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No. 13 _ pe 17 a 24 de janeiro de 1972Rio-CrSj^ 0 MUNDO ESTÁ SE ACABANDO BRASlL-72 í O espírito de oposição 2 A liderança ameaçada A democracia no velocípede 4 As neuroses ministeriais *. .. .....

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No. 13 _ pe 17 a 24 de janeiro de 1972 Rio-CrSj^

0 MUNDO ESTÁ SE ACABANDO

BRASlL-72í

O espírito de oposição

2A liderança ameaçada

A democracia no velocípede

4As neuroses ministeriais

*. .. .....

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«fli^^^^^^^^^l fli^^^g ¦ ^^ff^f^ j^^l ji^I ^^"^^^ ^B^* ^^^

^¦^^^^^^^^ Chagas Freitas

Mauritonio

Meira

Afinal, a filosofia !

O Senador Danton Jobim forneceu,

afinal, a filosofia da atuação do Governa-

dor da Guanabara, numa resposta aos

que desejam saber a que veio o dr. Cha-

gas Freitas. Para o senador, o governadorfôra eleito,

"para administrar e não para

criticar ou desafiar o Governo Federal".

Dadas as explicações públicas, por um

porta-voz dos mais autorizados - queacumula, aliás, as condições de comensal,

confidente e beneficiário - seria a hora

de cada um de nós, habitantes do Rio de

Janeiro, pedir ao Governador que êle não

faça cerimônia, que não se constranja,

todos nôs estamos muito necessitados de

uma administração na Guanabara. Esta-

mos todos, aliás, esperando com uma do-

se provada de compreensão e paciência.Entretanto, será que já não é tempo?

A propósito: gostaria de sugerir ao Go-vernador Chagas Freitas que êle usasse damesma filosofia, ou parte dela, - a de

não criticar - em relação ao seu secreta-riado. O governador, que é parcimoniosonas criticas públicas, poderia, em provei-to de sua futura administração, manei-

rar um pouco nas criticas íntimas. Todo

mundo já começa a tomar conhecimento

de sua insatisfação para com alguns auxi-

liares diretos. Exemplo: êle costuma se

referir ao ««Secretário de Obras com aque-

la linguagem que os nossos colegas de "O-

Pasquim" deliciosamente abreviam -

linguagem cheia de ff e de pp. Ora, criti-

car, xingar, «sem uma providência sanea-

dora não nos parece um bom começo de

administração, salvo melhor juizo.

^^F " ^SBHflflflflflflflflflflflflflflflflflflflflflflflflfll

Dantom Jobim

CALÇADÃO

Já que estamos falando

da Guanabara, uma adver-

tência aos leitores de todo

o país que, neste períodode férias, se disponham a

vir à Guanabara. Uma das

melhores coisas que o Em-

baixador Negrão de Lima

fêz no Rio foi o alarga-

mento da Avenida Atlânti-

ca, avenida que não é

apenas do Rio mas de todo

o país e cuíca do mundo.

A Atlântica, na parte desti-

nada ao pedestre — o cal-

çadao — vem sendo, ao

longo de seus seis quilôme-tros, tomada pelas bicicle-

tas e pelo futebol. Não se

tratam das inofensivas bi-

cicletas de garotinhos -

mas, sim, dos bólides pilo-tados por varapaus; o fute-

boi é praticado pelos mar-

manjos que abandonam a

areia - ali a 50 metros -

pelo requintado gramadode pedras portuguesas. De

modo que quem vier paraas férias e queira andar pe-lo calçadão, pçudentemen-te, faça, em sua cidade um

curso prévio de malábaris-

mo.

A ATRAÇÃO*

De contrapartida, se vo-

cê vem ao Rio e à Avenida

Atlântica, não perca uma

atração. Ali a 20 metros

do calçadão existe uma pe-

quena boite que, com dois

passos de mágica transfor-

mou-se de cemitério emum dos lugares mais api-nhados da noite carioca, éo

"Balaio", do nosso fa-

.moso Sacha.

Na verdade, êle tomouapenas uma providência:aboliu a obrigatoriedadedo uso da gravata. A outraveio por si: uma conhecidadama de nossa sociedade.Sempre aos sábados, é aatração da casa.Viúva demarido ilustre, passado o

período de nojo - aliás,diga-se de passagem, pro-longado — submeteu-se a

uma operação plástica du-

pia: de rosto e de espírito.

Vale a pena ver, sempre

aos sábados.

AUTOMÓVEIS

Na semana passada eu

fiz aqui algumas considera-

ções sobre a nossa indús-

tria de automóveis e pro-curei mostrar que estamos

todos indefesos ante os

permanentes enguiços das

bombas que compramos

qualquer que seja a marca

ou tipo. Disse que cada um

de nós tem uma queixa e

que mesmo os pedestrestêm um amigo, um primo,um vizinho que amargauma experiência, algumas

das quais eu citei por sofri-mento próprio e de pes-soas próximas.

Foi o bastante para me

chegarem vários e vários

episódios, numa demons-

tração de que, como é evi-

dente, tínhamos razão.

Dessa massa, apenas

dois:

1. Um amigo adquiriu um"Opala"

do último tipo

mas sua alegria durou pou-co. Três meses depois, sim-

plesmente não havia

mais ..., caixa de mudan-

ça. Acreditando-se protegi-do pela

"garantia" foi ao

concessionário. Lá, a de-

cepção. Com ff e rr expli-

caram que êle deveria arcar

com todas as despesas de-

substituição das peças.

"Mas o carro não está den-

tro da garantia? " - inda-

gou. A resposta: "Claro,

mas a garantia só dá cober-tura para defeitos de fabri-cação". E não houve jeito.

2. A "Variant"

é um carro

prático, agrada a todo

mundo: tanto serve para o

campo como para a cida-

de. Daí o sucesso. Além da

cabine para cinco pessoas,ainda existe um amplo es-

paço atrás, sobre o motor,

onde as mães, além da ba-

gagem, costumam colocar

os filhos - que, aliás, ado-

ram ir ali desfrutando da

ampla visão que o carro

proporciona. Pois foi ali

que um infortunado con-

sumidor colocou duas

crianças de menos de 5

anos e partiu de Brasília

para as férias no Rio. O

trágico: o monóxido de

carbono, do motor, foi o

responsável pela morte das

duas, 200 km depois. Mor-

rerarn dormindo.

(É o caso de se pergun-tar: quantas crianças não

estarão, neste momento,

expostas ao mesmo peri-

go?).

fll Hflk^flL *.*«Hh1 Ha

ta^ar^flW^V fll

Negrão de Lima

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1 96 anos e 9 meses de idade, I

80

anos de politica,

75 anos I

Sebastiio advocacia,

uma eleigao no ,

e

seculo passado

e deputado em I

I

L 11972.

Nome:

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AruadtienSotemasfalto.

I £ terra batida.

I A frante da case dile n§o tem

I passeto.

£ chio batido.

I A caia dtta nSo tarn taco.

I £ cimento batido.

—— I A cama d«e nfc> tem luxo.

... fllfll A II £ colchao batido.

I H I Conhacsdo como 6)a na cidade,

I Hg| H^H ^HH

¦ fl H^F I $5 0 outro. 0 outro mora numa casa

^HT I tdda da ouro, no alto da colina.

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Hp Ib I barro, na baira do vale. 0 outro

I ^ ^

0 fl H I 6 o padroairo da cidada. tie 6 o

^B I padroairo dot dasvalidos.

Im ¦ Mendigo, ladr§o, bicheiro,

V ¦ ¦ M^vH 6rfao, prostitute, s3o todos

¦ H I irmaosd§le. miserivel,

V ^B

¦ B mm ml » ™ foi abandonado, foi

I famflia d§le, Major Cosme de Farias,

1 ^en*i°r c'°

96 anos e 9 meses de idade,

80 anos de política,

75 anos

'e

advocacia, uma eleição no

século passado

e deputado em

1972. Nome: Cosmede Farias

Sebastião

Nery

gente que

está ai

- tB,«„

A rua dile nio tam asfalto.

É tarra batida.

A frente da casa dèla não tem

passeio, ê cMo batido.

A casa dèla não tem taco.

Ê cimento batido.

A cama dèla nio tem luxo.

Ê colchão batido.

Conhecido como êle na cidade,

só o outro. O outro mora numa casa

tôda da ouro, no alto da colina.

Efe mora numa casa tôda da

berro, na beira do vala. O outro

é o padroeiro da cidade. Ele é o

padroeiro dos desvalidos.

Mendigo, ladrão, bicheiro,

órfão, prostituta, são todos

irmãos dôle. Foi miserável,

foi abandonado, foi marginal,

foi off-side da lei, ô da

família dêle. Major Cosme de Farias

Senhor do Bonfim dos Pobres.

POLITIKA

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I

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POLITIKA

aV.. -""

história

Uma porta, uma janela, uma

sala, um quarto, a cozinha,

o banheiro, e só. Esta é a

casa de um homem que recebe

6 milhões por mês. E distribui.

O SENHORDO BOMF/MDOS POBRES

Não tem parente, não tem casa,não tem nada. Mora na casa dosoutros, dorme na cama dos outros,come a comida dos outros, vive avida dos outros. Quando é dia dereceber pagamento, a fila está láfora, esperando que êle saia. Distri-bui tudo. Também não paga nadana cidade. Todos o conhecem.Quando êle anda pelas ruas, hásempre alguém segurando-o pelobraço, levando-o pelas calçadas,como a um Cristo trôpego. E é o

que êle é. 0 santo da cidade.

0 colarinho engomado de quatrodedos subindo pescoço acima, co-

mo um senador do império; o cha-

péu aristocrata na cabeça branca

como leite; a palavra viva e forte

derrotando promotores na tribuna

do júri; o aparte inteligente e rápido

nos debates da Câmara de Vereado-

res e na Assembléia; Major Cosme

de Farias é muito mais do que um

homem. É tão sua cidade que é

nome do segundo bairro mais popu-loso de Salvador. Na verdade, êle é

uma coisa pública. Muito mais pú-blico do que os jardins, as praças, as

estátuas, a rampa "do

mercado, o

elevador Lacerda, Itapoã, Abaeté,

Senhor do Bonfim. Porque êle é 80

anos de trabalho e bondade andan-

do vivo pelas ruas.

Seu escritório de advocacia ficana sacristia da Igreja de São Domin-

gos. é lá que êle recebe o povo,ouve suas máguas, distribui dinhei-ro, toma nota dos pedidos. JoelSilveira, em reportagem de muitosanos atrás, chamou aquilo de

"A.

Quitanda da Liberdade". Porqueninguém sai dali sem defesa. Defesada liberdade do povo. De quem oMajor Cosme de Farias ,Senhor doBonfim dos pobres da Bahia, se fêzirmão eservoi^7

*

O inundo numa caixa de sapalos

e o reslo na cabeça lúcida.

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-*mmÉbl '

aP^t»' ^W

^H Jkm*\mmW

W ^* > AOrna. WÊ*mWFmW^^^ Ml

A Assembléia está de recesso,

vim procurá-lo em casa, no fim da

linha de ônibus do bairro Cosme de

Farias, é quase um barraco. Uma

porta, uma janela, uma sala, um

quarto, a cozinha, o banheiro, e só.

Na sala, o sofá e as cadeiras. No

quarto, a cama e o guarda-roupa.Na cozinha, aberta sobre a mesa,em verde e vermelho, uma melan-

cia. Esta é a casa de um homem queadvoga e faz política há 75 anos,

exerceu sete mandatos legislativos e

ganha hoje, como deputado, 6 mi-

Ihões por mês. E vive como sega-k

nhasse salário-mínimo.

Sao exatamente oito da noite

quando bato à porta. Atende umasenhora simpática (62 anos, me dis-se depois) :

— O major já está deitado. Êledorme cedo. Mas como o senhorveio do Rio, vou ver se êle podeatender hoje mesmo, para o senhornão precisar voltar amanhã. Espereum instante aqui na sala. Aliás, se osenhor gostar, ali em cima da mesatem uma melancia aberta, muito

gostosa, pode comer um pedaço.

Empurra a porta do quarto:-Ah, êle não está dormindo

ainda não. Está escrevendo. Podeentrar. Ele recebe todo mundo commuito prazer.

: ,**".

¦' :,,.yV

'"'¦'. ¦'.'¦ :;:-a.

Na cama simples, sentado, cober-to até o peito, recostado à cabecei-ra, papel sobre os joelhos, caneta namão, corpo de uma criança de dezanos, de óculos, cabelos brancos,êle escreva. Levanta os olhos, par-gunta quem é, reconhece, dá umarisada, manda sentar na beira dacama:'. '

fv&i:'

— Então por aqui? Vamos con-versar. Só que eu estou ouvindomuito mal. Estava na igreja, houveum ruído maior, parece que umsino bateu mais forte, tive um der-rame no ouvido, estou quase surdo.Mas, se você falar devagar, enten-do.

I W* r ' ¦'ffj I

LvJÉpV W ii fi I

BL • , í il I¦ ¦£*-' mW&m\**M W

mmWkW ¦ '" "' JtT aW^mY^m\\

O senhor estava escrevendo?Estava

pondo minhas coisasem dia. Respondendo cartas, escre-vendo para jornais.

E mostra, em cima da cama, umacaixa de sapato (marca

"Francis-

cano") cheia de cartas e papéis.Aquilo é seu gabinete, seu mundo.

Responde uma a uma, recebeu, ris-ca.o nome dele e, por cima, escreveo nome do novo destinatário ou

do jornalista a quem vai en-caminhar a matéria escrita. Mostraalguns já prontos:

- "Ao brilhante e muito distinto

jornalista Jorge Calmon de "A

Tar-

de". Remete : Cosme de Farias"Ou então:

"Ao combativo radialista Mou-ra Costa, da Rádio Excelsior, cola-boraçâo de Cosme de Farias". A co-laboração era uma quadra:

"Ouvinte desta emissora,

gente boa, já se vê,ajude, também, alegre,A Campanha do ABC.Salvador, 2 de janeiro, de 1972"

»',, ,;.v..

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POUTIKA

O SENHOR

DO BOIÂFINÍ

DOS POBRES

Partido nunca foi importante

para mim. Importante é o lado

do povo.

Hoje, sou oposição

porque é o lugar mais certo

para defender a liberdade"

gente que

está aí

"Há

75

anos que

eu sou

a defesa",

Pensei que o senhor tinha um

gabinete de trabalho grande.

Para quê? Esta caixa cabe tu-

do o que faço cada dia. 0 resto fica

aqui dentro mesmo.

E aponta a cabeça, numa garga-

lhada feliz.

VOU AOS

100 ANOS

Como é que o senhor está se

sentindo?

Muito bem. Só êsse ouvido é

que está me atrapalhando um pou-

co. E a perna direita também, por-

que levei um tombo. Estou com 96

anos e 9 meses. Hoje é 2 de janeiro.

No dia 2 de abril faço 97 anos. No

próximo mandato, vou ser deputa-

do de 100 anos. Aliás, já sou o mais

velho deputado do mundo. Até ho-

je, só faltei a uma sessão da Assem-

bléia, porque era sessão extraordi-

nária e esqueceram de convocar-me.

Mas sou o primeiro que chega e o

último que sai.

~ E ao Fórum, tem ido?

Antigamente eu ia todos os

dias. Agora, com o mandato de de-

putado, só vou quando tenho gente

* -

J

'

'

Hp:• ;' ' v%

if*? ,

IBr': llv^/i».'

Cosme de Farias e Luis Viana Filho

"Deputado

besta é que gosta

de

Excelência. Eu

gosto

do povo

para defender. Na semana passada

mesmo, fui lá defender o habeas-

corpus para um bicheiro. Anulei o

flagrante, êle foi solto. Antes, o jui2

tinha dado uma sentença errada.

Mostrei o êrro. O escrivão não gos-

tou: - Major, o senhor quer saber

mais do que o juiz?

— Não sei mais do que o juiz.

Quem sabe mais do que eu e do que

o juiz é a lei. E a lei é quem diz que

êle está errado. A sentença dêle está

faltando uma perna. E nada fica de

pé faltando uma perna.

Professor Amigo:

Tenha Paciência com a criança que apresentar

esta GARTA. Ajude-a.

t

Será um relevante serviço à nossa Pátria.

Muito grato#

Cosme 4© Farias

O juiz reconheceu que eu estava

certo, soltei o homem.

Sempre foi advogado?

No comêço, eu era repórter.

Fui repórter 48 anos. Trabalhava

em quase todos os jornais. Mas logo

no princípio vi que, para defender

melhor os pobres, era preciso ser

também adovogado. Não era forma-

do, mas ia para o Fórum e defendia.

Estou há 75 anos só defendendo.

Topei todos os grandes advogados

da Bahia. Nunca tive mêdo de rte-

nhum dêles. E nunca acusei nin-

guém. Só defendendo, porque eu

sou a defesa.

E deputado, desde quando?

Fui vereador trêsvêzese depu-

tado quatro. A primeira

vez que fui

vereador, no século passado, nem

lembro mais. Deputado, fui a pri-

meira vez em 1914. Hoje, sou opo-

sição. É o lugar mais certo para de-,

fender o povo e a liberdade. Sou do

MDB. Mas, no tempo que tinha de-

putado avulso, eu era avulso. De-

pois, fui do PR,PTB, PDC, sempre

eleito pela capital. Partido nunca

foi importante para mim. Impor-

tante é o lado do povo, porque eu

#/

sou a defesa. No júri ou na As-

sembléia, eu sou a defesa. Quando

eu fui eleito a primeira vez, um fun-

cionário estava na porta da Assem-

bléia e fêz continência para mim:

O chapéu, Excelência?

Que Excelência, efue nada! Eu

sou Major Cosme, E meu chapéu

quem segura sou eu mesmo, meu fi-

lho.

Nunca gostei dessa história de

Excelência, nobre senhor deputado.

Vossa Excelência, sabe com quem

está falando? Deputado bêsta é que

gosta de continência. Eu nunca quis

mandato para ficar bêsta. Eu quero

é para soltar gente, botar louco no

asilo, dar dinheiro aos pobres, Ira-

balhar contra o analfabetismo. Sou

deputado para isso. Para defender o

povo. Por isso é que sempre fui elei -

to pela capital. Quem vota em mim

é a pobreza, que precisa de minha de

fesa, porque eu sou a defesa.

L

0

B

E

e

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gente que

está ai

"O

governador Antonio

Carlos

Magalhães é um bom rapaz. Até

me mandou um cartão de Natal.

Mas êle é do lado do govêrno

e eu sou é do lado do povo

O SENHOR

DO BOMFIM

DOS POBRES

"Em

1930 fui prêso

com Nelson Carneiro

//

O senhor foi amigo de Ruy?

Eu gostava

muito de Ruy, al-

moçava sempre com êle. Mas eu era

seabrista, correligionário de Seabra.

Ainda sou. Na Revolução de 30, eu

era getulista, e ainda sou, e fui pre-

so junto com Nelson Carneiro e

outros. Acusaram-me de quebrar

bondes para protestar contra o

govêrno de Washington Luís. Mas a

Revolução acabou vencendo. Quem

me mandou prender foi esconder-se

na* casa do Arcebispo. Aí nós

trocamos de lugar e êles é que

ficaram presos, pois quem prende

gente é polícia e quem solta gente é

polícia. A Revolução de 30 foi uma

grande hora. Na campanha, fiz até

êsses versos:

-"Ao digno eleitorado baiano:

Vós que tendes vistas largas,

Oh, gente sincera e boa,

Votai em Getúlio Vargas,

Votai em João Pessoa".

E o governador Antônio Carlos

Magalhães? O senhor gosta dêle?

Ê um bom rapaz. Até me

mandou um cartão de Natal, que eu

respondi. Mas êle é do lado do

govêrno, e eu sou do lado do povo.

O senhor não acha que sua

missão está cumprida e pode

descançar?

Não está tôda cumprida ainda

não. Fundei a "Liga

Baiana contra

o Analfabetismo" em 12 de

outubro de 1915, já distribui

milhões dessas Cartas de ABC (pega

uma, assina e me dá; na capa, está

escrito assim: "a

cartilha do ABC^é

a chave da sabedoria; distribuição

gratuita para as crianças

proletárias"). Tenho duas vidas. A

minha e a de Damião, meu irmão

gêmeo, que morreu antes do tempo.

Não posso morrer quando minha

campanha ainda não acabou. Sou

viúvo, não tenho nem dente nem

parente. Nasci dois, estou só. Não

tenho nada. A casa é emprestada,

de um compadre meu. Êste bairro

tem meu nome porque há 36 anos

fundei aqui duas escolas: uma

pública e uma particular.

Quantos júris já

fêz?

Perdi a conta. Uma vez, José

Marcelino era governador, estava

chegando, de navio. Um homem

chamado Circuncisão foi à frente

dêle e deu um.tiro na cabeça. A

bala resvalou pela testa, o

governador se salvou. Houve uma

revolta muito grande na cidade,

ninguém queria defender o homem,

porque a população

estava

indignada. Me apresentei para

I |r^

<m-

%

"Br*

Nelson Carneiro!

buscá-lo agora e o ponham na

cadeia. E ainda tem mais. Senhor

do Bonfim é Deus. Deus pode tudo.

Se êle não quisesse que o acusado

levasse o dinheiro, tinha impedido.

Se não impediu, é porquç deixou.

Se deixou, não há crime. Ha

milagre. O homem foi absolvido por

unanimidade. No dia seguinte, eu

fui à Igreja do Senhor do Bonfim e

disse a êle que me perdoasse,

porque eu sou a defesa. E se algum

dia o Senhor do Bonfim precisasse

de mim, por furto ou outra razão

qualquer, podia me procurar, que

eu o defendia, porque eu sou a

defesa.

Por que o senhor nunca foi ao

Rio?

Porque todo dia tinha que

defender no Fórum. Uma vez,

Antônio Carlos Magalhães

"Eu

mas

almoçava com R

era seabrlsfa".

uy

defender. Todo mundo dizia que o

homem seria condenado. Na hora

do júri, escandalizei a Bahia. Provei

que aquêle homem não tinha

motivo nenhum para querer matar

o governador, que êle nunca tinha

visto antes. O homem tinha sido

apenas instrumento de outros

chefes políticos que queriam, com a

morte do governador, ocupar seu

lugar no Estado. E eu citei os

nomes dos chefões que tinham

mandado Circuncisão matar José

Marcelino. Foi um escândalo e o

homem foi absolvido por

unanimidade.

E o ladrão que roubou o

Senhor do Bonfim?

Êle tinha roubado mesmo.

Entrou na Igreja e tirou as esmolas

que o povo joga para o Senhor do

Bonfim. Eu fui para o júri e mostrei

que não tinha sido um crime, mas

um milagre. Senhor do Bonfim, que

não precisa de dinheiro, é que tinha

ficado com pena da miséria do

homem, que estava com mulher e^

filhos em casa com fome, e deu

dinheiro a êle, dizendo assim: "Meu

filho, êsse dinheiro não é meu. Eu

não preciso de dinheiro. Êsse

dinheiro foi o povo que trouxe. É

do povo. Você é o povo com fome,

pode levar o dinheiro." E o homem

levou. Que crime êle cometeu? Se

houve um criminoso, foi o Senhor

do Bonfim, que distribuiu o

dinheiro da Igreja. Enlão vão

queriam me fazer uma homenagem

lá, uma mulher de Mata de São

João me procurou em prantos,

porque tinham prendido o filho

dela lá. De manhã cedo, viajei para

Mata de São João e soltei o rapaz.

Entre soltar o rapaz e ir receber

uma homenagem e conhecer o Rio,

eu não podia ir, porque eu sou a

defesa.

E a cerveja? Ainda bebe uns

copos?

Todo dia, mais não. Ontem

abusei. Agora, só vou beber no dia

de Senhor do Bonfim.

CANALHA DA BASTILHA

A conversa ia longe, a senhora

entra no quarto. Êle ri e pisca os

olhos, como menino fazendo

traquinagem:

-Já conhece dona Iraci? Ela

gosta de ser chamada de laiá. É

minha companheira. Cuidado com

os bolsos, porque ela furta todo

mundo que entra aqui.

E dá^ mais uma gargalhada. Dona

Iraci vê que êle está suando muito,

encerra carinhosamente a conversa

Não fale mais, que já é tarde.

Vá descansar. Agora, o jornalista vai

comer um pedaço de melancia lá

dentro.

Minha mulher e meu irmão

entram para despedir-se dêle. Êle vê

meu sobrinho dormindo nos braços

do pai, tira os óculos:

— De quem

é êsse menino

bonito? Quer vender, eu compro.

Então vocês já vão, não é? Pois já.

vão tarde.

E ficou sorrindo sozinho, como

os anjos devem sorrir. Na parede da

sala, ainda vi uma fotografia

enorme, com a legenda:

"Homenagem ao Herói dos

Humildes".

Saí pensando em muitas das

coiscs que já aconteceram com êle

sôbre as quais não tive tempo de

interrogá-lo. Por exemplo. Em

Catu, cidade próxima a Salvador,

houve um crime bárbaro. A

população estava enfurecida,

querendo linchar o criminoso. E

ameaçou bater no advogado que

ousasse ir lá defender o réu.

Major Cosme foi. De trem. Na

estação, havia uma multidão

esperando-o debaixo de vaias. Major

Cosme subiu em um muro, junto à

estação e gritou:

- Cala a bôca, canalha! Mas é

desta canalha que eu gosto, porque

foi esta canalha que derrubou a Bas

tilha.

Meia hora depois foi levado

carregado para o júri.

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Philomena

Gebran

POLITIKA

De repente, o mundo acordou.

E viu que

em nome do homem,

devorava o próprio

homem. Em

nome de hoje, matava o amanhã.

Nasceu o pânico

na humanidade. V

¦cultura

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Você sabe o que é Ecologia?

Você já ouviu falar em Ecologia?

Ecologia é a ciência de sua vida

e da sua morte. Ecologia

é a ciência da terra de que

você se alimenta e do

mundo em que

você vive. Ecologia

é a ciência de sua existência.

Tècnicamente, ela é definida

assim: —

"É a ciência que estuda

as relações dos seres vivos entre

si e com o meio físico no qual

êles evoluem".

Logo, a Ecologia

é a verdadeira ciência da vida.

De repente, o mundo acordou.

Estava se acabando sem se dar

conta. Em nome do progresso,

como suas próprias entranhas.

Em t ne da tecnologia, devora

seus» próprios filhos. Em nome

do homem, envenena o próprio

homem. Em nome do hoje,

mata o amanhã.

Em todos os países civilizados,

nasceu o pânico diante dos

I P^ 3B Br |1

'¦ ¦¦<,*-• X'\ i 1*

It

caminhos da humanidade.

A preocupação cresceu engordada

pelas estatísticas que gritam

o terror dos números. E

cientistas jovens passaram a

estudar a Ecologia como a saída

contra o Apocalipse da

vida moderna.

Na Europa, nos Estados Unidos,

no Oriente, a Ecologia é tema

de permanentes pesquisas

universitárias. Da Universidade,

saltou para a imprensa. E a

^

revista francesa

"ACTUEL ,

órgão da nova geração dos

intelectuais participantes, ainda

em seu número 13, acaba de

publicar longo estudo assinado

por vários autores, sobre

Ecologia. O primeiro, de

Colette Saint-Cyr e Henri Gougaud,

traduzimos nesta edição. Nas

próximas, apresentaremos os

demais, porque êles constituem

a melhor síntese já apresentada,

até agora, sôbre os

problemas da Ecologia.

+

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POLITIKA

8kultura

Se fecharmos quatro ratos em

uma gaiola quadrada, medindo

um metro, eles morrerão. Mas

em Paris, existem 2,6 seres

humanos por metro. E vivem.

O capitalismo industriai não émais que a sinistra brincadeira

"Grita-se nosso futuro.

Aqueles que nos governam po-dem ainda entrar pelo cano.

Eles serão mortos antes.De uma morte bem natural: não

vão comer peixes poluídos nem di-

gerir carne em decomposição senãonos últimos quinze anos de sua exis-tencia esquizofrênica de tecnocra-tas.

Eles construíram os bairros.Mas quantos arquitetos moram

ems seus próprios projetos?0 problema da poluição está su-

perado.L u3 víu3 que se trata.

E da nossa vida.

0 Saara avança cerca de 10 quilo-metros por ano. Nesse tempo, o ho-

mem destruiu 2 milhões de hectares

de terra. Ou seja, 24% da totalidade

cultivável. O mar Báltico é um mar

morto. Foi o homem que o matou.

O lago de Zurich está morto e o

lago Léman moribundo.

Há 347 milhões de micróbios porcentímetro cúbico nas águas potá-veis das pequenas cidades às mar-

gens do Sena. é melhor não tomar

banho em Marselha, Toulon,

Arcachon, Bizert: encontram-se,

nesses lugares, 80 mil bactérias e vi-

rus patogênicos por litro de água do

mar.Para preparação das vacinas

anti-pólio utilizaram-se virus isola-

dos da água que alimenta uma gran-de cidade. O contingente de ar e gáscarbônico aumentou 10% desde o

começo da era industrial.

Os pesticidas invadiram o orga-nismo do homem americano à razãode 11 miligramas por quilo.

Na Inglaterra, encontrou-se 40vezes mais estrôncio-90 sobre osossos das crianças e sobre os dosadultos.

Na França, essa concentração foimultiplicada por 10 no leite e no

pão, entre 1960 e 1963. O estrôn-cio-90 é um dos element oásicosradioativos. Provoca u,siúrbiossexuais e uma lenta degeneração ge-nética, transmissível a várias gera-ções.

Há 12 micróbios por centímetrocúbico de ar no

"Ballon d'Alsace",

88 mil nos Champs-Elisées e 4 mi-Ihões numa grande loja.

Mil automóveis produzem 3,2

toneis de oxido de carbono por dia.

O /MUNDO ESTÁSE ACABANDO

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1

ip?:-- ¦ ¦. "vmvimmmwwr.'-*"***..^.* ****mimtf&*xmm**S!S&l^r¦

800 mil veículos circulam diária*mente em Paris.

Em 1985 a população européiaserá 80% urbana.

0 complexo Lille-Roubaix-Tourcoing consome 60 mil metroscúbicos de água por dia. 0 lençolsubterrâneo que o alimenta não po-de fornecer mais que 50 mil.

Paris tem 26 mil habitantes porkm2. Ou seja, 2,6 por metro qua-drado. Se fecharmos mais de quatroratos em uma gaiola de um metro

quadrado, seu comportamento so-ciai será aberrante, suas glândulassuprarenats se hiperatrofiarri c elesmorrem.

Michel Debret, ministro da Defe-sa Nacional, declarou recentemente

que um dos objetivos prioritários daFrança deveria ser a duplicação desua população.

Em 1970, o New York Times

predisse solenemente:—"A ecolo-

gia vai tomar o lugar do Vietnã nas

preocupações essenciais dos estu-dantes". Que dizer? As árvores, oscampos, e os rios são mais impor-tantes que os homens? Sim. Se em15 anos não se limpar a terra, osNixons de amanhã arriscam-se a não

t-Átâmmm**9t*-'A. ¦

Detender osubúrbio érevoluçãoconseguir sequer os meios para pa-garem a um genocida.

Os que hoje, na América, enter-

ram ritualmente motores de auto-

móveis e se chocam contra os arran-

cadores de árvores, desejam eviden-

temente o contrário. E são cada vez

mais numerosos

O "Earth

Day", em abril de1960, marcou a saída de uma gran-de marcha, que devia fazer a volta

ao mundo antes de chegar aos pai-ses onde as florestas não serão mais

os povos mais oprimidos da terra. A

tarefa é sobrehumana, mas não se

tem escolha. O coordenador disse:— o homem em quinze anos estará

bem em sua pele ou não terá mais

nada de pele.

Na Europa, a luta se organizatambém. Na Holanda, os kaboutrsimpedem a circulação de automó-veis e replantam à noite árvores ar-rançadas durante o dia para cons-trução de um estacionamento.

Na França, adolescentes pertur-bam uma cerimônia oficial organi-zada sob o tema da proteção à natu-

reza, no parque Vincennes, escre-vendo sobre os muros: — "Defender

os subúrbios é fazer a revolução".

Em 10 de julho de 1971, pela

primeira vez, 15 mil pessoas se en-

contraram em campo aberto para

protestar contra a instalação de

uma usina atômica em Bugey (re-

gião de florestas e pastagens no

oeste da França - NT). É importan-

te e é novo.

Para defender o recipiente Terra,

contra a desintegração que a amea-

ça, temos agora uma arma: a Ecolo-

gia. "É

a ciência que estuda as rela-

ções dos seres vivos entre si e com o

meio físico no qual eles evoluem".Aparentemente, uma ciência entreoutras. Na realidade, ela é bastantecapaz de demonstrar que o capita-lismo industrial, entre outros siste-mas, não passa de uma sinistra brin-cadeira, e que, em alguma parte, du-rante a noite dos tempos, a humani-dade tragicamente errou o caminho.

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O MUNDO ESTÁ

SBACABANDO

O homem pré-industrial foi

um doce ingênuo, que destruíasem convicção a terra que o

alimentava. De seu amor com

a indústria, nasceu um louco.foiI kultura

J

Os alguimisías imobiliários íransformam as

pedras em ouro,para que o operário consuma"Deus vos abençoou (homem e

ilher) e Deus lhes disse: sede fe-

CUndos, multiplicai e povoai- a terra

sujeitai-a. E dominai sobre os pei-

xes do mar, sobre as aves do céu e

¦sobre todo animal que se move sô-

bre a terra. E Deus disse: eis, eu vos

dou toda erva portadora de semente

sobre a face da terra, e toda árvore

que tem em si o fruto da árvore e

guarde a semente. Isto será vosso

alimento. (Gênese 1. 28-29)".

Na verdade assim fizeram o ho-

mem e a mulher. Povoaram a terra

de três bilhões de indivíduos aos

gritos mil vezes repetidos de "Deus

assim o quer', massacraram alegre-

mente os peixes do mar, os pássarosterra, e como Deus lhes tinha da-

do toda erva portadora de semente

toda árvore frutífera, eles desma-

taram alegremente e inventaram o

inseticida. Foi o começo do fim. Al-

guns irresponsáveis levantaram a ca-

beca dizendo: na verdade ou Deus

confundiu nossa cabeça ou com-

preenderam mal. É preciso reconsi-derar o problema.

Reconsideramos. O Sahara, ou-'ora, foi um país fértil. Encon-tra-se nas areias, ruínas de cidades

e foram opulentas. Os territóriosais fecundos do Império Romano

hoje estéreis. A Espanha, africa do Norte, tiveram ao longo

os séculos suas florestas tosquiadasra dar lugar a exploração pasto-

Os carneiros mascaram o soloté o osso. 0 clima mudou. Assimasceu um deserto. Quando o gene-

a Gallieni posa seu pé ferrado no•o de Madagascar, êle perscruta o

wizonte com olho profissional eecreta: "Este

país tem a côr e autilidade do tijolo". Em 20 sécu-°s, desmatamentos e fogo de quei-

adas destruíram 53 milhões de

luares de terra, ou seja, 8 décimosla ilha.

Mas isto foram apenas arranhadu-•e confusões benignas. O homem,

ues da indústria, não tinha aindameios

para suas ambições. Êle

!,írava. ° Progresso, o progresso'diusculo, orgulho de nossos auxi-

aes e de nossos instituidores. Se-

]'nCapaz de poluir um oceano.

I orava a monocultura, que matab0|o em quinze anos, e que são

necessários cem anos para exauriruma terra normalmente cultivada,29 mil -anos

para esterilizar um cam-

po e 175 milênios para elevar 20centímetros dos aluviões de um so-lo coberto de floresta.

Hoje, a civilização avança a pas-

sos de gigante. A monocultura é

norma do mundo inteiro. O café es-

tá agitando o Brasil. A cana de açú-

car, Cuba; o milho, a beterraba, o

algodão provocam a erosão acelera-

da da terra. Sob os ventos do oeste

americano, ou os tépidós aguaceiros

tropicais o progresso é imutável, a

política constante: proletarização

do camponês que não se conforma

com a vida suburbana, rendimentos

intensivos e, depois de nós, o deser-

to.

AERA

INDUSTRIAL

"A revolução industrial, escreve

Eduard Bonnefous, provoca uma

primeira revolução urbana. Nas pro-

ximidades das minas de carvão, uni-

dades de habitação se criam partin-

do do nada. Uma população rural

torna-se operária e empilha-se num

casebre. De 1800 a 1950, a popula-

ção mundial foi multiplicada por

2,6. Mas a população total das cida-

des de mais de 100 mil habitantes

aumentou quase 8 vezes mais rápi-

do".

De 1950 a 1960, novo salto: a

população urbana mundial aumen-

tou 35%. É preciso construir rápi-

do, não importa u que, não importa

onde, não importa como. t nesta

época que os alquimistas imobiliá-

rios transformam a pedra em ouro.

Os lucros são fabulosos e imediatos.

Para fazer funcionar as novas usi-

nas, é preciso ter os operários perto.

Constroem-se cidades que, de cida-

de têm apenas o nome: casas popu-

lares, boutiques, drugstores super-

mercados e cinemas. Publicidade

em tudo: é preciso que o operário

consuma. Se êle não consome a

produção baixa. Se a produção bai-

xa êle não recebe. Se êle nao rece-

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II

_^| ^B ^_i ^H "

II f^B_l tta'

Por Deus, o

homem dá

cabo de si

be, não pode pagar as prestações do

apartamento, da geladeira, da má-

quina de lavar, da televisão. E pre-

ciso que a máquina rode, senão é a

morte, a absurda morte da miséria

sobre um montão de riquezas. É*

preciso que as cidades proliferem;

tanto pior para os bosques e os

campos. A lei exige que a cada pro-

gresso técnico corresponda uma de-

terioração dos arredores. Que o au-

tomóvel e o avião dancem como o

diabo. Que o papel submerja e de-

vore quilômetros de floresta por

dia. Só a edição dominical do New

York Times engole cada semana 77

hectares de floresta. Até quando?

O homem pré-industrial foi um

doce ingênuo, que destruía sem

convicção a terra que o alimentava.

De seus amores com a indústria nas-

jceu o louco furioso, no começo do

século. O quê o pai usou tran-

(qüilamente, o filho reduz a feridas,

corroe, arrebenta e Dolui.

Todos os elementos que consti-

tuem o nabitat humano, sítios natu-

rais e cidades, ar e mares, rios e ter-

ras, fauna e flora, não estão ainda

mortos nem moribundos. Mas de

um extremo a outro do globo, to-

dos foram danificados, desnatura-

dos, ou contaminados por uma no-

va peste negra, que é preciso cha-

mar pelo nome: - o homem, é pre-

ciso curar, é urgente. Por ora, faz-se

o balanço, por tudo em todas as lin-

guas. Sua leitura assemelha-se à de

um romance de terror".

(Continua no próximo número)

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POLITIKA

IOKonjuntura

Só existe, no Pará, um homem

capaz de derrotar Alacid numa

Foi Alacid o único que não

eleição direta: Passarinho,

se submeteu à sua liderança

Nacif

Elias

JarbasPassarinho:

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^H^^Hfc. ^a^^^^^l ^¦i^^^^^R

Jarbas Passarinho

LIDERANÇA NAENCRUZILHADA

Alguma coisa, politicamentemuito grave, deve estar

acontecendo com o ministro

Jarbas Passarinho. Há poucos dias,

a 'Tribuna da Imprensa", descreveu

uma série de acontecimentos

que, colocados um ao lado

do outro, como uma

espécie de ideograma, davam

a entender que o ministro

está sendo esvaziado em sua

liderança, no Pará, e que suas

relações com o presidente Mediei

já não são as mesmas. Em carta,

que se pode considerar prenhe de

mistérios, o ministro responde àTribuna de Imprensa sem,

contudo, negar os fatos

apontados pelo jornal; antes,

confirma "as

manobras urdidas

pelos seus adversários" e

termina sugerindo que está

encerrando a sua carreira política.O que se passa, de fato,

com Jarbas Passarinho?

tatEf^ÈW*****^ u^Ê

*******

*''.'¦¦ *****************

H^' * "^fl

FE AAlacid Nunes

OS FATOS

1Passarinho indicou o atual

governador do Pará, um engenheiro

que nunca teve veleidades

poi íticas. 0 governador lhe éfiel e obedece cegamente a sualiderança. Obviamente, cuidoude compor o seu secretariado

à base de amigos de Passarinho.Ouviu Passarinho. Menos para

um cargo: o de chefe de sua Casa

Civil, para onde convidou e

nomeou um sobrinho de Jarbas.

Entre o convite e a nomeação,alguns vetos surgiram.

Passarinho, que não escolherao sobrinho, se viu obrigadoa defendê-lo das acusações;

usou o seu prestígio para garantira posse do sobrinho, embora

(repetimos) não tenha partidodele a indicação.

E o sobrinho tomou posse.

Isto, se continuar o processode esvaziamento de Jarbas,

dentro do Estado.

3

2O ex-governador Alacid Nunes,

que nunca foi submisso àliderança de Passarinho,

exerceu o mandato na fase dasvacas gordas do Fundo de

Participação e teve recursos' apreciáveis para fazer excelente

administração no Estado.

É, além disso, homem tranqüilo,humilde mesmo, o que lhe valeu

e lhe vale ainda grandepopularidade. Só existe, no

Pará, um homem capaz de derrotarAlacid numa eleição direta:

o próprio Jarbas.

Não é possível negar, nem é

difícil de explicar esse processo

de esvaziamento. 0 Pará, como

todos os demais Estados, vive

atrelado ao esquema de poder

Í3deral. As decisões federais,

e até mesmo as atitudes de certas

personalidades federais,

refletem-se na política local,

fazendo baixar ou subir a

CUldÇdU Ous papo.o **j*-" * *->-•--¦

Depois dos vetos a seu sobrinho,

o ministro Jarbas Passarinho

passou a ter sua ação poi ítica

e seu prestígio na área federal

analisados com olhos mais atentos

pelos paraenses. E uma série

de fatos (pura coincidência

ou não) começaram a criar a

versão de que Passarinho estava

sendo esvaziado. Foi o bastante

para que sua liderança, no plano

estadual, começasse a ser,

não dizemos contestada,

cotejada com a de Alacid.

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POLITIKA

Liderança na

encruzilhada

O processo

de esvaziamento

do Passarinho é interpretado

na

imprensa pelos

analistas com

vários dados, inclusive com

um aceno de cabeça de Médici

Diplomacia política

na posse

de Guflhon

Alquns desses fatos foram apon-

tados pela própria Tribuna, outros,

não. Vamosaêles:

a) No dia da posse do nôvo go-

vernador, escolhido por Passarinho,

e estando Passarinho em Belém na

qualidade de líder político,

de mi-

nistro de Estado e de convidado es-

pecial, causou muita estranheza o

fato do presidente Médici ter sido

representado, na cerimônia, pelo

Comandante da Base Aérea. Em ou-

tras circunstâncias, o fato não teria

tido outro significado além dêste: o

presidente quis prestigiar o coman-

dante da Base Aérea sem, necessa-

riamente, ter desejado desprestigiar

Passarinho. Mas foi interpretado

como se fôsse. . .

b) Queda da administração do

Banco da Amazônia, indicada por

Passarinho. Tôda a nova diretoria

foi indicada pelo Ministro da

da, o que não surpreende pois Del-

fim sempre achou (e sempre agiu

em conseqüência) que o sistema ti-

nanceiro do govêrno deve ser inte-

grado. 0 BASA lutou com dificul-

dades de recursos até que Delfim in-

dicasse o seu presidente. Mas isto

foi interpretado, em Belém, como

mais um sintoma de desprestigio de

Passarinho junto ao presidente

Me-

dici. 0 que é discutível.

c) No último Círio de Nazaré, o

presidente tratou carinhosamente

todo mundo e teve apenas um cum-

primento de cabeça para Jarbas Pas-

sarinho. Todos os jornais de Belém

comentaram o fato. Tornou-se mais

um elemento na cadeia de argumen-

tos para caracterizar o esvaziamento

de Passarinho. Em outra circuns-

tância, qualquer pessoa

teria pen-

sado que o presidente julgou

desne-

cessário abraçar, diante da multi-

1 4 • • • ArilV. r* . iprys O \ / I \ / P

Odu, um auxiliai cum quem convive

diàriamente em Brasília. Com tôda

certeza não devia o presidente saber

as fofocas que o

"esvaziamento" de

Passarinho provocava

em Belém.

Além do mais, teria sido ridículo

demonstrar aprêço a Passarinho des-

sa forma. ?

d) 0 sobrinho de Passarinho, que

alguns médicos de Belém dizem es-

tar gravemente enfermo, afastou-se

do cargo para tratamento de saúde.

Diz-se, à boca pequena, em Belem,

que a doença é inventada e que o

afastamento foi imposto por setores

militares. E se o rapaz estiver, de

fato, doente?

Alacid

Passarinho

julga-se

prestigiado]

Explicação (uma tentativa)

Em sua carta ao jornalista Hélio

Fernandes, o ministro Jarbas Passa-

rinho afirma que se notasse qu

auer sinal de desprestígio, junto ao

presidente, na~o ficaria no Ministério

mais do que o tempo necessar o pa

ra assinar o seu pedido de dem ssao.

E conclui-

"Finalmente, permita-me

J• ,u"ni,p r4pHiradn exclusiva-

dlZtíl-Hltí Mje' ¦

mente a tentar bem cu^Pr,r

|

m^Se

são aue me foi cometida, nao me

preocupam as manobras

de esvs^

mento político urdidas por

meus

adversários quer no Para como em

outros lugares do Brasil, poise mui-

to provável, no que

depende de

mim que o meu futuro nesse ca

po sé confunda

e se encerre com o

Pf

Arcaria de Passarinho permite

pa£ um analista polaco

chega a

Hivprsas conclusoes. Por exempiu.

1)0 ministro

minimiza o

esvaziamento junto

ao presidente

da República. Julga-se,

e dev

motivos para isso, forte junto

ao

presidente.

2) Passarinho reconhece que seus

adversários estão manipulando, com

sucesso, essas indicações de esvazia-

mento. Mas que adversários? No

Pará todos os jornais estão de seu

lado e o seu maior

"adversário" é

também seu correligionário. Até as-

sinou, recentemente, um manifesto

de reafirmação à liderança, no Esta-

do de Jarbas Passarinho.

3) Passarinho não menospreza o

sentido e alcance dessas manobras.

Sem indicar de onde elas partem,

êle configura a sua existência.

4) Num lance de habilidade poli-

tica, êle joga a idéia de encerrar a

sua carreira política. Mas a interca-

lada

"no

que depende de mim" dei-

xa claro que o ministro apenas quiz

sensibilizar suas bases, no Pará. A

carta de Passarinho a Hélio Fernan-

des teve ampla divulgação em todo

o Estado. Por ela se percebe que

Passarinho não deseja lutar pela li-

derança, mas espera que ela seja rea-

firmada pela própria revolta de suas

bases diante das manobras urdidas

por seus adversários .

0 drama de Passarinho não é o

único, nem será o último nai atual

conjuntura política do pais.

Ele es

tá pagando o preço de ser o líder

popular de maior expressão no Es-

tado do Pará. Tôda liderança popu-

lar é incômoda, nos dias de hoje,

mesmo que esteja a serviço da Re-

volução. De subterrâneos inespera-

dos surgem desafios a êsse tipo de

liderança. No Maranhão, bem vizi-

nho ao Pará, José Sarney enfrenta o

mesmo problema. Apenas Passari-

nho não sabe ou não pode, * com

Sarney, fingir de morto e esperar a

oportunidade da consulta popular.

Há que considerar, contudo, que

uma liderança popular efetiva, co-

mo a de Passarinho e de Sarney não

se exercem com acomodações, com

concessões, com submissão à pres-

sões descabidas. No caso de Passari-

nho, mais que no de Sarney, essa

liderança vinha sendo exercida em

termos de comando de tôdas as

atividades do Estado. É êsse coman-

do que Passarinho vem perdendo,

quer pelo bloqueio do ministro da

Fazenda, quer pela irrupção de cer-

tas forças ocultas. Mas é inegável-

que, no plano popular,

o govêrno

federal ou a revolução terão que es-

perar muito tempo até que surja ou-

tra liderança como a de Passarinho.

Que está disposto a exercê-la,

"mas

na dependência dos outros".

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POLITIKA

bacia

das almas

Comunicador

Informa Alves Pinheiro, técnico em assuntos portugueses,

que está fazendo muito sucesso em Portugal, o professor

Carlos Alberto Rabaça, "da

presidência da República",

que percorre aquêle país em companhia da

família. 0 professor Rabaça é da AERP e é tido como técnico em

comunicação. Como aqui, no Rio, nunca soubemos de nenhum

sucesso do professor Rabaça, concluímos que êle comunica melhor

em Portugal. Deve ser isso. Só pode ser isso.

O direito

de dever

0 boletim interno da

Ordem dos Advogados, se-

ção da Guanabara, publi-

cou o seguinte:

— "O

Procurador Geral

do Estado do Rio consti-

tuiu comissão para estudar

uma denúncia da seção flu-

minense da Ordem dos Ad-

vogados do Brasil, acêrca

da atividade de numerosas

procuradorias jurídicas pri-

vadas, sob cobertura de ad-

vogados inescrupulosos,

que se prestam ao triste

papel de apadrinhar trata-

dores de papéis e outros

pingentés da atividade fo-

rense.

Enquanto isso, no Rio,

a OAB luta contra agencia-

dores de serviço e advoga-

dos sem critério, que en-

viam a devedores de firmas

comerciais, sob sua assina-

tura, imitações grosseiras

de citações judiciais, com

ameaça de penhora, remo-

ção de móveis e até proces-

sos criminais. Essas cita-

ções não só intimidam os

devedores, mas acres-

centam às dívidas mais

uma parcela ... de hono-

rários.

A OAB-GB está de ôlho

nos escritórios dêsse gêne-

ro, estando já alguns advo-

gados que os integram res-

pondendo a processo disci-

plinar."

O último direito que o

povo tinha, para enfrentar

a vida dura que está aí, era

dever. E a sociedade de

consumo criou o crédito

exatamente para fazer da

dívida, não o pecado que

era no passado, mas um

instrumento de construção

do desenvolvimento. Vêm

advogados e montam ara-

pucas para fazerem da

dívida um crime e darem

tratamento policial a uma

realidade que é o próprio

cerne do sistema capita-

lista. Só há dívida porque

há lucro. E sem lucro o sis-

tema já era. Logo, a dívida

é o coração do sistema.

O que é que êsses dou-

tôres querem? Matar a ga-

linha dos ovos de ouro de

nosso ainda capenga sis-

tema capitalista? Onde es-

tá o doutor Teófilo Azere-

do Santos que não escreve

um tratado em favor da

dívida, essa madre do siste-

ma?

A Lei de

Newton

Newton disse: —"Os

homens constróem muros

demais e pontes de me-

nos".

Newton disse isso por-

que não sabia o perigo que

a lei da gravidade, desço-

berta por êle, viria a signi-

ficar para nós. Era só pre-

ver o Elevado Paulo de

Frontin e a Ponte Rio-Ni-

terói.

óbvia

-[TO (Tofc'

Bercelino foi para a re-

dação e começou um edi-

torial assim:

-"O MILHO-O mi-

lho (quem dirá o contrá-

rio? ) é um dos principais

produtos agrícolas do

País"...

Esta semana, o "Infor-

me JB" começou uma no-

ta assim:

— "A

praia, instituição

tipicamente carioca, fun-

ciona sobretudo no ve-

rão"...

E o caso de chamar o

Bercelino: "Quem

dirá o

contrário? "

Edltorial-l

"Eu ainda não cansei de

ser liberal, o que vale dizer

que não cansei de crer na

realidade de uma fôrça su-

perior que nos descobre

um mundo melhor, que

nos impele para êle; ainda

não me senti obrigado a

ajoelhar-me diante dos

ídolos e pedir perdão da

minha virtude, a única, tal-

vez, de que me posso lison-

jear, a virtude de poder

pensar no povo sem pensar

no rei".

(Tobias Barreto, filósofo

do direito)

K-

Geisel

Na ditadura de Vargas,

o jornalista Bercelino Maia

era redator-chefe de um

jornal em Alagoas. 0 dire-

tor o chamou, todo assus-

tado:

— Olhe, a censura está

muito irritada com seus

editoriais. A partir de hoje

só faça editoriais que não

digam nada que possa

complicar.

Armando Falcão, que é

leitor de cabresto aqui do

POLITIKA, anota e co-

menta conosco tudo o que

publicamos. Acrescenta

detalhes, conta as mesmas

coisas com versões diferen-

tes e com a autoridade de

quem viveu (e não raro in-

suflou) quase todas as cri-

ses pol íticas brasileiras dos

últimos anos.

A propósito de uma no-

ta sobre o crescimento da

Petrobrás, êle nos deu o se-

guinte depoimento. "Uns

cinco dias antes da morte

do presidente Castello

Branco, eu estive com êle,

em seu apartamento em

Ipanema. Conversamos sô-

bre diversos episódios e fi-

guras de seu govêrno;

êle ia

fazendo uma espécie de re-

visão, através de comentá-

rios curtos, de alguns fatos

e dando opinião a respeito

de algumas pessoas.. Não

sei bem a propósito de

que, surgiu o nome do ge-

neral Ernesto Geisel. O

presidente Castello, lem-

bro-me muito bem, me dis-

se as seguintes palavras:"Nunca

lhe confiei uma

missão que êle (Geisel) não

fôsse além, e com brilho".

Armando Falcão queria,

com êsse depoimento, ex-

plicar o sucesso da Petro-

brás sob a administração

Geisel. Nós, contudo,

achamos que as palavras de

Castello explicam muito

mais.

A comemorar

Embora o govêrno esteja se

mobilizando para dar tôda

pompa ao sesquicentenârio de

nossa Independência de Portu-

gal, havendo a destacar, como

ponto culminante dos festejos,

a trasladação dos restos mortais

do imperador Pedro I (o pro-

clamador), é preciso não esque-

cer que o ano de 1972 registra

um outro evento não menos

digno de comemoração, a sa-

ber: o cinqüentenário da "Se-

mana de Arte Moderna", peta

qual o Brasil se tornou inde-

pendente ou auto determinado

culturalmente.

Até 1922 vivíamos numa de-

pendência completa em relação

.aos países da Europa, a França

sobretudo. Desde 1920, pelo

menos, Oswald de Andrade

vinha avisando que o grupo de

jovens artistas e escritores pau-

listas fariam, em 1922, qual-

quer coisa digna do centenário

da independência. E foi o cen-

tenário que inspirou todo um

movimento de regionalismo, de

nacionalismo e até mesmo de

caboclismo que impregnou a

nossa arte e a nossa-literatura e

que, depois, se projetou sôbre a

nossa atividade política.

É preciso não esquecer que o

nosso comunismo, como o nos-

so fascismo e o nosso n^cioha-

lismo começaram através de

grupos literários... A l'Semana

de Arte Moderna" foi o mais

fecundo, o mais poderoso, o

mais espetacular • movimento

artístido já havido no Brasil. Êle

ergueu acima dos processos

acadêmicos da ensino a de ex-

pranio artísticos da época, a

bandeira da uma renovação de

linguagem que atingiu os seto-

res da vida brasileira.

O sesquicentenârio da inde-

pendência marca a nossa sapa-

ração de Portugal. Mas o cin-

quentenário da Semana de Arte

Moderna marca o encontro do

Brasil consigo mesmo, com a

sua consciência histórica, com

suas características de povo e

de Nação. O Ministério da Eflu*

cação ajudou a Civilização Bra-

sileira a reeditar o livro elissico

de Mário da Silva Brito "Ante-

cadentes da Semana de Arte

Modeme". Foi um bom comê-

ço. Mas um comêço, apenas.

Mundo cão

OOp

Causou péssima reper-

cussão uma reportagem da

TV-Globo focalizando o

pessoal que cata restos de

comida no terminal de li-

xo, aqui na Guanabara.

. Uma reportagem na linha

da televisão-verdade, no

melhor estilo "mundo-

cão". Como a reportagem

foi lançada ao ar no dia 31

de dezembro, a data serviu

para aumentar a repulsa

das consciências bem for-

madas, mas nunca prepara-

das para

"êsses aspectos"

da realidade. Curiosa foi a

explicação do cinegrafista

que fêz o documentário.

Disse êle: "Essa

gente não

tem razão de protestar.

Afinal, nós mostramos os

mendigos num dia em que

a comida dêles estava bas-

tante melhorada". Fogo

mesmo é quando os cami-

nhões deixam de recolher

o lixo, pois aí o pessoal

tem que apelar mesmo pa-

ra a "comida"

do dia ante-

rior.

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i^^OorZTN. /)

\ /

(oJUs3\ v/o)

Imagem

0 extraordinário na iniciativa do deputado Flávio Marcílio de

promover uma emenda à Constituição para possibilitar

a reeleição de presidente da República, é que o parlamentar

cearense foi o campeão de viagens ao exterior e o autor do maior

número de relatórios sôbre a deformação da imagem do regime,

lá fora. Na certa crê o deputado que, reelegendo o

presidente, tudo ficará mais favorável

para nós, no estrangeiro, em matéria de imagem.

POLITIKA

bacia

das almas

Literatura

e processo

A propósito da "Semana

de Arte Moderna", cujo

cinqüentenário se come-

mora êste ano, vale a pena

registrar, como o faz Mário

da Silva Brito, a sua moti-

vação profunda no proces-

so de industrialização e ur-

baniz^àção que transfor-

mou, primeiro, as estrutu-

ras sociais e econômicas da

sociedade paulista. Montei-

ro Lobato havia, alguns

anos antes, decretado o

fim de todo o bucolismo

brasileiro (o bom caboclo

substituindo o bom selva-

gem) com a revelação da

miséria e do abandono em

que vivia o homem do

campo. 0 Jeca Tatu foi

uma denúncia. A primeira

denúnica arrancada das ne-

cessidades da industrializa-

ção emergente.

Oswald de Andrade, a figu-

ra mais típica do movi-

mento, foi também o pri-

meiro "play-boy"

nacio-

nal. Êle definiu, antes de

qualquer um, o que deve

ser a vida de um rapaz ri-

co, numa cidade rica: êle

importou o primeiro

carro

esporte, êle meteu-se em.

todas as complicações

amorosas, dilapidou fortu-

nas (suas e dos outros) pa-

trocinando as mais alucina-

das experiências artísticas

e amorosas. Mas èra um gê-

nio. Mário de Andrade, seu

companheiro de movimen-

to, assim o viu, nos versos

de Paulicéia Desvairada:"na

Cadillac mansa e

glauca da ilusão

passa o Oswald de An-

drade

mariscando gênios entre

a multidão! . . ."

A classe política não cos-

tuma perder tempo com

essas coisas. O que é uma

pena, pois o Brasil profun-

do, o que permanecerá

quando ela já tiver sido

substituída e superada, se-

rá, precisamente, o Brasil

que se traduziu, com au-

tenticidade, nos movimen-

tos artísticos como o de

1922.

Greves

ii®

Fico ?

Nunca, como neste ano,

comemorou-se e rememo

rou-se tanto o dia do "Fi-

co". Na Igreja de Nossa

Senhora do Rosário houve

até exposição de documen-

tos, um dos quais deveria

sensibilizar tanto o deputa-

do Flávio Marcílio. Tra-

ta-se de um memorial envi-

ado ao Príncipe Regente

por oito mil brasileiros, pe-

dindo que não atendesse à

convocação das Cortes de

Lisboa para retornar a Por-

tugal. O que ninguém se

lembra de dizer é que, fi-

cando, D. Pedro I logo se

convenceu (ou foi conven-

cido) de que não fizera o

"bem de todos" e muito

menos a "felicidade

geral

da Nação". Porque não co-

memorar, também o dia

do "Parto? "

Editorial-2

"E, CONTUDO, BA-

TER EM RETIRADA

SEM CESSAR DE COM-

BATER É O COMÊÇO

DO AVANÇO VITORIO-

SO".

(Bertolt Brecht, em "O

s

Horários e Curiácios").

A revista SWEDEN

NOW publicou, no número

de novembro do ano passa-

do, as respostas de diversas

personalidades à pergunta

que lhes endereçou sôbre o

destino das greves.

"Estão

as greves fora de moda?

"

Jean-Jacques Servan-

Schreiber respondeu, entre

outras coisas: "Nenhum

acontecimento real pode

estar fora da moda. Ape-

nas aquilo que não é mais

empregado ou não preen-

che uma necessidade está

fora de moda. Se há greves

é porque há uma necessi-

dade de greves. É neste

nível que a questão deve

ser considerada ..." No

dia em que a revista foi im-

pressa, os jornaleiros

sue-

cos entraram em greve. In-

felizmente a revista já es-

tava pronta e não teve

tempo para afirmar, tam-

bém, que as greves, nos

países, democráticos, es-

tão cada vez mais na mo-

da.

Divida

A Fundação Getúlio Vargas,

pela revista "Conjuntura

Eco-

nõmica", acaba de levantar

uma tese assás interessante a

respeito do nosso crescente en-

dividamento externo. Diz a

"CE" que em virtude da infla-

ção que existe nos Estados Uni-

dos "determinados

tipos de

empréstimos resultam em taxas

de juros negativos para o país".

De fato, como não se aplica a

correção monetária aos emprés-

timos externos, o raciocínio

parece correto. O Brasil, segun-

do a Fundação Getúlio Vargas,

estaria se beneficiando dos em-

préstimos e da taxa de retorno.

O que a Fundação não diz é

que, com juros positivos ou ne-

gativos, o Brasil só tem uma

fonte de recursos para amorti-

zar a sua dívida externa e essa

fonte se chama receita cambial,

ou seja o que apuramos com o

que exportamos. E como se

comportam os preços dos pro-

dutos que exportamos? Por

acaso não continuam caindo e

em velocidade maior do que a

desvalorização do dólar? Para

responder a essas duas pergun-

tas qualquer leitor, por mais

leigo que seja em assuntos de

economia, precisa apenas con-

sultar a perfórmance da nossa

balança comercial. Por aí se vê

que o Brasil está tomando em-

préstimos para amortizar a

dívida e para cobrir o déficit

das exportações em relação às

importações.

Nós não somos dos cue per-

dem o sor«o com a dívida exte.-

na. O que queremos mostrar é

que o raciocínio da t-undaçãc é

unilateral, tendencioso, e que o

Brasil não vem desenvolvendo

o esforço de exportação que

nos daria tranqüilidade tanto

em relação às importações

como ao serviço da dívida ex-

terna. O caso dos minérios, por

exemplo, é típico. Anunciou-se

verdadeira revolução e até ago-

ra nada se viu. Os grandes trau-

çnatismos brasileiros continuam

concentrados, no que diz res-

peito à receita de exportações,

ao café. O que é prova de pou-

ca ou nenhuma imaginação.

Sindicato

A Paraíba está indo de

vento em popa. O desen-

volvimento e a sofisticação

de João Pessoa é tão gran-

de que já existe al í um Sin-

dicato de Travestis. Não

sabemos como funciona o

Sindicato, se está ou não

sob intervenção do Minis-

tério do Trabalho, pois o

"Diário de Pernambuco"

de domingo passado ape-

nas faz referência às difi-

culdades do Sindicato para

realizar um baile interesta-

dual, em Campina Grande.

Não sabemos também se

os associados do Sindicato

dos Travestis gozam das

vantagens do Fundo de

Garantia. De qualquer mo-

do, êles têm a garantia de

fundos disponíveis. E que

Fundos.

Nem sim

nem nfto,

antes pelo

contrario

A política econômico-finan-

ceira virou partida de futebol:

só vale gol. Não interessa saber

se o jôgo está bom ou ruim. O

que importa é o gol. E o gol é a

porcentagem.

Divulgou-!*? que a agricultura

brasileira cresceu, no ano passa-

do. 11,4%. A FAO (órgão das

Nações Unidas que cuida do

problema agrícola e do qual o

Brasil é membro) desmentiu os

dados oficiais do governe brasi-

leiro: — não foi nada disso;

cresceu apenas 0,7%.

E agora? Os jornais euro-

peus publicaram os números da

FAO e começou o bate-boca,

aqui e além-rnar. Nós, que pre-

ferimos a boa partida ao gol,

vamos pôr as coisas nos devidos

lugares:

a) A agiicultuta Jra^!eira

cresceu e não cresceu 11,4%.

bi A ayriculrura brasileira

cresceu e não cresceu 0,7%.

c) Como isso? Muito sim-

pies. O café, em 1970, só pro-

duziu 10 milhões de sacas

(quando a média nacional, há

muitos anos, era em tôrno de

25 milhões). Como houve uma

série de investimentos oficiais

por pés replantados, São Paulo

e Paraná voltaram a dar uma

produção normal. E o café te-

ve, êsse ano de 1971, um au-

mento de 120% (cento e vinte

por cento). Pulou de 10 para

22 milhões de sacas. .

d) Também o trigo e a soja

apresentaram bons resultados.

Mesmo assim, o trigo não cor-

respondeu às previsões, chegan-

do apenas a 2,2 milhões de to-

neladas.

e) Agora o resto foi muito

mal. Algodão, milho, cana,

cacau, feijão, arroz, cebola, fra-

cassaram completamente. Ar-

roz caiu 20%, cebola 12%, cana

13%, e assim por diante.

f) Assim, se a gente contar

os 120% de crescimento do ca-

fé (inteiramente anormais, pois

que o Brasil produz mais de 20

milhões de sacas há 30 anos)

chega aos 11,4%. Mas se deixar

o café de fora, como fator

anormal e, portanto, não con-

tabilizável, a agricultura brasi-

leira deu mesmo 0,7% em 71.

Quem então tem razão? Os

estatísticos oficiais ou a FAO?

Como na resposta clássica,

nenhum a tem e os dois a têm.

É por isso que o doutor Ro-

berto Campos falou na falácia

das estatísticas,

¦

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POLITIKA

konjuntura

O regime vive, há sete anos

o drama de um retorno que

ascircunstâncias tornamcada

vez mais problemático apesar

de cada vez mais prometido.

Santana .

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Mediei quertransmitir o

poder dentro

de outro a

conjuntura.

O país todo

confia no seu

projeto. Mas

a realidade

o espreita.

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DAAMI NHOS

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Filinto não

pode vesf/r

modelo curto

de Batista

Ramos. Sua

indicação é

sinal de que

o diálogo vai

ser possível.

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POUTIKA

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OS CAMINHOS

DA ABERTURA

i>w.<ww •*•

Os pressupostos

do gorêrno

são

claros mas a realidade é turva

Ninguém pode negar ao presiden-

te Mediei, decorridos mais de dois

anos de seu mandato, a procura ,

com método e estratégia, de condi-

ções satisfatórias para o que já se

convencionou chamar a "abertura

democrática". Os pressupostos do

govôrno são óbvios. £le deseja: 1)

ampliar as garantias individuais; 2)

criar uma solidariedade profunda

entre a estrutura de poder subjacen-

te (militar) e a Arena, de modo a

devolver aos políticos áreas cada

vez maiores de decisão e de repre-

sentação. Numa palavra: é preciso

preservar tôda a estrutura de poder

pol ítico-administrati vo montada em

lances sucessivos a partir de 1964

sem que os militares se vejam obri-

gados a assumir, ostensivamente, a

tutela do regime.

1964. Os próprios militares, nestes

últimos sete anos, tiveram inúmeras

ocasiões de saber como é impossível

estabelecer prazos e definir rumos

que dependem menos de uma

vontade estátice que de um

processo dinâmico. Um dos generais

mais brilhantes, servindo hoje no

Estado Maior do Exército,

concebia, em 1958, o Al-5 como

instrumento para ser usado como

"um raio, isto é, com açao

fulminante e rápida". Fulminante

ninguém duvida que ôle tenha sido:

de saída fulminou as resistências do

Congresso, fulminou o Fundo de

Participação dos Estados e

Municípios, fulminou alguns

mandatos, fulminou a própria

Constituição que o presidente Costa

e Silva recebera de Castello. Sob

êste aspecto, o AI-5 foi raio para

homem nenhum botar defeito. Mas,

à diferença dos raios, êle não

passou: permaneceu no céu nublado

da atividade política, como um

dado insólito que desafia a argúcia

dos estrategistas e a imaginação dos

analistas. Há três anos o AI-5 é o

centro necessário de tôda e

qualquer indagação política. Costa

e Silva quis derrubá-lo; o deputado

Etelvino Lins quer integrá-lo na

Constituição; o presidente Mediei a

êle não se refere e faz tudo para não

usá-lo, mas a gente percebe que é o

AI-5 que lhe dá tranqüilidade. E

isto por quê? Porque o AI-5 é a

Regime

de armas

prontas

encarnação do poder

revolucionário, de exceção. £ o

instrumento que pode corrigir

situações desagradáveis, que pode

•té, pelo simples fato de existir,

oonjurar essas situações antes que

elas se deflagrem. Com o passar do

tempo, é certo, o AI-5 deixou a sala

de cirurgias e passou para a clínica

geral: faz a medicina preventivo

e os

pequenos curativos de emergência.

Trata-se de ume arma do regime,

mas que, no momento, está

suspensa na parede, inofensiva,

como se a sua utilidade fôsse a

decoração do ambiente. Arranjos

interiores, como se diz. Como

aquêles caçadores sazonais que,

voltando à normalidade do dia a

dia, penduram na sala de estar as

cabeças dos animais abatidos, qual

troféu ou lembrança das emoções

passadas, e na mesma parede, os

rifles que garantiram a sua

sobrevivência; assim o regime

guarda, bem visível, mas sem

utilidade imediata, o seu potencial

de fogo institucional. Um rifle na

parede só pode ameaçar quem

ameaça o dono da casa; os parentes

e os inquilinos passeiam

despreocupados pela sala, certos de

que aquela arma jamais será usada

contra êles.

O AI-5 transferiu-se da sala

de cirurgias para

a clínica

geral: hoje, exerce tanto a

medicina preventiva

como

faz curativos de emergência.

Do ponto de vista da experiêneja

colhida e descrita por tôda a ciência

política disponível, não há como

enquadrar o projeto político dos

militares brasileiros numa categoria

definida. Quem leu o texto da

entrevista que nos concedeu o

professor Cândido Mendes deve ter

observado que a ciência política

não registra casos de retomo a uma

normalidade prdviamente

definida.

0 fato de os militares desejarem,

como expressou o general Malan,

devolver aos políticos o exercício

do poder e da representatividade,

não significa a passagem de um

estado de anormalidade para um

outro de normalidade que estaria

sendo perseguido desde março de

konjuntura

C

I

e<

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Ikonjunturaj

O tipo de liderança exercida

por Filinto pressupõe uma

corrente permanente de fé:

Do governo na sualealdade e

das bases na sua autonomia. I

OS CAMINHOSDA ABERTURA

Mediei pode não amar o AI-5, mas não pode

deixar de ver nêie uma arma providenciai

A posição do presidente Mediei

parece-se muito com a desse caça-

dor ajuizado. Êle não vive dando

tiros dentro de casa para abater ani-

mais imaginários, mas também não

se dispõe a seguir recomendações

no sentido de jogar o rifle fora.

Mesmo que o rifle (AI-5) não seja

arma de sua estimação particular,êle sabe que o rifle funciona e man-

tém a distância os animais mais pe-

rigosos. Há ainda um outro detalhe:

$ que o presidente Mediei nâo é o

dono da casa, nem do rifle. Trata-se

de um locatário, um responsável

temporário pela arma e pela casa.

Com direito de usar a casa e a arma

quando julgar necessário. Com a

concordância dos donos, êie poderá

reformar a casa, abrir janelas, derru-

bar paredes, e até lançar fora a arma

que intimida tanta gente. Mas isto,

é claro, depende de um acordo

amplo do locatário com os locado-

res. E os locadoras se fiam no bom

senso do locatário.

0 que o deputado Etelvino Lins

quer é.tirar o rifle da parede da sala

e guardá-lo no sótão. Tornar mais

agradável e menos hostil o ambiente

da casa sem, contudo desarmá-la.

Há quem pense que o rifle, assim,

não ficaria imediatamente à mão,

que sua utilização dependeria de

uma escada (aprovação de estado de

sítio pelo Congresso), e que, em úl-

tima instância, não prestaria os

mesmos serviços. Por outro lado, há

quem pense, também, que a fórmu-

la Etelvino nada modificaria e que o

rifle poderia ser manejado a torto e

a direito, como se estivesse na sala

de visitas.

A ESTRATÉGIA DE MEDICI

O presidenta Mediei nunca acei-

tou discutir o AI-5 como tema poli-

tico. Ao escolher o presidente da

Arena, os presidentes do Senado e

da Câmara e os governadores esta-

duais, éle adotou o princípio de não

confiar esses postos de responsabi-

lidade poíítica a nenhuma das gran-

das figuras do partido envolvidas,

de um modo ou de outro, com os

acontecimentos que suscitaram a

decretação do AI-5. Houve um esva-

Üamento (como dizer?) progra-

mado da função do partido e da

função do Congresso. Ao decidir-se,

contudo, pela indicação do senador

Filinto Muller para a presidência da

Hsü í -' - • $*

^^B^flj»l.

Mediei

* **WW wÊê-*' tSÊ&< ^—m

__\\\\\__\ \Wj%, "¦

___________e___________\______í ^|

I flfl ^P^ v^ ^P^M

Arena, Mediei está reabilitando, e

como que concedendo uma nova

oportunidade, ao comando partida-

rio que foi alijado em 1968. E uma

espécie de liberdade sob custódia. A

volta de Filinto consagra o retomo

ao jogo político da Constituição de

1967, com o AI-5 de reserva. Filin-

to e a Arena terão de recriar esse

mesmo jogo em outras bases e com

outras regras. E com um árbitro que

corre o campo todo, cobrindo todas

ê esta tentativa de recriar o jogo

político anterior ao AI-5 que cons-

titui, na verdade, a projeto de aber-

tura de Mediei. Se êle estivesse dis-

posto a manter a Arena e o Con-

gresso em banho-maria, nào teria

necessidade de mudar a direção

partidária. Mas se mantivesse o

deputado Batista Ramos não con-

venceria ninguém do seu propósito

de acionar, para uma ação mais

profunda e repfesentativa, tanto o

partido com o Congresso.

Encaixa-se, assim, a definição de

liberdade progressiva do poder poli-

tico, feita pelo general Malan, com

a primeira pedra (a presidência da

Arena) movida pelo presidente

Mediei no tabuleiro do poder pol iti-

co. Sem nada de novo para propor,

o senador Filinto Muller é, contu-

do, um dos poucos homens na

Arena que exercem liderança efeti-

va e que sabem o preço dessa lide-

rança. Êfé t\8p aceitaria a presiden-cia do partido se fosse obrigado a

vestir o modelo curto do Batista

Ramos. A sua liderança, como a de

Krieger, a de Etelvino (de quemmais?) é feita de uma substrato

político que se chama interme

diação. Ele não é um líder passionalou carismático que aponte o cami-

nho e force o percurso. Êle é do

leva e traz. Aquele que explica por

que não traz e que também expõe

porque leva. Se lhe falta o apoio de

cá ou de lá, seu papel se dilui e êle

se apaga, aliás, se afasta, como

Krieger* sempre fêz.

0 TESTE

Observa-se que até aqui o presi-dente Mediei vem dando curso à sua

estratégia de reconstrução progra-mada e gradualista de funcionamen-

to das instituições políticas. Em

primeiro lugar, faz crer na realiza-

ção de eleições diretas para os go-vemos estaduais. Em^função dessa

primeira abertura, devolve à Arena

o seu comando efetivo e com isso

demonstra aceitar sugestões, em

níveis mais profundos, a respeito

das decisões políticas que vier a

adotar.

O que será feito com o AI-5, o

que será decidido a respeito do

habeas-corpus, que caminhos se

abrirão às comissões parlamentaresde inquérito (hoje, totalmente obs-

Filinto Muller

traídos), em que termos se proces-sara a escolha do futuro presidente,

quem será quem nas convenções

estaduais da Arena, são perguntas a

que o tempo dará resposta, mesmo

quando não responda.

O primeiro teste, contudo, do

papel e da função de Filinto na

presidência da Arena será o trata-

mento que merecer, dentro do

partido, a excitação que já se obser-

va no sentido da apresentação de

uma emenda constitucional permi-tindo a reeleição dos presidentes.Um movimento desse tipo não

precisa cie consentimento nem de

estímulo presidencial. Êle já é uma

tradição e uma das mais arraigadas

marcas da fraqueza da classe poli-tica brasileira. Mas a própria classe

política e as lideranças partidáriassempre tiveram o bom-senso de

neutralizar essas investidas e confi-

nar os seus arautos. Desta vez, vere-

mos.

Outro e importante pressupostoé, como já dissemos, o das eleições

diretas para os governos estaduais.

Se alguma coisa ou algum motivo

fôr levantado para impedir a reali-

zação de eleições diretas ... Bem,

nesse caso, não será apenas o sena-

dor Filinto Muller que terá a sua

missão esvaziada. Nós mesmos,

jornalistas políticos, teremos que

procurar outra profissão.

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POUTIKA

Sebastião

Nery

Otávio Mangabeira

I folklore

Ipolltlko^

OTÁVIO MANGABEIRA

VERBETE:

Mangabeira (Otávio)

nasceu em Salvador em

1886 e morreu no Rio

em 1960. Engenheiro,

formado pela

antiga

Escola Politécnica da

Bahia, da qual foi

catedrático de

astronomia. Em 1908,*

elegeu-se membro do

Conselho Municipal

(Câmara de Vereadores)

de Salvador. Em 1912,

era deputado federal,

reelegendo-se

sucessivamente até 1926,

quando foi ministro

das relações Exteriores

do govêrno Washington

Luis. Em 1930, foi para

a Academia Brasileira de

Letras. Vitoriosa a

revolução de 30, deixou

o país e foi morar na

Europa e nos

Estados Unidos, só

voltando em 1945,

quando da derrubada da

ditadura. Mesmo

no exterior, participou

ativamente da campanha

pela democratização do

País, sendo um dos

fundadores da UDN.

Deputado federal em

1945, foi primeiro

vice-presidente da

Constituinte, e se elegeu

governador da Bahia

em 1947. Presidente

da UDN, passou depois

para o PL. Mesmo

sem mandato, combateu

Vargas até 54.

elegeu-se mais uma vez

deputado federal,

Participou da campanha

presidencial de Juarez

Tavóra,eem 1958

era senador pela Bahia.

Morreu sem concretizar

sua última vontade

Pol ítica, que era ser

prefeito de Salvador

nas eleições de 1962.

Ü0|S de seus melhores

a. t,tu|os: os livros

irmãfeL ?^a(*o ^ e

0 João Mangabeira.

1

Mangabeira era go-

vernador da Bahia,

o presidente Dutra

visitou o Estado. Foram

até a cidade.de Barreiras,

lá no extremo norte, terra

de Antônio Balbino e Tar-

cilo Vieira de Melo. A co-

mitiva oficial foi saudada

pelo agente de Estatística

(do IBGE) e rábula famoso

em tôda a região, José Ma-

riano de Sousa.

O orador enumerou as

últimas obras públicas que

tinham sido inauguradas

na cidade: —

o hospital, o

serviço de água, o ginásio'e

a nova cadeia, com am-

pios e confortáveis xadre-

zes .

Mangabeira fechou a ca-

ra, não disse nada. Acaba-

dos os discursos, chamou

Orlando de Carvalho, che-

fe político do município:

— Seu Orlando, quando

formos embora, mande

prender êsse orador. Já es-

tive prêso várias vêzes e

nunca vi xadrez amplo e

confortável. Êsse cretino

precisa aprender que

nao

se elogia cadeia nem carce-

reiro.

2

Nas arruaças aéreas

de Aragarças e

Jacareacanga, a cri-

se chegou ao Senado. Fe-

linto Muller, lider do go-

vêrno, foi à fribuna denun-

ciar "os

conspiradores po-

I (ticos, insufladores da de-

sordem na Aeronáutica e

inimigos da Pátria". Man-

gabeira pediu um aparte:

— Desafio que se levante

o único dos representantes

do povo nesta Casa que

nunca tenha conspirado.

Temos sido todos, aqui,

uns mais outros menos,

conspiradores. De mim,

devo declarar que, ao lon-

go de minha já longa vida

pública, não tenho feito

outra coisa.

Sentou-se. 0 debate aca-

bou.

3

Estava na tribuna

da Camara Federal,

pedem-lhe um

aparte:

Meu filho, seu nome?

Fernando Ferrari, li-

der da bancada do PTB.

Pobre País de líderes

mal saidos das fraldas.

E continuou o discurso.

4

Chegou à casa do

senador José Cân-

d ido Ferraz, en-

controu na sala um grande

retrato do brigadeiro

Eduardo Gomes:

Você ainda conserva

êste santo na redoma?

Claro, doutor Otávio.

É uma homenagem a um

grande brasileiro e um ges-

to de gratidão pessoal.

Ora, seu Zé Cândido,

a homenagem eu com-

preendo. Mas gratidão po-

I ítica a gente guarda seis

meses. E faz mais de qua-

tro anos que êle perdeu pe-

Ia segunda vez. Essa sua

gratidão já está prescrita.

5

Nunca teve uma

casa, nunca teve

nada. Em Salvador,

morava no Hotel da Bahia.

No Rio, no Hotel Glória:

Sou contra a proprie-

dade. Ela escraviza.

Uma noite, no Hotel da

Bahia, mandou chamar o

atual deputado Lomanto

Júnior, lá hospedado. E re-

comendou que êle viesse

rápido. Lomanto pôs um

paletó de pijama

sôbre a

calça esporte e foi ao apar-

tamento do senador:

O que é isso, seu Lo-

manto?

O que, doutor Ota-

vio?

Eu chamei você com

pressa, mas não precisava

vir nu. Volte, vista-se e ve-

nha.

6

Uma quinta-feira à

tarde, procuraram

o então deputado

Luis Viana Filho no Pala-

cio Tiradentes. Mangabeira

informou:

— Está no chá da Acade-

mia.

— Doutor Otávio, êle

não vai à Academia hoje,

porque há reunião de Co-

missão aqui na Câmara, a

que êle não pode faltar.

— È porque você não

conhece o Luis. O chá da

Academia tem jeton. E,

por um jeton, o Luis é ca-

paz de ir ao Meier a pé.

Luis Viana estava mes-

mo no chá (com jeton) da

Academia.

7Auro

Moura An-

drade (aposentado

por entender de

fardas e togas) terminava

um discurso no Senado^

Ao lado de Mangabeira, al-

guém estava empolgado:

— Doutor Otávio, o se-

nhor ouviu o discurso do

Auro? Formidável, não

foi? Uma beleza!

— Foi bom, sim. Mas

não ao ponto de o senhor

soltar girândolas para cima

de mim.

8

De 1900, estudan-

te, a 1960, sena-

dor, nunca fêz ou-

ira coisa. Só política. Foi

o profissional da política.

E disso muito se orgulhou:

a) _

"Tive a fortuna ou

a desgraça —eu mesmo

não sei ao certo; o que sei

é que não me lamento e

quero crer que, se voltasse

atrás, não mudaria de ru-

mo — tive a fortuna ou a

desgraça de, arremessado,

quando era ainda estudan-

te, no campo do que se

chama a atividade política,

ou, se preferirem, a vida

pública, passar, em conse-

qüência, a pertencer, desde

aqueles tempos que vão

longe, até êste momento

em que vos falo e, já agora,

acredito, até o fim dos

meus dias, a uma raça

amaldiçoada: a dos que fa-

zem da atividade política

ou da vida pública um ofí-

cio, por ela renunciando a

tudo o mais; por ela pe-

nando, mas perseverando;

e, quanto mais por ela con-

duzidos às decepções e aos

revezes, tanto mais resolu-

tos no propósito, não só

de pratica-la, senão de

amá-la e até de venerá-la,

na certeza —

que para mui-

tos não passará de ilusão,

de cândida, infausta ilusão

— de que é ela, quando

honradamente confessada

ou exercida comsincerida-

de, uma forma entre as

mais altas, quem sabe a

mais expressiva, porquanto

a mais onerosa e a menos

reconhecida, de amar e ser-

vir a Pátria".

b) —

"Sem boa política,

ou praticada a política de

maneira a converte-la na

contrafação, na desnatura-

ção, na negação da políti-

ca, não pode haver bom

govêrno, senão, ao contrá-

rio, maus govêrnos, ausên-

cia de govêrno, desgovêr-

no".

c) _

"Foi a teoria das

acomodações ilimitadas

que aluiu, no Brasil, a poli-

tica e os políticos".

t*

¦

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POLITIKA

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HOJE, flpRESewTftftewoS

UMA PESQOÍSR iÔ&RZ o

CONHECIMENTO E ft

ACEITAÇÃO POPULAR

PA' Cftifljlío PE

novo PRRTiPOcoentro

XOMO-N/OCé PODE O05fíRVA*,

EU t COMO A MA/oRiA DOS

ELEMENTOS OA CLASSE-*MÍDlA,

ÔOU Mi/ÍTO iWPEFÍMÍOO PARA

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POLITIKA

Oliveira

Bastos

Há uma mística, no Brasil, denão se reformar o Ministériosob pressão. Getulio já fêz

este jogo para se livrar de

ministros. E Mediei, agora ?

19atualidade

J

QUEM DERRUBA QUEM NO GOVERNOmt affjçy

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Reis Veloso, Rubens Costa e Costa Cavalcanti Hélio Fernandes

OS CONFLITOS

MINISTERIAIS^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^mÊ^^^^I^^^^^^^^^ '"'''"'''"''''flfl

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¦ -•*

Volta-se a falar, com certa

insistência, em reforma

ministerial. O jornalista

Hélio Fernandes, por exemplo,

deiúe o ano passado vem dizendo

que o Presidente Mediei fará esta

reforma no começo de 1972.

Vai mais longe na sua previsão:

chega a indicar alguns dos

ministros que serão substituídos,

e o que farão depois de

deixarem as pastas que ocupam.

Jornal isticamente, este tipo de

previsão é um exercício perigoso,

mas excitante. Dizemos perigoso

porque, no Brasil, criou-se uma

certa tradição de não haver

reforma ministerial enquanto

se fala nela. Getulio dizia:"não

mudo ministros, sob pressão",

mas êle próprio, não raro,

deflagrava as pressões para se

ver livre de alguns ministros.

Outras vezes, usava de tais

cautelas que o próprio ministro

a ser substituído sentia-se

mais forte do que nunca

justamente nc instante em

que era dispensado.

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POLI TI K A

atualidade

Médici permanece

uma incógnita

sôbre a reforma ministerial, e

as cincosubstituições que já fêz

buscavavam apenas preservar

a integridade de seu comando

OS CONFLITOS

MINISTERIAIS

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Getúlio Vargas . -i«r

Suplicy foi terrível

mal-estar que

Castelo

carregou muilo íempo

*- *

Em 1953 o velho Simões Filho

era ministro da Educação. Alguns

jornais começaram a dizer que êle

seria substituído. Homem de orgu-

lho e de personalidade, Simões ri-

lho foi a Getúlio e colocou o cargo

à sua disposição. 0 presidente tran-

qutiizou-o. Afinal, não escolhia nem

dispensava seus ministros pelos jor-

nais.' E começaram, os dois, uma

longa conversa sôbre netos. Simões

confessou a Getúlio que duas vêzes

chegara atrasado a reuniões ministe-

riais porque estava brincando com

os netos. "Fez

muito bem",

disse-lhe Getúlio, "na

nossa idade, é

a única álegria verdadeira". E termi-

nou pedindo um grande

favor a seu

ministro da Educação: que Simões

Filho chefiasse a delegação brasilei-

ra à reunião da UNESCO, que se

realizaria dois meses depois, em Pa-

ris. Êle atribuía-muita importância a

essa reuniãb e achava que o Brasil

tiraria mais proveito se compareces-

se com o seu ministro da Educação.

Simões Filho, desnecessário é

dizer, voltou radiante do Palácio.

Estava mais forte do que nunca. E

dois mêses depois Seguia, elegante

como sempre, paraxParis. Dois dias

após, eantes mesmeique se instalas-

se a reunião da UNESCO, êle rece-

bia um telegrama del^Getúlio acei-

tando o seu pedido de demissão e

agradecendo os "relevantes

serviços

prestados a seu govêrno". Foi Péri-

cies Madureira de Pinho,/chefe de

gabinete de Simões Filho, quem

passou o Ministério a seu sucessor.

Getúlio era assim.,

Mas a tradição, no Brasil, é não

haver mudança de ministros quando

há muita especulação em torno do

assunto. 0 que, bem pensando, não

deixa de ser um absurdo. Quando

Supticy de Lacerda

um ministro vai bem, ninguém fala

da possibilidade de sua substituição.

Mas se êle vai mal e começa a ser

atacado pela imprensa, o fato de ser

atacado se transforma, quase sem-

pre, na garantia de sua permanên-

cia. Suplicy de Lacerda, por exem-

pio, foi um terrível mal-estar que

Castello Branco carregou por longos

mêses apenas para não ceder.., a *

pressões. Tarso Dutra foi a mesma

coisa para~€osta e Silva.

Já o presidente Médici, sob êste

aspecto, permanece ainda como

uma incógnita. Durante todo o seu

período de govêrno, êle tez apenas

cinco substituições importantes e

tôdas para garantir a unidade de sua

equipe, isto é, de comando e de ori-

entação. Substituiu um ministro da

Indústria e Comércio que entrara

em conflito com o ministro da Fa-

zenda; substituiu o presidente do

BNDE porque entrara também em

conflito com o ministro da Fazen-

da; substituiu o presidente do BNH

(Mário Trindade) porque êste se

mostrava inflexível na aplicação da

correção monetária à cobrança dos

débitos assumidos pelos comprado-

res de casas próprias —

Mário Trin-

dade saiu mas a inflexibilidade per-

maneceu; substituiu, também, o

¦ Er^SF jfl

^Mr

Mário Penteado

ministro da Aeronáutica para con-

tornar um probiema interno, da

corporação; finalmente, substituiu

o presidente do IBC porque êste

não vinha afinando com as normas

traçadas pelo ministro da Fazenda.

Duas lições podemos tirar dessas

cinco substituições: a primeira,^ é

que tôdas se fizeram como se fôs-

sem medidas de impacto, isto é, vie-

ram de surprêsa, antes que a moti-

vação dos atos* presidenciais che-

gasse às redações dos jornais. A se-

gunda conclusão a tirar é que tôdas

essas substituições tivetam-origem

em choques de orientação, dentro

do govêrno. Em três, das cinco

substituições, o ministro Delfim

Neto fez valer a sua força dentro do

govêrno: liquidou, sucessivamente,

o- Fábio Yassuda, o Jayme Magrassi

de Sá e o Mário Penteado. Neste

último caso, então, a vitória foi

completa, pois o substituto de Pen-

teado acabou sendo a pessoa mais

identificada com o próprio ministro

da Fazenda. Então, conclua-se: não

é bom negócio, para quem está no

govêrno, discordar de Delfim. Para

quem está fóra do govêrno, então,

nem é bom falar. ..

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OS CONFLITOS

MINISTERIAL

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POLITIKA

05 CONFLITOS

MINISTERIAIS

Não existe, no momento, nada

que permita vislumbrar áreas

de atrito no seio do govêrno.

Isto não representa que

tudo

seja como

"manso

lago azul"

atualidade

Médici não íolera choque de orientação. Cai

quem Delfim

apontar como enfrave à sua mela

Embora concedendo às previsões

de Hélio Fernandes todo o crédito

que uVn longo passado

de "furos"

jornalísticos avaliza,somos levados a

crer que não existe' no momento,

perspectiva de uma reforma minis-

terial. Vamos mais longe: não com-

bina com o "estilo"

de Mediei e

com a profundidade na intervenção

governamental na área econômica,

uma reforma ministerial.

0 programa administrativo de

Mediei está balizado e nada leva a

crer que o presidente, nesta altura

dos acontecimentos, procure outras

metas de impacto ou putra orienta-

ção econômica. Como bom torce-

dor de futebol, êle sabe que não se

deve bulir muito em time que está

ganhando. E pelo menos para efeito

do Produto Interno Bruto e dos re-

cursos à disposição do govêrno, o

time do Delfim está dando lavagens.

O máximo que se pode esperar é

a substituição de um ou outro mi-

nistro e tendo em vista, sempre,

aquela segunda conclusão que tira-

mos das cinco substituições impor-

tantes realizadas por Médici, até es-

ta data. A saber: o presidente não

tolera choques de orientação na sua

equipe e como a orientação que

mais lhe convém, por motivos

óbvios, é d/S ministro da Fazenda,

cairá quem fôr apontado, por

Del-

fim, como um obstáculo à política

de crescimento econômico do país.

Como cairam Yassuda, Magrássi e

Penteado.

Não existe, no momento,

nenhuma discordância declarada no

seio do govêrno. As áreas de atrito

estão sendo contornadas com muita

diplomacia, alguns sapos vão ser en-

golidos com aparente boa-vontade.

O que não

quer dizer que o govêrno

todo seja um "manso

lago azul". Às

vezes, "é

mar fremente" e o eco das

ondas chega até nós.

Importa, portanto,

saber quem,

no ministério, tem motivos para

olhar enviesado o titular da Fazen-

da. Porque é dêsse grupo que pode-

rá sair, se é que sairá, o pretexto

para as substituições. Mas poderá

até ocorrer que as mesmas conclu-

sões por nós tiradas já tenham ocor-

rido aos ministros de Estado e que

todos, hoje, se esforcem — como a

aparência demonstra

— por

exibir

uma unidade de ação e de pensa-

Reis Veloso

mento que, mesmo não sendo real,

deve prevalecer para uso externo.

Ou, como diziam os antigos, ad

usum delphine.

Os conflitos

, Uma coisa é certa: o ministro da

Fazenda não costuma cultivar con-

flitos de natureza pessoaL Seus con-

flitos são sempre de função, a saber,

conflitos de políticas (caso Yassuda

e Magrássi), conflitos de compe-

tència e conflitos de perfórmance.

Olhando o panorama da atual

equipe ministerial é possível apon-

tar e descrever alguns conflitos que

poderiam vir à tona, em outras cir-

cunstâncias ou com o govêrno sob

outro comando. Como o ponto ba-

sico desta matéria é a anunciada re-

forma ministerial (Hélio Fernandes)

e o nosso ponto de vista é que po-

derá, quando muito, haver queda

de

um ou outro ministro (mas nao ne-

cessàriamente), vale a pena,

então,

especular sobre os motivos que po-

der iam dar margem a uma possível

substituição de ministros.

1 - Conflitos de políticas

- Existe, l

veladamente, um certo conflito en-

tre o Ministério da Fazenda e o das

Relações Exteriores. O ministro Má-

rio Gibson parece colocar tôda a ên-

fase de sua ação no alistamento do

Brasil com os países do Terceiro

Mundo,- enquanto o ministro Del-

fim Neto concentra seu esforço na 1

ampliação de um diálogo com as

grandes potências, especialmente

Estados Unidos, Alemanha, Japão e

França. Enquanto o Itamaraty se

volta mais para a América Latina e

a África, o Ministério da Fazenda

aprofunda seus contatos e suas ne-

gociações com América do Norte,

como Japão|e a Europa.Poder-se-ia

dizer que os dois esforços se com-

plementam e fazem parte de uma

estratégia, bem dividida, de atribui-

ções. Até certo ponto sim. Em mais

de uma ocasião, contudo, declara*

ções e atitudes do ministro da Fa-

zenda deixaram o ministro das Re-

Iações Exteriores numa posição

"gaúche". O comportamento do

Brasil em relação à taxa de 10% sô-

bre produtos importados pelos Es-

tados Unidos é, no mínimo, ambí-

guo.

Existe, também, um conflito de

políticas entre o Ministério da Fa-

zenda e o do Interior no que se rela-

ciona à alocação de recursos para o ^

Nordeste e a Amazônia. Êsse con-

flito não ganha dimensões porque

não é do estilo do ministro, Costa

Cavalcanti dar murros em ponta de

faca. Mas os que sabem ler nas es-

trelinhas do processo político de-

vem estar lembrados que a recente

denúncia de parlamentares arenistas

contra a situação de abandono do

•Nordeste não era endereçada contra

o ministro do Interior. Diversos se-

nadores fizeram questão de assina-

lar seu apoio ao esforço desenvol-

vido por Costa Cavalcanti. Aquém,

então , os senadores queriam cul-

par? 0 avanço, progressivo e irre-

versível, sôbre os recursos destina-

dos à SUDENE e à SUDAM, pode

i contar com o silêncio, mas não con-

ta com o apôio de Costa Cavalcanti.

Embora, diga-se de passagem, Del-

fim esteja certo quanto ao melhor >

rendimento que pode ser tirado dês-

I ses recursos.

isp

A

*

OS CONFUTOS

MINISTERIAL

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POLITIKA

22atualidade

Delfim sabe que o Ministério

depende dos bons resultados

econômicos. Então, invade os

domínios de outras pastas.fr.

Pratini de Moraes

Todos eslão felizes,

já que ao pessoal daFasenda cabe o mando

2-Conflitos da

Existe, hoje, entre o Ministério da

Fazenda e diversos setores do Go-

,, vêrno. Delfim sabe que não podecontar muito com a ajuda dos ou-

tros, para sobreviver, e sabe tam-

bém que sua sobrevivência depende

de bons (e cada vez melhores) resul-

tados na área econòmico-financeira.

Então, invade freqüentemente do-

mínios de outras pastas. E se nâo

encontra resistência, anexa territò-

rios. A sua assessoria internacional,

que no início se reduzia a dois as»*

ssôres e uma secretária, hoje ocupa

espaço e função vital no seu esque-

ma de poder, é pòr esta assessoria e

não mais pelo Itamaraty que se pro-

cessam as negociações para amplia-

ção e pagamento da nossa dívida

externa. E até possível que o Itama-

raty não saiba mais o quanto nem a

quem devemos, mas o Vitar de

Queiroz sabe tudo. Também neste

ponto a expansão de Delfim ó justi-

bicada. Êle teve necessidade de

submeter a seu controle o processo

de endividamento externo do Brasil

e passou a disciplinar os pedidos de

empréstimo tanto do setor público

^ÍUnião, Estados e Municípios), co-

mo do setor privado.

Conflitos de competência tem

ainda o ministro da Fazenda com

seus colegas da Agricultura e da In-

dústria e Comércio. Um desses con-

flitos, logo no início do governo(preço da carne no mercado inter-

no, que Delfim segurava) foi resolvi-

do a favor de Cirne Lima, mas, a

partir daí, Delfim tem ganho todas.

Há ató o caso do Sunabâo que, porlei, ó presidido, pelo ministro da

Agricultura; mas quem senta à cabe-

ceira, nas reuniões desse órgão, é o

Delfim. E, no caso, não é bem 8.

posição das cadeiras o que mais im-

porta. No que toca ao café (IBC)não chegou a haver, na verdade, um

conflito de competência de vez queo Marcus Vinícius é jejuno no as-

sun to. A política estava certa, sua

aplicação errada, o país tendo pre-

juízos - Delfim foi lá e jogou o Má-

rio Penteado na rua. Não havia co-

mo não apoiá-lo.

No caso do Nordeste, enquanto o

ministro do Interior passeava pela

Europa o Delfim encontrava uma

fórmula que permitia a construção

da Transamazônica sem necessidade

de deslocar um só centavo do Orça-

mento. Terá sido essa fórmula a

mesma encontrada por Costa Cavai-

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Mário Gibson Barbosa

canti para dar conteúdo administra-

tivo à promessa presidencial de"mobilizar

a Nação para salvar o

Nordeste" (discurso no Recife)? A

Nação até hoje não foi mobilizada,

mas se Delfim mentiu, o certo é que

não se omitiu, nem emitiu. E Costa

Cavalcanti ainda aplaudiu.

3-Conflitos da performance-iTambém nesta faixa não há como

deixar de justificar a ampliação do

poder de Delfim Neto. À pergunta-chave, à pergunta-essencial sobre

quem responde pelo sucesso ou pe-

lo fracasso da política econômico-financeira, qualquer brasileiro dirá:

o ministro da Fazenda. Então não é

absurdo que o ministro da Fazenda

procure ter diretamente sob seu

controle todos os instrumentos des

sa pol ítica, mesmo que eles estejam

administrativamente vinculados a

outras pastas. Se um órgão federal,

de vital importância, está sendo

operado por mãos inábeis ou in-

competentes (performance negati-

va), podem esperar porquelogo ai-

gum elemento da equipe do Delfim

vai lá e toma posse. Foi o que acon-

teceu, agora, com o IBC; mas foi,

também, o que aconteceu antes

com o Bianco da Amazônia. No caso

do Banco da Amazônia houve um

duplo conflito de competência. Um

de natureza política, pois o Banco

estava entregue ao pessoal de Jarbas

Passarinho, e outro de natureza

administrativa, pois o Banco está

OS CONFLITOSMINISTERIAIS

subordinado ao Ministério do lnte-

rior. Mas o novo presidente do Ba-

sa, ao assumir, foi enfático: "Estou

aqui, disse êle, para cumprir as de-

terminações do Ministro da Fazen-

da". E não tem feito outra coisa.

De modo que a inapetência para o

trabalho ou a vocação para o traba-

lho errado podem ser fontes de con-

flito com o ministro da Fazenda.

Nós não nos surpreenderemos se o

atual ministro da Indústria e Co-

mércio fôr catalogado neste tipo de

conflito.

4-0 nSo-conflito - Embora

com atribuições limítrofes ao do

ministro da Fazenda, não é justo es-

perar nenhum tipo de conflito entre

Reis Veloso e Delfim. Isto porque

Delfim já absorveu, na prática, todo

o conteúdo do Ministério do Plane-

jamento. A Comissão Interminis-

terial de Preços (CIP) deveria, a ri-

gor, pertencer ao ministério que se

diz de Coordenação. Trata-se de um

instrumento poderoso e, como tal,

é do Delfim. A programação orça-

mentária deveria ser feita pelo Pia-

nejamento e apenas cumprida pelo

da Fazenda; é feita e cumprida pelo

da Fazenda. E assim sucessiva-

mente. Ficou com Veloso a tarefa

das projeções (EPEA), por onde êle

se entusiasma, e a obrigação das me-

dições globais (IBGE-Censo) por

onde êle se deprime. Mas o Veloso,

justiça seja feita, nada reclama. A

troca, do real pelo imaginário (o

Brasil futuro e o Brasil passado) é o

mecanismo pelo qual Veloso evita

qualquer tipo de conflito. Repete,

nisso, a tática dos primeiros coloni-

zadores do Piauí. Foi gente que en-

controu dificuldade para criar

gado na Bahia e em Pernambuco,

por causa da competição, que se

meteu pelo sertão até chegar ao

Piauí. O Piauí foi colonizado do

sertão para a beira, e por isso é um

Estado praticamente sem orla marí-

tima. No Ministério do Pianeja-

mento, de igual modo, o Reis Velo-

so sò dispõe de uma pequena franja

do oceano do poder. Onde, aliás,

êle mergulha, todo satisfeito, o de-

do mindinho que é o BNDE. Con-

duindo: quem está tocando, de fa-

to, o governo é o Delfim. Dentro da

atual equipe ministerial todo mun-

do parece satisfeito e até agradecido

com as invasões de domínio feitas

pelo pessoal da Fazenda. Não há,

portanto, possibilidade de conflitos

abertos. Os que podem ocorrer são

estes que acabamos de descrever.

ias.

•___•.• —¦

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Editoria

egsS^EflKkJy^HE*

'^ÍHf I korreio I

Joel Silveira

Joel estamos esperando por vocêAquiles Marciano Cordeiro

(SQS 415-Bloco P-

Apto 106-Brasília) -

Hélio DUtUI , no nume

ro9 de POLITIKA, você

publicou dados do censo

de 1970 sobre a distribui-

ção da renda da populaçãobrasileira. Tabulados, esses

dados dizem o seguinte:

Silinos Núir.ero de Tt s/ %»/

mCt% 1,00 Peuoas população remunerados

«cim.de 2 001 305 763 0.3 1.2

de 1.001 até 2000 659.823 0.7 x2.5

de 501 até 1000 1 737 748 1.9 6.7

de 251 até 500 4.307.078 4.6 16,5

de 201 até 250 1 320 689 1.4 5.1

de 151 até 200 4 603 960 5,0 17,7

de 101 até 150 3 769 887 4,0 14.4

menos de 100 9.374 229 10,1 35,9

TOTALPKSSOAS REMUNERADAS 26 079 177 28.0 100.0

Pessois nio remuneradas 67 125 202 72,0-x-

POPULAÇÃO BRASILEIRA 93 204 379 100.0

Você diz que é de

29.545.293 o número de

pessoas economicamente

ativas. Na minha soma en-

contrei total diferente. Vo-

cê poderia republicar osdados com as correções ne-cessárias ? Para quem de-tem o poder decisório, oconhecimento de tais da-dos é de necessidade óbvia.Para quem não detém, ser-ve de orientação sobre amaneira adequada de diri-9«r as próprias atividades.

Se, de seu trabalho, perce-be remuneração tal quefique enquadrado na meta-de inferior da tabela, as

Providências adequadassao no sentido de aumen-lar os rendimentos; se ficana metade superior, a ativi-«de predominante convi-r* ser aquela que permitaaumentar a produção emfavor da coletividade.

ÇÕES° °AS LAMENTA*

0 número 9 de POLITIKAcirculou no «io no perío-

J ^ 20 a 26 de dezem-

oro, mas só chegou a Bra-«2 no dia 29. Quebrem o9?'no dos capitalistas (=quav'vem na Capital).

INCLUSÃO

Muito obrigado pelo trabalho

do.que vocês estão fazen

Meu caro Aquiles, os

números estão absoluta-

mente certos. As tabula-

ções avançadas do Censo

Demográfico de 1970 re

gistram exatamente eles.

Os recenseadores conside-

raram a população com

idade superior a 10 anos

como capaz de produzir

rendimentos. Assim a po

pulação brasileira com ida-

de superior a 10 anos, em

1970, era de 66.004.330,

desses 29.545.293 eram

economicamente ativos, e

os restantes 36.459.037

foram recenseados como

não economicamente ati-

vos. A Fundação IBGE po-

dera lhe fornecer material

completo sobre o assunto.

O endereço é: Av. Franklin

Roosevelt, 166— Rio de

Janeiro, GB.

Joel Silveira (Ipanema)

- "É difícil arranja^ adjeti-

vos para o jornal, pois é

excelente, aliás esplêndido.

Leio POLITIKA toda se

mana, não para me distrair

(o que também acontece),

mas por necessidade de ler

uma coisa tão bem feita e

tão bem escrita. Estou

concluindo algumas tradu-

ções e logo vou escrever

uma série de reportagens

para POLITIKA".-Joel é desses velhos

domadores que transfor-

mam a língua num animal

insólito e surpreen-

dentemente belo. Venha

logo, Joel; nós, aqui, como

você notou, temos um

compromisso: nunca dei-

xar que a pol ítica, por pior

que esteja, maltrate o idio-

ma.

Míriam Lipp Pacheco -

(Rua Júlio de Castilhos -

GB) ,- "Gostaria

que

POLITIKA fizesse e um

apelo..."- Transferimos sua car-

ta ao professor Cândido

Mendes. Quanto ao curso,

êle já existe, e aqui mesmo

no Rio. Consulte o

IUPERJ (Instituto Univer-

sitário de Pesquisas do Rio

de Janeiro). A sigla é feia,

mas o curso é do mais alto

nível.

Miguel Cruz ,

(Rio) - "Não

deixe de ir

ao lançamento do livro de

nossa autoria "Imagem de

um democrata" - subsí-

dios à História política e

administrativa da Guana-

bara » através do testemu-

nho biográfico de Mourão

Filho".- Miguel, lemos uma

cópia do original e é, de fa-

to, enorme o material que

você coleta para mostrar a

intensa atividade de Mou-

rão Filho na política cario-

ca. Mas o Mourão Filho

verdadeiro não está no seu

livro. Você se preocupa em

provar que Mourão nunca

foi comunista e até que

sempre lutou contra os co-

munistas. Ora, Miguel, to-

do mundo sabe que isso é

óbvio. O que ninguém

ainda documentou foi o

Mourão articulador de

campanhas políticas, o

Mourão manejador de mui-

tidões, o Mourão Filho

que sabe, como ninguém,

armar esquemas políticos e

fazer o eleitor votar em

quem nunca ouviu falar. O

Mourão inventor de depu-

tados, senadores e até de

governadores. Um dia nós

ainda daremos o retrato

deste outro Mourão. A

quem, aliás, o atual gover-

nador da Guanabara deve

todos os mandatos que já

teve, inclusive este último.

Adir Pedrosa (Juiz de

^^^^^^^^^^^^^HDHk. -> _tÈ* kmé

mmm^f^ÊE^-^^ rr^ÊA*mmmmm\\

b ^Hg| - r- *J*^_^_^Ê_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_\

i wm ppaa^*'^--^^^^^^aB *^B

Fora - MG) - "Apesar de

leitor assíduo do seu jor-

nal, ainda não li nenhum

trabalho sério que situe a

josição do governador

Rondon Pacheco no atual

panorama político".

- De fato, Adir, ainda

não chegamos lá. Estamos

realizando um levantamen-

to meticuloso da atividade

política de todos os gover-

nadores, na esperança de

adivinhar quem sobrevi-

verá. Não é este o caso do

governador Rondon Pache-

co. Para êle, o governo de

Minas é o coroamento de

uma longa carreira, a re-

compensa de uma luta sur-

da em meio a gente de

maior expressão política.

RoriÜon governa como

quem come doce gostoso:

indo devagarinho ao prato,

sabendo que não haverá re-

petição. Muito diferente

de outros governadores,

como César Cais, do Ceará,

que está chegando à área

pol ítica e nela quer perma-

Rondon Pacheco

necer. Continue lendo o

POLITIKA porque qual-

quer dia desses você terá o

retrato (como diria Limei-

ra Tejo) sincero da situa-

ção política do Rondon e

de todos os demais gover-

nadores.

Maria Dalva Mieli (São

Paulo) - "Essa história do

Murilo Marroquim é verda-

de mesmo ou só bafo? "

- Minha filha, você não

pode sequer imaginar do

que o Murilo é capaz. Mais

emocionante ainda foi o

encontro do Murilo com

Mao Tse-Tung, sobre o

qual êle não contou nem a

metade. Fizeram o Murilo

atravessar a China num

trem para se entrevistar

com o homem. E como

Mao sabia (e sabe) coisas

do Brasil, da Amazônia, do

Nordeste. O Murilo, agora,

está descansando em Olin-

da, mas logo volta com no-

vas e estupendas aventuras.

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