Brian Weiss - Muitas Vidas, Muitos Mestres

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Brian Weiss - Muitas Vidas, Muitos Mestres

Transcript of Brian Weiss - Muitas Vidas, Muitos Mestres

  • Muitas vidas,muitos mestres

  • Ttulo original: Many Lives, Many Masters

    Copyright 1988 por Brian L. Weiss, M.D.Copyright da traduo 2009 por GMT Editores Ltda.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro podeser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes

    sem autorizao por escrito dos editores.

    traduo:Talita M. Rodrigues

    preparo de originais:Regina da Veiga Pereira

    reviso:Ana Grillo, Claudia Ajuz, Isa Laxe, Luis Amrico Costa,

    Srgio Bellinello Soares e Sheila Til

    projeto grfico e diagramao:Ilustrarte Design e Produo Editorial

    capa:Raul Fernandes

    gerao de epub:SBNigri Artes e Textos Ltda.

    CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

    W456mWeiss, Brian L. (Brian Leslie), 1944-

    Muitas vidas, muitos mestres [recurso eletrnico] / Brian Weiss [traduo de Talita M. Rodrigues]; Rio de Janeiro: Sextante,2012.

    recurso digital

    Traduo de: Many lives, many mastersFormato: ePubRequisitos do sistema: Adobe Digital EditionsModo de acesso: World Wide WebISBN 978-85-7542-657-9 (recurso eletrnico)

    1. Catherine, 1952 ou 3-. 2. Weiss, Brian L. (Brian Leslie), 1944-. 3. Reencarnao - Biografia. 4. Terapia de vidas passadas. 5.Livros eletrnicos. I. Ttulo.

    11-1920 CDD: 133.9013CDU: 133.9

    Todos os direitos reservados, no Brasil, porGMT Editores Ltda.

    Rua Voluntrios da Ptria, 45 Gr. 1.404 Botafogo22270-000 Rio de Janeiro RJ

    Tel.: (21) 2538-4100 Fax: (21) 2286-9244E-mail: [email protected]

    www.sextante.com.br

  • A Carole, minha mulher, cujo amor meu alimento e amparo h mais

    tempo do que tenho lembrana.Juntos estamos, at o fim dos tempos.

  • Dedico meu amor e meu agradecimento aos meus filhos Jordan e Amy, que meperdoaram por lhes roubar tanto tempo a fim de escrever este livro. Agradeo tambm a Nicole Paskow, por transcrever as fitas gravadas durante assesses de terapia. E a Julie Rubin, cujas sugestes editoriais aps a leitura do primeiro esboo dolivro foram muito valiosas. Meus sinceros agradecimentos a Barbara Gess, minha editora na Simon &Schuster, por sua percia e coragem. Meu profundo apreo a todos os outros, aqui e ali, que tornaram este livropossvel.

  • PREFCIO

    Quando recebi o convite para fazer a apresentao da primeira edio brasileira do livro Muitasvidas, muitos mestres, do doutor Brian Weiss, tive a grata surpresa de receber tambm o currculodesse mdico. Porque no se trata de um autor qualquer, que escreve sobre vidas passadas eencontros com guias espirituais por meio de um mdium psicofnico, mas do professor catedrticode um dos mais conceituados hospitais universitrios americanos, como o Mount Sinai MedicalCenter.

    Brian Weiss psiquiatra e neurologista de renome, formado pela Universidade de Columbia, comuma srie de ttulos universitrios, membro das mais importantes associaes cientficas americanase, ainda, autor de vrios trabalhos mdicos, alguns dos quais premiados e da mais alta relevncia.

    Em seu livro, ele declara como foi difcil tomar a deciso de escrever sobre um assunto que parececompletamente fora do que comumente considerado aceitvel, dentro dos conhecimentos ecnones da psiquiatria corrente. Isto requer uma coragem que muitos cientistas no tm, porque omedo de ser criticado e mesmo ridicularizado impede a deciso de enfrentar o paradigma cientficovigente.

    No livro Beyond Ego, compilado com artigos de grandes psiclogos, fsicos, filsofos epesquisadores de psicologia transpessoal, como Grof, Capra, Maslow, Wilber e outros, o artigo deabertura se inicia com a seguinte frase: Todo ponto de vista depende de certas suposiesreferentes natureza da realidade. Se isso aceito, as suposies funcionam como hiptese; se isso esquecido, funcionam como crenas. Os conjuntos de hipteses formam os paradigmas. E maisadiante: Um paradigma que se torna normativo se converte em marco de referncia e filtroconceitual que condiciona a maneira natural e sensata de ver as coisas.

    Minha vivncia mostra que qualquer psiquiatra de certa experincia j se defrontou comfenmenos assim chamados parapsicolgicos, mas ou no quis tom-los em considerao, ou, se ofenmeno no pde ser negado, limitou-se a relat-lo para os ntimos como curiosidade semexplicao, por causa da grande dificuldade de enfrentar seu paradigma normativo.

    Todavia, o progresso da humanidade costuma dar-se quando um desses paradigmas desmantelado por novas evidncias, que criam novas hipteses e evidentemente novos paradigmas. a eterna luta do revolucionrio contra o establishment.

    No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia tem rejeitado formalmente, sem conhec-la, a terapiade regresso, por achar que no se trata de matria cientificamente comprovada, como se algumaforma de psicoterapia o fosse. Tambm acredita que a hiptese reencarnatria seria apenas umacrena religiosa. No interessa que, da profundidade da mente de grande parte das pessoas, surjamestranhas memrias de outras existncias, mesmo em indivduos no religiosos nem msticos. Taisfantasias deveriam ento ser desprezadas ou consideradas meras alucinaes, mesmo nos casosem que tais relatos tenham sido confirmados.

    por isso que s posso parabenizar o colega americano que, em sua posio bem estruturadadentro de uma universidade, foi luta e publicou um trabalho como este que tenho a honra deprefaciar. Quero dizer ainda que sua luta semelhante minha, pois os fenmenos com que ele sedeparou em seu consultrio, to antigos quanto a histria da humanidade, eu tambm vejo no meu

  • e somente no v quem tampa os olhos, no quer ver, ouvir ou sentir. Todavia, no sei quando serpossvel apresentar um trabalho sobre psicoterapia espiritualista a uma banca universitria dealguma faculdade de medicina sem que seja recebida uma sonora recusa. H poucos anos, umcurso de hipnose mdica que eu quis ministrar na clnica psiquitrica da Universidade de So Paulofoi rejeitado simplesmente porque em uma das aulas eu me propunha a discutir a terapia de vidaspassadas do doutor Morris Netherthon. Lembremos que, durante muitos anos, mesmo Freud noconseguiu qualquer aceitao na universidade de seu prprio pas. Para conseguirmosreconhecimento, ser necessria muita dedicao, rduo trabalho de pesquisa e a publicao dosresultados obtidos por aqueles que se dedicarem luta. Talvez, com o passar do tempo, tudo issoum dia possa tornar-se cincia ou ento chegar-se- concluso de que a viso cientfica no anica forma para penetrarmos em muitos dos grandes mistrios do universo.

    Por ver coisas que os outros no queriam ver, Jesus foi crucificado, Galileu foi quase massacrado,Giordano Bruno foi queimado na fogueira, Mesmer foi perseguido e Freud por muitos anos foiafastado do ambiente universitrio.

    Livio Tlio PincherleMdico Psicoterapeuta

    Presidente da SociedadeBrasileira de Terapia

    de Vida Passada

  • INTRODUO

    Sei que para tudo h uma razo. Talvez na hora no tenhamos o discernimento nem a percepopara compreend-la, porm, com tempo e pacincia, ela acaba por se revelar.

    Assim foi com Catherine. Eu a vi pela primeira vez em 1980, quando ela estava com 27 anos. Elaveio ao meu consultrio buscando ajuda por causa da ansiedade, das crises de pnico e fobias.Embora esses sintomas se manifestassem desde a infncia, tinham piorado nos ltimos tempos. Acada dia ela se sentia mais paralisada emocionalmente e menos capaz de agir. Estava apavorada e,compreensivelmente, deprimida.

    Em contraste com o caos que estava sendo, na poca, a vida de Catherine, a minha fluasuavemente. Eu tinha um casamento estvel, dois filhos pequenos e uma carreira em ascenso.

    Desde o incio minha vida sempre pareceu dar certo. Cresci num lar cheio de amor. O sucessoacadmico veio com facilidade e no segundo ano de faculdade tinha decidido ser psiquiatra.

    Formei-me com louvor na Universidade de Columbia, em Nova York, em 1966. Em seguida, fuipara a Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, onde me graduei mdico em 1970. Apsum estgio como residente no Centro Mdico de Bellevue da Universidade de Nova York, voltei aYale para completar minha residncia em psiquiatria. Ao terminar, aceitei um cargo de professor naUniversidade de Pittsburgh. Dois anos depois, ingressei no corpo docente da Universidade deMiami, chefiando a Diviso de Psicofarmacologia. L alcancei reconhecimento nacional nas reasde psiquiatria biolgica e abuso de drogas. Depois de quatro anos, fui promovido a professoradjunto de psiquiatria da Faculdade de Medicina e nomeado chefe da psiquiatria num grandehospital filiado universidade, em Miami. Naquela poca, j publicara 37 ensaios cientficos ecaptulos de livros na rea de psiquiatria.

    Durante anos de estudo disciplinado, fui treinado para pensar como cientista e mdico,amoldando-me aos estreitos caminhos do conservadorismo na minha profisso. Desconfiava detudo que no se pudesse provar por mtodos cientficos tradicionais. Sabia dos estudos deparapsicologia que estavam sendo feitos nas principais universidades do pas, mas eles nodespertavam meu interesse. Pareciam-me muito artificiais.

    Ento encontrei Catherine. Durante 18 meses utilizei os mtodos convencionais de terapia paraajud-la a superar seus sintomas. Quando nada pareceu funcionar, tentei a hipnose. Numa srie detranses hipnticos, ela recordou-se de fatos ligados a suas vidas passadas, que se revelaram acausa do que estava sentindo. Ela pde tambm atuar como canal de informao de entidadesespirituais altamente desenvolvidas, revelando, por meio delas, vrios mistrios da vida e damorte. Em apenas alguns meses, os sintomas desapareceram e ela retomou sua vida mais feliz e empaz do que nunca.

    Nada em meu passado me preparara para aquilo. Fiquei totalmente surpreso quando tais coisasaconteceram.

    No tenho uma explicao cientfica para esses fatos. H muitas coisas acerca da mente humanaque se encontram alm da nossa compreenso. Talvez, hipnotizada, Catherine tenha sido capaz defocalizar a parte de seu subconsciente que armazenou lembranas reais de vidas passadas, ou, quemsabe, ela tenha interceptado aquilo que o psicanalista Carl Jung denominou inconsciente coletivo, a

  • fonte de energia que nos cerca e que contm a memria de toda a raa humana.Os cientistas esto comeando a procurar respostas para isso. Enquanto sociedade, temos muito a

    ganhar com as pesquisas sobre os mistrios da mente, da alma, da continuao da vida aps a mortee da influncia de vidas passadas no nosso comportamento atual. bvio que as ramificaes soilimitadas, principalmente nos campos da medicina, da psiquiatria, da teologia e da filosofia.

    A pesquisa cientfica rigorosa nessa rea, contudo, est engatinhando. H alguns progressos nessasinvestigaes, mas o processo lento e esbarra na resistncia de cientistas e leigos.

    Em toda a Histria, a humanidade tem resistido s mudanas e aceitao de novas ideias. Atradio histrica est repleta de exemplos. Quando Galileu descobriu as luas de Jpiter, osastrnomos da poca se recusaram a aceitar e at a olhar esses satlites, porque a existnciadeles era incompatvel com suas crenas. O mesmo acontece com psiquiatras e outros terapeutasque se recusam a examinar e avaliar o nmero considervel de provas acerca da sobrevivncia, apsa morte fsica, de lembranas de vidas passadas. Seus olhos permanecem firmemente cerrados.

    Este livro a minha pequena contribuio para as pesquisas que esto sendo feitas no campo daparapsicologia, sobretudo no ramo que trata de nossas experincias anteriores ao nascimento e apsa morte. Tudo o que est aqui descrito verdade. No acrescentei nada, e suprimi apenas asrepeties. Alterei ligeiramente a identidade de Catherine para garantir a confidencialidade.

    Levei quatro anos para decidir escrever o que aconteceu, quatro anos para reunir coragem eassumir o risco profissional de revelar esses fatos nada ortodoxos.

    De repente, uma noite, enquanto tomava banho, me senti compelido a colocar no papel aexperincia. Tive uma forte sensao de que o momento chegara, de que eu no deveria maisguardar o que sabia. Devia dividir com os outros o que aprendi, e no manter em segredo. Oconhecimento viera atravs de Catherine, agora cabia a mim transmiti-lo. Estava consciente de quenenhuma consequncia que viesse a enfrentar seria to arrasadora como a de no compartilhar oconhecimento que eu adquirira sobre a imortalidade e o verdadeiro sentido da vida.

    Sa rapidamente do chuveiro e me sentei mesa, com a pilha de fitas que gravara durante assesses com Catherine. Nas primeiras horas da madrugada, pensei no meu velho av hngaro, quemorreu quando eu ainda era adolescente. Sempre que lhe dizia que estava com medo de mearriscar, ele carinhosamente me incentivava, repetindo sua expresso preferida: Diacho, diacho!

  • 1A primeira vez em que vi Catherine, ela usava um vestido vermelho vivo e folheava nervosamenteuma revista na sala de espera do meu consultrio. Estava visivelmente sem flego. Vinte minutosantes, andava no corredor externo do Departamento de Psiquiatria, de um lado para outro,tentando se convencer a manter seu compromisso e no sair correndo.

    Entrei na sala para receb-la e nos cumprimentamos. Notei que tinha as mos frias e midas,confirmando sua ansiedade. Precisara de dois meses para criar coragem de marcar uma horacomigo, ainda que fosse insistentemente aconselhada a isso por dois mdicos da equipe, nos quaisconfiava. Finalmente, estava ali.

    Catherine uma mulher extraordinariamente atraente, com cabelos louros de comprimentomdio e olhos cor de mel. Na poca, ela trabalhava como tcnica de laboratrio no hospital onde euera chefe da psiquiatria e ganhava um dinheiro extra como modelo de roupas de banho.

    Acompanhei-a at minha sala, indicando-lhe uma cadeira grande de couro depois do sof.Sentamos um diante do outro, com uma mesa em semicrculo entre ns. Catherine recostou-se nacadeira, calada, sem saber por onde comear. Esperei, preferindo que o incio fosse escolha dela,mas, depois de alguns minutos, indaguei sobre seu passado. Naquela primeira consulta comeamosa esclarecer quem ela era e por que fora me ver.

    Respondendo s minhas perguntas, Catherine revelou a histria de sua vida. Era a filha do meio,educada numa famlia catlica conservadora de uma cidadezinha de Massachusetts. O irmo, trsanos mais velho, era muito forte e gozava de uma liberdade que nunca lhe permitiram. A irm maisnova era a preferida dos pais.

    Quando comeamos a conversar sobre seus sintomas, ela se tornou sensivelmente mais tensa enervosa. Falava rpido, inclinando-se para a frente e apoiando os cotovelos sobre a mesa. Sua vidasempre fora sobrecarregada de temores. Tinha medo de gua, de engasgar, a ponto de noconseguir engolir plulas, tinha medo de avio, do escuro e pavor de morrer. Ultimamente, essesmedos estavam piorando. Para se sentir segura, dormia dentro do armrio embutido doapartamento em que morava. Antes de conseguir pegar no sono, ficava umas duas ou trs horasacordada. Ainda assim, o sono era leve e intermitente e ela acordava vrias vezes. Os pesadelos e ascrises de sonambulismo que haviam atormentado sua infncia tinham voltado. Os medos e ossintomas a paralisavam cada vez mais, e a depresso era crescente.

    Enquanto ela falava, pude perceber como era profundo o seu sofrimento. Durante anos, euajudara pacientes que, como Catherine, viviam a agonia de seus temores, e por isso me senticonfiante em poder ajud-la tambm. Resolvi que comearamos investigando sua infncia,procurando a origem de seus problemas. Quase sempre esse tipo de abordagem contribui para oalvio da ansiedade. Se fosse necessrio e se ela conseguisse engolir algumas plulas, eu lhe dariauma leve medicao ansioltica para ajudar no processo. Esse era o tratamento preconizado pelosmanuais para os sintomas de Catherine, e nunca hesitei em usar tranquilizantes ou mesmomedicamentos antidepressivos para tratar casos graves e crnicos de fobia e ansiedade. Hoje, utilizoesse recurso com mais moderao e s temporariamente, se for o caso. Nenhuma droga podealcanar as verdadeiras razes desses sintomas. Minha experincia com Catherine e com outros

  • iguais a ela provou isso. Sei agora que existe a cura e no apenas a supresso ou camuflagem dossintomas.

    Na primeira sesso, procurei gentilmente estimul-la a voltar infncia. Como ela se lembrava depouqussimos fatos daquela poca, considerei a possibilidade da hipnoterapia como um possvelatalho para vencer essa represso. Ela no conseguia se lembrar de nenhum momentoparticularmente traumtico de quando era criana que pudesse explicar os temores que lheassolavam a vida.

    medida que se esforava, puxando pela memria, fragmentos isolados vinham tona. Por voltados 5 anos, entrou em pnico quando algum a empurrou do trampolim de uma piscina. Ela disseque, antes mesmo do incidente, j no se sentia confortvel dentro dgua. Aos 11 anos, a me caiuem grave depresso. A estranha atitude de retraimento da me em relao famlia tornounecessria a ida a um psiquiatra e a consequente terapia com eletrochoques. O tratamento afetou amemria de sua me. Catherine ficou assustada, mas disse que no teve mais medo quando a mevoltou a ser ela mesma. O pai tinha um longo histrico de alcoolismo e s vezes o irmo deCatherine tinha de ir busc-lo no bar da esquina. O consumo cada vez maior de bebidas alcolicastornava mais frequentes as brigas com sua me, que ficava triste e arredia. Mas Catherineconsiderava esse padro familiar aceitvel.

    As coisas eram melhores fora de casa. Teve namorados no ginsio e se dava muito bem com osamigos, muitos deles conhecidos havia vrios anos. Achava difcil, contudo, confiar nas pessoas,principalmente nas que no pertenciam ao seu pequeno crculo de amizades.

    Sua religio era simples e sem questionamentos. Fora educada para acreditar na ideologia e nasprticas tradicionais catlicas e jamais duvidara da veracidade e validade de sua f. Acreditava que,sendo boa catlica e vivendo corretamente na obedincia da f e dos rituais, ganharia o Cu; casocontrrio, iria para o Purgatrio ou para o Inferno. O Deus patriarcal e seu Filho decidiriam isso.Depois, fiquei sabendo que Catherine no acreditava em reencarnao; na verdade, sabia muitopouco a respeito, embora tivesse lido alguma coisa sobre os hindus. Reencarnao era uma ideiacontrria aos conceitos em que fora criada e nos quais acreditava. Jamais lera nem tinha interessepor qualquer literatura metafsica ou ocultista. Estava tranquila na sua crena.

    Quando saiu do colgio, Catherine fez mais dois anos de curso tcnico e se formou laboratorista.De posse de uma profisso e incentivada pela mudana do irmo para Tampa, conseguiu umemprego em Miami, num hospital-escola filiado Faculdade de Medicina da Universidade deMiami. Mudou-se na primavera de 1974, aos 21 anos.

    A vida na cidade pequena fora bem melhor do que em Miami, mas ela estava contente por terfugido dos problemas familiares.

    No primeiro ano na nova cidade, Catherine conheceu Stuart. Casado, judeu, pai de dois filhos, eleera totalmente diferente de qualquer outro homem que conhecera. Era um mdico bem-sucedido,forte e agressivo. Apesar da atrao irresistvel entre os dois, a relao era tempestuosa e difcil.Algo nele mexia com ela, despertando uma paixo que beirava o enfeitiamento. Na poca em queCatherine comeou a terapia, seu caso com Stuart j durava seis anos e, apesar de complicado, eraainda bastante intenso. Embora maltratada, furiosa com as mentiras, as promessas no cumpridas eas manipulaes, Catherine no conseguia resistir a ele.

    Vrios meses antes da consulta, ela precisara fazer uma cirurgia para a retirada de um ndulobenigno das cordas vocais. A intensa ansiedade que antecedeu a cirurgia se transformou em pnico

  • quando ela acordou na sala de recuperao. A enfermeira levou horas para conseguir acalm-la.Aps o perodo de convalescena no hospital, ela procurou o Dr. Edward Poole. Ed era um pediatramuito amvel que Catherine conhecera quando trabalhava no hospital. Desde o incio ambossentiram uma forte empatia, que evoluiu para uma grande amizade. Catherine sentia-se vontadepara conversar com ele, falar sobre seus medos, o relacionamento com Stuart e a impresso de estarperdendo o controle sobre a prpria vida. Ele insistiu para que ela marcasse uma consulta comigo.Depois me telefonou para falar de sua indicao, explicando que, por algum motivo, achava que seu poderia compreender Catherine verdadeiramente, ainda que outros psiquiatras tambmtivessem timas credenciais e fossem hbeis terapeutas. Mas ela no me ligou.

    Oito semanas se passaram. No atropelo das minhas tarefas como chefe do Departamento dePsiquiatria, esqueci do telefonema de Ed. Os medos e as fobias de Catherine pioraram. O Dr. FrankAcker, chefe do Departamento de Cirurgia, conhecia Catherine h anos e sempre brincava com elaquando visitava o laboratrio onde ela trabalhava. Ele notou sua infelicidade e tenso. Vrias vezesquis lhe dizer alguma coisa, mas hesitou. Uma tarde, indo de carro para um hospital menor, maisafastado, onde daria uma conferncia, viu Catherine ao volante, voltando para casa, e,impulsivamente, lhe fez sinal para que parasse no acostamento. Quero que voc procure o Dr.Weiss agora!, gritou ele pela janela. Sem demora. Embora os cirurgies sejam muitas vezesimpulsivos, at Frank se surpreendeu com a prpria nfase.

    A frequncia e a durao dos ataques de pnico e de ansiedade de Catherine cresciam. Elacomeou a ter dois pesadelos que se repetiam. Num deles, uma ponte rua enquanto ela estavapassando. Seu carro mergulhava na gua; presa dentro dele, ela se afogava. No segundo sonho,estava fechada num quarto escuro como breu, tropeava e caa sobre as coisas, incapaz de achar asada. Finalmente foi me ver.

    Quando tive a primeira sesso com Catherine, no pude imaginar que minha vida estava prestes avirar de cabea para baixo, que aquela mulher confusa e assustada do outro lado da mesa seria ocatalisador e que eu jamais voltaria a ser o mesmo.

  • 2Dezoito meses de psicoterapia se passaram, com Catherine indo me ver uma ou duas vezes porsemana. Era uma boa paciente, falante, que tinha insights e desejava melhorar.

    Naquele perodo, exploramos seus sentimentos, sonhos e pensamentos. Reconhecendo os padresrepetitivos de comportamento, ela cresceu em termos de compreenso. Lembrou-se de muitosdetalhes importantes de seu passado, tais como as ausncias do pai, que era da marinha mercante, edas violentas exploses quando ele exagerava na bebida. Compreendeu bem melhor seuconturbado relacionamento com Stuart e expressou sua irritao de forma mais coerente. Achei queela tivesse progredido mais. o que quase sempre acontece quando os pacientes se recordam deinfluncias desagradveis do passado, quando aprendem a reconhecer e corrigir padrescomportamentais inadequados, desenvolvendo a percepo e encarando seus problemas a partir deuma perspectiva mais ampla, mais distanciada. Mas Catherine no havia progredido.

    A ansiedade e os ataques de pnico ainda a torturavam. Os pesadelos intensos e repetitivoscontinuavam e ela no perdera o pavor do escuro, da gua e de ficar trancada. O sono ainda noera contnuo e reparador. Sentia palpitaes. Continuava recusando os remdios, com medo deengasgar com as plulas. Eu me sentia como se estivesse diante de uma muralha que, por mais quetentasse, continuava to alta que nenhum de ns seria capaz de transp-la. Mas, junto com osentimento de frustrao, veio a determinao. De alguma forma, eu iria ajudar Catherine.

    Ento algo estranho aconteceu. Embora sentisse um medo enorme de voar e precisasse, para tercoragem, tomar vrios drinques no avio, Catherine acompanhou Stuart a um congresso mdico emChicago, na primavera de 1982. L, ela o forou a visitar uma exposio egpcia num museu dearte, onde se juntaram a um grupo acompanhado por um guia.

    Catherine sempre tivera certo interesse pelos artefatos do Egito antigo e pelas reprodues derelquias daquele perodo. Dificilmente seria uma erudita e sequer estudara sobre aquele tempo naescola; no entanto, de algum modo, as peas lhe pareceram familiares.

    Quando o guia comeou a descrev-las, ela se surpreendeu corrigindo-o... e estava certa! O guiaficou perplexo; Catherine, espantada. Como sabia aquelas coisas? Como tinha tanta certeza de queestava certa, to segura a ponto de corrigir, em pblico, o guia? Talvez fossem lembranasesquecidas de sua infncia.

    Na consulta seguinte, ela me contou o que acontecera. Meses antes, eu lhe sugerira a hipnose,mas ela teve medo e resistiu. Diante de sua experincia na exposio egpcia, embora relutante, elaento concordou.

    A hipnose uma tima ferramenta para ajudar o paciente a lembrar incidentes h muitoesquecidos. No h nada de misterioso nisso. apenas um estado de concentrao focalizada.Instrudo por um hipnotizador treinado, o corpo do paciente relaxa, aguando a memria. Eu jhipnotizara centenas de pacientes e achava o mtodo til na reduo da ansiedade, na eliminaode fobias, na alterao dos maus hbitos e para ajudar a recuperar material reprimido. Vez poroutra, conseguia faz-los regredir aos primeiros anos da infncia, at os 2 ou 3 anos de idade,despertando assim lembranas, esquecidas h tempos, que estavam perturbando suas vidas. Eutinha confiana de que a hipnose ajudaria Catherine.

  • Pedi a ela que se deitasse no sof, com os olhos ligeiramente fechados e a cabea apoiada numtravesseiro. Primeiro nos concentramos em sua respirao. A cada expirao, ela liberava o acmulode tenso e ansiedade e, inspirando, relaxava ainda mais. Aps vrios minutos, disse-lhe paravisualizar seus msculos relaxando progressivamente a partir dos faciais e do queixo, depois opescoo e os ombros, os braos, os msculos das costas e do abdome e, finalmente, as pernas. Elasentia o corpo afundando cada vez mais no sof.

    Disse-lhe, ento, para visualizar uma luz forte e branca no alto e dentro da cabea. Mais adiante,quando fiz a luz descer por todo o seu corpo, isso lhe permitiu relaxar completamente os msculos,nervos, rgos, o corpo inteiro, fazendo-a cair num estado cada vez mais profundo de relaxamentoe paz. A sonolncia ia aumentando, assim como a paz e a calma. Finalmente, seguindo minhasinstrues, a luz ocupou todo o seu corpo e a envolveu.

    Contei, de trs para a frente, devagar, de 10 a 1. A cada nmero, ela entrava num nvel maisprofundo de relaxamento. O estado de transe se aprofundava. Ela era capaz de se concentrar naminha voz e excluir todos os outros rudos. No nmero 1, j se encontrava num estado moderadode hipnose. O processo todo levara cerca de 20 minutos.

    Pouco depois, comecei o processo de regresso, pedindo-lhe que lembrasse de fatos em idadesprogressivamente anteriores. Ela conseguia falar e responder s minhas perguntas, enquantomantinha um nvel profundo de hipnose. Lembrou-se de uma experincia traumtica no dentista,aos 6 anos de idade. Recordou-se, de forma bastante intensa, de ter se sentido aterrorizada aos 5anos quando algum a empurrou de um trampolim para dentro da piscina. Na poca ela se sentiusufocada e engasgou, engolindo gua. Ao falar sobre isso, no meu consultrio, ela comeou a sentirfalta de ar. Falei que a experincia j havia passado e que ela se encontrava fora dgua. A falta dear parou e ela voltou a respirar normalmente. Continuava em transe profundo.

    Aos 3 anos ocorrera o pior de tudo. Ela se lembrou de ter acordado no seu quarto escuro e deperceber que o pai estava ali. Ela ainda conseguia sentir o cheiro de lcool que ele exalava. Ele atocou e a apalpou at l embaixo. Ela sentiu muito medo e comeou a chorar, por isso ele lhetapou a boca com sua mo spera. Ela no conseguia respirar. Em meu consultrio, no sof, 25 anosdepois, Catherine soluava. Senti que tnhamos obtido a chave. Estava certo de que seus sintomaslogo desapareceriam. Disse-lhe suavemente que tudo j passara, que no estava mais em seu quartoda infncia, e sim que repousava tranquila e ainda em transe. Os soluos cessaram. Trouxe-a devolta no tempo para a sua idade atual. Ento a acordei, depois de t-la instrudo, atravs dasugesto ps-hipntica, a se lembrar de tudo o que havia me contado. Passamos o resto da sessodiscutindo a lembrana repentina e intensa do trauma causado por seu pai. Procurei ajud-la aaceitar e assimilar seu novo conhecimento. Ela compreendia agora seu relacionamento com o pai,as reaes dele diante dela, sua indiferena e o medo que sentia. Ainda tremia quando saiu doconsultrio, mas eu sabia que a compreenso que ela adquirira compensaria o desconfortomomentneo.

    Envolvido pelo drama da revelao de suas lembranas dolorosas e profundamente reprimidas,esqueci totalmente de procurar na infncia dela a possvel relao com seu conhecimento dosartefatos egpcios. Mas, pelo menos, ela compreendera melhor o seu passado. Lembrara-se dediversos acontecimentos assustadores, o que me fazia esperar uma melhora significativa dos seussintomas.

    Apesar dessa nova compreenso, na semana seguinte ela disse que os sintomas permaneciam

  • inalterados, to graves quanto antes. Fiquei surpreso. No entendia o que estava errado. Teriaacontecido alguma coisa antes dos 3 anos? Tnhamos descoberto motivos mais do que suficientespara seu medo de sufocar, da gua, do escuro, de se sentir presa, e ainda assim os intensos temorese sintomas e a ansiedade descontrolada continuavam devastando seus momentos de viglia. Ospesadelos eram to assustadores quanto antes. Resolvi lev-la a regredir ainda mais.

    Hipnotizada, Catherine falava num sussurro lento e cadenciado. Por isso, consegui anotar todas assuas palavras, e as transcrevo integralmente. (As reticncias representam as pausas no discurso dela,no so palavras suprimidas, nem o texto foi alterado por mim. Exclu apenas as partes repetitivas.)

    Lentamente, fui levando Catherine at a idade de 2 anos, mas ela no se lembrou de nadaimportante. Disse-lhe, em tom firme e claro:

    Volte para a poca em que surgiram os seus sintomas.Eu estava totalmente despreparado para o que ocorreu em seguida.Vejo uma escadaria branca, que sobe at uma construo, um grande prdio branco com

    colunas, aberto na frente. No tem portas. Estou usando uma roupa comprida... uma tnica feita depano grosseiro. Meus cabelos esto tranados, cabelos longos e louros.

    Fiquei confuso. No tinha certeza do que estava acontecendo. Perguntei-lhe em que ano estava equal era o seu nome.

    Aronda... Tenho 18 anos. Vejo um mercado em frente ao edifcio. Cestas... Pode-se carreg-lasnos ombros. Vivemos num vale... No h gua. O ano 1863 a.C. A regio rida, quente earenosa. Existe um poo, nenhum rio. A gua vem das montanhas at o vale.

    Depois que ela descreveu mais detalhes topogrficos, eu lhe disse para avanar no tempo vriosanos e me dizer o que via.

    rvores e uma estrada de pedras. Vejo fogo e comida cozinhando. Meus cabelos so louros.Estou usando uma roupa marrom longa, de tecido spero, e sandlias. Tenho 25 anos e uma filhachamada Cleastra... Ela Raquel. (Raquel era atualmente sua sobrinha; as duas sempre se deramextremamente bem.) Est muito quente.

    Eu estava assombrado. Tinha um n no estmago e sentia a sala fria. Aquilo que ela visualizava elembrava parecia muito preciso. Ela no hesitava. Nomes, datas, roupas, rvores, tudo to claro! Oque estava acontecendo? Como a filha que ela teve naquela poca podia ser agora sua sobrinha?Estava cada vez mais confuso. Eu examinara centenas de pacientes psiquitricos, muitos sobhipnose, e jamais deparara com fantasias como essas nem mesmo nos sonhos. Ento lhe dissepara ir at a poca de sua morte. No sabia muito bem como entrevistar algum em meio a umafantasia to explcita (ou lembrana?), mas buscava acontecimentos traumticos que pudessemfundamentar seus medos ou sintomas atuais. Os fatos relacionados com a poca da morte poderiamser especialmente traumticos. Ela descreveu a destruio da aldeia pelo que parecia ser umaenchente ou um maremoto.

    Ondas enormes esto derrubando as rvores. No h para onde correr. Est frio, a gua fria.Tenho que salvar o meu beb, mas no posso... tenho que segur-lo bem. Afundo, a gua mesufoca. No consigo respirar, no posso engolir... a gua salgada. Meu beb arrancado dos meusbraos.

    Catherine estava ofegante e com dificuldade para respirar. De repente seu corpo relaxou porcompleto, a respirao ficou profunda e regular.

    Vejo nuvens... Meu beb est comigo. E outras pessoas da minha aldeia. Vejo meu irmo.

  • Ela estava descansando; aquela vida terminara. Continuava em transe profundo. Eu estavaperplexo! Vidas anteriores? Reencarnao? Meu conhecimento clnico me dizia que ela no estavafantasiando aquilo tudo, que ela no inventara. Seus pensamentos, expresses, a ateno adeterminados detalhes, tudo era diferente do seu estado consciente. Toda a gama de possveisdiagnsticos psiquitricos me veio mente, mas seu quadro psiquitrico e sua estrutura de carterno explicavam essas revelaes. Esquizofrenia? No, ela jamais demonstrou qualquer distrbiocognitivo ou de pensamento. Nunca tivera alucinaes auditivas ou visuais, no ouvia vozes nemtinha vises quando acordada ou quaisquer outros tipos de estados psicticos. No delirava nem sedesligava da realidade. No tinha personalidade dupla ou mltipla. Havia apenas uma Catherine e,conscientemente, ela sabia disso. No apresentava tendncias sociopatas ou antissociais. No erauma atriz. No fazia uso de drogas nem ingeria substncias alucingenas. O uso do lcool eramnimo. No tinha doenas neurolgicas ou psicolgicas que explicassem essa experincia tointensa e imediata quando hipnotizada.

    Eram lembranas de alguma espcie, mas de onde provinham? Minha reao visceral foi a de teresbarrado em algo pouqussimo conhecido reencarnao e lembranas de vidas passadas. No erapossvel, eu me dizia, enquanto minha mente cientificamente treinada resistia. No entanto, aliestava, acontecendo bem diante dos meus olhos. No podia explicar, mas tambm no podia negara realidade.

    Continue, falei, um pouco assustado, mas fascinado pelo que estava acontecendo. No selembra de mais nada?

    Ela recordou fragmentos de duas outras vidas:Estou com um vestido de renda negra e tenho rendas negras sobre a cabea. Meus cabelos so

    escuros, um pouco grisalhos. O ano 1756. Sou espanhola. Meu nome Lusa e tenho 56 anos.Estou danando, outras pessoas tambm. (Longa pausa.) Estou doente, tenho febre, suores frios...Muita gente est doente, as pessoas esto morrendo... Os mdicos no sabem que por causa dagua.

    Levei-a mais frente no tempo.Estou melhor, mas minha cabea ainda di; meus olhos e minha cabea ainda esto doloridos

    por causa da febre, por causa da gua... Muitos morrem.Mais tarde, ela me disse que naquela vida fora prostituta, mas que retivera essa informao

    porque ficara constrangida. Aparentemente, enquanto hipnotizada, Catherine podia censuraralgumas das lembranas que me transmitia.

    Como ela reconhecera a sobrinha numa vida antiga, lhe perguntei impulsivamente se eu estiverapresente em algumas de suas outras vidas. Estava curioso sobre meu papel, se que havia algum,nas suas lembranas. Ela respondeu rapidamente, ao contrrio da forma que usava na descrio dasrecordaes anteriores, muito lenta e ponderada.

    Voc meu professor, sentado na salincia de uma pedra. Voc nos ensina com livros. velho etem os cabelos grisalhos. Veste uma roupa branca (toga) com arremates dourados... Seu nome Digenes. Voc nos ensina smbolos, tringulos. muito sbio, mas eu no compreendo. O ano ode 1568 a.C. (Aproximadamente 1.200 anos antes do famoso filsofo ctico grego Digenes. Essenome no era incomum.)

    A primeira sesso terminara. Outras ainda mais surpreendentes viriam.

  • Depois que Catherine saiu do consultrio e durante vrios dias, como sempre fazia, refleti sobre osdetalhes da regresso hipntica. Mesmo numa terapia normal, poucos detalhes escapavam minha capacidade obsessiva de anlise, e aquela sesso estava longe de ser normal. Alm disso,eu era bastante ctico com relao s ideias de vida aps a morte, reencarnao, experinciasextracorpreas e fenmenos afins. Afinal o meu lado lgico ruminava , podia ser fantasia dela.Na realidade, eu no conseguiria provar nenhuma de suas afirmaes ou visualizaes. Mas euestava tambm consciente, embora de uma forma bem vaga, da existncia de um outro pensamentomenos emocional. Mantenha sua mente aberta, ele me dizia, a verdadeira cincia comea com aobservao. As lembranas dela podiam no ser fantasia ou imaginao. Poderia haver algo maisque os olhos ou qualquer um dos outros sentidos no estavam vendo. Mantenha a menteaberta. Consiga mais dados.

    Um outro pensamento me incomodava. Catherine, propensa a sentir ansiedade e medo, no teriaficado assustada demais para aceitar novamente a hipnose? Resolvi no lhe telefonar e deixar queela tambm digerisse a experincia. Eu esperaria at a semana seguinte.

  • 3Uma semana depois, Catherine entrou animada no meu consultrio para mais uma sesso dehipnose. Estava linda e mais radiante do que nunca. Anunciou feliz que seu antigo medo de seafogar desaparecera. O medo de sufocar diminura. O pesadelo de uma ponte ruindo no lheatrapalhava mais o sono. Embora se lembrasse em detalhes do que recordara de suas vidaspassadas, ainda no assimilara tudo.

    Os conceitos de reencarnao e vidas anteriores eram estranhos sua cosmologia, mas suaslembranas eram to claras, as vises, os sons e os odores eram to ntidos, a conscincia de queestivera l era to intensa que ela sentia que deveria realmente ter estado l. No duvidava disso, aexperincia fora muito forte. No entanto, estava preocupada em ajust-la sua educao e s suascrenas.

    Durante a semana, reli o livro do curso de religies comparadas que frequentei no primeiro anona Universidade de Columbia. Havia de fato referncias reencarnao no Antigo e no NovoTestamentos. Em 325 d.C., o imperador romano Constantino, o Grande, e sua me, Helena,suprimiram as referncias que estavam contidas no Novo Testamento. O Segundo Conclio deConstantinopla, reunido em 553 d.C., validou esse ato, declarando hertico o conceito dereencarnao. Aparentemente, ele enfraqueceria o poder crescente da Igreja, dando aos homenstempo demais para buscarem a salvao. Mas as referncias originais existiam, os primeiros padresda Igreja haviam aceitado a ideia. Os antigos gnsticos Clemente de Alexandria, Orgenes, SoJernimo e muitos outros acreditavam ter vivido antes e que ainda voltariam a viver.

    Eu, entretanto, jamais acreditara na reencarnao. Na verdade, nunca pensara muito nisso.Embora em minha educao religiosa tivesse aprendido a respeito de uma vaga existncia da almaaps a morte, eu no estava muito convencido.

    Eu era o mais velho de quatro irmos, todos com um intervalo de trs anos de um para outro.Pertencamos a uma sinagoga judaica conservadora em Red Bank, uma cidadezinha perto da orlamartima de Nova Jersey. Eu era o pacificador e o poltico da famlia, e meu pai, o mais envolvidocom a religio. Levava isso muito a srio, como tudo na vida. Os progressos acadmicos dos filhoseram as suas maiores alegrias. Ficava muito triste com as brigas em casa e se retirava, deixando amediao para mim. Ainda que isso tivesse sido um excelente treino preparatrio para minhacarreira de psiquiatra, a poca da infncia foi mais pesada do que, fazendo uma retrospectiva, euteria preferido. Ela fez de mim um jovem muito sisudo e acostumado a assumir responsabilidadesexcessivas.

    Minha me expressava o seu amor de forma exagerada. Mais simples que meu pai, ela usava aculpa, o fazer-se de vtima, a criao de extremo constrangimento e a identificao com os filhoscomo instrumentos de manipulao, sem pensar duas vezes. Apesar disso, raramente desanimava, epodamos contar sempre com seu amor e apoio.

    Meu pai tinha um bom emprego como fotgrafo industrial, mas, embora tivssemos semprefartura de comida, o dinheiro era curto. Meu irmo mais novo, Peter, nasceu quando eu tinha 9

  • anos. Tnhamos que dividir por seis o nosso pequeno apartamento de dois quartos.A vida ali era agitada e barulhenta e eu procurava refgio nos livros. Lia sem parar, quando no

    estava jogando beisebol ou basquete, minhas outras paixes na infncia. Sabendo que s atravs dosestudos poderia sair daquela cidadezinha, por mais confortvel que fosse, eu era sempre o primeiroou o segundo da classe.

    Quando recebi uma bolsa de estudos integral para frequentar a Universidade de Columbia, eu eraum jovem srio e estudioso. O sucesso acadmico continuou vindo com facilidade. Especializei-meem qumica, formando-me com distino. Resolvi ser psiquiatra porque a rea somava o meuinteresse pela cincia ao fascnio do trabalho com a mente humana. Alm disso, a carreira mdicapermitiria expressar minha preocupao e minha solidariedade com os outros. Nesse meio-tempo,conheci Carole numas frias de vero num hotel em Catskill Mountain, onde eu estavatrabalhando como ajudante de garom e ela era hspede. Sentimos atrao imediata um pelo outroe um forte sentimento de afinidade e bem-estar. Ns nos correspondemos, namoramos, nosapaixonamos e noivamos no meu penltimo ano na universidade. Ela era inteligente e bonita.Tudo parecia se encaixar no seu devido lugar. So poucos os jovens que se preocupam com a vida, amorte e a vida aps a morte, sobretudo se as coisas vo indo bem, e eu no era exceo. Estava metornando um cientista e aprendendo a pensar num estilo lgico, desapaixonado e racional.

    A faculdade de medicina e a residncia na Universidade de Yale cristalizaram ainda mais essemtodo cientfico. Minha tese de pesquisa era sobre a qumica do crebro e o papel dosneurotransmissores, que so mensageiros qumicos no tecido cerebral.

    Eu fazia parte da nova gerao de psiquiatras bilogos que fundiam as teorias e tcnicaspsiquitricas tradicionais com a nova cincia da qumica cerebral. Escrevi vrios ensaios cientficos,falei em conferncias locais e nacionais e me tornei muito importante na minha rea. Era um tantoobsessivo, veemente e inflexvel, mas num mdico essas caractersticas eram teis. Sentia-metotalmente preparado para tratar qualquer um que entrasse em meu consultrio em busca deterapia.

    Ento Catherine tornou-se Aronda, uma jovem que vivera em 1863 a.C. Ou era o contrrio? E cestava ela novamente, feliz como nunca.

    Preocupei-me de novo com o medo que ela poderia ter de continuar. No entanto, ela estavaansiosa para a hipnose e entrou rapidamente em estado de transe.

    Estou jogando coroas de flores na gua. uma cerimnia. Meus cabelos so louros, tranados.Visto uma tnica marrom com dourado e sandlias. Algum morreu, algum da Casa Real... a me.Sou uma das criadas, ajudo com a comida. Colocamos os corpos em salmoura por 30 dias. Elessecam e as vsceras so retiradas. Eu sinto o cheiro, sinto o cheiro dos corpos.

    Ela voltara espontaneamente para a vida de Aronda, porm numa outra parte, aquela em que seudever era preparar os corpos dos mortos.

    Num outro edifcio, continuou Catherine, eu vejo os corpos. Estamos enfaixando-os. A almacontinua. A pessoa leva consigo os seus pertences, para estar preparada para a prxima vida, maisavanada. Ela expressava o que parecia ser um conceito egpcio de morte e ps-morte, diferente dequalquer de nossas crenas. Naquela religio, o morto podia carregar seus bens consigo.

    Ela saiu daquela vida e descansou. Passaram-se alguns minutos antes de entrar numa pocaaparentemente antiga.

    Vejo gelo, pendurado numa caverna... pedras... Ela descrevia vagarosamente um lugar escuro e

  • miservel, e era visvel o seu desconforto. Mais tarde, disse como tinha se visto. Eu era feia, suja efedorenta.

    Ela prosseguiu para um outro tempo:H alguns edifcios e uma carroa com rodas de pedra. Meus cabelos so castanhos, cobertos com

    um pano. A carroa carrega palha. Estou feliz. Meu pai est l... Ele me abraa. ... Edward (opediatra que insistira para que ela me procurasse). Ele meu pai. Vivemos num vale cheio dervores. H oliveiras e figueiras no ptio. As pessoas escrevem em pedaos de papel. So rabiscosengraados, como letras. Elas escrevem o dia todo, montando uma biblioteca. 1536 a.C. A terra rida. O nome do meu pai Perseu.

    O ano no correspondia exatamente, mas eu estava certo de que era a mesma vida que ela relatarana semana anterior. Fiz com que ela se adiantasse nesse perodo.

    Meu pai o conhece (ela se referia a mim). Vocs dois conversam sobre colheitas, leis e governo.Ele diz que voc muito inteligente e que eu devo escut-lo.

    Adiantei-a ainda mais no tempo.Ele (o pai) est deitado num quarto escuro, velho e doente. Faz frio... Sinto-me to vazia.Ela foi at sua prpria morte.Agora estou velha e fraca. Minha filha est aqui, perto da minha cama. Meu marido j morreu.

    O marido da minha filha est aqui, e os filhos deles. H muitas pessoas ao redor.Sua morte foi tranquila desta vez. Ela flutuava. Flutuava? Isso me fez lembrar os estudos do Dr.

    Raymond Moody sobre as vtimas de experincias de quase morte. Seus pacientes tambm selembravam de terem flutuado e depois voltado para seus corpos. Eu lera o livro vrios anos antes etomei nota mentalmente para tornar a faz-lo. Fiquei em dvida se Catherine poderia se lembrarde mais alguma coisa depois da morte, mas ela s dizia Estou flutuando. Acordei-a e terminamosa sesso.

    Com um novo e insacivel apetite por qualquer ensaio cientfico j publicado sobre reencarnao,sa procurando pelas bibliotecas mdicas. Estudei os trabalhos de Ian Stevenson, um professor depsiquiatria da Universidade da Virgnia muito respeitado e que publicou extensa literaturapsiquitrica. Ele reuniu mais de 2 mil exemplos de crianas com recordaes e experinciascaractersticas de reencarnao. Muitas manifestavam a xenoglossia, a capacidade de falar umalngua estrangeira qual as crianas nunca haviam sido expostas antes. Seus relatrios socuidadosamente completos, bem pesquisados e realmente notveis.

    Li uma excelente anlise cientfica de Edgard Mitchell. Com grande interesse, examinei os dadossobre percepo extrassensorial (PES) da Universidade Duke, os textos do Professor C. J. Ducasse,da Universidade Brown, e analisei atentamente os estudos dos doutores Martin Ebon, HelenWambach, Gertrude Schmeidler, Frederick Lenz e Edith Fiore. Quanto mais lia, mais queria ler.Comecei a perceber que, embora eu me considerasse bem instrudo sobre todas as dimenses damente, minha formao fora bastante limitada. Existem bibliotecas repletas desse tipo de pesquisa ede literatura, mas poucas pessoas sabem disso. Muitas dessas pesquisas foram conduzidas,verificadas e reaplicadas por clnicos e cientistas de renome. Estariam todos errados ou iludidos? Asevidncias pareciam esmagadoramente comprobatrias, mas eu ainda duvidava. Esmagadoras ouno, achava difcil acreditar.

    Tanto Catherine como eu, cada um sua maneira, j estvamos profundamente afetados pelaexperincia. Ela progredia emocionalmente e o meu pensamento se expandia em novos horizontes.

  • Catherine estivera atormentada pelos seus medos durante anos e estava finalmente tendo um certoalvio. Fosse atravs de lembranas reais ou de intensas fantasias, eu descobrira uma maneira deajud-la e no iria parar agora.

    Por um rpido momento pensei em tudo isso, enquanto Catherine caa em transe no incio dasesso seguinte. Antes da induo hipntica, ela relatou ter sonhado com um jogo numa escadariaantiga de pedras, um jogo que usava um tabuleiro de xadrez furado. O sonho lhe pareceraespecialmente vvido. Disse-lhe, ento, que voltasse a ultrapassar os limites normais do tempo e doespao, que voltasse ao passado e visse se o sonho tinha origem numa reencarnao anterior.

    Vejo degraus que levam at uma torre... voltada para as montanhas, mas tambm para o mar.Sou um menino... Meus cabelos so louros... um cabelo estranho... Minha roupa curta, marrom ebranca, feita de pele animal. H homens no alto da torre, olhando... guardas. Esto sujos. Jogamum jogo, parece xadrez mas no . O tabuleiro redondo, e no quadrado. Jogam com peaspontudas, como adagas, que se encaixam nos furos. As peas tm cabeas de animais. Perguntei-lhe o nome do lugar em que vivia e se ela podia ver ou ouvir em que ano estava.

    Territrio Quirustano dos Pases Baixos, cerca de 1473. Agora estou num porto, a terra desce ato mar. H uma fortaleza... e gua. Vejo uma cabana... minha me cozinha numa panela de barro.Meu nome Johan.

    Levei-a at o instante de sua morte. quela altura das nossas sesses, eu ainda procurava umnico acontecimento decisivo e traumtico que pudesse ser a causa ou explicar seus sintomas navida atual. Mesmo que essas visualizaes notavelmente explcitas fossem fantasias, e eu no estavacerto disso, aquilo em que ela acreditasse ou pensasse poderia ainda ser a origem dos sintomas.Afinal de contas, eu j vira pessoas traumatizadas por seus sonhos. Alguns podem no lembrar seum trauma infantil ocorreu realmente ou em sonho, mas a lembrana do trauma continuaassombrando a vida adulta.

    O que eu no avaliara totalmente era que o martelar constante e dirio de influncias corrosivas,como as crticas mordazes dos pais, podem causar traumas psicolgicos ainda maiores do que umnico fato traumtico. Essas influncias danosas, porque se misturam no cenrio cotidiano denossas vidas, so ainda mais difceis de lembrar e exorcizar. Uma criana constantemente criticadapode perder a autoconfiana e o amor-prprio, assim como algum que se lembra do dia terrvelem que foi humilhado. Uma criana que come pouco todos os dias porque a famlia ficou pobrepode vir a sofrer os mesmos problemas psicolgicos de uma outra que passou por uma intensa enica experincia de fome. Logo eu compreenderia que o rebater dirio das foras negativas deveriaser reconhecido e resolvido com tanto cuidado quanto o que eu estava dedicando a um nico earrasador acontecimento traumtico.

    Catherine comeou a falar:H barcos, como canoas, pintados com cores vivas. rea de abastecimento. Temos armas, lanas,

    atiradeiras, arcos e flechas, porm maiores. O barco tem remos grandes e estranhos... todos devemremar. Talvez estejamos perdidos; est escuro. No h luz. Estou com medo. H outros barcosconosco. (Aparentemente um ataque surpresa.) Tenho medo dos animais. Dormimos sobre pelessujas e fedorentas. Estamos fazendo um reconhecimento. Meus sapatos so engraados, parecemsacos... tiras nos tornozelos... de pele animal. (Longa pausa.) Meu rosto queima como fogo. Meupovo est matando os outros, mas eu no. Eu no quero matar. Estou com a minha faca na mo.

    De repente ela comeou a engasgar e a sentir falta de ar. Disse que um guerreiro inimigo a

  • agarrara por trs, pelo pescoo, e lhe cortara a garganta com a faca. Viu o rosto do seu assassinoantes de morrer. Era Stuart. Ele estava diferente, mas ela sabia que era ele. Johan morreu aos 21anos.

    Em seguida ela se viu flutuando sobre o prprio corpo, observando a cena embaixo. Foi impelidaat as nuvens, sentindo-se perplexa e confusa. Logo se sentiu arrastada para dentro de um espaodiminuto e quente. Ela estava para nascer.

    Algum est me segurando, murmurou ela devagar como num sonho, algum que ajudou noparto. Est usando um vestido verde e um avental branco. Tem um chapeuzinho branco dobradonas pontas. A sala tem janelas estranhas... divididas em vrias partes. O prdio de pedra. Minhame tem cabelos escuros e longos. Ela quer me segurar. Est com uma camisola de pano grosseiro...esquisito. Di encostar nele. bom estar novamente ao sol e no calor... ... a mesma me que eutenho agora!

    Durante a sesso anterior, eu lhe dissera para observar atentamente as pessoas significativasnaquelas vidas, para ver se as identificava com as pessoas significativas de sua vida atual. Segundo amaioria dos escritores, as almas tendem a reencarnar juntas, em grupo, vrias vezes, trabalhandoseus carmas (dvidas com os outros e com elas mesmas, lies a serem aprendidas) durante diversasvidas.

    Na minha tentativa de compreender esse drama estranho e espetacular que se desenrolava,ignorado do resto do mundo, no meu consultrio tranquilo e quase s escuras, quis verificar essainformao. Senti necessidade de aplicar o mtodo cientfico, que eu usara rigorosamente nosltimos 15 anos nas minhas pesquisas, para avaliar o material to extraordinrio que flua dos lbiosde Catherine.

    Entre uma sesso e outra, ela se tornava cada vez mais medinica. Tinha intuies sobre pessoas efatos que se revelavam acertadas. Durante a hipnose, ela se adiantava s minhas perguntas antesque eu tivesse chance de faz-las. Muitos de seus sonhos tinham uma tendncia precognitiva oupremonitria.

    Certa ocasio, quando os pais vieram visit-la, o pai expressou sua enorme dvida quanto ao queestava acontecendo. Para lhe provar que era verdade, ela o levou ao hipdromo. L, diante de seusolhos, comeou a indicar o vencedor de cada corrida. Ele ficou espantado. Certa de ter provado oque queria, pegou todo o dinheiro ganho e deu ao primeiro mendigo que encontrou na sada.Sentia intuitivamente que os novos poderes espirituais que adquirira no deveriam ser usados paraganhos financeiros. Para ela, eles tinham um significado bem maior. Disse-me que essa experinciaera um tanto assustadora, mas estava to satisfeita com o progresso que fizera que ansiava porcontinuar as regresses. Eu estava ao mesmo tempo abalado e fascinado com suas habilidadesmedinicas, especialmente com o episdio do hipdromo. Era uma prova tangvel. Ela possua obilhete vencedor de todas as corridas. No era coincidncia. Alguma coisa muito estranha estavaacontecendo naquelas ltimas semanas e eu lutava para conservar a minha perspectiva. No podianegar sua capacidade medinica. E, se ela fosse real e revelasse provas tangveis, a descrio dosfatos de vidas passadas tambm seria verdadeira?

    Ela retornara agora vida em que acabara de nascer. Essa encarnao parecia mais recente, masela no conseguia identificar o ano. Seu nome era Elizabeth.

    Estou mais velha, tenho um irmo e duas irms. Vejo a mesa de jantar... Meu pai est l... Edward. (O pediatra, novamente no papel de seu pai.) Minha me e meu pai esto brigando de

  • novo. O jantar batatas com feijo. Ele est zangado porque a comida est fria. Eles brigam muito.Ele est sempre bebendo... Bate na minha me. (A voz de Catherine era assustada e ela tremiavisivelmente.) Ele empurra as crianas. Ele no como antes, no a mesma pessoa. No gostodele. Queria que ele fosse embora. Ela falava como uma criana.

    Minhas perguntas durante essas sesses eram, sem dvida, bem diferentes das que eu fazia napsicoterapia convencional. Eu atuava mais como um guia para Catherine, procurando rever todauma vida em uma ou duas horas, em busca de fatos traumticos e padres nocivos que pudessemexplicar seus sintomas atuais. A terapia convencional conduzida num ritmo muito mais minuciosoe calmo. Cada palavra que o paciente escolhe analisada em suas nuances e sentidos ocultos. Cadamovimento facial, corporal, cada inflexo de voz so considerados e avaliados. Investigam-secuidadosamente todas as reaes emocionais. Montam-se os padres comportamentaisexaustivamente. Com Catherine, entretanto, os anos transcorriam em minutos. As sesses com elaequivaliam a dirigir um carro de corrida a toda a velocidade e tentar reconhecer os rostos namultido.

    Voltei a ateno para Catherine e pedi que avanasse no tempo.Estou casada agora. Nossa casa tem um quarto s, grande. Meu marido louro. No o conheo.

    (Ou melhor, no aparecera na vida atual de Catherine.) No temos filhos ainda... Ele muito bompara mim. Ns nos amamos e somos felizes.

    Aparentemente ela conseguira escapar da opresso do lar paterno. Perguntei-lhe se poderiaidentificar a rea em que vivia.

    Brennington?, Catherine murmurou, hesitante. Vejo livros com capas velhas e estranhas. Omaior est fechado por uma presilha. a Bblia. As letras so grandes e decorativas... em galico.

    Aqui ela disse algumas palavras que no pude identificar. No tenho ideia se eram ou no emgalico.

    Vivemos no interior, longe do mar. Municpio... Brennington? Vejo uma fazenda com porcos eovelhas. a nossa fazenda.

    Ela se adiantara no tempo.Temos dois filhos... O mais velho est se casando. Vejo a torre da igreja... uma construo de

    pedra muito velha.De repente sua cabea doeu, fazendo com que Catherine apertasse a tmpora esquerda. Ela

    contou que cara nos degraus de pedra, mas se refez do tombo. Morreu de velhice, na cama e emcasa, cercada pela famlia.

    Novamente desprendeu-se do seu corpo aps a morte, mas desta vez no estava perplexa ouconfusa.

    Percebo uma luz forte. maravilhoso; ela nos d energia.Catherine descansava, depois de morta, no intervalo de duas vidas. Passaram-se alguns minutos

    em silncio. De repente ela falou, falou, mas no o lento sussurro de sempre. Sua voz agora erarouca e forte, sem hesitaes.

    Nossa tarefa aprender para nos tornarmos semelhana de Deus atravs do conhecimento.Sabemos pouco. Voc est aqui para ser meu professor. Tenho muito o que aprender. Pelo

  • conhecimento nos aproximamos de Deus e ento podemos descansar. Depois voltamos paraensinar e ajudar os outros.

    Fiquei sem fala. Aqui estava uma lio posterior sua morte, do estado intermedirio. Qual afonte desse material? No parecia Catherine. Ela nunca falara assim, com essas palavras, usandoessa construo de frase. At o tom da voz era totalmente diferente.

    Naquele momento no percebi que, embora Catherine tivesse pronunciado as palavras, opensamento no era dela. Estava retransmitindo o que lhe diziam. Mais tarde, ela identificou osMestres, almas altamente evoludas, ento sem corpo, como a fonte da afirmao. Eles podiam falarcomigo atravs dela. Catherine no s podia regredir a vidas passadas como agora estavatransmitindo conhecimentos do alm. Um conhecimento lindo. Lutei para conservar minhaobjetividade.

    Uma nova dimenso fora introduzida. Catherine jamais lera os estudos da Dra. Elizabeth Kbler-Ross ou do Dr. Raymond Moody, que escreveram sobre as experincias de quase morte. Nuncaouvira falar do Livro tibetano dos mortos. Mas estava relatando experincias semelhantes. Isso noprovava muita coisa. Se pelo menos houvesse mais fatos, mais detalhes tangveis que eu pudesseverificar. Meu ceticismo vacilava, mas persistia. Talvez ela tivesse lido sobre as pesquisas de quasemorte ou assistido a uma entrevista. Embora ela negasse qualquer lembrana consciente de umartigo ou programa sobre o assunto, talvez conservasse uma recordao subconsciente. Mas elaultrapassou esses textos anteriores e transmitiu uma mensagem vinda do estado intermedirio entreduas vidas. Se eu tivesse mais fatos...

    Acordada, Catherine se lembrou de detalhes de suas outras vidas, como sempre. Mas nada do queacontecera depois da sua morte como Elizabeth lhe veio memria. No futuro, ela jamais selembraria de quaisquer detalhes dos estados intermedirios. S se lembraria das vidas.

    Pelo conhecimento nos aproximamos de Deus.Estvamos a caminho.

  • 4Vejo uma casa branca e quadrada com um caminho de areia em frente. As pessoas passam acavalo de um lado para outro.

    Catherine falava no seu sussurro sonhador de costume.H rvores... uma plantao, uma casa bem grande com uma poro de outras menores, como as

    dos escravos. Faz muito calor. Estamos no Sul... Virgnia?Ela achava que era o ano de 1873. Era uma criana.H cavalos e muitas plantaes... milho, tabaco. Ela e outros criados comiam na cozinha da casa

    dos patres. Ela era negra e se chamava Abby. Teve um pressentimento, seu corpo ficou tenso. Acasa principal estava em chamas, e ela a observava queimar. Adiantei-a 15 anos, at 1888.

    Estou usando um vestido velho, limpo o espelho do segundo andar de uma casa, uma casa detijolos com janelas... uma poro de vidraas. O espelho ondulado e tem salincias naextremidade. O dono da casa chama-se James Manson. O casaco dele engraado, tem trs botese uma grande gola preta. Ele usa barba... No o reconheo (como algum de sua vida atual). Ele metrata bem. Moro numa casa da propriedade. Limpo os quartos. H uma escola, mas eu no tenhopermisso para entrar. Fao manteiga, tambm!

    Catherine sussurrava devagar, usando palavras bem simples e dando muita ateno aos detalhes.Durante os cinco minutos seguintes, aprendi a fazer manteiga. O conhecimento de Abby sobrecomo se bate a manteiga era novidade tambm para Catherine. Desloquei-a para mais adiante notempo.

    Estou com algum, mas acho que no somos casados. Dormimos juntos... mas nem sempremoramos juntos. Estou tranquila com ele, mas no nada especial. No vejo crianas. H umamacieira e patos. Outras pessoas l longe. Estou colhendo mas. Alguma coisa est irritando meusolhos.

    Catherine fazia caretas com os olhos fechados. a fumaa. O vento est soprando para este lado... fumaa de madeira queimando. Esto

    queimando barris de madeira.Ela tossia.Acontece com frequncia. Esto pintando de preto o interior dos barris... breu... para

    impermeabilizar.Depois da agitao da ltima semana, eu estava ansioso para chegar novamente ao estado

    intermedirio. J tnhamos gastado noventa minutos explorando sua vida como criada. Euaprendera a fazer as camas, a manteiga e os barris; estava vido por uma aula mais espiritual.Desistindo de esperar, adiantei-a at sua morte.

    difcil respirar. Meu peito di muito. Catherine sufocava, em evidente sofrimento. Meucorao di, bate rpido. Estou com frio... tremendo. Catherine comeou a estremecer. Temgente no quarto, me do folhas para beber (ch). O cheiro estranho. Esfregam um linimento nomeu peito. Febre... mas sinto muito frio. Tranquilamente, ela morreu. Flutuando at o teto, elapde ver seu corpo na cama, uma velhinha enrugada de seus 60 anos. Ela flutuava apenas,esperando que algum viesse ajud-la. Percebeu uma luz, sentiu-se atrada por ela. A luz era cada

  • vez mais forte e mais luminosa. Esperamos em silncio os minutos se passarem devagar. De repente,ela estava numa outra vida, milhares de anos antes de Abby.

    Catherine murmurava suave:Vejo uma poro de alhos pendurados numa sala aberta. Sinto o cheiro. Acredita-se que podem

    acabar com os males do sangue e limpar o corpo, mas preciso com-los todos os dias. Tem alho lfora tambm, no alto do jardim. E outros vegetais... figos, tmaras e ervas. Algum em casa estdoente. So razes estranhas. s vezes a gente as guarda na boca, nos ouvidos ou em outrosorifcios.

    Vejo um velho de barba. um dos curandeiros da aldeia. Ele nos diz o que fazer. Est havendouma espcie de... praga... matando as pessoas. No esto embalsamando porque tm medo dadoena. Apenas enterram as pessoas. Por isso o povo est infeliz. Acham que assim a alma nocontinua. (Ao contrrio dos relatos de Catherine sobre o ps-morte.) Mas muitos morreram. Ogado est morrendo tambm. gua... enchentes... as pessoas adoecem por causa das enchentes.(Aparentemente ela s percebeu esse aspecto da epidemiologia.) Eu tambm tenho um mal-estarque peguei da gua. Meu estmago di. A doena nos intestinos e no estmago. O corpo perdemuito lquido. Estou perto da gua para apanhar mais, mas isso o que est nos matando. Levo agua. Vejo minha me e meus irmos. Meu pai j morreu. Meus irmos esto muito doentes.

    Fiz uma pausa antes de faz-la avanar no tempo. Estava fascinado pela forma como seusconceitos de morte e ps-morte mudavam tanto de uma vida para outra. Mas a sua experincia damorte em si era muito uniforme, muito igual, sempre. Uma parte consciente deixava o corpoquando ela morria, flutuava no alto e depois era atrada por uma luz maravilhosa e energizante. Elaento esperava por algum que viesse ajud-la. A alma automaticamente seguia o seu caminho.Embalsamar, cumprir rituais funerrios ou qualquer outro procedimento aps a morte nada tinha aver com isso, que era automtico, sem necessidade de preparao, como atravessar uma portarecm-aberta.

    A terra estril e seca... No vejo montanhas por aqui, s terra, muito plana e seca. Um de meusirmos morreu. Sinto-me melhor, mas a dor continua. Contudo, ela no viveu muito mais. Estoudeitada num catre com uma espcie de coberta. Estava muito doente, e nenhum alho ou ervapde evitar sua morte. Logo ela estava flutuando sobre o corpo, atrada pela luz familiar. Esperoupaciente que algum viesse.

    Sua cabea comeou a virar lentamente de um lado para outro, como se ela estivesse explorandouma cena. Falou de novo com voz alta e rouca:

    Dizem-me que h vrios deuses, pois Deus est em cada um de ns.Reconheci a voz do estado intermedirio pela rouquido e pelo tom inegavelmente espiritual da

    mensagem. O que ela disse em seguida me deixou sem flego, respirando com dificuldade.Seu pai est aqui, e o seu filho, que pequeno. Seu pai diz que voc o reconhecer porque ele se

    chama Avrom e sua filha tem o mesmo nome. Ele morreu do corao. O corao de seu filhotambm era importante, porque estava invertido, como o de uma galinha. Ele fez um grandesacrifcio por amor a voc. A alma dele muito evoluda... Sua morte pagou as dvidas dos pais. Eletambm quis lhe mostrar que a medicina tem limites, que seu campo de ao muito limitado.

    Catherine parou de falar e eu fiquei sentado em silncio, estupefato, minha mente entorpecida,tentando entender as coisas. A sala estava gelada.

    Catherine sabia pouco da minha vida pessoal. Sobre a mesa, eu tinha uma fotografia da minha

  • filha beb, sorrindo feliz, com seus dois dentinhos na boca banguela. A fotografia de um meninoestava ao lado. A no ser isso, Catherine nada sabia sobre a minha famlia ou a minha histriapessoal. Eu era bem escolado nas tcnicas teraputicas tradicionais. O terapeuta devia ser umatbula rasa, um quadro em branco onde o paciente projetaria seus prprios sentimentos, ideias eatitudes, que seriam ento analisados, aumentando o campo mental do paciente. Eu mantivera essadistncia teraputica com Catherine. Ela realmente s me conhecia como psiquiatra, nada do meupassado ou da minha vida particular. Nem mesmo meu diploma estava exposto no consultrio.

    A maior tragdia da minha vida fora a morte inesperada de nosso primeiro filho, Adam, comapenas 23 dias, no incio de 1971. Cerca de dez dias depois de sair do hospital, ele apresentouproblemas respiratrios e vmitos. Drenagem venosa pulmonar totalmente anmala com defeitodo septo auricular, disseram-nos. Ocorre uma vez em cada 10 milhes de partos. As veiaspulmonares, que deveriam levar de volta o sangue oxigenado para o corao, estavam com atrajetria errada, entrando pelo outro lado. como se o corao dele estivesse virado ao contrrio,invertido. Raro, extremamente raro.

    Uma heroica cirurgia de corao aberto no conseguiu salvar Adam, que morreu alguns diasdepois. Choramos durante meses, os nossos sonhos e esperanas frustrados. Nosso filho Jordannasceu um ano depois, um grato blsamo para nossas feridas.

    Na poca em que Adam morreu, eu estava em dvida quanto minha escolha da psiquiatriacomo carreira. Estava gostando do meu estgio em doenas internas e tinham me oferecido umaresidncia. Depois da morte de Adam, decidi que faria da psiquiatria a minha profisso. Estavafrustrado com a medicina moderna, que, com todas as suas especializaes e tecnologias avanadas,no conseguira salvar meu filho, um simples bebezinho.

    Meu pai tinha uma sade excelente, at um forte ataque do corao no incio de 1979, aos 61anos. Sobreviveu ao primeiro ataque, mas as paredes do corao ficaram irremediavelmentedanificadas e ele morreu trs dias depois. Isso acontecera nove meses antes da primeira consulta deCatherine.

    Meu pai era um homem religioso, mais ritualista que espiritual. Seu nome hebraico, Avrom, lhecondizia mais que o ingls, Alvin. Quatro meses depois da sua morte, nasceu nossa filha Amy, querecebeu esse nome em sua homenagem.

    Aqui, em 1982, no meu tranquilo e sombreado consultrio, uma ensurdecedora cascata deverdades secretas e ocultas caa sobre mim. Eu nadava num mar espiritual, amando a gua. Meusbraos estavam arrepiados. Catherine no podia conhecer aqueles dados. No havia nem ondebusc-los. O nome hebraico de meu pai, o fato de eu ter tido um filho que morreu beb, de umdefeito no corao que ocorre apenas uma vez em cada 10 milhes de crianas, o meu rancor pelamedicina, a morte do meu pai e o nome da minha filha era muita coisa, eram muitas informaesespecficas, muitas verdades. Essa simples tcnica de laboratrio era um conduto de sabedoriatranscendental. E, se ela podia revelar essas verdades, o que mais havia? Eu precisava saber mais.

    Quem, gaguejei, quem est a? Quem lhe diz essas coisas?Os Mestres, sussurrou ela, os Espritos Mestres me dizem. Eles me dizem que vivi 86 vezes em

    estado fsico.A respirao de Catherine se acalmou, a cabea parou de virar de um lado para outro. Ela

    descansava. Eu queria continuar, mas as suas afirmaes me perturbavam. Ela vivera mesmo 86vezes antes? E os Mestres? Seria possvel? Ser que nossas vidas so guiadas por espritos sem

  • corpo fsico mas dotados de grande sabedoria? H etapas no caminho para Deus? Isso seria real?Era difcil duvidar, diante do que ela acabara de dizer, mas eu continuava lutando para acreditar.Eu estava ganhando anos de programao alternativa. Mas na minha cabea, no meu corao e nomais ntimo do meu ser sabia que ela estava certa. O que ela revelava era verdadeiro.

    E o meu pai e o meu filho? De certo modo, eles continuavam vivos, nunca morreram realmente.Estavam falando comigo, anos depois de enterrados, e provando isso com informaes especficas esecretas. E, se tudo aquilo fosse verdade, meu filho era to desenvolvido espiritualmente comoCatherine dissera? Ele concordara mesmo em nascer e morrer 23 dias depois para nos ajudar comnossas dvidas crmicas e, alm disso, ensinar-me sobre a medicina e a humanidade, empurrando-me de volta para a psiquiatria? Esses pensamentos me alentaram. Debaixo dos calafrios, sentiacrescer um grande amor, um forte sentimento de unidade e conexo com os Cus e a Terra. Eutinha saudades do meu pai e do meu filho. Era bom ouvir falar deles de novo.

    Minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Uma mo descera e alterara irreversivelmente seucurso. Todas as minhas leituras, feitas com cuidadoso esprito escrutinador e neutralidade ctica, seencaixavam. As lembranas e mensagens de Catherine eram verdadeiras. Minhas intuies sobre aexatido de suas experincias estavam corretas. Eu tinha fatos. Tinha a prova.

    No entanto, mesmo naquele instante de alegria e compreenso, mesmo naquele momento deexperincia mstica, a velha e familiar parte lgica e desconfiada da minha mente abrigava umaobjeo. Talvez fosse apenas percepo extrassensorial, ou alguma destreza medinica. Admite-seque possa ser uma grande habilidade, mas no prova a reencarnao ou os Espritos Mestres. Noentanto, agora eu compreendia melhor. Os milhares de casos registrados na literatura cientfica,sobretudo de crianas que falam lnguas estrangeiras s quais nunca foram expostas, as marcas denascena onde antes houvera feridas mortais, essas mesmas crianas que sabem onde se escondemobjetos preciosos, enterrados h dcadas ou sculos a centenas de quilmetros de distncia, tudorefletia a mensagem de Catherine. Eu conhecia seu carter e sua mente. Eu sabia o que ela era e oque no era. No, a minha razo no ia me enganar. A prova era forte demais e irresistvel. Eraverdade. Ela confirmaria isso cada vez mais em nossas sesses subsequentes.

    s vezes, nas semanas seguintes, eu esqueceria o poder e o imediatismo dessa sesso. s vezes, euvoltava rotina de todos os dias, preocupado com as coisas cotidianas. A dvida vinha tona. Eracomo se minha mente, desfocada, tendesse a voltar aos antigos padres, crenas e ceticismos. Masa eu me lembrava isso aconteceu! A experincia necessria para somar a crena emocional compreenso intelectual. Mas o impacto sempre diminui um pouco.

    No incio eu no tinha conscincia da razo de estar mudando tanto. Sabia que estava mais calmoe paciente e os outros me diziam que eu parecia tranquilo, mais descansado e feliz. Eu tinha maisesperana, alegria, objetivos e satisfao na vida. Percebi que estava perdendo o medo da morte.No temia mais a minha prpria morte ou a no existncia. Tinha menos medo de perder osoutros, mesmo sabendo que iria sentir falta deles. Como poderoso o medo da morte! As pessoaschegam a extremos para evit-lo: crises de meia-idade, casos com pessoas mais jovens, cirurgiasplsticas, ginstica obsessiva, acmulo de bens materiais, filhos para perpetuarem o nome, esforopara ficarem cada vez mais jovens e da por diante. Ficamos to preocupados com nossas prprias

  • mortes que esquecemos o verdadeiro objetivo de nossas vidas.Eu estava tambm ficando menos obsessivo. No precisava manter tudo sob controle o tempo

    todo. Embora estivesse tentando me tornar menos srio, a transformao era difcil para mim.Ainda havia muito o que aprender.

    Minha mente estava agora aberta possibilidade, at probabilidade, de que as palavras deCatherine fossem reais. Os fatos inacreditveis sobre meu pai e meu filho no poderiam ser obtidospelos sentidos comuns. Seu conhecimento e suas capacidades certamente demonstravam umexcepcional poder medinico. Fazia sentido acreditar nela, mas continuei desconfiado e ctico arespeito do que encontrava na literatura popular. Quem so essas pessoas que relatam fenmenosmedinicos, vida aps a morte e outros assombrosos acontecimentos paranormais? Esto treinadasno mtodo cientfico da observao e comprovao? Apesar da minha incrvel e maravilhosaexperincia com Catherine, eu sabia que minha razo naturalmente crtica continuaria a examinarcada fato novo, cada informao. Eu verificaria se ela se ajustava ao quadro que ia sendo construdoa cada sesso. Eu examinaria de todos os ngulos, com o microscpio de um cientista. Mas, apesardisso, no podia continuar negando que o quadro j se encontrava ali.

  • 5Estvamos ainda no meio da sesso. Catherine acabou de descansar e comeou a falar de esttuasverdes diante de um templo. Despertei do meu devaneio e prestei ateno. Ela estava numa vidaantiga, em algum lugar da sia, mas eu continuava com os Mestres. Inacreditvel, pensei comigomesmo. Ela estava falando sobre vidas anteriores, sobre reencarnao, mas eu aguardavaansiosamente as mensagens dos Mestres. Eu j percebera, no entanto, que ela precisava percorrertoda uma vida para poder deixar seu corpo e alcanar um estado intermedirio. Isso no podia serfeito de imediato. S depois ela entrava em contato com os Mestres.

    As esttuas verdes esto diante de um grande templo, ela murmurou baixinho, uma construocom pontas e esferas marrons. So 17 degraus na frente e, depois de subir a escada, h uma sala.Ningum usa sapatos. As cabeas esto raspadas. Os rostos so redondos e os olhos, escuros. A pele escura. Eu estou aqui. Feri meu p e vim pedir ajuda. Meu p est inchado, no consigo pisar.Tem alguma coisa enfiada nele. Colocam algumas folhas sobre o meu p... Folhas estranhas...Tnis? (Tanino, ou cido tnico, encontrado de forma natural nas razes, madeiras, cascas, folhas efrutos de muitas plantas. Vem sendo usado desde a antiguidade como remdio, devido s suaspropriedades homeostticas e adstringentes.) Primeiro limparam meu p. um ritual diante dosdeuses. Ele est envenenado. Pisei em alguma coisa. Meu joelho est inchado. Minha perna estpesada e com manchas. (Envenenamento do sangue?) Abriram um buraco no p e colocaramalguma coisa quente l dentro.

    Catherine se contorcia de dor. Estava tambm enjoada com alguma bebida amarga que lhe deram.A poo tinha sido feita com folhas amarelas. Ela ficou curada, mas os ossos do p e da perna nose recuperaram. Avancei-a no tempo. Ela viu apenas uma vida triste e pobre. Morava com a famlianuma pequena cabana de um s cmodo, sem mesa. Comiam uma espcie de arroz, um cereal, masestavam sempre com fome. Ela envelhecia rapidamente, nunca escapando da pobreza ou da fome, emorreu. Esperei, apesar de entender a exausto de Catherine. Antes de acord-la, contudo, ela medisse que Robert Jarrod precisava da minha ajuda. Eu no tinha ideia de quem fosse nem comopoderia ajud-lo. No houve mais nada.

    Depois de acordar do transe, Catherine novamente se lembrou de muitos detalhes daquela vidapassada. Mas no lembrou nada de suas experincias de ps-morte, nada do estado intermedirio,dos Mestres ou do incrvel conhecimento que fora revelado. Fiz-lhe uma pergunta:

    Catherine, o que significa a palavra Mestres para voc?Ela achou que eu estava falando do Masters de golfe! Ela progredia rapidamente, mas ainda no

    conseguia integrar o conceito de reencarnao sua teologia. Portanto, resolvi no lhe falar dosMestres ainda. Alm do mais, eu no sabia como lhe dizer que ela era uma mdium incrivelmentepoderosa, capaz de canalizar o conhecimento maravilhoso e transcendental dos Espritos Mestres.

    Catherine permitiu que minha mulher assistisse sesso seguinte. Carole assistente socialpsiquitrica, bem preparada e altamente especializada, e eu queria sua opinio acerca daquelascoisas inacreditveis que estavam acontecendo. Depois que lhe contei o que Catherine dissera sobremeu pai e nosso filho Adam, ela se mostrou ansiosa por ajudar. Eu no tinha dificuldade em anotarcada palavra de Catherine quando ela falava baixo e devagar, mas os Mestres falavam rpido

  • demais, ento resolvi gravar tudo.Uma semana depois, Catherine voltou para sua prxima sesso. Continuava a melhorar,

    diminudos os medos e ansiedades. A melhora clnica era evidente, mas eu ainda no tinha muitacerteza da razo desse progresso. Ela se lembrava de ter se afogado como Aronda, de ter o pescoocortado como Johan, de ter sido vtima de uma epidemia causada pela gua como Lusa e de outrosacontecimentos terrivelmente traumticos. Ela tambm tivera a experincia, ou repetidasexperincias, de pobreza, servido e maus-tratos na famlia. Os ltimos so exemplos dosminitraumas dirios que tambm se enrazam em nossas psiques. A lembrana dos dois tipos devida poderia estar contribuindo para sua melhora. Mas havia uma outra possibilidade. Aexperincia espiritual em si estaria ajudando? O conhecimento de que a morte no o que pareceser estaria contribuindo para uma sensao de bem-estar, de menos medo? O processo todo, e noapenas as lembranas em si, faria parte da cura?

    A capacidade medinica de Catherine aumentava, tornando-a cada vez mais intuitiva. Aindatinha problemas com Stuart, mas sentia-se muito mais capaz de enfrent-lo. Seus olhos brilhavam, apele reluzia. Contou que tivera um sonho estranho naquela semana, mas s se lembrava de umpedao. Sonhou que estava com uma barbatana vermelha de peixe cravada na mo.

    Ela se entregou logo, chegando em poucos minutos a um nvel profundo de hipnose.Vejo umas rochas. Estou sentada nelas, olhando para baixo. Eu deveria estar procurando navios

    isto o que eu deveria estar fazendo... Estou usando uma roupa azul, uma espcie de cala azul...calas curtas e sapatos estranhos... pretos... e eles dobram. Os sapatos tm dobras, so muitoengraados... No vejo navios no horizonte. Catherine falava baixinho. Adiantei-a no tempo at oprximo acontecimento importante em sua vida.

    Estamos bebendo cerveja, uma cerveja forte. bem escura. As canecas so grossas. So velhas,presas com suportes de metal. O lugar fede e tem muita gente. Muito barulho. Todo mundo fala,muito barulhento.

    Perguntei se ouvia algum dizendo seu nome.Christian... Christian o meu nome.Ela era homem de novo.Estamos comendo uma espcie de carne e bebendo cerveja. Ela escura e amarga. Eles colocam

    sal.Ela no sabia em que ano estava.Esto falando sobre uma guerra, barcos que bloqueiam portos! Mas no consigo escutar onde. Se

    ficassem quietos, mas todo mundo fala e faz barulho.Perguntei onde estava.Hamstead... Hamstead. um porto, um porto no Pas de Gales. Esto falando ingls.Ela se adiantou at quando Christian estava em seu barco.Sinto um cheiro, alguma coisa queimando. Um cheiro horrvel. Madeira queimando, mas alguma

    outra coisa tambm. Irrita o nariz... Alguma coisa l longe est pegando fogo, um barco vela.Estamos carregando! Estamos carregando alguma coisa com plvora.

    Catherine estava visivelmente agitada. alguma coisa com plvora, preta demais. Gruda na mo. preciso andar rpido. O navio tem

    uma bandeira verde. A bandeira escura... verde e amarela. Tem uma espcie de coroa com trspontas.

  • De repente, Catherine fez uma careta de dor. Estava aflita.Ai, resmungou, minha mo est doendo, minha mo est doendo! Tem um metal, um metal

    quente na minha mo. Est me queimando! Ai! Ai!Lembrei-me do sonho e compreendi o que significava a barbatana vermelha em sua mo.

    Bloqueei a dor, mas ela continuou gemendo.Os estilhaos so de metal... O navio em que estvamos foi destrudo... o porto. Controlaram o

    fogo. Muitos homens morreram... muitos homens. Eu sobrevivi... s minha mo est machucada,mas com o tempo ela vai ficar boa.

    Adiantei-a, dizendo que escolhesse o prximo acontecimento importante.Vejo uma espcie de grfica, esto imprimindo alguma coisa com blocos e tinta. Esto

    imprimindo e encadernando livros... As capas so de couro e os livros, amarrados com tiras, tiras decouro. Vejo um livro vermelho... Alguma coisa sobre histria. No posso ver o ttulo, no acabaramde imprimir. Os livros so maravilhosos. O couro das capas muito macio. So livros maravilhosos,que ensinam a gente.

    Obviamente Christian estava gostando de ver e tocar os livros, intuindo vagamente a possibilidadede aprender por esse meio. Mas ele parecia analfabeto. Levei Christian at o ltimo dia de sua vida.

    Vejo uma ponte sobre um rio. Sou um velho... muito velho. difcil andar. Estou atravessando uma ponte... para o outro lado... sinto uma dor no peito

    presso, uma terrvel presso , uma dor no peito! Ai! Catherine emitia os sons como se estivessevivenciando o aparente ataque de corao sofrido por Christian na ponte. Sua respirao era rpidae curta, seu rosto e o pescoo estavam cobertos de suor. Ela comeou a tossir e a respirar comdificuldade. Fiquei preocupado. Vivenciar um ataque de corao ocorrido numa vida anterior seriaperigoso? Esta era uma nova fronteira; ningum sabia as respostas. Finalmente, Christian morreu.Catherine estava deitada tranquila no sof, respirando profunda e regularmente. Dei um suspiro dealvio.

    Sinto-me livre... livre, murmurou Catherine suavemente. Estou flutuando na escurido...apenas flutuando. Tem uma luz ao redor... e espritos, outras pessoas.

    Perguntei se ela pensava na vida que acabara de terminar, sua vida como Christian.Eu deveria ter sido mais clemente, mas no fui. No perdoei o mal que me fizeram, e deveria ter

    perdoado. No perdoei os erros. Conservei-os comigo e os guardei durante anos... vejo olhos...olhos.

    Olhos?, repeti, percebendo o contato. Que tipo de olhos?Os olhos dos Espritos Mestres, sussurrou Catherine, mas devo esperar. Tenho que pensar

    sobre algumas coisas. Minutos se passaram em tenso silncio.Como vai saber se eles esto prontos?, perguntei com expectativa, quebrando o longo silncio.Eles me chamaro, respondeu ela. Passaram-se mais alguns minutos. Ento, de repente, sua

    cabea comeou a virar de um lado para outro e a voz, rouca e firme, sinalizou a mudana:H muitas almas nessa dimenso. No sou a nica. Devemos ser pacientes. Isso uma coisa que

    eu nunca aprendi tambm... H muitas dimenses...Perguntei se ela estivera l antes, se reencarnara vrias vezes.Estive em planos diferentes em pocas diferentes. Cada um deles um nvel de conscincia

    superior. O plano para onde vamos depende de quanto progredimos...Ela se calou de novo. Perguntei o que ela precisava aprender para progredir. Respondeu

  • imediatamente:Devemos dividir o nosso conhecimento com os outros. Temos todos mais capacidades do que

    usamos. Alguns descobrem isso antes dos outros. Devemos avaliar nossas prprias imperfeiesantes de atingir esse ponto. Se no fizermos isso, vamos carreg-las para outra vida. S ns podemosnos libertar... dos maus hbitos que acumulamos no estado fsico. Os Mestres no podem fazer issopor ns. Se preferir lutar e no se libertar, voc as carregar at a outra vida. S quando resolvemosque somos fortes o bastante para dominar os problemas externos nos livramos deles na vidaseguinte.

    Devemos tambm aprender a no nos aproximarmos apenas das pessoas cujas vibraes sejamiguais s nossas. normal sentir-se atrado por algum do seu mesmo nvel. Mas est errado. Vocdeve tambm se aproximar de pessoas cujas vibraes sejam contrrias... s suas. Essa aimportncia... de ajudar... essas pessoas.

    Recebemos poderes intuitivos que devemos seguir sem tentar resistir. Aqueles que resistemencontraro o perigo. No somos mandados de volta de cada plano com os mesmos poderes.Alguns possuem poderes maiores que os outros, porque os foram acumulando em outras pocas.Portanto, as pessoas no so todas criadas iguais. Mas um dia atingiremos um ponto em que todosseremos iguais.

    Catherine parou. Eu sabia que aqueles pensamentos no eram dela. Ela no possuaconhecimentos de fsica ou metafsica, nada sabia de planos, dimenses e vibraes. Mas, almdisso, a beleza das palavras e das ideias, as implicaes filosficas do pronunciamento ultrapassavama capacidade de Catherine. Ela jamais falara daquela maneira to concisa e potica. Eu sentia umaoutra fora, superior, lutando com sua mente e suas cordas vocais, traduzindo esses pensamentosem palavras, para que eu entendesse. No, no era Catherine.

    Sua voz tinha um tom onrico.Pessoas que esto em coma... esto em estado de suspenso. Ainda no esto prontas para

    atravessar para outro plano... at que decidam se querem ou no atravessar. S elas podem decidir.Se acham que no tm mais o que aprender... no estado fsico... tero permisso para atravessar.Mas, se devem continuar o aprendizado, tero que voltar, mesmo no querendo. um perodo derepouso, um tempo de descanso para seus poderes mentais.

    Assim, as pessoas em coma podem decidir se voltam ou no, dependendo de quanto aindaprecisem aprender no estado fsico. Se acham que no h mais nada, podem ir diretamente para oestado espiritual, apesar de todos os avanos da medicina. Esse conhecimento se encaixavaperfeitamente nas pesquisas que estavam sendo publicadas sobre as experincias de morte clnica eno motivo que levava algumas pessoas a escolherem voltar. Outras no tm opo, precisam voltarporque ainda tm o que aprender. claro que todas as pessoas entrevistadas sobre suasexperincias de morte clnica retornaram aos seus corpos. Suas histrias so surpreendentementesemelhantes. Elas se separam de seus corpos e observam de cima os esforos para suaressurreio. Por vezes, percebem uma luz forte ou uma imagem espiritual brilhando a distnciaou no fim de um tnel. No sentem dor. Quando tm conscincia de que suas tarefas na Terraficaram incompletas e que precisam voltar aos seus corpos, elas retornam a eles, imediatamentedando-se conta da dor e de outras sensaes fsicas.

    Tive vrios pacientes com experincias de morte clnica. A histria mais interessante foi a de umbem-sucedido homem de negcios sul-americano que fez vrias sesses de psicoterapia

  • convencional comigo, cerca de dois anos depois de ter terminado o tratamento de Catherine. Jacobfora atropelado por uma motocicleta na Holanda, em 1975, e ficou inconsciente. Tinha trinta epoucos anos. Ele se lembrava de ter pairado sobre seu corpo e visto a cena do acidente, aambulncia, o mdico que cuidou de seus ferimentos e a multido que observava. Percebeu umaluz dourada a distncia e, quando se aproximou dela, viu um monge vestindo um manto marrom.O monge disse a Jacob que ainda no era hora de morrer, que ele tinha que voltar para seu corpo.Jacob sentiu a sabedoria e o poder do monge, que tambm revelou vrios acontecimentos futurosem sua vida, ocorridos todos mais tarde. Jacob voltou ao corpo, agora num leito de hospital,recuperou a conscincia e, pela primeira vez, sentiu dores terrveis.

    Em 1980, viajando para Israel, Jacob, que judeu, visitou a Gruta dos Patriarcas em Hebron, localsagrado tanto para os judeus como para os muulmanos. Depois da experincia na Holanda, ele setornara muito religioso e passara a rezar com mais frequncia. Vendo a mesquita ali perto, sentou-se com os muulmanos para rezar. Um pouco depois se levantou para sair. Um velho se aproximoudele e disse: Voc no como os outros. raro eles se sentarem conosco para rezar. O velhoparou um instante e olhou bem para Jacob antes de continuar: Voc viu o monge. No se esqueado que ele lhe disse. Cinco anos depois do acidente e milhares de quilmetros distante, um velhosabia do seu encontro com o monge, que acontecera enquanto ele estava inconsciente.

    No consultrio, pensando nas ltimas revelaes de Catherine, fiquei imaginando o que nossospadres fundamentalistas achariam da afirmativa de que os seres humanos no so criados iguais. Aspessoas nascem com talentos, habilidades e poderes acumulados em outras vidas. Mas no fimchegaremos a um ponto em que todos seremos iguais. Achei que esse ponto estaria muitas vidasdistante.

    Pensei sobre o jovem Mozart e seu incrvel talento na infncia. Seria isso tambm um transportede antigas habilidades? Aparentemente, assim como as dvidas, carregamos as capacidades.

    Pensei em como as pessoas tendem a se reunir em grupos homogneos, evitando e muitas vezestemendo os estranhos. Essa era a origem do preconceito e das inimizades entre grupos. Devemostambm aprender a no nos aproximarmos apenas das pessoas cujas vibraes sejam iguais snossas. Ajudar essas outras pessoas. Eu podia sentir as verdades espirituais existentes nessaspalavras.

    Preciso voltar, recomeou Catherine. Preciso voltar.Mas eu queria ouvir mais. Perguntei quem era Robert Jarrod. Ela mencionara seu nome na ltima

    sesso, dizendo que