CADERNO DE ATUALIDADES UNINOVE 2014-1 · RESUMO O objetivo deste artigo é levar a reflexão acerca...

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SUMÁRIO

Posição e função: A falta de entendimento entre os objetivos inerentes ao cargo e o alcance de resultados....................................................................................................... 02

As manifestações e a polícia militar nos dias de hoje.......................................................... 09

Práticas de responsabilidade social interna em empresas de pequeno porte do grande ABC paulista................................................................................................................ 13

Agricultura e o desenvolvimento regional no Estado de São Paulo..................................................................................................................................... 19

Internacionalização e desempenho: um estudo sobre a indústria automotiva no Brasil...... 24

O processo de crescimento econômico das nações e a necessidade de um desenvolvimento sustentável........................................................................................ 30

Educação empreendedora na universidade: fator de estímulo para a criação de parques tecnológicos............................................................................................................... 35

Editores e Revisores

Ana Graziele da Cunha Toledo

Luciano Ferreira da Silva

Jose Carlos Hoelz

Rodrigo Leite da Silva

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POSIÇÃO E FUNÇÃO: A falta de entendimento entre os objetivos inerentes ao cargo e o alcance de resultados

Luciano Ferreira da Silva

Tânia Santos Pinheiro de Oliveira

RESUMO O objetivo deste artigo é levar a reflexão acerca da realidade do poder nas organizações que geralmente está vinculada ao cargo. Para tanto, vale ressaltar que a ampliação das demandas organizacionais, com a finalidade de atingir as metas, propicia a ocorrência do aumento da pressão sobre as pessoas, além de fazer com que muitos profissionais esqueçam qual é a sua real função. Esta realidade faz com que muitas pessoas da organização, principalmente as chefias, adotem posições de poder e tenham atitudes agressivas diante da pressão de um ambiente organizacional, que pode se tornar hostil. Assim, os indivíduos da empresa acabam criando barreiras em relação ao fluxo natural do trabalho, ou seja, perdem o foco da sua real função. A título de exemplificação, atendentes podem se esquecer de que sua função é atender. Além disso, os gestores concebem exigências e lideram suas equipes de forma agressiva, criando um ambiente de trabalho competitivo e tenso, consequentemente, é possível constatar a existência do reflexo direto nas relações de trabalho. Portanto, o que se percebe em casos como estes, são somente pessoas assumindo uma posição, não entendendo sua função ou papel no sistema organizacional.

Palavras-chave: cargo, função, posição, poder.

1. INTRODUÇÃO

Os gestores de uma organização possuem, entre outras atribuições, a de construir estruturas que se tornem cada vez mais competitivas. No entanto, em um mercado aquecido, como o que se apresenta no Brasil, principalmente, neste ano de Copa do Mundo, fica difícil selecionar pessoas que estejam preparadas para determinadas funções. Além disso, as inúmeras demandas das organizações refletem diretamente no quadro de colaboradores, seja na rotatividade ou na urgência para novas contratações.

Diante desse cenário, verifica-se a existência do desafio em manter o fluxo contínuo de bens e serviços. Nesse sentido, as pessoas são colocadas em determinadas funções sem saberem, ao certo, qual é a real importância de suas atividades. Aliás, um simples treinamento operacional não dispõe a estas pessoas o verdadeiro significado de suas funções.

Embora muitas empresas tentem lidar com esta situação, na elaboração e execução de capacitações técnicas ou treinamentos motivacionais, os resultados são muitas vezes frustrantes. E quem geralmente sai perdendo, nesta relação, são os clientes, sejam os internos ou externos, pois ficam insatisfeitos com o fluxo normal dos serviços.

O problema gerado com a situação apresentada é relacionado às pessoas que perdem a noção de propósito, diante da função exercida. Muitas vezes, as contratações ocorrem sem respeitar, rigorosamente, os critérios de seleção, que possibilitariam a identificação da reciprocidade, no que tange a afinidade entre organização e indivíduo Além disso, estas pessoas se apegam à posição que assumem, fazendo desta posição sua finalidade de trabalho. Verifica-se, então, a ocorrência desse fato, tanto para cargos de chefia quanto para cargos operacionais como de atendentes, auxiliares, assistentes, entre outros.

Diante das consequências do problema relatado, é possível afirmar que a Gestão de Pessoas pode auxiliar na alocação de indivíduos, para determinada função, com base em suas competências. Desse modo, um gestor deve escolher um atributo ou uma atitude que ajudará a desempenhar determinada função, por meio de um rigoroso processo de

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recrutamento e seleção, possibilitando uma análise e avaliação correta da pessoa certa para a tarefa certa.

Assim, o presente artigo tem por objetivo construir um raciocínio que leve a uma reflexão sobre a estrutura organizacional e a função das pessoas diante dessa estrutura. Esta questão se torna cada vez mais importante, pois o ambiente imprevisível e mutável das organizações requer pessoas mais engajadas e comprometidas com os seus objetivos. E isto só é possível, quando todos sabem sua real função.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 UMA GESTÃO VOLTADA PARA AS PESSOAS A administração de uma empresa pode ser entendida como um meio de fazer com

que os recursos sejam alocados de forma sistêmica e deem os melhores resultados para quem estiver controlando a organização (DAFT, 2008). Contudo, esta visão ultrapassada é desenvolvida de forma mecanicista e verticalizada, o que possibilita a geração de uma estrutura linear e hierárquica (CLEGG; HARDY; NORD, 1998; MORGAN, 1996).

Como consequência deste modelo de gestão, surgiu a mecanização das pessoas, na qual Morgan (1996) e Clegg, Hard e Nord (1998), afirmam que trouxe ganhos com o aumento da lucratividade para as organizações. Além disso, esta visão centrada nos processos, aliada à evolução da tecnologia, ocasionou também a alienação das pessoas. Este tipo de organização incentiva um estilo de gestão centralizadora e autoritária.

Estas ideias fazem parte de um paradoxo, principalmente, quando se fala da administração que está mais centrada nas pessoas e na capacidade das organizações de aprender e inovar (ADIZES, 1995; MORGAN, 1996). Além do mais, é preciso entender como a gestão de pessoas se tornou assunto relevante dentro das organizações.

Como descrito por Gil (2001), a Gestão de Pessoas se tornou uma função gerencial que visa a cooperação das pessoas inseridas nas organizações, sendo resultado da evolução da antiga visão do setor de Administração de Pessoal, Relações Industriais e da Administração de Recursos Humanos. Neste processo de evolução, verifica-se que o foco não é mais a burocracia e o controle. O foco deve estar no papel desempenhado e nas competências existentes das pessoas da organização.

Assim, Bosquetti e Albuquerque (2005) mencionam que a atuação estratégica da gestão de pessoas surgiu no início da década de 1980, com a participação da área no planejamento estratégico da organização, o que possibilitou o alinhamento da gestão de pessoas às estratégias corporativas. Essa atuação estratégica estimulou a utilização do capital intelectual da organização como forma de vantagem competitiva (LEITE e ALBUQUERQUE, 2010; WOOD JR. et al., 2011; DEMO et al., 2012).

Dessa forma, o foco dos gestores não deve centrar-se na alocação das pessoas em atividades estanques e previamente estabelecidas, mas determinar uma estratégia organizacional e conduzir as atividades com as pessoas da organização, para o alcance destes objetivos. Portanto, a postura de apenas controlar as pessoas, fazendo com que os processos sejam realizados da melhor forma possível (Best Way) está obsoleta (BERTERO; CALDAS, 2007; MAXIMIANO, 2004). Os gestores devem adotar uma nova postura relacionada à verificação do comportamento das pessoas e as suas relações dentro e fora da organização, entendendo assim o seu estado de espírito.

Nesse âmbito, a realidade contemporânea contrapõe, inúmeras vezes, a exagerada racionalização do trabalho, originada principalmente do fato de que os primeiros estudiosos da administração possuíam o foco do gerenciamento na excelência da produção e na eficiência das tarefas (MOTTA; VASCONCELOS, 2004). As pessoas não tinham nenhum contato com o processo decisório e isso gerava, inevitavelmente, uma queda no rendimento. Com base nessa queda de eficiência e produtividade, os especialistas mudaram o foco para

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o estudo do comportamento das pessoas, passando assim a estudar suas motivações e interesses (CARVALHO; SERAFIM, 1995; GIL, 2001).

Desse modo, pode-se verificar que quanto maior a satisfação dos empregados, junto a organização, maior e melhor será o seu desempenho (LUZ, 2003; ROBINS, 2010). A partir desse salto, na administração, surgiu a emergência do estudo do comportamento organizacional (ROBINS, 2010; GASPARETTO, 2008). Por isso, os novos gestores devem ser capacitados para entender melhor os empregados, assim será minimizado descontentamento com as atitudes e interesses da organização.

Nesse cenário, as teorias humanísticas apresentam a oportunidade para a organização escolher entre modelos de gestão e estilos, adaptando cada um para a situação mais adequada, de modo que se encaixe em cada condição (DAFT, 2002; MORGAN, 1996). Além disso, as organizações começam a desenvolver a denominada visão sistêmica e a entender que o ambiente influencia suas ações e também é influenciado por elas (MORGAN, 1996; DAFT, 2002).

Todo esse contexto corrobora para que mais e mais o papel do departamento de gestão de pessoas seja ampliado e valorizado. Um dos objetivos importantes desta área é atuar como mediadora, cooperando com ambas as partes (organização e pessoas), para o alcance dos objetivos.

Esses fatores foram fundamentais para o surgimento dos conceitos de cultura e clima organizacional, pois demonstraram como a empresa era afetada por estas questões, de forma sistêmica.

O aparecimento da Administração de Recursos Humanos deve-se a introdução de conceitos originários da Teoria Geral dos Sistemas à gestão de pessoal [...] O conceito de sistema [...] pode ser definido [...] como um conjunto de elementos unidos por alguma forma de interação ou interdependência; uma combinação de partes, formando um todo unitário [...] (GIL, 2001, p. 21).

Logo, a organização pode ser analisada como um sistema que favorece a maior

comunicação entre as partes, interligando-as em busca de um objetivo comum. Isso faz com que haja uma interação maior entre os seus membros. Para as organizações, a necessidade constante de adaptação é o maior desafio, sendo que isso, também, é válido para a gestão. Esta visão da empresa como um sistema sugere, que diante da tomada de decisões, sempre deverá ser levado em consideração o ambiente onde a empresa está inserida e seus diversos elementos internos (MORGAN, 1996; ROBINS, 2010).

Entretanto, muitas vezes as organizações falharam em acompanhar essa evolução, ao adorem procedimentos como a reengenharia e a terceirização, somente para melhorar os custos de seus processos (ROBINS, 2010). Adotaram uma postura contrária à evolução da gestão de pessoas (VERGARA, 2007), o que remetia, ainda, ao tratamento dos empregados enquanto recursos, como qualquer outro da organização, ao invés de uma visão orientada para pessoas com habilidades e competências que ofereciam o seu potencial para a organização.

Nesse momento, uma atitude mecanicista leva os empregados perderem as noções do significado de suas atividades, assim como o seu papel diante dos clientes internos e externos. Estes empregados são colocados em uma estação de trabalho, mas não entendem que fazem parte de uma teia complexa, com vistas a auxiliar o fluxo do sistema organizacional.

Contudo, as organizações que mudaram seu foco gerencial, verificaram que os gestores precisam conferir com os seus empregados, informações sobre o clima no ambiente de trabalho e isto deve ser feito de forma rápida, objetiva e confiável. Assim, eles podem planejar, com base nas respostas obtidas, traçar e implementar processos que sejam mais eficientes e eficazes, de modo que possa agregar valor para todos os envolvidos: empregados, organização e clientes (GASPARETTO; 2008).

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Dessa forma, os empregados passariam a ser vistos como um diferencial dentro de um mercado altamente competitivo. Além disso, fica evidente a importância do gestor em reunir pessoas em busca de um objetivo comum, visto que os empregados muitas vezes executam ações aleatórias que refletem em seu comportamento pessoal e no comportamento do coletivo, pois as pessoas possuem crenças e valores próprios que serão alinhados com a cultura organizacional. Portanto, cabe ao gestor identificar esses fatores e trabalhar para esse alinhamento.

2.2 O PODER UTILIZADO EM UMA POSIÇÃO

O poder nas organizações pode determinar como se dará o fluxo de atividades, além de gerar falhas na comunicação e inibir a criatividade (MOTTA; VASCONCELOS, 2004). Robbins (2010) define o poder como a capacidade que um indivíduo tem para influenciar o comportamento de outro, assim interferindo em suas atitudes. Essa influência está atrelada à relação de dependência que existe entre estes indivíduos que constituem o ambiente corporativo. Uma forma de dependência existente, nas relações, é o medo, ou seja, a pessoa fica submissa à outra pelo medo, deixando refletir o poder coercitivo.

O poder coercitivo tende a resultar em assédio moral que pode ser definido segundo Hirigoyen (2002, p. 65):

Por assédio em um local de trabalho temos que entender toda e qualquer conduta abusiva, manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho.

Além do assédio moral, o próprio funcionamento do fluxo organizacional fica

comprometido. Isto ocorre quando as pessoas perdem a noção do significado de suas atividades, pois elas só conseguem identificar uma estação de trabalho. Neste momento começam os problemas para a organização.

Os requisitos inerentes a uma função ocupada, por um indivíduo, na organização são delineados por meio da descrição de cargos. Esta permite identificar o que, como, onde, quando e, principalmente, o porquê realizar determinação função. Esses critérios bem delineados deixarão claro o objetivo de determinada função (MARRAS, 2009).

Para uma análise coerente da descrição de cargos, também deverão ser considerados os requisitos físicos e mentais na ocupação de determinada função. Essa análise possibilitaria uma observação, no que tange a compatibilidade da sinergia entre indivíduo, função e organização. Contudo, as pessoas são alocadas em determinadas funções sem compreenderem seu contexto, ou seja, são apenas estimuladas a alcançarem resultados, comprimirem metas como um requisito único e relevante. Essa imposição ao alcance dos resultados reflete nas atitudes dos indivíduos, principalmente dos gestores, que perdem os parâmetros para utilizar o poder inerente a sua posição hierárquica.

Estes problemas estão concentrados nos conceitos de função e posição. A função determina uma atividade ou ação que ao ser desempenhada auxiliará no alcance dos objetivos. Já a posição representa uma situação estática, em que se percebe a relação de ordem ou lugar na qual uma pessoa se encontra. Assim, estes dois conceitos simples possuem uma forte influência no resultado de um sistema organizacional (MOTTA; VASCONCELOS 2004; ROBINS, 2010).

Desse modo, um gestor deve entender o que é importante para as pessoas de sua organização: a posição ou a função? Pois, se uma das partes falha, possivelmente, teremos como consequência o comprometimento dos resultados no todo organizacional. Desse modo, as atividades podem travar, as pessoas podem perder a pró-atividade e motivação, além da ocorrência de retrabalhos gerados da visão de que o que importa é a posição e não a função.

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3. POSIÇÃO E FUNÇÃO NO AMBIENTE DE TRABALHO Como foi demonstrado, no percurso deste artigo, a administração evoluiu de

processos previsíveis e rotinizados para ambientes complexos em que se exige mais das pessoas. Para tanto, todos devem entender seu papel na intrincada teia organizacional, que estabelece relações tanto entre cliente interno quanto com os clientes externos.

Contudo, isto ainda não é uma realidade para diversas organizações. Uma das primeiras lições que muitos novos gerentes recebem de seus pares é: “agora você é chefe”. Este discurso corporativo é um dos primeiros indícios de que você assumiu uma posição e não uma função.

Nesse sentido, Marino (2013) salienta que são citados os motivos para as atitudes direcionadas à posição, nos quais figuram entre os mais variados, ou seja, vão desde chefes inseguros, que precisam se respaldar no medo do funcionário para se sentir competente, como também surgem aqueles que assumem a função apenas pelo prazer de se encontrar numa posição hierárquica acima dos outros colaboradores, ou pela falta de informação.

Essa atitude de chefiar traz implícita um estado de violência moral para a organização, no qual segundo levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), esta situação promove, no assediado, distúrbios em sua saúde mental que estão relacionadas às condições de trabalho em que se encontra submetido. Um chefe exerce posição autoritária e fica controlando o tempo inteiro o subordinado (ROCHA, 2011) como, também, fazia o capataz.

Diante desse cenário, uma visão voltada para integração e colaboração coloca em xeque esta postura de chefe, como defende Gary Hamel (apud VELOSO, 2012), pois: “A colaboração estimula a iniciativa e a criatividade, duas características-chave para inovar". Este especialista em pessoas diz que não basta colocar as pessoas para trabalhar juntas, pois a gestão colaborativa exige uma revisão da cultura da empresa, das métricas para avaliação de resultado e do modelo de recompensa.

Dessa forma, esta nova postura pode ser percebida no que já faz a empresa Google, impondo uma nova cultura de trabalho em que a organização funciona a favor da criatividade, da produtividade e, por incrível que pareça, da felicidade do funcionário. Em sua unidade localizada no Brasil, nos três andares que são ocupados pela empresa, as áreas de descanso e lazer seguem o padrão de bem-estar, mundialmente, conhecido. E para estreitar o relacionamento entre os funcionários, as equipes recebem verbas específicas para sair juntas depois do expediente. Esta atividade serve para unir as equipes com a ideia de derrubar possíveis barreiras hierárquicas. Parece que na Google posição é algo que a empresa abomina (RESCHKE, 2013).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os gestores, em uma organização, trabalham para alcançar metas cada vez mais

audaciosas e dinâmicas. Assim, o ambiente que se apresenta neste início do século XXI, traz uma quantidade cada vez maior de ferramentas e informações para um melhor gerenciamento. No entanto, a harmoniosa combinação e integração entre pessoas e processos, ainda, compõem o fator que faz a diferença na melhoria da competitividade.

Com base nas ideias desenvolvidas neste artigo, pode-se afirmar que a forma com que são alocadas as pessoas, ou são dados significados às suas atividades, podem ser construídas na forma de estruturas, com ênfase em uma atuação pontual e fragmentada, o que não necessariamente promove relações de longo prazo. Desse modo, quando uma organização tem sua estrutura pautada para relações estáticas e regidas pelo controle, isto tende a instituir uma espécie de alienação que conduz a uma visão estreita, orientada somente para a posição do cargo. Inibindo, assim, uma conduta integradora entre indivíduos e a organização.

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Por outro lado, também, podem ser construídas estruturas que são aperfeiçoadas continuamente, nas quais proporcionam sinergia nas relações entre indivíduo e organização. Embora o modelo taylorista de administração ainda tenha muita relevância, novas formas de conduzir as pessoas, como na empresa Google, levam a repensar a estrutura e o cotidiano das organizações. Assim, o que se percebe é a importância da teia organizacional e não a luta pelo poder ou a exploração de uma posição para subordinados e colegas. Esta nova realidade inibe a perda de produtividade, retrabalho, falta de motivação e o aparecimento de um ambiente hostil às pessoas.

5. REFERÊNCIAS ADIZES, Ichak. Gerenciando mudanças: o poder da confiança e do respeito mútuo na vida pessoal, familiar, nos negócios e na sociedade. 2º Ed., São Paulo: Pioneira, 1995. BERTEIRO, Carlos Osmar; CALDAS, Miguel P. (org.) Teoria das Organizações. São Paulo: Atlas, 2007. BOSQUETTI, M. A.; ALBUQUERQUE, L.G. Gestão estratégica de pessoas: visão do RH x visão dos clientes. Anais do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, 2005. CARVALHO, Antônio Vieira de, SERAFIM, Oziléia Clen Gomes. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Thomsom Pioneira, 1995. CLEGG, Stewart R.; HARDY, Cyntia; NORD, Walter R. (Org). Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1998, vol. 1. DAFT, L. Richard. Organizações: Teoria e Projetos. 2º ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. DEMO, G Neiva, E. R.; NUNES, I.; ROZZETT, K. Human Resources Management Policies and Practices Scale (HRMPPS): exploratory and confirmatory factor analysis. Brazilian Administration Review, v. 9, n. 4, p. 395-420, 2012. GASPARETTO, Luiz Eduardo. Pesquisa de Clima Organizacional: o que é e como fazer. São Paulo: Scortecci, 2008. GIL, Antônio Carlos. Gestão de Pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2001. HIRIGOYEN, M.F. Assédio moral: a violência perversa do cotidiano, Rio de Janeiro: Bertrand, 2002. LUZ, Ricardo. Gestão do Clima Organizacional. São Paulo: Qualitymark, 2003. MARRAS, Jean Pierre. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2009. MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. São Paulo: Atlas, 2004. MORGAN, Gareth. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 1996. MARINO, Caroline. Defenda-se da grosseria do seu chefe, 2013 - Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/180/noticias/defenda-se-da-grosseria-do-seu-chefe> Acesso em: 09.02.2014. MOTTA, Fernando Cláudio Prestes; VASCONCELOS, Isabela Francisca Freitas Gouveia de. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. RESCHKE, Cibele. Todos querem ser como Google, melhor empresa para trabalhar. 2013. – Disponível em: < http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/18402/noticias/google-todos-querem-ser-assim> Acesso em: 10.02.2014. ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson, 2010.

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ROCHA, Maria. Chefe autoritário prejudica rendimento, 2011. – Disponível em: <http://www.tribunadabahia.com.br/2011/06/03/chefe-autoritario-prejudica-rendimento> Acesso em: 10.02.2014. VELOSO, Thiago. Colaborar dá trabalho, mas gera inteligência coletiva. 2012. – Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/172/noticias/colaborar-da-trabalho?page=2> Acesso em: 10.02.2014. VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas, 2007. WOOD JR.T.; TONELLI, M. J. ; COOKE, B. Colonização e neocolonização da gestão de Recursos Humanos no Brasil (1950-2010) RAE São Paulo v. 51 n.3 maio/ jun. 2011 232-243.

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AS MANIFESTAÇÕES E A POLÍCIA MILITAR NOS DIAS DE HOJE

Cassiano Ricardo Martines Bovo1

RESUMO Este breve ensaio se organiza a partir da onda de manifestações recentes da sociedade brasileira, depois de um longo período de marasmo e chama atenção para a atuação da polícia numa sociedade democrática, em que vigore o Estado de Direito. Inclusive para além de sua ação, em relação aos protestos, isto é, em relação à sociedade como um todo.

Palavras-chave: Manifestação; Democracia; Sociedade; Policia Militar.

1. MANIFESTÕES, PMs E O ESTADO DEMOCRÁTICO As manifestações que se multiplicaram de forma espantosa e chacoalharam o

Brasil, a partir de meados de 2013, deram um novo tom, em termos de movimentos sociais, num país que já algum tempo vivia uma espécie marasmo, nesse sentido. Sem entrar na seara dos debates sobre os motivos das manifestações2, entendemos que emergem alguns subprodutos dessa situação. Um deles é a discussão acerca da atuação das Polícias Militares (PMs) numa sociedade, pretensamente, democrática e em que vigore o chamado Estado de Direito. Vira e mexe o tema volta, mas agora, na carona das manifestações parece que vai ficar por bom tempo, como se observa, em função de uma série de ações praticadas pela polícia, nesse (e outros) contextos.

Ao mirar um território mais próximo, a Grande São Paulo, pôde-se observar que parte da sociedade ficou e está chocada com as imagens de policiais batendo e atirando em manifestantes desarmados. Entre eles se encontravam muitos estudantes e outras pessoas de classe média, o que, inclusive, atuou como um combustível para engrossar as manifestações. Como lembra Nobre (2014), esta situação fez a própria polícia recuar e utilizar um discurso de que procuraria mudar seu desempenho em relação aos manifestantes.

Nesse sentido, houve, especificamente, uma manifestação, que teve como foco declarado à própria atuação da PM, assim como se engrossou a corrente de pessoas indignadas na periferia de São Paulo3. Muitos questionaram: “como as pessoas ficam indignadas com esse tratamento da polícia, se na periferia sua atuação é organizada dessa forma há muito tempo?” Como se estivessem a dizer: “olhem o que a polícia faz aqui na periferia!”. De fato, se a PM faz isso sob os holofotes, imaginem o que acontece em vielas e becos escuros das favelas?

Assim, perguntamos: Que polícia é essa? A grande questão, a nosso ver, é a proporção da utilização da força, por parte da polícia, em todos os tipos de ações, numa sociedade que se diz democrática (mas falta muito para a concretização da democracia brasileira). Como afirma Oscar Vilhena, professor de Direito

1 Cassiano Ricardo Martines Bovo é professor da UNINOVE, membro da Anistia Internacional e autor

do livro Anistia Internacional: roteiros da cidadania-em-construção (Annablume/FAPESP, 2002).

2 Veja, nesse sentido, Nobre (2014).

3 Também, observa-se que cresce o movimento pela desmilitarização da PM.

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Constitucional da USP, após a PM ter baleado Fabrício Chaves, em manifestação contra a Copa do Mundo, em São Paulo:

A função da Polícia Militar é garantir direitos, em primeiro lugar, garantir o direito ao próprio protesto e daquele que exacerba esse direito, ela tem que conter. A grande questão é se ela emprega, proporcionalmente, a força necessária simplesmente para conter esta pessoa ou se ela exacerba. O que nós temos assistido nos diversos protestos, no Brasil, é que em muitas circunstâncias a polícia está exacerbando no emprego da força, usando, por exemplo, balas para conter um manifestante que aparentemente não colocariam nenhum risco aos policiais ou qualquer outra pessoa que estivesse por ali

4.

Em sociedades assim, não é a polícia ou cada policial que determina como se deve agir, mas a sociedade, fruto do debate, por parte dos mais variados atores sociais. A arma na mão do policial, a rigor, é aval da sociedade.

Para compreendermos melhor a forma de atuação das PMs, no Brasil, é necessário voltarmos aos de 1969, quando “(...) as polícias militares, antes subordinadas aos governos estaduais, ficaram subordinas ao Estado Maior do Exército e aos comandos militares regionais” (BOVO, 2000, p. 25). “Assim, com essa reorganização, o Exército pôde usar as PMs como força antiguerrilhas, evitando o uso de seus soldados no que a cúpula militar sabia ser um negócio sujo” (SKIDMORE, 1988, p. 256).

Dessa forma, se moldou uma cultura, dentro das PMs, de combate ao inimigo, num contexto que o regime militar brasileiro, à época, entendia como de guerra. O que procuramos mostrar, em Bovo (2000; 2002), é que essa cultura impregnou a corporação e pouco se alterou até os dias de hoje, apesar da redemocratização da sociedade brasileira, a partir de 1985 e de muitos movimentos, nesse sentido, a partir do final dos anos 1970. Na verdade, uma redemocratização que não discute a ação das polícias é considerada capenga, desde o seu início. Portanto, as PMs, à época, passaram a fazer parte daquilo que denominamos de aparato da tortura e da morte, aparato esse que não foi desmontado até hoje.

Defendemos a ideia de que o foco de atuação das PMs passou a ser não mais estudantes e ativistas de movimentos contra a ditadura, inclusive os guerrilheiros. Agora, o foco passou a ser a população pobre e marginalizada das periferias das grandes cidades:

Flávia Piovesan, ao referir-se à pesquisa sobre casos de violações de direitos humanos, que desenvolveu em 1995, no Programa de Direitos Humanos na Harvard Law School, em que divide as violações de direitos humanos no regime militar (1964-1985) e no regime da transição democrático (a partir de 1985), afirma:

Considerando o primeiro período, concluía que 90% dos casos se referiam à tortura e à detenção arbitrária. Quanto ao segundo período, constava que 82% dos casos se referiam à violência da Polícia Militar. Esses dados demonstravam que a democratização, no Brasil, foi incapaz de romper com as práticas autoritárias do regime militar, apresentando como reminiscência um padrão de violência sistemática, praticada pela PM. Observava, contudo, que as vítimas de violação apresentavam um perfil distinto. Se no período ditatorial, em 90% dos casos, as vítimas eram integrantes da classe média (estudantes, professores, advogados, economistas), no período da

4 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/01/tiros-disparados-contra-rapaz-em-protesto-

geram-criticas-e-investigacao.html, edição de 27/01/2014, acesso em 31/01/2014.

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transição, em 94% dos casos, as vítimas eram pessoas pobres, sem qualquer liderança destacada (incluindo pedreiros, ajudantes de máquina, mecânicos)

5 (BOVO, 2000, p. 31-32).

Nesse âmbito, se observarmos no noticiário diário, isso pouco se alterou até

os dias de hoje. O fato é que o Brasil, ao longo desse período, tem sido motivo de relatórios sobre as violações de direitos humanos, cometidas por policiais, de autoria de várias organizações tais como: Anistia Internacional, Human Rights Watch6 etc. Inclusive sobre massacres cometidos pelas PMs do país.

As violações, em geral, cometidas são: a tortura (que é prática generalizada no país, mesmo sendo crime inafiançável, de acordo com nossa legislação), as execuções extrajudiciais (execuções por parte de policiais, depois que o suspeito está dominado) e os desaparecimentos (como, por exemplo, o recente caso do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido na Favela da Rocinha, RJ, depois de ser detido por policiais militares). Todos esses crimes são constantes de artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e esses direitos assegurados pela nossa Constituição.

Diante desse cenário, o que nos chama atenção é, justamente, o fato de se repetir, hoje, algo que aconteceu há anos. As classes médias e os mais ricos da sociedade brasileira se indignavam com a atuação da PM, na época da ditadura militar, muitas vezes contra seus próprios filhos. Vários anos se passaram, desde então, passou o regime ditatorial e eles se esqueceram dos mais pobres, que passaram a ser o objeto desse mesmo tipo de violações. Atualmente, muitos integrantes da mesma classe média e os ricos estão indignados com a PM (em muitos casos, novamente seus filhos estão sendo espancados pela PM), mas continuarão a se esquecer da periferia?

No rol de movimentos em profusão no país, há uma chance dos mais pobres fortalecerem um movimento em que eles sejam atores e possam impressionar a sociedade brasileira, mostrando que suspeito é uma coisa, criminoso é outra e mesmo esse, tem seus direitos. É assim que funciona um Estado de Direito.

Portanto, a reforma das polícias é um debate que não pode ser adiado7. E tem outra diferença: atualmente, as redes sociais e as máquinas fotográficas, nos celulares, não deixam mais uma série de ações da PM passarem despercebidas. Um exemplo é do já mencionado caso do pedreiro Amarildo, é uma violação que normalmente passaria despercebida, mas, surpreendentemente, para os padrões do Brasil, não passou, embora a punição aos responsáveis, ainda, não esteja de acordo com a sociedade democrática que queremos.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5 O artigo de Flávia Piovesan é O resgate da cidadania mutilada (Folha da S. Paulo, 17/06/1997).

6 A respeito do lançamento do relatório anual de 2014 da Human Rights Watch: O texto aponta que

1.890 pessoas morreram em confronto com policiais em serviço no Brasil em 2012 − uma média de cinco pessoas por dia. "No entanto, nem todas as mortes ocorridas em decorrência de ação policial resultam do uso legítimo da força, fato esse documentado pela Human Rights” (http://www.dw.de/human-rights-watch-critica-viol%C3%AAncia-policial-no-brasil/a-17375816, acesso: 31/01/2014).

7 Veja as propostas de Renato Sérgio de Lima em entrevista publicada pela Edição Especial de Carta

Capital n. 781, pp. 50-53.

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O Brasil passa por um momento em que muitas demandas represadas (dos

mais variados tipos e nas mais variadas áreas) começam a se alastrar, o que, naturalmente, cria um clima de confrontos e conflitos. Isso faz parte do processo democrático, em que essa situação não fica restrita apenas às instâncias legislativas ou aos lobbies ou canais desse tipo. A rua e as praças (que estão na origem da democracia dos atenienses) são, também, de forma legítima, espaço de luta. Ocorre que entre os lados em disputa, nessas situações, estão as forças policiais e, por conseguinte a sua atuação é crucial, de modo que uma série de procedimentos devem ser seguidos, em função do respeito aos direitos fundamentais garantidos pela nossa Constituição, mesmo que essas forças estejam subordinadas a governos que estão justamente sendo questionados e confrontados.

Mas, não é só nos confrontos de rua que esse aspecto merece atenção, mas também (e, talvez, mais ainda) nos confrontos entre policiais e criminosos, assim como suspeitos, principalmente, na periferia das grandes cidades. Nesse caso, também, procedimentos têm que ser seguidos, em prol do respeito aos direitos fundamentais.

Os movimentos e forças sociais, que há algum tempo, questionam a atuação das polícias, nem sempre precisam propor grandes reformulações, porque a exemplo de várias outras áreas (meio ambiente, corrupção etc.), já possuímos leis avançadas (pelo critério dos países democráticos, de fato). Porém, é sabido que a cidadania não é apenas a criação de direitos, mas também, a luta para que sejam realmente respeitados e esse é um grande desafio para os movimentos em nossa sociedade. Quem sabe, nesse rico momento avançaremos?

3. REFERÊNCIAS BOVO, Cassiano Ricardo Martines. Anistia Internacional: roteiros da cidadania-em-construção. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2002. ________ . A Anistia Internacional e as violações de direitos humanos no Brasil. Pensamento & Realidade, ano III, n. 7, 2000, pp. 15-38. LIMA, Renato Sérgio de. Segurança. Carta Capital, Edição Especial, n. 781, pp. 50-53. NOBRE, Marcos. Choque de democracia: razões da revolta. São Paulo: Breve Companhia, 2014. PIOVESAN, Flávia. O resgate da cidadania mutilada. Folha de S. Paulo, 17/06/1997. SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. Sites: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/01/tiros-disparados-contra-rapaz-em-protesto-geram-criticas-e-investigacao.html, edição de 27/01/2014, acesso em 31/01/2014. http://www.dw.de/human-rights-watch-critica-viol%C3%AAncia-policial-no-brasil/a-17375816, acesso: 31/01/2014

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PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL INTERNA EM EMPRESAS DE PEQUENO PORTE DO GRANDE ABC PAULISTA.

José Wiliam Mattioli

RESUMO A Responsabilidade Social Empresarial representa um dos destaques das discussões sobre o papel das empresas e seu compromisso com os diversos públicos com a qual se relacionam. Um dos aspectos do compromisso social se refere ao público interno como um diferencial competitivo das empresas, no processo de gestão. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo identificar se empresas, de pequeno porte do ramo industrial, localizadas na Região do Grande ABC Paulista, desenvolvem práticas internas de Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Em detrimento do exposto, este estudo não tem o objetivo de classificar as empresas como socialmente responsáveis ou não responsáveis, nem mesmo a pretensão de destacar as melhores práticas internas de Responsabilidade Social Empresarial. Mas, sim, identificar se as empresas de pequeno porte, localizadas na região estudada, desenvolvem práticas internas de responsabilidade social, conforme os Indicadores Ethos-Sebrae de Responsabilidade Social para Pequenas Empresas (Instituto Ethos, 2012).

Palavras-chave: Responsabilidade Social; Pequenas Empresas; Stakeholders; Empregados.

1. INTRODUÇÃO

Ao contrário de uma realidade vivida há alguns anos, não existe inovação tecnológica que leve a empresa ao menor custo, maior produtividade, melhor produto, entre outros, que não possa ser copiada por outra empresa concorrente. Assim, é preciso pensar um novo sentido para os principais objetivos e o propósito do existir das organizações. Essa questão suscita a reflexão sobre a finalidade de uma empresa e sua responsabilidade com os diversos stakeholders.

Contudo, vale destacar que não há consenso, no que se refere à Responsabilidade Social (ASHLEY et al., 2004). Segundo Jones (1996), o conceito e o discurso de ética e Responsabilidade Social Empresarial carecem de coerência teórica. Os argumentos a favor seriam enquadrados em dois pontos básicos: ético e instrumental.

Ainda segundo Jones (1996), os argumentos éticos derivam dos princípios religiosos e das normas sociais prevalecentes, considerando que as empresas e as pessoas, que nelas trabalham, deveriam se comportar de maneira socialmente responsável, por ser a ação moralmente correta. Já os argumentos, na visão instrumental, consideram que há uma relação positiva entre o comportamento socialmente responsável e o desempenho econômico da organização.

Segundo a ISO 26000 (2010, p. 23), a percepção e a realidade do desempenho em Responsabilidade Social da organização podem influenciar, além de outros, os seguintes fatores: vantagem competitiva; sua reputação; sua capacidade de atrair e manter trabalhadores e/ou conselheiros, sócios e acionistas, clientes ou usuários; a manutenção da moral, do compromisso e da produtividade dos empregados; a percepção de investidores, doadores, patrocinadores e da comunidade financeira; sua relação com empresas, governos, a mídia, fornecedores, organizações similares e a comunidade em que opera.

O Instituto Ethos de Responsabilidade Social (2000), afirma que a empresa é socialmente responsável quando vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores e faz isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa. Para Enderle e Tavis (1998), toda a empresa é um ator moral,

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com responsabilidades econômicas, sociais e ambientais, além de estar inserida em um ambiente de constantes transformações.

Na proposta de Carroll (1991), há um modelo conceitual para gestores que contempla o significado amplo de Responsabilidade Social, incluindo uma variedade de responsabilidades nos negócios para com a sociedade e esclarecimentos sobre a proposta de gerar lucros e obedecer a lei. Estas ideias estão colocadas em forma de pirâmide com quatro dimensões: econômica, legal, ética e filantrópica. No ano de 2008, o modelo piramidal foi reformulado por Schwartz e Carroll. Eles incluíram no modelo dos três domínios, ou seja, novas categorias socialmente responsáveis que apesar de independentes, são complementares no campo da ética e da responsabilidade nos negócios: gestão de stakeholders, sustentabilidade e cidadania empresarial.

No Brasil, a Responsabilidade Social Empresarial tomou um novo fôlego devido aos modelos que chegam juntamente com as novas organizações que aqui vêm se instalando e, também, pela ausência do Estado, na solução dos problemas sociais. Assim, sob essa perspectiva, Giuliani et al. (2010), afirmam que a Responsabilidade Social é um tema atualmente de destaque e importante no contexto das organizações.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Responsabilidade Social Empresarial é um tema de destaque no atual contexto das organizações. Segundo Davis (1960), a Responsabilidade Social da empresa seria a resposta às questões que vão além das estritamente econômicas, técnicas e legais sobre o seu funcionamento. Para Pereira e Campos Filho (2006), as afirmações de Friedman (1970), contrárias ao investimento das empresas em ações de Responsabilidade Social, geraram críticas ao seu posicionamento. O tema, após ser discutido por vários autores, foi denominado de Business Ethics.

Dessa forma, conforme afirmam Enderle e Tavis (1998), toda a empresa é um ator moral, com responsabilidades econômicas, sociais e ambientais, além de estar inserida em um ambiente de constantes transformações. Na década de 1980, com a revolução decorrente das novas tecnologias e o advento da globalização, surge a corrente Empresa e Sociedade (Business & Society), que, de acordo com Wartick e Cochran (1985), define um contrato entre a empresa e a sociedade que funciona como uma forma de ajustar o comportamento dos negócios aos objetivos sociais.

A corrente “Empresa e Sociedade” tem como um de seus pilares a teoria dos stakeholders, que trata da relação da empresa com o conjunto de partes interessadas. O conceito de Responsabilidade Social Empresarial, para Ashley (2004), não pode ser reduzido a uma dimensão ‘social’ da empresa, mas interpretado por meio de uma visão integrada de dimensões econômicas, ambientais e sociais que, reciprocamente, se relacionam e se definem.

Nesse sentido, Ashley (2004) aponta duas abordagens para a gestão empresarial:

Abordagem tradicional: que busca maximização racional da riqueza dos acionistas ou proprietários da empresa, que tem como principais premissas a mercantilização das relações sociais e o consumismo.

Abordagem ecocêntrica: que requer um novo modelo mental para o conceito de empresa, descentralizando-a no escopo de discussão, quanto às relações de produção e consumo nas coletividades e levando em conta as relações recíprocas do ser humano e a natureza, sem limites temporais e espaciais.

Na proposta de Carroll (1991), há um modelo conceitual para gestores que

contempla o significado amplo de Responsabilidade Social, incluindo uma variedade de responsabilidades nos negócios para com a sociedade e esclarecimentos sobre a proposta de gerar lucros e obedecer à lei. Estas ideias estão colocadas, em forma de pirâmide, com quatro dimensões: econômica, legal, ética e filantrópica. Segundo Carroll (1991), os estágios

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da pirâmide não implicam em uma sequência, pois é importante alcançar resultados econômicos, além de cumprir as leis e regulamentos que confirmam o exercício da Responsabilidade Social Empresarial.

Devido estas limitações, o modelo piramidal foi reformulado por Schwartz e Carroll (2003). Este modelo foi composto por três domínios com igual nível de importância: econômico, legal e ético. Em 2008, Schwartz e Carroll incluíram, no modelo dos três domínios, novas categorias socialmente responsáveis que, apesar de independentes, são complementares, no campo da ética e da responsabilidade nos negócios, são eles: gestão de stakeholders, sustentabilidade e cidadania empresarial. Os modelos de Carroll (1991; 2003; 2008), não esgotam a abordagem sobre Responsabilidade Social Empresarial. Há na literatura sobre o assunto outras abordagens com outros modelos distintos.

Segundo Turker (2009), de fato, tem sido feitas consideráveis tentativas de medir as atividades socialmente responsáveis das organizações. É possível identificar, apesar da grande diversidade, dois tipos básicos de atuação das empresas, em relação à Responsabilidade Social. Na visão de Fischer (2002), as ações sociais são consideradas como bens geradores de resultados para uma determinada população. Ashley (2002), por sua vez, considera estas ações como estratégias de negócio, objetivando o desempenho da empresa, de seus produtos e de suas marcas.

Paralelamente a esta corrente, a partir dos inevitáveis conflitos existentes na relação entre empresas e sociedade, surge, na década de 1980, a corrente teórica social. Esta trata os problemas sociais como uma variável a ser considerada na gestão estratégica das empresas, sendo uma abordagem estratégica. Segundo Gendron (2000), a empresa não existe em um ambiente apenas composto por agentes como consumidores, fornecedores e concorrentes, mas por cidadãos. Nesse contexto, as empresas passaram a lançar mão de ferramentas de gestão na busca da maximização de seu desempenho moral e ético, transformando a sensibilidade organizacional em vantagem competitiva (PEREIRA; CAMPOS FILHO, 2006).

No século XX, entre 1900 a 1960, com o surgimento das ciências administrativas e a rápida profissionalização dessa atividade, nos Estados Unidos, deu-se início aos debates sobre a dimensão social das empresas. Apoiado nos princípios básicos da filantropia, da governança e manifestações paternalistas do poder corporativo, nesta época foi construído o conceito de Responsabilidade Social (CARROLL, 1999).

Neste período, surgiu também a preocupação com a ética na condução dos negócios, causada pelos dilemas morais enfrentados por executivos de diversas empresas, levando à incorporação de princípios morais tradicionais de honestidade, integridade, justiça e confiança no mundo dos negócios.

O cenário de turbulência e contestações sociais, da década de 1960, foi, em parte, causador das tentativas de definir a Responsabilidade Social Empresarial de maneira mais precisa (CARROLL,1999). Além do mais, grandes empresas tornaram-se alvo de reivindicações e protestos, causados pela mobilização da sociedade e pelo fortalecimento dos princípios revolucionários que possibilitaram o surgimento de movimentos sociais organizados e que passaram a exercer forte pressão sobre as empresas. Nesse âmbito, para discutir sua responsabilidade sobre questões como: poluição, consumo, emprego e as variadas formas de discriminação.

No início da década de 1970, segundo De George (1987), surgem debates centrados na Responsabilidade Social das empresas, na economia política e nos limites do crescimento. As empresas passaram a responder não só pela rentabilidade, mas também por obrigações de maior amplitude, constituindo, formalmente, a ética empresarial e sua interdisciplinaridade, tendo como protagonistas a filosofia e a administração.

Segundo Kreitlon (2004), outra característica da década de 1980 foi a diversificação das correntes teóricas dedicadas ao questionamento ético e social das empresas e por uma crescente institucionalização do fenômeno. Boje (2002), salienta que normas e certificações, sobre Responsabilidade Social, foram criadas em diversos países sob o patrocínio das próprias corporações e de grandes empresas de consultoria e auditoria.

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No Brasil, a Responsabilidade Social Empresarial tomou novo fôlego devido aos modelos que chegaram, juntamente, com as novas organizações que aqui vêm se instalando, como também pela ausência do Estado na solução dos problemas sociais. Nesse sentido, Giuliani, Castro e Spers (2010) afirmam que a Responsabilidade Social atualmente é um tema de destaque no contexto das organizações.

3. EVIDÊNCIA EMPÍRICA

Na exploração das questões de Responsabilidade Social Empresarial Interna em Empresas de Pequeno Porte do Grande ABC Paulista, foi utilizada a pesquisa descritiva, de levantamento e com a adoção de um questionário estruturado. Quanto aos procedimentos utilizados nesta pesquisa, estes são descritivos. A contagem simples de frequência foi uma das formas adotadas. O questionário possibilitou a participação de várias pessoas, ao mesmo tempo, obtendo, assim, um maior número de dados em um menor período de tempo, garantindo a obtenção de respostas rápidas e precisas.

Nesta pesquisa o questionário adotado foi o instrumento definido, em 2003, pelo Instituto Ethos, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Este recebeu, no ano de 2006, uma revisão de seus indicadores e no primeiro semestre de 2012, uma nova revisão.

Este instrumento trata dos oito indicadores de Responsabilidade Social Empresarial Interna, quanto ao tema Público Interno. Estes indicadores são os seguintes: Indicador 1 – Cuidados com a saúde, segurança e condições de trabalho; Indicador 2 – Benefícios adicionais; Indicador 3 – Critérios de contratação; Indicador 4 – Valorização da diversidade e promoção da equidade; Indicador 5 – Inclusão de pessoas portadoras de deficiência; Indicador 6 – Relações com o sindicato; Indicador 7 – Compromisso com o desenvolvimento profissional e empregabilidade; Indicador 8 – Acesso à informação.

Estes indicadores são ferramentas de autoavaliação e aprendizado da gestão empresarial, no que se refere à incorporação de práticas de Responsabilidade Social. O universo de estudo se voltou para os estabelecimentos do ramo industrial metalúrgico, com 20 a 99 empregados, selecionados a partir do Guia ABC (2012).

Foi identificado um total de 91 estabelecimentos industriais, sendo realizado contato telefônico com os responsáveis por estes estabelecimentos, sendo explicados os propósitos da pesquisa, a confidencialidade dos dados informados e, também, a baixa complexidade no preenchimento das informações solicitadas. Deste universo, 14 indústrias concordaram em participar do estudo, se constituindo em uma amostra definida por acessibilidade.

Para o fechamento deste artigo, são apresentados os resultados dos indicadores pesquisados, de forma individual, como se observa a seguir:

Análise do Indicador 1 - Cuidados com saúde, segurança e condições de trabalho: 97% dos participantes afirmam que além de cumprirem as obrigações legais, se preocupam em oferecer aos seus empregados um ambiente físico agradável com higiene e saúde, os outros 3% afirmam desenvolver, parcialmente, estas práticas.

Análise do indicador 2 - Benefícios Adicionais: 50% dos participantes da pesquisa afirmam oferecerem benefícios adicionais aos seus empregados e a seus dependentes. O simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, segundo Corrêa e Medeiros (2003), não pode ser considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual óbvia.

Análise do Indicador 3 - Critérios de contratação: Na contratação de empregados, 86% dos respondentes afirmam que sim, divulgam os critérios

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de seleção que serão adotados. Outros 7% dizem que, em grande parte, divulgam os critérios utilizados na seleção dos candidatos. E, 7% afirmam que a empresa não divulga os critérios que vai utilizar na seleção dos candidatos.

Análise do Indicador 4 - Valorização da diversidade e promoção da equidade: 79% dos respondentes afirmam utilizar critérios na seleção de pessoal que sejam isentos de práticas discriminatórias. Já 21% dos respondentes afirmam, que em grande parte, procuram utilizar práticas que sejam isentas de discriminação em relação a gênero, raça, orientação sexual, idade e crenças religiosas ou políticas, bem como com as pessoas com deficiência.

Análise do Indicador 5 - Inclusão de pessoas portadoras de deficiência: 86% dos respondentes afirmam não possuírem ou possuírem, parcialmente, instalações com recursos que facilitem o deslocamento e a convivência de pessoas com algum tipo de deficiência. Segundo Montana e Charnov (1998), uma empresa socialmente sensível procura formas de resolver problemas sociais, prevendo problemas futuros e antecipando-se a eles com ações que evitem seu aparecimento ou minimizem seus reflexos.

Análise do Indicador 6 - Relações com sindicatos: 93% dos respondentes vê a associação de seus funcionários a organismos sindicais de classe como um direito do trabalhador, permitindo, ainda, a eventual presença de representantes sindicais nas dependências da empresa para discutir questões de interesse dos empregados.

Análise do Indicador 7 - Compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade: 100% das empresas respondentes afirmam valorizar e criar ações relacionadas ao compromisso com o desenvolvimento profissional e empregabilidade de seus empregados, subsidiando cursos, colaborando com a realização de estágios e concedendo incentivos aos empregados matriculados em cursos de todos os níveis.

Análise do Indicador 8 - Acesso à informação: 93% dos respondentes afirmam que facilitam aos seus empregados o acesso a informação, incentivando a leitura e tornando disponíveis jornais, revistas e acesso à internet em horários, previamente, estabelecidos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir este estudo, é possível afirmar que as empresas de pequeno porte do ramo industrial desenvolvem práticas internas de Responsabilidade Social. Estas práticas podem ser separadas em duas categorias, sendo a primeira composta de práticas legais, ou seja, as práticas internas de Responsabilidade Social que são, na verdade, imposições legais obrigatórias à implementação pelo empregador.

Na segunda categoria estão as práticas de conscientização, ou seja, práticas desenvolvidas pelas empresas, que não são previstas em lei, mas que estão presentes na realidade da empresa. Portanto, práticas de Responsabilidade Social devem ser observadas e analisadas nestas duas categorias de forma abrangente e sistêmica.

Assim, o que se apresenta ao final deste estudo não é conclusivo, é um trabalho inicial que não teve a pretensão de esgotar o tema. No entanto, estas informações contribuem para que outras pesquisas sejam desenvolvidas a partir desta perspectiva da

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Responsabilidade Social Empresarial, o que por sua vez conduz, no sentido de auxiliar os empresários em suas práticas. Além disso, serve também para ampliar a visão dos negócios pelos gestores, levando-os a ultrapassar os aspectos instrumentais dos marcos regulatórios.

5. REFERÊNCIAS ASHLEY, A.P et. al. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2004. ASHLEY. A. P.; COUTINHO, R.B.G.; TOMEI, P.A. Responsabilidade social corporativa e cidadania empresarial: uma análise conceitual comparativa. In: 24º EnANPAD. Anais do evento: Florianópolis, 2000. BOJE, D. Resistência carnavalesca ao espetáculo global. Revista de Administração de Empresas, v. 42, n. 4, p. 11-28, 2002. CARROLL, A.B.A. The pyramid of corporate social responsibility: toward the moral management of organizational stakeholders. (balancing economic, legal and social responsibilities). Business Horizons, v. 34 nº 4, jul - aug, 1991. CARROLL, A.B.A. Corporate social responsibility: evolution of a definitional construct. Business and Society, n. 38, p. 268-295, 1999. DAVIS, K. Can Business Afford to Ignore Social Responsibilities?, California Management Review, v. 2, p.70-76, 1960. DE GEORGE, R. The status of business ethics: past and future. Journal of Busines Ethics, n. 6, p. 201-212, 1987. ENDERLE, G; TAVIS, L.A. A balanced concept of the firm and the measurement of its long term planning and performance. Journal of Business Ethics; ABI/INFORM Global: Aug, 1998. FISCHER, R.M. O desafio da colaboração: práticas de Responsabilidade Social entre empresas e terceiro setor. São Paulo: Gente, 2002. FRIEDMAN, M. The social responsilibity of business is to increase its profits. New York Times Magazine. The September 13,1970. GENDRON,C. Le questionnement éthique et social de l’ enteprise dans La litterature manágeriale. Cahiers du Crises, n.4, 2000. GIULIANI, A. C.; CASTRO D.S.P.; SPERS V.R.E. Práticas de responsabilidade social adotadas por empresas de varejo e serviços, de diferentes tamanhos, no Brasil. Revista de Educação do Cogeime/ Instituto Metodista de Serviços Educacionais. n.1, jan-1992. São Paulo, 2010. INSTITUTO ETHOS. Indicadores Ethos de responsabilidade social empresarial. Disponível em <http://www.ethos. org.br>. Recuperado em 06 de julho de 2013. ISO - International Organization For Standardization. (2012). ISO/TMB/WG SR N 29. Recuperado em 25 de novembro de 2012 de www.iso.org/sr. JONES, M. T. Missing the forest for the trees: A critique of the Social Responsibility concept and discourse. Business and Society. 35(1), pp. 7-41, 1996. KREITLON, M. A ética nas relações entre empresas e sociedade: fundamentos teóricos da Responsabilidade Social Empresarial. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 28, Curitiba, 2004. PEREIRA, W.A.; CAMPOS FILHO, L.A.N. Investigação sobre as Semelhanças entre os Modelos Conceituais de Responsabilidade Social Corporativa. Anais do 30º EnAnpad, Salvador: 2006. SCHWTZ, M.; CARROLL, A. Integrating and unifying competing and complementary frameworks: the search for a common core in the business and society field, Business & Society. 47(2), pp. 148–186, 2008. TURKER, D. Measuring Corporate Social Responsibility: a scale development study. Journal of Business Ethics, v. 85, p.411-427, 2009.

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AGRICULTURA E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO

Ralph Panzutti8

1. AGRICULTURA FAMILIAR

Aparentemente, a agricultura paulista é homogênea e bem desenvolvida, necessitando, apenas, de medidas oriundas de políticas públicas que estimulem os processos produtivos existentes, por exemplo, via crédito agrícola e preços favoráveis. Essas são, inclusive, reivindicações tradicionais de muitos porta-vozes do setor agropecuário, na academia e no empresariado.

No entanto, essa imagem encobre uma diversidade de problemas fundiários e agrários. Nesse sentido, os movimentos sociais e sindicais vêm apontando e pesquisas acadêmicas e técnicas confirmam que o setor agropecuário tem empregado cada vez menos mão de obra. A par disso, a expansão agropecuária no estado, que ocorreu e ocorre principalmente sob a égide da expansão canavieira, tem sido feita em um processo de expansão territorial, combinando a acumulação produtiva com acumulação fundiária.

Dessa forma, em São Paulo, permanece um mosaico de situações que reproduzem as contradições da expansão agropecuária, reproduzindo um velho agrarismo brasileiro. Ou seja: latifúndios improdutivos, terras públicas federais e estaduais griladas, posseiros não titulados, pequenos proprietários e trabalhadores expulsos do campo pelo processo de concentração de capital na agricultura.

Informações publicadas pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) mostram que o Valor da Produção Agropecuária, no Estado, em 2009, sofreu redução real de 3% em comparação a 2008. No Estado, a agropecuária se concentra em apenas sete (7) produtos que representam 75,6% do total do valor da produção, sendo o principal produto a cana-de-açúcar, com 42% desse valor. A cana e a carne de frango foram, inclusive, os únicos produtos que apresentaram crescimento positivo no período, de 28 e 12%, respectivamente.

O Estado de São Paulo é um território populoso. Segundo estimativas da Fundação SEADE, em 2009, a população no estado era de 41,6 milhões de habitantes, com uma taxa de urbanização de 93,7%. No entanto, considerando os municípios médios e pequenos, por exemplo, com população abaixo de 50 mil habitantes, estes representam 81% do número de municípios existentes, com 17% da população total, 15,6% da população urbana e cerca de 40% do total da população rural do estado. Obviamente, uma parte significativa da população rural do estado reside em municípios médios e pequenos.

Assim, o processo de industrialização ocorrido no país e em São Paulo, em particular, aprofundou e vem aprofundando uma maior divisão social do trabalho. A capacidade de a agricultura liberar, reter ou absorver mão-de-obra, nesse processo, interpõe uma crise como traço na integração dos trabalhadores no processo produtivo. Essa crise se materializa na incapacidade de os setores da economia, da indústria e da moderna agricultura, em absorver a força de trabalho liberada da atividade rural.

Dessa forma, o “re-ordenamento” da estrutura produtiva, especialmente, a partir do Plano Real, gerando uma contínua redução dos postos de trabalho, atingiu e vêm atingindo de forma distinta a cidade e o campo.

Por outro lado Ramos (2013, p. 96-97) demonstra de maneira inequívoca, pelos dados do Censo Agropecuário, do IBGE de 2006, que no Brasil a agricultura não familiar

8 Sociólogo e Economista, Doutor em Ciências Econômicas (UNICAMP), Professor da Universidade

Nove de Julho/ Uninove.. Ex- técnico do Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA/SP) e Assistente de Desenvolvimento Agrário INCRA/SP/FESPSP.

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detém 76% da área total, com uma população ocupada de 0,02/ha, enquanto que a propriedade familiar, que detém 25% da área total tem uma população ocupada de 0,15/ha.

Ramos (2013) alerta que apesar dos Estados de SP/RJ/GO não se destacarem no tocante da produção de alimentos como as lavouras de arroz, feijão, mandioca, milho, soja, café e trigo, comparado-se com outras regiões, mas se valendo de um trabalho de Veiga (2001, p.30), no qual a agricultura não familiar, numa área de 100 hectares de área cultivada com o ‘mix’ soja-milho-cana ocupam em média 7 (EHA), equivalente-homem-ano, enquanto numa mesma área, a agricultura familiar tem a capacidade de ocupar 36 (EHA), equivalente –homem-ano com um ‘mix’ de culturas mais diversificadas.

Na geração de renda, Ramos (2013, p. 97) nos mostra que a agricultura familiar fatura quase o dobro de reais, por hectare, apesar do patronal gerar quase cinco vezes mais reais por pessoa ocupada, pelo uso de mais capital, em que medindo em hectare tem-se R$ 677,48 para agricultura familiar e R$ 358,26 para o patronal.

Portanto, conclui Ramos (2013:97): “[...] a produtividade do trabalho (medida em valor), na agricultura patronal é maior, enquanto que a da terra (ou melhor o rendimento desta) na familiar é maior. Tais indicadores apontam que a primeira poupa trabalho( um “fator” abundante e barato, no Brasil, quando comparado internacionalmente) e a segunda poupa terra (vale dizer, seu fator escasso, é via de regra, área), elemento também abundante e igualmente barato na mesma comparação, mas caro internamente [...]”

O que demonstra a capacidade da agricultura familiar de contribuir muito mais na

questão do emprego e renda, do que a propriedade não familiar, amenizando a falta de capacidade da indústria e serviço de absorver a mão-de-obra, fator favorável à agricultura familiar.

Nas cidades médias, com uma economia local e urbana mais dinâmica, ocorre uma migração de parte desses trabalhadores para outros setores da economia (comércio, serviços, construção civil e setores informais).

Nas pequenas cidades9, as poucas alternativas de emprego, a sazonalidade das atividades agrícolas e a informalidade de muitas atividades transformam os trabalhadores rurais e os pequenos produtores familiares (os sem terra ou com pouca terra), em importantes atores sociais que passam a protagonizar, na questão agrária e na questão agrícola, a expressão de sua luta contra esse processo de desenvolvimento conservador e excludente.

A luta do movimento social, pressionando os governos, gerou uma nova dinâmica nas experiências de intervenção do Estado, especialmente, naquelas em que a questão agrária e sua relação com as transformações econômicas, sociais e políticas adquirem relevância quanto às suas dimensões e repercussões.

Com isso ganharam um novo sentido os projetos de assentamento. A sua concentração, em uma mesma região, adquire um impacto de transformação nas relações socioeconômicas dessa mesma região, configurando em uma “área reformada”, onde as políticas públicas de infraestrutura como estradas, água, esgoto, energia elétrica e, ainda, saúde, educação, transporte, esportes e lazer, também, adquirem especial importância, pois vem no sentido de completar uma inserção social que se iniciou com o acesso à terra. Vale destacar, que em muitos municípios a presença dos assentamentos representou um aumento demográfico de significativa monta.

2. A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR E AS COOPERATIVAS

(9) Em vários municípios, em especial os pequenos (p.ex. com população de até 20 mil habitantes), a

atividade econômica predominante é agrícola e, portanto, nesse contexto, pressupõe uma população que tem sua atividade econômica vinculada ao campo.

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As cooperativas agrícolas têm sido um dos principais meios pelos quais os

produtores rurais se beneficiam do mecanismo de compra e venda em comum. Neste aspecto, o desenvolvimento da agricultura brasileira, tem tido participação crescente do sistema cooperativista. Estudos recentes têm demonstrado que a participação em cooperativas acarreta para os produtores rurais ganhos econômicos no valor da produção.

Em São Paulo, o governo federal por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), se relaciona com cerca de 150 organizações, sejam elas cooperativas ou associações criadas em Projetos de Assentamentos. As transformações do setor agropecuário brasileiro exigiram, das cooperativas de produtores rurais, sejam eles oriundos de projetos de assentamentos ou não, infraestrutura adequada para atender às atividades de seus associados. O agricultor, na medida em que se moderniza, passa a comprar mais insumos rurais de setores altamente especializados, antes de sua produção (setor de fornecimento de insumos). E depois que plantou e colheu, vende, também, a outros setores especializados (Setor de distribuição e processamento). Os mesmos grupos, em grande parte, dominam esses setores das cadeias produtivas, isto é, o setor de industrialização dos insumos rurais e o setor, principalmente, agroindustrial de transformação e distribuição dos produtos agrícolas.

Pelos dados do Censo Agropecuário da Agricultura Familiar, no Brasil (2006), existem 5.175.636 estabelecimentos, destes 4.366.267 estabelecimentos, o que representa 84% são unidades familiares (10) e 809.369 são capitalistas, representando 16% do total de estabelecimentos. No entanto, o valor bruto anual da produção da agricultura familiar capitalista foi de 89 bilhões de reais ou 62%, utilizando 76% da área agriculturável, enquanto que a agricultura familiar que utiliza somente 24% da área agriculturável, teve um valor bruto anual de 54 bilhões de reias, o que representa 38%. Os dados acima demonstram que é possível outro modelo de desenvolvimento rural, como afirma Fernandes (2013, p. 201-202),

A hegemonia do agronegócio. [...] não aceita outro modelo de desenvolvimento que não seja o modelo agroexportador de “comodities” em grande escala. A Via Campesina tem elaborado a ideia de soberania alimentar, em que o controle sobre a produção de alimentos e sua distribuição seja retirado das corporações e retornado ao estado, por meio de políticas-base diferenciadas, como a agroecologia, produção regional diversificada em pequena escala para os mercados locais.

A renda gerada na agricultura familiar tem que ser apropriada pelos agricultores

familiares e, neste modelo agroexportador, esta riqueza é desviada para as corporações e esta situação, [...] produz um paradoxo, (...) a maior parte da riqueza produzida é desviada para as corporações que industrializam e comercializam os produtores camponeses”(FERNANDES, 2013, p. 202).

Além desse paradoxo, tem-se que, “A agricultura familiar é responsável por 70% do feijão, 87% mandioca, 38% café, 48 % milho, 34% arroz; e na pecuária 59% de suínos, 50% aves, 30% de carne bovina e 58% de leite” (FERNANDES, 2013, p. 202).

Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras, dentro do universo de 6,6 mil cooperativas, 74% dos 11 milhões de cooperativados possuem perfil familiar11. Em São Paulo há 150.900 estabelecimentos de agricultura familiar, do total de 227.622 estabelecimentos, representando 66% do total, ocupando uma área de 2.500.267 há, o que representa 15% do total de 16.954.949 ha, enquanto os não familiares são ao todo 76.722 estabelecimentos representando 34% numa área de 14.454.682 há, representando 86 %.

O número de estabelecimentos agropecuários associados à Cooperativa, no total do Estado de São Paulo (FIBGE, 2006), é na ordem de 66.373 produtores associados em

10

Definida pela Lei 11.326 de 24/7/2006.

11 Declaração de Marcio Lopes de Freitas, presidente da OCB, em 22 de agosto de 2013, Disponível

em portal. <mda.gov.br/portal/noticias/item?item_id=14040168> apud KIEL, Roberto, 2013:2013

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cooperativa, num total de 227.594 produtores, representado 29,7% de estabelecimentos agropecuários, associados às cooperativas.

Na área de assentamentos do estado de São Paulo, pelos dados da FIGE (2006), o número de estabelecimentos agropecuários associados à cooperativa, na condição do produtor como assentado, sem titulação definitiva é de 2.455 produtores associados em cooperativas, de um total de 7.166 produtores, representando 34% produtores ou de estabelecimento agropecuários, associados à cooperativas.

Entendemos que os dados acima, comprovam a importância da agricultura familiar em tornar-se uma alternativa de desenvolvimento e para conseguir autonomia, somente, se apropriando da sua renda, por meio da agroindústria cooperativada, pois para que o lucro que o intermediário aufere fique com o associado, na medida em que os empreendimentos cooperativos se beneficiam do poder de comercializar, a partir da capacidade desta de negociar com outras empresas, sejam elas firmas fornecedoras de insumos ou compradoras de produtos.

Em outras palavras, quanto maior as quantidades comercializadas, mais favoráveis serão os preços. E quanto maior o volume de insumos, menores serão os preços pagos, fugindo dos atravessadores. Além do que, a cooperativa pode se constituir como força viva e justificar a existência de uma forma específica de organização societária, na medida em que se torna espaço de reivindicação e representação de parcela importante da sociedade.

Por sua organização, o cooperativismo pode revitalizar-se como uma força social, com dinâmica própria. Esses dados nos levam a afirmar que há espaço para organização desse tipo de sociedade, criando mecanismo mais eficientes de aumento da renda do produtor associado e, implementando políticas para reorganizar as já existentes, no sentido de torná-las mais eficientes, para atingir os objetivos propostos relativos ao aumento da renda do associado agricultor familiar.

Daí a necessidade das cooperativas agrícolas adotarem, além de novas estratégias gerais, estratégias específicas que atendam às aspirações de seus associados, pois a questão que se coloca para as cooperativas ou associações vinculadas aos projetos de assentamentos, vai além das compras e vendas em comum 12, e passa, necessariamente, para um processo de agroindustrialização, garantindo, assim, mais autonomia para se apropriar da renda auferida ao agregar mais valor ao produto.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da agricultura paulista demonstra uma diversidade de problemas fundiários que reproduzem um modelo de desenvolvimento concentrador de terra e expulsão do homem do campo sem, contudo, que o processo de industrialização (urbanização) absorva esses contingentes. No entanto, o desenvolvimento da agricultura familiar, apesar de deter um percentual menor de terra, absorve mais mão-de-obra do que a agricultura não familiar. De outro lado, a sua importância é demonstrada de maneira inequívoca, sendo responsável pela produção de alimentos. Este processo de desenvolvimento à agricultura familiar tem sido possível nos projetos de assentamentos, por meio da reforma agrária, o que mostra que é possível outro modelo de desenvolvimento que não seja o agroexportador, visto que é concentrador de terra e expulsando o homem do campo.

O empreendimento cooperativo, no assentamento, tem a finalidade de ser um elemento aglutinador de aspirações, que vão além da comercialização, propriamente, dita. Uma das peculiaridades dessas cooperativas é que representam grupos sociais carentes e excluídos, não só de políticas públicas ligadas à comercialização, mas também de

(12

) Neste particular os assentados, se comparados com os produtores rurais em geral tem diante de si algumas questões não resolvidas que são educação para os filhos,saúde, transporte, mobilidade enfim, questões do âmbito da cidadania.

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habitação, saúde, infraestrutura etc. E, justamente, no cooperativismo se concretiza essa inclusão, transformando o meio rural em uma peça propulsora do desenvolvimento local, que irá exigir do poder público, por meio de investimento em infraestrutura como estradas, água, esgoto, energia elétrica, saúde educação, transporte, esporte e lazer, dando uma nova vida a esses municípios com a criação de um mercado interno que antes não existia, ou se existia era de forma incipiente.

Cooperativismo, no assentamento, contribui, assim, para gerar igualdades de oportunidades (por exemplo: entre gêneros), viabilizando condições necessárias para o desenvolvimento das famílias e sua inserção social. Por outro lado, o poder de comercialização de uma empresa, no caso da cooperativa, está relacionado com a sua capacidade de negociar com outras, sejam elas firmas fornecedoras de insumos ou compradoras de produtos.

Em outras palavras, quanto maior quantidade comercializada, mais favorável serão os preços. Assim, quanto maior o volume de insumos, menores serão os preços. Entendemos que os dados acima comprovam a importância da agricultura familiar em tornar-se uma alternativa de desenvolvimento. No entanto, para conseguir autonomia somente se apropriando da sua renda, por meio da agroindústria cooperativada. Isto acontece, pois o lucro que o intermediário aufere tem que ficar com o associado, na medida em que os empreendimentos cooperativos se beneficiam do poder de comercializar, a partir da sua capacidade de negociar com outras empresas, sejam elas firmas fornecedoras de insumos ou compradoras de produtos.

4. REFERÊNCIAS FERNANDES, Bernardo, Mançano. A reforma agrária que o governo Lula fez e que pode ser feita. IN: SADER, Emir (Org) 10 anos de governo pós-liberais no Brasil: Lula e Dilma – São Paulo: SP, Boitempo; Rio de Janeiro. FLACSO. Brasil, 2013. p.191-207. FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2006. KIEL, Roberto. Quando tudo o que o Papa quis foi o quer comer na terra de Cannaã .IN: MIELISTZ, Carlos (ORG). Desenvolvimento agrícola e Questão agrária – São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013. PANZUTTI, Ralph, PEREIRA, Leonam Bueno. O cooperativismo e o desenvolvimento dos projetos de assentamento em São Paulo, In : Anais Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia, Rural – SOBER, realizado entre os dias 24 a 27 de julho de 2011, em Belo Horizonte. RAMOS, Pedro. A evolução da agropecuária brasileira após a redemocratização (1985-2010): O predomínio do latifúndio exportador e a importância da agricultura familiar.IN: MIELISTZ, Carlos (ORG). Desenvolvimento agrícola e Questão agrária – São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013.

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INTERNACIONALIZAÇÃO E DESEMPENHO: UM ESTUDO SOBRE A INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL

Ana Graziele Lourenço Toledo Leonardo Augusto de Campos

RESUMO

Este trabalho investiga a indústria automotiva nacional, entre 2005 e 2012, com o objetivo de identificar as variáveis que conduzem o desempenho das operações brasileiras dos atuais players do mercado. Analisam-se as estratégias de entrada das empresas, no país, sua origem e influências do ambiente político-jurídico, na consolidação dos resultados.

Palavras-chave: Internacionalização; Indústria Automobilística; Competitividade.

1. INTRODUÇÃO

Dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo-FIESP (2013), mostram que a indústria vem diminuindo sua participação na formação do Produto Interno Bruto –PIB brasileiro. Segundo a instituição, em 8 anos, a participação da indústria caiu cerca de 30,8%, o que indica à necessidade de um plano de reindustrialização do país e viabilização de condições competitivas para a indústria nacional.

Porém, mesmo diante deste cenário, o aumento do poder aquisitivo e a disponibilização de crédito ao consumidor têm impulsionado a aquisição de bens duráveis, em especial, os veículos. Das 10 maiores vendedoras mundiais de veículos, todas possuem fábrica no Brasil e outras anunciaram a construção de plantas no país, evidenciando a perspectiva por desempenhos acima da média neste setor.

Inúmeras variáveis estão relacionadas ao desempenho das empresas. Considerando que das atuais players do mercado automobilístico, todas tem origem estrangeira, assim tais empresas tiveram que escolher um modo de entrada no mercado brasileiro e esta escolha se baseou em fatores como: ambiente institucional, concorrência, recursos e capacidades internas. Dentre estes, uma das variáveis que, no Brasil, é preponderante na tomada de decisão é a intervenção do governo nos mercados. No caso do mercado automobilístico é representada pelas políticas industrial e tributária, em especial, no que se refere ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Diante desse contexto, este trabalho investigou a influência de diferentes variáveis no desempenho da indústria automobilística nacional, buscando identificar o “peso” de cada variável neste desempenho. Empregaram-se dados públicos obtidos junto à Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores – ANFAVEA – e a Federação Nacional da Distribuição dos Veículos Automotores – FENABRAVE.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS A internacionalização é definida por Mariotto (2007) como o processo crescente de

envolvimento da empresa em operações internacionais, em pelo menos dois países, não se limitando somente a grandes empresas. Este processo se dá de diversas formas como: importação, licenciamento, joint venture, entre outros. Alias, vale destacar que esta é uma estratégia que caracteriza a empresa como uma corporação multinacional, ou seja, uma empresa que possui uma “rede de operações diversas, com configurações de competências

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e associação a uma estratégia de internacionalização que envolve investimento direto estrangeiro” (FLEURY; FLEURY, 2012, p. 38).

Birkinshaw e Morrison (1995) sugeriram que as subsidiarias das empresas multinacionais possuem diferentes papéis e estratégias na corporação, podendo ser implementadoras locais (desenvolvem estratégia para buscar economia de escala), contribuidora especializada (executam somente alguma parte da cadeia de valor da corporação) ou mandato global (são unidades com integração vertical). Complementando esta ideia, Oliveira Jr, Boehe e Borini (2009) afirmam que a relevância estratégica de uma subsidiária está relacionada à sua competência inovadora, além da capacidade de transferência desta inovação à matriz e outras subsidiárias provendo vantagem competitiva para toda a corporação.

Oliveira Jr, Boehe e Borini (2009) mostram resultados de pesquisas apontarem que quase metade das subsidiárias, instaladas no Brasil, tem papel de relevância estratégica. Os autores citam como exemplos as subsidiárias da Foseco e da Tim. Entre as montadoras de veículos são citadas Toyota, Honda, Citroen e Renault como subsidiárias tradicionais que desenvolvem relação de alta dependência com a matriz, além de ausência de criação de competências locais e intraempreendedorismo. Também, são apontadas a GM e a Volkswagen por causa dos projetos do Celta e Fox, respectivamente, pois estas são consideradas, no grupo de relevância estratégica, pelo desenvolvimento de competências organizacionais e as demais montadoras são consideradas de relevância limitada a plataforma global, ou seja, implementam inovações da matriz mas também são integradas aos negócios globais (OLIVEIRA JR, BOEHE; BORINI, 2009).

2.1.1 MODOS DE ENTRADA

Segundo Root (1994), os modos de entrada13 variam de acordo com o risco e o grau de controle sobre as operações e são classificados em exportação e produção no país hospedeiro, conforme ilustrado no quadro 1. Nesse sentido, Garrido, Larentis e Slongo (2006) relacionam à escolha do modo de entrada critérios que envolvem: a) o conhecimento e experiência da empresa no comércio exterior; b) os custos de transação, comprometimento de recursos, riscos tecnológicos, controle desejado, indústria e fatores firma.

Quadro 1 - Modos de entrada

Produção no país de origem

Exportação (produzir em um

país e vender para outro)

Exportação direta - agente; -distribuidor; -governo; -subsidiária.

Critérios de escolha - objetivos da empresa; - tamanho; - recursos; - produtos; - competição; - características ambientais; - número de mercados; - mercado; - feedback de mercado; - aprendizagem no mercado internacional; - controle; - custos de marketing; - lucratividade; - investimento; - pessoal para fazer a gestão; - problemas estrangeiros; - flexibilidade; - risco.

Exportação indireta - trading; - empresa de administração de exportação; - piggyback; - countertrade.

Produção no país hospedeiro

- licenciamento; - joint venture; - contrato de produção; - propriedade; - zona de processamento de exportação.

13

Vide texto de Root (1994) para mais detalhes e discussão dos benefícios dos diferentes modos de entrada.

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Fonte: adaptado de Root (1994).

Diante das variáveis envolvidas no processo de escolha do modo de entrada, pode-

se constatar que estes modos exibem diferentes níveis de complexidade que partem dos menores para os maiores níveis de recursos, controle, atividades de marketing e riscos (GARRIDO; LARENTIS; SLONGO, 2006). Portanto, o modo escolhido para entrada deve considerar as motivações para a internacionalização (FERREIRA; CESAR; REIS, 2011). Assim, sendo, Mariotto (2007) já havia relacionado estes como: busca de novos mercados, de economias de escala e escopo, de recursos, de conhecimento especializado, pela redução de risco (por causa dos ciclos de negócios e risco país, por exemplo), oferecimento de políticas governamentais de estímulo ao Foreign Direct Investment - FDI - e exportação ou realização de uma manobra competitiva no âmbito global.

2.2. INTERVENÇÃO DO GOVERNO NO MERCADO

A definição de uma estratégia competitiva deve considerar diversos elementos. Nesse Sentido, Porter (1980) classificou alguns destes elementos como dimensões estratégicas, nas quais por meio de trade offs14 seriam responsáveis pelas diferenças entre as empresas. Entre estas dimensões, o autor já mencionava o relacionamento com os governos dos países de origem e hospedeiro, decorrente de recursos, assistência, regulamentação ou outras intervenções.

Na economia, o papel do governo é tratado, principalmente, por intermédio de sua ação reguladora15, seja ela social ou econômica. O Estado é visto, por alguns autores, como provedor do bem estar social através do suprimento de falhas de mercado (PIGOU, 1938). No entanto, ele também é percebido como uma máquina de poder que privilegia interesses privados (Stigler, 1971). Tomando esta última visão, a regulação governamental é o um dos principais drivers que orientam a atividade política corporativa das firmas (LUX et al., 2011). Desse modo, as empresas enxergam o governo como provedor de benefícios públicos (para a indústria toda) ou privados (exclusivos para uma ou outra empresa) e para isso desenvolvem estratégias políticas com o objetivo de sustentar uma posição já conquistada (BAYSINGER, 1984; KEIM; BAYSINGER ,1988).

Em relação ao Brasil e considerando o mercado automotivo, observa-se a existência da lei no. 12715, de 17 de setembro de 2012, que em seu artigo 40 instituiu o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (INOVAR-AUTO), cujo objetivo é estimular o investimento na indústria automotiva brasileira, usando como principal mecanismo o desconto no IPI para empresas que atualmente possuam fábricas no país, tem planos de instalação, ou ainda para aquelas que comercializam veículos no Brasil, conforme regulamentado pelo Decreto 7819 de 3 de outubro de 2012 e pela Medida Provisória 638 de 17 de janeiro de 2014.

3. EVIDÊNCIA EMPÌRICA

Os dados usados para a análise são dados públicos, obtidos nos sites das empresas, FENABRAVE, ANFAVEA, IPEA DATA e Ministério da Fazenda, abrangendo o

14

Escolha entre opções estratégicas distintas e conflitantes.

15 A regulação se refere ao conjunto diverso de instrumentos por meio dos quais os governos

estabelecem exigências às empresas e cidadãos. As regulações incluem leis, pedidos formais e informais e normas subordinadas emitidas por todos os níveis de governo, e as normas emitidas por organismos não governamentais ou autorreguladores a quem os governos delegaram poderes normativos, segundo a OCDE (1997).

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período compreendido entre os anos de 2005 e 2012. Sendo que cada empresa, em cada ano, considerada uma observação na amostra e participaram, somente, da análise as observações que possuíam os dados completos. Foram usadas as seguintes variáveis proxy16 no estudo: risco Brasil (para mensuração de medida de risco; média entre os índices dos doze meses de cada ano), legislação IPI (para mensuração de políticas governamentais de estímulo ao FDI), origem da montadora (para mensuração de novos mercados), número de veículos licenciados (para mensuração de desempenho), modo de entrada (para mensuração de economias de escala, escopo e recursos) e tempo de atuação no Brasil (para mensuração de conhecimento do mercado), sendo vendas a variável dependente, ou seja, causada pelas outras variáveis. Ao todo foram usadas 369 observações analisadas pela técnica de dependência chamada regressão múltipla. Esta técnica permite usar dados de variáveis independentes (as causas) para prever valor de variáveis dependentes (os efeitos) (HAIR et al., 2009) no software estatístico Stata17.

De acordo com os parâmetros utilizados para a regressão múltipla18, as variáveis que explicam o desempenho no setor automotivo brasileiro são: modo de entrada, tempo de atuação no Brasil e origem de montadora. Considerando como medida de desempenho o número de veículos licenciados por montadora, fornecidos pela ANFAVEA e FENABRAVE, quanto maior o tempo de atuação no país, ou seja, quanto mais antiga for a montadora, maior o seu desempenho.

Em relação à origem da montadora, as de origem italiana tem desempenho superior às demais e as de origem japonesa, desempenho inferior em relação àquelas de outra nacionalidade. Porém, a variável que possui maior poder explicativo, ou seja, que mais contribui para o desempenho das montadoras, no Brasil, é o modo de entrada: montadoras cuja entrada é feita por greenfield, ou seja, construção de uma nova planta no país hospedeiro (no caso, Brasil) tem desempenho superior àquelas que somente mantém escritórios comerciais ou se utilizam de mecanismos de comércio exterior. Risco Brasil e legislação IPI não apresentaram valores significativos para explicação do desempenho das empresas estudadas, dentro do período proposto.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste estudo foi identificar as variáveis que conduzem ao desempenho de empresas automobilísticas que estabeleceram operações no Brasil. Através da análise de dados, verificou-se que o modo de entrada é o principal determinante do desempenho destas empresas, dos quais se destaca o FDI aplicado em investimentos do tipo greenfield em que a empresa providencia a construção da estrutura física para o desenvolvimento das operações.

Deve-se atentar, no entanto, que tais subsidiárias, no Brasil, não possuem papel de relevância estratégica (OLIVEIRA JR.; BOEHE; BORINI, 2008) nas corporações, guardando alta dependência de suas matrizes. Por outro lado, pesquisas apontam que mesmo nesta condição estratégica das subsidiárias, as corporações globais são pressionadas por meio do ambiente institucional presente em países de economia emergente como o Brasil a concederem maior autonomia a suas subsidiárias para que elas possam, efetivamente, competir no país (COSTA; BORINI; AMATUCCI, 2013)

Aliado à percepção da FIESP sobre a necessidade de reindustrialização do país para aumentar sua competitividade global, Costa, Borini e Amatucci (2013) afirmam que é

16

Variável aproximada

17 Para detalhamento da técnica vide o procedimento em Hair et al (2009).

18 Para obter detalhes técnicos sobre técnicas de estimação e particularidades do software, contate

os autores que se encontram à disposição em: [email protected]; [email protected]. Dados e resultados numéricos foram suprimidos do texto para otimização do espaço.

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fundamental para as subsidiárias brasileiras das corporações globais buscarem integrar-se à redes técnicas onde o ambiente favorece o desenvolvimento da inovação, o que contribuiria para a mudança no papel estratégico das filiais brasileiras.

Uma forma de inserção às redes técnicas é a participação em um cluster produtivo – também chamado no Brasil de Arranjo Produtivo Local (APL). Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior-MDIC, (2014)19, a APL é “um agrupamento geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares” (PORTER, 1999, p.211).

Segundo dados do Observatório Brasileiro de APL (2014)20, o país não conta com clusters produtivos na indústria automobilística, mas há iniciativas em andamento como parcerias com clusters automotivos franceses apoiadas pelo MDIC. Iniciativas como a da Ford e Fiat que constroem na Bahia e Minas Gerais condomínios industriais abrigando empresas autopeças (FORD; SOUZA, 2009), modelo que o governo do Rio de Janeiro tenta implementar na cidade de Resende em parceria com a MAN – divisão da Volkswagen para produção de caminhões – até o momento assemelham-se mais a redes competitivas do que redes técnicas uma vez que aglutinam fornecedores e não parceiros tecnológicos (Botelho, 2008).

Os efeitos da principal ação governamental para atração de FDI, o INOVAR AUTO, não puderam ser captados por este estudo uma vez que o programa foi lançado em 2012 e ainda não há dados suficientes para estabelecer uma série histórica para análise. No entanto, é reconhecida na literatura sobre negócios internacionais a importância do ambiente institucional para os projetos de expansão das corporações globais. Neste sentido, as medidas adotadas pelo governo federal devem surtir efeito na atração de investimentos para o Brasil atraindo players globais cujas operações atuais no país sejam realizadas via exportação. Sinais desta possível tendência podem ser observados com a instalação das fábricas da Audi, BMW, Chery, Foton, JAC, Land Rover, Mercedes-Benz e Sinotruk21 que aparentemente não se abalaram com a queda na venda de veículos no país em 2013.

5. REFERÊNCIAS

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19

http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=2&menu=300. Acesso em 10/02/2014.

20 http://portalapl.ibict.br/. Acesso em 10/02/2014.

21 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,montadoras-chinesas-planejam-fabricas-no-pais-

mesmo-apos-queda-nas-vendas,1121326,0.htm, Acesso em 0/02/2014.

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FLEURY, A.; FLEURY, M.T.L. Multinacionais brasileiras: competências para a internacionalização. Rio de Janeiro: FGV, 2012. FORD, E.T.L.C.; SOUZA, E.M. Condomínio industrial: o caso do complexo Ford nordeste. RAUP, v.1, n.2, pp.34-43, 2009. GARRIDO, I.L.; LARENTIS, F.; SLONGO, L.A. Estratégias de Entrada em Mercados Internacionais e Performance Exportadora. BASE – Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos, v.2, n.3, pp.63-73, 2006. HAIR et. al. Análise Multivariada de Dados. 6 ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. FLEURY, A.; FLEURY, M.T.L. Multinacionais brasileiras: competências para a internacionalização. Rio de Janeiro: FGV, 2012. KEIM, G.D.; BAYSINGER, B. The efficacy of business political activity: competitive considerations in a principal-agent context. Journal of Management, v.14, n. 2, pp.163-180, 1988. LUX, S, CROOK, T.R., WOEHR, D.J. Mixing business with politics; a meta analysis of the antecedents and outcomes of corporate political activity. Journal of management. v.37, n.1, 223-247, 2011. MARIOTTO, F.L. Estratégia Internacional da empresa. São Paulo: Thompson, 2007. OLIVEIRA JR., M.M.; BOEHE, D.M.; BORINI, F.M. Estratégia e Inovação em Corporações Multinacionais: a transformação das subsidiárias brasileiras. São Paulo: Saraiva, 2008. PORTER, Michael E. Competição: Estratégias competitivas essenciais.Rio de Janeiro: Campus, 1999. PIGOU, A.C.The economics of welfare. New Jersey: Transaction Publishers, 1938. STIGLER, G. J. The theory of economic regulation. Bell Journal of Economics and Management Science, v. 2, pp 3-21, 1971.

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O PROCESSO DE CRESCIMENTO ECONÔMICO DAS NAÇÕES E A NECESSIDADE DE UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Claudio Marques da Silva

1. DESENVOLVIMENTO

O questionamento a respeito do processo de crescimento econômico atual tem-se aprofundado com debate acerca da continuidade dos padrões de produção e consumo das nações industriais, focalizado nas implicações de insustentabilidade, problemas ambientais e desigualdade social. Esse debate é fundamental para perfilar um novo modelo de desenvolvimento econômico, que seja sustentável e alicerçado em novos padrões de produção, consumo e exploração dos recursos naturais.

O “desenvolvimento sustentado” é aquele que permitiria às gerações presentes satisfazerem suas necessidades, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas próprias. (BRUNDTLAND, 1987). Um desenvolvimento sustentável pressupõe o uso de recursos renováveis de forma eficiente, ou seja, uma gestão equilibrada desses recursos que não comprometa o meio ambiente para as futuras gerações.

A partir da problemática exposta acima, este estudo pretende abordar as condições que tornaram possível o crescimento e desenvolvimento econômicos recentes, à luz de alguns trabalhos sobre o tema, tendo em vista que o entendimento dessas condições e de suas consequências possa contribuir no debate do desenvolvimento sustentável.

Nesse sentido, como assinala Altvater (1992), “quem pretende se ocupar hoje da dinâmica de desenvolvimento econômico, para o futuro, precisa levar em conta as condições iniciais e de contexto para o crescimento e desenvolvimento produzidos no passado e que são atualmente dominantes”.

Sobre esse tópico, vale fazer uma diferenciação entre crescimento e desenvolvimento econômicos, visto que são considerados os eixos orientadores deste estudo. Dessa forma, por crescimento econômico é possível entendê-lo como sendo o aumento do potencial produtivo da economia (MOKYR, 1992). E desenvolvimento econômico é caracterizado como melhoria das condições de vida da população, em geral. Assim, é possível constatar que o crescimento se transforma em desenvolvimento quando se efetiva em melhoria das condições de vida dessa população (FURTADO, 2004, p. 484).

No âmbito geral, o crescimento econômico, fruto das revoluções tecnológica e industrial, tem levado ao desenvolvimento econômico e social das nações e trazido benefícios para toda a humanidade. E os benefícios desse crescimento econômico propiciaram a produção de novos e melhores bens que beneficiaram a qualidade de vida das populações.

Diante desse aspecto, segundo Landes (1998), o desenvolvimento tecnológico e o progresso da medicina impulsionaram a melhoria da expectativa de vida das populações. Logo, vários são os fatores que unidos, denotam esse progresso, a saber: na medicina, se destaca a prevenção de doenças, mudança de hábitos de higiene e novos remédios. No desenvolvimento tecnológico, é possível verificar a sinalização dos benefícios das mudanças produtivas da revolução industrial para a higiene e nutrição, dentre eles há os decorrentes da produção em

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massa de roupas laváveis, feitas de algodão e, por serem menos onerosas, acessíveis à população. Há, também, a produção de sabão, em larga escala, utilizado pelo homem comum para lavar suas roupas e até em seu próprio banho. Em outro foco, tem-se a elevação da oferta de alimentos; há, nesse sentido, maior rapidez e eficiência dos transportes. Por conseguinte, destacam-se as evidências desse progresso, no que afirma Landes “A higiene pessoal mudou, drasticamente, de modo que a gente comum, do final do século XIX e começo do século XX, em geral, viviam de forma mais asseada que os reis e rainhas de um século antes” (LANDES, 1998, p. xix).

Nesse âmbito, ao fazer um resgate, numa perspectiva histórica, é possível constatar que o desenvolvimento econômico é tema recente. E, somente a partir de determinadas circunstâncias se desenvolveram as condições necessárias para tal progresso. Ou seja, não haveria desenvolvimento econômico sem as circunstâncias que se fizeram presentes, não apenas nas esferas econômicas, mas também, nas esferas políticas e sociais.

Para North et al. (2006), a compreensão do desenvolvimento humano moderno está conectado à transição de ordens sociais desenvolvidas pela humanidade e que tiveram inicio há 10.000 anos. Uma ordem social é estruturada, pela constituição de sistemas como: político, econômico, cultural, religioso, militar e educacional. Os autores, ainda, afirmam que a chave para compreender o desenvolvimento econômico-político poderia estar nas maneiras que as ordens sociais estruturam suas instituições e organizações políticas e econômicas, pois são elas que alicerçam os relacionamentos humanos. As instituições moldam todo o comportamento humano, por meio de suas crenças, regras, normas, leis, sendo que podem ser formais ou informais. Enquanto que as organizações são entidades que coordenam as ações de seus membros, fazem escolhas e realizam as interações sociais, como, por exemplo, o comércio.

Explicam, ainda, que foram as ordens do acesso aberto, surgidas durante os últimos 300 anos, são as que sustentam a atual ordem social. Elas são caracterizadas pela liberdade em se constituir organizações contratuais e instituições que asseguram o direito de propriedade privada, competição, leis e democracia. Desse modo, tendo o Estado como único possuidor do monopólio da violência legítima, verifica-se que estas são as condições político-sociais fundamentais, que propiciam a criação de novos produtos, inovações e produção em escala. Portanto, o ocidente ao estabelecer ordens de acesso aberto gerou mudanças institucionais, organizacionais e tecnológicas que permitiram o desenvolvimento econômico dos mercados, tornando possível um crescimento econômico dinâmico e autoalimentado.

Nesse contexto, conforme North et al. (2006), nenhum fator explica o desenvolvimento econômico completamente – nem o acúmulo de capital, doações de recursos, comércio internacional ou posição geográfica, capital humano, entre outros. As sociedades, ao se tornarem modernas e desenvolvidas, conseguiram evoluir de uma ordem de acesso limitado (que manipulava o sistema político e econômico para limitar o acesso às organizações e à renda e restringia os direitos de propriedade às elites, ou seja, grupos que compartilham o poder político, econômico e ou religioso, na aliança dominante, impedindo que os preços de mercado servissem como medida de competência, na alocação de recursos ao manter a atividade econômica sob a égide do poder político, por meio de privilégios e de corrupção) para a de acesso aberto. Portanto, entender como as sociedades

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controlam e sustentam o acesso aberto às formas de organização é a questão central para se compreender o desenvolvimento moderno.

E, são nas sociedades de acesso aberto gestadas, inicialmente, no ocidente, que apresentam as condições para o crescimento e desenvolvimento econômicos moderno, pois ao apoiar o acesso aberto às organizações e, consequentemente, à renda, promovem, assim, a competição econômica e política e criam um conjunto rico de organizações econômicas e políticas sofisticadas.

Nesse sentido, o desenvolvimento econômico recente pode ser considerado um fenômeno ocidental e as bases sociais, políticas e culturais para esse desenvolvimento de fundo tecnológico, já eram observadas na Europa pré-capitalista, por exemplo, ao estabelecer certa ordem política e social de redução da violência, pois sedimentava uma tradição religiosa vigente, permitindo seu o acesso aos mercados.

Para Mokyr (1990), apesar de nem todo crescimento econômico estar atrelado necessariamente à tecnologia, o crescimento econômico recente com o capitalismo só foi possível pelo progresso tecnológico. Por conseguinte, a mudança tecnológica é fator primordial para aumentar o potencial produtivo da economia.

Conforme North et al. (2006, p. 72):

As democracias modernas do ocidente não poderiam existir sem serem incorporadas nas economias de mercado competitivo, caracterizadas pela competição como descrita por Schumpeter: destruição criativa resultante da concorrência entre entidades econômicas amplas, bem organizadas e tecnologicamente inovadoras.

Constata-se, assim, que o desenvolvimento econômico recente é

caracterizado por um processo produtivo dinâmico possível, pelas invenções e inovações decorrentes da capacidade criativa do ser humano. E para que as invenções e inovações não ficassem circunscritas a seus criadores, mas fossem efetivamente utilizadas, a ordem social teria que estar aberta para aceitá-las e incentivá-las.

Nesse âmbito, Mokyr (1990, p. 11-12) afirma que para que uma sociedade seja criativa, deve-se apresentar três condições: haver um quadro de inventores dispostos a novos desafios; existir incentivos das instituições econômicas e sociais, com a finalidade de estimular o potencial criativo, envolto em um ambiente que assegure diversidade e tolerância.

Sachs (1986) sustenta que, como primeiro passo, as nações devem perseguir um desenvolvimento alicerçado em uma responsabilidade internacional com o princípio da ética do desenvolvimento, exigindo autocontrole no uso de recursos, potencialmente, escassos e no manejo de ecossistemas delicados, para o benefício da sociedade, através de uma gestão cuidadosa e ambientalmente sã.

Não obstante, em face de tantos benefícios, principalmente materiais, já assinalados, a implementação de um desenvolvimento que seja sustentado, torna-se um desafio, visto que, para crescente parcela da sociedade, ele pressupõe a necessidade de limitação do crescimento econômico global. A defesa dessa limitação encontra-se na sustentação de que o meio ambiente não teria capacidade de suprir os recursos necessários para a continuidade indefinida do crescimento. E, o fator limitador do crescimento contínuo, nos padrões estabelecidos pela atual sociedade industrial, seria o próprio ecossistema.

Sendo assim, segundo Altevater (1992, p. 35):

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se a área da floresta continua a ser reduzida, a morte da espécie será inevitável. As consequências, disso, para a reprodução de ecossistemas inteiros e, portanto, para a sua produtividade ecológica só poderiam ser avaliadas em condições de incerteza. Os efeitos podem assumir traços catastróficos, colocando em questão o suprimento alimentar dos homens – sem falar em outras consequências.

Ou, conforme Daly (1996, p.28): “A ideia geral de desenvolvimento sustentável é que ao subsistema econômico seja proibido o crescimento além da escala, na qual ele (crescimento) possa ser permanentemente sustentado, ou apoiado para o ecossistema existente”.

Nesse sentido, Peter Victor (2010), em artigo recente na revista Nature, argumenta que se tornou crucial para as economias, atualmente, procurar um desenvolvimento que respeite os limites biofísicos da Terra, que os países ricos reduzam seu crescimento e que nossos principais objetivos sejam a resiliência do ecossistema e o bem-estar social.

Portanto, o processo do desenvolvimento econômico recente e suas implicações econômicas, políticas, sociais e ambientais assinalam a importância do debate acerca da necessidade de um novo padrão de desenvolvimento econômico para as nações, que seja sustentável, ou seja, alicerçado em novos padrões de produção, consumo e exploração dos recursos naturais que não agridam o meio ambiente.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os aspectos abordados neste estudo ressaltam que o processo de

crescimento econômico atual têm se mostrado insustentável, ao dar continuidade aos padrões de produção e o consumo das nações industriais, gerando problemas ambientais e desigualdade social. E o debate acerca da origem e dos mecanismos de sustentação, desse processo, é fundamental para perfilar um modelo de desenvolvimento econômico que seja sustentável e alicerçado em novos padrões de produção, consumo e exploração dos recursos naturais que não agrida o meio ambiente e possibilite a redução da desigualdade social.

Assinala-se, ainda, que o desenvolvimento econômico recente foi decorrente de uma série de fatores, envolvendo tanto as esferas econômicas quanto políticas e sociais, sendo que nenhuma delas pode explicá-lo, separadamente. Outro foco foi o resgate de aspectos fundamentais, que levaram ao crescimento econômico dinâmico das nações e afirma sua origem no ocidente, por diversas razões, destacando fatores explicativos não puramente econômicos como o avanço tecnológico, mas também fatores geográficos, políticos e culturais. Ainda pode ser observado a contribuição do crescimento econômico para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, de maneira geral, em todo o mundo, além de afirmar que tal desenvolvimento se trata de um fenômeno desigual entre as nações. .

Entretanto, tal desenvolvimento, apesar de seus benefícios, tem imposto efeitos devastadores como a degradação do meio ambiente, utilização dos recursos naturais de forma insustentável e geração de desigualdades sociais. E a evolução contínua do crescimento econômico, na era industrial, atingiu tamanho potencial de

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exploração dos recursos naturais, que coloca em risco o meio ambiente, além da ameaça de haver várias catástrofes (SACHS, 1986).

Ademais, aponta-se que entender como as sociedades controlam e sustentam o acesso aberto às formas de organização é a questão central para se compreender o desenvolvimento moderno e contribui com as atuais discussões sobre a necessidade de se impor limites a esse crescimento econômico, vis à vis seus efeitos devastadores.

Portanto, torna-se cada vez mais necessário a conscientização acerca dos impactos do atual padrão de desenvolvimento econômico global e da limitação do crescimento econômico, na busca de um novo modelo de desenvolvimento a ser perseguido pelas nações e que foi denominado de “desenvolvimento sustentado”, ou seja, um desenvolvimento que pressupõe uso de recursos renováveis de forma eficiente, com uma gestão equilibrada, que promova maior equidade social e não comprometa o meio ambiente para as futuras gerações.

3. REFERÊNCIAS

ALTVATER, E. (1992). O Preço da Riqueza. São Paulo: Unesp. BRUNDTLAND, G. H. (1987). Our common future. Report of the World Comission of Environment and Development. United Nations General Assembly: New York. DALY, H. E. Beyond growth. The economics of sustainable development. Boston: Beacon Press, 1996. FURTADO, C. Os desafios da nova geração. Revista de Economia Política. Vol.24, no. 4, (96), out-dez de 2004. Disponível em: http://www.rep.org.br/pdf/96-1. Acesso em: 01 jul.2011. LANDES, D. (1998). A riqueza e a pobreza das nações: por que algumas nações são tão ricas e outras são tão pobres. Rio de Janeiro: Campus. MOKYR, J. (1992). The lever of riches – technological creativity and economic progress. New York: Oxford University Press. NORTH, D. C.; WALLIS, J. J.; WEINGAST, B. R. (2006). A conceptual framework for interpreting recorded human history. NBER Working Paper series no. 12795. Cambridge: MA 02138. Disponível em: <http://www.nber.org/papers/w12795> Acesso em: 10 abr. 2011. SACHS, I. (1986). Ecodesenvolvimento, Crescer sem Destruir. São Paulo: Vértice. VICTOR, P. (2010). Questioning economic growth. Nature, 468: 370 – 371. Webgrafia.

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EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NA UNIVERSIDADE: FATOR DE ESTÍMULO PARA A CRIAÇÃO DE PARQUES TECNOLÓGICOS

Claudiane Reis da Paixão

Marcos Antonio Furlin

RESUMO Por meio de uma pesquisa bibliográfica, este artigo científico proporciona condições de análise dos fatores que colaboraram para a formação do perfil empreendedor brasileiro. Dentre eles, destacam-se os fatos que se seguiram aos períodos de grave instabilidade econômica e posterior abertura do país ao comércio mundial, o que exigiu uma mudança no modelo de crescimento. A busca pela independência econômica passa, necessariamente, pelo desenvolvimento de profissionais capacitados para gerarem produtos e/ou serviços de alto valor agregado, por meio da criação de empresas de base tecnológica intensivas no uso do conhecimento. Isto estimula o estudo e ensino do empreendedorismo pelas Instituições de Ensino Superior, o que acarreta um aumento gradual da produção científica, pois na era do conhecimento, o diferencial competitivo de um país é a sua capacidade de transferir tecnologia para o setor produtivo. Pesquisadores empreendedores surgem, mas, ainda, em número inferior ao potencial existente. A busca pela melhoria do ensino superior pode ser estimulada pela possibilidade da viabilização das inovações pesquisadas. A aproximação do setor acadêmico com o setor produtivo estimula a criação de parques tecnológicos para valorizar a ciência aplicada a ser desenvolvida no país. Experiências internacionais comprovaram a eficácia destas ações e o Brasil deve caminhar para que isto também ocorra.

Palavras-chave: Empreendedorismo; Qualificação; Parque Tecnológico.

1. INTRODUÇÃO

A instabilidade na economia nacional foi o resultado de crises econômicas sucessivas que ocorreram no país, após o denominado “Milagre Econômico” brasileiro (1968 – 1973). Esta instabilidade gerou como consequência um excesso de mão de obra no mercado de trabalho. Além disso, esta situação estimulou o interesse pelo empreendedorismo no país, visto que a população, economicamente, ativa buscava meios de sobrevivência, por meio da iniciativa de gerar novos negócios.

Alias, para muitos, não restavam outras alternativas, por se tratarem de trabalhadores oriundos dos setores industriais, que sofreram as consequências da exposição do setor à concorrência internacional, reflexos da estagnação tecnológica do parque produtivo instalado.

Desse modo, tornou-se indispensável modernizar o parque industrial. E a nova tecnologia, obtida por meio de algum tipo de transferência, exige um profissional melhor qualificado para que possa operá-la. Esta busca pela modernização somente agravava a condição dos trabalhadores que constituíram o excesso de mão de obra.

Outro ponto de destaque, neste contexto, é o processo de globalização, alimentado pelo desenvolvimento da tecnologia da informação, a qual tem a capacidade de romper barreiras físicas, econômicas e culturais, promovendo, assim, uma mudança no cenário internacional, devido à capacidade dos países desenvolvidos em exportar produtos e/ou serviços com alto valor agregado para mercados que apresentem maior potencial de crescimento. Verifica-se, então, que este cenário aumenta o domínio dos países detentores de tecnologia, em relação aos países em desenvolvimento.

A tecnologia comprada dos países desenvolvedores colabora para elevar o custo de produção local, o que torna os produtos menos competitivos para o mercado externo e acentua a relação de dependência destes (SANTOS; CUNHA, 2004, p.51). Embora o investimento em inovação tecnológica seja caracterizado como capital intensivo, os investidores analisam a solidez da economia do país em que promoverão estes

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investimentos. Assim, somente após a estabilização da economia brasileira, o empreendedorismo por oportunidade viria a encontrar melhores condições de desenvolvimento, aliado aos ajustes que as empresas realizaram para se adequarem a competitividade exigida, estimulado pelo aumento da terceirização (muitas vezes decorrente da aplicação de downsizing, a introdução de robôs em linha de produção automobilística, entre outras).

A partir deste momento, intensifica-se o empenho no ensino do empreendedorismo, por meio de diversas ações desencadeadas pelas Instituições de Ensino Superior. Destacam-se dentre essas ações as aulas do professor Ronald Jean Degen na disciplina diretrizes administrativas, quando convidado a lecionar na Escola de Administração de Negócios de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (LOPES, 2009), os trabalhos acadêmicos como a tese de doutorado “Interação Universidade-Empresa e a Gestão de uma Universidade Empreendedora: A Evolução da PUC-Rio” (GUARANYS, 2006 apud LOPES, 2009), e cursos e programas desenvolvidos em universidades brasileiras como o Programa Engenheiro Empreendedor, implantado em Santa Catarina, com o objetivo de capacitar os alunos de engenharia a empreender (DORNELAS, 2005).

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O CONTEXTO BRASILEIRO E O PERFIL EMPREENDEDOR

A herança do “Milagre Econômico” brasileiro (1968 – 1973), ocorrido durante a Ditadura Militar, foi de um país com alto endividamento interno e externo, além de problemas sociais agravados. Isto ocorreu, porque o modelo de crescimento adotado esgotou-se, a partir de 1973, devido às mudanças no cenário internacional tais como: a crise do petróleo, quando os países produtores determinaram um aumento significativo do preço deste produto e a escassez de financiamento externo.

Portanto, a matriz energética brasileira (usinas termoelétricas) e os transportes de mercadorias efetuadas, em sua grande maioria pela malha rodoviária, pressionaram os preços exigindo ajustes. As fontes externas de financiamento, antes baratas, elevaram-se, gradativamente, gerando o aumento do endividamento externo brasileiro.

No período de 1981 à 1989, a média do crescimento econômico, medido pelo índice do Produto Interno Bruto (PIB), foi muito aquém para atender as necessidades do país. Diante de uma situação econômica desfavorável, surgiram diversos planos econômicos nos anos 1980 e início dos anos 1990. Todavia, estes planos não tiveram sucesso até a implantação do Plano Real (1994), momento este em que a economia brasileira começa a

apresentar condições de estabilidade (SCHLINDWEIN; SHIKIDA, 2000). Apesar das dificuldades econômicas, o processo democrático se consolidou por meio

das eleições presidenciais pelo voto direto. Com a aceleração do processo de globalização, setores industriais foram expostos à concorrência internacional e necessitaram reinventar-se, aumentando a dependência tecnológica dos países desenvolvidos.

Sobre este aspecto, Santos e Cunha et al. (2004, p.51) afirmaram:

Ao analisarmos a situação das empresas brasileiras, fica nítida a importância do assunto para o desenvolvimento do país. Apenas entre 1980 e 2002, o Brasil acumula um déficit de US$ 3,8 bilhões, na transferência de tecnologia, ou seja, as empresas brasileiras compraram muito mais tecnologia do que venderam.

Assim, para modernizar a indústria nacional, é viabilizado o processo de privatização

de empresas estatais, o qual se iniciou no governo de José Sarney, sendo acelerado nos

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governos que o sucedeu. Isto resulta num excedente de mão de obra de funcionários públicos, devido ao aumento da produtividade das empresas privatizadas.

Schlindwein e Shikida (2000, p.10), comentam sobre o fator da tecnologia envolvida no processo de processo de privatização:

[...] a privatização não necessariamente é determinante no crescimento do desemprego, mas as novas técnicas de gestão e tecnologias, introduzidas pelas novas administrações, somadas à política recessiva adotada no início da década de 90, provocaram significativa queima de postos de trabalho.

Tais fatos corroboraram para o desenvolvimento do comportamento empreendedor

do brasileiro. Diante das dificuldades, o trabalhador brasileiro busca soluções para obter seu sustento. Percebe, empiricamente, o risco que enfrenta, desenvolve sua capacidade de liderança e habilidade humana para obter condições mais vantajosas em negociações, sejam com os funcionários, fornecedores ou clientes, porém, muitas vezes, sem buscar um ensino qualificado.

A característica empreendedora do brasileiro é comprovada na pesquisa Global En-trepreneurship Monitor (GEM, 2010), no Brasil, onde se destacam entre os fatores considerados favoráveis ao desenvolvimento do empreendedorismo, a condição de oportunidade empreendedora, proporcionada devido ao contexto econômico do país. A capacidade empreendedora compreendida pela motivação para empreender, a valorização da inovação, a participação da mulher, além de outros fatores, trazem um significativo aumento na percepção favorável pelos brasileiros para empreender. Apesar disso, não há um aumento tão expressivo no acesso à infraestrutura física, o que indica a necessidade de ações mais incisivas, nesta área, diante de problemas que são corriqueiramente citados. O que é o resultado do baixo ou nenhum investimento que deveria ser realizado pela iniciativa privada ou governamental.

Para que o espírito empreendedor possa ser desenvolvido, plenamente, o caminho é por meio da educação, do preparo qualificado do empreendedor. Ainda mais na era do conhecimento, a qual exige que profissionais tenham as competências e habilidades necessárias para prover o empreendimento das condições de competitividade compatíveis com o mercado de produtos e/ou serviços de alto valor agregado.

Contudo, a pesquisa GEM (2010), no Brasil, indica que a educação e capacitação dos empreendedores estão relacionadas como um dos fatores negativos, quanto ao desenvolvimento do empreendedorismo. Sendo que esta situação determina um desafio que o ensino brasileiro pode e deve promover mudanças mais rápidas, principalmente, no ensino superior.

Diante dos desafios que se originaram destas mudanças, a educação empreendedora se apresenta como um processo dinâmico que deve permitir a transformação dos conhecimentos e experiência em resultados desejados. Para isto, é necessário fazer com que estudantes e professores se sintam envolvidos, de maneira a encontrarem um caminho para enfrentar estes riscos que estão presentes em qualquer empreendimento.

Portanto, a educação empreendedora, nas universidades, pode garantir que o futuro seja tão promissor quanto o potencial identificado. Porém, com uma melhor condição de capacitação dos candidatos a empreendedores.

Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases Nacionais em 1996, o tripé ensino –pesquisa – extensão torna-se o norteador do ensino superior, pois é considerado um ensino de qualidade aquele que proporciona o conhecimento convertido em capacidade de atuação, entretanto não a ponto de transformar o aluno em autômato. Mas, sim, dotado de raciocínio abstrato e que possa se tornar um agente de transformação em busca de soluções inovadoras.

Todavia, se o estimulo às pesquisas podem gerar inovações tecnológicas, o país não aproveita plenamente todo este investimento realizado devido, muitas vezes, as falhas nas políticas de apoio aos pesquisadores. Isto colabora para a não constituição de novos

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empreendimentos e, consequentemente, para a falta de empregos. Além disso, em uma visão mais abrangente, pode-se dizer que influencia na captação dos impostos para os cofres públicos, exportações e o mais importante, a ascensão de mais um degrau na direção da independência tecnológica.

Para alterar esta realidade, o caminho é por meio da educação, do preparo qualificado do pesquisador empreendedor. Assim, este poderia agregar à sua experiência acadêmica as competências essenciais para prover um empreendimento às condições de competitividade indispensáveis para fornecer ao mercado produtos e/ou serviços de alto valor agregado.

Muitas vezes estes profissionais dispõem de jornada parcial para dedicar-se ao novo empreendimento, mantendo seus cargos nas Instituições de Ensino onde lecionam. Esta situação é um fator potencial em nutrir as dificuldades que qualquer novo negócio apresenta. Certamente, deve-se avaliar uma mudança de postura das IES, para que promovam uma maior aproximação com a indústria, para que a transferência de tecnologia seja mais efetiva. Destaca-se que o contrário, também, a indústria deve se aproximar das IES.

Segundo Steiner, Cassim e Robazzi (2006), parques tecnológicos são ambientes que estimulam a inovação. Os parques tecnológicos de 3ª geração são criados como resultado de uma política regional ou nacional, a qual estabelece a necessidade destes ambientes de inovação participarem do processo de desenvolvimento econômico e tecnológico do país.

Os parques tecnológicos permitem desenvolver três elementos essenciais para o empreendedorismo inovador (o qual combina empreendedorismo com inovação): a competitividade através do apoio ao novo empreendimento e aos novos empreendedores; criatividade, pois se refere a um ambiente que estimula a geração de ideias que podem agregar valor ao desenvolvimento de produtos/serviços e, um aspecto muito relevante, no transcorrer destes processos são os erros que podem ocorrer, os quais podem ser analisados e revertidos em ações mais precisas para chegar-se ao resultado desejado; e, evidentemente, o conhecimento.

Assim, o Brasil estará devidamente preparado para inserir-se, com maior efetividade, num mundo onde três grandes fatores estabelecem as mudanças vivenciadas: a tecnologia, a globalização e a sustentabilidade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devido a uma capacitação crescente promovida pelas IES - Instituições de Ensino Superior, o percentual de mortalidade de novos empreendimentos apresenta uma diminuição e isto é um fator de estímulo muito importante para que estes novos negócios sejam criados e gerenciados por profissionais melhores preparados.

Todavia, é imperioso que esta capacidade seja estimulada a gerar empresas de base tecnológica, com uso intensivo do conhecimento. Na era do conhecimento, empenhar-se pela independência tecnológica, perante os países mais desenvolvidos, é um dos objetivos a serem alcançados.

Este desafio requer um ensino para o empreendedorismo, desde o ensino básico, para que, no ensino superior, os discentes já se apresentem com os pré-requisitos que permitam o estudo mais avançado do tema. Tal condição exigirá do corpo docente um contínuo aperfeiçoamento. Considerando que empreender apresenta um fator comportamental decisivo, a atuação do professor, em sala de aula, é essencial para proporcionar o incentivo junto aos alunos, demonstrando tratar-se de uma opção profissional.

O estudo do empreendedorismo não deve ser restrito aos cursos de administração, de engenharia ou afins, mas que seja uma disciplina presentes nos cursos superiores, pois permite uma melhor qualificação, por exemplo, do estudante de odontologia, no gerenciamento de seu consultório, ao ampliar sua visão para a criação de uma empresa de serviços odontológicos.

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Devido ao potencial brasileiro, pode-se considerar a criação de cursos de pós-graduação em empreendedorismo voltados para segmentos específicos de mercado, tal como para o público feminino, quando suas características seriam estudadas e, assim gerar a possibilidade de novos empreendimentos, produtos, serviços específicos para as mulheres, em várias faixas etárias, com melhor qualidade que os atuais.

Portanto, desenvolver produtos e serviços que utilizam tecnologia avançada, localmente, contribui para o barateamento da sua produção e maior condição de competitividade no mercado, de maneira a democratizar o acesso da população a estes produtos. Assim, pode-se elevar o potencial de exportação destes produtos e serviços, contribuindo, favoravelmente, para a o resultado da balança comercial.

Quanto à criação de parques tecnológicos para a transferência de tecnologia entre a universidade e o setor produtivo, este processo pode ser intensificado com uma participação mais efetiva das instituições de ensino privadas, onde a elaboração de um modelo de negócios para estas instituições, com o objetivo de proporcionar-lhes melhores condições de financiamento de pesquisas com potencial de gerar patentes.

6. REFERÊNCIAS

AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – ABDI. PARQUES TECNOLÓGICOS NO BRASIL: estudo, análise e preposições. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Paginas/pesquisa_abdi.aspx?e=parques > Acesso em : 18 junho 2012. DEGEN, Ronald Jean. O empreendedor: empreender como opção de carreira. 1 ed. São Paulo, SP: Pearson Prentice Hall, 2009. DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: Transformando ideias em negócios. 2 ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2005. GRECO, Simara Maria de Souza Silveira et al. IBQP - Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade. EMPREENDEDORISMO NO BRASIL. Curitiba, 2010. HAMMOUD, Ricardo H. Nahra. Crescimento, desenvolvimento e desigualdade de renda. análise dos clássicos: Furtado, Cardoso e o “milagre” econômico. In: XI ENCONTRO REGIONAL DE ECONOMIA - ANPEC-SUL, 2008, Curitiba, Artigo aceito... . Disponível em : <http://www.economiaetecnologia.ufpr.br/XI_ANPEC-Sul/artigos_aceitos.html.> Acesso em: 23 maio 2013. LOPES, Rose Mary Almeida. Educação empreendedora: conceitos, modelos e práticas.1 ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, São Paulo, SP: Sebrae, 2010. MARTINS, Ligia Márcia. Ensino-Pesquisa-Extensão como fundamento metodológico da construção do conhecimento na Universidade. UNESP, 2011. SANTOS, Silvio Aparecido dos (org.). Empreendedorismo de base tecnológica: evolução e trajetória. 2 ed. Maringá, PR: UNICORPORE, 2005. SANTOS, Silvio Aparecido dos; CUNHA, Neila C. Viana da (org.). Criação de Empresas de Base Tecnológica: Conceitos, instrumentos e recursos. 1 ed. Maringá, PR: UNICORPORE, 2004. SCHLINDWEIN, Madalena Maria; SHIKIDA,Pery Francisco. Análise comparativa do desemprego no Brasil durante as décadas de 80 e 90: implicações e panoramas econômicos. Revista Economia, Uberlândia, v. 15, n.1, 2000. Disponível em : http://www.seer.ufu.br/index.php/revistaeconomiaensaios/article/view/1189.pdf.> Acesso em: 25 junho 2012. STEINER, João E.; CASSIM, Marisa Barbar; ROBAZZI; Antonio Carlos. Parques Tecnológicos: Ambientes de Inovação. IEA – Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, Coleção Documentos. Disponível em : <http://www.iea.usp.br/iea/textos/steinercassimrobazziparquestec.pdf > Acesso em: 18 junho 2012.

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