficiente de segurar a palheta para não deixá-la cair a toda
hora, e, sobretudo, ter cuidado para aprimorar a qualidade do som extraído.
Fiz amizade com um garoto por nome de Pedro, que foi percebendo me interesse
por música, tratou logo de me colocar em contato o seu pai, Manoel do Violão, que
fazia parte de um conjunto amador especializado em choro e samba. A cada
primeiro sábado de mês, eles reunião-se na Rua Catumbi, na residência do saudoso
professor Waldemar, pessoa muito querida no meio, compadre de Pixinguinha. O
sarau era esperado com impaciência, devido o modo especial que o professor e a
esposa recebiam os convidados. Além da hospitalidade havia uma feijoada que
sómente os cariocas sabem fazer. Outras vezes serviam uma rabada com agrião e
batata, meu Deus do céu, era uma coisa séria.
Atraídos pelo ambiente e pela suculenta comida que o Professor Valdemar
proporcionava vinham instrumentistas e aficionados de todas as plagas do Rio:
clarinetistas, violonistas, flautistas, todos de altíssimo nível a ponto de me sentir
acuado, quem era eu para tocar com aqueles mestres. Gentilmente pediam-me para
eu tocar, como eu não me sentia seguro, preferia mesmo era ouvir e ir aprendendo
importantes macetes que ou meus olhos e ouvidos capturavam. Foi lá que conheci
seu Antônio Rodrigues, grande cavaquinista, trabalhava no Ministério do Trabalho.
Ele usava uma afinação que não teve seguidores, mas era um troço bonito, dava um
efeito diferente. Aí cheguei à conclusão que não devia ser tão intransigente em
questão de afinação como havia ensinado meu primeiro professor.
Passei a freqüentar a residência de seu Antônio na Rua do Lavradio. Ele era casado
com dona Maria uma mulher muito doente, mas de uma educação que nunca vi
outra igual, uma esposa extremosa, muito carinhosa comigo, gostava da minha
presença, argumentava que eu ajudava a “prender” seu Antônio em casa. Nas aulas
ele insistia para que eu dominasse as tonalidades, saber de cor os relativos. Na
minha ignorância de inocente quis saber o significado do nome Relativo, ele
sabiamente respondeu: “É que os tons precisam de solidariedade!”
Uma vez descendo o morro de São Carlos fui interceptado por um negro bem
vestido, terno branco, sapato branco e camisa azul. Estava na minha frente nada
mais nada menos do que São Ismael Silva. Vendo-me com o cavaquinho debaixo do
braço perguntou-me se eu conseguia acompanhar um samba e cantou aquele
samba feito por ele com parceria de Noel Rosa:
“Estou vivendo com você Num martírio sem igual Vou largar você de mão
Com razão Para me livrar do mal.
Supliquei humildemente Pra você se endireitar
Mas agora, francamente Nosso amor vai se acabar.
Vou embora afinal Você vai saber porque É pra me livrar do mal Que eu fujo de você.”
Depois de ver meu esforço ele perguntou: -“Você é do norte?” Respondi que era. Ela
emendou, de agora pra frente você será o garoto do norte. E tem mais uma coisa
Você vai ficar bom nesse negócio aí. Anos mais tarde encontrei com ele em uma
Rádio ele me olhou pensativo e foi logo perguntando. –“ Eu não te conheço? Você
não é o garoto do norte? Trocou o cavaquinho pelo pandeiro, Por que?”
3. MEU ENCONTRO COM O PANDEIRO.
Naquelas imediações do Largo do Estácio respirava-se o samba, as crianças já
nasciam com o coração marcando o compasso dois por quatro. A vontade de ser
ritmista ia tomando conta, até que um dia passei por cima do compromisso que tinha
com o Nequinho e com o seu Antônio Rodrigues. Cheio de dúvidas me aborreci
acabei trocando o cavaquinho por dois casais de canários bons de briga. Mas depois
de alguns dias comecei a ficar angustiado por ter desfeito do cavaquinho, Ia
engraxar e voltava triste, abatido. Para aliviar um pouco aquilo tudo, passei a
freqüentar a casa do Manoel da Cuíca, ponto de encontro de reuniões musicais,
como o pessoal do conjunto Turma Animada, e dois pandeiristas que se
destacavam: Valdemar e Russo Sapateiro. Tinham estilos completamente diferentes.
O Valdemar era uma cópia do Jacob Palmieri e do Russo do Pandeiro que tocavam
com as platinelas sem abafamento, de tal forma que quase não se ouvia o som do
couro. Ainda muito influenciado pelo samba amaxixado. O outro era o Russo
Sapateiro, que não possuía semelhança musical alguma com o xará. Ele tinha a
malemolência da Turma do Estácio e passei a observá-lo minuciosamente. Mas
havia um problema sério, eu não possuía um pandeiro, passei a improvisar em
pratos ou qualquer outra coisa que assemelhasse a um pandeiro. Fui indo até que
um dia meu irmão, Antônio Fogueteiro, vendo minhas estripulias de sambista
doméstico, aconselhou-me como era conseguir um pandeiro.
Ele me aconselhou ir até a barbearia de Joaquim Pinheiro nas imediações do
Campo de Santana, próximo do Túnel João Ricardo que dá passagem para o cais
do porto. Naqueles tempos haviam os fregueses de caderneta, e vez por outra
ficavam dívidas em aberto, aí depois de algum tempo do vencimento da obrigação
as partes entravam em acordo, como forma de honrar o compromisso o devedor
botava à disposição do credor um objeto de valor como pagamento. O barbeiro
Joaquim havia recebido um pandeiro como pagamento de dívida, e estava sendo
usado como peça de decoração. Dependurado, empoeirado e sem uso.
Seu Joaquim era desses barbeiros que usava um bigode bem aparado, separado ao
meio como aquele ator americano do filme “ E O Vento Levou”, Clarke Gable. Muito
gentil, quis saber o que eu queria, e de prontidão foi pegando uma cadeira e subiu
para apanhar o pandeiro, fez uma ligeira limpeza com um espanador e colocou-o em
minhas mãos. Aí o espírito do Russo sapateiro manifestou em mim, fiz tudo que
havia aprendido observando por vários meses como ele tocava. Seu Joaquim
Pinheiro não resistiu aquilo aquilo e me deu o pandeiro de presente. Agora que eu
estava “armado” fazia questão de ir todos os dias dos ensaios. Percebi que o Russo
Sapateiro tocava com as pontas dos dedos e não dava tapas no pandeiro. Chegava
em casa, treinava, treinava. Não gostava daquele barulho deselegante das
platinelas, sentia que perturbava mais do que agradava a quem ouvia. Fui
experimentando abafadores, isso acabou virando uma obsessão em minha vida
artística, experimentei de tudo e nunca ficava satisfeito, até que um dia, depois de
consagrado, descobri o plástico, esse sim, tem a capacidade de colocar o som das
platinelas no lugar que ele merece, lado a lado com o som do couro, igual a uma
dupla de violões bem afinados, onde um respeita as funções do outro.
Com essa preocupação toda e treinando muito, logo chamei a atenção dos próprios
músicos. Ouvi elogios repetidos e incentivadores dos pandeiristas Adolfinho e
Valdemar. Esse último chegou até a afirmar que estava com vergonha dele mesmo.
Havia passado lá em casa e me ouviu treinando no quarto, disse que não acreditou
no que ouviu. – “Esse menino não tem a metade de nossa idade e já esta fazendo
isso, imagine só quando crescer, não vai ter para ninguém!” Começaram a me
aconselhar a ir a algum programa de rádio para mostrar meu talento. Eu nem tinha
noção do que falavam treinava muito porque, parecia que havia uma voz lá de
dentro de mim ordenando a continuar trabalhando em busca da perfeição.
Minha fama começou a circular de boca em boca até que o Roberto do conjunto
Turma Animada pediu que eu fosse assistir os ensaios deles. Era um conjunto semi-
profissional, todos tinham suas profissões, mas quase todo mês ganhavam um
dinheirinho tocando normalmente em reuniões sociais. O Roberto tocava violão.
Nequinho, meu professor, cavaquinho. Sete Camisas no pandeiro. Osmar no
bandolim e Suquinho tocava ganzá e cantava, diga-se de passagem, grande cantor,
não sei como não se consagrou no Rádio.
Eu tinha catorze anos, parecia ter um pouco mais, porque andava sempre bem
alinhado para parecer mais velho e ostentar respeito. Cheguei no local onde
ensaiavam, me aboletei em uma cadeira distante uns cinco metros mais ou menos,
e fiquei prestando atenção no bom desempenho do grupo. Quase no final do ensaio
Roberto ordenou a Sete Camisas que me passasse o pandeiro. Quando comecei a
tocar Dona Regina, mãe de Roberto chegou da cozinha toda assustada: - “Mas é o
Inacinho, não acredito! Você tem que ir a Rádio meu filho, complementando o
assombro dela com meu desempenho.
Não tinha palavras mais doces ao ouvido de um músico iniciante do que essas:
“Você tem que ir tocar na rádio!” Isso significava o reconhecimento de sua
comunidade. Tocar na rádio significava a transposição da sua Aldeia, era viajar
pelos ares e ser conhecido no país todo e naturalmente ser reconhecido
financeiramente. Mas antes de chegar na rádio tive uma experiência muito
interessante.
4. O BATISMO DE FOGO.
O Sete Camisas, pandeirista oficial do grupo, não pode continuar no conjunto por
problemas particulares, aí o Roberto pediu autorização a minha mãe para que eu
tocasse com eles. Como o pessoal do conjunto pertencia à comunidade local e eram
benquistos por todos, Dona Maria Francisca não teve dúvidas em autorizar que eu
participasse do grupo. Meu entusiasmo era tanto que isso pesou muito na decisão
dela. O Roberto foi um grande incentivador, confiando na minha capacidade me
levou para tocar na gafieira Flor do Abacate. Fomos a pé, passando pela Glória, foi
quando ele me contou o que estava planejando. É que lá passava um flautista que
adorava derrubar tudo quanto é pandeirista, mas nós apostamos que ele não vai
poder com você.
Chegamos à casa onde o Álvaro Sandin em sua homenagem, compôs aquele
antológico homônimo, gravado magistralmente pelo Jacob do Bandolim. A Flor Do
Abacate ficava em um prédio bonito com gente elegante dançando. Mulheres
cheirosas e bem vestidas deslizavam em um piso liso e escorregadio compondo
pares de dançarinos magistrais. Tudo aquilo ali era novo para mim. Meio assustado,
mas com um pandeiro novo que minha irmã tinha me presenteado, com estojo de
madeira e tudo, fiquei sentado esperando a nossa vez de tocar.
Depois de uma meia-hora que estávamos tocando entrou um negro alto, vestindo
um terno branco de linho S120, chapéu de aba larga e sapato bicolor. Muito
elegante mesmo. Trazia uma flauta debaixo do braço no estilo de Pixinguinha. E foi
logo me observando: - “Tem cara nova hoje!” Era o especialista em desmoralizar
pandeirista, começava tocando lento e ia aumentando o andamento, aumentando
até que o pandeirista desistia, e isso era a glória para ele. Era aclamado como
campeão como se musica fosse uma competição de pugilato. O aprendizado
informal da música acaba produzindo pessoas com esse tido de comportamento.
Nunca vi grandes músicos agirem dessa forma. Abel Ferreira, Pixinguinha, Waldir
Azevedo nunca tiveram atitudes semelhante a esta. Pelo menos eu não vi e nunca
tive notícia.
O tal do Tião da Flauta ficou de lado bebendo umas cervejas, no intervalo e ele
chegou e comentou com o Roberto, esse menino tem uma batida diferente, segura.
Meu amigo concordou, mas evitou entrar em qualquer tipo de detalhe. Para não ficar
deselegante apenas comentou que eu estava muito verde ainda, mas que prometia.
Aí o flautista ficou animado em me desafiar. Assim que começou tocar de novo, ele
no final da segunda música foi olhando para mim dizendo: -” Tem cara nova aqui
hoje!” Subiu no palco e foi dizendo para que eu segurasse o “Urubu Malandro”. O
Urubu é um choro predileto dos flautistas virtuoses. É uma obrigação de todo
flautista de valor tocá-lo.
Ele começou, só eu e ele fomos aumentando a velocidade, eu segurando. Quando
estava muito rápido eu usei de uma malandragem, criada ali na hora, que nenhum
ritmista carioca poderia imaginar. Meti a batida do frevo, que é muito mais folgada
para o bandeirista, e exige muito mais do solista, e fui puxando, fui puxando, até que
a flauta só fazia piu, piu... acelerei mais ainda, ele parou. “- Roberto, hoje eu
encontrei um, que maravilha de garoto você encontrou.” Pegou a minha mão direita
e repetiu aquele gesto que os juízes fazem quando um pugilista vence uma luta.
Juro que fiquei com vergonha, aquele homem que dez minutos atrás era um falador
arrogante, agora queria a todo custo prostrar-se em meus pés.
Hoje, esse recurso de trocar o choro ou samba pelo frevo, é uma alternativa muito
usada por pandeiristas que sabem das coisas, quando solistas de alma circense
querem tocar em alta rotação. Vejam por exemplo o que está acontecendo hoje com
as escolas de samba, pelo fato de possuir um tempo determinado para cumprir seu
percurso, o diretor de bateria impõe um ritmo frenético, aí, sem querer o samba vira
frevo. Acho que quem usou isso pela primeira vez de forma consciente fui eu
naquela demanda com o saudoso Tião da Flauta. Chegando em casa comecei a
pensar onde tinha buscado aquilo. Ai lembrei-me que lá no norte eu acompanhava
sanfoneiros batendo caixote, imitando zabumba. Dali em diante comecei a relembrar
tudo aquilo, a mistura do rojão, do baião, xaxado, frevo, maracatu, samba e choro,
acabou constituindo o meu jeito de tocar pandeiro, a meu jeito, sempre com a
pontinha dos dedos. Salve o Russo Sapateiro, que Deus o tenha em glória.
Depois daquele confronto, meu tratamento na comunidade onde vivia passou a ser
outro, minha fama espalhou como fogo que sobe morro acima. Aí vieram as tapinhas
nas costas, pandeiristas dos outros grupos exigindo que eu desse uma canja. Passei
ser anunciado como o Inacinho do pandeiro. Nas rodas na casa do Professor
Valdemar ninguém mais queria botar a mão no pandeiro. “Sem querer, ouvia
aqueles músicos experientes dizendo: -” Esse menino tem uma cadência diferente,
dá muita firmeza e enriquece o solo!”
Aquilo tudo acabou me tornando um adulto precoce, aos catorze anos comecei a ser
comparado com os grandes do instrumento. Jacob Palmieri, Russo do Pandeiro,
João da Baiana e Popeye. E sempre ouvindo: “Já deixou para trás!” Confesso que
dos três eu gostava mais do Popeye, mais da minha geração. Mas hoje, depois de
tanto, tempo curvo a cabeça para os três primeiros, que tiveram a primazia de
introduzir o instrumento definitivamente no cenário profissional.
O Russo era paulistano, mas, ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro. E
dizem que tocou em um casamento de sua irmã com Benedito Lacerda, a partir daí
fundaram o conjunto Gente do Morro, que seria no futuro o regional de Benedito
Lacerda. Foi para os Estados Unidos com a Carmem Miranda, trabalhou em muitos
filmes e teve conjunto por lá. Além de virtuose do pandeiro foi um excelente
compositor com vários sucessos registrados. Muita gente que hoje tem sucesso
internacional como ritmista, principalmente pandeiristas, deveria trazer
permanentemente uma fotografia dele na carteira, ele foi um bandeirante do
pandeiro, um verdadeiro rompedor de fronteiras.
O João Da Baiana trazia aquela coisa da África, não era só pandeirista, tocava
vários instrumentos de percussão, e conhecia muito aqueles pontos de macumba,
ele era do candomblé e sabia de muitos segredos em termos de ritmos ligados aos
rituais fechados. Era muito ligado ao Pixinguinha participou de diversas gravações
tocando, além do pandeiro, garfo e faca. Compositor de prestígio.
Em ralação ao Jacob Palmieri, não tenho muito conhecimento, só sei que era o
pandeirista de confiança de Pixinguinha nos Oito Batutas, isso dispensa quaisquer
dúvidas a respeito de sua competência técnica. Deixo aqui, como uma homenagem
particular, o registro desses três instrumentistas com os quais me comparavam, e
que mais tarde tornaram-se meus irmãos em armas. E faço questão de salientar a
importância que tiveram para a memória da cultura nacional.
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PROGRAMAS DE CALOURO
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Depois de 1940 entre os programas de radio de maior prestígio era "O Trem da
Alegria", comando por Heber de Boscoli, por Yara Sales e o grande copositor
Lamartine Babo, "O Trio do Osso", assim denominado devido ao fato de que todos
os seus componentes serem magros. Foi um programa de enorme popularidade
naquela época em todo o Brasil. Um outro programa que marcou época foi o do
grande apresentador César de Alencar. Vejam só, seu sucesso foi tanto que para
assistir seu programa tinha que adquirir os ingressos para o auditório
antecipadamente com até duas semanas de antecedência.
Também vale a pena ressaltar o programa do Renato Murce e sua assistente “Miss
Mary”, o nome do programa era Papel Carbono, ia ao ar aos domingos de noite na
Radio Nacional na década de 1940. Murce era casado com Eliane, a musa dos
filmes da Atlântida. No Papel Carbono os calouros tinham que imitar um astro que
estivesse em evidencia, e pode-se dizer cem cerimônias que o programa foi um
verdadeiro celeiro de astros: Doris Monteiro, Alaíde Costa, Ângela Maria, Élen de
Lima, Claudete Soares, Ivon Curi, Ademilde Fonseca, entre outros. Os programas de
auditório era o ponto forte das Rádios, e a Rádio Nacional comandava os maiores
deles.
Os grandes programas desta época dignos de nota são: "A Hora do Pato", mais
tarde denominado "Aí vem o Pato", da Rádio Nacional; "Pescando Estrelas", da
Rádio Clube, apresentado por Renato Amaral e o famoso "Buzina do Chacrinha",
também da Rádio Clube. O Programa César de Alencar, que em um dos seus
aniversários levou ao Maracananzinho quase vinte mil pessoas em 1955.
Vale lembrar ainda lembrarmos os nomes de Haroldo Barbosa, que trabalhou nas
Rádios Nacional, Tupy e Mayrink Veiga, fazendo sucesso com os programas "Um
Milhão de Melodias", "Calouros da Orquestra", o Fernando Lobo, pai do compositor
Edu Lobo, um grande produtor de programas, sendo responsável pela produção de
vários programas da Nacional.
O Ari Barroso afirmava categoricamente que o seu programa não tinha a finalidade
de procurar estrelas. E se assim fosse, não permitiria a apresentação de candidatos
destituídos de condições técnicas. No programa em que dirigia qualquer um tinha o
direito de se apresentar para fazer o que quisesse desde que fizesse formalmente a
inscrição. Embora muitos ex-calouros acabariam se transformando em autênticos
astros do firmamento musical nacional. Uma das razões aventadas para explicar o
sucesso obtido era ter passado pelo crivo de Ari Barroso. Ele era muito exigente e
entendia do assunto. Se o candidato mostrasse virtude tinha tudo com ele.
O clímax do programa era a pitada de humor e a irreverência em que o Ari era
mestre. Ficava nervoso quando alguém insinuava que ele humilhava os calouros.
Afirmava que não ridicularizava os calouros e justificava com o número cada vez
mais elevado de inscrições que cresciam assustadoramente para o seu programa,
mas por outro lado, não podia impedir que os “ridículos de nascensa”, segundo ele
se constituísses na nora humorística di programa.
Incentivaram-me a ir aos programas de calouro, fui no Papel Carbono. Eu e o João,
um flautista que no momento não me recordo do sobrenome. Isso era por volta de
1938. Ele com sua flauta de bambu imitava o Benedito Lacerda e eu o Russo do
Pandeiro. Fizemos a inscrição com aquele famoso tema para flauta e pandeiro – o
Urubu Malandro. O grande solista de violão Dilermando Reis que era o chefe do
conjunto regional me disse nos ensaios: - hoje não vai ter pra ninguém!.
Voltamos para o morro e ensaiamos o que pudemos, vestimos a melhor roupa, com
sapato engraxado e tudo mais. Fomos para a cidade por volta de 19 horas por que o
programa começava às 20 em ponto. No palco estava o Renato Murce e Miss Mary,
Recebemos uma salva de palmas, mas mesmo assim não foi o suficiente para
espantar o medo. Os nossos concorrentes pareciam mais nervosos. O primeiro com
um violão tenor imitando Claudionor Cruz, e o segundo imitando Jacob do bandolim.
No final levamos o primeiro lugar e o Renato Murce, fora do ar, me falou em
particular: - olha garoto o Russo tem que tomar cuidado com você, esse pandeiro
que você toca não faz barulho, é tudo muito equilibrado. Voltamos para o morro e a
vizinhança veio em peso dar tapinhas nas costas, aquelas congratulações de praxe,
alguns prevendo um futuro cheio de glamour e dinheiro fácil.
Depois do sucesso no Renato Murce, fiquei sabendo que o programa A Hora do
Pato estava acumulado, e dessa fez eu fui sozinho. Naquele programa eu teria que
desafiar um grande astro, e esse astro que eu iria desafiar não era nada menos do
que Luís Americano do Rego. Tio Luís, como passei a chamá-lo posteriormente, foi
também um clarinetista e saxofonista extraordinário, compositor inspirado de valsas
e choros, talvez o melhor para clarineta. Além das gravações como solista,
participou de milhares gravações, sobretudo acompanhando os grandes cantores e
cantoras da década de 1930 e 1940 o som de sua clarineta e de seu sax-tenor é
inconfundível, marcante. Ao ouvirmos essas gravações, percebemos sem muita
dificuldades os momentos em que surgem as intervenções maravilhosas de Luís
Americano.
Pois bem, o prêmio interessante me encorajou e fui armado de um pandeiro
devidamente colocado no estojo, quando entrei na no recinto onde estava sendo
feito os ensaios, o Índio do cavaquinho me perguntou: - o que você veio fazer aqui?
O Tio Luis quando viu logo me deu um sorriso irradiando bondade, e disse: - vamos
dar uma passadinha. Quis saber onde eu morava, e pediu para que o Índio se
juntasse a nós. Eu já tinha escutado o “Passeando Pelas Arábias”, e como eu era
um assíduo espectador de filmes em série. Enquanto Tio Luís fazia aquela clássica
introdução, eu batia o pandeiro com o cotovelo e com a mão imitava uma Naja. Ele
gostou muito, e fez questão de dizer que eu era um prodígio, e iria fazer questão que
eu ganhasse o prêmio.
Na hora da apresentação fizeram toda aquela pompa, e, diziam assim: o garotinho
do norte, Inacinho, que veio desafiar Luis Americano. Eu fui muito bem vstido com
um terno de linho caroá. Tio Luís me recebeu com aquela gaitada gostosa que só
ele sabia dar no clarinete. E o resultado não deu outro ganhei o primeiro lugar,
naturalmente com todo envolvimento daquele monstro sagrado da música
instrumental brasileira, e que depois fui muito amigo, era acima de tudo um grande
conselheiro para os mais novos que estavam começando.
5. O INICIO NO MUNDO PROFISSIONAL DA MÚSICA
Depois quando terminaram toda aquela euforia, as pessoas querendo saber onde
eu morava, Tio Luis me chamou de lado e me disse: você já está pronto meu filho, já
pode vir para o ponto dos músicos. O ponto era assim dividido de um lado junto ao
Teatro João Caetano, era o ponto dos músicos de orquestra, e no Teatro Carlos
Gomes o ponto de músicos de conjunto regional. O ponto era uma espécie de
mercado de trabalho, formavam-se conjuntos ali, em cima da hora, até pequenas
orquestras eram criadas no calor do improviso.
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Fui para o ponto e n primeiro dia tive a sorte de conhecer um dos maiores violonistas
que esse país já teve, e que não tem o nome divulgado como o seu grande talento
musical merecia. Trata-se de Arlindo Ferreira, e que devido o seu gosto pelo
cachimbo, passou ser conhecido como Arlindo Cachimbo. Era mineiro, formou uma
das melhores duplas de violões que o cenário artístico já conheceu com Djalma
Ferreira, o lendário Bola Sete no regional do Claudionor Cruz, e depois, foi o
violonista de confiança de Abel Ferreira por muitos anos. Era do mesmo nível do
Meira e do Dino, que por sinal era seu amigo e compadre. Era um mineiro muito
calado e sistemático, quando a Aracy cantava aquele samba do Mulato Calado do
Wilson Baptista:
“vocês estão vendo
Aquele mulato calado
Com o seu chapéu de lado
Já matou um
Já matou um..”
Ela cantava e apontava para ele. Ele depois reclamava com ela dizendo que o povo
ia pensar que ele era um assassino. Um grande artista. Meu amigo acima de tudo.
E. perfeito para um regional. Acervo Sérgio Prata /1970
Da esquerda para a direita: Arlindo Cachimbo, Canhoto, Sílvio Caldas, Meira,
Niquinho e Gilson. A foto é da década de 70.
O Arlindo Ferreira me convidou então para tocar com ele no Circo DUDU, que
estava instalado na Praça da Bandeira. Iríamos acompanhar a cantora Aracy de
Almeida, o Jorge Veiga e o Gilberto Alves. Quando fiquei sabendo que iria
acompanhar a grande Aracy de Almeida de quem eu particularmente era fã, me deu
um calafrio, mas uma certeza que estava no caminho certo e com a pessoa certa. Eu
sempre gostei dela, por que sua voz era um instrumento de ritmo, o jeito que ela
dividia, não tinha para ninguém, por isso que ela era chamada de “O Samba em
Pessoa”.
Seguramente a maior interprete de Noel Rosa, e que por sinal, era sua cantora
preferida. Tinha o gênio forte e um repertório interminável de palavrões.
Ela gostou muito do meu novo jeito de tocar o instrumento, e saiu fazendo
propaganda para todo mundo: “viram o garotinho que o Arlindo descobriu, toca
pandeiro com surdina.” Daí para frente ordenou ao Arlindo Ferreira que seria eu o
seu pandeirista, e não queria saber mais daquele “pitilingu pitilingu “ que os
pandeiristas até então faziam. “E tamos conversados!”
Outra pessoa de enorme importância na minha carreira musical foi Vicente de Paula
Jose Soares - o Pinguim. Conheci-o em uma casa na rua Andre Cavalcante onde ele
dava uma “canja”,, juntamente com o grande ritmista Luna. Fiquei impressionado
como ele tocava o cavaquinho, um estilo completamente diferenciado. Fazia o
centro puxando os violões. E era bom também no segundo violão. É outro
instrumentista esquecido nesses pais sem memória. Outro dia atrás conversando
com meu amigo Voltaire7Cordas, ele me afirmou que ia assistir o programa do meu
regional na Rádio Mauá para ver o Pinguim tocar, agora, um elogio vindo do
Voltaire pesa.
Passamos a nos encontrar com freqüência no morro Santo Antonio onde eu morava,
ele ia lá freqüentemente jogar futebol. Assim soube por seu intermédio que havia
uma vaga no regional do Benedito César de Faria, pai do compositor Paulinho da
Viola, eu iria substituir temporariamente o pandeirista Afonso. O regional do César
só tinha fera olha só a formação Fernando Boninha no primeiro violão, César no
segundo, Piguim no cavaquinho, eu no pandeiro, e nada mais nada menos do que
Jacob Bittencourt no bandolim. Um time de divisão especial. Quero aqui ressaltar a
qualidade desse violonista que ninguém lembra mais, o Boninha, era um violonista
de um talento incomum, um gênio no melhor sentido da palavra. Falar do Jacob e
do César seria chover no molhado. Mas quero ressaltar aqui a grande amizade que
mantive com o César durante toda a minha vida, um homem muito fino e educado.
Amizade que estendeu à sua família por meio do Paulinho, que tive a honra de
acompanhá-lo em shows realizados em Brasília.
Toquei trinta dias, o Jacob queria ficasse definitivamente, mas eu jamais iria tomar o
lugar de um “irmão em armas”, o Afonso voltou, e logo também o conjunto de César
deixou de tocar na Rádio Ipanema que acabou sendo fechada por problemas
políticos. Estávamos na época da segunda grande guerra mundial, e segundo
comentaram, seus proprietários tinham ligação com os Nazistas e o governo de
Vargas fechou aquela emissora tirando-a do ar ar.definitivamente.
Eu não estava mais indo no ponto dos músicos, estava tocando na “orquestra de
folga”, era uma orquestra organizada para cobrir as folgas dos músicos nos
“dancings”. Minha irmâ Maria trabalhava na Samba Dancing e conseguiu uma vaga
para mim. Tocava das 20hs até 2 da manha, e nos sábados ate as 4 da madrugada.
Passei a ser sondado para tocar em conjuntos que formavam no calor da ocasião.
Muito comum naquela época, organizado para abrilhantar uma festa particular,
aniversários, ou comemorações que requeriam a presença de um conjunto regional.
6. MINHA PARTICIPAÇÃO NOS CONJUNTOS REGIONAIS
Com o início das gravações elétricas em 1927 e o advento das rádios na
década de 1930 com o subseqüente surgimento dos programas de rádio
bancados pela veiculação da propaganda paga, isso proporcionou a criação de
um novo mercado para a atuação dos músicos. O gênero musical da época
que enquadrava nas exigências comerciais era o samba. Surgiu assim a
necessidade de uma modalidade de conjunto que fizesse o acompanhamento
dos cantores profissionais e dos calouros que se aventuravam em busca do
caminho da glória artística.
Os músicos oriundos do choro eram mestres no acompanhamento “de ouvido”;
uma bem-vinda praticidade, pois não necessitavam de arranjos escritos,
bastando saber o tom da música e acertar a introdução, além de um inegável
virtuosismo quando se tratava de apresentar o seu repertório de choro, fizeram
dos regionais a instrumentação musical ideal para a radiofonia brasileira, ainda
em formação.
Os conjuntos regionais demonstravam a condição sócia econômica do país por
meio dos instrumentos utilizados de fácil aquisição. No solo, uma flauta de
madeira feita de ébano, bandolim ou clarinete, emprestado das bandas de
músicas, dando a introdução para os cantores; na harmonização, um
cavaquinho e dois violões fazendo frases musicais "em terças" alinhavados
pelo ritmo de um pandeiro de atuação discreta, indicava qual seria o formato a
seguir. Depois do advento do violão de sete cordas passou-se a utilizá-lo,
valorizando ainda mais o contraponto das cordas.
Na época em que atuei como musico profissional no Rio de Janeiro, lembro
dos regionais do Benedito Lacerda, que posteriormente se transformou no
regional do Canhoto. O regional de Claudionor Cruz que rivalizava com o do
Benedito Lacerda nas gravações. Tinha o do Dante Santoro, do Rogério
Guimarães, do César Moreno e do César Faria e o meu. Desses todos só não
toquei no do Dante Santoro e do César Moreno
Minha consolidação como músico de regional aconteceu quando fiz parte do
conjunto de Claudionor Cruz. O Arlindo comentou a meu respeito e ele, foi
conferir vendo meu desempenho no Samba Dancing, na orquestra de Folga do
Maestro Guilherme. Assim que terminou uma seleção, no intervalo ele me
procurou e fez o convite, afirmando que eu tinha sido recomendado pelo
Cachimbo, e que ele tinha gostado muito, me propôs um contrato e eu aceitei
de imediato.
O regional de Claudionor era um ninho de cobras alem do Arlindo, tinha o
clarinetista Antonio de Souza, O Bola Sete como segundo violão, o Claudionor
no violão tenor. Entrando depois eu, e o clarinetista e saxofonista Abel Ferreira.
O CLAUDIONOR CRUZ, era mineiro de Paraíbuna, apareceu formando uma dupla
com Zé Gonçalves, o Zé da Zilda. Tocava cavaquinho, mas seu instrumento de
devoção era o violão tenor. Um dos maiores compositores da musica brasileira, teve
diversos parceiros, porém o mais freqüente foi Pedro Caetano, com quem produziu
verdadeiras jóias musicais. Era um homem do coração bom .muito honesto com os
músicos..
A dupla de violões, era covardia, Arlindo e Bola Sete. Esse último arrisco a afirmar
sem ter medo, foi um dos maiores músicos que passou no planeta, não era desse
mundo. Se eu tivesse que apontar cinco dos melhores músicos que vi em toda
minha carreira, com certeza o de Andrade estaria na lista. Um fato marcante que
presenciei, foi um dia que Luis Americano chamou-o para a lousa para discutirem
teoria musical. Ele saiu de lá, o procurou imediatamente o Antônio de Souza, que o
ensinou teoria musical. Aí ele voltou e chamou Tio Luis para a lousa, aí Luis
Americano respondeu que tinha provocado ele, por que sabia do seu valor, e que
agora ele era um musico completo.
Assisti ele fazer misérias com o Garoto nos estúdios da Radio Nacional, uma
glória que pouca gente teve. Mas o mundo musical para o Djalma era muito vasto, era um pesquisador nato, não ficou só no estilo do regional, ouvia de tudo, era fissurado pelas orquestras de Jazz. Foi influenciado pelo Pereira Filho
a tocar violão elétrico, e ai, passou para guitarra elétrica, passou a tocar Jazz e ai acabou parando de tocar em regionais. Criou o “Bola Sete e seu Conjunto”, que tinha como cantora a também compositora Dolores Duran. Apresentavam-
se nas boates Drink e Vogue -esta, a mais famosa casa noturna da época, consumida pouco depois por um incêndio.
Na década de 1950 formou uma orquestra que percorreu a América Latina e a Espanha, mudou-se definitivamente para os Estados Unidos em 1959. Chegando lá gravou alguns choros causando verdadeiro espanto no meio
musical americano, a partir daí ninguém mais segurou Bola Sete. Antes de me transferir para Brasília encontrei com ele No Rio, queria por tudo me levar com ele para os Estados Unidos, aí nunca mais nos vimos. Veio a falecer como um
astro musical nos dois maiores celeiros de músicos do mundo.
O regional do Claudionor tinha outro monstro sagrado, do mesmo nível do Bola
Sete, o clarinetista Abel Ferreira. Tocar com os dois foi o maior presente que a
vida me deu. Além de tudo Abel era um ser humano formidável, capaz de criar
condições favoráveis em situações complicadas, sua própria vida atesta o que
estou mencionando.
Foi um autodidata em seu instrumento. Impedido pela própria família, sua
educação musical foi feito às escondidas na pequena cidade mineira de
Coromandel. Aprendeu teoria musical sozinho através de um método musical
dos anos 20 chamado “Artinha”. No clarinete só teve um professor, de nome
Hipácio Gomes, que mais tarde comentou: “Esparramei os dedos do menino no
instrumento”. O contato com o saxofone veio aos 15 anos. Aprendeu sozinho,
tinha ouvido absoluto, e muito esforço. Escrevia música e tinha domínio da
teoria musical, fazia arranjo e não passava vergonha em um piano. Tinha uma
relação fantástica com o público, sabia tocar para agradar. Antes de começar
chegava no meu ouvido e dizia: “Pernambuco, qual é o santo do
dia,hoje?”Queria que eu desse um palpite sobre o ritmo que mais agradaria,
choro, baião, valsa ou samba.
Abel inicialmente teve a seguinte trajetória musical: tocou em Uberaba com o
violonista e compositor João Tomé, depois foi para São Paulo tocar no
Regional do Pinheirinho, se transferiu para o Rio para tocar no Cassino da
Urca. Foi na gravação de “Levanta José”, da dupla e casal Zé e Zilda,quando
ele chamou a atenção do Claudionor pelo jeito inovador que soprava o
clarinete, totalmente diferente de tudo que havia no ambiente musical, aí o
capitão que não era bobo nem nado, decidiu a integrá-lo definitivamente no
conjunto. O conjunto cresceu muito, suas introduções eram uma coisa de outro
mundo, provocava o Arlindo e o Bola Sete que respondiam a altura.
Seu estilo novo provocou e gerou ciúmes no Luís Americano, que até então
reinava absoluto. Vendo o novo colorido das interpretações que Abel dava nas
composições dele, deixava-o furioso e ele nos procurava e dizia com aquele
sotaque de sergipano: “Fala prá aquele outro, prá não tocar minhas músicas
assim, por que ele não é meu parceiro!” Mas Abel era um fã confesso do Tio
Luis e dizia pra todos que ele fora sua grande influência, ao saber disso, ele
começou a tecer elogios ao Abel. Ficaram grandes amigos. É bom salientar
que Abel Ferreira visitava Luis Americano todos os dias quando este esteve
hospitalizado. Antes de falecer, ele pediu a Abel que gravasse a valsa
“Lágrima” de sua autoria, e ainda não cansava de pedir desculpas pelos
comentários que fez.
O Regional do Claudionor revezava na preferência dos grandes artistas com o
do Benedito Lacerda e depois o do Canhoto. O Chico Alves e o Herivelto
Martins preferiam o nosso. Exigentes como só, não deixavam passar nada.
Francisco Alves era um homem muito sistemático, e queria saber quem é que
iria acompanhá-lo. Se fizéssemos um acorde ou um baixo trocado, ele percebia
na hora. Mas, era um cantor que quando cantava era aquele silencio, por que
sua voz impunha respeito.
Tive um pequeno problema com o Chico Alves. Certa vez me viu tocando
ganzá e botou na cabeça que eu devia deixar o pandeiro e tocar o ganzá numa
das gravações. Se fosse hoje, não teria problema, pois temos recursos para
gravar instrumento por instrumento. Mas naquela época era tudo junto. Fiquei
contrariado e quis ir embora, aí o Felisberto Martins, que era diretor da
gravadora me conteve. Foi bom, por que naquela época brigar com o Rei da
Voz, era fechar todas as portas possíveis. O homem tinha um prestígio que
sinceramente, nunca vi em minha trajetória artística tanta competência e
popularidade juntas,
O Herivelto era do mesmo jeito, tanto é que ele e o Chico foram grades amigos.
Se davam bem nas exigências. Mas uma coisa eu gostaria de ressaltar aqui, é
sobre essa minissérie que fizeram aí sobre ele, está tudo errado. Colocaram-no
como um vilão. Um mulherengo conquistador, e o coitado não tinha sequer
dotes físicos para atrair o mulherio, era baixinho e atarracado. Contudo, um
homem correto acima de tudo, falo com base, por que convivi com ele, com
Dalva e suas irmãs, tiveram problemas que todos os casais tem, agora como
eram figuras públicas, duas estrelas, qualquer coisas que ela fazia ou que
Dalva gravasse era uma espécie de “resposta”, acabaram sendo vítimas de
uma exploração exagerada para o caso, como a minissérie fez também.
Em meados da década de 1940, a Globo dispensou as grandes orquestras,
ficando sómente com uma típica e o conjunto regional. Afastou o Claudionor da
direção, que estava envolvido também com outro grupo musical, “ As Três
Pequenas do Barulho”, entregando o comando a Abel Ferreira. Havia um
ritmista de uma das orquestras desfeitas com contrato em vigência com a
Globo, a direção da emissora obrigou o Abel, que, diga-se de passagem, não
era dono do conjunto, a integrá-lo no grupo. Mas Ferreira me garantiu: “quando
o contrato do homem vencer, você volta.
Com a saída do Claudionor das Organizações Globo, encerrou-se um capítulo
das historias dos regionais. O Regional de Claudionor Cruz figura entre os
melhores Regionais que passou pela era de ouro do rádio brasileiro. O do
Benedito Lacerda e o do Canhoto, que na realidade era um só, quando
Benedito saiu do conjunto, a liderança passou para o Canhoto que incorporou o
Orlando Silveira e o Altamiro Carrilho. O Capitão em entrevista concedida fez
questão de salientar que das varias formações do grupo a melhor foi a que
participei, com Arlindo, Bola – Sete, Abel Ferreira, Claudionor e Pernambuco. E
ainda disse que depois viramos todos astros de primeira grandeza. Além de
sua habilidade incomum para liderar, era um coração bondoso, um professor
de musica que deixou vários discípulos, dentre eles o bandolinista e violonista
(tenor) Pedro Amorim, baluarte da Escola Portátil de música, onde desenvolve
excelente trabalho com Luciana Rabelo e Maurício Carrilho. Fica aqui
registrado um pouco da história desse grande brasileiro consagrado como
compositor, mas que foi acima de tudo meu amigo.
Claudionor Cruz recebeu uma proposta do regional da Rádio Inconfidência de
Belo Horizonte, quis que eu fosse com ele. Minha filha Sulimar havia nascido e
aí era preciso ter um emprego fixo, pois a presença de uma criança em casa
exige responsabilidade, precisamos saber com o que contar na hora de
imprevistos. Fui com ele para Minas e chegando lá tive uma experiência que
guardo comigo até hoje. O pandeirista do regional da Inconfidência ficou com
medo de perder o emprego, dizendo que tocava tendo a mim como exemplo.
Eu o acalmei dizendo que estava lá de passagem, e que não permitiria que
ninguém o demitisse, por minha causa. Virou um grande amigo, me deu grande
apoio na capital mineira enquanto estive por lá, e se a direção da Inconfidência
o demitisse, estaria fazendo uma tremenda besteira pois era um excelente
instrumentista que sobreviveria em qualquer centro musical do país.
Em menos de um mês minha esposa me telegrafou dizendo para voltar
imediatamente, por que o Arlindo havia dito que havia uma vaga no Regional
do Canhoto e no do Rogério Guimarães. Voltei imediatamente, fiquei sabendo
que o Gilson estava tocando nos dois ao mesmo tempo. Mas como o Gilson
era meu “irmão”, continuamos revezando nos dois regionais, e a razão era por
que tocar no conjunto do Canhoto dava prestigio, e no do Rogério Guimarães
dava prestígio financeiro, por que o homem era abastado, volta e meia socorria
até as Rádios. Músico dele não passava aperto.
O Gilson era um grande músico, um pandeirista excepcional, nem o Rogério e
nem o Canhoto importava que nós revezássemos, até que um dia houve um
mal entendido entre eu e o Dino. Alguém disse a ele que eu havia comentado
que ele não tinha casa própria e que morava de favor. Isso mexeu com os
brios dele, e com razão! Quis saber quem havia dito essa inverdade, mas o
Dino como homem de valor que sempre foi não quis alcagoetar. Olha que
pressionei o “Boi” por mais de um cinqüenta anos e ele não abriu o bico. Mas
aquilo me deixou muito contrariado, e por minha reação, Dino sabia que eu
poderia fazer uma besteira e tratou de evitar, escondendo a vida toda quem
disse isso.
Esse incidente acabou fazendo com que eu optasse de vez pelo regional do
Rogério Guimarães. Mas não perdi minha relação com o Canhoto, que sempre
me chamava para apresentações especiais, meu conterrâneo Meira e o próprio
Gilson, que quando tinha um imprevisto ia atrás de mim, dizendo que confiava
no meu taco. O Gilson foi um verdadeiro “irmão em armas”.
Para falar um pouco dos músicos do regional do Canhoto é preciso começar
com o Benedito Lacerda, por que ai me reporta aos dos dois resumidamente,
que na realidade possuem a mesma história:
O Benedito Lacerda a meu ver foi quem definiu o conjunto regional típico de acompanhamento de cantores de Rádio. Em 1930 ele começou com o Gente do Morro, onde já contava com Russo do Pandeiro e Waldiro Tramontano, o Canhoto, no cavaquinho, membros da formação seguinte do então Regional de Benedito Lacerda, que incorporau a famosa dupla de violões, Nei Orestes e Carlos Lenine. Em 1937 o regional já tinha sua formação definitiva com Popeye no Pandeiro, Dino e Meira nos violões, passando a formar com Canhoto o mais famoso e estável trio de cordas que se tem noticias, tocaram por mais 50 anos juntos.
Benedito Lacerda era um virtuose na flauta, incomparável, pode ter flautista por com técnica mais apurada, mas é bom lembrar que ele criou o estilo, e até hoje é imitado. O próprio Altamiro Carrilho no inicio da carreira, quando havia algum imprevisto, era contratado para substituí-lo, por que tocava igualzinho a ele.
Era um compositor formidável, teve inúmeros parceiros e amealhou uma centena de sucessos.
Da esquerda para a direita: Popeye (pandeiro), Dino 7 cordas, Benedito
Lacerda, Canhoto (cavaco) e Meira (violão) – arquivo Sérgio Prata.
Muitos especialistas consideram o duo formado por ele e Pixinguinha, como o cume da musica popular brasileira de todos os tempos. Aliás, é uma história que existem algumas controvérsias, e muitas delas ofende a moral de Benedito. Pouca gente sabe que Benedito tornou-se parceiro de varias musicas do Pixinguinha por imposição do próprio Alfredo Vianna. Benedito quitou com dinheiro do próprio bolso uma hipoteca da casa de Pixinguinha e propôs formar o duo para ajudá-lo a sair daquela crise financeira. Pixinguinha como forma de agradecê-lo, e recompensá-lo deu o que tinha para dar, as parcerias em vários choros imortais.
Foi um dos poucos músicos que soube administrar sua carreira, e por saber ganhar dinheiro em um meio que quase ninguém sabe, foi por isso taxado de mercenário, e que roubava parcerias. Eu vou dizer para vocês, meus amigos, àquelas introduções que ele bolava, às vezes no improviso, me faz acreditar que ele não precisava comprar sambas de ninguém.
Era um chefe de regional exigentíssimo, ensaiava muito, e tudo tinha que sair perfeito. Era duro com os músicos para trabalhar com ele além de talento tinha que ter caráter. O conjunto dele virou uma referencia um modelo para todo regional que quisesse ser bem sucedido. Benedito Lacerda morreu cedo, com 55 anos vítima de um câncer, mas foi sem dúvida um dos maiores expoentes da música brasileira de todos os tempos.
WALDIRO TRAMONTANO - CANHOTO
Mestre do acompanhamento tocava o cavaquinho com as cordas invertidas, tinha uma capacidade de harmonização incomum. Assumiu a direção do regional quando Benedito Lacerda saiu do conjunto em 1951. Passando então o conjunto chamar regional do Canhoto. Ele incorporou o paulista Orlando Silveira, com seu acordeom, e Altamiro Carrilho na flauta. O regional teve outros flautistas como Carlos Poyares, mas manteve os outros elementos durante toda a existência do conjunto, por isso é que conseguiam um entrosamento incomum.
A influencia de Canhoto foi tamanha que podemos dizer que ele ao lado de Pingüim, de Jonas Pereira da Silva, e do Xixa, criou uma escola de “centristas” Mas a influência dele é preponderante, podem ver que muitos cavaquinistas dextros usam a palhetada de baixo pra cima tentando imitá-lo. Sabia liderar sem ser agressivo. Não bebia bebidas alcoólicas e era perfeccionista, gostava de ensaia exaustivamente Faleceu em 1987, deixando muitas saudades em todos nós.
JAYME FLORENCE – O MEIRA. O meu conterrâneo. Veio junto com Luperce Miranda para o Rio de Janeiro em
1928. No ano de 1937, substituiu o violonista Carlos Lentine no Conjunto
Regional de Benedito Lacerda, no qual, com Dino (7 cordas), formou uma das
mais bem sucedidas e duradouras duplas de violonistas da música popular
brasileira. Com o Regional de Benedito Lacerda, acompanhou grandes
cantores em gravações e apresentações. As gravações do Dilermando Reis é
ele o harmonizador, que aqui para nós, injustamente não aparece nos discos.
Foi um professor bem sucedido entre seus alunos podemos pontuar o Rafael
Rabelo e o Baden Powel, só para vocês terem a idéia do valor desse homem.
Era um homem de fina educação, fala uns três idiomas fluentemente, era
rodeado de amigos. Fazia uma reunião toda semana em sua casa e Jacob do
Bandolim e Pixinguinha eram visitas freqüentes, ocasião em que jogava no
“fogo”os seus melhores pupilos.
Foi um compositor brilhante, não de paradas de sucesso, mas de qualidade
superior, compunha linhas melódicas impressionantes. Seu parceiro mais
freqüente, foi o letrista Augusto Mesquita e Dino. Sua interprete favorita era a
personalíssima Isaurinha Garcia. Aliás, nós músicos sempre adoramos ela,
uma cantora fora dos padrões. Cantava com o coração nas cordas vocais. E
fora do palco era uma boa amiga sempre com um repertório de palavrões a
disposição. Ela cantou Molambo, Aperto de Mão e mais outras composições do
Meira.
HORONDINO JOSÉ DA SILVA – DINO7CORDAS.
Muita gente me pede para escalar o regional de todos os tempos, posso dizer
com franqueza que para os outros instrumentos seria uma briga seria, e até
sem sentido. Seria um desespero para mim escolher um seis cordas entre
Arlindo Ferreira, Bola Sete, Meira e Damásio? Na Flauta, Altamiro, Pixinguinha
ou Benedito Lacerda? No Cavaquinho, Canhoto, Pingüim, Xixa, Jonas ou
Luciana Rabelo? No pandeiro, Jorginho, Gilberto, Pernambuco ou Celsinho
Silva?
Mas tem quatro instrumentos que esses não tem para ninguém, o bandolim
para o Jacob, o cavaquinho solo para Waldir Azevedo, o clarinete para Abel
Ferreira e o Sete Cordas para Horondino Silva. Esses são unanimidades
incontestáveis, embora tivéssemos bandolinistas formidáveis como Luperce
Miranda; clarinetista de um naipe de Luis Americano; Sete cordas como
Voltaire, Rafael Rabelo e Darly Louzada. Ocorre que esses quatro foram
gênios da raça. È bom até sublinhar que o Rafael Rabelo e o Bola Sete tiveram
um desenvolvimento assombroso nos seus instrumentos, porém fora do estilo
regional.
Mas dentre todos esses que citei o Dino merece um destaque especial, pela
grande amizade que particularmente tenho com o Voltaire, acompanhamos o
Silvio Caldas várias vezes, tenho certeza que ele mesmo assina em baixo, o
que estou dizendo, cansei de ouvi-lo dizer o Dino é o professor de todos nós.
Ele mandou em 1954 o Silvestre da DoSouto, fazer um violão com um sétima
corda. O Tute e o China, irmão do Pixinguinha, tocavam violão de sete cordas,
que mandaram fazer depois que viu com uns ciganos. Mas foi o Dino que criou
a escola, imitando os contrapontos que o Pixinguinha fazia no sax. Ele tocou
com o velho Pixinga no regional do Benedito Lacerda e aprendeu lá as
manhas.
Meira (violão), Orlando Silveira (acordeom), Dino 7 Cordas, Gilson de
Freitas (pandeiro), Canhoto (cavaquinho) e Altamiro Carrilho (flauta).
O Brasil tem hoje em cada cidade um virtuose no sete cordas, mas a meu ver,
todos deveriam pagar Royalties ao Dino. O Jacob do Bandolim afirmava que
ele era o maior compositor de “baixos” do mundo. As levadas, as “baixarias”,
terminações de frases, que hoje todos fazem, noventa por cento foi criada pelo
“Boi”. Foi Silvio Caldas que colocou esse apelido nele, depois que passou a
usar a sétima corda no violão, um som grave lembrava um berro de um boi.
Dino vem de uma família de uma família dvou dizer os que foram e são meus
amigos próximos. O Lino, o Tico-Tico, o Jorginho que talvez seja o pandeirista
de mais alta técnica que o choro produziu, o Celsinho Silva, filho do Jorginho,
que herdou o talento do pai, e pode figurar sem nenhuma modéstia na galeria
dos grandes pandeiristas de todos os tempos. E por último o Netinho, que vem
mostrando serviço, toca com o Zé da Velha e o Silvério Pontes, e já se destaca
como a revelação do pandeiro. Salve a família Silva, a música brasileira deve
muito a ela, e eu aqui do meu canto fico muito orgulhoso, por que eles dizem
por ai que aprenderam muito comigo, o que me deixa muito orgulhoso, em
saber que o pouco que fiz, esta projetado em tão boas mãos.
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7. O REGIONAL DE PERNAMBU
8. CO DO PANDEIRO
1. Gravou em dupla Cardosinho no cavaco com afinação de bandolim - 1950
Brasileirinho estourou fazíamos sucesso
Falamos com Felisberto Martins que interressou se dispois a falar com Ms
Moore diretor geral da Odeom. Gravamos primeiro no selo elite da odeom. Do outro
lado gravamos um pout purri de baião, o segundo disco gravamos na pela odeom
grvamos o choro Juriti de Raul Silva e outro lado o baião sentimentoo de minha
autoria e de cardosinho.
A dupla acabou devido incompatibilidade profissional.
A Casa Neno loja de eletro eletrônico mantinha o programa PR-Neno em
diversas emissora, onde ficou mais tempo na Mauá. Era um programa de
auditório, fazia uma mescla de cantores famosos e cantores iniantes como
Claudete Soares e Barbara Martins. Dos cantores famosos tinha o Roberto
Luna, Noite Ilustrada, Alcides Gerardi, Roberto Silva, era chamado de o
cantor dos trabalhadores.
Um dos irmãos Neno me viu em um programa com Cardosinho, me convidou
para organizar um conjunto para acompanhar os programas da casa neno.
A primeira formação era o Cardosinho, Arlindo Ferreira e Eu
O conjunto era formado – eu, Freitas violão, darli Louzada violão, pingüim no
cavaquinho e Toninho no acordeon.
Fui fazer um progra da Neno na radio Mauá, antiga radio Ipanema, a convite
doutor Alberto Mannes. Voce tem compromisso alem da Neno, eu disse que
não. Freitas ja havia tocado no conjunto Os Tocantins, eles já havia acabado
o conjunto, fazia o primeiro violão.
Darli Louzada um dos maiores músicos que o Brasil já conheceu dominava
todos instrumentos de cordas. Freqüentador assíduo dos programas de
calouros acumulados pegava os primeiro lugar e Pinguim.
Maninho era um acordeonista regular. Paulistinha, durou dois meses, caga
sebo em vez de juriti – deficiência técnica. Depois o hidelbrando muito
talentoso, depois o pai tirou-o para estudar -
Antonio Eugenio - Toninho era de Santos Dumont, conheci em barra mansa
tocando piano eu estava na companhia de Zé Gonzaga, quando ele pegou o
acordeon me aproximei e propuz que ele mudasse para o rio – parentes na
rua Mem de Sá, ficava próximo da radio Mauá, da escola do orlando Silveira.
Venceu o contrto do joça o Abel ferreira me convidou para o seu regional que
trabalhava na radio Globo – Araujo, Arlindo,José Menezes, Amaro no
contrabaixo, Abel e Eu. Professor Antonio de Sousa, musica de orquestra
sinfonica – Flauta. Matias Rosa de acordeão, acordeão de botão.
Uma vez na festa de NS da Penha, havia uns seis conjunto tocando, já me
haviam, falado do Jorge Pitu, eu havia dispensado o Milton devido
incompatibilidade de estilo, ele era “muito moderno” misturava chiclete com
banana, então fui lá para observa-lo, ele estava Orlando cego do trobone de
pisto e maninho na flata, tocava nas escola de dança. Depois chegou o zuza,
um grande imitador do Benedito Lacerda. Ai percebi que ele era bom demais,
eu disse a primeira vez que tiver uma chance eu vou leva-lo. Peguei o
endereço na Penha, quando fui procura-lo ele estava na Figueira de melo em
bonssucesso...entrei nos botecos e fui procurando encontrei uma mulher
debaixo de um pé de Jamelão, encontreio vestido de cuecas bebendo umas
cervejas, vim atrás de vc para que esteja as seis horas na radio Mauá. Pegue
sua melhor roupa. Estou trabalahndo numa fabrica de papelão. Quatro horas
ele já estava esperando. Não tinha violão. No regional o instrumento era meu.
O Freitas cearense alegre logo chegou, apresentei o Jorge, que no inicio não
levou muito a sério o Jorge. Não queria levar o violão,,,vai ter que entrar aqui
sem beber,,dizia eu só bebo pura. Disse ele esta acostumado a tocar sozinho,
passou uns 20 dias o cara desenvolveu, o Freitas me chamou o cara é
diferente,,,o pinguim logo percebeu. O cara não imita ninguém é tão bom
quanto o Dino e o Darly.
Ouvindo o programa do Ary barroso, calouros do Ary, apareceu o bandolinista
Jacozinho que ganhou o premio conquistando o primeiro lugar. Gostei e
comentei com Freitas, que o conhecia e sabia onde morava, morava em
marachal Hermes, pele dica que deu fui nos botecos procurei os endereços até
encontrar o Jacozinho.disse que era o Pernambuco ele veio correndo, tenho
um amigo o Freitas.
A troca do nome Josevandro Pires de Carvalho, eu botei Evandro e seu
bandolim, o próprio Jacó me parabenizou.
Logo em seguida entrou o Artur Ataide não ficou muito tempo no
conjunto....fiquei sabendo por meio do Freitas de um Flautista capixaba me
disse que Carlos Poyares estava tocando no Regional de Mauricio de Oliveira.
Já havia conhecido poyares em 1945, fui com Manoel Barcelos em vitoria
comandando a caravana da tupy com um cast excepcional acompanhado pelo
regional do Rogerio Guimarães do qual eu fazia parte, em um parque de
diversão, ficamos cinco dias em vitoria, ele era conhecido como “Pixinguinha”
apelido segundo ele dado pela cantora Horacina Correia, fiz amizade com ele.
Anos depois seu irmão sargento Iran disse que ele queria vir para o rio, avisou
ao Freitas, comunicamos com ele, ele se predipos, comprei uma passagem no
aeroporto santos dumunt, na semana seguinte já estava entrosado com o
Evandro e o Toninho.
Fomos para São Paulo a convite de Paulo machado de carvalho – 1952, por
sugestão de carmelia Alves, me viu tocando na boate meninão com carmelia
Alves, eu, Menezes, e Nascimento chamado de Jimmy Lester marido de
carmelia que tocava contra baixo. Me convidou a fazer uma temporada na
Record.
Antonio rago – regional dirigido por um pandeirista
Santana – tinha um regional na radio bandeirantes, disse o que??? vai La pra
ver...quando viu pela TV o que fazíamos....
Os cantores queriam cantar acompanhados por nós, mas Paulo |Machado de
Carvalho proibiu
O Toninho foi seduzido pelo esmeraldino Sales a ficar no regional do Rago,
que tinham perdido o Oralndo Silveira,que tinha sido convencido pelo Luis
Gonzaga a ir para o Rio.
Convidei hildebrando do acordeom, Reginaldo Caçulinha tocava cavaquinho
estudava piano e acordeoan com orlando Silveira com três meses já estava
muito bom, ficou uns oito meses, virou um virtuose, tinha treze anos,
saiu...muito bom
Entrou Edinho muito bom
Zé neto que tocava Arlindo facão, chefe do conjunto, onde tocava toco- preto,
Loró- Furou dos funcionários da tupy, que tinha me convidadado ( Rogerio
Guimarães) eu não quis furar a grave, como eu era sindicalizado.
9. HERMETO PASCOAL NO REGIONAL DE PERNAMBUCO
Tenho um irmÕ QUE TOCA DEZ VEZ MAIS QUE EU
TOCA NA RADIO DIFUSORA DE CARUARU
ESTA INDA PRA RADIO JORNAL DO COMERCIO DE RECIFE PARA O
LUGAR DO GAUCHO, QUE NO FUTURO PASSOU A CHAMAR PITY
THOMAS.
O ACORDIONISTA EDINHO TEVE UMA DESAVENÇA COM O ABELARDO
CHACRINHA, TELEVISÃO NÃO PAGAVA CACHÊ
AI PROCUREI O HERMETO PASCHOAL, QUE EU JÁ TINHA CONHECIDO
EM PERNAMBUCO FUI APRESENTADO PELO MARIO BABÃO,JAZZ BAND
OS ACADEMICOS, AQUI TEM UM ACORDISTA ELE
A PRIMEIRA VAGA QUE TIVER NO CONJUNTO VENHO TE BUSCAR
JÁ ESTAVA NA RADIO TABAJARA
A CARTA CHEGOU EM RECIFE ELES MANDARAM PARA JOAO PESSOA
ELE RECEBEU A CARTA ABRIU ESTAVA O TELEGRAMA
“HERMETO VENHA QUE O LUGAR É SEU”
POYARES HAVIA VOLTADO PARA ESPIRITO SANTO POR SAUDADE DA
SEHORA DELE
MANUEL GOMES FLAUTISTA, TINHA PROCURADO EM TODOS OS
LUGARES, F TINHA UM IRMÃO NO CORPO DE BOMBEIRO ME DEU TODO
ATENÇAO, ELE ESTAVA MORANDO NA CASA DELE, TOCOU MUITO
TEMPO COM O MANUEL, UM IMPROVIZADOR, MUITO HUMILDE, VC VAI
FAZER UM TERNO AMANHA.
CHAMA AYR MOREIRA
CHAMA DR PAULO NUNES VIEIRA, GOSTA DO CUIDADO VIOLÃO
ESFREGAVA AS MÃOS COM UM LAPIS NA MÃO E DIZIA ESSA COISA NÃO
É DESSE MUNDO
ME PEDIREM ATÉ POR FAVOR
O COMENTARIO COMEÇOU NO PONTO
O ORLANDO SILVEIRA OUVIU ME ENCONTROU NO PONTO
VC AGORA ESTA COM UM COLEGA QUE FAZ INVEJA EM MUITA GENTE
FIQUEI ENCANTADO COM A HARMONIZAÇÃO
10. A ALTA MALANDRAGEM
Tive a oportunidade de conhecer a alta malandragem da Lapa. O malandro não era
Eram ótimos dançarinos, sedutores, conquistavam as mulheres e botavam-nas na
prostituição, era sustentados por elas ou pelo vício do jogo. Os mais famosos era o
Meia – Noite, andava sempre com um chapéu de aba arga
Botavam pra trabalhar na prostituição
MAIA NOITE – ALTO, chapéu de aba larga, bonito, vivia de kaften, era respeitado ,
nos cabarés, quando chegava a orquesta parava, tina uma psitola se não
parasse.....não brigava na mão. O dono politicamente não gostava que a policia
intervinha pegava mal para o cabaret.
Edgard, forte, mal encarado, chapéu, secretario do meia noite, ficava como guarda
noite. Tabariz, Novo México, o porteiro era chamado de Boi, parecia um paredão,
sabia conversar, e tinha força.
MIGUELZINHO – Calmo, educado, tranqüilo, se era provocado, procurava evitar a
briga, amigo de crianças. Antes de morrer se transformou em guarda portuário,
conheci em 1938, quando fazia os encontros quando a Truma animada do morro de
Santo Antonio, tocava numa roda de choro e samba no boteco Passatempo esquina
da rua Rezende com Lavradio. Botava todo mundo em silencio. Dona Hosana que
tinha casa de reuniões, na rua do lavradio, freqüentada por todos os malandros que
vivia de cafetinagem, volta e meia saia um briga de dois malandros, iam para o meio
da rua, sempre na mão. Camarão, Toninho, Mario Maluco. Tinha filhos e filhas todos
respeitados, as filhas se casaram com gente de bem. Campo de Santana ou na
praça onze,,,sem armas.
Blindado e mergulhão, dois estivadores, duas montanhas, paraibano e cearensa, os
cavalarias faziam um fuxico , e botavam os dois para brigar, brigavam, começa na
lapa e terminava na gloria, o mergulhão derrubou um cavalariça...
Miguelzinho – o maior capoeira da lapa, os malandros escolhiam...uma dançava no
clube fenianos, quando um policial da policia especial foi recusado por uma dama.
Começou a desacatar um pacato diretor do clube de um bofetão, chamou
miguelzinho, procurou conversar, foi levando ela para escadaria, deu uma cabeçada,
e ele desceu de cara na escadaria...
Foi para o quartel e veio o reforço, e perguntou cadê o cara, ai prendeu todo mundo,
outro dia toda dia com a boca da calça amarrada, tinham dado purgante , e botaram
eles para limpar o morro na enxada....perto de um tiro ao alvo onde eu trabalhava,
um deles foi La tomar água, me um telefone de um parente general, ai o general e
mandou soltou. Foi só um que me bateu.....
Comandante Queirós escreveu um bilhete e entregou para o velho Canuto,
miguelzinho foi, chegando lá. É esse mesmo, conta a historia, miguelzinho contou
tudo e não foi isso mesmo, naquele clube indescente,,,,clube dos fenianos ficava na
rua Evaristo da Veiga.
Chamou um gaucho e um catarinense e foi para o campo de basquete, e fazia
uns bicos na cantina do seu Elídio(forte andava com uma camisa de meia
para mostrar a couraça) irmão do domingos (Bangu), Médio (flamengo) e do
Ladislau(botafogo) da Guia, célebres jogadores de futebol. Contaram para
ELidio que iria haver um pega, eu tinha passagem livre, entrei e
assisti,,,,pegaram o produto da amazonas(borralha), mas não precisa de dois
homens.
Me chamou pra isso... Miguel usava um chinelo charlot, qdo chegou no pátio, estava
com uma calça curta, camisa de seda, tirou , uma ponta da borracha, pegou e
derrotou... Comandante o senhor desmoraliza seus soldados, poderia ter dado um
tiro....’’se existe uma serra tem outras serras’’
A morte do Miguelzinho – Gravatinha, no morro de Santo Cristo perto do Morro da
Favela.
Nelson gonçalves nocauteou miguelzinho
..................................................................................................................................
Quando prenderam o Prestes ( largo da carioca – frente pra cidade e as costas para
o morro)
....vc é comunista
Dizia eu sou
A batiam nele de soco, ouvi ele responder umas três vezes, depois passava por lá,
tinha assistido três comícios, em mangueira, na lapa, no catete)
O xadrez ficava encostado na rua do morro, que era possível ver o movimento....
11. CARREIRA INTERNACIONAL
AS VIAGENS PARA A ARGENTINA E URUGUAI ACOMPANHANDO A CANTORA
CARMELIA ALVES
CHIQUINHO
MENESES E NASCIMENTO, MARIDO DE CARMÉLIA.
EU TOCAVA ZABUMBA E PANDEIRO
ELA CANTAVA SAMBA E BAIÃO, E TOCAVA UM AFOXE DENTRO DOS
CONFORME
CHIQUINHO – ROMEU SEIBEL – GAUCHO – UM DOS MELHORES MUSICOS
QUE VI
JOSE MENEZES –
RADAMÉS DIZIA QUE ERAMOS O TRIO MAIS ENTROSADO QUE ELE TIMHA
VISTO
MENEZES NÃO FOI PARA O URUGUAI, O PAINISTA ROBERTO INGLES PEDIU A
NASCIMENTO PARA EU GRAVAR COM ELE NA TELEVISÃO BELGRANO, ELE
NÃO AUTORIZOU MENEZES INTERCEDEU A MEU FAVOR, E NÃO QUIS SEGU
IR PARA O URUGUAI
ATUAVAMOS EM TRES BOATES POR NOITE
CARMELIA CA NTANDO
O TRIO
EU SOZINHO FAZENDO MALABARISMO
LEMBRAVA DOS CONSELHOS DO JOÃO DA BAHIANA
TINHA LUGAR QUE AGRADÁVAMOS MAIS, O CRONICA ARGENTINA DIZIA O
TRIO PESA UM KILO. TOCAVAMOS EM TRES BOATES – BOATE GONGO – NA
AVENIDA CÓRDOBA – E NA TV BELGRANO – RFECEBI PROPOSTAS DO
DONODA BOATE
PARA AGUENTAR O ROJÃO CUIDAVA DO PREPARO FISICO, REMAVA E
NADAVA MUITO, TREINAVA BOXE NA POLICIA ESPECIAL.
NO URUGUAI
FIAMOS UNS TRINTA DIAS NO URUGUAI, CARM´LEA TEVE QUE MANDAR
BUSCAR A DONA ADA, MULHER DE CHIQUINHO QUE ESTÁVAM
PRATICAMENTE EM LUA. MULHER DE FINO TRATO E EDUCAÇÃO ESMERADA,
DIGNA DE CHIQUINHO QUE TAMBEM ERA UM CAVALHEIRO.
O REGIONAL FICAVA SOB A DIREÇÃO DE JORGE CHARUTO, NO PANDEIRO
MEU SUBSTITUTO ERA O MINEIRINHO ERA MEU SUBTITUTO DE CONFIANÇA.
EM 1955 TOQUEI AO LADO DE LOUIS ARMSTRONG NA BOATE DO HOTEL
SERRADOR, FIZ UM QUADRO DE MALABARISMO COM A AQUARELA DO
BRASIL, DEU
UMA GARAFA DE CACHAÇA ELE DISSE VERRY GOOD,TOMOU QUASE MEIA
GARRAFA, QUASE DESMANCHOU O PISTON NA HORA DO SHOW
TOQUEI COM CARMELIA EM HAMBURGO NA ALEMANHA, 1956, AINDA PUDE
PERCEBER OS SINAIS DA GUERRA;
LUIS GAÚCHO – ACORDEON –
DUILIO – DE GUITARRA E CAVAQUINHO – ERA DE SÃO PAULO VEIO PARA O
RIO PARA TOCAR COM O ALTAMIRO
LUGAR DE COMIDA RUIM, CHOPP COM CHUCRUTE
ENCONTREI COM O FILHO DO DONO GALERIA PAULISTA QUE ESTAVA
ESTUDANDO NA ALEMANHA, ME RECONHECEU, ME CONVIDOU PARA UNS
BIFES, DE CAVALO, ESTAVAMOSNO TEATRO SAINT PAULI
JÁ EXISTIA O BRASILEIRINHO – DUILIO SOLANDO E O GAUCHO
HARMONIZANDO;
PASSAMOS PELA FRANÇA A CARMÉLIA NÃO QUIS APRESENTAR NO MOULAN
ROUGE. Trabalhamos no NORTE DE PORTUGAL, UMA REVISTA PORTUGUESA
SEXO ILUSTRADO, FEZ UMA REPORTAGEM COM FOTOS DE VÁRIOS
ANGULOS. FICAMOS UM ANO E MEIO EM PORTUGAL, SEM VIR AO BRASIL.
VIM PARA O BRASIL NO NAVIO VERA CRUZ, DE TERCEIRA, O COMANDANTE
TOCAVA CAVAQUINHO. (LUIS LAVIA GUERRA – O GAUCHO.) FIZ UM SHOW
NO TEATRO DO NAVIO, O CAMANDANTE QUERIA ME COLOCAR NA PRIMEIRA
CLASSE
12. CARAVANA OFICIAL DA MPB
HUMBERTO TEIXEIRA, ME DISSE EM HAMBURGO, QUE IRIA ASSUMIR UMA
CADEIRA DE DEP FEDERAL, FAZER UMA VOLTA AO MUNDO
SIVUCA
ABEL FERREIRA
GUIO DE MORAES
DIMAS NA BATERIA
TRIO IRAKTAN
ENSAIAR DOIS MESES NA RADIO MEC
COMEÇAOS EM LONDRES, QUEM FOI FLORA ROBSON, ATRIZ DO FILME
MORRO DOS VENTOS UIVANTES, FICOU ENTUSIAMADA COM O
BRASILEIRINHO.
APRESNTAMOS NO OLIMPIA, COM EDITH DE PIAFF.. E UM GRANDE ELENCO.
ERA TRINTA DIAS TRABALHOS MAIS QUINZE DIAS. SIVUCA FOI MEU
COMPANHEIRO VOU PAGAR A DIFERENÇA, FICAVA CONTANDO MOEDAS A
NOITE INTEIRA, RATO BRANCO, GATO RUÇO.
PIAFF FICAVA ATRAS DAS CORTINHAS PARA ASSISTIR O SHOW, FICAVA
AGRITANDO BRAVO, BRAVO, BRAVO
FICAMOS UM MES NA BÉLGICA NO PAVILHÃO DO BRASIL NA FEIRA
INTERNACIONAL DE BRUXELAS. COMO O TRIO IRAKTAN TINHA TREMENDO
SUCESSO EM PORTUGAL FIZEMOS UMA TEMPORADA EM PORTUGAL
UMA TEMPORADA DE 45 DIAS NO CINE SÃO LUIS, COM COBERTURA DE
RADIO, JORNAL E TELEVISÃO.
12.PESSOAS INFLUENTES NA FASE CARIOCA:
1 – MAESTRO GUIO DE MORAES.
OS MUSICOS NÃO QUERIAM TOCAR AO ARRANJOS DELE, ULTRA MODERNO,
TOCAVA, GUITARRA, E CAVAQUINHO E PIANO, UMA MUSICALIDADE COMO
COMPOSITOR INCOMUM, (MEU BODOCÓ)...PERNAMBUCANO QUE NEM EU,
GRANDALHÂO, SER IRMÃO BOLINHA UM VIRTUOSE, TOCAVA NO CONJUNTO
ESCOLA DE RITMO ( GUIO DE MORAES, EDGARD NA BATERIA, EBÉR
GUIMAR~ES, PEDROCA NO PISTON, ALONSO NO CONTRA – BAIXO FOI
PRESIDENTE DA ORDEM DOS MUSICOS DO DF, MENESES NA GUITARRA,
ABEL FERREIRA – DEPOIS QUE RATINHO MORREU PASSOU TOCAR SAX
SOPRANO).
2 – SEVERINO ARAÚJO:]
PERNAMBUCANO DE LIMOEIRO, TERRA DE CHICO HERACLITO, FORMOU A
ORQUESTRA TABAJARA EM JOÃO NA RADIO TABAJARA, COM OSIRMÃOS, ZÉ
BODEGA – SAZ TENOR, JOSÉ MANUAL – TROBONE, JAYME NO CLARINETE E
SAX ALTO, PLINIO PISTONISTA E BATERISTA, MAIOR ORQUESTRA QUE VI NA
MINHA VIDA, BOTOU O TOMMY DORSEY PRA CORRER EM 1944 O ASSIS
CHATEUBRIAND TROUXE-O , FOI DITO PELO PROPRIO DORSEY A
CAPACIDADE DE SEVERINO COMO ARRANJADOR. TOCAVA
PROFISSIONALMENTE EM ORQUESTRA, MAS SEMPRE PREFERI REGIONAL.
SEMPRE O PROCURAVA PARA FAZER ARRANJOS.
3 – RADAMÉS GNATALLI:
VC FALA MUITO DO PERRONE, BATERRISTA PRA CINEMA, MAS PRECISA VER
O PERNAMBUCO, ELE VIU EU, GAROTO, CHIQUINHO, E MENEZES, O TRIO
MAIS ENTROSADO QUE JÁ VI.
4 – ELEAZAR DE CARVALHO
GRANDE MAESTRO, PROCUROU COM ZACCARIAS UM RITIMISTA FUI
INDICADO, FUI TOCAR NO MUNICIPAL, FUI APALUDIDO , FUI O PRIMEIRO
PANDEIRISTA A TOCAR NO MUNICIPAL COM ORQUESTRA SINFONICA FUI
TOCAR DOIS CHOROS- PERNAMBUCO DO PANDEIRO E BARRÃO DAS CAB
ROCHAS.
5- FRANCISCO MIGNONE
“FUI CONVIDADO PARA TOCAR ‘canta Brasil” com a orquestra da globo, ele
tocava somente musicas clássica.
6 – MAESTRO GAÓ.
Na baixa do sapateiro.
7 - GAROTO
FUI CONVIDADO PARA GRVAR COM GAROTO, EXIGIU EU OU RISADINHA, O
MARTINS DECIDIU EM MEU FAVOR, GRAVEI SÃO PAULO QUATROCENTÃO
FALEI QUE ELE IA FICAR RICO COM ELA...ERA DESPECEBIDO ESQUECIA DE
PEGAR DINHEIRO PRA TAXI, GAROTO ERA CASADO COM UMA MULATA E FOI
MUITO DISCRIMINADA NOS ESTADOS, O PINGO ( ARREGIMENTADOR) TINHA
MUITO INTIMIDADE COM GAROTO – MORTE COM OVERDOSE, ERA UM
SUJEITO UNGIDO POR DEUS, MUITO HUMILDE (Mussampeiro e cristancho =
Dilermando reis), o garoto compunha ninguem...
8 – Baden Powell
Cria do Meira, já muito jovem, assustava todo mundo, tentei colocar um apelido nele
de mogli, o menino lobo, gravei com ele na continental, onde tinha um técnico
fabuloso , um mulatão forte, um gênio na técnica o Lourival Reis.
10 – Silvio Caldas.
Poldra – parceira – esquipadora – ritimista – converso com ela
Armazém de seu Matias Donato
Vi e ouvi um gramofone Silvio caldas e o regional do luis americano
Deu cordas, baiano, rancho fundo, musica do inferno
Acompanhei-o pelo regional de Claudionor no copacabana palace, em várias
gravações. O canhoto chamava-o de titio, passei chamar também, ele gostava que
chamasse. A interpretação incomparável, nas serestas, acompanhado por Nei
Orestes e Carlos Lentine que morreu na Argentina com uma pneumonia galopante,
Meira entrou no lugar e depois Dino entrou no lugar de Lentine e Canhoto.
11 – Orlando Silva- brincava com ele, um pandeiro com surdina pra tocar com o filho
da dona balbinha. Pernambuco vc é um poeta...vicio de morfina...Amigo Leal
12 – Chico Alves – queria que eu tocasse ganzá, exigente nas gravações, só
gravava o que ele gostasse, tinha personalidade, nasceu na rua da prainha no bairro
da gamboa no meio da alta da malandragem bem encostado no Pedro segundo.
Foi padrinho de muitos cantores, incluisive de orlando silva
Pediu ao erivelto pra fazer um samba de “agradecimento:”
DEPOIS QUE VC ESTA NO APOGEU
Esqueceu o maior amigo seu
Mais se vc fracassar
Podes me procurar
Que o pouquinho que eu tenho
Chega também pra vc
A vida tem duas escadas
Uma escada e a outra que desce
Quem esta em cima
De quem em baixo se esquece
Cuidado amigo
Que o destino é bem cruel
Essa vida é um teatro
Cada qual tem seu papel. Encomendado pra erivelto e marino pinto
O Chico ficou numa situação muito desconcertante na relação do erivelto e Dalva,
por que era amigo dos dois,e com certeza sofreu muito com aquela situação.
12 - Alcides Gerardi
Era pra ser o padrinho da minha filha, não por que separou da Baiana, esteve
comigo nas minhas horas mais difíceis, ele o João Tomé, quando sai da cadeia ela
veio até Brasília , João Tomé colocou dinheiro debaixo da toalha. Ele me livrou de ir
pra Italia, levei uma meia dúzia de cubanos, sargento Lima, você é um músico que
precisa ficar aqui....fui La jurar a bandeira e adeus ao Coló ( saindo da jogada)
13 – Lupiscinio Rodrigues
Foi um amor a primeira vista, chamávamos de Lu. Era muito bajulado quando
chegava no rio, tudo que fazia era sucesso, muito boa praça. Tem composições
como cigano uma gravação magistral do meu amigo Moreira da Silva que teve
oportunidade de mostrar que era um interprete fenomenal, acompanhado pelo
regional de Claudionor . Lu era simples gostava de se relacionar com músicos, vinha
para assistir as gravações, gostava muito de tomar um uísque de marca balantines
14 – Nelson Cavaquinho:
Historia do cavalo que o Cartola conta nelson no buraco quente. Formou uma dupla
perfeita com o Guilherme de Brito. MUITO humide, vendia musica, tocava bem
cavaquinho, tocava violão com dois dedos, uma harmonização e frases melódicas
inovadoras. Convivi com ele e tocava m um boteco onde eu morava na Penha, ele
me chamava quando eu passava. Uma vez passava na rua cuba encontrei Nelson
em um botequim, ai falei pra ele que iria ser considerado somente depois de sua
morte. Guilherme era um cara serio não gostava de vender musica. Só vão te dar
valor quando voce morrer, ai o Nelson escreveu o “Depois Que eu Me Chamar
Saudade” fui o incentivador de acordo com o depoimento de Mario Alves ex
integrante do trio nagô. Bebia muito e não caia
3ª PARTE. MINHA VIDA EM BRASÍLIA
1. O CONVITE DE JK
Tocava com muitos políticos
Getulio Vargas (ABEL, MENEZES) TOCAMOS EM SÃO BORJA em 1943
ONDE ABEL TOCOU EM PRIMEIRA AUDIÇÃO “UMA NOITE EM SÃO
BORJA”,
O grupo foi organizado pela própria radio nacional, dirigido por Abel ferreira
Um show dançante
A alta política brasileira.
Toquei profissionalmente na campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes, e
pedido do radialista Carlos Frias locutor da radio nacional, que era o chefe da
caravana do brigadeiro, embora sempre fui um simpatizante da esquerda, o
conjunto era formado por mim e o violonista Temistócles Araújo, chegando
nas cidades procurávamos músicos na s cidades que podiam tocar conosco.
MIRO em Uberlândia, musico queme deu a inspirancia pra compor meu
grande sucesso que foi o baião Delirando, Em Uberaba, João Tomé,
recomendado por Abel Ferreria, que por sinal era um grande músico, um dos
melhores músicos que conheci, que depois tornou-se meu grande amigo em
Brasília.
ADEMILDE – PERNAMBUQUINHO VAI DORMIR – PAULO BOB QUE
IMITAVA BOB NELSON
Fui várias vezes tocar na casa de Tenório Cavalcante em Caxias. Tenórioo
era apaixonado por choro e quando havia festa em sua casa mandava um
recado pelo Paulo Nunes, então diretor da Radio Mauá, e sempre fomos bem
acolhidos por ele.
Juscelino qdo assumiu o governo de minas fomos propriamente inaugurar a
casa do baile na Pampulha, local de reunião social de JK
Carmelia Alves, rainha do baião, ( que país é esse), com um conjunto
formado por Chiquinho, Meneses, eu, e Nascimento.
JK GOSTOU MUITO das minhas exibições
Ma ocasião de caravana Humberto Teixeira, encontrei de novo com JK que
me reconheceu de prontidão
Depois que voltei da Europa que voltei da Europa sempre me chamava, na
residência das laranjeiras, iam lá com freqüência a mimm, erivelto, grande
Otelo, Sergio Cabral um grande, ou talvez o maior divulgador da musica
brasileira.
Ele me dispensou de tocar o “peixe vivo” pode tocar o que vocês quiserem, já
estava de saco cheio do peixe vivo, já agüentava mais, onde ele ia tinha que
escutar o peixe vivo. Juscelino não era bobo pediu que tocasse
Pixinguixinha. Numa ocasião uma das filhas de JK perguntou se o Hermeto
era o Sivuca, ele era chucro, fechou a cara e disse eu sou o Hermeto
Pascoal.
Tocava nos aniversários das filhas, foi quando já tínhamos intimidade ele me
convidou para ir para Brasília, seu pedido é uma ordem. Ele ordenou a Mario
Pires a minha transferência da Radio para Radio Nacional.
Fiz o convite para os membros do regional. O ubiratam era telefonista na
aeronáutica não se predispôs a vir, coloquei Gaspar no cavaquinho, e
restante todos gostaram da idéia, por que o Juscelino prometeu um emprego
para todos os músicos fora da musica.
Eu trouxe um conjunto com a seguinte formação Jorge charuto, darly, Manoel,
Gaspar, o Hermeto tinha um contrato com o Copinha na Copacabana palace
assim que terminasse ele viria.
Chegando aqui o senhor Adelchi Ziler, antigo diretor da radio inconfidência de
belo horizonte, que passou ser o diretor geral da radio nacional de Brasília,
( meu cunhado, o saudoso Fernando Salsides, era técnico de som da radio
nacional do Rio, passou quatro meses em Brasília montando o instrumental
técnico da radio nacional, o disco que ele usava para testar o som da radio
era No Meu Brasil Era Assim, disco do regional de Pernambuco do pandeiro,
gravado na Copacabana, em 1952, e que depois, Miudinho antigo músico de
Luis Gonzaga, e que passou a ser discotecário daquela emissora, me afirmou
que aquele disco tinha sumido e ele encontrou com o carimbo de entrada no
acervo adulterado)
Fui procura-lo, vim de ônibus, demoramos 2 dias para chegar aqui, Brasília
era um imenso canteiro de obras, muita poeira e nenhum conforto
Fui direto pra radio nacional, fiquei esperando três horas ate que ele chegou,
dizendo assim, Pernambuco, seu conjunto é muito caro, era pra ter um
alojamento, ele disse atualmente isso é impossível, Paulo Nunes já havia me
dito que o Ziller é enrolado.
Não propôs nenhuma contra proposta, minha salvação foi o Sergio aluno do
meu cunhado, ele me ofereceu um apartamento onde ele estava, numa
invasãonão tinha condição de moradia apesar da boa vontade do Sergio,
ficamos dormindo no chão, eu tinha trazido seis cobertores, uns quatro
dias...um policia da GEB ouviu a gente ensaiar bateram na porta, um sargento
que conhecia o Darli.
Sargento Murilo afroxou a guarda e pudemos colocar camas colchões e
lençóis, tirado do acampamento do banco do Brasil, permitido pelo dr.
Geraldo Carneiro, ( Já o conhecia na rádio Mauá, fui procurar, vendo naquela
situação).
O pessoal do conjunto tinha saído tomar umas e outras e depois jantar no gtb
(TINHA UM BARATO DE UM CARO), era um restaurante popular que tinha
duas categorias, comia quase de graça...ficava(? 513 OU 514) tinha DOIS
COMODOS.
QUANDO CHEGARAM ASSUSTARAM COM OS MÓVEIS. EU TINHA
TRAZIDO UM DINHEIRO QUE GANHARA NA EXCURSÃO QUE FIZ COM
OS BRASILEIROS NA EUROPA, E BANQUEI O SUSTENTO DO
CONJUNTO.
JOSE AUGUSTO DA CRUZ VITÓRIA, RESPONSÁVEL PELA DIVISÃO
PATRIMONIAL DO NOVA CAP, SABENDO QUE EU ESTAVA NA 310, ME
DEU UMA BRONCA POR QUE EU NÃO O PROCUREI, VOU FALAR COM
DR ERNESTO SILVA, PRESIDENTE DA NOVACAP, E TENHO CERTEZA
QUE ELE VAI RESOLVER SEU PROBLEMA.
ERNESTO ORDENOU QUE LEVASSE TODOS E DESSE O CARGO
CONFORME A CONDIÇÃO DE CADA UM.
E NOMEOU TODOS OS MEBROS DO CONJUNTO COMO FISCAIS, ERA O
QUE JUSCelino tinha prometido.
((((((o ziler não teve mais contato comigo, a radio tinha dois conjuntos de joão
tomé e os ceguinhos, gilson (piano), valter (bateria) , china(acodeon), joão
tomé (guitarra), e os não cegos pedroca (pistão) e alagoano (conta baixo).
e uma orquestra dirigida por kolman, que tocava anteriormente na pampulha,
e lá fez amizade com dona sara e juscelino e tocava as músicas que dona
sara gostava com seu sax tenor muito quadrado por sinal. vi que não tinha
espaço para mim na radio nacional.))))))))
ai fomos morar no do ré mi, era um alojamento para funcionarios qualificados
e visitantes, a origem do nome foi devido que seus primeiros hospedes foi
uma orquestra que fez uma apresentação publica.
era tudo de madeira , mas muito bem feito, tinha dez blocos cada um com
vinte suites muito confortáveis.
havia uma cantina muito especial com comida muito bem feita e barata.
ficamos morando de maio a julho, tocamos na cantina mas carioca no cerrado
não fica contente, e resolveram ir embora, muito contrariados, e imploraram
que eu fosse juntos.
eram músicos que tinham espaço em qualquer lugar e voltaram para o rio,
embora careciam de uma liderança forte por que boa parte dos músicos
daquela época as vezes bebiam muito e não se preocupavam
profissionalmente.
o jorge voltou arrumaram um emprego pra ele no gama como vigia de obra,
ele apareceu certa vez me pedindo um violão emprestado, emprestei e perdi o
contato, ai ele entrou de vez no alcoolismo, morreu e foi enterrado como indigente. o
darli tinha bons contatos e era multi instrumentista, segui sua carreira, sendo levado
pela cirrose hepática. o gaspar não tive mais notícias, não se firmou no cenario
profissional musical.
não voltei por que se voltasse eu me sentiria um derrotado, e acreditava no sonho
de brasília,
ali era o futuro para minha família, já havia tocado nos melhores lugares do pais, já
tinha uma carreira profissional, liderava um conjunto de sucesso, mas não tinha
conseguido um segurança financeira para dar aos meus dois filhos uma vida digna,
por isso abri mão dos palcos e enfrentei a poeira dos cerrados.
parei de ser musico e abracei a carreira de fiscal de edificações tomando conta do
relógio de ponto, trabalhando como fiscal, até 1961
houve a eleição de 1961, mudou o comando de todos os cargos de confiança. fúlvio
machado ficou no lugar de josé augusto, me entrevistou e gostou da minha maneira
de proceder e me tornou um homem de sua inteira confiança, me nomeando como
chefe da segurança do do re mi.
foi dizendo eu já sei que as irregularidades daqui é um nojo, e vi que você tem
experiência com comando, eu quero moralizar isso.
as ordens, não deixar ninguém namorando dentro de carro
não permitir orgias dentro das suítes
havia um rapaz, filho de general e sobrinho de embaixador, que tinha uma conduta
que contrariava o padrão moral que o dr. fulvio machado queria estabelecer no do re
mi, andava nu corredor dizando palavras de baixo calão, humilhando na calada da
noite as pessoas de bem que moravam naquele recinto.
ele estava mantendo relações sexuais com uma professora que morava no bloco,
dentro de uma kombi, falei para ele as ordens que tinha recebido, mas ele disse que
ele mesmo fazia as ordens e que esse dr, fúlvio não tinha nenhuma autoridade pra
ele. no outro dia fui falar com dr. fulvio e ele me pediu por escrito, e passava volta e
meia por la, mas não pegava ninguém em flagrante.
os próprios moradores do do re mi, queixaram da conduta do rapaz para o dr.
fúlvio,no entanto, ninguém tomou nenhuma providencia, deixando que a ordem
ficasse exclusivamente sob minha responsabilidade.
dias depois dois moradores do bloco, me advertiram que havia alguém que iria
quebrar a minha cara. já que as autoridades superiores a mim não tomavam
providencias, eu fui até uma delegacia de policia, conduzida pelo delegado paes
leme, ficando registrado em livro, mas mesmo assim ninguém tomou nenhuma
atitude.
passava na kombi e me provocava, por diversas vezes , até que uma noite o vigia do
bloco que morava a namorada dele foi me avisar que ele estava no bloco da
namorada dele. ai fui de encontro a ele. ele partiu pra cima de mim , um homem com
mais 1,80, e dizendo ofensas que recuso a dizer aqui, como fiscal de ordem eu tinha
que andar armado, e fiz uso da arma para me defender.
depois de três dias me apresentei por livre e expontanea vontade na delegacia da
vila planalto, onde já havia feito a queixa. quando me apresentei o escrivão cléber,
meu vizinho, inclui a queixa que eu havia registrado, e que me ajudou muito. o
delgado paes leme quando soube que soube que havia entregado disse-me: “gostei
da sua hombridade”, e não quis fechar a porta da cela, só fechou depois que entrou
outros presos. o dr. paes leme fez uma investigação exemplar chegando a dizer que:
“no do re mi só encontrei irregularidades e desmoralizações!”
um jornal da época, que hoje não existe mais, publicou uma série de artigos
assinado por um jornalista casado com uma prima do dito cujo, em que me colocou
como um chefe de gang e um pistoleiro frio. e continuou durante semanas e
semanas com artigos caluniosos, inclusive fazendo uma reconstituição
absulutamente mentirosa, na tentativa de me desmoralizar e em conseqüência
provocar uma condenação injusta.
esses artigos caíram nas mãos de paulo nunes, meu antigo diretor da radio
mauá,que imediatamente do rio para brasília, procurou o jornalista que publicou
aquelas inverdades e disse a ele para parar com aquilo, sou um homem de
confiança de jk, e você sabe que mesmo ele fora do poder ainda manda em brasília.
paulo nunes avisou a jk que imediatemente ordeou que procurasse o dr. edson
guimarães tolentino, irmão de dona risoleta neves, e sua esposa dra, sara tolentino,
que fizeram toda minha defesa sem cobrar um tostão sequer.
dias foram se passando passei um ano e meio no presídio e na véspera do
julgamento esse mesmo jornalista, fez um artigo fazendo uma espécie de retratação.
no julgamento o promotor entrou me acusando dizendo, eu conheço o acusado, ele
esteve em minha terra, piauí, e o conheci tocando, gosto dele, sou fã dele, mas tem
um detalhe, por detrás dessa barba pode ser um castrino. ai o dr. edson replicou
dizendo que jesus usava barba, e o promotor retirou imediatamente o que disse. o
resultado foi 6 a 1.
o promotor abriu mão da réplica, e não entrou com recurso dando o caso por
encerrado. esperei cinco dias na prisão para pegar o alvará de soltura.
convivencia na prisão
na delegacia da vila planalto fiquei por duas semanas, sendo transferido para o
presidio da velha cap, no depósito de presos. um galpão onde os presos ficavam
amontoados, chegando a dormir dois no mesmo beliche, e muitos dormiam no chão.
como eu era muito querido e o chefe de policia me conheceu em são paulo, coronel
jayme santos, me conheceu em são paulo na record, , avisou que iria me visitar na
prisão isso influenciou a construção de um novo deposito de presos na torre.
no deposito da velha tinha um chefão por nome “marujinho”, eu o conheci garoto na
penha circular. quando eu cheguei no presidio com o pandeiro, ele me recebeu,
relembrando os locais onde tinhamos encontrado. esse aqui me conheceu garoto e
logo arranjou uma cama para mim. na primeira noite , no frio de julho me botaram
numa solitaria sem cobertor e nem nada, no meio da noite, haraldo que era musico,
trabalhava nalavanderia, me levou uma toalha para eu cobrir.
quando eu fui transferido para a torre, o marujinho, mandou um bilhete para o
catarina, “trate bem ele ai por que ele é um dos nossos”. ele não gosta que bula nas
coisas dele,,,eu recebia muito doces e distribuia com todos, doces cigarros.
depois voltei para a velha já com um novo barracão de madeira com grade dividido
em cubículos, colocavam até quinze pessoas em cada. tinha um banheiro (frio) e
quinze beliches. era um ambiente asseado.
o catarinha foi junto, mas lá a liderança dele se restringiu ao cubiculo que estava
encerrado.
a turma de presidiarios em acordo com o diretor do presidio elegia um chefe, que
dava ordens, manter limpeza nos banheiros.
faziamos café de forma cladestina, o fogo era feito com um “pirulito”, feito com
paginas de revistas...os guardas nas guritas sentiam o cheiro do café e vinham
conferir. mantinhamos um olheiro que com um espelho controlave quem vinha. o
‘mata sete” era quem fazia esse controle.
fui eleito chefe do meu cubiculo, não aceitava espancamentos nos novos hospedes
do cubículo, mas permitia banhos frios a meia noite, sem direito a se enxugar.
um dia a comida estava muito ruim, reclamaram para melhorar a comida, mas as
providencias não foram tomadas. havia os pagadores, servia a comida, se revestiam
de autoridade e não serviam direito.deram um banho daquela comida no gigante,
veio a patrulha prenderam todos sem direito de banho de sol por uma semana.
motim, o ferreira , o carcerreiro, (quis ser meu compadre) disse o pernambuco tem
moral com eles, eu davacigarros, doces, ouvia muito eles. não adianta o choque, a
única alternativa é colocar o pernambuco para conversar com os chefes. negociou
com o tenetente que se predispôs a resolver pessoalmente o que os presos
reivindicavam, e resolveu. no dia seguinte a comida melhorou.
que fiz no presidio
havia no meu cubiculo um detento, por nome maurolourenço, que havia participado
de uma brincadeira de roleta russa, e nessa brincadeira houve uma morte, e ele foi
preso, pessoa muito jovem, muito boa pessoa, e tocava violão muito bem, ai, nós
formamos uma dupla inicialmente, ensinei o mata sete a tocar pandeiro, e o baiano
protógenes a fazer ritmo numa lata de goiabada de 20 quilos. o mata sete ficou um
pandeirista extraordinarios, e o protogenes um batuqueiro da melhor qualidade.
o nome do conjunto era “os companheiros”, tocavamos durante as visitas, o
protogenes cantava muito bem os sambas da bahia.
logo após apareceu um barbeiro por nome barbosinha, baiano tambem, e o
ferreirinha sabendo que ele era musico, colocou em nossa sela. ai formamos um
time de primeira, por que ele era um excelente acompanhador, e formou uma dupla
com o mauro olha lá, quase igual ao que eu tinha no regional.
me veio a inspiração para fazer uma musica, lamento do encarcerado:
seu doutor não queira ver
como dói o coração
de um homem encarcerrado
a vossa disposição
passa horas, passam dias e passam meses
esperando a sua vez
sem ter uma decisão
se é condenado ou não
mas o promotor cumprindo o seu dever..
mas é de coração continuar um chefe de familia
as grades de uma prisão..
o cozinheiro miguel carioca que era do do ´re mi, foi transferido para o palacio da
alvorada, quando quadros assumiu a presidencia, com a renuncia de janio, goulart
assume a presidencia, o miguel fez amisade com dona maria tereza, e disse a ela
que eu estava preso, e que tinha feito uma musica lamento de um encarverrado, ela
levantou informações minhas, e viu que eu era bem relacionado com os presos e
autoridaes.
ela tinha sido aluna do claudionor cruz, e ele falou sobre minha pessoa, ela veio me
visitar e nos organizamos uma recepção pra ela. nesse dia o tenente joaquim
barbosa, conseguiu alguns artistas da radio nacional de brasilia, e nós fizemos o
acompanhamento. cantou o mata sete e o protogenes.
dona maria tereza dispensou o aparato de segurança pessoal, e tivemos um show
com uma plateia composta por presidiarios com um respeito á musica e aos artistas,
que nunca vi em lugar nenhum, comovendo ate a primeira dama que saiu de lá
emocionada.
do conjunto o barbosinha , o protogenes, e o mauro lourenço, logo sairam do em
liberdade, o mata sete conseguiu a “liberdade” apelando para o “doutor” arame, e
nunca mais soube dele.
recebi a visita de dona julimar buzaid, então, presidente da ordem dos músicos de
brasilia, juntamente com sua companheira de instrumento, a pianista e professora
neuza frança, foram levar solidariedade de companheiras de profissão. e no dia do
julgamento estiveram presentes, me mandou um cartão pelo sargento murilo que
dizia o seguinte “ não posso ficar até o final do julgamento, mas, fé em deus e pé na
tábua...”
recebi a visita da minha comadre leopoldina pinheiro, a dina, esposa do grande
violonista henrique xavier pinheiro, pai de criação do compositor gonzaguinha. ela
enfrentou de onibus a travessia de dois dias para vir rio de janeiro a brasilia para me
visitar, o xavier pinheiro já havia falecido. dina era uma mulher de uma dignidade
exemplar, um exemplo de pessoa humana, não é a toa que gonzaguinha
homenageou-a com esse samba exemplar que transcrevo abaixo em homenagem a
minha querida comadre.
josé gonzaga, veio exclusivamente para me visitar. o zé era um acordeonista
formidavel, que o próprio luiz dizia que era o melhor músico da familia. lembro das
suas palavras de conforto, me dizendo que eu iria ser absolvido. tocamos muito
juntos, e ficou uma grande amizade entre nós a ponto dele ter tido esse gesto de
carinho comigo.
a vida depois da prisão
assumi o meu antigo emprego como fiscal de ponto, sendo reconduzido para o
cargo de condutor dos empenhos da nova cap, leva para os ministerios e palacio da
alvorada.
as vezes eu tinha dez empenhos para entregar e não havia como pegar a condução,
e como no periodo da ditadura, os militares usavam de uma forma trunculenta para
relacionar, as vezes eu ficava tres horas esperando ser atendido. cheguei a discutir
seriamente com um coronel, havia ficado mais de tres horas, e exigi que ele me
respeitasse. daí, fui afastado, me mandarm procurar uma lotação, daí fui para
secretaria de serviços publicos, trabalhando com fiscalização de rua, bancas de
revista, taxi , onibus. trabalhei uns cinco anos e requeri aposentadoria proporcional.
mas na época não requeri meu tempo de servidor na radio mauá, e poderia ter sido
aposentado integralmente.
a musica em brasilia
assim que sai da prisão continuei sem tocar fiquei um bom tempo sem tocas
profissionalmente, embora sempre pagando a ordem dos musicos e o inss. tocava
cavaquinho em rodas de amigos nos bares da cidade.
o josé agusto da cruz vitoria, então. dono de uma casa de pizza com musica ao vivo
chamda de amarelinho, me procurou dizendo que o bide da faluta tinha sido
transferido para brasil. já havia mudao para cá o eli do cavaco. o proprio eli chamou
o tó, um piauiense, um veolinista esforçado, pontual embora caresse de talento, ai
posteriormente decobrimos o dudu, era bandolinista e tocava violão meuito bm, por
que já estava saendo instrido peloanena de castro.
me procurou um contabaixista, cearense, por nome de dedé, me disse que tocava
violão tambem, fez um teste o eli gostou muito.
, achou melhor do que os dois.
nessa mesma época trasnferiu-se para brasilia um grande musico, funcionario do
itamarati, bandolinista referendado pelo jacb do bandolim, chegando logo veio me
procurar, tratava-se de cincinato.
todos os sabados passamos a reunir na casa do jornalista raimundo de brito, muito
bom no centro de cavaquinho. era aprofundado em teoria musical. paasou ser ponto
de musicos, lá iam os fracos e os fortes no instrumento.
mudou-se para brasilia o economista e professor univesitario da unb, celso cruz,
musico sem muita experiencia com regional,mas muito bom instrumentista, fã de luis
americano, era um cavalheiro acima de tudo. ele estava indo para os estados
unidos, e ele é quem teve a primeira idéia de montar umclube do choro em brasilia.
montamos um conjunto com a seguinte formação: cincinato no bandolim,bide na
flauta, celso cruz no clarinete, eli no cavaquinho, violão no violão de seis cordas, eu
de pandeiro e zélia nunes. fui chamado pelo proprietario do barril, o bar mais
frequentado da galeria dos estados. tocávamos amadoristicamente.
ali frequentava constantemente o dr. francisco de assis, o lendário six do cavaco,
grande benemérito do choro. avena de castro, bené que trabalhava como contínuo
no itamaraty, reforçou o grupo com seu violão de sete cordas. o barril comoceu a
receber uma lotação jamais vista em brasilia.
o italiano que era dono me disse com arrogãncia: “não gosto da musica de voces,
gosto sim do publico que voces trazem, imediatamente reportei ao grupo, ai ninguem
voltou mais lá. conclamei o pessoal para levantar acampamento, o six sugeriu
transferir-mos para o beirute.
ai passamos a tocar em muitos lugares indicados pelo six. onde ele determinava nós
iamos. aí pensei em motar um conjunto de músicos profissionais. o celso cruz era
amigo do josué sacca, e este havia trazido para o gilberto salamão uma casa
noturna de são paulo chamada “a fina flor do smaba”, me convidou para organizar a
parte musical.
criei um conjunto que tocava samba e choro, com passistas masculinos e femininos.
marrom tocava tamborim e reco-reco, zé pretinho no surdo, eu de pandeiro. pinheiro
no violão de seis cordas, mandei buscar o indio no rio para tocar cavaquinho. meses
depois mandei vir o carlos caçula um dos melhores sete cordas que havia no rio. o
issa, mandou fazer um uniforme que parecia mais um conjunto tipico mexicano, ai
não concordei , e pedi para fazer um uniforme com camisas listradas, chapéu de
palheta e sapato e calças brancas.
o zé pretinho era considerado o “gogó” de sola pois cantava horas e horas sem
parar, com um rpertorio quilometrico. o indio revesava nos solos de cavaquinho. a
boate esgotava os ingressos, e ali frequentava a sociedade classe a de brasilia.
trbalhamos lá durante tres anos, o issa vendeu para o soarez, e voltou para o chile.
ah! ioio
oi iaia
o samba não acabou
só mudou de lugar
venham todos meus amigos
venham para o lado de cá
por que o samba não acabou
só mudou de lugar
se vc não é de samba
venha nos visitar
que na roda de bamba
alguem pode nos ensinar.
o soarez quis mandar me bmandou avisar que eu poderia levar uma surra devido
essa musica
me indispus com o soarez, resolvi sair, por que discordamos na forma dele fazer o
pagamento (atrasava). me propus a sair, ele não discordou. mas quando ele viu que
eu irialevar oconjunto comigo ele se deseperou. queria voltar atrz mas não teve jeito,
a diretoria do casarão ficarão entusiasmado com minha ida para aquela casa. lá
procurei melhorar cada vez mais o conjunto. contratei tio joão para o trobone, tio dos
grandes vioonistas gêneos, os virtuoses valter e valdir silva, contratei tambem
aquino para o clarinete e luizinho no sax tenox, e mais duas passistas.
os cartazes exibiam o nome de pernambuco do pandeiro, seus batuqueiros e suas
passistas. e casa lotava nas sextas e sábado, era preciso colocar uma segurança
muito forte, por senão o publico invadia, esse sucesso durou dois anos, meu
conjunto revesava com o do chico doido. tive uma discussão com o presidente da
associção qiue comandava o casarão, recindi o contato, que tinha assinado por
tempo indeterminado. no final da noite fiz uma despedida emocionada, e disse que
estava indo para o clube dos previdenciario.
o diretor artistico do previdenciario era walcir...... de quem depois me torne um
grande amigo. e mantenho essa amizade até hoje. ele foi umdiretor artistico muito
competente e criativo. ele dominou por completo as noites de brasilia. tive que
melhorar mais ainda o conjunto. contratei o patp preto para a bateria, e um moço
que prometia muito como violonista, e que no futuro acabou se tronando um astro
nacional do sete cordas, alencar soares, o eli voltou como cavaquinista, nilo no sax
soprano, luizinho na sax tenor, aquino no clarinete e tio joão no trobone, tinha os
cantores, dália e ciro.
um diretor por nome de waldir dizia que qualquer conjunto fazia sucesso ali,
segundo ele não era a múscica mas a estrtura do lugar que fazia sucesso, ai resolvi
sair, e resolvi prar de vez tocar a noite para as pessoas dançarem, na realidade
nunca gostei de tocar pra gente dançar, tocava profissionalmente, mas não por
gosto. ( 1975??))
nessa época o genro de waldir azevedo foi transferido para bbrasilia, era ltado no
banco do brasil. ele era muito apegado aos netos, e resolveu vir tambem. numa das
reuniões na casa do professor raimundo ele apareceu por la atras de mim, ele queria
que eu montasse um conjunto pra ele. já havia gravado com ele no rio e feito muitos
shows com ele.
eu disse para ele que tinha um grupo de samba, somente o eli e o alencar era que
podia participar. ai sugeri o valerio que já tocava com em dupla com o alencar. ele
inicialmente rejeitou temporariamente o nome do eli, e mandou que fosse os dois
violões. o valdir não combinou profissionalmente com o valerio e ai me pediu
sugestão de outrs violonistas, ai, que surgiu o nome do violonista e compositor
hamiltom costa, e o dudu, era muito esforçado. ele gostou dos dois, e ai, me pediu
que mandasse o eli procura-lo e meu compadre valdecir para o pandeiro.
o dudu não pode permanecer por que era funcionário na assembléia legislativa, e
não podia acompnhar profissionalmente o conjunto. sugeriu o valtinho , muito bom
violonista. fizeram vários apresentações com essa formação, hamiltom costa,
valtinho, eli e valdecir. o valtinho voltou para curvelo e sugeri o nome do josé carlos,
que havia vindo do rio com o dr. veloso. quando valdir ouviu o carlinhos ele ficou
impressionado com o estilo do carlinhos tocar
ele insistia para que eu tocasse com ele, mas tambem tinha meus compromissos,
trouxe o risadinha por recomendação minha, e fez somente um show em manuas, ai
então assumi como membro efetivo do conjunto. gravei tres discos com ele, dois no
brasil e um na alemanha..
em 1976 valdir teve um convite do governo da alemanha para um show na cidade
de dusseldorf. na formação do grupo que iria valdir me perguntou se era
interessante integrar no grupo o rafael rabelo, e o rafael estava comendo a bola,
naquela época, mas por respeito ao carlinhos que era membro efetivo do conjunto,
seria desleal deixa-lo e o valdir concordou comigo. mas com certeza se o rafael
tivesse ido certamente teria feito um enorme sucesso. foi conosco o violonista
sebatião tapajós, que era um nome muito conhecido na europa., que foi convidado
tambem pelo governo alemão.
a temporada foi coroada com êxito fizemos muito suceeso. quando tocamos o
brasileirinho os alemães pederam a frieza e até ensaiaram uns passinhos de samba.
fomos aplaudidos de pé varias vezes. ficaram admirados pela rapidez com que
gravamos o disco em apenas dois dias.
valdir azevedo tinha feito um choro muito bonito, e ele havia me pedido para batizar
o choro, antes da gravação o choro estava sem nome, e ele me pressionou, ai fui na
coxia e tomei uma dose reforçada de wiskey e veio o nome “lamentos de um
cavaquinho”, ele gostou tanto que colocou o nome tambem no long play. esse
musica teve um arranjo do hamilton costa e outro do carlinhos, tão bons que tivemos
duvidas em saber qual ficou melhor.
foi na alemanha que coloquei que criei o apelido de “bom bril” para o carlinhos. um
pouco pela “juba” que ele usava e tambem por que o homem era de mil e uma
utilidade, um músico perfeito para regional, um dos melhores que trabalhei em toda
minha carreira, e alem disso um homem dotado de um coração e uma educação
sem igual, um cavalheiro fino. sempre paciente com os musicos menos experientes,
convivi com ele por muitos anos e nunca ouvi ele proferir qualquer comentario
depreciativo para algum colega de instrumento.
hamiltom costa, cultivamos uma amizade fraterna por mais de 50 anos, um
compositor extremamente talentoso, as musicas contrastes e paisagem tem que
estar em qualquer repertorio de choro. embora já tenha falecido, mas guardo comigo
as melhores recordações, pelo seu talento inquestionável como musico, mas
sobretudo pelo sua grandeza de caráter. que deus o tenha em gloria.
eli do cavaco, sabia mais o reprtorio de valdir, do que o proprio valdir, funcionava
como uma especie de arquivo vivo,.muito bom nos solos e genial nos centros. figura
humana sem defeitos por sua humildade propria dos espiritos evoluídos. inicialmente
preterido pelo valdir, após minha insitencia foi integrado no grupo e posteriormente
ouvi valdir fazer varios elogios á sua caacidade como musico.
por fim, waldir azevedo, conhecemonos praticamente na adolescencia no rio, eu o
garoto do norte e ele o guri do violão tenor. e a medida que fomos afirmando no
cenário da musica profissioal essa amizade foi se consolidando muito mais. tinha
interia confiança nos meus palpites e quase sempre botava-os em execução. solista
igual a ele ainda esta por vir ainda, ele exigia que eu ficasse proximo a ele, e por
isso tive a oportunidade de ver coisas assombrosas que ele vazia no instrumento.
tenho uma enorme saudade dele. também pelo seu jeito humano e sincero de levar
a vida, fizemos um compromisso de que quem moreese primeiro o outro teria que
tocar no enterro, eu cumpri o compromisso, com os olhos cheio de lagrimas e o
coração despedaçado, tocando com o eli, e o carilhos a musica pedacinhos do céu
enquanto o seu caixão descia., naquela tarde bonita de brasilia, com um céu
azulado como se quisesse imitar a beleza do choro que ele criou com tanta
inspiração.
o modo que valdir executava o cavaquinho era único, sómente dele, os efeitos que
ele tirava naquele pequeno instrumento acustico não tinha pra ninguem. tenho plena
convicção, pelo que vi valdir fazer, que ele não era desse mundo, as vezes até me
atrapalhava tocar, por que eu me emocionava, deus fez sómente ele e jogou a
fórmula fora.
depois da inauguração de brasilia os principais artistas , como orlando silva,
paulinho da viola, moreira da silva, ademilde fonseca, alcione, dominguinhos, sivuca,
abel ferreira e zé da velha sivério pontes e muitos outros que não me vem na
memória nesse exato momento. passaram a se apresentar por aqui. apresentavam
na aabb, iate club, no hotel nacional e tambem no teatro nacional.
mas, quem me deu mais trabalho foi o “titio” silvio caldas, ele trazia sómente o
cavaquinista, e juiz de direito, walmar amorim, e o célebre violonista de sete cordas,
o voltaire muniz, um dos melhores sete cordas que o choro já produziu, voltaire era
tambem musico responsável pelos arranjos do grande flautista altamiro carrilho. ele
junto com o dino, darly lousada e jorge charuto, foram os melhores que vi.
silvio caldas me incumbia de organizar a parte musical, ai alem de mim, participava
um menino que hoje é uma referencia musical em brasília, o evandro barcelos,
mutiinstrumentista, e que nessas ocasiões tocava um violão de seis cordas. mas eu
particularmaente prefiro-o tocando cavaquinho, é seguramente a palhetada mais
educada que já ouvi, um músico completo e um grande amigo.
o clube do choro
as reuniões aconteciam na casa do profeesor raimundo de brito, que era um anfitrião
que advinhava o que o convidados queriam. nos sabados o numero de pessoas
passavam de vinte. o nivel dos musicos foram subindo, e de volta e meia
recebiamos visitantes ilustres como jacob do bandolim e valdir azevedo. ali começou
a funcionar como uma verdadeira escola, pois ali frequentava avena de castro,
hamiltom costa, e, os musicos menos experientes iam lá para aprender.
foi em uma dessas reuniões que o clarinetista e professor celso cruz teve a ideia de
fundarmos um clube do choro. um fâ confesso de luis americano. gostei do sopro
dele e fiz a ele um elogio sincero. foi quando ele me disse que tinha uma ideia de
fundar o club, mas que estava indo para os estados unidos para fazer um curso de
doutorado em economia pela universidade de brasília, e quando voltasse iriamos
colocar a idéia em prática.
ele ficou la por dois anos e volta e meia comunicava comigo, assim que ele chegou
me procurou, cuidou de ir ao rio de janeiro atras dos estatutos de um clube simlar
que lá já existia. em pouco tempo ele providenciou toda a documentação necessaria
para a fundação do clube. ele cedeu sua propria casa como sede provisória. e ai
começamos a procurar as pessoas que tivessem interesse em participar daquela
agrmiação.
os primeiros membros foram o dudu do violão, eli do cavaco, bide da flauta,
cincinato no bandolim, celso cruz, nosso primeiro presidente, no clarinete, o alencar
7cordas, o vilonista valério, o trombonista tio joão, e os ainda adolescentes evandro
barcelos, augusto contreiras, chico do cavaco e o josé de assis, que apelidei de “zé
tranquilo”
começou a frequentar as reuniões a professora odete, eximia falutista, ela com seu
filho carlinhos passaram a participar com frequencia das reuniões. procurou-nos
expontaneamente para frequentar as reuniçoes o saxofonista nilo. e os sempre
presentes dr, assis e hamiltom costa que tambem tocava conta-baixo. o coronel
edgardo , o pinheiro do sete cordas.
o geraldo esposo da odete, não tocava nada, mas era um apreciador formidavel, e
gentilmente cedeu o apartamento deles, que era mais amplo do que a casa do celso,
para realizarmos as reuniões e até mesmo ensaiar.
tinha visto um rapaz tocar o “doce de coco” na tupi com o tio dele. gostei muito da
execução dele, um dia quando menos esperava chegou na reunião apresentado
pelo valerio e o alencar. o celso cruz apresentou-o para todos como o bandolinista
henrique filho, que o interpelou dizendo que gostava que o chamasse de reco do
bandolim, um apelido que ele ganhou no exercito. foi muito bem recebido, todos
gostaram dele. e passou a revesar com o cincinato, que as vezes, por motivos
profissionais, não frequentavam nossas reuniões.
os ritmistas que frequentavam as nossas rodas era o vasconcelos, meu compadre
valdecir, eu, e o walcir com o seu afoxê presenteado por mim. depois veio o
miudinho que havia tocado zabumba com o luiz gonzaga. e passou a tocar surdo
conosco. éramos quatro percussionistas e em pouco tempo ficamos muito
entrosados.
a primeira apresentação do clube do choro, já com ata lavrada, foi no auditoria da
universidade de brasilia. celso cruz era um homem muito respeitado no ambiente
educacional, e se encarregou de arranjar locais para apresentações, noemalmente
vinculado ao aspecto cultural. apresentavamos preferencialente em auditórios do c
olegios e faculdades daqui de brasilia.
o celso cruz um dia me chamou em particular e notei logo que ele estava muito
emocionado e com os olhos rasos dàgua , foi me dizendo que estava voltando
definitivamente para o rio de janeiro, e me incumbiu a mim, ao bide e ao avena de
castro, para não deixar o clube perecer. que tínhamos que procurar uma sede
definitiva para o clube. a despedida de celso cruz foi muito emocionante, por que
estávamos perdendo uma pessoa insubistituivel, pelo espirito de abenegado, e
dedicação impar que manteve enquanto presidiu a agremiação.
a ultima apresentação do celso cruz como clarinetista do grupo foi no teatro
galpãozinho. eu e o bide normalmente terminavamos o show com o “urubu”, mas
naquele dia, tinha programado com o eli para fechar o espetáculo com o
brasileirinho. fizemos uma performance que eu mesmo imaginei, e foi um sucesso
medonho. estava no teatro nada mais e nada menos do que o valdir azevedo e sua
esposa dona olinda, que ao ver aquela ovação saiu de sua cadeira subiu no palco
proferindo um discurso emocionado, dizendo que naquele momento se considerava
como um compositor ralizado.
com a ida do professor celso cruz para o rio, nõs ficamos acéfalos, por que ele tinha
um espirito de organização e muito prestigio na capital federal, além do mais era um
grande orador e que sabia extrair prestígio para todos nós. eu tinha um grande
amigo aqui o arquiteto evandro pinto, que nas horas de folga empunhava bem um
violão, e por diversas vezes saimos por ai, ele, eu, e o cincinato. eu sempre
discutindo a respeito do futuro do clube, até que um dia ele falou para mim: “vou
resolver a situação de voces.”
ele preparou uma festa na casa dele e levou o então governador elmo cerejo, e de
antemão fez uma propaganda antecipada do urubu que eu e o bide fazíamos. o
governador ficou emocionado, quando o grupo se apresentou. e fizemos questão de
levar uma turma de categoria. e entre um choro e outro,o evandro encontrou a
brecha que precisava. e inteligentemente foi dizendo ao governador que nós
estavamos a ameaçados de extinguir aquele grupo por que não tinhamos uma sede.
ele prontamente cedeu a pista de dança do centro de convenções para nosso sede
definitiva. aí depois, tomaram conta do processo de trasnferencia o avena de castro
que era o presidente do clube, o walcir e o antonio licio, que cuidaram de organizar
toda documentação. o local era um projeto de oscar niemeyer, que precisava sofrer
algumas modificações, mas ficamos agradecidos ao governador, por que a partir daí
tinhamos um teto para nos abrigar.
diante daquele espaço vazio ficamos desesperados, sem nada, sem nenhuma
estrutura, ai o avena de castro, tomou a seguinte decisão: vamos entregar isso para
o nilo e o pernambuc0, para acharem uma solução. eu conhecia o diretor de
patrimonio da aabb, o tarquinio, passei para ele a situação e ele imediatamente me
ofereceu 30 mesas com suas respectivas cadeiras, que estavam em um depósito
empoeiradas. mas em bom estado de conservação
levamos para o clube e providencie um pintor para que desse uma demão de tinta.
ojoaqinzinho, sõcio do hotel das nações, nos presenteou com duas mesas de
recepçao e uma duzia de cadeiras em bom estado de conservação. havia um
problema serio de infiltração de agua, quando chovia alagava tudo. aí, fui atras do
vicente que era encarregado de construção do empresário venancio, ele se propos
imediatamente a nos ajudar, indo la pessoalmente para comandar as obras,
forneceu todo o material necessario para aquela reforma, retirando as infiltrações e
consertando as janelas do prédio, que não ofereciam a minima segurança. como
agradecimento, demos a ele uma carteira de sócio benemérito.
combinamos eu,o valcir e o nilo, eu ficava tomando conta do restaurante, e o valcir
do bar. ele logo providenciou quatro garçons. aí, surgiu um novo problema, não
tinhamos fogão e nem geladeira. aí abri mão de dois passarinhos de estimação que
eu tinha, troquei-os por uma geladeira e um fogão industrial, acompanhado de oito
panelas. tivemos uma dificuldade enorme para colocar o fogão dentro da cozinha, foi
precisoquebar as peredes para acomodá-lo devidamente.
contratei dona maria baiana, uma especialista em sarapatel e carne de sol. no
sabado serviamos sarapatel e no domingo carne de sol , feijão de corda e manteiga
de garrafa. ainda havia um aperetivo denominado de “bete-bate”, uma formula que
eu trouxe do norte, em ia maracuja, mel e cachaça, dois coposera suficiente para
derrubar qualquer um, tinha que tomas com conta gotas, por que senão a noite
acabava rapido.
já estava tudo pronto para a inauguração, publicamos na imprensa a data , porém
não tinhamos microfones, tivemos que fazer um show acustico. foi tanta gente que o
walcir desesperou com o movimento, e teve resolveu arrumar um freezer para
acondicionar mais cervejas. a índia esposa do bide, a dalmira, minha primeira
esposa, e a maria, companheira do nilo, todas deram um excelente contribuição.
o clube pegou de vez, passou ser um atrativo para os finais de semana em brasilia.
ai o avena passou a presidencia para o advogado francisco de assis, o six. mas o
clube não foi dirigido de forma profissional, e u me vi sobrecarregado, com a doença
da minha esposa tive que afastar. mas, percebi que o clube estava entrando em
decadencia financeira.
assumiu a presidencia, o henrique filho, que desde então, optou por uma visão
empresarial e de mercado, através do prestigio que possui nos órgaõs federais
conseguiu excelentes patrocínios. transformou o clube em uma casa de espetáculos
onde atuam os melhores artistas da música instrumental do país, não
necessariamente de choro, mas de uma qualidade indiscutivel.
paralelamente ao clube, funciona a escola de choro rafael rabelo, que tem sido um
celeiro de bons intrumentistas. por ela já passaram musicos da estirpe de um
hamiltom de holanda e rogério caetano, que foram professores enquanto cursavam
faculdade de musica na unversidade de brasilia. não tem como negar que a
administração do reco, por mais que eu não concorde com algumas de suas
atitudes, foi responsavel pelo sucesso que o clube tem no brasil como todo. isso
ninguem pode tirar o mérito dele.
sinto muito feliz por ter dado uma pequena contribuição para o sucesso dessa
instituição, vejo-o como um filho querido que eu ajudei a crescer. muito daquelas
pessoas já não estão entre nós mais. mas, a instituição está ai e cada vez que vou
la, em cada objeto que vejo me faz lembrar dos companheros que ajudaram ,
naqueles tempos dificeis a plantar aquela sementinha, que hoje virou essa arvore
frondosa que é orgulho de todos os brasilienses ligados ào meio musical.
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minha ida para minas
na minha convicencia no clube do choro fiz muitos amigos, dentre eles o casal
gilberto e zaida. com a falecimento de minha primeira esposa, após ter vivido um
periodo doloroso da minha existência, conheci a paraibana maria de lurdes que se
tornou minha segunda mulher,. permnacemos junto por seis anos, e dessa relaçao
nasceu juliana a quem ofereci para gilberto e zaida para batiza-la, tornando então
meus compadres..
gilberto estava se aposentando e queria ir para uma cidade pequena em busca de
uma melhor qualidade de vida, em razão até de sua origem interiorana. vendou sua
propriedade em brasilia e mudou para a cidade de veríssimo no trinagulo mineiro,
cidade próxima a uberaba., comprando lá uma chacara e passou me convidar ccom
frequencia para ir visita-lo. fui, e gostei muito do lugar. nesse período, meu segundo
casamento se desfêz, ai resolvi mudar para uberaba, chegando lá aluguei uma casa
no bairro da abadia. em pouco tempo todoas pessoas ligadas à musicas passaram a
me visitar. la conheci o nivaldo do violão, biguá do cavaquinho, e pouco tempo
estávamos com um conjunto afinadinho, pronto para tocar nas rodas de samba e de
choro.
conheci lá uma figura interessantíssima, o odontólogo osmar baroni, um baluarte na
defesa da musica brasileira no triangulo mineiro, líder do conjunto choro cultura,
onde era também pandeirista do grupo. passei a ter uma participação especial nas
apresentaçõea do conjunto , fazendo o papel de mestre de cerimônias, onde
apresentava o grupo e contava histórias dos músicos que trabalhei e convivi.
passei a participar de um programa na televisão com o apresentador luiz gonzaga,
ele me entrevistava para queeu contasse a minha convivencia musical no rio de
janeiro e em brasilia para os seus expectadores. o choro cultura nessa época
contava com os seguintes musicos. osmar baroni no pandeiro, adolfo no bandolim,
reinaldo de vito na sete cordas, talinho no cavaquinho, chumbinho no acordeão,
álvaro no sax tenor. e o cantor ivan. o baroni me pedia orientações sobre a
condução do conjunto, e as vezes dividia o palco ele nas apresentações.
voltei para brasilia, ai conheci um garoto muito esperto e fiz amizade com ele, ele
apresentou sua mãe que havia ficado viúva há uns tres anos, a minha atual espeosa
lidia caldas, que convive há quase há mais de vinte anos comigo, assumi tres dos
seus quatro filhos, antonio, bruno, fernada e suely, que sempre me tratam hoje como
pai, e eu gosto deles como meus filhos.
depois de vender uma casa em brasilia comprei uma chacara e um pequeno sítio em
verissimo, sob a orientação do meu compadre gilberto. mas, não deixei de
comparecer nas reuniões musicais realizadas em uberaba. as apresentaçoes do
choro cultura e as “remandiolas” que havia em todos os finais de semana, no bar da
ladeira e depois no surubim.
um dia, já morando em veríssimo, apareceu um senhor por nome de joão com um
adlescente magro com um cavaquinho debaixo do braço, tocou o “vê se gosta” logo
percebi que se tratava de um um jovem com talento excepcional, mas que precisava
de uns retoques. e em pouco tempo ele assumiu o lugar do talinho no choro cultura,
e logo o trângulo mineiro ficou pequeno para ele, passou a fazer apresentações em
toda parte. hoje é conhecido iem todo brasil, trata-se do cavaqunista fausto reis, um
dos grandes vistuoses do cavaquinho que temos.
receber no bb o collor mandou fechar o bb em verissimo
encontrei a prof eraides
adelmo leão sabia que eu era filiado no partido dos trabalhadoes
passamos reunir na casa da ex vereadora lena
tinha um a casa ampla
passamos a reunir la
eu relações publica
e o meu filho antonio fernandes o presidente.
a lena como secretaria, muito entusiasmada
comecei a contar minha vivencia de esquerda
e começou a atrair muita gente para as reuniões
eu tinha entrado em verissimo com um alto prestigio
me julgava importante para a cidade
os fazendeiros reacionarios
descobriram as nossas reuniçoes
eles reagiram violentamente]
comecei a ser ameaçado
medo de reforma agraria
qualificaram com defensor de baderneiro
a primeria ameaça: ou para de agitar, ou então, vamos botar fgo na casa dele,
falaram para o compadre gilberto
diga a eles que pelo menos dois sobem comigo, ou mais
esfriaram um pouco
tinha umas vacas no sitio
mandaram jogar lixo nos meus pastos para as vacas comerem lixo
chamei o addvogado marcos vinicius e ofereci minhas vacas
vendi todas
eu não vendia leite ,daca para a população carente
tinha nove vacas, tirava 60 litros
não gosta de esgotar completamntr as
vacas
molharam os mourões com gazolina
e atearam fogo
resolvi vender o sitio, minha chacará estava alugada para um protetico daquela
cidade, logo a seguir vendi o sitio
umamigo meu de coromandel o paulo amaral me ofereceu uma casa em uberaba na
rua da abadia
no sitoi plantei muitas arvores frutiferas
tive que ir na justiça para voltar a minha casa,
voltei pra la
fizuma completa reforma
mandei fazer uma faixa enorme
morei perto da delegacia
falei com o largento
montei o comitê do partido em casa
derrubaram o muro
ai mandei fazer de alambrado
perdemos a eleição
eles afrouxaram a perseguição
troquei a casa por uma no centro de uberaba, 10 por 20
pedi uma volta seu lito de 20 mil reais, ficou por 10 mil
reinaldo, a reforma seria salgar carne podre
só foi o fernado para uberaba, sueli voltou para brasilia e bruno para são luis
morei em uberaba, participando ativamente do ambiente cultural da quela cidade,
onde sou muito considerado.
adoeci, comecei a perder peso, descobriram um enorme tumor no figado que por
sorte era benigno., fui operado, sulimar, recuperei-me plenamente.
COMECEI A FREQUENTAR AS RODAS DE CHORO