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BRASIL PANDEIRO A VIDA E OBRA DE PERNAMBUCO DO PANDEIRO INÁCIO SOBRINHO PINHEIRO EZALMONE MOREIRA DOS SANTOS

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Biografia de Pernambuco do Pandeiro

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BRASIL PANDEIRO A VIDA E OBRA DE PERNAMBUCO DO PANDEIRO

INÁCIO SOBRINHO PINHEIRO

EZALMONE MOREIRA DOS SANTOS

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DEDICATÓRIA

“MEUS IRMÃOS EM ARMAS”: OS MÚSICOS QUE DIVIDIRAM O PALCO COMIGO

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SUMÁRIO

1ª. PARTE - FASE NORDESTINA 1. O MEU LUGAR 2. O ENCONTRO COM LAMPEÁO 3. Os VALORES E COSTUMES 4. A IDA PARA O RIO DE JANEIRO

2ª. PARTE – MINHA VIDA NO RIO DE JANEIRO

1. APRENDENDO A VIVER NO RIO DE JANEIRO. 2. O CONVÍVIO COM A ALTA MALANDRAGEM 3. O CONTATO COM A MÚSICA 4. MEU ENCONTRO COM O PANDEIRO 6. O BATISMO DE FOGO 7. O INICIO NO MUNDO MUSICAL Os programas de calouros O ponto dos músicos

8. PARTICIPAÇÃO NOS CONJUNTOS REGIONAS 9. O REGIONAL DE PERNAMBUCO DO PANDEIRO 10. A ENTRADA DE HERMETO PASCOAL NO REGIONAL 11. A CARREIRA INTERNACIONAL Excursão com Carmélia Alves A caravana Humberto Teixeira

12. O MUNDO MUSICAL DAS RÁDIOS E GRAVADORAS 3ª PARTE. MINHA VIDA EM BRASÍLIA O CONVITE DE JK

O ABANDONO DE UM MÚSICO INTERNACIONAL NO CERRADO

O TRABALHO NA CONSTRUÇÃO DA NOVA CAPITAL

A PRISÃO

PARTICIPAÇÃO NO MEIO MUSICAL EM BRASÍLIA

A FUNDAÇÃO DO CLUBE DO CHORO

A PARTICIPAÇÃO NO CONJUNTO DE WALDIR AZEVEDO

MINHA CONVIVENCIA EM MINAS GERAIS

O RETORNO A BRASÍLIA

PEQUENA HOMENAGEM AOS MEUS “IRMÃOS DE ARMAS”.

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APRESENTAÇÃO

‘SERÁ FEITA POR HERMETO PASCOAL’

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BRASIL PANDEIRO

Coração de sambista brasileiro Quando bate no pulmão Lembra a batida de um pandeiro. “Noel Rosa.”

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PRIMEIRA PARTE

1. O meu lugar. Maria Francisca. Assim chamava minha mãe, uma paraibana do sertão,

legítima descendente de Severino Vitoriano de Souza Pinheiro, proprietário do

Engenho São Tomé, de família tradicional que davam ordens e eram obedecidos por

todos. Seus antepassados foram donos escravos e era o arrimo de muitas famílias

que sobreviviam como empregados da Usina; a maioria agregados a um pedaço de

chão cedido para plantar a meia parte.

Uma mulher dona de suas vontades, personalidade forte e obediente sincera

das suas intuições, engraçou-se logo com João Bezerra, da mesma família do

Sargento que matou Lampião na tocaia de Angicos. Uma amizade proibida. A família

Bezerra do lugar onde nasci era gente honesta, mas muito brigões. Arruaceiros nos

forrós atiravam no candeeiro, furavam fole de concertina e botavam a barraca

abaixo. Era um desespero quando alguém dessa família chegava às reuniões

sociais de Lagoa da Roça.

Meu pai era um homem bonito: cabelos cacheados, estatura mediana, tez

morena e olhos verdes, o que certamente provocou o interesse por parte de minha

mãe, Maria Francisca, a ponto de se romper com a família casar-se com ele.

Tiveram 19 filhos e como conseqüência da desobediência, passou ser tratada como

uma fotografia virada contra a parede, esquecida, banida e deserdada. Casamento

naquela quadra era uma forma de manter o poder e a tradição da família, os Souzas

não viam em João Bezerra essa possibilidade.

A sua desobediência foi como uma sentença de morte. Sua família nunca a

perdoou, nem aceitou seus filhos como herdeiros legítimos. Certa vez quando a

fome apertou o cerco em Lagoa da Roça, coloquei um saco nas costas e fui pedir

um adjutório para um tio materno, Antônio Pinheiro. Fui enxotado de sua casa como

um cão pestilento jurado de tomar uma surra se tivesse a insolência de voltar outra

vez lá. A sua falta de caridade cristã me impressionou que até hoje peço a Deus em

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minhas preces que o perdoe, por que eu mesmo até hoje nunca senti vontade em

fazê-lo.

Dona Maria Francisca não era mulher de andar com a cabeça baixa não!

Encarou a situação e tocou a vida dentro de suas possibilidades. Abraçou a

profissão de costureira amparada na fé em Padre Cícero. Fazia ternos, uniformes,

vestidos, camisas, cobertas de chita e mortalhas; costurava toda sorte de roupas

que os sertanejos precisassem. Tinha muita força. Virou rezadeira. Contra

quebranto, mal olhado, espinhela caída e erisipela. Criança chegava obrando verde,

e mãe reclamando que o “peste” quando dormia acordava avechado em solavancos

e com batedeira. Isso era o suficiente para o diagnóstico perfeito: quebranto ou mal

olhado.

Caminhava medindo os passos para o fundo do quintal levando a criança e a

mãe, com um ramo benzia, e terminava a unção com os olhos lacrimados,

bocejando e reclamando que o menino estava “carregado”. Pedia à mãe que

trouxesse a criança nos “dias fortes” quarta ou sexta-feira para um reparo, e

prescrevia por cima, uma figa para o inocente usar como penduricalho no pescoço,

por função de absorver essas maldades transmitidas sem querer por quem nasceu

com a sina de olhar ruim.

Ficou mais conhecida como Dona Maria Francisca parteira. Era aparadeira de

mão cheia, a preferida de todas as gestantes da região. A parturiente só acalmava

quando “Siá” Maria Francisca chegava. Assumia o comando. Com voz decidida

clamava por trapos limpos, tesoura, faca fervidas e exigia aguardente e pólvora; se

acaso a mulher perdesse as forças, era forçada a beber essa mistura para

restabelecer-se. Não permitia manifestações de dor, não podia gemer de forma

alguma, gritar estava fora de cogitação, mulher procedesse assim ganhava a fama

de fraca. Eu imagino que inconscientemente ela percebia o inconveniente de

desperdiçar energia à toa, sabia da necessidade de usar toda força no momento

certo para retirar o bebê das entranhas. Assistiu muitas mulheres lutar até o fim.

Parto no sertão era risco de vida, se a criança atravessasse, na maioria casos eram

fatais, morria mãe e filho.

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Vivia fé e caridade no dia a dia, não medindo esforços para fazer o bem.

Ajudou muita gente em 1932 durante o surto de varíola que ceifou muitas vidas no

sertão paraibano. Eu mesmo fui parar na folha de bananeira, artifício muito usado

para não “pregar” no lençol quando a varicela “bexiguenta” tomava conta do corpo

todo. Como diz o sertanejo, “depois do coice a queda”, veio a febre bubônica,

provocando imensa mortandade no local. Fazia de graça as mortalhas, preparava os

corpos para serem enterrados, misturava com os doentes e para espanto de todos,

não era contaminada. Explicava-se dizendo que era a fé no Padre Cícero Romão

Batista, a razão de toda força e proteção que aquela bela sertaneja, que tinha a

ternura de um beija-flor e a coragem de uma onça parida quando era para proteger

os seus.

Eu nasci dessa mulher em 1924, décimo – oitavo dos dezenove filhos seus.

Nascido no município de Gravatás, região do agreste pernambucano. Naquela

época quando a seca castigava o sertão, os que tinham oportunidade se refugiavam

no Agreste, por isso que nasci no Pernambuco, na fazenda de Neco Porto, antigo

prefeito de Caruaru. Fui batizado com o nome de Inácio Pinheiro Sobrinho, devido

ser homônimo a um tio materno incorporaram o “sobrinho” para diferenciar nós dois.

Com quatro meses de idade voltei para a Lagoa da Roça, lugarejo situado a

10 km de Campina Grande, no Estado da Paraíba. Por isso é que me considero um

pernambucano de coração paraibano. Construi toda minha infância entre as

dificuldades próprias de quem nasceu em uma região desassistida, cresci

trabalhando e amadureci prematuramente sem deixar de ser um moleque levado e

espirituoso.

Ainda hoje, durante as noites quando o sono me abandona, recordo aqueles

dias difíceis, as reminiscências anestesiadas por mais de 85 anos vividos me

conduzem no tempo com uma boa intenção de felicidade. Imagino com o olhar e o

sentimento daquela criança que vive ainda dentro de mim. As dificuldades de

sertanejo pobre que me deram a força da superação. Caí várias vezes na vida, mas

sempre dei a volta por cima, amparado pela experiência de quem fez um macabro

vestibular para a vida. Criança que sobrevivesse naquelas condições naturalmente

se transformaria em um homem determinado. Tenho a impressão que foi isso que

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me transformou em um homem otimista, como dizem na gíria popular, “prá cima”.

Sempre gostei de “incendiar” as pessoas que estivessem ao meu redor, aprendi a

ver o mundo como se fossem um palco, as pessoas atuando cumprindo o seu papel,

e eu o encarregado de alegrá-los, talvez por isso seja que eu tenha me tornado um

artista popular.

Não conheci meu pai. Minha mãe o desobedeceu para seguir uma romaria

para Juazeiro do Norte a fim de receber uma Benção de Padre Cícero. Era um

sonho dela, já era tempo de pagar tanta graça que havia recebido, e aquela visita

era uma forma de demonstrar gratidão. Para levar a cabo o seu intento, teve que

passar por cima do filho mais velho e do marido para se ter com o beato. Assim que

regressou foi violentamente agredida e teve que separar do marido que a

abandonou com os últimos quatro filhos, os outros já haviam debandado em busca

de melhores condições do que aquelas oferecidas pelo sertão paraibano na terceira

década do século vinte.

Comecei trabalhar aos quatro anos de idade, cortando capim, fazia os feixes

e vendia na feira para alimentar os animais dos mercadores. Entre seis a sete anos

já fazia a proeza de montar em animais bravios, caia muito, não sei quantas vezes

machuquei. Mas mantinha sempre a determinação de domar aqueles animais

chucros. E depois de domados vinha a parte que eu mais gostava: ensinar os

animais marchar no ritmo certo, já possuía espírito de perfeccionista. Há três tipos

de marcha; o “trotão”, quando o cavalo anda em solavancos, “thum, thum, thum, o

“esquipador”, é um andar mais suave, que não castiga tanto os “bofes” do cavaleiro,

e por último o “bacheiro”, cavalo marchador, cavalga no ritmo certo marcado,

“pacatá, pacatá, pacatá, pacatá...”. Foi essa mania de corrigir os cavalos é quem me

deu esse ritmo da “moléstia” que tenho no seu sangue.

Uma criança no sertão virava adulto rápido, quatro a cinco anos já começava

a ajudar no que podia. A luta para matar a fome era terrível e desqualificadora, não

dependia somente da vontade e capacidade de trabalhar. Tinha que contar coma

ajuda do sobrenatural, se não chovesse meus amigos, era certeza de miséria.

Somente as pessoas de recursos conseguiam manter estoques de alimentos, o povo

de um modo geral não conseguia. Na época de chuvas o que colhiam tinha que

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repartir com o proprietário das terras. Que ainda tirava da outra parte o pagamento

para dívidas vencidas, normalmente alimentos adiantados que o sertanejo retirava

antecipado para pagar dobrado.

Quase todo povo tinha suas criações de terreiro, galinhas poedeiras, capão,

frango, para o almoço no final de semana. O porco cevado era para o Natal e São

João. Mas no dia a dia, alimentava-se predominantemente de favas, de jabá, ou

carne do Ceará, muito seca e salgada. Também a carne de sol, um pouco mais

úmida e macia. De verduras sómente o maxixe, quiabo, jerimum e macaxeira.

Comer feijão era para pessoas de posses, o feijão de corda nem se fala. Leite,

somente se criasse uma cabra, tínhamos uma. De vez em quando comíamos o “pão”

do dia seguinte. Muito duro, mas, mais barato, em vez de jogar fora o padeiro vendia

pela metade do preço para os mais necessitados.

Naquele tempo o povo dava um duro danado e o resultado não aparecia, tinha

que se valer da fé meus camaradas, e cada vez que o sofrimento aumentava, era a

maior a certeza que havia uma força maior acima daquela aflição capaz de escrever

um destino conforme cada qual merecesse. Um vizinho, que o tempo me fez

esquecer o nome, jurava que já nascíamos escalados para sofrer devido às

maldades que fizemos em existências anteriores. Que já tínhamos contas debitadas

de vidas passadas e que nessa estávamos tendo a oportunidade de pagar.

Tínhamos que ter fé e, sobretudo resignação, essa última eu nunca consegui

desenvolver.

A fé do sertanejo era muito grande, havia um respeito generalizado às coisas

sagradas. Qualquer morador abria a porta da sua moradia em alta madrugada se

alguém clamasse “bendito seja nosso senhor Jesus Cristo”! Dentro de casa

respondia: ”para sempre seja louvado, tão bom senhor”! Em seguida a porta abria,

para qualquer um. Nem o pior dos bandidos ousava quebrar esse acordo, pelo temor

de cair sobre si a santa ira divina. E com isso ninguém se arriscava. Até o pior dos

salteadores recolhia-se em oração, trazia orações presas em patuás, reza forte

contra arma de fogo e arma branca, diziam que alguns tinham o corpo fechado e

que só podiam ser atingidos com balas benzidas ou adaga virgem, sem uso.

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O povo vivia e divertia-se como podiam nas feiras e em forrós. A feira ainda é

o mercado tradicional mercado onde se compra e vende-se de tudo: animais, carne,

quitandas, cabrestos, arreios, rapadura, farinha, feijão, carne seca. Era o ponto dos

tocadores afamados, alguns com fama de ter “pauta” com o maligno, para poder

dominarem a concertina de oito baixos, conhecida por sanfona “pé de bode.”

Instrumento difícil de ser tocados, devidos os poucos recursos que possui. Tem

sómente oito baixos e um fole muito complicado de controlar, quando abre é uma

nota e quando fecha é outra.

Os sanfoneiros do nordeste iniciavam-se sempre por ela, por isso quando

passavam para a de 80 ou 120 baixos a coisa aí ficava fácil. Os grandes do pé-de-

bode do meu tempo nas imediações de Lagoa de Roça foram Pólino, Severino de

Guiné, Zé Tempero e o Severino “Galeguinho do Fole” de Itabaiana, nada mais nada

menos do que mestre Sivuca. Fui vê-los várias vezes, não sei se gostava mais da

música ou do bolo de mandioca mole com café servido por uma cabocla bonita de

nome Maria do Joá, quem Sivuca mais tarde lembrou-se de homenageá-la no baião

“feira de mangaio”

“Tinha uma vendinha no canto da rua Onde o mangaieiro ia se animar Tomar uma pitada com lambú assado, E olhar prá “Maria do Joá.” A presença de alguns sanfoneiros era sucesso garantido em qualquer forró e

garantia do desempenho comercial da feira. Severino de Guiné era tratado como um

desses astros de televisão de hoje. Aonde chegava os outros sanfoneiros mais

novos iam vê-lo tocar, ficavam sem piscar os olhos em reverencia, silenciosos para

aprender tudo que pudessem. Ali funcionava a pedagogia do talento e do esforço,

que exclui e projeta. O próprio Sivuca em vida afirmava que aprendeu muito com

“mestre” Severino de Guiné. E logo ele, uma das maiores expressões do acordeom

que o mundo teve noticia. Os gênios aprendem com os menos favorecidos. Por isso

é que são gênios.

Sivuca, Hermeto Pascoal, eu, e outros tantos que fizeram carreira

internacional, tivemos nesse ambiente o início de um aprendizado importante para

uma consagração posterior. Evidentemente que todos nós continuamos estudando a

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fundo, mas o substrato cultural, a nossa base estrutural foi apreendida lá. É dela que

propiciou o nosso estilo diferenciado e rico que temos, e, sobretudo a criatividade

espetacular que caracteriza o músico nordestino, sobretudo os sanfoneiros.

Eu botava mais sentido no triângulo e no zabumba, aquele tilingo lingo ligo

extraído do ferro batido, com têmpera especial, encomendado aos melhores

ferreiros me fascinava, não menos que a zabumba. Essa me tirava o juízo, mexia

comigo nas entranhas. Feita de taboa de barrica, mais leve, ou então de baraúna,

madeira preta que dá na caatinga, muito pesada, mas muito sonora. Cortava-se a

árvore e tirava um pedaço assim de um trinta a quarenta centímetros, deixava no sol

para secar, e depois ia tocando fogo do meio para a beirada, quando ficava somente

um aro de uns dois centímetros de largura, estava pronto para ser vestido com um

couro de bode molhado, a seguir era posto no sol inclemente para secar. Depois de

secado couro era pregado tendo como suporte uma vara de jucá cozida,

enrolava-se o restante com uma corda, até o couro ficar bem espichado. Para fazer

o teste acendia-se um candeeiro e deixava-o no meio da sala, batia-se bem forte no

centro da zabumba se o candeeiro apagasse estava aprovada.

Eu não gosto da zabumba de baraúna, tem um som bom, mas o instrumento

fica muito pesado e complica o desempenho de quem está tocando. Hoje pode dá-

se o luxo de escolher, a tecnologia fez aparecer diversos materiais alternativos

fazendo diminuir o peso do instrumento, mas naquele tempo não tinha para onde

correr. Não me lembro de ver naquela época alguém usando o “bacalhau”, aquela

vareta de bambu usada para fazer o contratempo. Essa invenção deu outra vida

para o instrumento, Luís de Januario (mais tarde Gonzaga) foi quem popularizou a

zabumba com o “bacalhau” por intermédio do grande Catamilho, virtuose desse

instrumento trazido do norte pelo próprio Gonzaga.

Aprendi tocar zabumba batendo em caixote, quando faltavam os maiorais. Era

só dar uma chance lá estava eu, imitando os melhores do lugar. O ambiente de feira

foi minha primeira escola com mestres informais e exigentes. Foi ali que tomei

contato com essa variedade de ritmos que compõe a música nordestina: shotish,

xaxado, baião, coco, choro, samba, embolada, maracatu, rojão, galope, os mais

populares, agora se colocarmos os ritmos da Bahia e do Maranhão, Estados do

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nordeste com maior influência africana, precisaríamos de muitas páginas e tempo

para pesquisar.

A raiz dos nossos ritmos está na áfrica, nas diversas nações indígenas, e na

musica árabe trazida pelos portugueses descendentes dos mouros que vieram com

a colonização. O Brasil é um país muito rico em variedade musical, precisamos levar

isso mais a sério, hoje é necessário ser músico pesquisador para conhecer esse rico

patrimônio legado pelo próprio povo. Muito dos ritmos que ouvíamos naquele tempo

nas feiras e nos forrós, estão em acelerado processo de extinção.

Não tive professores, vim aprender a escrever quando mudei para o Rio de

Janeiro, mas aprendi muito no sertão, e como o sertanejo além de ser um forte é um

sábio. Aprender ler era para poucos, somente para os filhos de abastados que

contratavam professores itinerantes, ou que mandavam os filhos para colégios de

religiosos. Quando o governo mandava um professor para “desasnar” o povo, era

preciso dividir a cartilha com mais cinco. Além disso, as famílias precisavam do

trabalho dos filhos para sobreviver. Meus amigos preste bem atenção nesse baião

”Oricuri” de João do Vale:

Oricurí madurou

e é sinal, que arapuá já fez mel Catingueira fulorou lá no sertão

vai cair chuva a granel Arapuá esperando oricurí madurecer

Catingueira fulorando sertanejo esperando chover

Lá no sertão, quase ninguém tem estudo um ou outro que lá aprendeu ler

Mas tem homem capaz de fazer tudo, doutor! Que antecipa o que vai acontecer

Catingueira fulora: vai chover andorinha voou: vai ter verão gavião se cantar: é estiada

vai haver boa safra no sertão se o galo cantar fora de hora:

é mulher dando fora, pode crer acauã se cantar perto de casa:

é agouro, é alguém que vai morrer São segredos

que o sertanejo sabe

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e não teve o prazer de aprender ler oricurí madurou

e é sinal, que arapuá já fez mel...

João do Vale explica com sabedoria o que é essa universidade sertaneja,

cujo acesso é dado pela terrível prova de conseguir romper a infância com vida.

2. O Encontro com Lampião

O meu sonho de menino era que quando crescesse entrar para o bando do

Capitão Virgulino, o Lampião, para ser visto e respeitado como e um justiceiro do

sertão. Essa vontade nasceu de uma desavença acontecida quando fazíamos “um

quarto” para um vizinho que havia falecido. Nesses velórios havia a parte espiritual e

religiosa, com um discurso exaltando as qualidades em vida do falecido, seguido de

rezas e incelenças, lamento langoroso entoado diante do corpo inanimado. Mas

havia o lado profano com folguedos para passar o tempo. A brincadeira que todos

gostavam era o Gurufim, mas sempre terminava encrenca. O participante era

questionado por quem conduzia o brinquedo a revelar um segredo íntimo, quase

sempre, uma amizade inconfessa.

Essa brincadeira envolveu meu cunhado, que era apelidado de “o coentro”.

O puxador do gurufim perguntou para uma prima minha, muito safada por sinal: -

Luzia, você esta doente? Você cura com que? Ela respondeu com coentro. Minha

irmã viu-se humilhada devido a essa fulerice com o marido dela. Contou o caso para

dona Maria Francisca que sentiu a honra da família abalada. A velha esperou um

cavaleiro chegar munido de uma vara de jucá cozida, dessas que podia dobrar e

colocar no bolso que a “bicha” não quebrava. Tomou a vara emprestada e disse

para a Luzia: sua doença cura é com cipó de jucá, e sapecou um corretivo

inesquecível na moça. A atingida, por sua vez, era um “chamego” do Sargento

Feitosa, e suplicou a este que tomasse as dores por ela, por isso minha mãe foi

presa e amarrada em um tronco como um bicho.

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Passei a noite toda chorando vendo aquela cena do Sargento batendo na

porta com “coice fuzil”, invadindo a casa, dando ordem de prisão, e levando minha

para o tronco. De manhã fui cedinho para a residência do Prefeito Medeiros, sentei-

me no baldrame e comecei a chorar, até que saíram para fora para saber o motivo

daquele pranto. Contei tudo para ele e a esposa muito sensibilizada, foi junto com o

marido para a delegacia e ela mesma deu ordem para que soltasse minha mãe. Mas

aquilo não foi suficiente, eu precisava vingar do “macaco” que fizera aquilo, e isso só

era possível se entrasse no bando do Capitão Virgulino.

Isso passou ser uma fixação para mim, até que um dia na feira Pocinhos, foi

aquele disse me disse para tudo quanto foi canto, todo mundo assustado, a polícia

correndo para o mato e os ricos enterrando objetos de valor. Era a notícia de que

Lampião estava chegando no lugarejo. Mandou um aviso instantes antes por que

sabia que os “macacos” não tinham peito para enfrentar seus homens e nem teriam

tempo de pedir reforços. Era costume dele como um guerrilheiro astuto, evitar

qualquer confronto desnecessário que envolvesse risco de vida de seus homens.

Sua presença tomou conta das atenções, foi apropriando-se do lugar, até

chegar um ponto que existia sómente a pessoa dele naquela praça. Quando

começou dar ordens todos o obedeciam automaticamente. Exigiu que dessem de

comer aos pobres, com voz determinada, imperativo, dizia que domingo era dia de

nosso senhor, bom para fazer caridade aos mais necessitados. Os pobres sairam de

lá munidos de mantas de carne, feijão e farinha. O Capitão ainda lembrou que se

alguém no outro dia fizesse qualquer tido de ameaças para os beneficiados, iam ter

com ele quando voltasse ali de novo. Nesse dia a fome sumiu de Pocinhos, o

Capitão do Cangaço, a seu modo fez justiça social.

Assisti tudo posicionado há uns vinte metros dele. Com ele havia mais dez

cabras bem vestidos e bem armados. Calças de feitio matuto e blusão de mangas

compridas. Chapéus de feltro outros de couro, no estilo de Napoleão Bonaparte.

Alpercatas ferradas, feitas de sola macia e curtidas, cobriam todo o pé terminando

em um orifício pelo qual saiam o dedo grande e o vizinho. O calcanhar ficava

descoberto para facilitar os movimentos e poder correr sempre que fosse

necessário.

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Suas armas eram a carabina “papo amarelo”, revólveres e a temida

“parabelum”. Carregavam até 18 quilos de munição distribuídos em duas

cartucheiras duplas atravessadas no peitoral e uma terceira amarrada na linha da

cintura. Ter um “parabelo” era se sentir grande, capaz de fazer ostentação concreta

de poder e respeito. Essa pistola, desenvolvida pelo alemão Georg Luger, entrou no

Brasil no início do século passado em um cenário onde a ausência de justiça era a

matriz de atitudes de desespero e revolta. Um ambiente onde o ser humano estava

destruído moralmente e materialmente pela fome provocada pela tragédia da seca.

O controle político estabelecido pelos coronéis da Guarda Nacional, o grave

problema fundiário, a imensidão das caatingas, a possibilidade de fazer justiça

experimentada pelos Cangaceiros, fermentava em um cadinho social de difícil

compreensão pelo cidadão comum sem os recursos das letras. A junção destes

fatores explica muito bem o cenário onde o instinto natural sobrepunha a civilidade,

ambiente propício para o “parabelo” servir como instrumento de poder e status

social. Potente, bela e precisa de morte, era a arma das odiadas volantes, dos

coronéis, do Capitão Virgulino Ferreira e de seus comandados.

Entretanto, havia por outro lado estava a condição humana, frágil e carente

de cuidados. Ao lado das armas letais era conduzido com todo cuidado diversos

tipos de remédios para primeiros socorros: água oxigenada, água boricada, iodo,

pomadas, álcool, ácido fênico para combate a dor de dentes, algodão, gase e

esparadrapo. A guaraína usada para combater a dor, a gripe e o resfriado. A

vaidade era contemplada com a brilhantina Glostora, a loção Dirce e o tônico capilar

Petrolina Minâncora. Carregavam jóias e dinheiro, anéis de brilhantes, fumo de

corda, palha de milho para fazer cigarros, cachimbo de barro e fósforo. O

equipamento do cangaceiro ficava estrategicamente acima da cintura, por que

freqüentemente eles precisavam rastejar e correr.

Quando as volantes estavam próximas, não podiam acender fogo temendo

revelar o esconderijo. Ás vezes passava dias e dias sem beber água, tomando

cachaça de ração, chupando rapadura e assando carne na ponta das facas.

 

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No meu breve contato com o Capitão Virgulino vi algo de bom nele que não

consigo até hoje desvencilhar da simpatia que me provocou. Carrego comigo essa

visão favorável apreendida na minha memória naquele longínquo domingo de 1932,

quando tinha apenas 8 anos de idade. Fui vivendo e aprendendo a razão da luta do

Capitão, e pude saber que houve vários dele no mundo. Onde ocorre a exploração

dos mais pobres aparece uma versão dele, como um espírito vingador que tira dos

ricos para dar aos pobres.

3.OS VALORES E COSTUMES

O culto a honra e a valentia faziam com que em todo lugar tivesse um valentão

denominado “galo do lugar”. Geralmente essa coragem vinha amparada por família

numerosa e parecida com ele. Era honesto e trabalhador, habilidoso no que fazia,

mas quando bebia se transformava em um arruaceiro temerário. Era o caso de João

Badoque, exímio amansador de animais, que cito em uma das minhas músicas. O

povo sertanejo tem limites demarcados para provocações, um deles é a honra

familiar, não bula com ela, é procurar morte certa. Sabe-se de muitos valentões que

morreram nas mãos de pacatos cidadãos.

João Badoque tinha esse grave defeito, não respeitava mulher casada, chegou a um

forró e desrespeitou Clotilde, mulher companheira de um primo meu por nome de

Manoel Pinheiro. Este piscou para ela ordenando que “dessa corda” para ver aonde

ele chegaria. E o Badoque foi gostando, se engraçando, tomando coragem,

começou a acariciar o cabelo dela e a falar impropérios. Quando menos esperava,

levou um golpe de peixeira por baixo do sangrador, nem pediu água, morreu sem ter

tempo sequer de colocar uma vela na sua mão.

Manoel Pinheiro sabia que seria caçado igual a um bicho pela família do morto, mas

como dizem no norte “a sorte anda com tem razão”, montou no seu cavalo e caiu no

mundo e ninguém o encontrou. Depois de algum tempo, quando a poeira abaixou,

mandou buscar Clotilde, contratou pessoas para conduzi-la debaixo do maior sigilo.

Nunca mais em Campinote alguém soube mencionar o paradeiro dos dois, naquele

tempo uma pessoa perseguida lá no norte, descia para o sul e se desterrava, em

pouco tempo era riscada da memória e dada como morta.

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A igreja católica naquela quadra ditava as ordens no sertão, cuidava das almas e de

outros interesses materiais menos nobres. Seus expoentes Padre Cícero e Frei

Damião eram reverenciados como santos, e até hoje em todo nordeste, nas regiões

onde falta a presença do Estado, lá estão eles a operar milagres e realizar curas.

Para revigorar as esperanças no além os padres dos lugarejos convidavam os freis

com suas missões itinerantes. Preparavam a paróquia para receber os religiosos e

os romeiros que vinham de muitos lugares do sertão nordestino.

O teor das Missões era verificar se os braços da Santa Igreja estavam estendidos de

forma eficiente para abarcar as almas daquele mundo abandonado e sem lei. A

pregação era estrategicamente preparada para assustar o aquele povo desassistido

intelectualmente. Pintavam o inferno com cores assustadoras, mencionava tachos

de água fervente, piscinas incandescentes e o cheiro sufocante de enxofre. As dores

e o ranger de dentes eram exaltados. O sofrimento daquela pobre gente não poderia

ser comparado com a eterna aflição que teria se acaso viessem a perder a salvação

da alma. O final daquela retórica macabra era consumado com a formação de

imensas filas de pessoas que julgavam ter se distanciado dos santos ofícios.

O alvo preferido deste discurso era os casais que viviam sob o manto do pecado,

amancebados. Geralmente formado por jovens que tinham quebrado as ordens do

costume de casamentos combinados. Havia o costume dos pais acertarem

antecipadamente o matrimônio dos filhos, ora voltado a cumprir interesse econômico

ou para selar a amizade entre os dois chefes de família. Depois do combinado,

mantinham a palavra dada, e isso naquela época era mais importante do que manter

a própria vida, a quebra de compromisso significava desonra e descrédito.

Se ocorresse a desventura de um amor proibido, o único meio de livrar desse acordo

feito era fugir para viverem juntos dispensando as bênçãos da família e da igreja.

Por isso os Padres diziam que estavam na companhia do diabo, e que ainda era

tempo de reconciliarem com a igreja e com seus familiares. Se arrependessem,

receberiam o infinito perdão de Deus com a interseção da Igreja na remissão dos

pecados. Isso ocorrendo poderia realizar o casamento e providenciar o batismo dos

filhos pagões. Essa era a única forma possível do perdão dos terríveis pecados da

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fornicação e da luxúria, considerado pelos sacerdotes iguais ou pior que o adultério.

O ataque aos amancebados era, na realidade, um modo de manter a eficiência na

arregimentação do rebanho pela lavradura do batistério, tido como documento mais

importante do que o próprio registro civil, imposto após a proclamação da República.

Eu estava na casa dos seis anos de idade quando fui abençoado em uma dessas

missões por frei Damião. Ele era de pequena estatura e tinha um forte sotaque

italianado. Até hoje me impressiono com que ele me disse, pondo a mão em minha

cabeça afirmou que eu era dotado de enorme inteligência musical e que ainda iria

ter muita fama nesse meio. Certa vez José Meneses, grande músico cearense, me

falou também, que quando menino recebeu mesma profecia pela boca de Padre

Cícero. Parece que os dois beatos tinham mesmo o poder de dar uma “espiadela”

no livro da vida, escrito quando cada ser vivente vem cumprir uma missão nesse

vale de dores.

Havia nas igrejas um rigor quase ritualístico nos modos de como se compor para

assistir as missas e participar da eucaristia. Mulher com roupa vermelha e decote

pecaminoso estava proibida. Um marido certa vez autorizou a mulher ir à igreja do

jeito que ela bem quisesse. Na ora da comunhão o padre perguntou em voz alta se

ela era solteira, casada ou se era meretriz. Ela respondeu que era casada, e

apontou para o marido, um jovem advogado temido por sua competência no domínio

das leis, naquela época um advogado naquelas plagas recebia reverência digna das

altas cortes. O padre não quis saber de encrencas com ele, deu a hóstia para a

senhora e esqueceu-se estrategicamente do decoro eclesial.

Quem mandava mesmo nos sertões era os coronéis, em Lagoa de Roça havia dois

de prestígio: Coronel Adelaide e Olinto Coura. O governo fazia o que eles

quisessem. O prefeito e o sargento estavam em suas mãos, e se porventura

houvesse quebra de confiança eram destituídos ou transferidos dos cargos. O

Coronel Coura era um tipo “populista”, distribuía cestas de alimentos para os pobres,

e não deixava nenhum dos seus morrer a míngua. Por ser generoso era um homem

de muitos compadres e afilhados, quase todos prontos para pegar em armas se ele

ordenasse. Quando um de seus afilhados ia se casar, o pai sempre queria saber se

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o casamento era de gosto do compadre Olinto, se não fosse, certamente haveria

dificuldades para o casamento prosseguir.

Coronel Adelaide era do tipo truculento, homem duro e autoritário, forjado para dar

ordens e ser obedecido. Se algum policial desafiasse suas ordens era pedido a sua

transferência para Catolé do Rocha, considerado o cemitério de desobediente. Lá

os Coronéis tratavam os soldados como reles serviçal. Certa vez um dos seus

“protegidos”, que tinha um açougue na feira, foi injustamente agredido por uns

policiais. O homem dentro da rua razão pegou um porrete e bateu nos três

“macacos” que estava ameaçando-o. Pediram reforços e conseguiram com muita

dificuldade desarmá-lo e prende-lo. Quando Coronel Adelaide ficou sabendo veio

pessoalmente exigir que soltassem o seu “chegado” e deixou bem claro que da

próxima vez, Catolé do Rocha era o destino deles.

Havia muitos povoados em volta de Lagoa de Roça: Manguape, Guarabira,

Pocinhos, Puxinanã e Brejo de Areias. Um jeito de o governo tentar manter a ordem

nesses locais eram constituir uma espécie de preposto da lei. Um “cagoeta”

oficializado denominado de Inspetor de Quarteirão. Ele podia prender amarrar e

conduzir o transgressor das leis até o distrito policial em que havia sido sua

consagração de autoridade. Recebia ordens dos Coronéis, do prefeito e do

sargento. Recordo-me bem de dois deles, João dos Santos e Antônio Senhoria.

Esse último morreu cheio de “bicheiras”, teve parte do corpo levado em vida. O

compositor paraibano Rosil Cavalcante compôs um rojão que retrata a relação desse

personagem no seio da comunidade onde vivia:

Cabo Tenório (Rosil Cavalcanti)

O cabo Tenório é o maior inspetor de quarteirão O cabo era bamba, disposto, o danado

Bem considerado no seu batalhão Amigo do praça, do subtenente

De toda patente, de quinto galão Zangado, era doido, um cabra valente

Virava serpente, de punhal na mão Mas ficava manso e a briga acabava Se o povo gritasse lhe dando razão

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Lhe dissesse: Cabo Tenório, É o maior inspetor de quarteirão

Viva seu cabo! Cabo Tenório, é o maior inspetor de quarteirão.

Olha aqui, na casa de Tota fizeram um forró Tenório foi só, dançar e beber

Os cabra de lá quiseram lhe bater Tenório gritou, vai ter confusão

Balançou a mão, deu murro e bufete Tomou canivete, peixeira e facão

Os brabos correram quem ficou presente Gritava contente no meio do salão e dizia

Cabo Tenório é o maior inspetor de quarteirão.

A religião do sertanejo era um catolicismo estilizado, influenciado com mitos

indígenas e africanos. O povo nos domingos ia às missas. Nas sextas-feiras,

considerado um dia forte, recorriam a benzedores sempre às escondidas dos

sacerdotes da igreja. Conheci seu Severino da Xã, um homem de aparência

tranqüila do tipo que não se assusta com notícia ruim. Além de benzedor era

muito procurado como responsador. Diziam que tinha um livro de São Cipriano

e era pautado com o “Trigueiro”.

Responsar significa ter um dom espiritual para descobrir objetos achados,

roubados ou desaparecidos. Revelar quem era o ladrão e onde ele se

encontrava em determinado momento. Certa vez um filho de Maria Touro

roubou uns cordões de ouro da própria mãe, e a culpa foi parar na minha pobre

irmã Ciça. Meus irmãos mais velhos deram um castigo exemplar na moça com

uma peça de couro. Mas como Ciça insistia que era inocente, minha mãe foi

tirar suas dúvidas com seu Severino de Xã, ele responsou e afirmou que

pudesse ficar tranqüila que a menina era mesmo inocente. E disse ainda, que

em três dias o ladrão iria aparecer.

Dentro desse período dado por seu Severino, a própria Maria Touro

surpreendeu o filho devolvendo as jóias roubadas. Arrependida teve a

hombridade de ir pedir perdão a minha irmã. Dona Maria Parteira ameaçou

enxotá-la de casa com uma pisa de cipó de jucá, mas a própria Ciça interveio

dizendo que a mulher estava com boas intenções revendo seu erro em acusá-

la prematuramente, e que a situação tinha ficado bem resolvida. E pior tinha

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ficado para Maria Couro, em saber que seu filho Herculano era um ladrão. Não

tinha dor pior do que essa não!

Seu Severino da Xã não era de cobrar os serviços de seus dons, dizia que era

dado por Deus, e por isso não era autorizado receber nada. Por isso recusou o

pagamento oferecido, mas, sugeriu que receberia um agrado, um peru gordo

ou um cabrito, se fosse consoante com a vontade da minha mãe, o que

naturalmente foi atendido por ela sem que com isso pudéssemos esquecer o

grande favor feito por ele.

3. A IDA PARA O RIO DE JANEIRO

João Naval chegou em Lagoa de Roça em 1936, ninguém esperava por ele, chegou

de sopetão. Tinha ido para o Rio de Janeiro em 1925 tentar a sorte no que desse

certo. Entrou para a Marinha e virou um fuzileiro naval, um feito inimaginável para os

nossos conterrâneos. Tinha saído como retirante e voltado como uma grande

autoridade. Morávamos numa casa um pouco distante do lugarejo, isso fez com que

João permanecesse um pouco na cidade, aproveitando para visitar nosso irmão

José Preto, que era casado com uma moça filha de gente importante na cidade. Mal

teve tempo para saudar o irmão e a porque de minuto a minuto tinha que dá atenção

para um antigo conhecido curioso.

Ele fez questão de chegar paramentado exibindo-se com orgulho a farda de fuzileiro

naval chamada de garanço vermelho. Era um conjunto composto de calça azul

marinho com listas azul e branco, paletó vermelho e boné branco. Uma vizinha

nossa passando próximo à casa do velho Artur, vendo aquele jovem rapaz bem

composto conversando desenvolto com todos quase teve um “vago”. Assim que se

recompôs correu até a nós a fim de cobrar a “alvista”. Era um costume quando

alguém sabia de uma boa noticia, ia avisar com antecedência ao interessado para

receber um prêmio. A Dona Maria Francisca pagou satisfeita a alvista, combinaram

uma dúzia de ovos; meia dúzia de galinha comum e meia de guiné. Ficou muito

comovida com a notícia da vinda de João, já se passara longos onze anos ele

estava chegando sendo alvo de bons comentários e admirações, tratado como gente

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importante. Soldados batendo continências, moças saindo para as ruas mais

arrumadas. O filho de dona Maria Parteira tinha virado o centro de atenções, e ela

gostou do que estava vendo, tocou na sua vaidade de mãe.

João havia saltado do navio em Cabedelo proveniente do Rio de Janeiro, seguiu

direto para João Pessoa. Lá tomou uma marinete em direção a Capina Grande, que

fica praticamente encostada em Lagoa de Roça, veio de carona em um caminhão.

Depois do reboliço que causou, com todos querendo vê-lo, saber das novidades do

Rio de Janeiro, querendo saber o que ele tinha feito para subir tanto assim na vida.

Se foi ajudado por algum político influente. No que ele rebatia de imediato, dizendo

que somente Deus, em primeiro lugar o ajudou, e depois a fé em Padre Cícero do

Juazeiro. Tudo esses imprevistos fez com que ele demorasse a chegar em casa.

Quando cruzou o baldrame da porta já foi logo ordenando para que arrumássemos

nossa bagagem, que no prazo de 15 dias iríamos com ele para o Rio de Janeiro.

Minha mãe em vez de chorar, deu uma bronca nele por ter demorado a chegar em

casa. – “Vice! Onde já se viu. Chega e demora desse tanto na rua menino.” Ele

assustou-se comigo e foi dizendo: - Esse é o Inacinho? Como o peste cresceu. – Ah!

Você vai virar gente, pode deixar comigo.

A festa continuou naquele dia um entra e sai como nunca se viu, até o Sargento

Feitosa teve a petulância de ir lá bater continência como irmãos em armas. O

comentário era grande, o rapaz é um “troço” muito alto, pessoa muito importante. E

como era de costume daquele lugarejo, ocasião como aquela não podia faltar um

peru gordo para fazer um pirão. Foi um dia inesquecível para mim sempre me

lembro daquele movimento. Enquanto preparávamos para a viagem João foi para o

sertão adentro em busca de umas malacachetas, umas pedras brilhantes usadas

como isolante de eletricidade. Queria levar algumas para vender no Rio de Janeiro,

enquanto isso ordenou que ficássemos preparando para a viagem.

Eu nunca havia calçado um sapato na minha vida, usava somente chinela de pataca

cruzada, agora precisava de um. Ficamos sabendo que Firmino Julião tinha

comprado um sapato para o filho dele com um número menor, muito apertado.

Compramos o sapato, era muito bonito, desses bicolor, marrom e branco. O sapato

entrou arrochado, mas serviu, de tanto contente que fiquei nem reclamei dos

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apertos. De roupa eu até que não vestia muito mal, minha mãe aproveitava toda

sorte de retalhos que sobrava. Um comerciante de Campina Grande deixava umas

peças de pano para ela vender conforme fosse costurando. Trazia mescla azul,

gorgorão de várias cores e linho de coroá. Avisava com antecedência por meio do

motorista da “Sopa”, apelido dado às “marinetes”, os dias em que viria ao povoado.

Chegava com seu Ford Bigode, e fazia de imediato o acerto como havia combinado

com as costureiras, a seguir mostrava as novidades que havia trazido, por fim,

renovava os sortimentos de panos e aviamentos. Minha mãe tinha um cuidado

especial com as mercadorias e com o dinheiro da parte dele. Além da antiga relação

comercial mantida, tinha muita consideração por ele. Encomendava a ele coisas que

não havia em Lagoa de Roça, principalmente remédios, ele fazia questão de dizer

que não botava margem de lucro por que tinha amizade e consideração por ela.

Ganhei três calças e três camisas. Estava bem composto. Com o coração e os pés

apertados deixei Lagoa de Roça no início do mês de novembro de 1936. Eu, minha

mãe, Maria, Luís e João. Fomos para João Pessoa e ficamos hospedados na casa

de tia Santina. Ficamos lá oito dias esperando pelo navio Pará. O porto de Cabedelo

fica situado bem próximo a capital, tanto que hoje faz parte da região metropolitana

da capital paraibana. As instalações eram novinhas, o porto havia sido construído

um ano atrás, em 1935. Achei engraçado o formato do lugar era uma ilhota de uns

cinco quilômetros de largura por dezoito de comprimento, muito apropriado para a

função portuária, segundo os ensinamentos do meu irmão João Naval, conhecedor

do assunto.

Viemos no navio Pará. Era um navio previsto para três classes de gente: a primeira

para os grã-finos, a segunda para os remediados como nós e a terceira para os

menos favorecidos. Eu não conhecia navio nem por fotografia, e agora estava dentro

de um deles. Andava para todo canto, onde permitiam entrar eu entrava, me

entusiasmei. Pedi licença para entrar nos compartimentos destinados às classes A e

C. Lembro-me que no espaço destinado aos ricos havia lugares diferenciados,

decorados com quadros bonitos, possuía um restaurante amplo com mesas cobertas

com forros brancos bordados em várias tonalidades, um imponente salão de jogos,

homens bem vestidos e mulheres cheirosas, parecendo até que não suavam nunca.

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Na outra classe vi passageiros empilhados como animais, empoleirados em redes,

como se tecesse uma teia de aranha, no cruzar e entrecruzar de fios daquele tear

bizarro, cuja matéria – prima assimilava à sorte daquele povo apegado aos sonhos

irreais da capital da república. Sonhos simples próprios da dimensão das suas vidas.

Encontrar um trabalho, arrumar um teto, e ter o necessário que a dignidade humana

exige de um lar.

Dentro da minha consciência de adolescente eu não saberia precisar o que esperar

daquele mundo que estava descortinando, o que eu queria mesmo, era um lugar

onde nunca mais haveria seca para não faltar comida, para mim isso já era o bilhete

de entrada para o paraíso. Mas tarde é que vim perceber que aqueles pobres

coitados tinham um destino: a construção civil. Carregar massa de cimento e cal nas

costas e morar indignamente em casas de pensão. Longe dos seus, a solidão

conduzia-os para o álcool como forma de responder aos insultos que recebiam

daquela sociedade preconceituosa. Mais tarde sempre que ouvia o samba “Pedreiro

Valdemar “de Wilson Baptista e Roberto Martins, relembrava daqueles conterrâneos

do navio.

“Vocês conhecem o pedreiro Valdemar “Faz tanta casa e não tem casa pra morar” Não vi o que comiam os pobres, não deixaram. Eu sei que a nossa era boa, quis

repetir umas três vezes, e com o prato bem cheio. Mas, dona Maria Francisca não

autorizava gula, e com um olhar circunspecto me desautorizou a vontade, sem, no

entanto, impedir que eu pudesse matar a curiosidade de experimentar iguarias que

eu desconhecia. Deixei de lado os pratos temperados com cebola. Nunca gostei de

alho e cebola,, como disfarçado, fatiados em milímetros, por saber que são bons

para evitar uma infinidade de moléstias. Chamavam-me de feiticeiro pelo meu

confesso pavor ao cheiro do alho cru. Comida boa.

Eu que fora criado em cima de lombo de animal chucro, não consegui domar o

enjoou provocado pelo balanço do mar. No começo o gangorreado até que parecia

divertido, mas, ia fazendo com que a comida tomasse o caminho de volta. Quando o

Pará passou nos Abrolhos parecia um “sabugo” de milho no mar arredio. Deram-me

limão para eu cheirar. Outros me ensinavam a fechar os olhos. Parecia que sómente

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eu sentia enjoou, os outros não. Quando o mar ficava calmo, aí eu aproveitava para

andar no que era permitido. De noite observava aquela imensidão de céu estrelado,

as estrelas movimentando, como se riscassem os céus, tinham outras que caiam no

mar. De dia bisbilhotava, queria por tudo conhecer o navio por dentro, ver como

funcionava, conhecer o maquinário que fazia aquele gigante se movimentar.

Foi uma viagem e tanto, com o passar dos dias meu olhar aguçava na imensidão

das águas, até que avistei como se saísse de dentro do mar, o nosso senhor de

braços abertos. Até hoje aquela cena povoa minha memória, Cristo me recebendo

como se quisesse me abraçar. Depois vi o um morro parecendo um pedaço de pão,

meu irmão falou : -“ ta vendo, é o pão de açúcar. – “De açúcar!”Retruquei. Ele

explicou que a gente podia subir lá em cima dentro de um bonde, que subia o morro

deslizando por um fio. Fiquei imaginando como deveria ser isso. Tive que ir um dia lá

para acreditar naquilo que tinha ouvido.

Aquela imensidão de casas dispostas ao redor do mar e muitas outras que iam

galgando o morro, confundindo com a vegetação verde deste, tudo muito bonito. Um

novo ambiente aparecendo no meu olhar fustigado, me veio na cabeça, como irei

enfrentar isso tudo? Me confortava na experiência dos meus irmãos que já estavam

lá há mais de dez anos, tinha se dado bem, e com certeza saberiam como proceder.

O navio atracou no cais do porto, eu desci, pisei o solo carioca com o pé direito,

sentindo que ali era o meu novo lugar, com gente diferente, e um mundo novo para

enfrentar.

2ª PARTE: O RIO DE JANEIRO 1. APRENDENDO A VIVER NO RIO DE JANEIRO.

Descemos no cais do porto lá nosso irmão José Galego nos esperava, pegamos

uma condução de aluguel e fomos para a casa dele. Ele era funcionário da prefeitura

municipal fichado como gari. José era possuidor de um generoso espírito de

provedor, de uma dedicação total a família, quando estávamos em Lagoa de Roça,

todo mês chegava uma carta dele contando as novidades e enviando um pouco de

dinheiro para minha mãe.

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Ficamos hospedados em sua casa por uns quinze dias prazo em que eles

providenciaram um barraco alugado a Dona Esperança, no morro de São Carlos

próximo ao Terreiro Grande. João morava por perto e era muito respeitado na área

de modo que nossa integração na comunidade não foi difícil. O local era

maravilhoso. Sei que é difícil de acreditar nos dias de hoje, onde os morros no Rio

vivem em clima de guerra civil, mas naquela quadra reinava a camaradagem e a

generosidade que tanto distingue o povo carioca.

Convivemos muito bem com a família de João, Carminda sua esposa, era um ser

humano de generosidade incomum, junto com sua mãe Leopoldina, conhecida como

dona Dina, ensinaram para Maria e Minha mãe como sobreviver ali naquele novo

local. Mostraram os caminhos mais seguros, os açougues e armazéns mais

confiáveis, em suma, foram de uma dedicação incomum. As cunhadas de João

Adélia e Dininha, minhas primeiras amigas naquele mundo desconhecido. Até hoje

me lembro dessa gente com muita saudade, um tempo feliz por que foi uma época

que vivemos bem, cheios de esperança com o que estaria por vir.

Mesmo contrariando Carminda minha mãe começou a costurar, a velha não gostava

de ficar parada e logo pediu a José que arrumasse uma máquina, daquelas movidas

a mão, pois não se acostumara àquelas movidas a pedal. Quando souberam que

havia uma costureira ali na área, choveu de serviços principalmente consertos, e foi

aquele entra e sai de gente. A situação tornou-se quase insustentável quando

resolveram que minha mãe era capaz de costurar fantasias para o carnaval. Umas

mulheres foram o nosso barraco e no final da tarde minha velha já havia aprendido,

e ela ainda brincou: “– É a mesma coisa de fazer mortalha!” Engraçado, que hoje

eles usam essa expressão “mortalha” para denominar as abadas usadas pelos trios

elétricos baianos. Aquilo era muito para uma senhora idosa meus irmãos e minhas

cunhadas proibiram a velha de costurar, também pelo fato de que ela estava com

um sério problema de catarata que acabou levando-a à cegueira no final da vida.

A vida tece a linha de nossa existência e nos conduzem como se fosse um lance

pensado estrategicamente. Imagine onde fui morar, no Morro de São Carlos, onde

em 1928 o grande Ismael Silva havia fundado a “Deixa Falar” e patenteado uma

batida nova para o samba que permitia facilmente diferenciá-lo do maxixe. Na

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subida do Morro de São Carlos reuniam-se com freqüência bambas com o próprio

Ismael Silva, Bide, Marçal, Baiaco, Malvadeza Durão, Brancura e Mano Edgar – uma

das regiões do Rio onde convivia a generosidade com transformações e

transgressões judiciais.

Os botequins situados na Rua Maia Lacerda, próximo a Praça Onze e da tradicional

Zona do Mangue, era ponto de encontro da alta malandragem, alguns deles exímios

sambistas. Vinham de Benfica, da Gamboa, da Providência e de Madureira. Ali era o

cenário do meretrício e das rodas de carteado, vida noturna intensa que garantiu ao

Estácio o título de Berço do Samba do Rio de Janeiro, aquele estilo diferente

dolente, pausado e marcado por instrumentos de percussão. Não é fruto do acaso o

fato da primeira escola de samba a “Deixa Falar”, ter nascido no bairro do Estácio de

Sá, reduto de desocupados e trabalhadores informais, dedicados a jogatina e

exploração de mulheres naqueles meados da década de 1930. Reuniam-se em

botecos em culto a boemia e tudo que estivesse associado. Ali foi o berço da alta

malandragem do samba, o berço de Sua Majestade Ismael Silva. Negro bonito,

elegante no vestir, educadíssimo e bom de briga. Foi nesse local que a vida me

colocou e que aos poucos iria me ensinar a conhecer os segredos e os personagens

daquele palco.

Inicialmente João me matriculou em um Colégio dos Integralistas, ele não era das

fileiras do partido, embora fosse um simpatizante confesso das idéias de Plínio

Salgado. O uniforme escolar era uma camisa verde com uma letra sigma estampada

na manga. Naquela escola respirava o nacionalismo, cantavam diariamente o hino

nacional seguido de um sonoro “anauê”, grito de guerra dos integralistas extraído da

língua tupi que significa “você é meu irmão!”.

Um professor era encarregado de fazer diariamente uma palestra sobre a filosofia do

integralismo. O discurso era voltado para o crescimento e desenvolvimento do Brasil

e a ajuda aos pobres. A essência daquilo tudo eu nunca consegui entender até hoje,

parecia um teatro muito mal ensaiado com personagens folclóricas. Não fiquei muito

naquela escola, só o suficiente para mal aprender ler e escrever. Voltei de imediato

para a Universidade da Vida onde permaneço até hoje, aprendendo na observação

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e na companhia dos melhores, valendo-me da experiência dos outros para poder

construir a minha. Vivendo e aprendendo a jogar.

Dona esperança desocupou uma casa maior, de quatro dois quartos, sala e cozinha,

situada próximo ao posto policial de frente a uma caixa d’água pública, aonde as

mulheres vinham buscar água para suas rotinas diárias. Fomos morar lá, ficamos

mais bem acomodados, próximo aquela coreografia do sobe e desce no morro, com

as cabrochas equilibrando as latas d’água na cabeça. Isso certamente inspirou os

compositores Luis Antonio e Oldemar Magalhães para compor o samba “Lata

D’água na Cabeça”, lançado pela cantora Marlene.

Lata d'água na cabeça Lá vai Maria Lá vai Maria

Sobe o morro e não se cansa

Pela mão Leva a criança Lá vai Maria

Maria

Lava a roupa Lá no alto

Lutando pelo pão De cada dia

Sonhando com a vida Do asfalto Que acaba

Onde o morro principia

A mensagem do samba acima diz tudo. A dura subida do morro, a luta pelo pão de

cada dia e o sonho do asfalto. Com base nisso fui, que era também a minha

realidade, fui a luta, comecei a trabalhar vendendo pastel, doce e amendoim.

Vendia no campo de futebol próximo no largo do Estácio. Depois descia e pegava a

Rua Pinto de Azevedo para chegar ao Mangue, local do baixo meretrício. Lá

consegui vários fregueses entre cafetões e prostitutas, que sempre me pagavam na

data combinada. Não corria risco de ser assaltado no valor em espécie, porém havia

uma molecada terrível que era acostumada a tomar as quitandas e dar uma surra no

vendedor. Aí Afonso, era o bamba daquela área, e com quem mais tarde ficou meu

amigo, me aconselhou a andar sempre com um cabo de aço escondido sob a roupa.

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Ah! Eu tive que bater em muita gente para adquirir respeito e confiança naquelas

imediações.

Estávamos no mês de dezembro, com o natal aproximando, vida nova, costumes

diferentes. Em Lagoa de Roça não estávamos acostumados com aquela profusão

de trocas de presentes. Um malandro me garantiu que se eu deixasse um sapato na

janela o Papai Noel colocaria um presente. Coloquei o meu bicolor de estimação, em

vez de deixar um presente para mim o Papai Noel levou com ele meu único sapato.

Fiquei chateado e a partir daí perdi totalmente a confiança e a crença em Papai

Noel.

Afonso passou ser uma espécie de manual de sobrevivência para mim, a

apresentado o que havia de mais interessante naquelas paragens. Um dia me

chamou para assistir uma briga de galos na casa de um senhor por nome de

Benjamim. Era um lugar o ponto dos galistas do morro de São Carlos e adjacências.

Gostei do ambiente e comecei a freqüentar com assiduidade, tanto que acabei

conquistando a confiança de todos que freqüentavam aquela rinha. Fui conhecendo

e compreendendo todas as manhas do ofício até me consagrar como tratador de

galos de briga.

Tratava o galo da mesma forma como se cuida de um atleta profissional. Os

procedimentos têm que seguir a uma dura rotina diária. De manha começava o

trabalho para o fortalecimento da musculatura das pernas e do aparelho respiratório,

fazendo o galo pular sobre um tapete até ficar ofegante. A seguir refrescava-o com

banho de água natural seguido de um banho de sol. Logo após, o galo entrava no

passeador, um local de mais ou menos um metro e meio por oitenta centímetros,

dotado de um piso de areia para complementar o reforço da musculatura, ficando lá

geralmente das oito às onze da manha.

Voltava novamente à gaiola, agora para tomar água e alimentar-se. Sua refeição

normalmente acontecia por volta de uma da tarde, constituída a base de girassol,

milho quebrado, aveia em casca e leite. Como suplemento, uma torta extra de

tomate, agrião, couve e cenoura. Para desenvolver resistência, pílulas de robustez,

as mesmas dadas para os pombos correios. É um treinamento, com as devidas

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proporções, semelhante ao de um lutador de boxe, o bicho é preparado para ter

resistência na hora de assimilar os golpes e agressividade para reagir.

As brigas de galos já estavam proibidas desde 1934, com a edição do Decreto

Federal 24.645 que proíbiu realizar ou promover lutas entre animais da mesma

espécie ou de espécies diferentes. Mas a paixão pelo galismo é tão grande que o

pessoal nunca foi de respeitar esse decreto, volta e meia ficamos sabendo de

batidas policiais e prisões em flagrante de cidadãos com alto prestígio econômico e

político, que até a polícia fica sem jeito de conduzi-los para a delegacia.

Para ser engraxate na Lapa tive que tomar umas aulas com o Lopes, um engraxate

profissional morador no morro de São Carlos, que fez questão de me ensinar as

manhas do ofício. Mas havia outra questão essencial: como sobreviver naquele

ambiente visitado pelos maiorais da malandragem. A Lapa era uma autêntica

academia de formar malandros, alguns com status de astros, como Miguelzinho,

Edgard, Baiaco, Malvadeza Durão, Ataliba, Eduardinho, Camisa Preta e Meia-Noite.

Para conviver ali a exigência era ser um deles, batizado e matriculado no assunto e

coisa e tal.

Conquistar na Lapa um ponto para trabalhar era correr riscos de levar uma surra

inesquecível. Já havia sido avisado que iria para o local mais perigoso da cidade.

Por isso fiz um diagnóstico da área para saber quais os pontos que já estavam

ocupados, para então localizar um lugar aparentemente devoluto. Encontrei um,

próximo de uma farmácia situada em frente à Travessa do Mosqueiro. Mas mesmo

assim, com toda essa precaução estratégica de boa vizinhança, um moleque do

morro dos cabritos que engraxava a uns trinta metros abaixo, não quis admitir

pacificamente a concorrência; aí um garoto grandão, que eu não conhecia, tomou

minhas dores, parecia ser muito respeitado na área, e ordenou que me deixassem

em paz. Assim pude trabalhar ali tranqüilo, confiante no meu cabo de aço escondido

dentro da caixa de engraxate.

Ainda não possuía nenhum conhecimento sobre as personalidades do mundo

folclórico da Lapa, mas de cara, engraxei os sapatos de algum deles. Lembro-me de

Madame Satã, malandro que ficou conhecido no envolvimento da morte do

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compositor mineiro Geraldo Pereira. Do China da Lapa, esse não era um valentão,

mas um jogador que sobrevivia do vício, certa vez ele reconheceu Noel Rosa

passando com um violão debaixo do braço, no outro lado da rua, às dez horas dez

da manha. Lembro-me dele dizer: - “ Nossa o Noel ainda está na rua, já ouviu falar

dele menino? Ele é o maioral dos compositores”. Assim eu fui me criando naquele

ambiente, conhecendo seus códigos, no entanto, sem ostentar valentia nem

tampouco covardia. Sempre soube ouvir e por isso vez por outra recebia bons

conselhos de desconhecidos que foram fundamentais para sobreviver naquele

ambiente povoado por marginais, prostitutas, artistas e intelectuais. Gente muito boa

por sinal!

2. O CONTATO COM A MÚSICA O Afonso me levou para assistir os ensaios no Bloco “Cada Ano Sai Melhor”, tive

uma sensação de assombro com o que vi. O repicar dos tamborins, a marcação dos

surdos, e as cuícas tirando um som que imitava gente gemendo sabe lá se de dor ou

de alegria. Nem dormi o restante da noite, sensação igual aquela só quando ia às

feiras ouvir Severino de Guiné, Pólino e o Galeguinho de Itabaiana. A música

sempre me furtou as atenções, vendo aquilo eu não conseguia pensar em outra

coisa, queria ser um deles dominando meu instrumento e ser o centro das atenções,

sempre tive esse tipo de vaidade. Peço a Deus que me perdoe se isso for uma

espécie de pecado inclemente.

Depois do que vi, passei a gastar todo meu dinheiro de engraxate, para encontrar

um bilhete premiado que valia um cavaquinho numa birosca de um português muito

mal intencionado. Era um instrumento tosco, de cravelhas, e que depois tive o

dissabor de constatar que era difícil de ser afinado e pior ainda, e de modo algum

segurava a afinação. Minha irmã Maria percebeu que aquele negócio todo tinha um

xaveco por detrás, resolveu ser mais esperta que o português, falsificou com todo

cuidado o tal bilhete premiado. Comprou um envelope, abriu na frente do portuga,

ele com mais atenção na beleza dela não percebeu a troca do comprovante. Mas,

ainda simulou uma reação: “Oh! Raios me garantiram que o cavaquinho não sairia!”

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Ter aquele cavaquinho em minhas mãos foi um marco na minha vida, ele ali, à

minha disposição. Não sei e nem quero comparar, mas emoção de tirar o som do

seu primeiro instrumento, com ele assim, coladinho no peito, é como ver o primeiro

sorriso dos filhos, são coisas que a gente cala nos recônditos da alma, e, com o

passar do tempo, as lembranças dessas emoções retiram lágrimas dos olhos da

gente com a maior facilidade. Naturalmente por terem sido vividas de uma

experiência feliz. Lágrimas sem remorsos e, sobretudo humanas na sua mais digna

expressão de sentir e de viver. Sou um homem feliz, por que fui conduzido pela

sorte do meu talento musical. Fiz muita coisa nessa vida, sou um artesão habilidoso,

mas nada se compara ao meu trabalho como músico. Minha paixão pelo palco é

maior do que a minha paixão pela vida, por que sem ela não valeria a pena viver.

Com o cavaquinho nas mãos no outro dia fui à casa do Nequinho, músico de

respeito e meu vizinho. Vendo minha determinação me acolheu com entusiasmo. Os

artistas de um modo geral sempre protegem as crianças talentosas. Dão aulas de

graça, por que talvez vejam neles a sequência do que fazem. Ele de cara foi

afirmando: - “Meu filho, tudo começa com o dó!”. E foi cantarolando aquela

embolada folclórica de domínio público:

“Segura o bode

meu cumpade seu Mané

o seu bode é tão malvado

machucou minha muié.”

Foi me ensinando e dizendo que prestasse atenção na pulsação da música, para eu

sentisse o momento adequado de trocar a posição dos acordes. Para seu espanto

toquei ali de prima, no calor da emoção, o Segura o Bode. Ele percebeu de imediato

a minha capacidade de aprender, e ficou entusiasmado, disse que eu fosse lá todo

dia, uma meia-hora depois que chegasse do colégio, para verificar como eu estava

indo. No dia seguinte ordenou que eu fizesse o dó em outras casas, dizia que era

um exercício muito bom, pois permitia dominar com maior desenvoltura o braço do

instrumento.

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Depois fez o mesmo com a tonalidade de ré maior. Ensinou-me uma melodia com as

notas ré, sol, si, ré. As mesmas notas da afinação padrão do cavaquinho para eu

aprender afinar o cavaquinho fazendo associação com essa seqüência musical.

Fazia questão de frisar que cavaquinho não era um pedaço do violão e que tinha

sua afinação específica, e que eu deveria obedecer a esses princípios se quisesse

levar em frente à carreira de instrumentista. Nequinho tinha ojeriza de ouvir

cavaquinho afinado como violão ou bandolim, reagia como se tivesse sido insultado,

para ele era uma espécie de humilhação ao instrumento. Cada instrumento tem sua

identidade baseada em uma afinação característica. Ele era um tipo conservador,

inimigo confesso das afinações alternativas.

Cada dia que passava eu ficava mais entusiasmado com o aprendizado, fui

descobrindo os segredos daquelas quatro cordas. Sentia-me importante aprender

aquela linguagem entendida somente por músicos de respeito. Eram os relativos,

tons vizinhos, cadência, notas falsas, melodia, harmonia, ritmo, tonalidades. Aquilo

me fazia diferenciado dos demais garotos, era reconhecido e respeitado pelos mais

velhos, que me considerava um deles. Ficava impaciente para descobrir coisas

novas; uma forma mais eficiente de segurar a palheta para não deixá-la cair a toda

hora, e, sobretudo, ter cuidado para aprimorar a qualidade do som extraído.

Fiz amizade com um garoto por nome de Pedro, que foi percebendo me interesse

por música, tratou logo de me colocar em contato o seu pai, Manoel do Violão, que

fazia parte de um conjunto amador especializado em choro e samba. A cada

primeiro sábado de mês, eles reunião-se na Rua Catumbi, na residência do saudoso

professor Waldemar, pessoa muito querida no meio, compadre de Pixinguinha. O

sarau era esperado com impaciência, devido o modo especial que o professor e a

esposa recebiam os convidados. Além da hospitalidade havia uma feijoada que

sómente os cariocas sabem fazer. Outras vezes serviam uma rabada com agrião e

batata, meu Deus do céu, era uma coisa séria.

Atraídos pelo ambiente e pela suculenta comida que o Professor Valdemar

proporcionava vinham instrumentistas e aficionados de todas as plagas do Rio:

clarinetistas, violonistas, flautistas, todos de altíssimo nível a ponto de me sentir

acuado, quem era eu para tocar com aqueles mestres. Gentilmente pediam-me para

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eu tocar, como eu não me sentia seguro, preferia mesmo era ouvir e ir aprendendo

importantes macetes que ou meus olhos e ouvidos capturavam. Foi lá que conheci

seu Antônio Rodrigues, grande cavaquinista, trabalhava no Ministério do Trabalho.

Ele usava uma afinação que não teve seguidores, mas era um troço bonito, dava um

efeito diferente. Aí cheguei à conclusão que não devia ser tão intransigente em

questão de afinação como havia ensinado meu primeiro professor.

Passei a freqüentar a residência de seu Antônio na Rua do Lavradio. Ele era casado

com dona Maria uma mulher muito doente, mas de uma educação que nunca vi

outra igual, uma esposa extremosa, muito carinhosa comigo, gostava da minha

presença, argumentava que eu ajudava a “prender” seu Antônio em casa. Nas aulas

ele insistia para que eu dominasse as tonalidades, saber de cor os relativos. Na

minha ignorância de inocente quis saber o significado do nome Relativo, ele

sabiamente respondeu: “É que os tons precisam de solidariedade!”

Uma vez descendo o morro de São Carlos fui interceptado por um negro bem

vestido, terno branco, sapato branco e camisa azul. Estava na minha frente nada

mais nada menos do que São Ismael Silva. Vendo-me com o cavaquinho debaixo do

braço perguntou-me se eu conseguia acompanhar um samba e cantou aquele

samba feito por ele com parceria de Noel Rosa:

“Estou vivendo com você Num martírio sem igual Vou largar você de mão

Com razão Para me livrar do mal.

Supliquei humildemente Pra você se endireitar

Mas agora, francamente Nosso amor vai se acabar.

Vou embora afinal Você vai saber porque É pra me livrar do mal Que eu fujo de você.”

Depois de ver meu esforço ele perguntou: -“Você é do norte?” Respondi que era. Ela

emendou, de agora pra frente você será o garoto do norte. E tem mais uma coisa

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Você vai ficar bom nesse negócio aí. Anos mais tarde encontrei com ele em uma

Rádio ele me olhou pensativo e foi logo perguntando. –“ Eu não te conheço? Você

não é o garoto do norte? Trocou o cavaquinho pelo pandeiro, Por que?”

3. MEU ENCONTRO COM O PANDEIRO.

Naquelas imediações do Largo do Estácio respirava-se o samba, as crianças já

nasciam com o coração marcando o compasso dois por quatro. A vontade de ser

ritmista ia tomando conta, até que um dia passei por cima do compromisso que tinha

com o Nequinho e com o seu Antônio Rodrigues. Cheio de dúvidas me aborreci

acabei trocando o cavaquinho por dois casais de canários bons de briga. Mas depois

de alguns dias comecei a ficar angustiado por ter desfeito do cavaquinho, Ia

engraxar e voltava triste, abatido. Para aliviar um pouco aquilo tudo, passei a

freqüentar a casa do Manoel da Cuíca, ponto de encontro de reuniões musicais,

como o pessoal do conjunto Turma Animada, e dois pandeiristas que se

destacavam: Valdemar e Russo Sapateiro. Tinham estilos completamente diferentes.

O Valdemar era uma cópia do Jacob Palmieri e do Russo do Pandeiro que tocavam

com as platinelas sem abafamento, de tal forma que quase não se ouvia o som do

couro. Ainda muito influenciado pelo samba amaxixado. O outro era o Russo

Sapateiro, que não possuía semelhança musical alguma com o xará. Ele tinha a

malemolência da Turma do Estácio e passei a observá-lo minuciosamente. Mas

havia um problema sério, eu não possuía um pandeiro, passei a improvisar em

pratos ou qualquer outra coisa que assemelhasse a um pandeiro. Fui indo até que

um dia meu irmão, Antônio Fogueteiro, vendo minhas estripulias de sambista

doméstico, aconselhou-me como era conseguir um pandeiro.

Ele me aconselhou ir até a barbearia de Joaquim Pinheiro nas imediações do

Campo de Santana, próximo do Túnel João Ricardo que dá passagem para o cais

do porto. Naqueles tempos haviam os fregueses de caderneta, e vez por outra

ficavam dívidas em aberto, aí depois de algum tempo do vencimento da obrigação

as partes entravam em acordo, como forma de honrar o compromisso o devedor

botava à disposição do credor um objeto de valor como pagamento. O barbeiro

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Joaquim havia recebido um pandeiro como pagamento de dívida, e estava sendo

usado como peça de decoração. Dependurado, empoeirado e sem uso.

Seu Joaquim era desses barbeiros que usava um bigode bem aparado, separado ao

meio como aquele ator americano do filme “ E O Vento Levou”, Clarke Gable. Muito

gentil, quis saber o que eu queria, e de prontidão foi pegando uma cadeira e subiu

para apanhar o pandeiro, fez uma ligeira limpeza com um espanador e colocou-o em

minhas mãos. Aí o espírito do Russo sapateiro manifestou em mim, fiz tudo que

havia aprendido observando por vários meses como ele tocava. Seu Joaquim

Pinheiro não resistiu aquilo aquilo e me deu o pandeiro de presente. Agora que eu

estava “armado” fazia questão de ir todos os dias dos ensaios. Percebi que o Russo

Sapateiro tocava com as pontas dos dedos e não dava tapas no pandeiro. Chegava

em casa, treinava, treinava. Não gostava daquele barulho deselegante das

platinelas, sentia que perturbava mais do que agradava a quem ouvia. Fui

experimentando abafadores, isso acabou virando uma obsessão em minha vida

artística, experimentei de tudo e nunca ficava satisfeito, até que um dia, depois de

consagrado, descobri o plástico, esse sim, tem a capacidade de colocar o som das

platinelas no lugar que ele merece, lado a lado com o som do couro, igual a uma

dupla de violões bem afinados, onde um respeita as funções do outro.

Com essa preocupação toda e treinando muito, logo chamei a atenção dos próprios

músicos. Ouvi elogios repetidos e incentivadores dos pandeiristas Adolfinho e

Valdemar. Esse último chegou até a afirmar que estava com vergonha dele mesmo.

Havia passado lá em casa e me ouviu treinando no quarto, disse que não acreditou

no que ouviu. – “Esse menino não tem a metade de nossa idade e já esta fazendo

isso, imagine só quando crescer, não vai ter para ninguém!” Começaram a me

aconselhar a ir a algum programa de rádio para mostrar meu talento. Eu nem tinha

noção do que falavam treinava muito porque, parecia que havia uma voz lá de

dentro de mim ordenando a continuar trabalhando em busca da perfeição.

Minha fama começou a circular de boca em boca até que o Roberto do conjunto

Turma Animada pediu que eu fosse assistir os ensaios deles. Era um conjunto semi-

profissional, todos tinham suas profissões, mas quase todo mês ganhavam um

dinheirinho tocando normalmente em reuniões sociais. O Roberto tocava violão.

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Nequinho, meu professor, cavaquinho. Sete Camisas no pandeiro. Osmar no

bandolim e Suquinho tocava ganzá e cantava, diga-se de passagem, grande cantor,

não sei como não se consagrou no Rádio.

Eu tinha catorze anos, parecia ter um pouco mais, porque andava sempre bem

alinhado para parecer mais velho e ostentar respeito. Cheguei no local onde

ensaiavam, me aboletei em uma cadeira distante uns cinco metros mais ou menos,

e fiquei prestando atenção no bom desempenho do grupo. Quase no final do ensaio

Roberto ordenou a Sete Camisas que me passasse o pandeiro. Quando comecei a

tocar Dona Regina, mãe de Roberto chegou da cozinha toda assustada: - “Mas é o

Inacinho, não acredito! Você tem que ir a Rádio meu filho, complementando o

assombro dela com meu desempenho.

Não tinha palavras mais doces ao ouvido de um músico iniciante do que essas:

“Você tem que ir tocar na rádio!” Isso significava o reconhecimento de sua

comunidade. Tocar na rádio significava a transposição da sua Aldeia, era viajar

pelos ares e ser conhecido no país todo e naturalmente ser reconhecido

financeiramente. Mas antes de chegar na rádio tive uma experiência muito

interessante.

4. O BATISMO DE FOGO.

O Sete Camisas, pandeirista oficial do grupo, não pode continuar no conjunto por

problemas particulares, aí o Roberto pediu autorização a minha mãe para que eu

tocasse com eles. Como o pessoal do conjunto pertencia à comunidade local e eram

benquistos por todos, Dona Maria Francisca não teve dúvidas em autorizar que eu

participasse do grupo. Meu entusiasmo era tanto que isso pesou muito na decisão

dela. O Roberto foi um grande incentivador, confiando na minha capacidade me

levou para tocar na gafieira Flor do Abacate. Fomos a pé, passando pela Glória, foi

quando ele me contou o que estava planejando. É que lá passava um flautista que

adorava derrubar tudo quanto é pandeirista, mas nós apostamos que ele não vai

poder com você.

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Chegamos à casa onde o Álvaro Sandin em sua homenagem, compôs aquele

antológico homônimo, gravado magistralmente pelo Jacob do Bandolim. A Flor Do

Abacate ficava em um prédio bonito com gente elegante dançando. Mulheres

cheirosas e bem vestidas deslizavam em um piso liso e escorregadio compondo

pares de dançarinos magistrais. Tudo aquilo ali era novo para mim. Meio assustado,

mas com um pandeiro novo que minha irmã tinha me presenteado, com estojo de

madeira e tudo, fiquei sentado esperando a nossa vez de tocar.

Depois de uma meia-hora que estávamos tocando entrou um negro alto, vestindo

um terno branco de linho S120, chapéu de aba larga e sapato bicolor. Muito

elegante mesmo. Trazia uma flauta debaixo do braço no estilo de Pixinguinha. E foi

logo me observando: - “Tem cara nova hoje!” Era o especialista em desmoralizar

pandeirista, começava tocando lento e ia aumentando o andamento, aumentando

até que o pandeirista desistia, e isso era a glória para ele. Era aclamado como

campeão como se musica fosse uma competição de pugilato. O aprendizado

informal da música acaba produzindo pessoas com esse tido de comportamento.

Nunca vi grandes músicos agirem dessa forma. Abel Ferreira, Pixinguinha, Waldir

Azevedo nunca tiveram atitudes semelhante a esta. Pelo menos eu não vi e nunca

tive notícia.

O tal do Tião da Flauta ficou de lado bebendo umas cervejas, no intervalo e ele

chegou e comentou com o Roberto, esse menino tem uma batida diferente, segura.

Meu amigo concordou, mas evitou entrar em qualquer tipo de detalhe. Para não ficar

deselegante apenas comentou que eu estava muito verde ainda, mas que prometia.

Aí o flautista ficou animado em me desafiar. Assim que começou tocar de novo, ele

no final da segunda música foi olhando para mim dizendo: -” Tem cara nova aqui

hoje!” Subiu no palco e foi dizendo para que eu segurasse o “Urubu Malandro”. O

Urubu é um choro predileto dos flautistas virtuoses. É uma obrigação de todo

flautista de valor tocá-lo.

Ele começou, só eu e ele fomos aumentando a velocidade, eu segurando. Quando

estava muito rápido eu usei de uma malandragem, criada ali na hora, que nenhum

ritmista carioca poderia imaginar. Meti a batida do frevo, que é muito mais folgada

para o bandeirista, e exige muito mais do solista, e fui puxando, fui puxando, até que

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a flauta só fazia piu, piu... acelerei mais ainda, ele parou. “- Roberto, hoje eu

encontrei um, que maravilha de garoto você encontrou.” Pegou a minha mão direita

e repetiu aquele gesto que os juízes fazem quando um pugilista vence uma luta.

Juro que fiquei com vergonha, aquele homem que dez minutos atrás era um falador

arrogante, agora queria a todo custo prostrar-se em meus pés.

Hoje, esse recurso de trocar o choro ou samba pelo frevo, é uma alternativa muito

usada por pandeiristas que sabem das coisas, quando solistas de alma circense

querem tocar em alta rotação. Vejam por exemplo o que está acontecendo hoje com

as escolas de samba, pelo fato de possuir um tempo determinado para cumprir seu

percurso, o diretor de bateria impõe um ritmo frenético, aí, sem querer o samba vira

frevo. Acho que quem usou isso pela primeira vez de forma consciente fui eu

naquela demanda com o saudoso Tião da Flauta. Chegando em casa comecei a

pensar onde tinha buscado aquilo. Ai lembrei-me que lá no norte eu acompanhava

sanfoneiros batendo caixote, imitando zabumba. Dali em diante comecei a relembrar

tudo aquilo, a mistura do rojão, do baião, xaxado, frevo, maracatu, samba e choro,

acabou constituindo o meu jeito de tocar pandeiro, a meu jeito, sempre com a

pontinha dos dedos. Salve o Russo Sapateiro, que Deus o tenha em glória.

Depois daquele confronto, meu tratamento na comunidade onde vivia passou a ser

outro, minha fama espalhou como fogo que sobe morro acima. Aí vieram as tapinhas

nas costas, pandeiristas dos outros grupos exigindo que eu desse uma canja. Passei

ser anunciado como o Inacinho do pandeiro. Nas rodas na casa do Professor

Valdemar ninguém mais queria botar a mão no pandeiro. “Sem querer, ouvia

aqueles músicos experientes dizendo: -” Esse menino tem uma cadência diferente,

dá muita firmeza e enriquece o solo!”

Aquilo tudo acabou me tornando um adulto precoce, aos catorze anos comecei a ser

comparado com os grandes do instrumento. Jacob Palmieri, Russo do Pandeiro,

João da Baiana e Popeye. E sempre ouvindo: “Já deixou para trás!” Confesso que

dos três eu gostava mais do Popeye, mais da minha geração. Mas hoje, depois de

tanto, tempo curvo a cabeça para os três primeiros, que tiveram a primazia de

introduzir o instrumento definitivamente no cenário profissional.

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O Russo era paulistano, mas, ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro. E

dizem que tocou em um casamento de sua irmã com Benedito Lacerda, a partir daí

fundaram o conjunto Gente do Morro, que seria no futuro o regional de Benedito

Lacerda. Foi para os Estados Unidos com a Carmem Miranda, trabalhou em muitos

filmes e teve conjunto por lá. Além de virtuose do pandeiro foi um excelente

compositor com vários sucessos registrados. Muita gente que hoje tem sucesso

internacional como ritmista, principalmente pandeiristas, deveria trazer

permanentemente uma fotografia dele na carteira, ele foi um bandeirante do

pandeiro, um verdadeiro rompedor de fronteiras.

O João Da Baiana trazia aquela coisa da África, não era só pandeirista, tocava

vários instrumentos de percussão, e conhecia muito aqueles pontos de macumba,

ele era do candomblé e sabia de muitos segredos em termos de ritmos ligados aos

rituais fechados. Era muito ligado ao Pixinguinha participou de diversas gravações

tocando, além do pandeiro, garfo e faca. Compositor de prestígio.

Em ralação ao Jacob Palmieri, não tenho muito conhecimento, só sei que era o

pandeirista de confiança de Pixinguinha nos Oito Batutas, isso dispensa quaisquer

dúvidas a respeito de sua competência técnica. Deixo aqui, como uma homenagem

particular, o registro desses três instrumentistas com os quais me comparavam, e

que mais tarde tornaram-se meus irmãos em armas. E faço questão de salientar a

importância que tiveram para a memória da cultura nacional.

.................................................................................................................................

PROGRAMAS DE CALOURO

.

Depois de 1940 entre os programas de radio de maior prestígio era "O Trem da

Alegria", comando por Heber de Boscoli, por Yara Sales e o grande copositor

Lamartine Babo, "O Trio do Osso", assim denominado devido ao fato de que todos

os seus componentes serem magros. Foi um programa de enorme popularidade

naquela época em todo o Brasil. Um outro programa que marcou época foi o do

grande apresentador César de Alencar. Vejam só, seu sucesso foi tanto que para

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assistir seu programa tinha que adquirir os ingressos para o auditório

antecipadamente com até duas semanas de antecedência.

Também vale a pena ressaltar o programa do Renato Murce e sua assistente “Miss

Mary”, o nome do programa era Papel Carbono, ia ao ar aos domingos de noite na

Radio Nacional na década de 1940. Murce era casado com Eliane, a musa dos

filmes da Atlântida. No Papel Carbono os calouros tinham que imitar um astro que

estivesse em evidencia, e pode-se dizer cem cerimônias que o programa foi um

verdadeiro celeiro de astros: Doris Monteiro, Alaíde Costa, Ângela Maria, Élen de

Lima, Claudete Soares, Ivon Curi, Ademilde Fonseca, entre outros. Os programas de

auditório era o ponto forte das Rádios, e a Rádio Nacional comandava os maiores

deles.

Os grandes programas desta época dignos de nota são: "A Hora do Pato", mais

tarde denominado "Aí vem o Pato", da Rádio Nacional; "Pescando Estrelas", da

Rádio Clube, apresentado por Renato Amaral e o famoso "Buzina do Chacrinha",

também da Rádio Clube. O Programa César de Alencar, que em um dos seus

aniversários levou ao Maracananzinho quase vinte mil pessoas em 1955.

Vale lembrar ainda lembrarmos os nomes de Haroldo Barbosa, que trabalhou nas

Rádios Nacional, Tupy e Mayrink Veiga, fazendo sucesso com os programas "Um

Milhão de Melodias", "Calouros da Orquestra", o Fernando Lobo, pai do compositor

Edu Lobo, um grande produtor de programas, sendo responsável pela produção de

vários programas da Nacional.

O Ari Barroso afirmava categoricamente que o seu programa não tinha a finalidade

de procurar estrelas. E se assim fosse, não permitiria a apresentação de candidatos

destituídos de condições técnicas. No programa em que dirigia qualquer um tinha o

direito de se apresentar para fazer o que quisesse desde que fizesse formalmente a

inscrição. Embora muitos ex-calouros acabariam se transformando em autênticos

astros do firmamento musical nacional. Uma das razões aventadas para explicar o

sucesso obtido era ter passado pelo crivo de Ari Barroso. Ele era muito exigente e

entendia do assunto. Se o candidato mostrasse virtude tinha tudo com ele.

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O clímax do programa era a pitada de humor e a irreverência em que o Ari era

mestre. Ficava nervoso quando alguém insinuava que ele humilhava os calouros.

Afirmava que não ridicularizava os calouros e justificava com o número cada vez

mais elevado de inscrições que cresciam assustadoramente para o seu programa,

mas por outro lado, não podia impedir que os “ridículos de nascensa”, segundo ele

se constituísses na nora humorística di programa.

Incentivaram-me a ir aos programas de calouro, fui no Papel Carbono. Eu e o João,

um flautista que no momento não me recordo do sobrenome. Isso era por volta de

1938. Ele com sua flauta de bambu imitava o Benedito Lacerda e eu o Russo do

Pandeiro. Fizemos a inscrição com aquele famoso tema para flauta e pandeiro – o

Urubu Malandro. O grande solista de violão Dilermando Reis que era o chefe do

conjunto regional me disse nos ensaios: - hoje não vai ter pra ninguém!.  

Voltamos para o morro e ensaiamos o que pudemos, vestimos a melhor roupa, com

sapato engraxado e tudo mais. Fomos para a cidade por volta de 19 horas por que o

programa começava às 20 em ponto. No palco estava o Renato Murce e Miss Mary,

Recebemos uma salva de palmas, mas mesmo assim não foi o suficiente para

espantar o medo. Os nossos concorrentes pareciam mais nervosos. O primeiro com

um violão tenor imitando Claudionor Cruz, e o segundo imitando Jacob do bandolim.

No final levamos o primeiro lugar e o Renato Murce, fora do ar, me falou em

particular: - olha garoto o Russo tem que tomar cuidado com você, esse pandeiro

que você toca não faz barulho, é tudo muito equilibrado. Voltamos para o morro e a

vizinhança veio em peso dar tapinhas nas costas, aquelas congratulações de praxe,

alguns prevendo um futuro cheio de glamour e dinheiro fácil.

Depois do sucesso no Renato Murce, fiquei sabendo que o programa A Hora do

Pato estava acumulado, e dessa fez eu fui sozinho. Naquele programa eu teria que

desafiar um grande astro, e esse astro que eu iria desafiar não era nada menos do

que Luís Americano do Rego. Tio Luís, como passei a chamá-lo posteriormente, foi

também um clarinetista e saxofonista extraordinário, compositor inspirado de valsas

e choros, talvez o melhor para clarineta. Além das gravações como solista,

participou de milhares gravações, sobretudo acompanhando os grandes cantores e

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cantoras da década de 1930 e 1940 o som de sua clarineta e de seu sax-tenor é

inconfundível, marcante. Ao ouvirmos essas gravações, percebemos sem muita

dificuldades os momentos em que surgem as intervenções maravilhosas de Luís

Americano.  

Pois bem, o prêmio interessante me encorajou e fui armado de um pandeiro

devidamente colocado no estojo, quando entrei na no recinto onde estava sendo

feito os ensaios, o Índio do cavaquinho me perguntou: - o que você veio fazer aqui?

O Tio Luis quando viu logo me deu um sorriso irradiando bondade, e disse: - vamos

dar uma passadinha. Quis saber onde eu morava, e pediu para que o Índio se

juntasse a nós. Eu já tinha escutado o “Passeando Pelas Arábias”, e como eu era

um assíduo espectador de filmes em série. Enquanto Tio Luís fazia aquela clássica

introdução, eu batia o pandeiro com o cotovelo e com a mão imitava uma Naja. Ele

gostou muito, e fez questão de dizer que eu era um prodígio, e iria fazer questão que

eu ganhasse o prêmio.

Na hora da apresentação fizeram toda aquela pompa, e, diziam assim: o garotinho

do norte, Inacinho, que veio desafiar Luis Americano. Eu fui muito bem vstido com

um terno de linho caroá. Tio Luís me recebeu com aquela gaitada gostosa que só

ele sabia dar no clarinete. E o resultado não deu outro ganhei o primeiro lugar,

naturalmente com todo envolvimento daquele monstro sagrado da música

instrumental brasileira, e que depois fui muito amigo, era acima de tudo um grande

conselheiro para os mais novos que estavam começando.

 

5. O INICIO NO MUNDO PROFISSIONAL DA MÚSICA

Depois quando terminaram toda aquela euforia, as pessoas querendo saber onde

eu morava, Tio Luis me chamou de lado e me disse: você já está pronto meu filho, já

pode vir para o ponto dos músicos. O ponto era assim dividido de um lado junto ao

Teatro João Caetano, era o ponto dos músicos de orquestra, e no Teatro Carlos

Gomes o ponto de músicos de conjunto regional. O ponto era uma espécie de

mercado de trabalho, formavam-se conjuntos ali, em cima da hora, até pequenas

orquestras eram criadas no calor do improviso.

.

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Fui para o ponto e n primeiro dia tive a sorte de conhecer um dos maiores violonistas

que esse país já teve, e que não tem o nome divulgado como o seu grande talento

musical merecia. Trata-se de Arlindo Ferreira, e que devido o seu gosto pelo

cachimbo, passou ser conhecido como Arlindo Cachimbo. Era mineiro, formou uma

das melhores duplas de violões que o cenário artístico já conheceu com Djalma

Ferreira, o lendário Bola Sete no regional do Claudionor Cruz, e depois, foi o

violonista de confiança de Abel Ferreira por muitos anos. Era do mesmo nível do

Meira e do Dino, que por sinal era seu amigo e compadre. Era um mineiro muito

calado e sistemático, quando a Aracy cantava aquele samba do Mulato Calado do

Wilson Baptista:

“vocês estão vendo

Aquele mulato calado

Com o seu chapéu de lado

Já matou um

Já matou um..”

Ela cantava e apontava para ele. Ele depois reclamava com ela dizendo que o povo

ia pensar que ele era um assassino. Um grande artista. Meu amigo acima de tudo.

E. perfeito para um regional. Acervo Sérgio Prata /1970

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Da esquerda para a direita: Arlindo Cachimbo, Canhoto, Sílvio Caldas, Meira,

Niquinho e Gilson. A foto é da década de 70.

O Arlindo Ferreira me convidou então para tocar com ele no Circo DUDU, que

estava instalado na Praça da Bandeira. Iríamos acompanhar a cantora Aracy de

Almeida, o Jorge Veiga e o Gilberto Alves. Quando fiquei sabendo que iria

acompanhar a grande Aracy de Almeida de quem eu particularmente era fã, me deu

um calafrio, mas uma certeza que estava no caminho certo e com a pessoa certa. Eu

sempre gostei dela, por que sua voz era um instrumento de ritmo, o jeito que ela

dividia, não tinha para ninguém, por isso que ela era chamada de “O Samba em

Pessoa”.

Seguramente a maior interprete de Noel Rosa, e que por sinal, era sua cantora

preferida. Tinha o gênio forte e um repertório interminável de palavrões.

Ela gostou muito do meu novo jeito de tocar o instrumento, e saiu fazendo

propaganda para todo mundo: “viram o garotinho que o Arlindo descobriu, toca

pandeiro com surdina.” Daí para frente ordenou ao Arlindo Ferreira que seria eu o

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seu pandeirista, e não queria saber mais daquele “pitilingu pitilingu “ que os

pandeiristas até então faziam. “E tamos conversados!”

Outra pessoa de enorme importância na minha carreira musical foi Vicente de Paula

Jose Soares - o Pinguim. Conheci-o em uma casa na rua Andre Cavalcante onde ele

dava uma “canja”,, juntamente com o grande ritmista Luna. Fiquei impressionado

como ele tocava o cavaquinho, um estilo completamente diferenciado. Fazia o

centro puxando os violões. E era bom também no segundo violão. É outro

instrumentista esquecido nesses pais sem memória. Outro dia atrás conversando

com meu amigo Voltaire7Cordas, ele me afirmou que ia assistir o programa do meu

regional na Rádio Mauá para ver o Pinguim tocar, agora, um elogio vindo do

Voltaire pesa.

Passamos a nos encontrar com freqüência no morro Santo Antonio onde eu morava,

ele ia lá freqüentemente jogar futebol. Assim soube por seu intermédio que havia

uma vaga no regional do Benedito César de Faria, pai do compositor Paulinho da

Viola, eu iria substituir temporariamente o pandeirista Afonso. O regional do César

só tinha fera olha só a formação Fernando Boninha no primeiro violão, César no

segundo, Piguim no cavaquinho, eu no pandeiro, e nada mais nada menos do que

Jacob Bittencourt no bandolim. Um time de divisão especial. Quero aqui ressaltar a

qualidade desse violonista que ninguém lembra mais, o Boninha, era um violonista

de um talento incomum, um gênio no melhor sentido da palavra. Falar do Jacob e

do César seria chover no molhado. Mas quero ressaltar aqui a grande amizade que

mantive com o César durante toda a minha vida, um homem muito fino e educado.

Amizade que estendeu à sua família por meio do Paulinho, que tive a honra de

acompanhá-lo em shows realizados em Brasília.

Toquei trinta dias, o Jacob queria ficasse definitivamente, mas eu jamais iria tomar o

lugar de um “irmão em armas”, o Afonso voltou, e logo também o conjunto de César

deixou de tocar na Rádio Ipanema que acabou sendo fechada por problemas

políticos. Estávamos na época da segunda grande guerra mundial, e segundo

comentaram, seus proprietários tinham ligação com os Nazistas e o governo de

Vargas fechou aquela emissora tirando-a do ar ar.definitivamente.

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Eu não estava mais indo no ponto dos músicos, estava tocando na “orquestra de

folga”, era uma orquestra organizada para cobrir as folgas dos músicos nos

“dancings”. Minha irmâ Maria trabalhava na Samba Dancing e conseguiu uma vaga

para mim. Tocava das 20hs até 2 da manha, e nos sábados ate as 4 da madrugada.

Passei a ser sondado para tocar em conjuntos que formavam no calor da ocasião.

Muito comum naquela época, organizado para abrilhantar uma festa particular,

aniversários, ou comemorações que requeriam a presença de um conjunto regional.

6. MINHA PARTICIPAÇÃO NOS CONJUNTOS REGIONAIS

Com o início das gravações elétricas em 1927 e o advento das rádios na

década de 1930 com o subseqüente surgimento dos programas de rádio

bancados pela veiculação da propaganda paga, isso proporcionou a criação de

um novo mercado para a atuação dos músicos. O gênero musical da época

que enquadrava nas exigências comerciais era o samba. Surgiu assim a

necessidade de uma modalidade de conjunto que fizesse o acompanhamento

dos cantores profissionais e dos calouros que se aventuravam em busca do

caminho da glória artística.

Os músicos oriundos do choro eram mestres no acompanhamento “de ouvido”;

uma bem-vinda praticidade, pois não necessitavam de arranjos escritos,

bastando saber o tom da música e acertar a introdução, além de um inegável

virtuosismo quando se tratava de apresentar o seu repertório de choro, fizeram

dos regionais a instrumentação musical ideal para a radiofonia brasileira, ainda

em formação.

Os conjuntos regionais demonstravam a condição sócia econômica do país por

meio dos instrumentos utilizados de fácil aquisição. No solo, uma flauta de

madeira feita de ébano, bandolim ou clarinete, emprestado das bandas de

músicas, dando a introdução para os cantores; na harmonização, um

cavaquinho e dois violões fazendo frases musicais "em terças" alinhavados

pelo ritmo de um pandeiro de atuação discreta, indicava qual seria o formato a

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seguir. Depois do advento do violão de sete cordas passou-se a utilizá-lo,

valorizando ainda mais o contraponto das cordas.

Na época em que atuei como musico profissional no Rio de Janeiro, lembro

dos regionais do Benedito Lacerda, que posteriormente se transformou no

regional do Canhoto. O regional de Claudionor Cruz que rivalizava com o do

Benedito Lacerda nas gravações. Tinha o do Dante Santoro, do Rogério

Guimarães, do César Moreno e do César Faria e o meu. Desses todos só não

toquei no do Dante Santoro e do César Moreno

Minha consolidação como músico de regional aconteceu quando fiz parte do

conjunto de Claudionor Cruz. O Arlindo comentou a meu respeito e ele, foi

conferir vendo meu desempenho no Samba Dancing, na orquestra de Folga do

Maestro Guilherme. Assim que terminou uma seleção, no intervalo ele me

procurou e fez o convite, afirmando que eu tinha sido recomendado pelo

Cachimbo, e que ele tinha gostado muito, me propôs um contrato e eu aceitei

de imediato.

O regional de Claudionor era um ninho de cobras alem do Arlindo, tinha o

clarinetista Antonio de Souza, O Bola Sete como segundo violão, o Claudionor

no violão tenor. Entrando depois eu, e o clarinetista e saxofonista Abel Ferreira.

O CLAUDIONOR CRUZ, era mineiro de Paraíbuna, apareceu formando uma dupla

com Zé Gonçalves, o Zé da Zilda. Tocava cavaquinho, mas seu instrumento de

devoção era o violão tenor. Um dos maiores compositores da musica brasileira, teve

diversos parceiros, porém o mais freqüente foi Pedro Caetano, com quem produziu

verdadeiras jóias musicais. Era um homem do coração bom .muito honesto com os

músicos..

A dupla de violões, era covardia, Arlindo e Bola Sete. Esse último arrisco a afirmar

sem ter medo, foi um dos maiores músicos que passou no planeta, não era desse

mundo. Se eu tivesse que apontar cinco dos melhores músicos que vi em toda

minha carreira, com certeza o de Andrade estaria na lista. Um fato marcante que

presenciei, foi um dia que Luis Americano chamou-o para a lousa para discutirem

teoria musical. Ele saiu de lá, o procurou imediatamente o Antônio de Souza, que o

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ensinou teoria musical. Aí ele voltou e chamou Tio Luis para a lousa, aí Luis

Americano respondeu que tinha provocado ele, por que sabia do seu valor, e que

agora ele era um musico completo.

Assisti ele fazer misérias com o Garoto nos estúdios da Radio Nacional, uma

glória que pouca gente teve. Mas o mundo musical para o Djalma era muito vasto, era um pesquisador nato, não ficou só no estilo do regional, ouvia de tudo, era fissurado pelas orquestras de Jazz. Foi influenciado pelo Pereira Filho

a tocar violão elétrico, e ai, passou para guitarra elétrica, passou a tocar Jazz e ai acabou parando de tocar em regionais. Criou o “Bola Sete e seu Conjunto”, que tinha como cantora a também compositora Dolores Duran. Apresentavam-

se nas boates Drink e Vogue -esta, a mais famosa casa noturna da época, consumida pouco depois por um incêndio.

Na década de 1950 formou uma orquestra que percorreu a América Latina e a Espanha, mudou-se definitivamente para os Estados Unidos em 1959. Chegando lá gravou alguns choros causando verdadeiro espanto no meio

musical americano, a partir daí ninguém mais segurou Bola Sete. Antes de me transferir para Brasília encontrei com ele No Rio, queria por tudo me levar com ele para os Estados Unidos, aí nunca mais nos vimos. Veio a falecer como um

astro musical nos dois maiores celeiros de músicos do mundo.

O regional do Claudionor tinha outro monstro sagrado, do mesmo nível do Bola

Sete, o clarinetista Abel Ferreira. Tocar com os dois foi o maior presente que a

vida me deu. Além de tudo Abel era um ser humano formidável, capaz de criar

condições favoráveis em situações complicadas, sua própria vida atesta o que

estou mencionando.

Foi um autodidata em seu instrumento. Impedido pela própria família, sua

educação musical foi feito às escondidas na pequena cidade mineira de

Coromandel. Aprendeu teoria musical sozinho através de um método musical

dos anos 20 chamado “Artinha”. No clarinete só teve um professor, de nome

Hipácio Gomes, que mais tarde comentou: “Esparramei os dedos do menino no

instrumento”. O contato com o saxofone veio aos 15 anos. Aprendeu sozinho,

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tinha ouvido absoluto, e muito esforço. Escrevia música e tinha domínio da

teoria musical, fazia arranjo e não passava vergonha em um piano. Tinha uma

relação fantástica com o público, sabia tocar para agradar. Antes de começar

chegava no meu ouvido e dizia: “Pernambuco, qual é o santo do

dia,hoje?”Queria que eu desse um palpite sobre o ritmo que mais agradaria,

choro, baião, valsa ou samba.

Abel inicialmente teve a seguinte trajetória musical: tocou em Uberaba com o

violonista e compositor João Tomé, depois foi para São Paulo tocar no

Regional do Pinheirinho, se transferiu para o Rio para tocar no Cassino da

Urca. Foi na gravação de “Levanta José”, da dupla e casal Zé e Zilda,quando

ele chamou a atenção do Claudionor pelo jeito inovador que soprava o

clarinete, totalmente diferente de tudo que havia no ambiente musical, aí o

capitão que não era bobo nem nado, decidiu a integrá-lo definitivamente no

conjunto. O conjunto cresceu muito, suas introduções eram uma coisa de outro

mundo, provocava o Arlindo e o Bola Sete que respondiam a altura.

Seu estilo novo provocou e gerou ciúmes no Luís Americano, que até então

reinava absoluto. Vendo o novo colorido das interpretações que Abel dava nas

composições dele, deixava-o furioso e ele nos procurava e dizia com aquele

sotaque de sergipano: “Fala prá aquele outro, prá não tocar minhas músicas

assim, por que ele não é meu parceiro!” Mas Abel era um fã confesso do Tio

Luis e dizia pra todos que ele fora sua grande influência, ao saber disso, ele

começou a tecer elogios ao Abel. Ficaram grandes amigos. É bom salientar

que Abel Ferreira visitava Luis Americano todos os dias quando este esteve

hospitalizado. Antes de falecer, ele pediu a Abel que gravasse a valsa

“Lágrima” de sua autoria, e ainda não cansava de pedir desculpas pelos

comentários que fez.

O Regional do Claudionor revezava na preferência dos grandes artistas com o

do Benedito Lacerda e depois o do Canhoto. O Chico Alves e o Herivelto

Martins preferiam o nosso. Exigentes como só, não deixavam passar nada.

Francisco Alves era um homem muito sistemático, e queria saber quem é que

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iria acompanhá-lo. Se fizéssemos um acorde ou um baixo trocado, ele percebia

na hora. Mas, era um cantor que quando cantava era aquele silencio, por que

sua voz impunha respeito.

Tive um pequeno problema com o Chico Alves. Certa vez me viu tocando

ganzá e botou na cabeça que eu devia deixar o pandeiro e tocar o ganzá numa

das gravações. Se fosse hoje, não teria problema, pois temos recursos para

gravar instrumento por instrumento. Mas naquela época era tudo junto. Fiquei

contrariado e quis ir embora, aí o Felisberto Martins, que era diretor da

gravadora me conteve. Foi bom, por que naquela época brigar com o Rei da

Voz, era fechar todas as portas possíveis. O homem tinha um prestígio que

sinceramente, nunca vi em minha trajetória artística tanta competência e

popularidade juntas,

O Herivelto era do mesmo jeito, tanto é que ele e o Chico foram grades amigos.

Se davam bem nas exigências. Mas uma coisa eu gostaria de ressaltar aqui, é

sobre essa minissérie que fizeram aí sobre ele, está tudo errado. Colocaram-no

como um vilão. Um mulherengo conquistador, e o coitado não tinha sequer

dotes físicos para atrair o mulherio, era baixinho e atarracado. Contudo, um

homem correto acima de tudo, falo com base, por que convivi com ele, com

Dalva e suas irmãs, tiveram problemas que todos os casais tem, agora como

eram figuras públicas, duas estrelas, qualquer coisas que ela fazia ou que

Dalva gravasse era uma espécie de “resposta”, acabaram sendo vítimas de

uma exploração exagerada para o caso, como a minissérie fez também.

Em meados da década de 1940, a Globo dispensou as grandes orquestras,

ficando sómente com uma típica e o conjunto regional. Afastou o Claudionor da

direção, que estava envolvido também com outro grupo musical, “ As Três

Pequenas do Barulho”, entregando o comando a Abel Ferreira. Havia um

ritmista de uma das orquestras desfeitas com contrato em vigência com a

Globo, a direção da emissora obrigou o Abel, que, diga-se de passagem, não

era dono do conjunto, a integrá-lo no grupo. Mas Ferreira me garantiu: “quando

o contrato do homem vencer, você volta.

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Com a saída do Claudionor das Organizações Globo, encerrou-se um capítulo

das historias dos regionais. O Regional de Claudionor Cruz figura entre os

melhores Regionais que passou pela era de ouro do rádio brasileiro. O do

Benedito Lacerda e o do Canhoto, que na realidade era um só, quando

Benedito saiu do conjunto, a liderança passou para o Canhoto que incorporou o

Orlando Silveira e o Altamiro Carrilho. O Capitão em entrevista concedida fez

questão de salientar que das varias formações do grupo a melhor foi a que

participei, com Arlindo, Bola – Sete, Abel Ferreira, Claudionor e Pernambuco. E

ainda disse que depois viramos todos astros de primeira grandeza. Além de

sua habilidade incomum para liderar, era um coração bondoso, um professor

de musica que deixou vários discípulos, dentre eles o bandolinista e violonista

(tenor) Pedro Amorim, baluarte da Escola Portátil de música, onde desenvolve

excelente trabalho com Luciana Rabelo e Maurício Carrilho. Fica aqui

registrado um pouco da história desse grande brasileiro consagrado como

compositor, mas que foi acima de tudo meu amigo.

Claudionor Cruz recebeu uma proposta do regional da Rádio Inconfidência de

Belo Horizonte, quis que eu fosse com ele. Minha filha Sulimar havia nascido e

aí era preciso ter um emprego fixo, pois a presença de uma criança em casa

exige responsabilidade, precisamos saber com o que contar na hora de

imprevistos. Fui com ele para Minas e chegando lá tive uma experiência que

guardo comigo até hoje. O pandeirista do regional da Inconfidência ficou com

medo de perder o emprego, dizendo que tocava tendo a mim como exemplo.

Eu o acalmei dizendo que estava lá de passagem, e que não permitiria que

ninguém o demitisse, por minha causa. Virou um grande amigo, me deu grande

apoio na capital mineira enquanto estive por lá, e se a direção da Inconfidência

o demitisse, estaria fazendo uma tremenda besteira pois era um excelente

instrumentista que sobreviveria em qualquer centro musical do país.

Em menos de um mês minha esposa me telegrafou dizendo para voltar

imediatamente, por que o Arlindo havia dito que havia uma vaga no Regional

do Canhoto e no do Rogério Guimarães. Voltei imediatamente, fiquei sabendo

que o Gilson estava tocando nos dois ao mesmo tempo. Mas como o Gilson

era meu “irmão”, continuamos revezando nos dois regionais, e a razão era por

que tocar no conjunto do Canhoto dava prestigio, e no do Rogério Guimarães

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dava prestígio financeiro, por que o homem era abastado, volta e meia socorria

até as Rádios. Músico dele não passava aperto.

O Gilson era um grande músico, um pandeirista excepcional, nem o Rogério e

nem o Canhoto importava que nós revezássemos, até que um dia houve um

mal entendido entre eu e o Dino. Alguém disse a ele que eu havia comentado

que ele não tinha casa própria e que morava de favor. Isso mexeu com os

brios dele, e com razão! Quis saber quem havia dito essa inverdade, mas o

Dino como homem de valor que sempre foi não quis alcagoetar. Olha que

pressionei o “Boi” por mais de um cinqüenta anos e ele não abriu o bico. Mas

aquilo me deixou muito contrariado, e por minha reação, Dino sabia que eu

poderia fazer uma besteira e tratou de evitar, escondendo a vida toda quem

disse isso.

Esse incidente acabou fazendo com que eu optasse de vez pelo regional do

Rogério Guimarães. Mas não perdi minha relação com o Canhoto, que sempre

me chamava para apresentações especiais, meu conterrâneo Meira e o próprio

Gilson, que quando tinha um imprevisto ia atrás de mim, dizendo que confiava

no meu taco. O Gilson foi um verdadeiro “irmão em armas”.

Para falar um pouco dos músicos do regional do Canhoto é preciso começar

com o Benedito Lacerda, por que ai me reporta aos dos dois resumidamente,

que na realidade possuem a mesma história:

O Benedito Lacerda a meu ver foi quem definiu o conjunto regional típico de acompanhamento de cantores de Rádio. Em 1930 ele começou com o Gente do Morro, onde já contava com Russo do Pandeiro e Waldiro Tramontano, o Canhoto, no cavaquinho, membros da formação seguinte do então Regional de Benedito Lacerda, que incorporau a famosa dupla de violões, Nei Orestes e Carlos Lenine. Em 1937 o regional já tinha sua formação definitiva com Popeye no Pandeiro, Dino e Meira nos violões, passando a formar com Canhoto o mais famoso e estável trio de cordas que se tem noticias, tocaram por mais 50 anos juntos.

Benedito Lacerda era um virtuose na flauta, incomparável, pode ter flautista por com técnica mais apurada, mas é bom lembrar que ele criou o estilo, e até hoje é imitado. O próprio Altamiro Carrilho no inicio da carreira, quando havia algum imprevisto, era contratado para substituí-lo, por que tocava igualzinho a ele.

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Era um compositor formidável, teve inúmeros parceiros e amealhou uma centena de sucessos.

Da esquerda para a direita: Popeye (pandeiro), Dino 7 cordas, Benedito

Lacerda, Canhoto (cavaco) e Meira (violão) – arquivo Sérgio Prata.

Muitos especialistas consideram o duo formado por ele e Pixinguinha, como o cume da musica popular brasileira de todos os tempos. Aliás, é uma história que existem algumas controvérsias, e muitas delas ofende a moral de Benedito. Pouca gente sabe que Benedito tornou-se parceiro de varias musicas do Pixinguinha por imposição do próprio Alfredo Vianna. Benedito quitou com dinheiro do próprio bolso uma hipoteca da casa de Pixinguinha e propôs formar o duo para ajudá-lo a sair daquela crise financeira. Pixinguinha como forma de agradecê-lo, e recompensá-lo deu o que tinha para dar, as parcerias em vários choros imortais.

Foi um dos poucos músicos que soube administrar sua carreira, e por saber ganhar dinheiro em um meio que quase ninguém sabe, foi por isso taxado de mercenário, e que roubava parcerias. Eu vou dizer para vocês, meus amigos, àquelas introduções que ele bolava, às vezes no improviso, me faz acreditar que ele não precisava comprar sambas de ninguém.

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Era um chefe de regional exigentíssimo, ensaiava muito, e tudo tinha que sair perfeito. Era duro com os músicos para trabalhar com ele além de talento tinha que ter caráter. O conjunto dele virou uma referencia um modelo para todo regional que quisesse ser bem sucedido. Benedito Lacerda morreu cedo, com 55 anos vítima de um câncer, mas foi sem dúvida um dos maiores expoentes da música brasileira de todos os tempos.

WALDIRO TRAMONTANO - CANHOTO

Mestre do acompanhamento tocava o cavaquinho com as cordas invertidas, tinha uma capacidade de harmonização incomum. Assumiu a direção do regional quando Benedito Lacerda saiu do conjunto em 1951. Passando então o conjunto chamar regional do Canhoto. Ele incorporou o paulista Orlando Silveira, com seu acordeom, e Altamiro Carrilho na flauta. O regional teve outros flautistas como Carlos Poyares, mas manteve os outros elementos durante toda a existência do conjunto, por isso é que conseguiam um entrosamento incomum.

A influencia de Canhoto foi tamanha que podemos dizer que ele ao lado de Pingüim, de Jonas Pereira da Silva, e do Xixa, criou uma escola de “centristas” Mas a influência dele é preponderante, podem ver que muitos cavaquinistas dextros usam a palhetada de baixo pra cima tentando imitá-lo. Sabia liderar sem ser agressivo. Não bebia bebidas alcoólicas e era perfeccionista, gostava de ensaia exaustivamente Faleceu em 1987, deixando muitas saudades em todos nós.

JAYME FLORENCE – O MEIRA. O meu conterrâneo. Veio junto com Luperce Miranda para o Rio de Janeiro em

1928. No ano de 1937, substituiu o violonista Carlos Lentine no Conjunto

Regional de Benedito Lacerda, no qual, com Dino (7 cordas), formou uma das

mais bem sucedidas e duradouras duplas de violonistas da música popular

brasileira. Com o Regional de Benedito Lacerda, acompanhou grandes

cantores em gravações e apresentações. As gravações do Dilermando Reis é

ele o harmonizador, que aqui para nós, injustamente não aparece nos discos.

Foi um professor bem sucedido entre seus alunos podemos pontuar o Rafael

Rabelo e o Baden Powel, só para vocês terem a idéia do valor desse homem.

Era um homem de fina educação, fala uns três idiomas fluentemente, era

rodeado de amigos. Fazia uma reunião toda semana em sua casa e Jacob do

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Bandolim e Pixinguinha eram visitas freqüentes, ocasião em que jogava no

“fogo”os seus melhores pupilos.

Foi um compositor brilhante, não de paradas de sucesso, mas de qualidade

superior, compunha linhas melódicas impressionantes. Seu parceiro mais

freqüente, foi o letrista Augusto Mesquita e Dino. Sua interprete favorita era a

personalíssima Isaurinha Garcia. Aliás, nós músicos sempre adoramos ela,

uma cantora fora dos padrões. Cantava com o coração nas cordas vocais. E

fora do palco era uma boa amiga sempre com um repertório de palavrões a

disposição. Ela cantou Molambo, Aperto de Mão e mais outras composições do

Meira.

HORONDINO JOSÉ DA SILVA – DINO7CORDAS.

Muita gente me pede para escalar o regional de todos os tempos, posso dizer

com franqueza que para os outros instrumentos seria uma briga seria, e até

sem sentido. Seria um desespero para mim escolher um seis cordas entre

Arlindo Ferreira, Bola Sete, Meira e Damásio? Na Flauta, Altamiro, Pixinguinha

ou Benedito Lacerda? No Cavaquinho, Canhoto, Pingüim, Xixa, Jonas ou

Luciana Rabelo? No pandeiro, Jorginho, Gilberto, Pernambuco ou Celsinho

Silva?

Mas tem quatro instrumentos que esses não tem para ninguém, o bandolim

para o Jacob, o cavaquinho solo para Waldir Azevedo, o clarinete para Abel

Ferreira e o Sete Cordas para Horondino Silva. Esses são unanimidades

incontestáveis, embora tivéssemos bandolinistas formidáveis como Luperce

Miranda; clarinetista de um naipe de Luis Americano; Sete cordas como

Voltaire, Rafael Rabelo e Darly Louzada. Ocorre que esses quatro foram

gênios da raça. È bom até sublinhar que o Rafael Rabelo e o Bola Sete tiveram

um desenvolvimento assombroso nos seus instrumentos, porém fora do estilo

regional.

Mas dentre todos esses que citei o Dino merece um destaque especial, pela

grande amizade que particularmente tenho com o Voltaire, acompanhamos o

Silvio Caldas várias vezes, tenho certeza que ele mesmo assina em baixo, o

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que estou dizendo, cansei de ouvi-lo dizer o Dino é o professor de todos nós.

Ele mandou em 1954 o Silvestre da DoSouto, fazer um violão com um sétima

corda. O Tute e o China, irmão do Pixinguinha, tocavam violão de sete cordas,

que mandaram fazer depois que viu com uns ciganos. Mas foi o Dino que criou

a escola, imitando os contrapontos que o Pixinguinha fazia no sax. Ele tocou

com o velho Pixinga no regional do Benedito Lacerda e aprendeu lá as

manhas.

Meira (violão), Orlando Silveira (acordeom), Dino 7 Cordas, Gilson de

Freitas (pandeiro), Canhoto (cavaquinho) e Altamiro Carrilho (flauta).

O Brasil tem hoje em cada cidade um virtuose no sete cordas, mas a meu ver,

todos deveriam pagar Royalties ao Dino. O Jacob do Bandolim afirmava que

ele era o maior compositor de “baixos” do mundo. As levadas, as “baixarias”,

terminações de frases, que hoje todos fazem, noventa por cento foi criada pelo

“Boi”. Foi Silvio Caldas que colocou esse apelido nele, depois que passou a

usar a sétima corda no violão, um som grave lembrava um berro de um boi.

Dino vem de uma família de uma família dvou dizer os que foram e são meus

amigos próximos. O Lino, o Tico-Tico, o Jorginho que talvez seja o pandeirista

de mais alta técnica que o choro produziu, o Celsinho Silva, filho do Jorginho,

que herdou o talento do pai, e pode figurar sem nenhuma modéstia na galeria

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dos grandes pandeiristas de todos os tempos. E por último o Netinho, que vem

mostrando serviço, toca com o Zé da Velha e o Silvério Pontes, e já se destaca

como a revelação do pandeiro. Salve a família Silva, a música brasileira deve

muito a ela, e eu aqui do meu canto fico muito orgulhoso, por que eles dizem

por ai que aprenderam muito comigo, o que me deixa muito orgulhoso, em

saber que o pouco que fiz, esta projetado em tão boas mãos.

................................................................................................................................

7. O REGIONAL DE PERNAMBU

8. CO DO PANDEIRO

1. Gravou em dupla Cardosinho no cavaco com afinação de bandolim - 1950

Brasileirinho estourou fazíamos sucesso

Falamos com Felisberto Martins que interressou se dispois a falar com Ms

Moore diretor geral da Odeom. Gravamos primeiro no selo elite da odeom. Do outro

lado gravamos um pout purri de baião, o segundo disco gravamos na pela odeom

grvamos o choro Juriti de Raul Silva e outro lado o baião sentimentoo de minha

autoria e de cardosinho.

A dupla acabou devido incompatibilidade profissional.

A Casa Neno loja de eletro eletrônico mantinha o programa PR-Neno em

diversas emissora, onde ficou mais tempo na Mauá. Era um programa de

auditório, fazia uma mescla de cantores famosos e cantores iniantes como

Claudete Soares e Barbara Martins. Dos cantores famosos tinha o Roberto

Luna, Noite Ilustrada, Alcides Gerardi, Roberto Silva, era chamado de o

cantor dos trabalhadores.

Page 61: Brasilpandeir Oyy 1

Um dos irmãos Neno me viu em um programa com Cardosinho, me convidou

para organizar um conjunto para acompanhar os programas da casa neno.

A primeira formação era o Cardosinho, Arlindo Ferreira e Eu

O conjunto era formado – eu, Freitas violão, darli Louzada violão, pingüim no

cavaquinho e Toninho no acordeon.

Fui fazer um progra da Neno na radio Mauá, antiga radio Ipanema, a convite

doutor Alberto Mannes. Voce tem compromisso alem da Neno, eu disse que

não. Freitas ja havia tocado no conjunto Os Tocantins, eles já havia acabado

o conjunto, fazia o primeiro violão.

Darli Louzada um dos maiores músicos que o Brasil já conheceu dominava

todos instrumentos de cordas. Freqüentador assíduo dos programas de

calouros acumulados pegava os primeiro lugar e Pinguim.

Maninho era um acordeonista regular. Paulistinha, durou dois meses, caga

sebo em vez de juriti – deficiência técnica. Depois o hidelbrando muito

talentoso, depois o pai tirou-o para estudar -

Antonio Eugenio - Toninho era de Santos Dumont, conheci em barra mansa

tocando piano eu estava na companhia de Zé Gonzaga, quando ele pegou o

acordeon me aproximei e propuz que ele mudasse para o rio – parentes na

rua Mem de Sá, ficava próximo da radio Mauá, da escola do orlando Silveira.

Venceu o contrto do joça o Abel ferreira me convidou para o seu regional que

trabalhava na radio Globo – Araujo, Arlindo,José Menezes, Amaro no

contrabaixo, Abel e Eu. Professor Antonio de Sousa, musica de orquestra

sinfonica – Flauta. Matias Rosa de acordeão, acordeão de botão.

Uma vez na festa de NS da Penha, havia uns seis conjunto tocando, já me

haviam, falado do Jorge Pitu, eu havia dispensado o Milton devido

incompatibilidade de estilo, ele era “muito moderno” misturava chiclete com

banana, então fui lá para observa-lo, ele estava Orlando cego do trobone de

pisto e maninho na flata, tocava nas escola de dança. Depois chegou o zuza,

um grande imitador do Benedito Lacerda. Ai percebi que ele era bom demais,

eu disse a primeira vez que tiver uma chance eu vou leva-lo. Peguei o

endereço na Penha, quando fui procura-lo ele estava na Figueira de melo em

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bonssucesso...entrei nos botecos e fui procurando encontrei uma mulher

debaixo de um pé de Jamelão, encontreio vestido de cuecas bebendo umas

cervejas, vim atrás de vc para que esteja as seis horas na radio Mauá. Pegue

sua melhor roupa. Estou trabalahndo numa fabrica de papelão. Quatro horas

ele já estava esperando. Não tinha violão. No regional o instrumento era meu.

O Freitas cearense alegre logo chegou, apresentei o Jorge, que no inicio não

levou muito a sério o Jorge. Não queria levar o violão,,,vai ter que entrar aqui

sem beber,,dizia eu só bebo pura. Disse ele esta acostumado a tocar sozinho,

passou uns 20 dias o cara desenvolveu, o Freitas me chamou o cara é

diferente,,,o pinguim logo percebeu. O cara não imita ninguém é tão bom

quanto o Dino e o Darly.

Ouvindo o programa do Ary barroso, calouros do Ary, apareceu o bandolinista

Jacozinho que ganhou o premio conquistando o primeiro lugar. Gostei e

comentei com Freitas, que o conhecia e sabia onde morava, morava em

marachal Hermes, pele dica que deu fui nos botecos procurei os endereços até

encontrar o Jacozinho.disse que era o Pernambuco ele veio correndo, tenho

um amigo o Freitas.

A troca do nome Josevandro Pires de Carvalho, eu botei Evandro e seu

bandolim, o próprio Jacó me parabenizou.

Logo em seguida entrou o Artur Ataide não ficou muito tempo no

conjunto....fiquei sabendo por meio do Freitas de um Flautista capixaba me

disse que Carlos Poyares estava tocando no Regional de Mauricio de Oliveira.

Já havia conhecido poyares em 1945, fui com Manoel Barcelos em vitoria

comandando a caravana da tupy com um cast excepcional acompanhado pelo

regional do Rogerio Guimarães do qual eu fazia parte, em um parque de

diversão, ficamos cinco dias em vitoria, ele era conhecido como “Pixinguinha”

apelido segundo ele dado pela cantora Horacina Correia, fiz amizade com ele.

Anos depois seu irmão sargento Iran disse que ele queria vir para o rio, avisou

ao Freitas, comunicamos com ele, ele se predipos, comprei uma passagem no

Page 63: Brasilpandeir Oyy 1

aeroporto santos dumunt, na semana seguinte já estava entrosado com o

Evandro e o Toninho.

Fomos para São Paulo a convite de Paulo machado de carvalho – 1952, por

sugestão de carmelia Alves, me viu tocando na boate meninão com carmelia

Alves, eu, Menezes, e Nascimento chamado de Jimmy Lester marido de

carmelia que tocava contra baixo. Me convidou a fazer uma temporada na

Record.

Antonio rago – regional dirigido por um pandeirista

Santana – tinha um regional na radio bandeirantes, disse o que??? vai La pra

ver...quando viu pela TV o que fazíamos....

Os cantores queriam cantar acompanhados por nós, mas Paulo |Machado de

Carvalho proibiu

O Toninho foi seduzido pelo esmeraldino Sales a ficar no regional do Rago,

que tinham perdido o Oralndo Silveira,que tinha sido convencido pelo Luis

Gonzaga a ir para o Rio.

Convidei hildebrando do acordeom, Reginaldo Caçulinha tocava cavaquinho

estudava piano e acordeoan com orlando Silveira com três meses já estava

muito bom, ficou uns oito meses, virou um virtuose, tinha treze anos,

saiu...muito bom

Entrou Edinho muito bom

Zé neto que tocava Arlindo facão, chefe do conjunto, onde tocava toco- preto,

Loró- Furou dos funcionários da tupy, que tinha me convidadado ( Rogerio

Guimarães) eu não quis furar a grave, como eu era sindicalizado.

9. HERMETO PASCOAL NO REGIONAL DE PERNAMBUCO

Tenho um irmÕ QUE TOCA DEZ VEZ MAIS QUE EU

TOCA NA RADIO DIFUSORA DE CARUARU

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ESTA INDA PRA RADIO JORNAL DO COMERCIO DE RECIFE PARA O

LUGAR DO GAUCHO, QUE NO FUTURO PASSOU A CHAMAR PITY

THOMAS.

O ACORDIONISTA EDINHO TEVE UMA DESAVENÇA COM O ABELARDO

CHACRINHA, TELEVISÃO NÃO PAGAVA CACHÊ

AI PROCUREI O HERMETO PASCHOAL, QUE EU JÁ TINHA CONHECIDO

EM PERNAMBUCO FUI APRESENTADO PELO MARIO BABÃO,JAZZ BAND

OS ACADEMICOS, AQUI TEM UM ACORDISTA ELE

A PRIMEIRA VAGA QUE TIVER NO CONJUNTO VENHO TE BUSCAR

JÁ ESTAVA NA RADIO TABAJARA

A CARTA CHEGOU EM RECIFE ELES MANDARAM PARA JOAO PESSOA

ELE RECEBEU A CARTA ABRIU ESTAVA O TELEGRAMA

“HERMETO VENHA QUE O LUGAR É SEU”

POYARES HAVIA VOLTADO PARA ESPIRITO SANTO POR SAUDADE DA

SEHORA DELE

MANUEL GOMES FLAUTISTA, TINHA PROCURADO EM TODOS OS

LUGARES, F TINHA UM IRMÃO NO CORPO DE BOMBEIRO ME DEU TODO

ATENÇAO, ELE ESTAVA MORANDO NA CASA DELE, TOCOU MUITO

TEMPO COM O MANUEL, UM IMPROVIZADOR, MUITO HUMILDE, VC VAI

FAZER UM TERNO AMANHA.

CHAMA AYR MOREIRA

CHAMA DR PAULO NUNES VIEIRA, GOSTA DO CUIDADO VIOLÃO

ESFREGAVA AS MÃOS COM UM LAPIS NA MÃO E DIZIA ESSA COISA NÃO

É DESSE MUNDO

ME PEDIREM ATÉ POR FAVOR

O COMENTARIO COMEÇOU NO PONTO

O ORLANDO SILVEIRA OUVIU ME ENCONTROU NO PONTO

VC AGORA ESTA COM UM COLEGA QUE FAZ INVEJA EM MUITA GENTE

FIQUEI ENCANTADO COM A HARMONIZAÇÃO

10. A ALTA MALANDRAGEM

Tive a oportunidade de conhecer a alta malandragem da Lapa. O malandro não era

Eram ótimos dançarinos, sedutores, conquistavam as mulheres e botavam-nas na

Page 65: Brasilpandeir Oyy 1

prostituição, era sustentados por elas ou pelo vício do jogo. Os mais famosos era o

Meia – Noite, andava sempre com um chapéu de aba arga

Botavam pra trabalhar na prostituição

MAIA NOITE – ALTO, chapéu de aba larga, bonito, vivia de kaften, era respeitado ,

nos cabarés, quando chegava a orquesta parava, tina uma psitola se não

parasse.....não brigava na mão. O dono politicamente não gostava que a policia

intervinha pegava mal para o cabaret.

Edgard, forte, mal encarado, chapéu, secretario do meia noite, ficava como guarda

noite. Tabariz, Novo México, o porteiro era chamado de Boi, parecia um paredão,

sabia conversar, e tinha força.

MIGUELZINHO – Calmo, educado, tranqüilo, se era provocado, procurava evitar a

briga, amigo de crianças. Antes de morrer se transformou em guarda portuário,

conheci em 1938, quando fazia os encontros quando a Truma animada do morro de

Santo Antonio, tocava numa roda de choro e samba no boteco Passatempo esquina

da rua Rezende com Lavradio. Botava todo mundo em silencio. Dona Hosana que

tinha casa de reuniões, na rua do lavradio, freqüentada por todos os malandros que

vivia de cafetinagem, volta e meia saia um briga de dois malandros, iam para o meio

da rua, sempre na mão. Camarão, Toninho, Mario Maluco. Tinha filhos e filhas todos

respeitados, as filhas se casaram com gente de bem. Campo de Santana ou na

praça onze,,,sem armas.

Blindado e mergulhão, dois estivadores, duas montanhas, paraibano e cearensa, os

cavalarias faziam um fuxico , e botavam os dois para brigar, brigavam, começa na

lapa e terminava na gloria, o mergulhão derrubou um cavalariça...

Miguelzinho – o maior capoeira da lapa, os malandros escolhiam...uma dançava no

clube fenianos, quando um policial da policia especial foi recusado por uma dama.

Começou a desacatar um pacato diretor do clube de um bofetão, chamou

miguelzinho, procurou conversar, foi levando ela para escadaria, deu uma cabeçada,

e ele desceu de cara na escadaria...

Foi para o quartel e veio o reforço, e perguntou cadê o cara, ai prendeu todo mundo,

outro dia toda dia com a boca da calça amarrada, tinham dado purgante , e botaram

eles para limpar o morro na enxada....perto de um tiro ao alvo onde eu trabalhava,

um deles foi La tomar água, me um telefone de um parente general, ai o general e

mandou soltou. Foi só um que me bateu.....

Page 66: Brasilpandeir Oyy 1

Comandante Queirós escreveu um bilhete e entregou para o velho Canuto,

miguelzinho foi, chegando lá. É esse mesmo, conta a historia, miguelzinho contou

tudo e não foi isso mesmo, naquele clube indescente,,,,clube dos fenianos ficava na

rua Evaristo da Veiga.

Chamou um gaucho e um catarinense e foi para o campo de basquete, e fazia

uns bicos na cantina do seu Elídio(forte andava com uma camisa de meia

para mostrar a couraça) irmão do domingos (Bangu), Médio (flamengo) e do

Ladislau(botafogo) da Guia, célebres jogadores de futebol. Contaram para

ELidio que iria haver um pega, eu tinha passagem livre, entrei e

assisti,,,,pegaram o produto da amazonas(borralha), mas não precisa de dois

homens.

Me chamou pra isso... Miguel usava um chinelo charlot, qdo chegou no pátio, estava

com uma calça curta, camisa de seda, tirou , uma ponta da borracha, pegou e

derrotou... Comandante o senhor desmoraliza seus soldados, poderia ter dado um

tiro....’’se existe uma serra tem outras serras’’

A morte do Miguelzinho – Gravatinha, no morro de Santo Cristo perto do Morro da

Favela.

Nelson gonçalves nocauteou miguelzinho

..................................................................................................................................

Quando prenderam o Prestes ( largo da carioca – frente pra cidade e as costas para

o morro)

....vc é comunista

Dizia eu sou

A batiam nele de soco, ouvi ele responder umas três vezes, depois passava por lá,

tinha assistido três comícios, em mangueira, na lapa, no catete)

O xadrez ficava encostado na rua do morro, que era possível ver o movimento....

11. CARREIRA INTERNACIONAL

AS VIAGENS PARA A ARGENTINA E URUGUAI ACOMPANHANDO A CANTORA

CARMELIA ALVES

CHIQUINHO

MENESES E NASCIMENTO, MARIDO DE CARMÉLIA.

EU TOCAVA ZABUMBA E PANDEIRO

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ELA CANTAVA SAMBA E BAIÃO, E TOCAVA UM AFOXE DENTRO DOS

CONFORME

CHIQUINHO – ROMEU SEIBEL – GAUCHO – UM DOS MELHORES MUSICOS

QUE VI

JOSE MENEZES –

RADAMÉS DIZIA QUE ERAMOS O TRIO MAIS ENTROSADO QUE ELE TIMHA

VISTO

MENEZES NÃO FOI PARA O URUGUAI, O PAINISTA ROBERTO INGLES PEDIU A

NASCIMENTO PARA EU GRAVAR COM ELE NA TELEVISÃO BELGRANO, ELE

NÃO AUTORIZOU MENEZES INTERCEDEU A MEU FAVOR, E NÃO QUIS SEGU

IR PARA O URUGUAI

ATUAVAMOS EM TRES BOATES POR NOITE

CARMELIA CA NTANDO

O TRIO

EU SOZINHO FAZENDO MALABARISMO

LEMBRAVA DOS CONSELHOS DO JOÃO DA BAHIANA

TINHA LUGAR QUE AGRADÁVAMOS MAIS, O CRONICA ARGENTINA DIZIA O

TRIO PESA UM KILO. TOCAVAMOS EM TRES BOATES – BOATE GONGO – NA

AVENIDA CÓRDOBA – E NA TV BELGRANO – RFECEBI PROPOSTAS DO

DONODA BOATE

PARA AGUENTAR O ROJÃO CUIDAVA DO PREPARO FISICO, REMAVA E

NADAVA MUITO, TREINAVA BOXE NA POLICIA ESPECIAL.

NO URUGUAI

FIAMOS UNS TRINTA DIAS NO URUGUAI, CARM´LEA TEVE QUE MANDAR

BUSCAR A DONA ADA, MULHER DE CHIQUINHO QUE ESTÁVAM

PRATICAMENTE EM LUA. MULHER DE FINO TRATO E EDUCAÇÃO ESMERADA,

DIGNA DE CHIQUINHO QUE TAMBEM ERA UM CAVALHEIRO.

O REGIONAL FICAVA SOB A DIREÇÃO DE JORGE CHARUTO, NO PANDEIRO

MEU SUBSTITUTO ERA O MINEIRINHO ERA MEU SUBTITUTO DE CONFIANÇA.

EM 1955 TOQUEI AO LADO DE LOUIS ARMSTRONG NA BOATE DO HOTEL

SERRADOR, FIZ UM QUADRO DE MALABARISMO COM A AQUARELA DO

BRASIL, DEU

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UMA GARAFA DE CACHAÇA ELE DISSE VERRY GOOD,TOMOU QUASE MEIA

GARRAFA, QUASE DESMANCHOU O PISTON NA HORA DO SHOW

TOQUEI COM CARMELIA EM HAMBURGO NA ALEMANHA, 1956, AINDA PUDE

PERCEBER OS SINAIS DA GUERRA;

LUIS GAÚCHO – ACORDEON –

DUILIO – DE GUITARRA E CAVAQUINHO – ERA DE SÃO PAULO VEIO PARA O

RIO PARA TOCAR COM O ALTAMIRO

LUGAR DE COMIDA RUIM, CHOPP COM CHUCRUTE

ENCONTREI COM O FILHO DO DONO GALERIA PAULISTA QUE ESTAVA

ESTUDANDO NA ALEMANHA, ME RECONHECEU, ME CONVIDOU PARA UNS

BIFES, DE CAVALO, ESTAVAMOSNO TEATRO SAINT PAULI

JÁ EXISTIA O BRASILEIRINHO – DUILIO SOLANDO E O GAUCHO

HARMONIZANDO;

PASSAMOS PELA FRANÇA A CARMÉLIA NÃO QUIS APRESENTAR NO MOULAN

ROUGE. Trabalhamos no NORTE DE PORTUGAL, UMA REVISTA PORTUGUESA

SEXO ILUSTRADO, FEZ UMA REPORTAGEM COM FOTOS DE VÁRIOS

ANGULOS. FICAMOS UM ANO E MEIO EM PORTUGAL, SEM VIR AO BRASIL.

VIM PARA O BRASIL NO NAVIO VERA CRUZ, DE TERCEIRA, O COMANDANTE

TOCAVA CAVAQUINHO. (LUIS LAVIA GUERRA – O GAUCHO.) FIZ UM SHOW

NO TEATRO DO NAVIO, O CAMANDANTE QUERIA ME COLOCAR NA PRIMEIRA

CLASSE

12. CARAVANA OFICIAL DA MPB

HUMBERTO TEIXEIRA, ME DISSE EM HAMBURGO, QUE IRIA ASSUMIR UMA

CADEIRA DE DEP FEDERAL, FAZER UMA VOLTA AO MUNDO

SIVUCA

ABEL FERREIRA

GUIO DE MORAES

DIMAS NA BATERIA

TRIO IRAKTAN

ENSAIAR DOIS MESES NA RADIO MEC

COMEÇAOS EM LONDRES, QUEM FOI FLORA ROBSON, ATRIZ DO FILME

MORRO DOS VENTOS UIVANTES, FICOU ENTUSIAMADA COM O

BRASILEIRINHO.

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APRESNTAMOS NO OLIMPIA, COM EDITH DE PIAFF.. E UM GRANDE ELENCO.

ERA TRINTA DIAS TRABALHOS MAIS QUINZE DIAS. SIVUCA FOI MEU

COMPANHEIRO VOU PAGAR A DIFERENÇA, FICAVA CONTANDO MOEDAS A

NOITE INTEIRA, RATO BRANCO, GATO RUÇO.

PIAFF FICAVA ATRAS DAS CORTINHAS PARA ASSISTIR O SHOW, FICAVA

AGRITANDO BRAVO, BRAVO, BRAVO

FICAMOS UM MES NA BÉLGICA NO PAVILHÃO DO BRASIL NA FEIRA

INTERNACIONAL DE BRUXELAS. COMO O TRIO IRAKTAN TINHA TREMENDO

SUCESSO EM PORTUGAL FIZEMOS UMA TEMPORADA EM PORTUGAL

UMA TEMPORADA DE 45 DIAS NO CINE SÃO LUIS, COM COBERTURA DE

RADIO, JORNAL E TELEVISÃO.

12.PESSOAS INFLUENTES NA FASE CARIOCA:

1 – MAESTRO GUIO DE MORAES.

OS MUSICOS NÃO QUERIAM TOCAR AO ARRANJOS DELE, ULTRA MODERNO,

TOCAVA, GUITARRA, E CAVAQUINHO E PIANO, UMA MUSICALIDADE COMO

COMPOSITOR INCOMUM, (MEU BODOCÓ)...PERNAMBUCANO QUE NEM EU,

GRANDALHÂO, SER IRMÃO BOLINHA UM VIRTUOSE, TOCAVA NO CONJUNTO

ESCOLA DE RITMO ( GUIO DE MORAES, EDGARD NA BATERIA, EBÉR

GUIMAR~ES, PEDROCA NO PISTON, ALONSO NO CONTRA – BAIXO FOI

PRESIDENTE DA ORDEM DOS MUSICOS DO DF, MENESES NA GUITARRA,

ABEL FERREIRA – DEPOIS QUE RATINHO MORREU PASSOU TOCAR SAX

SOPRANO).

2 – SEVERINO ARAÚJO:]

PERNAMBUCANO DE LIMOEIRO, TERRA DE CHICO HERACLITO, FORMOU A

ORQUESTRA TABAJARA EM JOÃO NA RADIO TABAJARA, COM OSIRMÃOS, ZÉ

BODEGA – SAZ TENOR, JOSÉ MANUAL – TROBONE, JAYME NO CLARINETE E

SAX ALTO, PLINIO PISTONISTA E BATERISTA, MAIOR ORQUESTRA QUE VI NA

MINHA VIDA, BOTOU O TOMMY DORSEY PRA CORRER EM 1944 O ASSIS

CHATEUBRIAND TROUXE-O , FOI DITO PELO PROPRIO DORSEY A

CAPACIDADE DE SEVERINO COMO ARRANJADOR. TOCAVA

PROFISSIONALMENTE EM ORQUESTRA, MAS SEMPRE PREFERI REGIONAL.

SEMPRE O PROCURAVA PARA FAZER ARRANJOS.

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3 – RADAMÉS GNATALLI:

VC FALA MUITO DO PERRONE, BATERRISTA PRA CINEMA, MAS PRECISA VER

O PERNAMBUCO, ELE VIU EU, GAROTO, CHIQUINHO, E MENEZES, O TRIO

MAIS ENTROSADO QUE JÁ VI.

4 – ELEAZAR DE CARVALHO

GRANDE MAESTRO, PROCUROU COM ZACCARIAS UM RITIMISTA FUI

INDICADO, FUI TOCAR NO MUNICIPAL, FUI APALUDIDO , FUI O PRIMEIRO

PANDEIRISTA A TOCAR NO MUNICIPAL COM ORQUESTRA SINFONICA FUI

TOCAR DOIS CHOROS- PERNAMBUCO DO PANDEIRO E BARRÃO DAS CAB

ROCHAS.

5- FRANCISCO MIGNONE

“FUI CONVIDADO PARA TOCAR ‘canta Brasil” com a orquestra da globo, ele

tocava somente musicas clássica.

6 – MAESTRO GAÓ.

Na baixa do sapateiro.

7 - GAROTO

FUI CONVIDADO PARA GRVAR COM GAROTO, EXIGIU EU OU RISADINHA, O

MARTINS DECIDIU EM MEU FAVOR, GRAVEI SÃO PAULO QUATROCENTÃO

FALEI QUE ELE IA FICAR RICO COM ELA...ERA DESPECEBIDO ESQUECIA DE

PEGAR DINHEIRO PRA TAXI, GAROTO ERA CASADO COM UMA MULATA E FOI

MUITO DISCRIMINADA NOS ESTADOS, O PINGO ( ARREGIMENTADOR) TINHA

MUITO INTIMIDADE COM GAROTO – MORTE COM OVERDOSE, ERA UM

SUJEITO UNGIDO POR DEUS, MUITO HUMILDE (Mussampeiro e cristancho =

Dilermando reis), o garoto compunha ninguem...

8 – Baden Powell

Cria do Meira, já muito jovem, assustava todo mundo, tentei colocar um apelido nele

de mogli, o menino lobo, gravei com ele na continental, onde tinha um técnico

fabuloso , um mulatão forte, um gênio na técnica o Lourival Reis.

10 – Silvio Caldas.

Poldra – parceira – esquipadora – ritimista – converso com ela

Armazém de seu Matias Donato

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Vi e ouvi um gramofone Silvio caldas e o regional do luis americano

Deu cordas, baiano, rancho fundo, musica do inferno

Acompanhei-o pelo regional de Claudionor no copacabana palace, em várias

gravações. O canhoto chamava-o de titio, passei chamar também, ele gostava que

chamasse. A interpretação incomparável, nas serestas, acompanhado por Nei

Orestes e Carlos Lentine que morreu na Argentina com uma pneumonia galopante,

Meira entrou no lugar e depois Dino entrou no lugar de Lentine e Canhoto.

11 – Orlando Silva- brincava com ele, um pandeiro com surdina pra tocar com o filho

da dona balbinha. Pernambuco vc é um poeta...vicio de morfina...Amigo Leal

12 – Chico Alves – queria que eu tocasse ganzá, exigente nas gravações, só

gravava o que ele gostasse, tinha personalidade, nasceu na rua da prainha no bairro

da gamboa no meio da alta da malandragem bem encostado no Pedro segundo.

Foi padrinho de muitos cantores, incluisive de orlando silva

Pediu ao erivelto pra fazer um samba de “agradecimento:”

DEPOIS QUE VC ESTA NO APOGEU

Esqueceu o maior amigo seu

Mais se vc fracassar

Podes me procurar

Que o pouquinho que eu tenho

Chega também pra vc

A vida tem duas escadas

Uma escada e a outra que desce

Quem esta em cima

De quem em baixo se esquece

Cuidado amigo

Que o destino é bem cruel

Essa vida é um teatro

Cada qual tem seu papel. Encomendado pra erivelto e marino pinto

O Chico ficou numa situação muito desconcertante na relação do erivelto e Dalva,

por que era amigo dos dois,e com certeza sofreu muito com aquela situação.

12 - Alcides Gerardi

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Era pra ser o padrinho da minha filha, não por que separou da Baiana, esteve

comigo nas minhas horas mais difíceis, ele o João Tomé, quando sai da cadeia ela

veio até Brasília , João Tomé colocou dinheiro debaixo da toalha. Ele me livrou de ir

pra Italia, levei uma meia dúzia de cubanos, sargento Lima, você é um músico que

precisa ficar aqui....fui La jurar a bandeira e adeus ao Coló ( saindo da jogada)

13 – Lupiscinio Rodrigues

Foi um amor a primeira vista, chamávamos de Lu. Era muito bajulado quando

chegava no rio, tudo que fazia era sucesso, muito boa praça. Tem composições

como cigano uma gravação magistral do meu amigo Moreira da Silva que teve

oportunidade de mostrar que era um interprete fenomenal, acompanhado pelo

regional de Claudionor . Lu era simples gostava de se relacionar com músicos, vinha

para assistir as gravações, gostava muito de tomar um uísque de marca balantines

14 – Nelson Cavaquinho:

Historia do cavalo que o Cartola conta nelson no buraco quente. Formou uma dupla

perfeita com o Guilherme de Brito. MUITO humide, vendia musica, tocava bem

cavaquinho, tocava violão com dois dedos, uma harmonização e frases melódicas

inovadoras. Convivi com ele e tocava m um boteco onde eu morava na Penha, ele

me chamava quando eu passava. Uma vez passava na rua cuba encontrei Nelson

em um botequim, ai falei pra ele que iria ser considerado somente depois de sua

morte. Guilherme era um cara serio não gostava de vender musica. Só vão te dar

valor quando voce morrer, ai o Nelson escreveu o “Depois Que eu Me Chamar

Saudade” fui o incentivador de acordo com o depoimento de Mario Alves ex

integrante do trio nagô. Bebia muito e não caia

3ª PARTE. MINHA VIDA EM BRASÍLIA

1. O CONVITE DE JK

Tocava com muitos políticos

Getulio Vargas (ABEL, MENEZES) TOCAMOS EM SÃO BORJA em 1943

ONDE ABEL TOCOU EM PRIMEIRA AUDIÇÃO “UMA NOITE EM SÃO

BORJA”,

O grupo foi organizado pela própria radio nacional, dirigido por Abel ferreira

Um show dançante

A alta política brasileira.

Page 73: Brasilpandeir Oyy 1

Toquei profissionalmente na campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes, e

pedido do radialista Carlos Frias locutor da radio nacional, que era o chefe da

caravana do brigadeiro, embora sempre fui um simpatizante da esquerda, o

conjunto era formado por mim e o violonista Temistócles Araújo, chegando

nas cidades procurávamos músicos na s cidades que podiam tocar conosco.

MIRO em Uberlândia, musico queme deu a inspirancia pra compor meu

grande sucesso que foi o baião Delirando, Em Uberaba, João Tomé,

recomendado por Abel Ferreria, que por sinal era um grande músico, um dos

melhores músicos que conheci, que depois tornou-se meu grande amigo em

Brasília.

ADEMILDE – PERNAMBUQUINHO VAI DORMIR – PAULO BOB QUE

IMITAVA BOB NELSON

Fui várias vezes tocar na casa de Tenório Cavalcante em Caxias. Tenórioo

era apaixonado por choro e quando havia festa em sua casa mandava um

recado pelo Paulo Nunes, então diretor da Radio Mauá, e sempre fomos bem

acolhidos por ele.

Juscelino qdo assumiu o governo de minas fomos propriamente inaugurar a

casa do baile na Pampulha, local de reunião social de JK

Carmelia Alves, rainha do baião, ( que país é esse), com um conjunto

formado por Chiquinho, Meneses, eu, e Nascimento.

JK GOSTOU MUITO das minhas exibições

Ma ocasião de caravana Humberto Teixeira, encontrei de novo com JK que

me reconheceu de prontidão

Depois que voltei da Europa que voltei da Europa sempre me chamava, na

residência das laranjeiras, iam lá com freqüência a mimm, erivelto, grande

Otelo, Sergio Cabral um grande, ou talvez o maior divulgador da musica

brasileira.

Ele me dispensou de tocar o “peixe vivo” pode tocar o que vocês quiserem, já

estava de saco cheio do peixe vivo, já agüentava mais, onde ele ia tinha que

escutar o peixe vivo. Juscelino não era bobo pediu que tocasse

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Pixinguixinha. Numa ocasião uma das filhas de JK perguntou se o Hermeto

era o Sivuca, ele era chucro, fechou a cara e disse eu sou o Hermeto

Pascoal.

Tocava nos aniversários das filhas, foi quando já tínhamos intimidade ele me

convidou para ir para Brasília, seu pedido é uma ordem. Ele ordenou a Mario

Pires a minha transferência da Radio para Radio Nacional.

Fiz o convite para os membros do regional. O ubiratam era telefonista na

aeronáutica não se predispôs a vir, coloquei Gaspar no cavaquinho, e

restante todos gostaram da idéia, por que o Juscelino prometeu um emprego

para todos os músicos fora da musica.

Eu trouxe um conjunto com a seguinte formação Jorge charuto, darly, Manoel,

Gaspar, o Hermeto tinha um contrato com o Copinha na Copacabana palace

assim que terminasse ele viria.

Chegando aqui o senhor Adelchi Ziler, antigo diretor da radio inconfidência de

belo horizonte, que passou ser o diretor geral da radio nacional de Brasília,

( meu cunhado, o saudoso Fernando Salsides, era técnico de som da radio

nacional do Rio, passou quatro meses em Brasília montando o instrumental

técnico da radio nacional, o disco que ele usava para testar o som da radio

era No Meu Brasil Era Assim, disco do regional de Pernambuco do pandeiro,

gravado na Copacabana, em 1952, e que depois, Miudinho antigo músico de

Luis Gonzaga, e que passou a ser discotecário daquela emissora, me afirmou

que aquele disco tinha sumido e ele encontrou com o carimbo de entrada no

acervo adulterado)

Fui procura-lo, vim de ônibus, demoramos 2 dias para chegar aqui, Brasília

era um imenso canteiro de obras, muita poeira e nenhum conforto

Fui direto pra radio nacional, fiquei esperando três horas ate que ele chegou,

dizendo assim, Pernambuco, seu conjunto é muito caro, era pra ter um

alojamento, ele disse atualmente isso é impossível, Paulo Nunes já havia me

dito que o Ziller é enrolado.

Não propôs nenhuma contra proposta, minha salvação foi o Sergio aluno do

meu cunhado, ele me ofereceu um apartamento onde ele estava, numa

invasãonão tinha condição de moradia apesar da boa vontade do Sergio,

ficamos dormindo no chão, eu tinha trazido seis cobertores, uns quatro

Page 75: Brasilpandeir Oyy 1

dias...um policia da GEB ouviu a gente ensaiar bateram na porta, um sargento

que conhecia o Darli.

Sargento Murilo afroxou a guarda e pudemos colocar camas colchões e

lençóis, tirado do acampamento do banco do Brasil, permitido pelo dr.

Geraldo Carneiro, ( Já o conhecia na rádio Mauá, fui procurar, vendo naquela

situação).

O pessoal do conjunto tinha saído tomar umas e outras e depois jantar no gtb

(TINHA UM BARATO DE UM CARO), era um restaurante popular que tinha

duas categorias, comia quase de graça...ficava(? 513 OU 514) tinha DOIS

COMODOS.

QUANDO CHEGARAM ASSUSTARAM COM OS MÓVEIS. EU TINHA

TRAZIDO UM DINHEIRO QUE GANHARA NA EXCURSÃO QUE FIZ COM

OS BRASILEIROS NA EUROPA, E BANQUEI O SUSTENTO DO

CONJUNTO.

JOSE AUGUSTO DA CRUZ VITÓRIA, RESPONSÁVEL PELA DIVISÃO

PATRIMONIAL DO NOVA CAP, SABENDO QUE EU ESTAVA NA 310, ME

DEU UMA BRONCA POR QUE EU NÃO O PROCUREI, VOU FALAR COM

DR ERNESTO SILVA, PRESIDENTE DA NOVACAP, E TENHO CERTEZA

QUE ELE VAI RESOLVER SEU PROBLEMA.

ERNESTO ORDENOU QUE LEVASSE TODOS E DESSE O CARGO

CONFORME A CONDIÇÃO DE CADA UM.

E NOMEOU TODOS OS MEBROS DO CONJUNTO COMO FISCAIS, ERA O

QUE JUSCelino tinha prometido.

((((((o ziler não teve mais contato comigo, a radio tinha dois conjuntos de joão

tomé e os ceguinhos, gilson (piano), valter (bateria) , china(acodeon), joão

tomé (guitarra), e os não cegos pedroca (pistão) e alagoano (conta baixo).

e uma orquestra dirigida por kolman, que tocava anteriormente na pampulha,

e lá fez amizade com dona sara e juscelino e tocava as músicas que dona

sara gostava com seu sax tenor muito quadrado por sinal. vi que não tinha

espaço para mim na radio nacional.))))))))

Page 76: Brasilpandeir Oyy 1

ai fomos morar no do ré mi, era um alojamento para funcionarios qualificados

e visitantes, a origem do nome foi devido que seus primeiros hospedes foi

uma orquestra que fez uma apresentação publica.

era tudo de madeira , mas muito bem feito, tinha dez blocos cada um com

vinte suites muito confortáveis.

havia uma cantina muito especial com comida muito bem feita e barata.

ficamos morando de maio a julho, tocamos na cantina mas carioca no cerrado

não fica contente, e resolveram ir embora, muito contrariados, e imploraram

que eu fosse juntos.

eram músicos que tinham espaço em qualquer lugar e voltaram para o rio,

embora careciam de uma liderança forte por que boa parte dos músicos

daquela época as vezes bebiam muito e não se preocupavam

profissionalmente.

o jorge voltou arrumaram um emprego pra ele no gama como vigia de obra,

ele apareceu certa vez me pedindo um violão emprestado, emprestei e perdi o

contato, ai ele entrou de vez no alcoolismo, morreu e foi enterrado como indigente. o

darli tinha bons contatos e era multi instrumentista, segui sua carreira, sendo levado

pela cirrose hepática. o gaspar não tive mais notícias, não se firmou no cenario

profissional musical.

não voltei por que se voltasse eu me sentiria um derrotado, e acreditava no sonho

de brasília,

ali era o futuro para minha família, já havia tocado nos melhores lugares do pais, já

tinha uma carreira profissional, liderava um conjunto de sucesso, mas não tinha

conseguido um segurança financeira para dar aos meus dois filhos uma vida digna,

por isso abri mão dos palcos e enfrentei a poeira dos cerrados.

parei de ser musico e abracei a carreira de fiscal de edificações tomando conta do

relógio de ponto, trabalhando como fiscal, até 1961

houve a eleição de 1961, mudou o comando de todos os cargos de confiança. fúlvio

machado ficou no lugar de josé augusto, me entrevistou e gostou da minha maneira

de proceder e me tornou um homem de sua inteira confiança, me nomeando como

chefe da segurança do do re mi.

Page 77: Brasilpandeir Oyy 1

foi dizendo eu já sei que as irregularidades daqui é um nojo, e vi que você tem

experiência com comando, eu quero moralizar isso.

as ordens, não deixar ninguém namorando dentro de carro

não permitir orgias dentro das suítes

havia um rapaz, filho de general e sobrinho de embaixador, que tinha uma conduta

que contrariava o padrão moral que o dr. fulvio machado queria estabelecer no do re

mi, andava nu corredor dizando palavras de baixo calão, humilhando na calada da

noite as pessoas de bem que moravam naquele recinto.

ele estava mantendo relações sexuais com uma professora que morava no bloco,

dentro de uma kombi, falei para ele as ordens que tinha recebido, mas ele disse que

ele mesmo fazia as ordens e que esse dr, fúlvio não tinha nenhuma autoridade pra

ele. no outro dia fui falar com dr. fulvio e ele me pediu por escrito, e passava volta e

meia por la, mas não pegava ninguém em flagrante.

os próprios moradores do do re mi, queixaram da conduta do rapaz para o dr.

fúlvio,no entanto, ninguém tomou nenhuma providencia, deixando que a ordem

ficasse exclusivamente sob minha responsabilidade.

dias depois dois moradores do bloco, me advertiram que havia alguém que iria

quebrar a minha cara. já que as autoridades superiores a mim não tomavam

providencias, eu fui até uma delegacia de policia, conduzida pelo delegado paes

leme, ficando registrado em livro, mas mesmo assim ninguém tomou nenhuma

atitude.

passava na kombi e me provocava, por diversas vezes , até que uma noite o vigia do

bloco que morava a namorada dele foi me avisar que ele estava no bloco da

namorada dele. ai fui de encontro a ele. ele partiu pra cima de mim , um homem com

mais 1,80, e dizendo ofensas que recuso a dizer aqui, como fiscal de ordem eu tinha

que andar armado, e fiz uso da arma para me defender.

depois de três dias me apresentei por livre e expontanea vontade na delegacia da

vila planalto, onde já havia feito a queixa. quando me apresentei o escrivão cléber,

meu vizinho, inclui a queixa que eu havia registrado, e que me ajudou muito. o

delgado paes leme quando soube que soube que havia entregado disse-me: “gostei

da sua hombridade”, e não quis fechar a porta da cela, só fechou depois que entrou

outros presos. o dr. paes leme fez uma investigação exemplar chegando a dizer que:

“no do re mi só encontrei irregularidades e desmoralizações!”

Page 78: Brasilpandeir Oyy 1

um jornal da época, que hoje não existe mais, publicou uma série de artigos

assinado por um jornalista casado com uma prima do dito cujo, em que me colocou

como um chefe de gang e um pistoleiro frio. e continuou durante semanas e

semanas com artigos caluniosos, inclusive fazendo uma reconstituição

absulutamente mentirosa, na tentativa de me desmoralizar e em conseqüência

provocar uma condenação injusta.

esses artigos caíram nas mãos de paulo nunes, meu antigo diretor da radio

mauá,que imediatamente do rio para brasília, procurou o jornalista que publicou

aquelas inverdades e disse a ele para parar com aquilo, sou um homem de

confiança de jk, e você sabe que mesmo ele fora do poder ainda manda em brasília.

paulo nunes avisou a jk que imediatemente ordeou que procurasse o dr. edson

guimarães tolentino, irmão de dona risoleta neves, e sua esposa dra, sara tolentino,

que fizeram toda minha defesa sem cobrar um tostão sequer.

dias foram se passando passei um ano e meio no presídio e na véspera do

julgamento esse mesmo jornalista, fez um artigo fazendo uma espécie de retratação.

no julgamento o promotor entrou me acusando dizendo, eu conheço o acusado, ele

esteve em minha terra, piauí, e o conheci tocando, gosto dele, sou fã dele, mas tem

um detalhe, por detrás dessa barba pode ser um castrino. ai o dr. edson replicou

dizendo que jesus usava barba, e o promotor retirou imediatamente o que disse. o

resultado foi 6 a 1.

o promotor abriu mão da réplica, e não entrou com recurso dando o caso por

encerrado. esperei cinco dias na prisão para pegar o alvará de soltura.

convivencia na prisão

na delegacia da vila planalto fiquei por duas semanas, sendo transferido para o

presidio da velha cap, no depósito de presos. um galpão onde os presos ficavam

amontoados, chegando a dormir dois no mesmo beliche, e muitos dormiam no chão.

como eu era muito querido e o chefe de policia me conheceu em são paulo, coronel

jayme santos, me conheceu em são paulo na record, , avisou que iria me visitar na

prisão isso influenciou a construção de um novo deposito de presos na torre.

no deposito da velha tinha um chefão por nome “marujinho”, eu o conheci garoto na

penha circular. quando eu cheguei no presidio com o pandeiro, ele me recebeu,

Page 79: Brasilpandeir Oyy 1

relembrando os locais onde tinhamos encontrado. esse aqui me conheceu garoto e

logo arranjou uma cama para mim. na primeira noite , no frio de julho me botaram

numa solitaria sem cobertor e nem nada, no meio da noite, haraldo que era musico,

trabalhava nalavanderia, me levou uma toalha para eu cobrir.

quando eu fui transferido para a torre, o marujinho, mandou um bilhete para o

catarina, “trate bem ele ai por que ele é um dos nossos”. ele não gosta que bula nas

coisas dele,,,eu recebia muito doces e distribuia com todos, doces cigarros.

depois voltei para a velha já com um novo barracão de madeira com grade dividido

em cubículos, colocavam até quinze pessoas em cada. tinha um banheiro (frio) e

quinze beliches. era um ambiente asseado.

o catarinha foi junto, mas lá a liderança dele se restringiu ao cubiculo que estava

encerrado.

a turma de presidiarios em acordo com o diretor do presidio elegia um chefe, que

dava ordens, manter limpeza nos banheiros.

faziamos café de forma cladestina, o fogo era feito com um “pirulito”, feito com

paginas de revistas...os guardas nas guritas sentiam o cheiro do café e vinham

conferir. mantinhamos um olheiro que com um espelho controlave quem vinha. o

‘mata sete” era quem fazia esse controle.

fui eleito chefe do meu cubiculo, não aceitava espancamentos nos novos hospedes

do cubículo, mas permitia banhos frios a meia noite, sem direito a se enxugar.

um dia a comida estava muito ruim, reclamaram para melhorar a comida, mas as

providencias não foram tomadas. havia os pagadores, servia a comida, se revestiam

de autoridade e não serviam direito.deram um banho daquela comida no gigante,

veio a patrulha prenderam todos sem direito de banho de sol por uma semana.

motim, o ferreira , o carcerreiro, (quis ser meu compadre) disse o pernambuco tem

moral com eles, eu davacigarros, doces, ouvia muito eles. não adianta o choque, a

única alternativa é colocar o pernambuco para conversar com os chefes. negociou

com o tenetente que se predispôs a resolver pessoalmente o que os presos

reivindicavam, e resolveu. no dia seguinte a comida melhorou.

que fiz no presidio

havia no meu cubiculo um detento, por nome maurolourenço, que havia participado

de uma brincadeira de roleta russa, e nessa brincadeira houve uma morte, e ele foi

preso, pessoa muito jovem, muito boa pessoa, e tocava violão muito bem, ai, nós

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formamos uma dupla inicialmente, ensinei o mata sete a tocar pandeiro, e o baiano

protógenes a fazer ritmo numa lata de goiabada de 20 quilos. o mata sete ficou um

pandeirista extraordinarios, e o protogenes um batuqueiro da melhor qualidade.

o nome do conjunto era “os companheiros”, tocavamos durante as visitas, o

protogenes cantava muito bem os sambas da bahia.

logo após apareceu um barbeiro por nome barbosinha, baiano tambem, e o

ferreirinha sabendo que ele era musico, colocou em nossa sela. ai formamos um

time de primeira, por que ele era um excelente acompanhador, e formou uma dupla

com o mauro olha lá, quase igual ao que eu tinha no regional.

me veio a inspiração para fazer uma musica, lamento do encarcerado:

seu doutor não queira ver

como dói o coração

de um homem encarcerrado

a vossa disposição

passa horas, passam dias e passam meses

esperando a sua vez

sem ter uma decisão

se é condenado ou não

mas o promotor cumprindo o seu dever..

mas é de coração continuar um chefe de familia

as grades de uma prisão..

o cozinheiro miguel carioca que era do do ´re mi, foi transferido para o palacio da

alvorada, quando quadros assumiu a presidencia, com a renuncia de janio, goulart

assume a presidencia, o miguel fez amisade com dona maria tereza, e disse a ela

que eu estava preso, e que tinha feito uma musica lamento de um encarverrado, ela

levantou informações minhas, e viu que eu era bem relacionado com os presos e

autoridaes.

ela tinha sido aluna do claudionor cruz, e ele falou sobre minha pessoa, ela veio me

visitar e nos organizamos uma recepção pra ela. nesse dia o tenente joaquim

barbosa, conseguiu alguns artistas da radio nacional de brasilia, e nós fizemos o

acompanhamento. cantou o mata sete e o protogenes.

Page 81: Brasilpandeir Oyy 1

dona maria tereza dispensou o aparato de segurança pessoal, e tivemos um show

com uma plateia composta por presidiarios com um respeito á musica e aos artistas,

que nunca vi em lugar nenhum, comovendo ate a primeira dama que saiu de lá

emocionada.

do conjunto o barbosinha , o protogenes, e o mauro lourenço, logo sairam do em

liberdade, o mata sete conseguiu a “liberdade” apelando para o “doutor” arame, e

nunca mais soube dele.

recebi a visita de dona julimar buzaid, então, presidente da ordem dos músicos de

brasilia, juntamente com sua companheira de instrumento, a pianista e professora

neuza frança, foram levar solidariedade de companheiras de profissão. e no dia do

julgamento estiveram presentes, me mandou um cartão pelo sargento murilo que

dizia o seguinte “ não posso ficar até o final do julgamento, mas, fé em deus e pé na

tábua...”

recebi a visita da minha comadre leopoldina pinheiro, a dina, esposa do grande

violonista henrique xavier pinheiro, pai de criação do compositor gonzaguinha. ela

enfrentou de onibus a travessia de dois dias para vir rio de janeiro a brasilia para me

visitar, o xavier pinheiro já havia falecido. dina era uma mulher de uma dignidade

exemplar, um exemplo de pessoa humana, não é a toa que gonzaguinha

homenageou-a com esse samba exemplar que transcrevo abaixo em homenagem a

minha querida comadre.

josé gonzaga, veio exclusivamente para me visitar. o zé era um acordeonista

formidavel, que o próprio luiz dizia que era o melhor músico da familia. lembro das

suas palavras de conforto, me dizendo que eu iria ser absolvido. tocamos muito

juntos, e ficou uma grande amizade entre nós a ponto dele ter tido esse gesto de

carinho comigo.

a vida depois da prisão

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assumi o meu antigo emprego como fiscal de ponto, sendo reconduzido para o

cargo de condutor dos empenhos da nova cap, leva para os ministerios e palacio da

alvorada.

as vezes eu tinha dez empenhos para entregar e não havia como pegar a condução,

e como no periodo da ditadura, os militares usavam de uma forma trunculenta para

relacionar, as vezes eu ficava tres horas esperando ser atendido. cheguei a discutir

seriamente com um coronel, havia ficado mais de tres horas, e exigi que ele me

respeitasse. daí, fui afastado, me mandarm procurar uma lotação, daí fui para

secretaria de serviços publicos, trabalhando com fiscalização de rua, bancas de

revista, taxi , onibus. trabalhei uns cinco anos e requeri aposentadoria proporcional.

mas na época não requeri meu tempo de servidor na radio mauá, e poderia ter sido

aposentado integralmente.

a musica em brasilia

assim que sai da prisão continuei sem tocar fiquei um bom tempo sem tocas

profissionalmente, embora sempre pagando a ordem dos musicos e o inss. tocava

cavaquinho em rodas de amigos nos bares da cidade.

o josé agusto da cruz vitoria, então. dono de uma casa de pizza com musica ao vivo

chamda de amarelinho, me procurou dizendo que o bide da faluta tinha sido

transferido para brasil. já havia mudao para cá o eli do cavaco. o proprio eli chamou

o tó, um piauiense, um veolinista esforçado, pontual embora caresse de talento, ai

posteriormente decobrimos o dudu, era bandolinista e tocava violão meuito bm, por

que já estava saendo instrido peloanena de castro.

me procurou um contabaixista, cearense, por nome de dedé, me disse que tocava

violão tambem, fez um teste o eli gostou muito.

, achou melhor do que os dois.

nessa mesma época trasnferiu-se para brasilia um grande musico, funcionario do

itamarati, bandolinista referendado pelo jacb do bandolim, chegando logo veio me

procurar, tratava-se de cincinato.

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todos os sabados passamos a reunir na casa do jornalista raimundo de brito, muito

bom no centro de cavaquinho. era aprofundado em teoria musical. paasou ser ponto

de musicos, lá iam os fracos e os fortes no instrumento.

mudou-se para brasilia o economista e professor univesitario da unb, celso cruz,

musico sem muita experiencia com regional,mas muito bom instrumentista, fã de luis

americano, era um cavalheiro acima de tudo. ele estava indo para os estados

unidos, e ele é quem teve a primeira idéia de montar umclube do choro em brasilia.

montamos um conjunto com a seguinte formação: cincinato no bandolim,bide na

flauta, celso cruz no clarinete, eli no cavaquinho, violão no violão de seis cordas, eu

de pandeiro e zélia nunes. fui chamado pelo proprietario do barril, o bar mais

frequentado da galeria dos estados. tocávamos amadoristicamente.

ali frequentava constantemente o dr. francisco de assis, o lendário six do cavaco,

grande benemérito do choro. avena de castro, bené que trabalhava como contínuo

no itamaraty, reforçou o grupo com seu violão de sete cordas. o barril comoceu a

receber uma lotação jamais vista em brasilia.

o italiano que era dono me disse com arrogãncia: “não gosto da musica de voces,

gosto sim do publico que voces trazem, imediatamente reportei ao grupo, ai ninguem

voltou mais lá. conclamei o pessoal para levantar acampamento, o six sugeriu

transferir-mos para o beirute.

ai passamos a tocar em muitos lugares indicados pelo six. onde ele determinava nós

iamos. aí pensei em motar um conjunto de músicos profissionais. o celso cruz era

amigo do josué sacca, e este havia trazido para o gilberto salamão uma casa

noturna de são paulo chamada “a fina flor do smaba”, me convidou para organizar a

parte musical.

criei um conjunto que tocava samba e choro, com passistas masculinos e femininos.

marrom tocava tamborim e reco-reco, zé pretinho no surdo, eu de pandeiro. pinheiro

no violão de seis cordas, mandei buscar o indio no rio para tocar cavaquinho. meses

Page 84: Brasilpandeir Oyy 1

depois mandei vir o carlos caçula um dos melhores sete cordas que havia no rio. o

issa, mandou fazer um uniforme que parecia mais um conjunto tipico mexicano, ai

não concordei , e pedi para fazer um uniforme com camisas listradas, chapéu de

palheta e sapato e calças brancas.

o zé pretinho era considerado o “gogó” de sola pois cantava horas e horas sem

parar, com um rpertorio quilometrico. o indio revesava nos solos de cavaquinho. a

boate esgotava os ingressos, e ali frequentava a sociedade classe a de brasilia.

trbalhamos lá durante tres anos, o issa vendeu para o soarez, e voltou para o chile.

ah! ioio

oi iaia

o samba não acabou

só mudou de lugar

venham todos meus amigos

venham para o lado de cá

por que o samba não acabou

só mudou de lugar

se vc não é de samba

venha nos visitar

que na roda de bamba

alguem pode nos ensinar.

o soarez quis mandar me bmandou avisar que eu poderia levar uma surra devido

essa musica

me indispus com o soarez, resolvi sair, por que discordamos na forma dele fazer o

pagamento (atrasava). me propus a sair, ele não discordou. mas quando ele viu que

eu irialevar oconjunto comigo ele se deseperou. queria voltar atrz mas não teve jeito,

a diretoria do casarão ficarão entusiasmado com minha ida para aquela casa. lá

procurei melhorar cada vez mais o conjunto. contratei tio joão para o trobone, tio dos

grandes vioonistas gêneos, os virtuoses valter e valdir silva, contratei tambem

aquino para o clarinete e luizinho no sax tenox, e mais duas passistas.

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os cartazes exibiam o nome de pernambuco do pandeiro, seus batuqueiros e suas

passistas. e casa lotava nas sextas e sábado, era preciso colocar uma segurança

muito forte, por senão o publico invadia, esse sucesso durou dois anos, meu

conjunto revesava com o do chico doido. tive uma discussão com o presidente da

associção qiue comandava o casarão, recindi o contato, que tinha assinado por

tempo indeterminado. no final da noite fiz uma despedida emocionada, e disse que

estava indo para o clube dos previdenciario.

o diretor artistico do previdenciario era walcir...... de quem depois me torne um

grande amigo. e mantenho essa amizade até hoje. ele foi umdiretor artistico muito

competente e criativo. ele dominou por completo as noites de brasilia. tive que

melhorar mais ainda o conjunto. contratei o patp preto para a bateria, e um moço

que prometia muito como violonista, e que no futuro acabou se tronando um astro

nacional do sete cordas, alencar soares, o eli voltou como cavaquinista, nilo no sax

soprano, luizinho na sax tenor, aquino no clarinete e tio joão no trobone, tinha os

cantores, dália e ciro.

um diretor por nome de waldir dizia que qualquer conjunto fazia sucesso ali,

segundo ele não era a múscica mas a estrtura do lugar que fazia sucesso, ai resolvi

sair, e resolvi prar de vez tocar a noite para as pessoas dançarem, na realidade

nunca gostei de tocar pra gente dançar, tocava profissionalmente, mas não por

gosto. ( 1975??))

nessa época o genro de waldir azevedo foi transferido para bbrasilia, era ltado no

banco do brasil. ele era muito apegado aos netos, e resolveu vir tambem. numa das

reuniões na casa do professor raimundo ele apareceu por la atras de mim, ele queria

que eu montasse um conjunto pra ele. já havia gravado com ele no rio e feito muitos

shows com ele.

eu disse para ele que tinha um grupo de samba, somente o eli e o alencar era que

podia participar. ai sugeri o valerio que já tocava com em dupla com o alencar. ele

inicialmente rejeitou temporariamente o nome do eli, e mandou que fosse os dois

violões. o valdir não combinou profissionalmente com o valerio e ai me pediu

sugestão de outrs violonistas, ai, que surgiu o nome do violonista e compositor

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hamiltom costa, e o dudu, era muito esforçado. ele gostou dos dois, e ai, me pediu

que mandasse o eli procura-lo e meu compadre valdecir para o pandeiro.

o dudu não pode permanecer por que era funcionário na assembléia legislativa, e

não podia acompnhar profissionalmente o conjunto. sugeriu o valtinho , muito bom

violonista. fizeram vários apresentações com essa formação, hamiltom costa,

valtinho, eli e valdecir. o valtinho voltou para curvelo e sugeri o nome do josé carlos,

que havia vindo do rio com o dr. veloso. quando valdir ouviu o carlinhos ele ficou

impressionado com o estilo do carlinhos tocar

ele insistia para que eu tocasse com ele, mas tambem tinha meus compromissos,

trouxe o risadinha por recomendação minha, e fez somente um show em manuas, ai

então assumi como membro efetivo do conjunto. gravei tres discos com ele, dois no

brasil e um na alemanha..

em 1976 valdir teve um convite do governo da alemanha para um show na cidade

de dusseldorf. na formação do grupo que iria valdir me perguntou se era

interessante integrar no grupo o rafael rabelo, e o rafael estava comendo a bola,

naquela época, mas por respeito ao carlinhos que era membro efetivo do conjunto,

seria desleal deixa-lo e o valdir concordou comigo. mas com certeza se o rafael

tivesse ido certamente teria feito um enorme sucesso. foi conosco o violonista

sebatião tapajós, que era um nome muito conhecido na europa., que foi convidado

tambem pelo governo alemão.

a temporada foi coroada com êxito fizemos muito suceeso. quando tocamos o

brasileirinho os alemães pederam a frieza e até ensaiaram uns passinhos de samba.

fomos aplaudidos de pé varias vezes. ficaram admirados pela rapidez com que

gravamos o disco em apenas dois dias.

valdir azevedo tinha feito um choro muito bonito, e ele havia me pedido para batizar

o choro, antes da gravação o choro estava sem nome, e ele me pressionou, ai fui na

coxia e tomei uma dose reforçada de wiskey e veio o nome “lamentos de um

cavaquinho”, ele gostou tanto que colocou o nome tambem no long play. esse

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musica teve um arranjo do hamilton costa e outro do carlinhos, tão bons que tivemos

duvidas em saber qual ficou melhor.

foi na alemanha que coloquei que criei o apelido de “bom bril” para o carlinhos. um

pouco pela “juba” que ele usava e tambem por que o homem era de mil e uma

utilidade, um músico perfeito para regional, um dos melhores que trabalhei em toda

minha carreira, e alem disso um homem dotado de um coração e uma educação

sem igual, um cavalheiro fino. sempre paciente com os musicos menos experientes,

convivi com ele por muitos anos e nunca ouvi ele proferir qualquer comentario

depreciativo para algum colega de instrumento.

hamiltom costa, cultivamos uma amizade fraterna por mais de 50 anos, um

compositor extremamente talentoso, as musicas contrastes e paisagem tem que

estar em qualquer repertorio de choro. embora já tenha falecido, mas guardo comigo

as melhores recordações, pelo seu talento inquestionável como musico, mas

sobretudo pelo sua grandeza de caráter. que deus o tenha em gloria.

eli do cavaco, sabia mais o reprtorio de valdir, do que o proprio valdir, funcionava

como uma especie de arquivo vivo,.muito bom nos solos e genial nos centros. figura

humana sem defeitos por sua humildade propria dos espiritos evoluídos. inicialmente

preterido pelo valdir, após minha insitencia foi integrado no grupo e posteriormente

ouvi valdir fazer varios elogios á sua caacidade como musico.

por fim, waldir azevedo, conhecemonos praticamente na adolescencia no rio, eu o

garoto do norte e ele o guri do violão tenor. e a medida que fomos afirmando no

cenário da musica profissioal essa amizade foi se consolidando muito mais. tinha

interia confiança nos meus palpites e quase sempre botava-os em execução. solista

igual a ele ainda esta por vir ainda, ele exigia que eu ficasse proximo a ele, e por

isso tive a oportunidade de ver coisas assombrosas que ele vazia no instrumento.

tenho uma enorme saudade dele. também pelo seu jeito humano e sincero de levar

a vida, fizemos um compromisso de que quem moreese primeiro o outro teria que

tocar no enterro, eu cumpri o compromisso, com os olhos cheio de lagrimas e o

coração despedaçado, tocando com o eli, e o carilhos a musica pedacinhos do céu

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enquanto o seu caixão descia., naquela tarde bonita de brasilia, com um céu

azulado como se quisesse imitar a beleza do choro que ele criou com tanta

inspiração.

o modo que valdir executava o cavaquinho era único, sómente dele, os efeitos que

ele tirava naquele pequeno instrumento acustico não tinha pra ninguem. tenho plena

convicção, pelo que vi valdir fazer, que ele não era desse mundo, as vezes até me

atrapalhava tocar, por que eu me emocionava, deus fez sómente ele e jogou a

fórmula fora.

depois da inauguração de brasilia os principais artistas , como orlando silva,

paulinho da viola, moreira da silva, ademilde fonseca, alcione, dominguinhos, sivuca,

abel ferreira e zé da velha sivério pontes e muitos outros que não me vem na

memória nesse exato momento. passaram a se apresentar por aqui. apresentavam

na aabb, iate club, no hotel nacional e tambem no teatro nacional.

mas, quem me deu mais trabalho foi o “titio” silvio caldas, ele trazia sómente o

cavaquinista, e juiz de direito, walmar amorim, e o célebre violonista de sete cordas,

o voltaire muniz, um dos melhores sete cordas que o choro já produziu, voltaire era

tambem musico responsável pelos arranjos do grande flautista altamiro carrilho. ele

junto com o dino, darly lousada e jorge charuto, foram os melhores que vi.

silvio caldas me incumbia de organizar a parte musical, ai alem de mim, participava

um menino que hoje é uma referencia musical em brasília, o evandro barcelos,

mutiinstrumentista, e que nessas ocasiões tocava um violão de seis cordas. mas eu

particularmaente prefiro-o tocando cavaquinho, é seguramente a palhetada mais

educada que já ouvi, um músico completo e um grande amigo.

o clube do choro

as reuniões aconteciam na casa do profeesor raimundo de brito, que era um anfitrião

que advinhava o que o convidados queriam. nos sabados o numero de pessoas

passavam de vinte. o nivel dos musicos foram subindo, e de volta e meia

recebiamos visitantes ilustres como jacob do bandolim e valdir azevedo. ali começou

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a funcionar como uma verdadeira escola, pois ali frequentava avena de castro,

hamiltom costa, e, os musicos menos experientes iam lá para aprender.

foi em uma dessas reuniões que o clarinetista e professor celso cruz teve a ideia de

fundarmos um clube do choro. um fâ confesso de luis americano. gostei do sopro

dele e fiz a ele um elogio sincero. foi quando ele me disse que tinha uma ideia de

fundar o club, mas que estava indo para os estados unidos para fazer um curso de

doutorado em economia pela universidade de brasília, e quando voltasse iriamos

colocar a idéia em prática.

ele ficou la por dois anos e volta e meia comunicava comigo, assim que ele chegou

me procurou, cuidou de ir ao rio de janeiro atras dos estatutos de um clube simlar

que lá já existia. em pouco tempo ele providenciou toda a documentação necessaria

para a fundação do clube. ele cedeu sua propria casa como sede provisória. e ai

começamos a procurar as pessoas que tivessem interesse em participar daquela

agrmiação.

os primeiros membros foram o dudu do violão, eli do cavaco, bide da flauta,

cincinato no bandolim, celso cruz, nosso primeiro presidente, no clarinete, o alencar

7cordas, o vilonista valério, o trombonista tio joão, e os ainda adolescentes evandro

barcelos, augusto contreiras, chico do cavaco e o josé de assis, que apelidei de “zé

tranquilo”

começou a frequentar as reuniões a professora odete, eximia falutista, ela com seu

filho carlinhos passaram a participar com frequencia das reuniões. procurou-nos

expontaneamente para frequentar as reuniçoes o saxofonista nilo. e os sempre

presentes dr, assis e hamiltom costa que tambem tocava conta-baixo. o coronel

edgardo , o pinheiro do sete cordas.

o geraldo esposo da odete, não tocava nada, mas era um apreciador formidavel, e

gentilmente cedeu o apartamento deles, que era mais amplo do que a casa do celso,

para realizarmos as reuniões e até mesmo ensaiar.

tinha visto um rapaz tocar o “doce de coco” na tupi com o tio dele. gostei muito da

execução dele, um dia quando menos esperava chegou na reunião apresentado

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pelo valerio e o alencar. o celso cruz apresentou-o para todos como o bandolinista

henrique filho, que o interpelou dizendo que gostava que o chamasse de reco do

bandolim, um apelido que ele ganhou no exercito. foi muito bem recebido, todos

gostaram dele. e passou a revesar com o cincinato, que as vezes, por motivos

profissionais, não frequentavam nossas reuniões.

os ritmistas que frequentavam as nossas rodas era o vasconcelos, meu compadre

valdecir, eu, e o walcir com o seu afoxê presenteado por mim. depois veio o

miudinho que havia tocado zabumba com o luiz gonzaga. e passou a tocar surdo

conosco. éramos quatro percussionistas e em pouco tempo ficamos muito

entrosados.

a primeira apresentação do clube do choro, já com ata lavrada, foi no auditoria da

universidade de brasilia. celso cruz era um homem muito respeitado no ambiente

educacional, e se encarregou de arranjar locais para apresentações, noemalmente

vinculado ao aspecto cultural. apresentavamos preferencialente em auditórios do c

olegios e faculdades daqui de brasilia.

o celso cruz um dia me chamou em particular e notei logo que ele estava muito

emocionado e com os olhos rasos dàgua , foi me dizendo que estava voltando

definitivamente para o rio de janeiro, e me incumbiu a mim, ao bide e ao avena de

castro, para não deixar o clube perecer. que tínhamos que procurar uma sede

definitiva para o clube. a despedida de celso cruz foi muito emocionante, por que

estávamos perdendo uma pessoa insubistituivel, pelo espirito de abenegado, e

dedicação impar que manteve enquanto presidiu a agremiação.

a ultima apresentação do celso cruz como clarinetista do grupo foi no teatro

galpãozinho. eu e o bide normalmente terminavamos o show com o “urubu”, mas

naquele dia, tinha programado com o eli para fechar o espetáculo com o

brasileirinho. fizemos uma performance que eu mesmo imaginei, e foi um sucesso

medonho. estava no teatro nada mais e nada menos do que o valdir azevedo e sua

esposa dona olinda, que ao ver aquela ovação saiu de sua cadeira subiu no palco

proferindo um discurso emocionado, dizendo que naquele momento se considerava

como um compositor ralizado.

Page 91: Brasilpandeir Oyy 1

com a ida do professor celso cruz para o rio, nõs ficamos acéfalos, por que ele tinha

um espirito de organização e muito prestigio na capital federal, além do mais era um

grande orador e que sabia extrair prestígio para todos nós. eu tinha um grande

amigo aqui o arquiteto evandro pinto, que nas horas de folga empunhava bem um

violão, e por diversas vezes saimos por ai, ele, eu, e o cincinato. eu sempre

discutindo a respeito do futuro do clube, até que um dia ele falou para mim: “vou

resolver a situação de voces.”

ele preparou uma festa na casa dele e levou o então governador elmo cerejo, e de

antemão fez uma propaganda antecipada do urubu que eu e o bide fazíamos. o

governador ficou emocionado, quando o grupo se apresentou. e fizemos questão de

levar uma turma de categoria. e entre um choro e outro,o evandro encontrou a

brecha que precisava. e inteligentemente foi dizendo ao governador que nós

estavamos a ameaçados de extinguir aquele grupo por que não tinhamos uma sede.

ele prontamente cedeu a pista de dança do centro de convenções para nosso sede

definitiva. aí depois, tomaram conta do processo de trasnferencia o avena de castro

que era o presidente do clube, o walcir e o antonio licio, que cuidaram de organizar

toda documentação. o local era um projeto de oscar niemeyer, que precisava sofrer

algumas modificações, mas ficamos agradecidos ao governador, por que a partir daí

tinhamos um teto para nos abrigar.

diante daquele espaço vazio ficamos desesperados, sem nada, sem nenhuma

estrutura, ai o avena de castro, tomou a seguinte decisão: vamos entregar isso para

o nilo e o pernambuc0, para acharem uma solução. eu conhecia o diretor de

patrimonio da aabb, o tarquinio, passei para ele a situação e ele imediatamente me

ofereceu 30 mesas com suas respectivas cadeiras, que estavam em um depósito

empoeiradas. mas em bom estado de conservação

levamos para o clube e providencie um pintor para que desse uma demão de tinta.

ojoaqinzinho, sõcio do hotel das nações, nos presenteou com duas mesas de

recepçao e uma duzia de cadeiras em bom estado de conservação. havia um

problema serio de infiltração de agua, quando chovia alagava tudo. aí, fui atras do

vicente que era encarregado de construção do empresário venancio, ele se propos

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imediatamente a nos ajudar, indo la pessoalmente para comandar as obras,

forneceu todo o material necessario para aquela reforma, retirando as infiltrações e

consertando as janelas do prédio, que não ofereciam a minima segurança. como

agradecimento, demos a ele uma carteira de sócio benemérito.

combinamos eu,o valcir e o nilo, eu ficava tomando conta do restaurante, e o valcir

do bar. ele logo providenciou quatro garçons. aí, surgiu um novo problema, não

tinhamos fogão e nem geladeira. aí abri mão de dois passarinhos de estimação que

eu tinha, troquei-os por uma geladeira e um fogão industrial, acompanhado de oito

panelas. tivemos uma dificuldade enorme para colocar o fogão dentro da cozinha, foi

precisoquebar as peredes para acomodá-lo devidamente.

contratei dona maria baiana, uma especialista em sarapatel e carne de sol. no

sabado serviamos sarapatel e no domingo carne de sol , feijão de corda e manteiga

de garrafa. ainda havia um aperetivo denominado de “bete-bate”, uma formula que

eu trouxe do norte, em ia maracuja, mel e cachaça, dois coposera suficiente para

derrubar qualquer um, tinha que tomas com conta gotas, por que senão a noite

acabava rapido.

já estava tudo pronto para a inauguração, publicamos na imprensa a data , porém

não tinhamos microfones, tivemos que fazer um show acustico. foi tanta gente que o

walcir desesperou com o movimento, e teve resolveu arrumar um freezer para

acondicionar mais cervejas. a índia esposa do bide, a dalmira, minha primeira

esposa, e a maria, companheira do nilo, todas deram um excelente contribuição.

o clube pegou de vez, passou ser um atrativo para os finais de semana em brasilia.

ai o avena passou a presidencia para o advogado francisco de assis, o six. mas o

clube não foi dirigido de forma profissional, e u me vi sobrecarregado, com a doença

da minha esposa tive que afastar. mas, percebi que o clube estava entrando em

decadencia financeira.

assumiu a presidencia, o henrique filho, que desde então, optou por uma visão

empresarial e de mercado, através do prestigio que possui nos órgaõs federais

conseguiu excelentes patrocínios. transformou o clube em uma casa de espetáculos

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onde atuam os melhores artistas da música instrumental do país, não

necessariamente de choro, mas de uma qualidade indiscutivel.

paralelamente ao clube, funciona a escola de choro rafael rabelo, que tem sido um

celeiro de bons intrumentistas. por ela já passaram musicos da estirpe de um

hamiltom de holanda e rogério caetano, que foram professores enquanto cursavam

faculdade de musica na unversidade de brasilia. não tem como negar que a

administração do reco, por mais que eu não concorde com algumas de suas

atitudes, foi responsavel pelo sucesso que o clube tem no brasil como todo. isso

ninguem pode tirar o mérito dele.

sinto muito feliz por ter dado uma pequena contribuição para o sucesso dessa

instituição, vejo-o como um filho querido que eu ajudei a crescer. muito daquelas

pessoas já não estão entre nós mais. mas, a instituição está ai e cada vez que vou

la, em cada objeto que vejo me faz lembrar dos companheros que ajudaram ,

naqueles tempos dificeis a plantar aquela sementinha, que hoje virou essa arvore

frondosa que é orgulho de todos os brasilienses ligados ào meio musical.

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minha ida para minas

na minha convicencia no clube do choro fiz muitos amigos, dentre eles o casal

gilberto e zaida. com a falecimento de minha primeira esposa, após ter vivido um

periodo doloroso da minha existência, conheci a paraibana maria de lurdes que se

tornou minha segunda mulher,. permnacemos junto por seis anos, e dessa relaçao

nasceu juliana a quem ofereci para gilberto e zaida para batiza-la, tornando então

meus compadres..

gilberto estava se aposentando e queria ir para uma cidade pequena em busca de

uma melhor qualidade de vida, em razão até de sua origem interiorana. vendou sua

propriedade em brasilia e mudou para a cidade de veríssimo no trinagulo mineiro,

cidade próxima a uberaba., comprando lá uma chacara e passou me convidar ccom

frequencia para ir visita-lo. fui, e gostei muito do lugar. nesse período, meu segundo

casamento se desfêz, ai resolvi mudar para uberaba, chegando lá aluguei uma casa

no bairro da abadia. em pouco tempo todoas pessoas ligadas à musicas passaram a

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me visitar. la conheci o nivaldo do violão, biguá do cavaquinho, e pouco tempo

estávamos com um conjunto afinadinho, pronto para tocar nas rodas de samba e de

choro.

conheci lá uma figura interessantíssima, o odontólogo osmar baroni, um baluarte na

defesa da musica brasileira no triangulo mineiro, líder do conjunto choro cultura,

onde era também pandeirista do grupo. passei a ter uma participação especial nas

apresentaçõea do conjunto , fazendo o papel de mestre de cerimônias, onde

apresentava o grupo e contava histórias dos músicos que trabalhei e convivi.

passei a participar de um programa na televisão com o apresentador luiz gonzaga,

ele me entrevistava para queeu contasse a minha convivencia musical no rio de

janeiro e em brasilia para os seus expectadores. o choro cultura nessa época

contava com os seguintes musicos. osmar baroni no pandeiro, adolfo no bandolim,

reinaldo de vito na sete cordas, talinho no cavaquinho, chumbinho no acordeão,

álvaro no sax tenor. e o cantor ivan. o baroni me pedia orientações sobre a

condução do conjunto, e as vezes dividia o palco ele nas apresentações.

voltei para brasilia, ai conheci um garoto muito esperto e fiz amizade com ele, ele

apresentou sua mãe que havia ficado viúva há uns tres anos, a minha atual espeosa

lidia caldas, que convive há quase há mais de vinte anos comigo, assumi tres dos

seus quatro filhos, antonio, bruno, fernada e suely, que sempre me tratam hoje como

pai, e eu gosto deles como meus filhos.

depois de vender uma casa em brasilia comprei uma chacara e um pequeno sítio em

verissimo, sob a orientação do meu compadre gilberto. mas, não deixei de

comparecer nas reuniões musicais realizadas em uberaba. as apresentaçoes do

choro cultura e as “remandiolas” que havia em todos os finais de semana, no bar da

ladeira e depois no surubim.

um dia, já morando em veríssimo, apareceu um senhor por nome de joão com um

adlescente magro com um cavaquinho debaixo do braço, tocou o “vê se gosta” logo

percebi que se tratava de um um jovem com talento excepcional, mas que precisava

de uns retoques. e em pouco tempo ele assumiu o lugar do talinho no choro cultura,

e logo o trângulo mineiro ficou pequeno para ele, passou a fazer apresentações em

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toda parte. hoje é conhecido iem todo brasil, trata-se do cavaqunista fausto reis, um

dos grandes vistuoses do cavaquinho que temos.

receber no bb o collor mandou fechar o bb em verissimo

encontrei a prof eraides

adelmo leão sabia que eu era filiado no partido dos trabalhadoes

passamos reunir na casa da ex vereadora lena

tinha um a casa ampla

passamos a reunir la

eu relações publica

e o meu filho antonio fernandes o presidente.

a lena como secretaria, muito entusiasmada

comecei a contar minha vivencia de esquerda

e começou a atrair muita gente para as reuniões

eu tinha entrado em verissimo com um alto prestigio

me julgava importante para a cidade

os fazendeiros reacionarios

descobriram as nossas reuniçoes

eles reagiram violentamente]

comecei a ser ameaçado

medo de reforma agraria

qualificaram com defensor de baderneiro

a primeria ameaça: ou para de agitar, ou então, vamos botar fgo na casa dele,

falaram para o compadre gilberto

diga a eles que pelo menos dois sobem comigo, ou mais

esfriaram um pouco

tinha umas vacas no sitio

mandaram jogar lixo nos meus pastos para as vacas comerem lixo

chamei o addvogado marcos vinicius e ofereci minhas vacas

vendi todas

eu não vendia leite ,daca para a população carente

tinha nove vacas, tirava 60 litros

não gosta de esgotar completamntr as

vacas

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molharam os mourões com gazolina

e atearam fogo

resolvi vender o sitio, minha chacará estava alugada para um protetico daquela

cidade, logo a seguir vendi o sitio

umamigo meu de coromandel o paulo amaral me ofereceu uma casa em uberaba na

rua da abadia

no sitoi plantei muitas arvores frutiferas

tive que ir na justiça para voltar a minha casa,

voltei pra la

fizuma completa reforma

mandei fazer uma faixa enorme

morei perto da delegacia

falei com o largento

montei o comitê do partido em casa

derrubaram o muro

ai mandei fazer de alambrado

perdemos a eleição

eles afrouxaram a perseguição

troquei a casa por uma no centro de uberaba, 10 por 20

pedi uma volta seu lito de 20 mil reais, ficou por 10 mil

reinaldo, a reforma seria salgar carne podre

só foi o fernado para uberaba, sueli voltou para brasilia e bruno para são luis

morei em uberaba, participando ativamente do ambiente cultural da quela cidade,

onde sou muito considerado.

adoeci, comecei a perder peso, descobriram um enorme tumor no figado que por

sorte era benigno., fui operado, sulimar, recuperei-me plenamente.

COMECEI A FREQUENTAR AS RODAS DE CHORO

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