2010 - Caderno do Aluno - Ensino Médio - 3º Ano - Física - Vol. 1
Caderno do professor vol. 2 3º
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3a SÉRIE ENSINO MÉDIOVolume 2
GEOGRAFIACiências Humanas
CADERNO DO PROFESSOR
MATERIAL DE APOIO AOCURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO
CADERNO DO PROFESSOR
GEOGRAFIAENSINO MÉDIO
3a SÉRIEVOLUME 2
Nova edição
2014-2017
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
São Paulo
Governo do Estado de São Paulo
Governador
Geraldo Alckmin
Vice-Governador
Guilherme Afif Domingos
Secretário da Educação
Herman Voorwald
Secretária-Adjunta
Cleide Bauab Eid Bochixio
Chefe de Gabinete
Fernando Padula Novaes
Subsecretária de Articulação Regional
Rosania Morales Morroni
Coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP
Silvia Andrade da Cunha Galletta
Coordenadora de Gestão da Educação Básica
Maria Elizabete da Costa
Coordenadora de Gestão de Recursos Humanos
Cleide Bauab Eid Bochixio
Coordenadora de Informação, Monitoramento e Avaliação
Educacional
Ione Cristina Ribeiro de Assunção
Coordenadora de Infraestrutura e Serviços Escolares
Dione Whitehurst Di Pietro
Coordenadora de Orçamento e Finanças
Claudia Chiaroni Afuso
Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE
Barjas Negri
Senhoras e senhores docentes,
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colabo-
radores nesta nova edição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que
permitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula
de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com
os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abor-
dagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação
— Compromisso de São Paulo, é de fundamental importância para a Pasta, que despende, neste
programa, seus maiores esforços ao intensificar ações de avaliação e monitoramento da utilização
dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas ações
de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, firma seu dever com a busca
por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso
do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb.
Enfim, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo faz escola, apresenta orien-
tações didático-pedagógicas e traz como base o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São
Paulo, que pode ser utilizado como complemento à Matriz Curricular. Observem que as atividades
ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias,
dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade
da sua escola e de seus alunos. O Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas
aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam
a construção do saber e a apropriação dos conteúdos das disciplinas, além de permitir uma avalia-
ção constante, por parte dos docentes, das práticas metodológicas em sala de aula, objetivando a
diversificação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagógico.
Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu
trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar
e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua história.
Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo.
Bom trabalho!
Herman VoorwaldSecretário da Educação do Estado de São Paulo
Os materiais de apoio à implementação
do Currículo do Estado de São Paulo
são oferecidos a gestores, professores e alunos
da rede estadual de ensino desde 2008, quando
foram originalmente editados os Cadernos
do Professor. Desde então, novos materiais
foram publicados, entre os quais os Cadernos
do Aluno, elaborados pela primeira vez
em 2009.
Na nova edição 2014-2017, os Cadernos do
Professor e do Aluno foram reestruturados para
atender às sugestões e demandas dos professo-
res da rede estadual de ensino paulista, de modo
a ampliar as conexões entre as orientações ofe-
recidas aos docentes e o conjunto de atividades
propostas aos estudantes. Agora organizados
em dois volumes semestrais para cada série/
ano do Ensino Fundamental – Anos Finais e
série do Ensino Médio, esses materiais foram re-
vistos de modo a ampliar a autonomia docente
no planejamento do trabalho com os conteúdos
e habilidades propostos no Currículo Oficial
de São Paulo e contribuir ainda mais com as
ações em sala de aula, oferecendo novas orien-
tações para o desenvolvimento das Situações de
Aprendizagem.
Para tanto, as diversas equipes curricula-
res da Coordenadoria de Gestão da Educação
Básica (CGEB) da Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo reorganizaram os Cader-
nos do Professor, tendo em vista as seguintes
finalidades:
incorporar todas as atividades presentes
nos Cadernos do Aluno, considerando
também os textos e imagens, sempre que
possível na mesma ordem;
orientar possibilidades de extrapolação
dos conteúdos oferecidos nos Cadernos do
Aluno, inclusive com sugestão de novas ati-
vidades;
apresentar as respostas ou expectativas
de aprendizagem para cada atividade pre-
sente nos Cadernos do Aluno – gabarito
que, nas demais edições, esteve disponível
somente na internet.
Esse processo de compatibilização buscou
respeitar as características e especificidades de
cada disciplina, a fim de preservar a identidade
de cada área do saber e o movimento metodo-
lógico proposto. Assim, além de reproduzir as
atividades conforme aparecem nos Cadernos
do Aluno, algumas disciplinas optaram por des-
crever a atividade e apresentar orientações mais
detalhadas para sua aplicação, como também in-
cluir o ícone ou o nome da seção no Caderno do
Professor (uma estratégia editorial para facilitar
a identificação da orientação de cada atividade).
A incorporação das respostas também res-
peitou a natureza de cada disciplina. Por isso,
elas podem tanto ser apresentadas diretamente
após as atividades reproduzidas nos Cadernos
do Professor quanto ao final dos Cadernos, no
Gabarito. Quando incluídas junto das ativida-
des, elas aparecem destacadas.
A NOVA EDIÇÃO
Leitura e análise
Lição de casa
Pesquisa em grupo
Pesquisa de
campo
Aprendendo a
aprender
Roteiro de
experimentação
Pesquisa individual
Apreciação
Você aprendeu?
O que penso
sobre arte?
Ação expressiva
!?
Situated learning
Homework
Learn to learn
Além dessas alterações, os Cadernos do
Professor e do Aluno também foram anali-
sados pelas equipes curriculares da CGEB
com o objetivo de atualizar dados, exemplos,
situações e imagens em todas as disciplinas,
possibilitando que os conteúdos do Currículo
continuem a ser abordados de maneira próxi-
ma ao cotidiano dos alunos e às necessidades
de aprendizagem colocadas pelo mundo con-
temporâneo.
Para saber mais
Para começo de
conversa
Seções e ícones
SUMÁRIO
Orientação sobre os conteúdos do volume 7
Situações de Aprendizagem 12
Situação de Aprendizagem 1 – O continente africano 12
Situação de Aprendizagem 2 – África e Europa 26
Situação de Aprendizagem 3 – África: sociedade em transformação 40
Situação de Aprendizagem 4 – África e América 53
Situação de Aprendizagem 5 – Os fluxos materiais 60
Situação de Aprendizagem 6 – Fluxos de ideias e informação 75
Situação de Aprendizagem 7 – As cidades globais 85
Situação de Aprendizagem 8 – O terror e a guerra global 93
Situação de Aprendizagem 9 – A globalização do crime 99
Propostas de Situações de Recuperação 107
Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão dos temas 110
Considerações finais 113
Quadro de conteúdos do Ensino Médio 114
7
Geografia – 3a série – Volume 2
ORIENTAÇÃO SOBRE OS CONTEÚDOS DO VOLUME
independências, sem dúvida é suficiente para
nos colocar diante de um grande desafio como
professores de Geografia e educadores.
Cientes das particularidades do conti-
nente apontadas nas primeiras Situações
de Aprendizagem deste volume, sugerimos
percursos de aprendizagem cuja elaboração
pautou-se no esforço de estudar a África de
maneira integrada perante outros conjuntos
de países. Conforme cremos, tornar visível
sua diversidade na sala de aula em associação
com os demais continentes permite mostrar
aos alunos não apenas as relações históricas
que os interligam e que ainda ecoam, mas
também e principalmente os distanciamen-
tos e as aproximações econômicas e culturais
que permeiam esses conjuntos diferenciados.
Vamos trabalhar a África com base na regio-
nalização do continente em critérios físicos e
étnico-culturais de modo a demonstrar aos
alunos como o Saara separa o extremo norte
africano do resto do continente, funcionando
historicamente como uma barreira que, mes-
mo permeável, influenciou profundamente
a configuração das culturas e civilizações
na África.
Extrapolando o contexto do continente
africano, as Situações de Aprendizagem se-
guintes contemplam a geografia das redes
e dos fluxos mundiais. O entendimento des-
se conteúdo pelos alunos é fundamental, se
Prezado(a) professor(a),
Sabemos que a abordagem, em sala de
aula, dos temas relacionados ao continen-
te africano não é algo recente no ensino de
Geografia. Munidos da perspectiva de nossa
disciplina, há muito tempo buscamos oferecer
aos alunos relatos abrangentes sobre variados
conteúdos e temas: a formação das frontei-
ras de seus países e territórios; a herança dos
domínios coloniais europeus que grassaram
no continente e uma visão ordenada sobre as
causas de certas tragédias noticiadas nos jor-
nais, além de uma reflexão sobre a variedade
do meio físico e a diversidade socioeconômica
e cultural que ele abriga. Contudo, nos dias
atuais, existem motivos adicionais para conce-
dermos maior visibilidade para o estudo dos
problemas e impasses africanos.
Se todos aqueles temas despertam a curiosi-
dade e a imaginação dos alunos, refletirmos com
eles sobre a posição do continente africano no
mundo não é menos relevante. Com exceção dos
poucos polos de desenvolvimento estabelecidos
em virtude da exploração mineral (África do
Sul, Líbia, Nigéria e Argélia) e, em menor esca-
la, da industrialização (África do Sul e Egito),
constata-se que o continente africano desponta
como o menos desenvolvido do planeta e, sob
diversos aspectos, segue marginalizado no cená-
rio internacional. Analisar as causas da persis-
tência desse fato, após mais de meio século de
8
estivermos interessados em levá-los a com-
preender as bases essenciais do atual proces-
so de globalização. Esses conceitos-chave que
orientarão nossas propostas de trabalho per-
mitem estruturar um entendimento sobre o
espaço mundial como uma realidade dinâmi-
ca e diversificada, na qual se entrelaçam fluxos materiais (como o comércio internacional de
mercadorias ou de drogas ilícitas) e imateriais (como os financeiros e de bens culturais). É
importante não perder de vista que o desen-
volvimento de conteúdos e temas deste Ca-
derno busca colocá-lo diante de escolhas de
maior ou menor aprofundamento, de acordo
com o seu contexto educacional.
Mais do que pretender “congelar” cami-
nhos, guardamos a expectativa de colaborar
para o trabalho no dia a dia nas salas de aula,
contando com suas experiências e conhecimen-
tos acumulados na própria prática de ensino.
Bom trabalho!
Conhecimentos priorizados
Na Situação de Aprendizagem 1 – O con-
tinente africano, a partir da localização do
continente no globo terrestre, enfocam-se, de
maneira preliminar, alguns temas que serão
aprofundados nesta e nas demais Situações
de Aprendizagem. Propõe-se, inicialmente,
um roteiro de leitura, interpretação e compa-
ração dos mapas de clima, vegetação, relevo
e hidrografia do continente africano, como
estratégia didática para sintetizar as correla-
ções-chave sobre particularidades físicas que
o caracterizam. Na sequência, resgatando-se
a presença árabe na região, discutem-se dife-
rentes formas de regionalização do continen-
te africano, iniciando-se pela construção de
uma divisão regional pautada em estereóti-
pos para, em um segundo momento, anali-
sar o critério étnico-cultural. Nesse percurso,
são desenvolvidos conteúdos e conceitos es-
senciais sobre as diferenciações entre a Áfri-
ca do Norte e a Subsaariana.
Na Situação de Aprendizagem 2 – África e
Europa, caracterizam-se os processos de co-
lonização e descolonização do continente
africano, como também o atual concerto das
relações multilaterais entre nações africanas e
entre estas e o mundo. Na continuidade, enfo-
ca-se a questão migratória África-Europa e o
conjunto de condições estratégicas, socioeco-
nômicas e políticas responsáveis pela intensifi-
cação desse fluxo.
Na Situação de Aprendizagem 3 – África:
sociedade em transformação, a partir da aná-
lise do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) nos diferentes países africanos – e da
compreensão de seus indicadores, idealiza-
dos pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD) –, encaminha-se
a interpretação da situação socioeconômica
africana na atualidade. Considera-se, tam-
bém, a aprendizagem das condições de distri-
buição populacional e urbana no continente.
Os dados anteriormente estudados compõem
o cenário-base para a compreensão do atual
quadro da economia africana.
9
Geografia – 3a série – Volume 2
Na Situação de Aprendizagem 4 – Áfri-
ca e América, resgatam-se conteúdos básicos
sobre o tráfico de escravos e a inserção da
África nesse comércio transatlântico. Embora
para além do marco histórico indicado exis-
tam múltiplas possibilidades de abordagem
acerca das relações entre os dois continentes,
a partir dele optamos por estruturar um per-
curso de aprendizagem em torno da questão
do racismo e da luta por direitos de igualdade,
além de propor a exploração do hip-hop como
forma de expressão da cultura jovem.
Na Situação de Aprendizagem 5 – Os flu-
xos materiais, são resgatados e aprofundados
conteúdos e conceitos desenvolvidos na 1a série
do Ensino Médio, discutindo-se os principais
fluxos da globalização (materiais e imateriais),
cujo meio geográfico é o técnico-científico-in-formacional. Por meio do estudo do sistema
de transportes e do comércio internacional de
mercadorias são propostas análises de mapas e
textos para que os alunos extraiam informações
sobre a distribuição desses fluxos materiais, indi-
cando a atuação e distribuição dos mesmos.
No que tange à Situação de Aprendizagem
6 – Fluxos de ideias e informação, amplia-se
a abordagem dos fluxos do meio técnico-cien-
tífico-informacional. Por meio do comércio
mundial de bens culturais e da expansão das
redes sociais informacionais, modalidades
representativas dos fluxos imateriais, são pro-
postas estratégias didáticas com o intuito de
levar os alunos a identificar as assimetrias de
poder e suas implicações políticas e culturais,
com base no estudo de casos relativos à ex-
pansão do acesso remoto desencadeado pela
proliferação das lan houses e das redes televisi-
vas mundiais. Para além do conteúdo, objeti-
va-se proporcionar uma oportunidade para o
desenvolvimento de atitudes mais conscientes
por parte dos alunos quanto à obtenção de
informações para o acompanhamento e en-
tendimento das conjunturas nacionais e inter-
nacionais. Ademais, são abordados os fluxos
financeiros e é apresentada uma visualização
gráfica da noção de rede global por meio da
conectividade entre as bolsas de valores.
Na Situação de Aprendizagem 7 – As ci-
dades globais, são retomados conteúdos de-
senvolvidos na 2a série do Ensino Médio. A
hierarquia da rede de cidades globais é trata-
da por meio das noções de rede e fluxos en-
fatizadas neste Caderno, de forma a levar os
alunos a ler e interpretar um mapa temático
e analisar os critérios que sustentam a classi-
ficação apresentada.
No tocante à Situação de Aprendizagem 8 –
O terror e a guerra global, após sugerir a leitura
e a interpretação de imagens sobre a atuação
de redes terroristas, propõe-se um roteiro de
pesquisa, leitura e elaboração de sínteses dis-
sertativas para os alunos com base em textos
disponíveis no material didático adotado e na
internet. O objetivo desse percurso de aprendi-
zagem é o de orientar os alunos a exercitar a
compreensão leitora e a escrita, adquirindo au-
tonomia e autodidatismo na análise de temas
relevantes da conjuntura internacional.
10
Na Situação de Aprendizagem 9 – A globa-
lização do crime, a estratégia didática baseia-se
na elaboração de dossiês temáticos, apresenta-
ção de seminários e análise de mapas temáticos.
Associando tal estratégia a aulas expositivas
dialogadas, propõe-se levar os alunos a cons-
truir e aplicar conceitos sobre as redes de crime
organizado, de modo a identificar suas origens
e seus padrões de atuação, como também as
razões histórico-geográficas e socioeconômicas
que explicam a ampliação da atividade dessas
redes criminosas em escala global.
Competências e habilidades
Na 3a série do Ensino Médio espera-se
que os alunos consolidem a aprendizagem
das inúmeras habilidades apreendidas e
exercitadas no decorrer da educação bási-
ca e que também aprimorem a forma como
tais procedimentos irão compor, articu-
ladamente, a sua autonomia intelectual.
Devemos considerar a importância desse
aprimoramento, com o objetivo de conso-
lidar o desempenho cognitivo para o pleno
exercício das competências, não apenas em
função das possibilidades de continuida-
de dos estudos, mas acima de tudo no que
se refere à autonomia e ao preparo para
o mundo do trabalho. Dessa forma, pro-
pomos neste Caderno diversas formas de
articulação que levam em consideração as
habilidades a seguir.
Relacionar conceitos para aplicá-los na re-
solução de situações-problema.
Ler e interpretar mapas, tabelas e gráficos,
utilizando-os como elementos quantitativos
e qualitativos para a compreensão de fenô-
menos naturais e sociais.
Discriminar e estabelecer diferenciações
entre objetos, situações e fenômenos com
diferentes níveis de semelhança.
Interpretar o significado histórico-geográ-
fico apresentado em diferentes linguagens,
como fotografias, desenhos, mapas, textos,
descrições etc. de modo a apreender signi-
ficados e intencionalidades para utilizá-los
na solução de problemas.
Analisar, explicar e estabelecer relações
de situações de causa e efeito resultantes
de uma determinada sequência de acon-
tecimentos para proceder à sua análise e
posterior compreensão diante de novas
ocorrências histórico-geográficas.
Identificar uma descrição que correspon-
de a um conceito ou às características
típicas de objetos, da oralidade, de dife-
rentes tipos de texto etc.
Metodologia e estratégias
Apresentamos inúmeras estratégias di-
dáticas, desde aulas expositivas com a
participação dos alunos; propostas de sen-
sibilização para captar pré-requisitos com
mediação do professor; procedimentos para
organização de trabalhos escritos em grupo;
além dos procedimentos que envolvem estu-
dos dirigidos, grupos de investigação, elabo-
ração e exposição de trabalhos de pesquisa
em sala de aula.
11
Geografia – 3a série – Volume 2
Além disso, propomos também uma varie-
dade de recursos com o intuito de trazer amplas
possibilidades de desenvolvimento de compe-
tências por meio de várias linguagens: leitura
de mapas; videodocumentários; leitura, inter-
pretação e comparação de textos; leitura e esta-
belecimento de relações entre gráficos e mapas;
apresentação e análise de imagens; pesquisa na
internet; quadros conceituais; pesquisa em ma-
teriais didáticos; e trabalho conceitual a partir
da elaboração de dissertações.
Avaliação
Para avaliar o resultado das Situações de
Aprendizagem foram propostas duas estraté-
gias. A primeira delas refere-se à participação
individual dos alunos nas aulas e discussões.
Propomos observar a participação de cada
aluno, destacando um conceito que revele os
objetivos destacados para a Situação de Apren-
dizagem. A segunda refere-se às formas de
avaliação considerando os conteúdos atitudi-
nais e de procedimentos de pesquisa, possibi-
litando avaliar o envolvimento do aluno em
diferentes habilidades.
Nesse sentido, sugerimos a atribuição de
conceitos que considerem os seguintes parâ-
metros para os exercícios individuais:
Avaliação das Situações de
AprendizagemObjetivos atingidos
1. Muito bom Atingiu plenamente os objetivos propostos.
2. Bom Atingiu grande parte dos objetivos propostos.
3. Regular Atingiu os objetivos mínimos essenciais.
4. Insuficiente Não atingiu os objetivos mínimos essenciais.
Para a atribuição de conceitos nos exercícios
em grupo, de produção de textos e pesquisa, su-
gerimos dois critérios complementares:
1. Conteúdo atitudinal
Valorizar a pontualidade na entrega, organização e envolvimento dos alunos e grupos na elaboração dos materiais solicitados.
2. Conteúdo procedimental
de pesquisa
Considerar a presença de elementos metodológicos próprios de trabalhos de pesquisa, como capa, sumário, introdução, desenvolvimento do texto, conclusão e bibliografia.
12
SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM
Para iniciar a aproximação dos alunos com
o tema África, esta Situação de Aprendizagem
enfoca o continente africano a partir de algu-
mas particularidades físicas e populacionais.
Espera-se, dessa forma, criar condições para
o reconhecimento de aspectos relacionados
a diferentes formas de regionalização. Nesse
sentido, abordam-se características da hidro-
grafia e dos desertos, com o intuito de relacio-
nar a divisão natural representada pelo Saara
e pelo Nilo com aspectos históricos e culturais.
Em seguida, são apresentadas outras ca-
racterísticas do continente, que também per-
mitem relacionar as características físicas e
culturais e agrupar ou classificar os países do
continente africano em regiões distintas.
Desenvolvem-se, assim, vários conteúdos
e conceitos importantes para a construção
de uma visão de conjunto sobre o continente
africano.
Conteúdos: localização da África no globo terrestre (limites e fronteiras, posição em relação às linhas ima-ginárias); clima, vegetação e hidrografia do continente africano; características físicas e culturais gerais do continente africano; regionalização do continente africano em África do Norte e África Subsaariana.
Competências e habilidades: extrair informações sobre a distribuição espacial do continente africano; ler, interpretar e correlacionar evidências espaciais em mapas temáticos sobre clima, vegetação e hi-drografia do continente africano, de modo a inferir a relação entre clima e vegetação; ler, interpretar e comparar mapas, gráficos e textos com o objetivo de compreender os fatores responsáveis pela subdivi-são da África em dois grandes conjuntos de países (África do Norte e África Subsaariana).
Sugestão de estratégias: localização astronômica e geográfica de pontos de referência em mapa do con-tinente africano; aula expositiva dialogada; leitura, interpretação e comparação de mapas.
Sugestão de recursos: mapas e gráficos; atlas e demais materiais didáticos adotados; texto.
Sugestão de avaliação: participação nas discussões; resolução de atividades.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 O CONTINENTE AFRICANO
Etapa prévia – Sondagem inicial e sensibilização
Para iniciar esta Situação de Aprendiza-
gem, estimule a livre troca de ideias sobre o
que os alunos conhecem a respeito do conti-
nente africano: onde ele se localiza, quais são
suas regiões, influências culturais e possíveis
características (biomas, climas, principais ba-
cias hidrográficas, entre outros). Esta propos-
ta está disponível no Caderno do Aluno, na
seção Para começo de conversa.
13
Geografia – 3a série – Volume 2
Esse procedimento poderá auxiliá-lo a
diagnosticar não só o que os alunos já sabem
a respeito da África, mas também eventuais
estereótipos para, nas respectivas atividades,
discuti-los em sala de aula.
Etapa 1 – Localização do continente
Após o mapeamento das ideias dos alu-
nos a respeito da África, propomos a seguin-
te sequência de atividades, também presentes
no Caderno do Aluno na seção Para começo
de conversa.
1. Observe o mapa mudo da África (reprodu-
zido no Caderno do Aluno).
a) Com o auxílio de um atlas escolar, preen-
cha, no mapa mudo, o número que corres-
ponde à localização dos seguintes itens:
citados em um mapa da África do que em um planisfério. Para
indicar os itens solicitados no mapa mudo, eles podem observar
alguns pontos de referência, por exemplo, localização de países,
ilhas, orientação etc. É possível que não encontrem no mapa da
África alguns itens solicitados, como a Península do Sinai. Nesse
caso, oriente os alunos que busquem informações também em
mapas de outras regiões, como a do Oriente Médio.
Após o preenchimento do mapa, sugerimos
que outros aspectos sejam observados e discuti-
dos, como os propostos nas atividades a seguir.
b) Em qual(is) hemisfério(s) se encontra a
África?
A partir da localização visual do Meridiano de Greenwich, do
Equador e dos Trópicos de Câncer e Capricórnio, os alunos
perceberão que a África é o único continente a possuir terras
nos quatro hemisférios. Ela é cortada pelo Equador, apresen-
tando territórios nos Hemisférios Norte e Sul, assim como
pelo Meridiano de Greenwich, possuindo terras nos Hemis-
férios Ocidental e Oriental.
2. Com base no esquema da Figura 1, indi-
que no mapa mudo as zonas térmicas nas
quais se encontra a África.
Neste momento, os alunos já identificaram os principais para-
lelos no mapa. Assim, possuem as referências necessárias para
indicarem a Zona Temperada Norte ao Norte do Trópico de
Câncer, a Zona Tropical, entre o Trópico de Câncer e o Trópico
de Capricórnio, e a Zona Temperada Sul ao Sul do Trópico de
Capricórnio. A partir das linhas imaginárias e com o apoio de um
esquema das zonas térmicas da Terra (Figura 1), os alunos pode-
rão identificá-las. Com este trabalho, eles chegarão à conclusão
de que a maior parte do continente africano encontra-se na
Zona Tropical, pois está ao sul do Trópico de Câncer e ao norte
do Trópico de Capricórnio. O extremo norte situa-se na Zona
Temperada Norte, e o extremo sul, na Zona Temperada Sul.
1. Meridiano de Greenwich
2. Equador
3. Trópicos de Câncer e de Capricórnio
4. Mar Mediterrâneo ao norte
5. Estreito de Gibraltar a noroeste
6. Os enclaves espanhóis de Ceuta e Melila
7. Mar Vermelho a nordeste
8. Península do Sinai
9. Canal de Suez
10. Oceano Atlântico a oeste
11. Oceano Índico a leste
É essencial o uso do atlas escolar para a realização desta ativida-
de. Os alunos terão mais facilidade em encontrar os itens soli-
14
Zonas térmicas da Terra
T
T
P
P
T
Figura 1 – Zonas térmicas da Terra. Elaborado por Angela Corrêa especialmente para o São Paulo faz escola.
3. Observe a imagem de satélite das porções
norte e central da África (Figura 2). Res-
ponda às questões a seguir, com o auxílio
do mapa político da África, disponível no
final do Caderno do Aluno.
a) Que ponto(s) pode(m) ser considerado(s)
como fronteira entre: África e Ásia, e
África e Europa?
Figura 2 – Norte e centro da África: imagem de satélite.
A fronteira entre a África e a Ásia costuma ser fixada no Ist mo
de Suez, o que faz da Península do Sinai território asi ático,
que, no entanto, pertence a um país do continente africa-
no, o Egito. O Mar Vermelho é a fronteira marítima entre
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os dois continentes. Já o Mar Mediterrâneo é a principal
fronteira entre a África e a Europa, sendo que o estreito
de Gibraltar estabelece a menor proximidade entre esses
dois continentes.
b) Quais são os países que fazem fronteira
entre a África e a Ásia? A que país per-
tence a região de fronteira terrestre? Qual
a importância socioeconômica e geoestra-
tégica dessa área para o país em questão?
A Península do Sinai, pertencente ao Egito, faz fronteira ter-
restre com Israel. O Sinai, considerado território asiático, é
área de grande importância econômica (jazidas de petró-
leo) para o Egito, que, finalmente, obteve a sua devolução
em 1979, após a assinatura de um acordo de paz com Israel.
Importantes cidades egípcias localizam-se na região do
Sinai, como Ismaília, Suez e Port Said, e, para alguns geógra-
fos, a fronteira israelo-egípcia deveria ser considerada como
o limite entre a Ásia e a África. O Canal de Suez, construído
na segunda metade do século XIX e inaugurado em 1869, tor-
nou-se de grande importância geoestratégica ao permitir o
encurtamento do trajeto marítimo entre a Ásia e a Europa.
O Canal de Suez esteve sob domínio inglês até 1956, quando
foi nacionalizado pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser.
Etapa 2 – África: clima, vegetação, relevo e hidrografia
Leitura e análise de mapa
Inicie esta etapa solicitando aos alunos
a leitura, interpretação e comparação entre
os mapas das Figuras 3, 4 e 5.
Com o auxílio das Figuras 3 e 4, orien-
te os alunos a perceber a forte correlação
entre os tipos climáticos e a distribuição da
15
Geografia – 3a série – Volume 2
cobertura vegetal no continente africano.
Para auxiliar o trabalho, propomos algumas
questões, também presentes no Caderno do
Aluno, na seção Leitura e análise de mapa.
Professor, sugerimos que você chame a
atenção dos alunos sobre o não traçado
da fronteira do Sudão do Sul neste mapa e
em alguns mapas físicos, políticos e temá-
ticos contidos neste Caderno. Isso ocorre
em função de que estes foram elaborados e/
ou contém dados anteriores à proclamação
do Sudão do Sul enquanto estado indepen-
dente, em 9 de julho de 2011.
Figura 3 – África: zonas climáticas. Unep. Africa: atlas of our changing environment, 2008. p. 8. Disponível em: <http://www.unep.org/dewa/africa/AfricaAtlas/>. Acesso em: 27 nov. 2013. Mapa original (base cartográfica com generalização; algumas feições do território não estão representadas).
África: zonas climáticas
16
Figura 4 – África: biomas. Unep. Africa: atlas of our changing environment, 2008. p. 10. Disponível em: <http://www.unep.org/dewa/africa/AfricaAtlas/>. Acesso em: 27 nov. 2013. Mapa original (base cartográfica com generalização; algumas feições do território não estão representadas).
África: biomas
17
Geografia – 3a série – Volume 2
Figura 5 – África: físico com hidrografia. UNEP. Africa: atlas of our changing environment, 2008. p. 2. Disponível em: <http://www.unep.org/dewa/africa/AfricaAtlas/>. Acesso em: 27 nov. 2013. Base cartográfica com generalização; algumas feições do território não estão representadas. Adaptado.
África: físico com hidrografia
Trópico de Capricórnio
Trópico de Câncer
Equador
LagoTana
LagoTurkana
LagoKyoga
LagoVitória
LagoAlbert
LagoEdward
LagoKivu
LagoTanganica
LagoRukwaLago
Mweu
Lago Malauí(Niassa)
LagoBagweu
LagoCahora Basa
LagoKariba
Lago Mai-Ndombe
Lago Ntomba
Lago Chade
LagoVolta
LagoKossouLago
Buyo
Congo
Uele
Nilo
Bra
nco
Nilo
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Nilo
Níger
Benue
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Senegal
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S A A R A
Deserto do
Kalahari (Kgalagadi)
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kensb
erg
A t l a s
Zambeze
Delta deOkavango
Deserto da N
amíbia
FoutaDjalon
A h a g g a r
T i b e s t i
500 m
800 m
1 300 m
2 000 m
0 m
Altitude
0 625 1 250Quilômetros
N UN
EP/G
RID
18
1. Com base nos mapas África: zonas climáti-
cas (Figura 3) e África: biomas (Figura 4),
relacione a sequência de biomas africanos
às principais zonas climáticas apresentadas
na listagem a seguir.
mático é caracterizado por uma variação sazonal de chuvas no
verão e seca no inverno, o que está relacionado à existência das
savanas. Nos trópicos situados ao norte e ao sul do continen-
te, ocorrem áreas extremamente secas, com destaque para os
Desertos do Saara (ao norte) e do Kalahari (ao sul), onde, em
algumas áreas muito localizadas e pontuais, verifica-se a presen-
ça da vegetação de oásis, resultante do afloramento do lençol
freático. A vegetação do tipo estepe faz parte das formações de
regiões semiáridas, nas margens dos desertos, sendo compos-
ta de herbáceas ressecadas e arbustos muito esparsos. Explique
que essa extensa faixa semiárida na borda do Deserto do Saara
é conhecida como Sahel. O tipo climático mediterrâneo ocor-
re nas extremidades norte e sul do continente africano, onde
aparece vegetação do tipo maquis e garrigues, caracterizada
por pequenos arbustos que se misturam às formações xerófi-
tas, às oliveiras, às videiras e às gramíneas ressecadas. Professor,
você pode ampliar a discussão estabelecendo relações com a
economia dos países mediterrâneos; ao norte do continente
africano destaca-se a produção de óleo de oliva na Tunísia e na
Argélia e, ao sul, destaca-se a produção vinícola.
3. Cite exemplos de rios que atravessam áreas
de clima tropical e equatorial na África.
Rio Nilo: nasce no Lago Vitória (localizado entre Uganda,
Tanzânia e Quênia), desloca-se para o norte e atravessa áreas
tropicais e desérticas até sua foz, no Mar Mediterrâneo, nas
proximidades de Alexandria, no extremo norte do Egito.
Rio Zambeze: nasce em Zâmbia e faz fronteira entre Bot-
suana, Namíbia, Zâmbia e Zimbábue, desaguando no litoral
de Moçambique, no Oceano Índico.
Rio Congo: o segundo maior em volume d’água no mun-
do, atravessa a floresta equatorial africana e deságua no Ocea-
no Atlântico.
Vale destacar também outros aspectos rela-
cionados à hidrografia africana:
Zonas climáticas
1. Mediterrânea
2. Tropical com Estação Seca
3. Equatorial
4. Saheliana
5. Desértica
6. Tropical Úmida
7. Altas altitudes
Biomas
(6) Savana Úmida
(3) Floresta Tropical
(2) Campos Temperados
(7) Montanha
(1) Mediterrâneo
(5) Deserto
(4) Semidesértico
(2) Savana Seca
2. Qual a relação existente entre a distribui-
ção dos biomas e dos tipos climáticos na
África? Justifique sua resposta.
A distribuição das precipitações na África apresenta uma varia-
ção de máxima para mínima no sentido centro-norte e cen-
tro-sul. Na faixa equatorial, encontramos a vegetação da floresta
equatorial (pluvial e tropical) em virtude das chuvas intensas e
das elevadas temperaturas. Na região dos trópicos, o tipo cli-
19
Geografia – 3a série – Volume 2
a existência dos rios, dos desertos, da vegeta-
ção e a proximidade com o Mar Mediterrâneo
são fatores fundamentais para compreender
a distribuição da população pelo continente
como também das atividades econômicas e
da organização social da população;
nas áreas mais elevadas do continente
ocorre o clima frio de montanha;
o Rio Nilo destaca-se por atravessar áreas
desérticas em grande parte de seu curso. É
interessante informar a importância regional
do Vale do Rio Nilo ao longo da história;
o Rio Nilo, em contraste com o Saara, tor-
na os solos agricultáveis em suas margens,
além de fornecer água para irrigação das
áreas adjacentes ao vale do rio. É impor-
tante também informar que, nas margens
desse rio, ocorrem muitas das principais
aglomerações humanas como Cairo e Ale-
xandria, no Egito; e Cartum e Omdurman,
no Sudão, costa oriental da África.
Etapa 3 – A regionalização da África
Uma vez despertada a atenção dos alunos
para o conhecimento acerca da localização do
continente africano e seus desdobramentos geo-
gráficos, sugerimos que analisem as diferentes
formas de regionalização adotadas para esse
continente. Inicie essa etapa solicitando aos
alunos que localizem o Deserto do Saara na
imagem de satélite da África (Figura 6).
Discorra sobre a importância desse enorme
deserto na configuração natural, cultural e po-
lítica do continente africano. Informe-lhes que
o Saara separa o extremo norte africano do
resto do continente e, historicamente, funcio-
nou como uma barreira que, embora transpos-
ta por fluxos comerciais intensos, influenciou
profundamente a configuração das culturas e
civilizações na África. O Rio Nilo foi o primei-
ro e principal eixo comercial através do deserto,
permitindo a aproximação entre os povos que
habitavam as porções norte e sul do Saara.
Informe-lhes que, nos séculos VII e VIII, po-
vos árabes conquistaram todo o norte africano,
antes de invadirem a Península Ibérica. O domí-
nio árabe no norte da África levou à difusão do
islamismo e da língua árabe entre os povos da
porção setentrional do continente. Nesse perío-
do, o Saara também passou a ser atravessado
por rotas de caravanas árabes, que comerciali-
zavam inúmeros produtos e escravos dos reinos
ao sul do deserto. Essas relações comerciais fo-
ram responsáveis pela expansão do islamismo
também para os povos que habitavam a porção
sul do Saara. Isso explica a grande presença de
adeptos do islamismo nessa parte do continente.
Foram também essas relações – em especial
o comércio de escravos – que levaram os árabes
a tratar o sul do Saara como “terra de negros”.
Dessa forma, a influência árabe e, posteriormen-
te, a europeia, ratificaram a regionalização que
distinguia uma “África Branca” de uma “Áfri-
ca Negra”. Essa designação das porções norte e
sul do continente pela cor da pele, além de não
esclarecer em nada as características culturais
próprias de cada região, representaram o mode-
lo racista e preconceituoso que fundamentou a
colonização do continente no século XIX. É im-
portante destacar, portanto, que essa distinção
20
não existe e que os termos “África Branca” e
“África Negra” caíram em desuso.
Com o fim da colonização, essa regionalização
ratificada pelo imperialismo foi profundamente
criticada, tendo em vista o aprofundamento nos
estudos acerca da heterogeneidade das culturas
africanas. Na atualidade, os organismos interna-
cionais consolidaram a regionalização em África
do Norte e África Subsaariana.
África do Norte
Leitura e análise de imagem e mapa
Para consolidar o entendimento acerca
desta porção do continente africano, sugeri-
mos três questões que associam a leitura da
imagem de satélite (Figura 6) e dos três mapas
das Figuras 3, 4 e 5.
Figura 6 – África: imagem de satélite.
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1. Observe atentamente a imagem de satélite
da África e localize o Deserto do Saara.
Com o auxílio do mapa político da África,
disponível no final do Caderno do Aluno,
e também dos mapas das Figuras 3, 4 e 5,
responda às questões a seguir.
a) Por que o Saara pode ser considerado o
marco divisório entre duas regiões afri-
canas? Identifique quais são essas duas
regiões.
O Saara, maior deserto quente do mundo, estende-se na por-
ção norte da África e é considerado um marco divisório, ao
separar o Norte da África, composto de países em que predo-
minam povos árabes, semitas e camito-semíticos, da porção
Centro-Sul do continente denominada África Subsaariana, na
qual a diversidade de etnias é grande.
b) O Saara é considerado o maior deserto con-
tínuo do mundo. Estabeleça relações entre
suas características físicas e a densidade de-
mográfica da região de sua abrangência.
O Saara localiza-se ao norte do continente africano e se es-
tende do Oceano Atlântico até o Mar Vermelho, abrangendo
vários países. Em virtude de suas grandes extensões arenosas
e baixíssima umidade, apresenta fraca densidade demográfi-
ca e possibilita poucas atividades econômicas, a maior parte
das quais praticadas por povos nômades.
2. Utilizando o mapa político da África dis-
ponível no final do Caderno do Aluno,
identifique os países listados a seguir.
Marrocos
Líbia
Tunísia
Egito
Argélia
Saara Ocidental (sob o domínio do Marrocos)
21
Geografia – 3a série – Volume 2
a) Preencha o nome dos países no mapa
mudo da África (presente no Caderno
do Aluno).
Conforme será verificado pelos alunos, todos esses países lo-
calizam-se na África do Norte.
b) Apresente e explique um elemento cul-
tural de união entre esses países.
As populações desses países têm uma unidade cultural dada
pela religião islâmica, trazida pelos árabes da Península
Arábica, a partir do século VII.
3. Observe novamente a imagem de satélite da
África (Figura 6) e o mapa África: zonas cli-
máticas (Figura 3) e, com o auxílio do mapa
político da África, identifique os países que
formam a Zona Saheliana, situada ao sul
do Deserto do Saara. Além disso, responda:
Por que essa região recebe esse nome?
De acordo com o mapa da Figura 3, a Zona Saheliana é
definida como a zona semiárida e atravessa países que
se localizam na borda meridional e oriental do deserto
do Saara: Senegal, Mauritânia, Mali, Níger, Burkina Faso,
Chade, Sudão, Eritreia, Etiópia, Somália e Quênia. O nome
Sahel deriva de uma palavra árabe que significa borda, e
é usado para identificar essa região situada na “borda” do
Deserto do Saara.
Magreb e Grande Magreb
Explique, inicialmente, o significado da
expressão Magreb, salientando que, em ára-
be, a palavra designa “onde o Sol se põe”,
pois, localizada a oeste, encontra-se em opo-
sição ao “machrek”, que significa “o nas-
cente”, porção representada pela Península
Arábica. Explique que o Magreb correspon-
de à porção ocidental do norte da África,
onde se localizam o Marrocos, a Argélia e
a Tunísia, países que foram integrados ao
império colonial francês no século XIX – e
que, anteriormente, faziam parte do Impé-
rio Turco-Otomano. No entanto, notifique a
existência do Grande Magreb, região que se
estende da Mauritânia à Líbia.
Leitura e análise de mapa
Essa região é a que está mais próxima da
Europa e, por esta razão, mantém importantes
fluxos comerciais e de imigrantes com a União
Europeia. Sugerimos que apresente aos alunos o
mapa Espaços regionais africanos com vocação
econômica, setembro de 2010 (Figura 7) para que
eles visualizem as regiões africanas, formadas a
partir de critérios econômicos, de modo que, em
seguida, possam responder às questões, que tam-
bém constam no Caderno do Aluno.
1. Em qual porção do continente africano se
localiza a UMA – União do Magreb Árabe?
A UMA está localizada na porção setentrional do continente
africano e é composta por Líbia, Tunísia, Argélia, Marrocos e
Mauritânia e também pelo Saara Ocidental.
2. Com o professor, indique:
a) Os países que compõem a África do
Norte, além daqueles que formam a
UMA – União do Magreb Árabe.
A África do Norte, ou Setentrional, possui, além dos países
que formam a UMA, o Egito.
22
Figura 7 – Espaços regionais africanos com vocação econômica, setembro de 2010. ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Mapa original (base cartográfica com generalização; algumas feições do território não estão representadas; mantida a grafia).
Fontes: www.maghrebarabe.org, www.ecowas.int, www.cen-sad.org, www.uemoa.int,www.ceeac-eccas.org, www.sadc.int, www.eac.int, www.coi-ioc.org, www.comesa.int, www.gcc-sg.org
UMA União do Magreb Árabe
CEDEAO Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental
CEN-SAD Comunidadedos Estados Sahelo-Saarianos
UEMOA União Econômica e Monetária do Oeste Africano
CEMAC Comunidade Econômica e Monetáriada África Central
CEEAC Comunidade Econômica dos Estados da África Central
SACU União Aduaneira da África Austral
SADC Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral
p
IGAD Autoridade Intergovernamentalpara o Desenvolvimento
EAC Comunidadeda África Oriental
COI Comissãodo Oceano Índico
COMESA Mercado Comum da ÁfricaOriental e Austral
Áfricado Sul
aBotsuanaa
Tanzânia
biqueebiqMoçambiqMMMMoç
ZâmbiabZâZ aiaibia lauíMalalMaMM lM
R.B.BBBB
.BBB.B...T.TT.TT
eimbábueebubábmb eimZimZim
Naamíbia
AngolagolaAngA
Argélia
MMMarrocosscoaM
LíbiabiaLíbL abíbL
siasunísiaTu snínTu
MauritâniaantâituraMaM
SeSSenegagnee alaS alSenegal
GuinééninuGGGG
aSerra LeoaoeL aoaLeoa
Libériariai
MaliiaMaM NígerregNíN
ChadehadeCh ededhaChC
RepúblicablicRepúb acblbúbúpRReRRRRe aentro-Africanaricao-Af ientro aacriAfAorotnCeeCe aae nana
marõesCCCa õem rõeCam ssC
NigériaaiaérégigNN
GabãoGG ãoGabãoG ooo
Equaaq atq tq at.G. E tEq
São Tomééée Príncipe
Cabo Verde
Comoressoreor
SeichelessleelcheicSS
Ilhas MauríciocioícuríMMhasIlhI
soBurkina FassFaFaninrkBuB asososBu sooaso
osta doodtasoCCCCC oCosta doMarfimmfimfiaMMMMMM aGanaG anGG aGanaooooo
SaaraaraOcideental
EgitotogitE togiE
SudãoãoudãSu oãdãuSS
EtiópiapipióEt
réiaréEritréitEEE rétrEE
DjibutiDj bDjDjDjDj
omáliaomSomoS
QuêniaaniauênQuQ aiênuQuQ aaagagUgandadaandgaUgUgUU agUg aggUgQ
Repúblicabli aRepúbRe iblipúpRRDemocáticaicmo áticD moD tiáDdo Congoongoo Condo gCdd
MadagascararcaMaM ddagascascgada
Trópico de Câncer
Trópico do Capricórnio
Equador
Atelier de cartographie de Sciences Po, 2012
Espaços regionais africanoscom vocação econômica,setembro de 2010
b) Os blocos econômicos localizados ao sul
do Saara e os países que os compõem.
Observando o mapa Espaços regionais africanos com vo-
cação econômica, setembro de 2010 (Figura 7), percebe-se
que foram formados diversos blocos econômicos. Dentre
eles podemos citar: UEMOA (União Econômica e Monetária
do Oeste Africano), composto por Mali, Níger, Burkina
Faso, Costa do Marfim, Senegal, Benin, Togo e Guiné-
-Bissau; SACU (União Aduaneira da África Austral), formado
por África do Sul, Botsuana, Namíbia, Lesoto e Suazilândia;
EAC (Comunidade da África Oriental), formado por Ruanda,
Burundi, Tanzânia, Uganda e Quênia.
O Saara e o Vale do Nilo
É interessante informar, considerando o
meio físico e sua ocupação pelo ser humano, que
a África do Norte ou Setentrional possui, além
do Grande Magreb, outras duas áreas mais ou
menos distintas: o Vale do Rio Nilo e o Saara.
Em relação ao Vale do Nilo, propomos, em
primeiro lugar, que você saliente a importância
desse rio para vários países africanos, e não ape-
nas para o Egito. Com o apoio do mapa Áfri-
ca: físico com hidrografia (Figura 5), peça aos
alunos que observem o percurso completo desse
rio, da nascente no Lago Vitória à foz em delta
23
Geografia – 3a série – Volume 2
no Mar Mediterrâneo. Lembre os alunos de sua
importância na Antiguidade, quando floresceu
a civilização egípcia, e ressalte o fato de ser o
único a atravessar o Deserto do Saara no senti-
do sul-norte. Vale também ressaltar que o Nilo
poderá ser comparado ao Rio São Francisco, no
Brasil. É sempre interessante fazer essa compa-
ração considerando diversos aspectos. Assim,
você poderá utilizá-la nos processos de avaliação
da aprendizagem.
No Caderno do Aluno, na seção Desafio!,
propõe-se aos alunos tecerem a comparação
entre esses dois rios, a partir do enunciado:
Compare a hidrografia brasileira à africana
e identifique um rio africano com características
similares às do Rio São Francisco, no Brasil.
Quais são as semelhanças e diferenças entre eles?
Ambos têm traçado sul-norte; o Nilo nasce em área tropical
úmida e corre para o deserto, enquanto o São Francisco tam-
bém tem sua nascente em área tropical e corre para a região
do sertão nordestino. São utilizados para transporte, irrigação e
geração de energia. Uma das diferenças entre eles encontra-se
no tipo de foz, pois, enquanto o Nilo, nas proximidades de Ale-
xandria, tem a sua foz em forma de delta, o São Francisco, na di-
visa entre Sergipe e Alagoas, tem a sua foz em forma de estuário.
Em continuidade, notifique que o Rio Nilo
nasce na região central da África, no Lago Vi-
tória, e corre na região central e nordeste do
continente, atravessando Uganda, Sudão e Egi-
to, desembocando em delta no Mar Mediterrâ-
neo. A represa de Assuan, no Rio Nilo, situada
a 950 quilômetros do Cairo, fornece energia
elétrica para todo o Egito e controla o volume
da vazão de água nas cheias.
Quanto ao Deserto do Saara – localizado no
norte do continente africano, estendendo-se do
Oceano Atlântico até o Mar Vermelho –, é im-
portante analisar com os alunos que os vários
países localizados na porção setentrional afri-
cana apresentam baixa densidade demográfica
pelo fato de essa região ser árida, o que dificulta
a ocupação humana e as atividades econômicas.
Além disso, retomando o mapa físico do conti-
nente (Figura 5), aproveite a ocasião para des-
tacar a notável influência do sistema da Cadeia
do Atlas na aridez do Deserto do Saara que, em
razão de suas elevadas altitudes e orientação
transversal, impede a passagem dos ventos que
chegam do norte carregados da umidade do mar.
Explique que a designação de “sistema” relacio-
na-se com o fato de essa cadeia, formada no Neo-
geno, compreender três cadeias no Marrocos
(Alto Atlas, Médio Atlas e Antiatlas) e duas na
Argélia (Atlas Telianos e Atlas Saariano).
De modo complementar, localize também
os desertos do Kalahari e da Namíbia, ao sul
do continente. Ressalte que a formação desses
desertos, diferentemente do Saara, associa-se à
presença da corrente fria de Benguela. O anti-
ciclone do Atlântico Sul é um centro emissor de
massa de ar quente e úmida. No entanto, quan-
do essa massa entra em contato com a corrente
fria citada, perde suas características originais,
transformando-se em uma massa fria e seca.
África Subsaariana
Considerando a divisão imposta pelo Deser-
to do Saara, retome o mapa político do conti-
nente africano, no final do Caderno do Aluno,
24
e apresente aos alunos o conjunto de países que
formam a África Subsaariana.
Destaque inicialmente o conjunto de paí-
ses que abrange o Sahel, extensão de terras
localizada na “borda do deserto” e que, histo-
ricamente, foi habitada por pastores nômades
que, na atualidade e por influência do processo
de colonização, em parte se sedentarizaram.
Ressalte que, aliado ao pastoreio, a partir de
investimentos de inúmeros organismos inter-
nacionais associados a empreendimentos pri-
vados, essa região tem apresentado melhor uso
do solo e resultados agrícolas satisfatórios na
produção de grãos, principalmente milheto,
sorgo e arroz.
Em seu conjunto, a África Subsaariana
integra-se à economia global principalmen-
te como fornecedora de produtos primários,
agrícolas e minerais. Ainda que mais da me-
tade de sua população economicamente ativa
esteja ocupada no setor primário da econo-
mia, a produção de alimentos é insuficiente, a
segurança alimentar está longe de ser garan-
tida. As regiões com domínio de clima tro-
pical úmido, especialmente as costeiras, vêm
sendo há séculos utilizadas pela agricultura
de exportação. Os países situados na Costa da
Guiné, por exemplo, produzem cerca de 70%
do cacau que abastece o mercado global. A
produção industrial da região, por seu turno,
está fortemente concentrada na África do Sul.
É importante destacar que a região desig-
nada como África Subsaariana está longe de
ser um todo homogêneo. De maneira geral,
sobretudo nos documentos apresentados pe-
los organismos internacionais, como a ONU, o
continente africano é dividido em duas grandes
regiões: África Saariana, ou Norte da África, e
África Subsaariana. Essa forma de apresenta-
ção tende a induzir a uma leitura enviesada do
continente, sobretudo da África Subsaariana.
Esta região é bastante complexa, do ponto de
vista da cultura, dos fatores sociais e econômi-
cos de desenvolvimento, entre outros. Veja, por
exemplo, que a Nigéria figura entre os princi-
pais países fornecedores ao Brasil, segundo o
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (Balança Comercial Brasi-
leira, jan-jun de 2013, disponível em: <http://
www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1380110216.
pdf>, acesso em: 5 maio 2014); a África do Sul
integra o grupo de cooperação BRICS; parte
do território africano dispõe de redes de in-
fraestrutura, ou seja, está inserido no contexto
de desenvolvimento do meio técnico-científico-
-informacional, ainda que a maior parte dessa
infraestrutura esteja concentrada nos países ex-
portadores de produtos minerais ou agrícolas.
Dessa forma, é preciso desconstruir esse este-
reótipo e ampliar a visão geral a respeito dessas
duas regiões, com a apresentação e discussão
de aspectos demográficos, socioeconômicos,
políticos e culturais, como veremos nas Situa-
ções de Aprendizagem seguintes.
Leitura e análise de mapa
Para finalizar essa Situação de Aprendiza-
gem, sugerimos uma atividade cuja proposta é
identificar os territórios africanos considerados
“úteis” pelos investidores internacionais e pelas
25
Geografia – 3a série – Volume 2
grandes potências mundiais, por abrigarem im-
portantes recursos energéticos e minerais. Após
analisar o mapa O que as grandes potências
ambicionam (Figura 8), os alunos deverão res-
ponder às questões propostas, disponíveis tam-
bém no Caderno do Aluno.
Figura 8 – O que as grandes potências ambicionam. Cartographie, Philippe Rekacewicz, Paris. Tradução: Benjamin Potet. Mapa original.
MAURITÂNIAMALI
BURKINAFASO
COSTA
DO MARFIMGANA
TOGO
NĺGER
NIGÉRIA
CAMARÕES
CHADE
SUDÃO
REPÚBLICA
DEMOCRÁTICA
DO CONGO
CONGO
GABÃO
REPÚBLICA
CENTRO - AFRICANAETIÓPIA
ERITREIA
DJIBUTI
SOMÁLIA
SOMALILÂNDIA
QUÊNIA
TANZÂNIA
MOÇAMBIQUE
RUANDA
BURUNDI
MALAUÍ
ZIMBÁBUE
MADAGASCAR
ZÂMBIA
BOTSUANA
NAMÍBIA
ANGOLA
UGANDA
ÁFRICA DO SUL
EGITOLÍBIA
TUNÍSIA
ARGÉLIA
SENEGAL
BENIN
LIBÉRIA
SERRA LEOA
GUINÉ
GUINÉ
EQUATORIAL
GUINÉ - BISSAU
GÂMBIA
MARROCOS
LESOTO
SUAZILÂNDIA
SAARA OCIDENTAL
Oceano
Atlântico
Oceano
ĺndico
Mar
Vermelho
Mar Mediterrâneo
O que as grandes potências ambicionam
0 1 000 km
Mapa original de Philippe Rekacewicz (2000). Atualizado em 2009 com base em:« Mineral facilities of Africa and the Middle East », United States Geological Survey, 2006; USGS Minerals information [http://minerals.usgs.gov/minerals]; mapas e atlas do Monde Diplomatique, Philippe Rekacewicz e Cécile Marin, 2000 até 2006; Atlas de l’Afrique, editions du Jaguar, 2000; Google Earth: couverture forestière: Milennium Ecosystems Assessement, 2005.
Petróleo
Para a produção de petróleo e de gás
Para a produção mineral
Para a exploração florestal
Gás natural
Urânio Carvão
Floresta tropical
Principais recursos minerais
Principais recursos energéticos
Os territórios « úteis » da África(foco principal dos InvestimentosDiretos Estrangeiros - IDE)
Níquel
Manganês
Chumbo
Zinco
Estanho
Cobalto
Cobre
Ferro
Ouro
Prata
Diamante
Cromo e Cromita
Outras pedras preciosas
Bauxita
Platina
26
1. Procure explicar o título desse mapa.
O título do mapa refere-se ao interesse que determinados
territórios africanos ricos em recursos naturais despertam no
mercado mundial. São esses territórios considerados “úteis”
que recebem a maior parte dos investimentos estrangeiros.
2. Como os territórios africanos considera-
dos “úteis” estão identificados no mapa?
Os territórios nos quais ocorre a produção de petróleo e gás
estão circunscritos pelas linhas azuis; aqueles nos quais ocor-
re a produção mineral, pelas linhas vermelhas; e os territórios
nos quais se pratica a exploração florestal, pela linha verde.
Para consolidar as discussões rea-
lizadas até aqui, no Caderno do
Aluno, na seção Lição de casa,
são propostas as questões a seguir.
1. Considerando as características físicas da
África, qual a importância histórica e atual
do Rio Nilo para a população africana?
Espera-se que os alunos apresentem como justificativa o fato de
o Rio Nilo atravessar mais de 2 mil quilômetros de deserto, pro-
piciando áreas mais úmidas e férteis, fornecendo água e solos
agricultáveis em suas margens. Isso explica a presença de muitas
aglomerações humanas, como ocorre no Cairo e em Alexan-
dria (Egito) e em Cartum e Omdurman (Sudão). Outro fato im-
portante a respeito do Rio Nilo é a barragem de Assuan, situada
a 950 quilômetros do Cairo, que fornece energia elétrica para
todo o Egito e controla o volume da vazão de água nas cheias.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2 ÁFRICA E EUROPA
2. Quais fatores naturais influenciaram a
formação dos Desertos da Namíbia e do
Kalahari, localizados no sul da África?
A formação dos desertos da Namíbia e do Kalahari associa-
-se à presença da corrente fria de Benguela. O anticiclone
do Atlântico Sul é um centro emissor de massa de ar quente
e úmida. No entanto, quando essa massa entra em contato
com a corrente fria citada, perde suas características origi-
nais, transformando-se em uma massa fria e seca.
3. Fuvest 2002 – O continente africano é
extremamente diverso. Pesquisadores o
dividem em regiões como a do Magreb,
localizada:
a) ao sul do Saara, formada por países que
foram colônias francesas.
b) no noroeste da África, constituída por paí-
ses onde predomina a religião islâmica.
c) no extremo sul, onde se encontram os
países mais industrializados da África.
d) na África Central, onde as fronteiras
políticas estabeleceram-se antes que nas
demais regiões.
e) no nordeste da África, foco de confli-
tos tribais pela definição de fronteiras.
De maneira introdutória, aborda-se o im-
perialismo europeu e a partilha da África e
como essa colonização marcou a África da
atualidade. As condições de pobreza e de de-
pendência econômica com relação às ex-me-
trópoles são a tônica da maioria das nações
27
Geografia – 3a série – Volume 2
africanas ainda hoje. Além disso, destacam-se
também as formas contemporâneas de orga-
nização dos países africanos, a partir da fun-
dação da União Africana (UA), em 2002.
Na sequência, aborda-se o tema das migra-
ções tanto dos imigrantes africanos em dire-
ção ao continente europeu quanto os fluxos
intra-africanos, estabelecendo relações entre a
dinâmica dessas imigrações, suas motivações
e relevância.
Por fim, propõe-se a ampliação da abor-
dagem sobre a questão africana por meio da
análise de conflitos étnicos ainda presentes no
continente e que marcam a sua história recente.
Conteúdos: o imperialismo europeu e a partilha da África; a formação das fronteiras e o processo de inde-pendência; as relações da África com a Europa; o processo de independência dos países do continente e a formação de organismos multilaterais na África; migrações clandestinas de imigrantes africanos em di-reção ao continente europeu; número de pessoas refugiadas no mundo; conflitos internos da atualidade.
Competências e habilidades: analisar iconografias acerca do processo neocolonial africano; ler e interpre-tar mapas e gráficos relativos à colonização e à descolonização africanas; explicar a formação de orga-nismos multilaterais africanos; ler e interpretar mapas temáticos sobre a distribuição da riqueza mundial e número de pessoas refugiadas para estabelecer relações a respeito do fluxo migratório África-Europa.
Sugestão de estratégias: leitura e interpretação de imagens, mapas e excerto de texto; pesquisa e elabo-ração de resumo de textos; aulas expositivas dialogadas.
Sugestão de recursos: imagens (fotos, gráficos e mapas); textos; materiais didáticos disponíveis.
Sugestão de avaliação: participação geral nas discussões; realização e entrega de exercícios solicitados.
Etapa prévia – Sondagem inicial e sensibilização
Pergunte aos alunos o que eles sabem
sobre a história dos países africanos. Peça
a eles que analisem as Figuras 9, 10 e 11.
Informe que são imagens de um jornal
francês do final do século XIX (Le Petit
Journal) e retratam a colonização e a parti-
lha da África. Discorra sobre a Revolução
Industrial europeia (séculos XVIII e XIX)
e estabeleça relações entre a necessidade
de ampliação de mercados consumidores
e de fornecimento de matérias-primas e as
causas que levaram à colonização da Áfri-
ca e da Ásia.
Para estimular a leitura crítica das figuras,
no Caderno do Aluno, na seção Para começo
de conversa, os alunos têm a seguinte pro-
posta de atividade.
Com base nas imagens a seguir, e em suas
respectivas legendas, converse com seus colegas
e o professor a respeito das diferentes formas
(explícitas ou implícitas) de dominação colo-
nial da África durante o século XIX e parte do
século XX. Ao final, registre suas conclusões.
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Figura 9 – Jornal francês Le Petit Journal, final do século XIX. O co-lonizador europeu é representado na imagem com armas de fogo e ban-deira, como símbolo da supremacia da metrópole em relação aos nativos.
Figura 10 – Jornal francês Le Petit Journal, final do século XIX. A imagem demonstra a aliança entre colonizador e lideranças tribais africanas.
29
Geografia – 3a série – Volume 2
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Figura 11 – Jornal francês Le Petit Journal, final do século XIX. A colonização europeia é reproduzida conforme a vi-são eurocentrista: soldados levantam a bandeira francesa, afirmando o domínio euro-peu, e, ao fundo, a fumaça sugere que a colonização não foi pacífica.
Neste exercício, o destaque da primeira imagem é a presença
da bandeira francesa empunhada por um soldado em algu-
ma aldeia africana, e também da arma de fogo, que poderia
indicar, de certa forma, o uso da força militar. O colonizador
europeu, portanto, é representado na imagem com armas de
fogo e bandeira, símbolo da supremacia da Metrópole em re-
lação aos nativos. A segunda imagem demonstra a aliança en-
tre colonizadores e lideranças locais, que subentende a ideia
de aceitação da colonização europeia pelos povos africanos.
E, na terceira imagem, a colonização é reproduzida pela visão
eurocêntrica: soldados levantam a bandeira representativa do
domínio europeu e, ao fundo, a fumaça sugere, de forma im-
plícita, que a colonização não foi pacífica. Isso demonstra que,
apesar de um início de ocupação aparentemente pacífico,
com trocas comerciais, o que realmente ocorreu na África foi
a dominação europeia e a opressão dos povos locais.
Etapa 1 – O imperialismo europeu na África
Para iniciar a discussão a respeito do co-
lonialismo africano, explique aos alunos que,
para justificar a colonização, o imperialismo
europeu criou uma ideologia racista, segundo
a qual os brancos eram superiores às demais
raças, cabendo a eles a “missão civilizadora” de
30
resgatar os povos colonizados de sua condição
de barbáriea. Informe-lhes também que, duran-
te séculos, a África representou para os euro-
peus apenas uma inesgotável fonte de escravos
e, em menor escala, de ouro e de marfim. Os
traficantes e comerciantes, baseados em entre-
postos litorâneos, praticamente sintetizavam a
presença europeia no continente.
Acrescente que, entre novembro de 1884 e
fevereiro de 1885, 13 nações europeias, além
dos Estados Unidos e da Turquia, promove-
ram a Conferência de Berlim, que tinha como
objetivos principais: a) discutir normas para
tráfego e utilização comercial livres dos Rios
Níger e Congo; b) regulamentar a apropria-
ção do continente africano (cf. Hernandezb).
Com vistas a delimitar a partilha do con-
tinente foram usados paralelos e meridianos
e o traçado dos rios como marcos divisórios
fronteiriços. Além da utilização de recursos
cartográficos na demarcação de fronteiras
artificiais, os europeus estabeleceram divisões
internas em suas colônias, tanto para garan-
tir controle militar quanto para estabelecer
domínio em áreas de mineração. A criação
dessas fronteiras provocou a separação entre
grupos étnicos que viviam pacificamente em
um mesmo território, enquanto grupos étni-
cos adversários foram obrigados a conviver na
mesma terra. Dessa forma, os colonizadores
dificultaram a formação de alianças que pu-
dessem lhes fazer oposição.
Leitura e análise de mapa
Para ampliar a leitura do mapa Colônias
africanas, 1914 (Figura 12) e considerando
o mapa político da África, ambos presentes
no Caderno do Aluno, propomos aos alunos
que preencham a tabela a seguir (Quadro 1)
relacionando alguns territórios atuais às res-
pectivas possessões coloniais.
a É importante ressaltar a inadequação desse discurso e desses conceitos na atualidade. A crítica a essa posição é apresentada no volume 2 da 2a série, a partir do texto Uma abordagem conceitual das noções de raça, racis-mo, identidade e etnia, de Kabengele Munanga (Disponível em: <https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=59>. Acesso em: 5 maio 2014).
b HERNANDEZ, Leila L. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. 2. ed. rev. São Paulo: Selo Negro, 2008.
31
Geografia – 3a série – Volume 2
Possessões coloniais/País-Metrópole Países atuaisAlemãs/Alemanha Camarões, Togo, Namíbia, Tanzânia.
Belgas/Bélgica RDC.
Britânicas/InglaterraNigéria, Sudão, Uganda, Quênia, Egito, Serra Leoa, Somália, Gâmbia, África do Sul, Suazilândia, Botsuana, Maurício, Zâmbia, Zimbábue.
Espanholas/Espanha Ilhas Canárias, Guiné Equatorial.
Francesas/França Argélia, Tunísia, Marrocos, Costa do Marfim, Madagascar.
Italianas/Itália Líbia, Somália, Eritreia.
Portuguesas/Portugal Madeira, Ilhas de Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique.
Estados independentes Libéria, Etiópia.
Figura 12 – Colônias africanas, 1914. ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/colonies-et-ind-pendances- africaines>. Acesso em: 2 jun. 2014. Tradução: Benjamin Potet. Mapa ori-ginal. Para o exercício proposto, deve- -se considerar apenas os territórios pertencentes ao continente africano [nota do editor].
britânicas (domínios,colônias e protetorados)
alemãs
portuguesas
Possessões:
belgas
Estados independentes
italianas
Império Otomano
espanholas
francesas (departamentoargelino, colônias e protetorados)
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12
Fontes: F. W. Putzger, Historischer Weltatlas, Berlin, Cornelsen, 1995; J. Sellier, Atlas des peuples d’Afrique, Paris, La Découverte, 2011.D’après Afrique contemporaine, 235, 2010.
1914
Colônias africanas, 1914
Quadro 1.
32
A definição impositiva das fronteiras foi
acompanhada da obrigatoriedade do uso da
língua e dos costumes do colonizador (edu-
cação, religião e modelo de administração),
em detrimento da cultura e da tradição dos
diversos grupos étnicos africanos, que foram
negligenciadas. Um exemplo disso foi relata-
do no livro Amkoulell, o menino fula do escri-
tor africano Amadou Hampâté Bâ, nascido
em Bandiagara, atual Mali, em 1900. Para
que os alunos explorem um trecho deste li-
vro, que trata sobre a importância da preser-
vação da memória oral, sugerimos a seguinte
atividade, presente no Caderno do Aluno.
Leitura e análise de texto
1. O escritor malinês Amadou Hampâté Bâ
afirma:
fornecer matérias-primas minerais e produtos
agrícolas tropicais – como chá, café, algodão,
entre outros – cultivados em plantations, gran-
des propriedades monocultoras com a produ-
ção voltada para a exportação. Dessa forma,
os investimentos feitos no continente foram
direcionados para melhorar as condições de es-
coamento das riquezas retiradas da África. Um
bom exemplo disso são as ferrovias implantadas
no período colonial, ligando áreas produtoras
interioranas ao litoral, de onde a produção mi-
neral e agrícola seguia para a Europa. A espolia-
ção do continente evoluía rapidamente.
Sugerimos que, durante a exploração desse
tema, peça aos alunos que se reúnam em duplas
e façam a leitura do poema de Rudyard Kipling,
de 1899, que sintetiza a visão imperialista e a
missão civilizadora dos brancos europeus.
2. Leia o trecho do poema O fardo do homem
branco, apresentado a seguir.Na África, cada ancião que morre é uma
biblioteca que se queima.
HAMPÂTÉ BÂ, Amadou. Amkoulell, o menino fula. São Paulo: Casa das Áfricas/Palas Athena, 2003.
Qual a intenção do autor ao fazer essa
afirmação?
Ao apresentar esse exemplo aos alunos, faça-os observar como
o escritor malinês resgata a necessidade de se preservar a história
oral dos países africanos como forma de garantir a preservação
da cultura e o saber genuinamente africanos. Nesse sentido, com
o auxílio da literatura, é possível fazer com que os jovens perce-
bam a força da oralidade para a perpetuação da história.
Em continuidade, explique que, como fru-
to da expansão colonial, a África passou a
O fardo do homem branco
Tomai o fardo do Homem Branco
Envia o melhor da tua raça
Vão, obriguem seus filhos ao exílio
Para servirem às necessidades dos seus cativos
Para esperar, com pesados arreios,
Com agitadores e selvagens
Seus recém-cativos povos entristecidos,
Metade demônio, metade criança.
[...]
KIPLING, Rudyard. The white man’s burden. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/ln000144.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2013. Tradução: Eloisa Pires.
33
Geografia – 3a série – Volume 2
Depois da leitura dos dois textos, sugeri-
mos que você promova um debate em classe
sobre a necessidade de se legitimar a ação im-
perialista sobre povos diferentes dos europeus.
Em seguida, peça aos alunos que escrevam
em uma folha avulsa um texto que contemple
os seguintes aspectos:
as características da ideologia latente nos
versos de Kipling;
o modo pelo qual os versos de Kipling pre-
tendem legitimar o imperialismo europeu;
as críticas a essa postura ideológica, consi-
derando as relações de dominação no pe-
ríodo neocolonial africano;
as críticas às diversas manifestações dessa
postura ideológica na atualidade.
O texto produzido pelos alunos deve indicar suas reflexões
sobre a institucionalização do racismo como forma de justifi-
car a dominação europeia no continente africano. Além dis-
so, é importante que a discussão chegue às formas atuais de
racismo e também como a sociedade reage a essa situação.
Etapa 2 – A descolonização africana
Para discutir o processo de descolonização
da África, utilize o mapa da colonização euro-
peia na África e mostre que Inglaterra e Fran-
ça eram as principais potências imperialistas.
Ressalte que o processo de descolonização
se deu depois da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), quando as grandes potências eu-
ropeias saíram arrasadas economicamente do
conflito, sem condições de manter seus vastos
impérios coloniais. Ao mesmo tempo, a opi-
nião pública cobrava uma postura coerente da
Inglaterra e da França, que tinham combati-
do o totalitarismo nazista alemão e o fascismo
italiano em nome da democracia e da auto-
determinação dos povos, e não davam esse
direito aos povos de suas colônias. O afrouxa-
mento das rédeas metropolitanas fez com que
muitos povos africanos negociassem sua inde-
pendência ou pegassem em armas para conse-
guir a independência. A dominação europeia
na África muitas vezes enfrentou a resistência
dos povos locais, que se insurgiam contra os
dirigentes europeus. Algumas independências
se deram com sangrentas guerras, como a da
Argélia. Os novos países mantiveram sua con-
dição de exportadores de produtos primários
e, embora independentes, continuaram muito
dependentes de suas antigas metrópoles.
Neste momento, estabeleça relações entre
a descolonização e a ideia de união de toda a
África: o pan-africanismo. Informe aos alunos
que com o processo de independência africana,
na segunda metade do século XX, o pan-afri-
canismo se fortaleceu, tendo como um de seus
líderes Kwame N’Krumah, presidente de Gana
(antiga colônia britânica da Costa do Ouro)
na década de 1960. Para ele, o fortalecimento
econômico das nações africanas e a aproxi-
mação entre elas seria o caminho para a plena
independência, uma vez que os colonizadores
europeus, mesmo tendo concedido a indepen-
dência, não abririam mão de indiretamente
manter sua influência econômica, dilapidando
as riquezas do continente.
Em 1964, as nações africanas independentes,
em reunião no Cairo, criaram a Organização
34
da Unidade Africana (OUA). Buscavam, dessa
forma, ampliar a cooperação entre os Estados
e garantir a segurança entre seus países-mem-
bros. Porém, ao manter os limites territoriais
impostos pelas nações europeias, a OUA con-
solidou a fragmentação da África. Além disso,
boa parte das elites locais ainda representa-
va maiorias étnicas remanescentes da antiga
configuração, o que pode também servir para
explicar a instabilidade das fronteiras e as su-
cessivas guerras étnicas que caracterizaram as
nações africanas – e caracterizam até a atuali-
dade –, principalmente na região subsaariana.
Em 2002, os novos líderes africanos reuni-
ram-se em Durban, na África do Sul, e puseram
fim à OUA, criando a União Africana (UA).
Essa nova organização veio ampliar o leque
de objetivos para a integração do continente.
Em sua carta de abertura, propunha a criação
de um Conselho de Paz e Segurança represen-
tado por alguns países africanos com poderes
para intervir em guerras locais e evitar atos de
extermínio em massa, como os que continuam
a ocorrer em diversos conflitos africanos. Além
disso, a UA também tem como objetivo a pro-
moção do desenvolvimento econômico e social
das nações africanas, por intermédio do com-
bate à fome e da erradicação da pobreza.
Etapa 3 – Os fluxos migratórios africanos
Aproveite este momento para introduzir um
tema da atualidade sobre a emigração de afri-
canos para a Europa, grande parte deles ilegal.
Leitura e análise de texto
Dirija a atenção dos alunos para a imagem
da Figura 13 e para o texto Imigrantes africanos
clandestinos morrem em barco à deriva. Peça a
eles que, com o auxílio do mapa África político,
tracem no mapa mudo, disponível no Caderno
do Aluno, o itinerário dos migrantes africanos
por terra e por mar.
Imigrantes africanos clandestinos morrem em barco à deriva
Quase meia centena de imigrantes africa-
nos clandestinos morreram de sede, de fome
e de frio, ao largo da costa da África, ten-
tando chegar às Ilhas Canárias (Espanha) a
bordo de uma embarcação que andou à de-
riva no mar.
Segundo fonte das autoridades de seguran-
ça, em Nouakchott (capital da Mauritânia), Figura 13 – Imigrantes africanos clandestinos em direção à Europa.
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35
Geografia – 3a série – Volume 2
42 clandestinos, quase todos senegaleses (e também oriundos do Mali, Guiné-Bissau e Gâm-
bia), pereceram nas circunstâncias atrás referidas, na sequência de uma avaria no motor da
embarcação, ao largo da costa do Marrocos.
Após a saída do Senegal e depois de o combustível e de a comida terem acabado, os imi-
grantes começaram a morrer e a ser lançados ao mar pelos sobreviventes. Segundo os imigran-
tes, o capitão do barco morreu.
Centenas de africanos em busca de melhores condições de vida na Europa morrem todos os
anos aventurando-se em precárias embarcações nessa região da África.
Rádio Vaticano. 7 nov. 2007. Disponível em: <http://pt.radiovaticana.va/storico/2007/11/07/ imigrantes_africanos_clandestinos_morrem_em_barco_%C3%A1_deriva/por-165832>. Acesso em: 4 fev. 2014.
Os alunos podem iniciar a atividade localizando no mapa
os países citados no texto. Sugira que pintem os respecti-
vos espaços no mapa mudo presente no Caderno do Aluno.
Eles também podem identificá-los, escrevendo o nome de
cada um nos espaços pintados. Para finalizar, devem tra-
çar o itinerário dos imigrantes africanos dos demais países
até o Senegal e, na sequência, traçar o trajeto que iria do
Senegal até as Ilhas Canárias, destino dos africanos segundo
a notícia.
1. Em sua opinião, a foto é adequada para
ilustrar o conteúdo do texto? Explique.
Espera-se que os alunos percebam que a foto não ilustra
adequadamente o conteúdo da matéria, uma vez que, na
imagem, os imigrantes africanos estão sendo resgatados –
algo que, infelizmente, não aconteceu com os apontados
na notícia. Ainda assim, os alunos precisam perceber que a
embarcação identificada na imagem não permite nenhu-
ma segurança e que as condições do mar e a superlotação
colocam em risco a vida desses imigrantes clandestinos.
2. O que você acha que impele muitos afri-
canos a buscar clandestinamente a Europa
como destino migratório?
Espera-se que os alunos apontem que esses migrantes bus-
cam melhores condições de vida.
Vale organizar e registrar na lousa os resul-
tados dessas discussões.
Leitura e análise de mapa
Na sequência, apresente aos alunos o mapa
da Figura 14, que representa os fluxos migra-
tórios africanos em 2010. É importante que os
alunos distingam os fluxos intra-africanos e os
fluxos extra-africanos de forma a entender a ló-
gica de cada um deles. Analisando o mapa, os
alunos poderão perceber que uma parte impor-
tante dos fluxos africanos tem origem e destino
em países vizinhos, como acontece com 40% das
migrações internacionais. Os elevados custos
das viagens e as barreiras restritivas impostas
pelos países ricos ajudam a entender esse fenô-
meno. De acordo com a ONU, as pessoas de
países muito pobres são as que menos migram,
e o número de africanos que se mudou para Eu-
ropa, por exemplo, é inferior a 1%.
36
Ásia eOceania
Américas
OrienteMédio
Europa
incluindoa França
ÁÁfricac
do Sulo Sul
çambiqueMMMoçMMoMMMMoMMMMMoMMMoMM
niaTanzânnnnnnnnn
alauíMMaaMMMMMMMMMMM
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SudãoddddddSudddddd
Chadehadededdddddddddddd
Nigériaigéigériaéréigééééé
(5)5)(55)(5(5555)55(5555555
1 Burkina Faso
2 Benin
3 Togo
4 Gana
5 Costa do Marfim
6 Uganda
(6)(6)(66)66
)1)(11(1(1
(2)))(3)(3)(3)(3((
(44)4)44)4)(444(4(4
aMaliMaliaaaMalialiMMaMMMaaaaMaMa erNígeNNNNN
AngolaAngolggoggogg
Repúblicaicaacaepúblicbli
DemocráticaDe ticaemocrátemooocoocooocooococrátooooocoooocooooooocooo
do CongoCo nngoo Congo on
25 000
Apenas os valores superiores
a 25 000 estão representados,
ou seja, 88% das migrações intra-africanas.
100 000
500 000
1 000 000
1 309 000
intra-africana (por país)
dioOriente Méddiodddéd
(3 758 000)
Ásia
(248 000)
Europa
( )((7 747 000)
América Latina
e Caribe
(29 000)
América do Norte
(1 681 000)
Oceania
(359 000)
Número de migrantes, 2010
Migrações:
EXTRA-AFRICANAS (13 822 000)INTRA-AFRICANAS
5 506 00015 506 000 7 747 0000002 628 000
3 58 0003 758 0001 710 000
607 000607 0
extra-africana (por região)
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01
3Fonte: Organização das Nações Unidas. Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (2012).
Tendência do Inventario Internacional do Migrante: Migrantes por Destino e Origem (base de dados das Nações Unidas, POP/DB/MIG/Stock/Rev2012), www.un.org/esa/population
Origens e destinosdos migrantes africanos,situação em 2010
Figura 14 – Origens e destinos dos migrantes africanos, situação em 2010. ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/origines-et-destinations-des-migrants-africains-situation-en-2010>. Acesso em: 7 abr. 2014. Tradução: Benjamin Potet. Mapa original.
Sugerimos, no Caderno do Aluno, as ques-
tões a seguir.
1. A maior parte dos migrantes africanos se
desloca no interior do próprio continente.
Procure explicar esse fenômeno.
Os deslocamentos de grandes distâncias, para fora do con-
tinente, envolvem custos que a maior parte dos migrantes
não pode arcar. Além disso, os países ricos impõem diversas
restrições à entrada de imigrantes vindos de países pobres.
37
Geografia – 3a série – Volume 2
2. Quais são os principais destinos dos mi-
grantes africanos que se deslocam para
fora do continente? Procure explicar esse
fenômeno.
A maior parte dos migrantes que se deslocam para fora do
continente tem como destino a Europa. Esse fenômeno
pode ser associado à colonização, que criou laços culturais
e linguísticos entre os países europeus e suas antigas posses-
sões africanas.
3. De acordo com o mapa, em qual país eu-
ropeu ocorre a maior entrada de imigran-
tes vindos da África? Procure explicar
esse fenômeno.
De acordo com o mapa, a França recebe grande parte dos
imigrantes africanos. Uma parcela desses migrantes origina-
-se de países outrora colonizados pela França.
Etapa 4 – Atividade complementar: pesquisa em grupo
Estimule os grupos de alunos a
pesquisar sobre os principais
conflitos étnicos contemporâ-
neos no continente africano. Para tanto, você
pode orientar os grupos a selecionar um dos
conflitos apresentados no mapa da Figura 15,
como também promover a escolha livre dos
alunos a partir de uma pesquisa recente acer-
ca desses conflitos.
Conforme se verifica no mapa, há inúme-
ras possibilidades e, para que ocorra maior
contextualização, sugerimos como temas a
seguinte relação de conflitos recentes:
A situação atual da Somália e a pirataria
no Chifre da África.
A reorganização de Angola após décadas
de guerra civil.
O conflito entre hutus e tutsis em Ruanda e
Burundi (já abordado no Caderno do vo-
lume 1).
A instabilidade política na República De-
mocrática do Congo.
Os conflitos étnico-religiosos na Argélia.
Conforme consta na orientação da seção
Pesquisa em grupo do Caderno do Aluno, na
pesquisa é importante que os alunos realizem
as seguintes etapas:
Caracterizem o conflito considerando a
atual situação do(s) país(es).
Estabeleçam relações entre a atual situação
do(s) país(es) envolvido(s) e seu passado
colonial.
Estabeleçam relações entre o conflito se-
lecionado e os fluxos de refugiados que
ocorrem tanto no interior do continente
africano quanto para fora dele.
38
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Egito
Sudão
Etiópia
Quênia
Tanzânia
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Angola
Áfricado Sul
RepúblicaCentro-Africana
Uganda
Burundi
RuandaCongo
Camarões
Chade
Gana
Mali
Guiné
Senegal
SaaraOcidental
Mauritânia
Costado Marfim
SerraLeoa
Nigéria
Níger Iêmen
Reino Unido
Estados Unidosda América
Eritreia
SomáliaLibéria
OCEANOATLÂNTICO
OCEANO ÍNDICO
MAR
VERMELHO
Fontes: ACNUR, Refugiados, tendências mundiais em 2007, http://www.unhcr.org/;ONU - Departamento de Operações de Manutenção da Paz (DPKO), http://un.org/;Segundo Marie-Françoise Durand, Philippe Copinschi, Benoît Martin, Delphine Placidi, Atlasda Mundialização, dossiê especial China, Paris, Presses de Sciences Po, 2008.
1 000 km
Escala no Equador
Projeção de Mercator
Robe
rto
GIM
ENO
e At
eliê
de
Cart
ogra
fia d
a Sc
ienc
es P
o, ju
lho
de 2
008
RepúblicaDemocrática
do Congo1 317 879
Sudão1 250 000
Uganda1 235 992
Somália1 000 000
Costado Marfim70 905
Chade17 892
336 000
de 90 000 à 240 000
35 000
50 000
10 000
Zonas onde a autoridade do Estado é contestada(guerrilha, grupos armados, piratas etc.)
Principais conflitos onde a populaçãocivil sofre diretamente violências
Operações de paz mobilizadas, junho de 2008
Fluxo de refugiados (número de pessoas, final de 2007)
Deslocados internos(número de pessoas,
final de 2007)
Zonas de insegurança, junho de 2008
Nações Unidas
Nações Unidase União Africana
União Europeia
Forças africanas(União Africana,
IGAD ou CEEAC)
Em curso Concluídasem 2007
Zimbábue
Guiné Equatorial
Suazilândia
Togo
Tunísia
Gabão
Gâmbia
São Tomée Príncipe
Guiné-Bissau
Lesoto
Líbia
Madagascar
Malauí
Marrocos
Moçambique
Namíbia
Benin
Botsuana
Burkina Faso Djibuti
Figura 15 – Conflitos, operações de paz e refugiados na África. ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Tradução: Benjamin Potet. Mapa original. Estão indicados em azul os nomes oficiais das operações de paz [nota do editor].
Conflitos, operações de paz e refugiados na África
39
Geografia – 3a série – Volume 2
Conflitos étnicos e passado colonial
Economia fragilizada, instabilidade política e miséria social são alguns dos muitos proble-mas atuais da África, relacionados direta ou indiretamente com o seu passado colonial. Em especial, a manutenção de territórios nacionais artificiais, criados conforme os interesses dos países colonizadores na Conferência de Berlim (1884-85).
Exemplo disso são os graves conflitos étnicos em alguns países africanos, que dificultam a construção de uma consciência nacional mais homogênea. A maioria dos grupos étnicos, na África, surgiu antes do colonialismo. Muitos destes eram nações em formação no século XIX. Mas ao dividir o continente entre si, os colonizadores não respeitaram tal história. Assim, grupos diferentes passaram a ocupar o mesmo território colonial, depois transformado em nação. Por outro lado, era comum que os colonizadores promovessem tais divisões, favore-cendo ora algumas etnias, ora outras, para manter a sua dominação. Era a famosa tática do “dividir para dominar”. Em alguns casos, os efeitos desta política foram trágicos, pois cria-ram populações inimigas como os tutsis e hutus, em Ruanda.
Elaborado por Muryatan Santana Barbosa especialmente para o São Paulo faz escola.
1. Com base em seus conhecimentos, identifi-
que e justifique a principal temática abor-
dada no texto.
Espera-se que os alunos identifiquem que o texto coloca em
evidência a artificialidade dos Estados nacionais africanos,
relacionando-os à obra dos colonizadores europeus. Eles po-
dem justificar com base no indicador cronológico do texto
(Conferência de Berlim, 1884-85) e abordar o fato de que as
fronteiras políticas da África impostas pelos colonizadores fo-
ram perpetuadas mesmo após as independências africanas,
ocorridas principalmente nas décadas de 1960 e 1970.
2. De acordo com o texto, qual é a relação en-
tre o passado colonial e os graves conflitos
étnicos atuais que ocorrem em alguns países
africanos?
De acordo com o texto, os conflitos étnicos são resultan-
tes da divisão do continente efetuada pelos colonizado-
res, que não respeitou a história cultural do continente e
agrupou comunidades diferentes em um mesmo território
colonial. Além disso, o colonialismo muitas vezes fomen-
tou as rivalidades, ao favorecer uma etnia em detrimento
de outra.
3. Relacione os aspectos retratados no tex-
to com a “especialização econômica” ve-
rificada na maioria dos países da África
Subsaariana.
Por fim, sugerimos na seção Lição de casa uma atividade que permitirá aos alunos
consolidar os temas estudados nessa etapa.
Leia o texto a seguir e responda às questões.
40
A expectativa é que os alunos resgatem alguns conteúdos
estudados, aplicando-os na resolução da questão. Entre
outros, poderão particularizar as características das expor-
tações da África Subsaariana, ressaltando que o porcentual
de itens manufaturados nas exportações dessa grande re-
gião continua pouco expressivo (na ordem de 25%), além
de ser constituído por um conjunto parco de produtos e
ser produzido por um número restrito de países. Além disso,
poderão considerar que os fluxos de Investimento Direto
Estrangeiro (IDE), longe de contribuir para a diversificação
das economias africanas, são aplicados principalmente na
extração das matérias-primas.
Conteúdos: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) africano; população e urbanização; economia africana; novas relações entre África e China.
Competências e habilidades: analisar gráficos e tabelas acerca do IDH, a fim de caracterizar as condições atuais e históricas da sociedade africana; ler e interpretar mapas sobre a distribuição da população e urbanização do continente africano; analisar gráficos e tabelas acerca da atual situação econômica da África; diagnosticar as atuais condições socioeconômicas da África, relacionando-as com a questão de saúde no continente.
Sugestão de estratégias: leitura, interpretação e comparação de mapas e gráficos; aula expositiva dia-logada; leitura, síntese e articulação de informações pesquisadas em textos de diversas procedências (material didático adotado, jornais, revistas e sites da internet).
Sugestão de recursos: imagens (mapas, gráficos, fotos); material didático adotado e outros disponí-veis na escola.
Sugestão de avaliação: resolução de questões e interpretação de textos.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3 ÁFRICA: SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO
Esta Situação de Aprendizagem complementa
o esforço de construir uma visão de conjunto so-
bre o continente africano. A partir da análise do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), enfo-
cam-se aspectos demográficos e socioeconômicos.
Para tanto, são propostas estratégias didáticas
para análise e interpretação de textos, mapas, ta-
belas e gráficos a respeito de temas fundamentais
relacionados à África e de sua relação com outros
países do mundo.
Etapa 1 – Análise do IDH africano
Para iniciar essa etapa da Situação de
Aprendizagem, busque retomar o que os alu-
nos sabem sobre IDH e como esse índice é
medido. Comente que o IDH é um índice
idealizado pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD), órgão da
Organização das Nações Unidas (ONU), para
medir o desenvolvimento humano, consideran-
do dados sobre saúde, educação e renda per
capita. Sua escala varia de 0 a 1, sendo mais
desenvolvido quanto mais próximo de 1 estiver
o país. Segundo critérios do PNUD, os países
são classificados em quatro categorias: muito
elevado, elevado, médio e baixo.
41
Geografia – 3a série – Volume 2
Leitura e análise de tabela e mapa
Em seguida, apresente a tabela (Quadro 2)
que traz uma série histórica do IDH de alguns
países africanos. Os dados mostram que, apesar
da persistência das condições de vida inaceitá-
veis em parte dos países africanos, durante os
últimos anos alguns deles conseguiram deslo-
camentos e deixaram a condição de IDH baixo
para atingir o médio.
Retome com os alunos que, de certa forma, a
influência dos modelos coloniais também pode
ser responsabilizada pela atual situação desses
países. Informe-os de que o alicerce dos Estados
africanos foi constituído, quase sempre, pelo
aparelho administrativo criado pela coloniza-
ção europeia. No momento das independências,
o poder político e militar transferiu-se das an-
tigas metrópoles para as elites nativas urbanas,
que instalaram regimes autoritários.
Para que os alunos reflitam sobre a atual
conjuntura socioeconômica africana, no Ca-
derno do Aluno, há uma proposta de inter-
pretação e comparação dos dados da série
histórica do IDH de alguns países africanos
com dois mapas que tratam da temática de in-
dependência, a partir da seguinte orientação:
Observe a série histórica do IDH de al-
guns países africanos ao longo das últimas
três décadas e os dois mapas (Figuras 16 e 17)
que tratam dos processos de independência
dos países africanos. Em uma folha avulsa,
elabore um texto para explicar as tendências
observadas, considerando os fatores que in-
fluenciaram essas mudanças.
Se julgar pertinente, solicite aos alunos que
ampliem a análise dos dados da tabela e dos
mapas realizando uma pesquisa mais aprofun-
dada sobre um dos países indicados na tabela.
Série histórica do IDH de alguns países africanos, 1980-2012
País Classificação no IDH (2012) 1980 1990 2000 2005 2007 2010 2011 2012
África do Sul Médio 0,57 0,62 0,62 0,60 0,61 0,62 0,63 0,63
Botsuana Médio 0,45 0,59 0,59 0,60 0,62 0,63 0,63 0,63
Burkina Faso Baixo 0,30 0,31 0,33 0,34 0,34
Egito Médio 0,41 0,50 0,59 0,63 0,64 0,66 0,66 0,66
Gana Médio 0,39 0,43 0,46 0,49 0,51 0,54 0,55 0,56
Marrocos Médio 0,37 0,44 0,51 0,56 0,57 0,59 0,59 0,59
Mauritânia Baixo 0,34 0,36 0,42 0,44 0,45 0,46 0,46 0,47
Namíbia Médio 0,57 0,56 0,58 0,59 0,60 0,61 0,61
Níger Baixo 0,18 0,20 0,23 0,27 0,28 0,30 0,30 0,30
Nigéria Baixo 0,43 0,45 0,46 0,47 0,47
Zimbábue Baixo 0,37 0,43 0,38 0,35 0,36 0,37 0,39 0,40Quadro 2 – Série histórica do IDH de alguns países africanos, 1980-2012. Fonte: PNUD. Relatório de Desenvolvimento Humano, Tabela 02 - Tendência do Índice de Desenvolvimento Humano, 1980-2012. Disponível em: <https://data.undp.org/dataset/Table-2-Human-Development-Index-trends/efc4-gjvq>. Acesso em: 16 jun. 2014.
42
Fontes: F. W. Putzger, Historischer Weltatlas, Berlin, Cornelsen, 1995 ; J. Sellier, Atlas des peuples d’Afrique, Paris, La Découverte, 2011.D’après Afrique contemporaine, 235, 2010.
Antes de 1922
1951 - 1958
1960
1961 - 1968
1974 - 1980
1990 - 1993
2011
Tanzânia
Ate
liê d
e Ca
rtog
rafia
da
Scie
nces
Po,
201
2
Marrocos
Líbia
Tunísia
Egito
Sudão
Áfricado Sul
SuazilândiaLesoto
MadagascarMoçambique
Maurício
UgandaQuêniaRuandaBurundi
Seicheles
Somália
Djibuti
Etiópia
Eritreia
Argélia
Mauritânia Mali NígerChade
Nigéria
Camarões
RepúblicaCentro-africana
Costa do Marfim GabãoGanaTogo
BeninSão Tomé e Príncipe
Guiné EquatorialCongo
GâmbiaGuiné-Bissau
Guiné
LibériaSerra Leoa
SenegalCaboVerde
SaaraOcidental*
Zâmbia
Zimbábue
Namíbia
Independências:
Países não colonizados
* Território não autônomo
RDC
Angola
Botsuana
Sudãodo Sul
Malauí
BurkinaFaso
Comores
Figura 16 – Cronologia das independências africanas. Afrique contemporaine, 2010/3 (n. 235), Agence Française de Développement, De Boeck. Tradução: Renée Zicman. Mapa original.
Cronologia das independências africanas
43
Geografia – 3a série – Volume 2
Etapa 2 – População e urbanização
O continente africano vive um movimento
urbanizador intenso. Entre 2000 e 2007, a po-
pulação urbana aumentou a uma taxa média de
4,2% ao ano. Em 1970, existiam apenas quatro
cidades com mais de 1 milhão de habitantes na
África; em 2010, já havia 33. Nessa seção, pro-
pomos dois mapas (Figuras 18 e 19) que repre-
sentam diferentes facetas desse processo, que
Figura 17 – Tipologia das independências africanas. ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Mapa original (mantida a grafia).
Tipologia das independências africanas
44
está trazendo transformações estruturais ao
conjunto da economia e da sociedade africanas.
Leitura e análise de mapa
No Caderno do Aluno, na seção Leitura e
análise de mapa, são propostas questões que
orientam a leitura dos mapas, conforme segue.
1. Qual aspecto da urbanização africana está
representado no mapa da Figura 18?
O mapa mostra que uma grande porcentagem da população
urbana na África reside em habitações precárias, fato que reflete
a grande incidência de pobreza nas cidades. Em diversos países,
como o Mali, o Niger, o Chade, a Somália e a Etiópia, essa con-
dição atinge 90% da população urbana.
2. Qual aspecto da urbanização africana está
representado no mapa da Figura 19?
A formação de grandes áreas metropolitanas, resultantes de
um padrão urbano essencialmente concentrador. Esse fenô-
meno se verifica, por exemplo, no Golfo da Guiné.
É importante destacar que o continen-
te africano vem passando por um intenso
processo de urbanização, e as áreas com
maior densidade populacional correspondem
também aos países que apresentam taxas mais
elevadas de urbanização (60 a 80%), como
África do Sul, Botsuana, Gabão, Marrocos,
ou taxas de urbanização que estão entre 40 e
60%, como no caso do Egito, Sudão, Gana,
Costa do Marfim, Angola etc. (ver IBGE
– População Urbana, 2010. Disponível em:
<http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/
mapas_mundo/mundo_populacao_urbana.
pdf>. Acesso em: 16 jun. 2014).
NIGÉRIA
EGITO
TANZÂNIA
SUDÃO
REPÚBLICADEMOCRÁTICADO CONGO
ÁFRICA DO SUL
QUÊNIA
MOÇAMBIQUE
MARROCOS
GANA
ANGOLA
SENEGAL
MALI
ZÂMBIA
UGANDA
CAMARÕES
MADAGASCAR
COSTA DO MARFIM
Fontes: “Slums of the world: The face of urban poverty in the new millennium”, ONU-Habitat, 2003 (estimativa de 2001); base de dados Earthtrends do World Resources Institute (http://earthtrends.wri.org).
Considerando apenas as
favelas com mais de 3
milhões de pessoas
Parte da populaçãourbana vivendoem favelas
45
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Populaçãode favelas
Milhões
Mais de 90 %
Menos de 50 %
De 50 a 75 %
De 75 a 90 %
Dados não disponíveis
Figura 18 – Parte da população urbana vivendo em favelas. Cartographie, Philippe Rekacewicz, Paris. Tradução: Benjamin Potet. Mapa original.
45
Geografia – 3a série – Volume 2
Cairo
Argel
TrípoleCasablanca
Rabat
Alexandria
Kinshasa
Luanda
Cartum
AdisAbeba
Nairóbi
JohanesburgoEkurhuleni
Maputo
Antananarivo
Durban
Cidade do Cabo
Dar Es Salaam
Mbuji Mayi
Lubumbashi
Harare
Lusaka
LagosAcra
Kumasi
Lomé
DacarBamako
Ouagadougou
Conacri
Monróvia
Campala
Ibadã
Abidjan
Cano
Duala
Iaundê
Ndjamena
Brazaville
Mogadíscio
Abuja
Kaduna
Niamei
Fontes: World Urbanisation Prospect: The 2007 Revision
Database, Divisão de População das Nações Unidas; Mike
Davis, Le Pire des mondes possibles. De l’explosion urbaine
au bidonville global, 2007; Jean-Marie Cour e Serge Snrech
(dir.), « Pour préparer l’avenir de l’Afrique de l’Ouest: une
vision à l’horizon 2020 », Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico, 1998.
Futura conurbaçãodo golfo da Guiné
(com estimativa de 23milhões de habitantes
para 2015)
Mar Mediterrâneo
MarVermelho
MAURITÂNIAMALI
GUINÉ BURKINA FASO
COSTA DOMARFIM
GANATOGO
NÍGER
NIGÉRIA
CHADE
SUDÃO
REPÚBLICA
DEMOCRÁTICA
DO CONGO
GABÃO
CAMARÕES
CONGO
REPÚBLICA
CENTRO - AFRICANA ETIÓPIA
ERITREIA
DJIBUTI
SOMALILÂNDIAPUNTLÂNDIA
SOMÁLIAQUÊNIA
TANZÂNIA
RUANDA
BURUNDI
MOÇAMBIQUE
MALAUÍ
ZIMBÁBUE
MADAGASCAR
ZÂMBIA
BOTSUANA
NAMÍBIA
ANGOLA
UGANDA
ÁFRICA
DO SUL
SUAZILÂNDIA
LESOTO
EGITO
LÍBIAARGÉLIA
TUNÍSIA
SENEGAL
GÂMBIA
GUINÉ-BISSAU
BENIN
LIBÉRIA
SERRA LEOA
MARROCOS
SAARA
OCIDENTAL
Metropolização do continenteNúmero de habitantes
Milhões15
5
3
10
Estimativapara 20252007
0 1 000 km
Figura 19 – Metropolização do continente. Cartographie, Philippe Rekacewicz, Paris. Tradução: Benjamin Potet. Mapa original.
46
Figura 20 – Comércio mundial de mercadorias, 2010. ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Mapa original.
Etapa 3 – Economia africana
Esta etapa tem por objetivo demonstrar os
fluxos comerciais da África com outras regiões
do mundo – destacando a União Europeia,
a Ásia e a América do Norte como principais
mercados compradores e fornecedores do con-
tinente africano. Em conjunto com as etapas
desenvolvidas, esse percurso tem por objetivo
exemplificar para os alunos como as relações as-
simétricas entre África e Europa não se restrin-
gem ao passado histórico (tráfico de escravos e
colonização), mas também são perpetuadas ain-
da hoje perante a globalização econômica que
reproduz esquemas de dependência.
Leitura e análise de mapa
Para iniciar o trabalho, apresente aos alu-
nos a Figura 20 e solicite que identifiquem e
analisem os fluxos de comércio estabelecidos
pela África.
47
Geografia – 3a série – Volume 2
Propomos duas questões para orientar a
leitura do mapa e ampliar a discussão.
1. Considerando os fluxos representados
no mapa (Figura 20), comente a situação
da África no mercado mundial e identifi-
que os principais parceiros comerciais do
continente.
Espera-se que os alunos reproduzam os dados apresentados
no mapa e que percebam a dependência da África em seu
comércio com a Europa, continente que abriga suas antigas
metrópoles. Além disso, eles devem ressaltar os menores va-
lores correspondentes às trocas intrarregionais, ou seja, no
interior do próprio continente, tanto com relação ao forne-
cimento de mercadorias quanto como clientes entre si.
Fornecedores de produtos para a África: (1) União Europeia;
(2) Ásia; (3) Mercado interno; (4) América do Norte; (5)
Oriente Médio.
Clientes: (1) União Europeia; (2) Ásia; (3) América do Norte;
(4) Mercado interno.
2. Analise a discrepância entre as trocas co-
merciais intrarregionais da União Euro-
peia e as da África. Levante hipóteses que
possam explicar essa desigualdade.
Espera-se que os alunos apontem a ampla vantagem da
Europa no comércio intrarregional, em razão de as re-
lações comerciais ocorrerem no âmbito da União Euro-
peia, que congrega 28 países, em grande parte, ricos. A
globalização em curso e a formação de blocos econômi-
cos internacionais devem ser citadas como responsáveis
por reproduzir esquemas de dependência econômica
na África. Como uma das heranças do passado colonial,
grande parte de seus países possui economias pouco
diversificadas, exportadoras de produtos primários (agrí-
colas, minerais e petrolíferos), o que não permite romper
com o modelo financeiro que os subordina aos merca-
dos dos países consumidores. Devido a tal característica,
a África tem pequena participação na economia mundial,
ainda que suas trocas comerciais com outras regiões do
mundo estejam se desenvolvendo hoje em dia, em parti-
cular com a China, Brasil e Índia.
Por último, outra sugestão é particula-
rizar as características das exportações da
África.
As exportações africanas crescem em valor
absoluto, mas com ritmo inferior ao mun-
dial. No entanto, dados recentes, apresen-
tados em Perspectivas macroeconômicas da
África 2013a, revelam que o continente afri-
cano vem apresentando sinais de recupera-
ção econômica. Segundo este documento, “a
base do crescimento continua a ser relativa-
mente ampla, impulsionada principalmente
pela produção petrolífera e mineira, pela
agricultura, serviços e pela procura interna,
o que mitiga os efeitos adversos da turbulên-
cia global. Em muitos países, porém, o cres-
cimento manteve-se muito moderado, fruto
de um fraco desempenho das exportações e
das tensões políticas e sociais. Em média, e
excluindo as distorções causadas pela evo-
lução volátil do PIB na Líbia, o crescimento
econômico africano em 2012 registrou uma
a African Economic Outlook. Perspectivas macroeconómicas em África 2013, p. 18 e 22. Disponível em: <http://www.oecd-ilibrary.org/development/perspectivas-economicas-em-africa-2013-versao-condensada/perspectivas-macro economicas-em-africa_9789264200562-3-pt;jsessionid=75td574d6775k.x-oecd-live-02>. Acesso em: 16 jun. 2014.
48
taxa de 4,2%, sendo previsível que acelere
para os 4,5%, em 2013, atingindo 5,2%, em
2014. Esta projeção é elaborada com base
numa melhoria gradual das condições eco-
nômicas globais”. Por outro lado, “estes da-
dos significam que o crescimento africano
continuará abaixo da média registrada nos
três anos que antecederam a recessão global
de 2009, de aproximadamente 6%. Mesmo
assim, esta projeção é ligeiramente superior
à estimativa de tendência de crescimento
– 4,5% –, mas permanece abaixo dos níveis
considerados suficientes para a redução da
pobreza (7%)” .
Segundo dados da OMC (relatório 2009), a
parte dos produtos manufaturados nas ex-
portações da África Subsaariana continua
pouco expressiva, na ordem de 25%, consti-
tuída por um conjunto parco de produtos e
número restrito de países. Entre os produtos
manufaturados exportados por essa região
encontram-se os pouco transformados (pe-
dras preciosas, ferro, alumínio, prata, platina
etc.) e outros manufaturados como vestuário
(lembre-se das Ilhas Maurício e de Botsuana,
por exemplo) ou ainda automóveis (África
do Sul). Entretanto, o essencial das expor-
tações (mais de 70%) dessa grande região
permanece composto de matérias-primas
– produtos agrícolas, madeira, minerais
(bauxita, ouro, diamantes, urânio etc.) e
combustíveis. Inclusive, a exportação de
combustíveis, que representa, isoladamen-
te, mais da metade de suas exportações to-
tais, foi a que mais cresceu entre 1985 e 2000
(mais de 75%), o que atesta a importância
desse mercado fornecedor diante das dispu-
tas energéticas internacionais.
Embora as Ilhas Maurício e a África do
Sul apresentem uma diversificação de suas
economias, a maioria dos países africanos
permanece especializada na exportação
de uma pauta reduzida de produtos pri-
mários, o que contribui para que a Áfri-
ca Subsaariana mantenha a tendência
de continuar como uma reserva de maté-
rias-primas, como recursos energéticos e
produtos agrícolas, e compradora de pro-
dutos manufaturados.
Alguns países africanos subsaarianos,
como Nigéria e Angola, no primeiro decê-
nio do século XXI, apresentaram um cres-
cimento econômico muito intenso (acima
dos 10% ao ano). Os investimentos estran-
geiros na área de exploração de petróleo e
de gás natural vêm transformando parte
das economias subsaarianas, como, por
exemplo, Angola, que em 2006 cresceu cer-
ca de 17% ao ano (cf. Economic Report on
Africa, 2007. Disponível em: <http://www.
uneca.org/publications/economic-report
-africa-2007>. Acesso em: 9 abr. 2014).
Chame a atenção dos alunos para o fato
de que, apesar de a África continuar sendo
o continente com a menor participação na
captação de recursos externos, há um inte-
resse crescente da China pelo continente. Em
2002, a África tornou-se o 3o maior captador
de investimentos diretos chineses, sendo ul-
trapassada apenas pela Ásia e pela América
do Norte (cf. L’atlas de l’intégration régionale
49
Geografia – 3a série – Volume 2
en Afrique de l’Ouest). Porém, não deixe
de analisar com os alunos que tal situação
beneficia diretamente a China, que tem sido
acusada de ressuscitar uma nova etapa do
neocolonialismo na África ao utilizar o con-
tinente como base de produção e extração de
bens primários para a sua atividade indus-
trial, consolidando a divisão internacional
do trabalho e da produção.
A presença da população chinesa na
África também tem sido significativa. No
decorrer das últimas quatro décadas, o go-
verno de Pequim enviou cerca de 20 mil téc-
nicos agrícolas e especialistas de diversas
áreas para o continente. Na atualidade, a
migração de chineses para a África é sen-
sível. Apesar dos dados não serem precisos,
calcula-se que cerca de 500 mil chineses vi-
vem e trabalham no continente.
Pontue que os chineses têm sido os maio-
res investidores na África Subsaariana e que a
presença chinesa no continente data da déca-
da de 1960, quando participaram ativamente
na venda de armamentos para grupos comu-
nistas insurgentes em diversos países africa-
nos. Após as mudanças ocorridas na China
em 1978, com a abertura das Zonas Econô-
micas Especiais (ZEE’s), e principalmente no
século XXI, após o crescimento da economia
chinesa, os interesses bilaterais entre as par-
tes pautaram-se na ampliação das vendas de
manufaturados e nas compras de matérias-
-primas – principalmente petróleo e minerais
metálicos – (cf. L’atlas de l’intégration régionale
en Afrique de l’Ouest. Disponível em: <http://
www.oecd.org/fr/csao/publications/38409991.
pdf>. Acesso em: 23 jun. 2014).
Leitura e análise de gráfico
Para complementar a análise, trabalhe com
os alunos os gráficos das Figuras 21 e 22.
1. Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE)
são os capitais empresariais estrangeiros
investidos em um país. Com base nessa in-
formação, analise o gráfico a seguir.
Figura 21 – Mundo: investimentos diretos estrangeiros (IDE), por grandes regiões, 1980-2004 (em bilhões de dó-lares). Fonte: L’ATLAS du Monde diplomatique. Paris: Ar-mand Colin, 2006. p. 81.
bilhões de dólares
0
500
1 000
1 500
2 000
2 500
3 000
3 500
4 000
1980 1985 1990 1995 2000 2004Fonte: Base de dados em linha da Cnuced, 2005.
América do Norte
América do Sul
África
Europa
Ásia do Pacífico
Países da Europa Oriental e ex-URSS
Mundo: investimentos diretos estrangeiros (IDE)
Phi
lippe
Rek
acew
icz,
Le
Mon
de D
iplo
mat
ique
, Par
is.
a) O que você pode dizer a respeito do
volume de investimentos na África
no período abarcado pelo gráfico
50
Mundo: investimentos diretos estran-
geiros (IDE)?
Espera-se que os alunos percebam que a África, em 2004,
foi a região com o menor volume de Investimentos Diretos
Estrangeiros (IDE), cerca de 500 bilhões de dólares, ainda
que esses tenham aumentado praticamente quatro vezes
desde 1980. Eles possivelmente também perceberão que
esse volume diminuiu entre 2003 e 2004, o que fez com
que o IDE africano fosse menor que o dos países da Europa
Oriental e ex-União Soviética pela primeira vez desde 1980.
b) Qual a posição da África em relação
às demais regiões do mundo quanto ao
IDE? Levante hipóteses para explicar
essa situação.
A comparação do IDE africano com o das outras regiões
apresentadas no gráfico permite aos alunos perceber que,
em 1980, o IDE africano era similar ao da Ásia do Pacífico e da
América do Sul e superior ao dos países da Europa Oriental e
ex-União Soviética – que, inclusive, permaneceu nulo até a
década de 1990, em função da Guerra Fria. A partir de 1985,
o gráfico permite perceber como o IDE africano cresceu
pouco, ficando cada vez mais distante dos montantes inves-
tidos na Europa, na América do Norte, na Ásia do Pacífico e
na América do Sul (todos superiores a 1 trilhão de dólares
em 2004), e que a África é a única região, inclusive, que teve
redução no IDE de 2003 para 2004.
Para explicar essa situação, incentive o levantamento de hi-
póteses sobre a pouca expressividade do IDE africano. Ao
longo da conversa, discorra sobre algumas causas e fatores
dessa pouca expressividade, como:
o enfraquecimento dos Estados africanos em função das
heranças históricas do colonialismo e também em virtude de
fatores políticos e econômicos geradores de instabilidade in-
terna, o que impõe dificuldade para se afirmarem perante a
globalização;
o fato de a globalização em curso reproduzir esquemas
de dependência econômica na África, pois, como uma das
heranças do passado colonial, grande parte de seus países
possui economias pouco diversificadas, exportadoras de
produtos primários (agrícolas, minerais e petrolíferos), o que
não permite romperem com o modelo financeiro que os su-
bordina aos mercados dos países consumidores. Devido a tal
característica, a África tem pequena participação na econo-
mia mundial, ainda que suas trocas comerciais com outras
regiões do mundo estejam se desenvolvendo hoje em dia,
em particular com a China;
o continente africano perdeu importância geopolítica
depois do fim da Guerra Fria (1947-1989), e os reflexos se fi-
zeram sentir até mesmo na redução do montante da ajuda
humanitária, principalmente durante a década de 1990.
2. Com base nos dados do gráfico a seguir
(Figura 22) e no que você aprendeu em sala
de aula, discuta: A quem interessa mais a
parceria China-África?
O gráfico apresenta a relação do comércio bilateral entre
países africanos e a China. No eixo das ordenadas estão in-
dicados os valores porcentuais relativos às exportações rea-
lizadas para a China. Já no eixo das abscissas estão indicados
os valores porcentuais de importação. Assim, por exemplo, a
Angola exporta mais de 50% de seus produtos para a China,
ao mesmo tempo que as importações da China para a An-
gola estão em torno de 25%. Já na Nigéria, enquanto as im-
portações da China estão em torno de 15%, as exportações
são praticamente nulas. Outro dado interessante que o grá-
fico traz é o valor (em milhões de dólares) do total das tran-
sações ocorridas no comércio bilateral, ou seja, a somatória
entre as exportações e importações. Utilizando os mesmos
exemplos, podemos observar que o comércio bilateral
entre a China e a Angola resultou em 23,5 milhões de dó-
lares. Na Nigéria ficou em torno de 10 milhões de dólares.
Tendo em vista os dados do gráfico, pode-se concluir que a
China se beneficia muito mais desta relação comercial, pois
tem assegurado tanto importantes remessas de produtos
quanto mercado consumidor.
51
Geografia – 3a série – Volume 2
23,5
8
2
0,1
10
20
30
40
50
60
10 20 30 40
Angola
Guiné Equatorial
Camarões
África do Sul
Etiópia
Tanzânia
Gana
Madagascar
Porção das exportações para a China (em %)
Porção das importações vindas da China (em %)
Peso do comércio bilateral
com a China em 2008
(importações + exportações)
(em bilhões de dólares)
Gabon
Zambie
Burkina
Gabão
Zâmbia
Burkina
República
Democrática
do Congo
Mauritânia
Sudão
Togo
Benin
Mali
1. Serra Leoa
R. centrafricaine
Kenya
Ouganda
Burundi
Mozambique
Zimbawe
Sénégal
Côte d’Ivoire
Maurice
Tchad
Quênia
Uganda
Burundi
Moçambique
Zimbábue
Senegal
Costa do Marfim
Maurício
Chade
Níger
Guiné
Nigéria
RepúblicaCentro-Africana
Fonte: Compilação de Jean-Raphaël Chaponnière segundo o FMI, direction of Trade Statistics
Comércio bilateral dos países africanos com a China
Ate
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gra
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bri
l 201
0
1
Figura 22 – Comércio bilateral dos países africanos com a China. ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/afrique-et-chine-commerce-bilat-ral>. Acesso em: 16 jun. 2014. Tradução: Benjamin Potet.
52
Finalizando essa etapa, propomos uma se-
ção Desafio! no Caderno do Aluno. Com base
no infográfico da Figura 23 que aborda as rela-
ções entre a África e as outras regiões do mundo
considerando aspectos econômicos e culturais,
os alunos deverão produzir uma pequena disser-
tação que sintetize essas relações. É importante
que eles mencionem em seu texto não apenas os
fluxos de investimentos que chegam e de maté-
rias-primas que partem, mas também os fluxos
migratórios (inclusive de trabalhadores qualifi-
cados), de produtos culturais, de ajuda para o
desenvolvimento, entre tantos outros. Trata-se
de uma oportunidade para pensar a África inse-
rida no processo de globalização, que já foi am-
plamente discutido com os estudantes.
Matérias-prim
as – Minerais - Petróleo
P
etró
leo
– C
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ros
- A
rtes
Matérias-prim
as
Animais
exóticos
Estudantes - Diplomatas
Ilusão do NEPAD
Apoio a regimes autoritários
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*Documentos de estratégia de redução da pobreza
Matérias-prim
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Investimento
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Matérias-prim
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Investimentos
Investimentos
Matérias-prim
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DERP*FMI – Falsa democracia
InvestimentosAjuda para o desenvolvimento
Paz ilusória - Empréstim
os e dívidas – Investimentos - Rem
essas de fundos dos migrantes –
Ajuda para o desenvolvimento – Especuladores
Cin
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Minerais
Estudantes – Intelectuais – Trabalhadores qualificados – Cérebros – Músicos - D
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Investimentos
Ajustamentos estruturais
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Petróleo - M
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Figura 23 – Cartographie, Philippe Rekacewicz, Paris. Tradução: Benjamin Potet.
53
Geografia – 3a série – Volume 2
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 4 ÁFRICA E AMÉRICA
Esta Situação de Aprendizagem parte do
resgate de conteúdos básicos sobre o tráfico de
escravos e a inserção da África nesse comércio
atlântico. A partir daí, a discussão é trazida para
a contemporaneidade brasileira, com enfoque
mais específico nas questões do racismo e de
sua criminalização, como também da influência
da cultura hip-hop, ancorada nos movimentos
negros dos Estados Unidos, como forma de ex-
pressão social e artística da juventude brasileira.
Conteúdos: inserção da África no comércio atlântico de escravos e sua influência sociocultural no Bra-sil; preconceito étnico-racial no Brasil e a criminalização do racismo; o movimento hip-hop e a cultura jovem no Brasil.
Competências e habilidades: distinguir por meio de mapas a espacialidade das rotas transatlânticas do tráfico negreiro entre os séculos XVI e XIX, como também as dimensões e os destinos, para identificar sua influência na evolução demográfica da África no mesmo período; ponderar razões histórico-geo-gráficas e socioeconômicas que aproximam as nações africanas da brasileira; ler e analisar as razões e implicações da legislação que prevê a criminalização do racismo no Brasil; interpretar e produzir materiais acerca de movimentos culturais.
Sugestão de estratégias: leitura e interpretação de imagens, mapas e gráficos; aulas expositivas dialo-gadas; leitura, interpretação e debate com base em excertos de legislação; produção e apresentação de expressões da cultura hip-hop.
Sugestão de recursos: litografia; foto; mapas; gráfico; textos.
Sugestão de avaliação: participação individual nas discussões; elaboração e entrega do texto disserta-tivo solicitado (artigo de opinião).
Etapa 1 – O movimento de escravos e a evolução da população africana
Inicialmente, sugerimos trabalhar com
mapa e gráfico em aula expositiva dialogada
com o objetivo de recuperar, ao menos de for-
ma mínima, certos conteúdos estudados nas
aulas de História e Geografia em séries anterio-
res sobre o comércio transatlântico de escravos
africanos. Tal procedimento é essencial para
preparar e dar sentido para a problematização
que será desenvolvida na sequência. Portanto,
observando o que se pretende construir, explore
os títulos e legendas das Figuras 24 e 25 e teça
comentários adicionais que poderão contribuir
para a leitura e interpretação dos alunos.
É interessante ressaltar que a África esteve
submetida a vários séculos de escravidão e que,
mesmo antes da descoberta da América, os
portugueses foram os primeiros europeus a uti-
lizar escravos. Os escravos procediam das trocas
comerciais e dos fortes estabelecidos na costa
africana. Posteriormente, a partir do século XV,
54
Figura 24 – Tráfico atlântico de escravos: dimensões e destinos (séculos XV-XIX). ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Mapa original.
com a colonização das Américas por diversos
povos europeus, ocorreu o desenvolvimento
do tráfico de escravos, intensificando a explo-
ração da costa africana. Essa passou a ser fre-
quentada por traficantes, piratas e mercadores
europeus que montaram feitorias no litoral, onde
Tráfico atlântico de escravos: dimensões e destinos
os africanos aprisionados esperavam os navios
tumbeiros ou negreiros, que levavam os prisionei-
ros como carga humana pelas rotas transatlânti-
cas. É oportuno identificar as principais regiões
de origem dos escravos nos séculos XVI a XIX,
como o delta do Rio Níger, o Congo e Angola.
55
Geografia – 3a série – Volume 2
Figura 25 – Evolução da população na África 1750-2012. Fonte de dados: NAÇÕES UNIDAS. Divisão Populacional. Departamento de Negócios Econômicos e Sociais. Secretariado das Nações Unidas. The world at six billion, 1999. Disponível em: <http://www.un.org/esa/population/publications/sixbillion/sixbillion.htm>; World Population, 2012. Disponível em: <http://www.un.org/en/development/desa/population/publications/pdf/trends/WPP2012_Wallchart.pdf>; World Population Prospects: the 2012 Revision. Disponível em: <http://esa.un.org/wpp/>. Acesso em: 9 abr. 2014.
Evolução da População na África, 1750-2012
População (em milhões)
106
1750
107
1800
111
1850
133
1900
221
1950
808
2000
912
2005
1032
2010
1111
2012
Leve também os alunos a observar no mapa
que inúmeros povos africanos foram inseridos
no chamado comércio triangular, basicamen-
te como fornecedores de mão de obra escrava
para as colônias americanas e antilhanas.
Complemente essa análise com a informa-
ção de que não se sabe ao certo o número exa-
to de escravos que foram transportados pelo
Atlântico. Os levantamentos apontam para
números que variam entre 10 e 50 milhões. De
todo modo, o número é expressivo e demons-
tra a enorme influência cultural nos países que
receberam esses escravos.
Leitura e análise de mapa e gráfico
Para explorar os dados do mapa e do
gráfico (Figuras 24 e 25), no Caderno do Alu-
no, sugerimos as questões a seguir.
1. Observe o conjunto de mapas apresentados.
a) Quais eram as principais rotas dos na-
vios negreiros em cada período do co-
mércio de escravos?
De acordo com o mapa, as rotas de saída indicam a costa do
Senegal, o Golfo da Guiné, o Congo e a Angola. As principais
regiões de entrada correspondem inicialmente à região do
Mar do Caribe, que absorveu grande parte da mão de obra
escrava no século XVIII, e a costa brasileira, por causa do uso
da mão de obra escrava no cultivo da cana-de-açúcar, nos
séculos XVI e XVII. A partir do século XIX, intensificou-se a
entrada na porção Sudeste do Brasil, área de predomínio da
agricultura cafeeira, e mantinha-se a entrada de escravos na
região do Mar do Caribe.
56
b) Qual o período em que o tráfico foi mais
intenso? Estime o número de escravos
transportados em cada período e no total.
Só pela observação dos mapas, é possível ao aluno perceber
que o tráfico foi mais intenso no século XVIII, dada a grande
seta direcionada ao Caribe. Ainda assim, espera-se que os
alunos calculem ou estimem o número de escravos transpor-
tados em cada período, chegando às seguintes conclusões:
Séculos XV-XVI: 500 mil.
Século XVII: 3 milhões.
Século XVIII: aproximadamente 7,2 milhões.
Aqui, os alunos podem estimar que, pela espessura das setas
finas na coleção de mapas, as duas setas finas representadas
nesse mapa saindo de Zanzibar e de Luanda equivalham a
100 mil cada uma.
Século XIX: 4,207 milhões.
Total: aproximadamente 15 milhões (14,907 milhões).
c) O que significou para a composição da
população das Américas a entrada desse
volume de pessoas africanas?
O grande fluxo de africanos teve papel significativo na com-
posição de países americanos, como nos Estados Unidos da
América e no Brasil, e preponderante em muitas nações do
Mar do Caribe, como Jamaica e Cuba. Os africanos trou-
xeram sua cultura, seus hábitos, suas crenças, entre outros
elementos que influenciaram a formação cultural dessas
populações, que apresentaram grande miscigenação com o
colonizador europeu.
2. Observe o gráfico (Figura 25) e compare-o
com o conjunto de mapas Tráfico atlânti-
co de escravos: dimensões e destinos (Fi-
gura 24). Interprete os dados do gráfico
considerando o período de escravidão e,
principalmente, a evolução da população
após 1850.
Entre 1750 e 1850, período em que o tráfico ainda estava vi-
gente, a população residente no continente africano foi pra-
ticamente a mesma. Após 1850, com a proibição do tráfico
de escravos no Brasil e a abolição da escravatura nos Estados
Unidos da América, a população do continente passou a ter
crescimento expressivo, alcançando, na primeira década do
século XXI, mais de 1 bilhão de habitantes.
Etapa 2 – África e Brasil: cultura e legislação
Com o objetivo de despertar o interesse
dos alunos para o estudo do tema central que
será abordado, propomos a leitura de imagens
(como as Figuras 26 e 27), com o intuito de
avivar a curiosidade dos alunos para as rela-
ções entre África e América.
Leitura e análise de imagem
Solicite que façam a leitura das imagens,
presentes também no Caderno do Aluno, e
apontem algumas diferenças entre a situação
social dos negros retratada em cada uma delas.
Figura 26 – Litografia Marché aux nègres, de Johann Moritz Rugendas. Fonte: RUGENDAS, J. M. Viagem pitoresca atra-vés do Brasil. Alemanha: Engelmann, 1835.
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57
Geografia – 3a série – Volume 2
Figura 27 – Integrantes do Movimento Negro de Ribeirão Pre-to (SP) realizam uma marcha pelo centro da cidade para mar-car o Dia da Consciência Negra, 2012.
Espera-se que os alunos destaquem que a primeira ima-
gem é representativa do período da escravidão no Brasil,
em que se mostra a população africana cativa sendo ne-
gociada no mercado de escravos. Já a segunda imagem
mostra o movimento negro organizado, em marcha pelo
reconhecimento de direitos e pela igualdade.
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ÃO
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O preconceito e a luta pelos direitos
O tema desta Situação de Aprendizagem
permite que se discutam vários aspectos li-
gados à condição dos afrodescendentes na
atualidade no Brasil e nos demais países
americanos de passado escravista. Sugeri-
mos promover um debate sobre a questão
do preconceito em nosso país. Inicie a dis-
cussão apresentando aos alunos excertos de
dois documentos legais: o artigo 5o, inciso
XLII, da Constituição de 1988, que acerta-
damente caracteriza o racismo como crime
hediondo, inafiançável e imprescritível; os
artigos 1o e 20 da Lei no 7.716, de 5 de janei-
ro de 1989, que define os crimes resultantes
de preconceito de raça ou de cor. Levante
também a questão de como em nossa socie-
dade o preconceito velado está presente em
nosso dia a dia.
Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988
[...] TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5o – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
[...]
58
Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989 – DOU, 06/01/1989 (Redação dada pela Lei no 9.459, de
13 de maio de 1997)
Define os Crimes Resultantes de Preconceitos de Raça ou de Cor.
Art. 1o – Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou pre-conceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. [...]
Art. 20 – Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
[...]
Essa reflexão está encaminhada no Cader-
no do Aluno na seção Desafio!. Para aprofun-
dar a leitura do trecho, sugerimos a seguinte
atividade.
A partir da leitura do texto, escreva um ar-
tigo de opinião. Imagine que ele será publica-
do em um jornal de grande circulação. O tema
proposto pela editoria do jornal é o seguinte:
A criminalização do racismo é a única for-
ma de garantir aos negros e às demais mino-
rias étnicas os direitos previstos no art. 5o da
Constituição Federal de 1988?
Escreva seu texto em uma folha avulsa.
Um artigo de opinião é um gênero carac-
terístico da esfera jornalística que privilegia
a defesa de uma posição diante de uma con-
trovérsia. Para elaborá-lo, considere os se-
guintes procedimentos:
ler e tomar contato com pontos de vista
distintos, registrando os argumentos que
avalie pertinentes para, posteriormente,
utilizá-los na defesa ou fundamentação da
opinião que irá desenvolver;
não perder de vista, durante a elaboração do
artigo de opinião, seus prováveis leitores ou
interlocutores, o que exige a adequação da lin-
guagem (vocabulário, estilo, pontuação etc.);
organizar os principais tópicos do artigo
desenvolvendo-os em seguida, ou seja, as-
sociando novas ideias e argumentos capa-
zes de fundamentá-los, exemplificando ou
ilustrando as afirmações principais com
fatos e acontecimentos que corroboram o
ponto de vista defendido;
ter o cuidado de concluir o artigo em sinto-
nia com o sentido da argumentação enca-
deada ao longo do texto;
criar um título que desperte o interesse e
a curiosidade dos leitores, adequado ao
teor da posição ou opinião assumida no
artigo;
formatar o artigo em colunas, colocando
entre elas algumas chamadas que repre-
sentem pequenos e expressivos trechos do
texto elaborado, fornecendo, desse modo,
59
Geografia – 3a série – Volume 2
uma visualização mais clara e imediata
para o leitor dos argumentos apresentados.
Espera-se que este exercício contribua para que os alunos de-
senvolvam a habilidade de argumentar consistentemente tan-
to para defender a lei quanto para criticá-la. Soma-se a isso a
habilidade da produção de texto, principalmente consideran-
do-se as recomendações quanto ao gênero que se pretende.
Objetiva-se, portanto, que os alunos ampliem ao máximo sua
compreensão acerca do instrumento legal, e que desenvol-
vam uma posição crítica em relação ao tema, com o intuito de
aprimorar a autonomia intelectual e pessoal.
Os alunos deverão perceber que o texto da lei é bastante
rigoroso quanto ao seu objeto. Embora essa legislação re-
presente um avanço e um instrumento na luta para acabar
com o preconceito racial, poucas são as pessoas punidas
por comportamentos preconceituosos e racistas. Isso signi-
fica que esse instrumento, ainda que fundamental, é insufi-
ciente para garantir aos negros e às demais minorias étnicas
os direitos previstos na Constituição de 1988.
O movimento hip-hop e a cultura jovem
Há muitas formas de reconhe-
cer a influência africana em
nossa cultura e na dos demais
países da América em que vigorou a escravi-
dão. Nesse sentido, sugerimos que os alunos
façam uma pesquisa, proposta no Caderno
do Aluno na seção Pesquisa individual, ten-
do como base o mapa Tráfico atlântico de
escravos: dimensões e destinos (Figura 24).
Solicite aos alunos que escolham um dos
países americanos para os quais os africa-
nos foram trazidos e pesquisem em fontes
diversas alguns exemplos da influência cul-
tural africana no país escolhido.
Além disso, sugerimos também o trabalho
com uma dessas influências: a cultura hip-hop
e suas diversas manifestações (rap, grafite e
break dance), que tiveram origem no movimen-
to negro nos Estados Unidos, mas que toma-
ram proporções mundiais, inclusive influindo
diretamente nos movimentos jovens brasileiros.
A sua inserção no Brasil se deu principalmente
nas grandes cidades, como forma de protesto
acerca das condições sociais e étnico-raciais de
parte da população brasileira.
Na atividade de Pesquisa em gru-
po do Caderno do Aluno, propo-
mos aos alunos a montagem de
grupos para que promovam a expressão da cul-
tura hip-hop em sala de aula. Caberá a cada um
dos grupos escolher, pesquisar e apresentar
para a sala atividades referentes ao break dan-
ce, ao grafite e ao rap. Os alunos podem tanto
pesquisar materiais produzidos por artistas li-
gados a esse movimento, quanto eles mesmos
podem criar suas apresentações, de modo a ex-
pressar a forma como veem e sentem as rela-
ções sociais em sua comunidade.
60
xos da globalização (materiais e imateriais), cujo
aspecto geográfico é o meio técnico-científico-
-informacional, aborda-se o comércio interna-
cional de mercadorias como um dos principais
fluxos materiais, enfatizando algumas causas de
seu incremento no atual período histórico.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5 OS FLUXOS MATERIAIS
Esta Situação de Aprendizagem resgata e
aprofunda os conteúdos e conceitos desenvol-
vidos na 1a série do Ensino Médio, objetivo
também perseguido nas demais Situações que
integram este Caderno. Em particular, após
apresentar e discutir os principais tipos de flu-
Conteúdos: retomada e aprofundamento dos principais fluxos da globalização (materiais e imateriais), cujo meio geográfico é o técnico-científico-informacional; comércio internacional de mercadorias como um dos principais fluxos materiais, com ênfase para algumas causas de seu incremento na atualidade.
Competências e habilidades: extrair informações sobre a distribuição das principais redes de fluxos materiais, indicando áreas de concentração e distribuição dos mesmos.
Sugestão de estratégias: pesquisa em jornais e revistas; estudo do meio e relatório de pesquisa; trabalho conceitual com excerto de texto; leitura e interpretação comparadas de tabelas e mapa temático sobre o comércio mundial; aula expositiva dialogada.
Sugestão de recursos: jornais; revistas; material didático adotado.
Sugestão de avaliação: entrega dos relatórios de pesquisa e/ou estudo do meio.
Etapa prévia – Sondagem inicial e sensibilização
Para dar início ao desenvolvimento das
noções de rede e fluxo, relacionando-as, em
geral, ao processo de globalização e, em parti-
cular, ao sistema de transportes e ao comércio
internacional de mercadorias – dois exemplos
significativos de fluxos materiais –, sugerimos
a atividade a seguir, presente na seção Para
começo de conversa, no Caderno do Aluno,
que propõe a leitura de dois textos, com o in-
tuito de motivar os alunos a se engajar no es-
tudo desses conteúdos.
61
Geografia – 3a série – Volume 2
Os fluxos de transporte
Ao longo do século XX, os meios de transporte passaram a ser bem mais rápidos, encurtando as distân-
cias entre os continentes. No início do século XX, o transporte de mercadorias e de pessoas era realizado
por navios que faziam o percurso entre Londres e Nova Iorque em sete dias. Até 2003, era possível realizar
essa mesma viagem, utilizando aviões supersônicos, em três horas e meia. Hoje, em virtude de problemas
de segurança de voo – e também ambientais –, esses aviões não estão mais operando em voos comerciais,
sendo usados apenas em operações militares. Mesmo assim, essa aceleração tem um papel fundamental,
ao ampliar as redes de comércio mundial, com a distribuição de produtos e peças a todos os cantos do
mundo. Tanto a rapidez quanto o volume de mercadorias atingiram uma escala global. Produtos feitos
na China, por exemplo, são embarcados e vendidos no Brasil, na França e no Paraguai, simultaneamente.
Referência
KRAJEWSKI, Angela Corrêa. O trabalhador, as tecnologias e a globalização. In: MEC; Inep. Ciências humanas e suas tecnologias – Livro do estudante: ensino médio: Encceja. Brasília: MEC/Inep, 2002. p. 171-172.
Elaborado por Angela Corrêa da Silva especialmente para o São Paulo faz escola.
1. Em que medida a modernização do sis-
tema de transporte pode agilizar a distri-
buição de mercadorias e contribuir para a
diminuição dos custos finais de produção?
Espera-se que os alunos apresentem como argumento a am-
pliação da capacidade de carga dos navios, responsável por
facilitar o transporte e baratear custos, a modernização nas
formas de armazenamento para transportes com o uso de
contêineres, que evitam perdas, e a ampliação da velocidade,
que diminui o tempo de distribuição das mercadorias.
2. Tomando por base as mercadorias apre-
sentadas na listagem a seguir, identifique
quais meios de transporte são os mais
adequados para transportá-las e distribuí-
-las até o seu destino final, considerando
a logística do sistema de transportes e o
custo desse sistema no Brasil.
1. Marítimo
2. Oleoduto
3. Aeroviário
4. Ferroviário
5. Rodoviário
a) Soja 1-4-5
b) Aço para exportação 1-4
c) Petróleo 1-2-5
d) Peças de computador 3-5
e) Alimentos industrializados 5
3. Leia o texto a seguir e responda às questões
propostas.
Fluxos materiais e imateriais
Os meios de transporte, o comércio e a distribuição de mercadorias representam exemplos de
fluxos materiais, pois essa gama de objetos possui materialidade e volume. Os sistemas técnicos
que dão fluidez ao espaço geográfico não são os únicos incorporados ao território de um país
62
a) Diferencie os fluxos materiais dos
imateriais.
Espera-se que os alunos percebam que os fluxos materiais
são aqueles representados por objetos que possuem ma-
terialidade e volume e, portanto, compõem uma imensa
variedade de sistemas de infraestrutura e de mercadorias
– por exemplo, produtos agrícolas, minerais e industrializa-
dos –; e os fluxos imateriais são aqueles disseminados pelos
meios de comunicação e informação, como a internet –
por exemplo, redes sociais e lojas virtuais –, a comunicação
via satélite e a telefonia, e que influem em nossas vidas e
alteram a nossa economia, mas que não são palpáveis e,
portanto, não têm materialidade.
b) Apresente exemplos representativos da
interdependência entre os fluxos mate-
riais e imateriais.
Como o próprio texto destaca, na atualidade, há uma relação
de interdependência entre os fluxos materiais e imateriais.
Se, por um lado, toda a infraestrutura dos setores de comu-
nicação e informação compõe-se de uma base material, que
compreende satélites, fiações, cabos submarinos etc., por
outro, o que por elas é disponibilizado resulta em fluxos ima-
teriais e que são utilizados pelas mesmas empresas responsá-
veis por fabricar todas essas tecnologias. É possível destacar
também que os fluxos imateriais são importantes meios de
comercialização de fluxos materiais (comércio on-line).
no mundo moderno. Na atualidade, o avanço das tecnologias da comunicação e da informação
delineou uma variedade de novos sistemas responsáveis por dar corpo aos denominados fluxos
imateriais. Para o sociólogo Manuel Castells, essa imaterialidade manifesta-se pela enorme di-
versidade de transações feitas por meio da telefonia e da internet, principais responsáveis pela
disseminação da comunicação e da informação. A telefonia e a internet podem ser consideradas
o verdadeiro tecido de nossas vidas, pois, atualmente, a tecnologia da informação provocou mu-
danças tão significativas quanto a eletricidade o fez na era industrial.
Na verdade, ao analisar as dinâmicas desses fluxos, chegamos à conclusão de que há uma
interdependência total entre esses inúmeros sistemas: a base material de grande parte do sistema
produtivo não funcionaria hoje sem os sistemas que dão virtualidade ao espaço. Como exem-
plo, podemos assegurar que uma parcela considerável da logística dos sistemas de transporte e
distribuição de mercadorias está intimamente ligada à rede de conexões on-line, o que agiliza a
distribuição de bens pela internet, acelerando os mais diferentes fluxos de distribuição. Dessa
forma, é possível afirmar que os fluxos materiais e imateriais ligam-se à mesma teia, formando
uma grande rede relacional “energizada” pela internet, que disponibiliza uma enorme variedade
de transações tanto econômicas quanto culturais.
Elaborado por Angela Corrêa da Silva especialmente para o São Paulo faz escola.
63
Geografia – 3a série – Volume 2
c) Cite exemplos de transações econômi-
cas e culturais disponibilizadas pelos
fluxos imateriais e que influem direta-
mente na vida de cada um de nós.
Na atualidade, a rede bancária funciona interconectada e há
uma infindável gama de transações financeiras realizadas por
essas instituições. Além disso, as bolsas de valores do mundo
inteiro operam em conexão e influem na economia dos mais
diferentes países. Também todo o setor do e-commerce só
existe em função de ser disponibilizado on-line. Esses são
exemplos econômicos. Porém, há uma variedade de transa-
ções que ocorrem por meio do fluxo imaterial que não po-
dem ser consideradas exclusivamente econômicas, pois são
também culturais. Este é o caso dos contatos por e-mail, das
relações que se estabelecem nas redes sociais, das transações
de músicas em mp3, de filmes na internet etc.
Etapa 1 – O meio técnico-científico--informacional
Após o trabalho com os conceitos dos
fluxos materiais e imateriais e o enten-
dimento do funcionamento da rede de
transportes, pondere com os alunos que
mudanças tecnológicas importantes têm
ocorrido de maneira cada vez mais acelera-
da nas últimas décadas. Caso avalie opor-
tuno, trate esse aspecto o mais próximo
possível do trabalho com conceitos, recor-
rendo a um ou mais excertos de textos de
geógrafos.
Leitura e análise de texto
1. Para ilustrar, propomos a leitura do texto
O espaço geográfico como sistema técnico,
presente no Caderno do Aluno, e a elabo-
ração de uma síntese destacando as prin-
cipais ideias nele apresentadas.
O intuito é fazer com que os alunos percebam como o meio
geográfico é cada vez mais impregnado de técnica, ciência
e informação, o que nos permite falar na formação de um
meio técnico-científico-informacional neste período his-
tórico da globalização, conforme os pressupostos defendi-
dos pelo geógrafo Milton Santos. Em síntese, comente que
o meio técnico-científico-informacional constitui o meio
geográfico característico do atual período histórico e, como
o próprio nome indica, é composto de sistemas de objetos
(estradas, aeroportos, fábricas, redes de internet) altamente
modernizados, que permitem uma grande fluidez ou mobi-
lidade aos produtos e aos fluxos de informação das grandes
corporações transnacionais.
O espaço geográfico como sistema técnico
As diversas habilidades humanas concretizadas pelo saber-fazer de cada um de nós foram
classificadas ao longo do tempo como “técnica”. Originária do termo grego tekhné, “técni-
ca” refere-se à capacidade de atuar na vida social, nos seus mais diferentes aspectos – tanto
no que se refere à sustentação material da vida, exemplificada pela produção, quanto em
relações sociais, como atividades artísticas, culturais ou esportivas. As técnicas permeiam a
vida social no seu conjunto, desde o momento em que se formaram as primeiras sociedades.
Assim, as técnicas são elementos componentes e constituintes das sociedades.
64
Historicamente, as técnicas antecederam as ciências. Uma de suas principais caracterís-
ticas é constituir-se em objetos. Vale a pena lembrar que objeto não é simplesmente uma
determinada coisa. O sentido aqui atribuído ao termo refere-se a tudo o que é concebido pelo
ser humano para ter uma função. Se você procurar a definição de “objeto” em um dicionário,
encontrará a seguinte explicação: toda coisa material que pode ser apreendida pelos sentidos.
E todos os objetos são feitos com o uso de técnicas. Portanto, todos os objetos são técnicos.
Com base nessas definições, pode-se concluir que o espaço geográfico é constituído de uma
grande quantidade de objetos técnicos. Uma estrada é um objeto técnico, assim como
uma indústria também o é (ou, melhor ainda, é um conjunto coerente de objetos técnicos).
Ao aprofundar um pouco mais a reflexão sobre os resultados da presença de objetos téc-
nicos no espaço geográfico, concebe-se este como espaço relativo, opondo-se à ideia de espaço
absoluto. Ao contrário do espaço absoluto, o espaço relativo não é um vazio ou extensão que
vai sendo preenchido e que tudo contém. Inspirado nas teorias relativistas de espaço de Leibniz
e de Einstein, por exemplo, ele é tido como concreto, onde a matéria está sempre presente –
mesmo que só na forma de energia – e em constante mutação. Deriva daí a ideia de que o es-
paço está em expansão, e de que suas leis variam conforme a relação entre as coisas materiais
que o constituem. Logo, as coisas materiais estão em interação, e não apenas ocupando um
lugar no espaço.
Assim, transportando a concepção de espaço relativo para o campo da Geografia, pode-se
dizer que os objetos técnicos introduzidos no espaço geográfico passam a constituí-lo, e não
apenas ocupam lugares. Um exemplo: a introdução de uma usina hidrelétrica em uma área
qualquer de um espaço muda as relações existentes entre todos os objetos que o compunham
anteriormente. Agora esse espaço não pode mais ser entendido sem a usina hidrelétrica. O
espaço geográfico dessa área contém uma usina hidrelétrica e todas as modificações ocasiona-
das por ela. Desse modo, a usina não é um objeto externo ao espaço geográfico; ela não está
no espaço, ela é espaço. Esse raciocínio é de fundamental importância para que se compreen-
da o mundo em que vivemos.
Meio técnico-científico-informacional
Em muitos casos, os termos “técnica” e “tecnologia” são utilizados como sinônimos. Po-
rém, eles não são a mesma coisa e, portanto, é fundamental fazer essa distinção. Diferente-
mente de “técnica”, o termo “tecnologia” resulta da junção das palavras gregas tekhné e logos.
Considerando apenas o termo tekhné, o seu sentido estará restrito às habilidades manuais, ou
65
Geografia – 3a série – Volume 2
seja, ao saber-fazer. Com a inclusão do logos, que significa discurso ou pensamento organi-
zado, o termo “tecnologia” sugere o pensamento organizado sobre as técnicas. Mas, como a
maioria dos conceitos, a tecnologia teve diversos significados ao longo da história. Hoje essa
palavra nos remete à eletrônica, à informática, a satélites, a robôs e a outras coisas do gênero.
Muitos adjetivos são adicionados para qualificá-la – tecnologia de ponta, limpa, alternativa,
destrutiva e outras. Mas o que é de fato tecnologia?
Para o historiador brasileiro Ruy Gama, a tecnologia pode ser considerada uma forma
científica de sistematizar os conhecimentos relacionados às técnicas. Existe no mundo moder-
no um desenvolvimento de técnicas que resulta da ciência institucionalizada (pesquisa cien-
tífica sistematizada). Logo, na atualidade, a ciência, mudando o curso da história, vem antes
da técnica. A tecnologia não deixa de ser técnica, mas sua origem está intimamente ligada à
pesquisa científica.
De forma resumida, as técnicas são um saber-fazer aprendido na prática e transmitido de
geração a geração ao longo da vida cotidiana, enquanto as tecnologias representam um saber
vinculado à ciência moderna.
Destacamos no início deste texto que o espaço geográfico é, em grande medida, constituí-
do por objetos técnicos. Pode ser considerado um meio técnico. Ocorre que esses objetos téc-
nicos podem ser produto tanto da técnica no sentido restrito como das tecnologias modernas.
O predomínio de um tipo de objeto sobre outro, ou melhor, a trama que resulta desse conjun-
to de objetos técnicos de origem distinta é uma das bases explicativas das diferenças regionais.
A virada do século XX para o XXI constituiu-se um momento único e especial da história
da humanidade, pois foi a primeira vez que o planeta, em sua totalidade, passou a se apresen-
tar aos nossos olhos de forma simultânea. O ser humano adquiriu a possibilidade de conhecer
melhor o conjunto dos recursos naturais e de acompanhar as transformações em todos os
territórios quase no mesmo instante em que elas estão acontecendo.
Esse quadro inédito de conhecimento deve-se ao fato de o espaço geográfico estar receben-
do cada vez mais objetos tecnológicos, organizados como sistemas articulados e dependentes
entre si. Assim se faz, por exemplo, o sistema tecnológico de telecomunicações, estruturado
com base em um conjunto complexo de aparelhos e instalações que vão até a órbita terrestre
(e que inclui cabos marítimos e terrestres, torres de transmissão, satélites etc.). A própria
atmosfera está hoje ocupada e controlada pelo engenho técnico humano, como mostra a
imagem dos detritos espaciais em volta da Terra.
66
Portanto, o conhecimento global do planeta é um dos aspectos-chave na virada do século. Ele se harmoniza com outros elementos de nossa época, tais como a globalização – marcada pela transna-cionalização de setores hegemônicos da economia e dos territórios (espaços globalizados) e por um extraordinário aumento da escala geográfica das relações humanas. Todos esses fenômenos se anco-ram em uma verdadeira revolução técnico-científi-ca, que vem se generalizando intensamente após a 2a Guerra Mundial. Por intermédio das empresas transnacionais e de alguns países, valores maciços de capital são investidos na pesquisa científica, com o objetivo de aplicar seus resultados no sis-tema produtivo e em todos os seus subsistemas de apoio. São exemplos: o conhecimento das fontes de matérias-primas, o controle das informações, das comunicações e dos transportes etc. É por essa razão que podemos afirmar que estamos vivendo um período técnico-científico.
O sistema produtivo global baseado nas tecnologias modernas induz uma organização do espaço geográfico com grande conteúdo técnico-científico. A característica essencial desses espaços com grande conteúdo técnico-científico é sua capacidade de se articular a pontos territoriais das empresas localizadas em outros extremos do planeta. Logo, passam a ser ca-pazes de emitir e receber informações estratégicas de todos os tipos – científicas, financeiras, políticas etc. Essa é uma das razões pela qual o geógrafo Milton Santos identificou esses espaços como meio técnico-científico-informacional. Essa é a tendência para a qual caminha a organização do espaço geográfico. Em outras palavras, o espaço foi transformado em um grande sistema técnico com alto teor de ciência e informação.
Sem esse entendimento do espaço como sistema técnico, ao mesmo tempo suporte e condi-cionante das interações socioeconômicas em um dado território, as análises geográficas ficam empobrecidas. Fecha-se a porta para se perceber modificações que esse aumento de tecnolo-gia produz no espaço geográfico, alterando a nossa própria percepção de tempo e de espaço. Tem-se a sensação de que o espaço estaria “diminuindo” – pois as velocidades para percorrê--lo e travar relações são enormes, atingindo em alguns casos a instantaneidade – e de que os tempos de hoje estão acelerados, estabelecendo, de certo modo, uma tirania da rapidez. Mas por que tirania? Porque os meios para atuar com maior rapidez nas relações socioeconômicas são acessíveis a poucos, sendo, portanto, fonte de poder e dominação.
Elaborado por Jaime Oliva e Angela Corrêa da Silva especialmente para o São Paulo faz escola.
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Figura 28 – Representação gráfica dos detritos espa-ciais em volta da Terra, c. 1989.
67
Geografia – 3a série – Volume 2
Espera-se que os alunos destaquem os seguintes pontos:
Habilidades humanas: saber-fazer.
Técnica – origem grega (tekhné): capacidade de atuar
na vida social, nos seus mais diferentes aspectos; sustentação
material da vida; produção.
Relações sociais: atividades artísticas, culturais ou es-
portivas. São elementos componentes e constituintes das
sociedades.
Na história (as técnicas antecederam as ciências):
constitui-se em objetos tudo o que é concebido pelo
ser humano para ter uma função – toda coisa material
que pode ser apreendida pelos sentidos. Os objetos são
técnicos.
Espaço geográfico: constituído de objetos técnicos (ex.:
estrada, indústria etc.) construídos sobre a base física.
Espaço relativo (opõe-se à ideia de espaço absoluto): es-
paço relativo não é um vazio ou extensão a ser preenchida,
é tido como concreto, onde a matéria está sempre presente
– mesmo que só na forma de energia – e em constante mu-
tação. Ideia de que o espaço está em expansão leis variam
conforme a relação entre as coisas materiais que o consti-
tuem interação.
Espaço relativo (Geografia): objetos técnicos introduzidos
no espaço geográfico passam a constituí-lo e não apenas a
ocupar lugares (ex.: usina hidrelétrica numa área qualquer de
um espaço muda as relações existentes entre todos os obje-
tos que o compunham anteriormente; o espaço geográfico
dessa área contém uma usina hidrelétrica e todas as modifi-
cações ocasionadas por ela).
Meio técnico-científico-informacional tecnologia
(junção das palavras gregas tekhné e logos): pensamen-
to organizado sobre as técnicas. Hoje a tecnologia remete
a eletrônica, informática, satélites, robôs e outras coisas do
gênero. Para Ruy Gama, a tecnologia é a sistematização cien-
tífica dos conhecimentos relacionados às técnicas = pesquisa
científica sistematizada.
Em síntese: técnicas = saber-fazer aprendido na prática e
transmitido de geração em geração. Tecnologia = saber vin-
culado à ciência moderna.
Espaço geográfico meio técnico: objetos técnicos,
produtos da técnica e das tecnologias modernas. O predo-
mínio de um sobre o outro explica as diferenças regionais.
Século XXI o planeta pode ser apreendido de forma
simultânea conhecimento do conjunto dos recursos
naturais e das transformações em todos os territórios =
espaço geográfico recebe cada vez mais objetos tecno-
lógicos, organizados como sistemas articulados e depen-
dentes entre si.
Sistema tecnológico de telecomunicações: baseado num
conjunto complexo de aparelhos e instalações (satélites,
cabos marítimos e terrestres, torres de transmissão etc.)
conhecimento global do planeta = chaves do fim do século.
Globalização: transnacionalização de setores hegemôni-
cos da economia e dos territórios (espaços globalizados) +
aumento da escala geográfica das relações humanas.
Meio técnico-científico (generalizado após a 2a Guerra
Mundial): empresas transnacionais e países valores maci-
ços de capital investidos na pesquisa científica (ex.: conhe-
cimento das fontes de matérias-primas, controle das infor-
mações, comunicações e transportes etc.). Característica
básica desses espaços: articulação de pontos territoriais das
empresas localizadas em outros extremos do planeta. Emis-
são e recepção de informações estratégicas de todos os tipos
(científicas, financeiras, políticas etc.). Milton Santos identi-
ficou esses espaços como o meio técnico-científico-infor-
macional: espaço transformado num grande sistema técnico
com alto teor de ciência e informação sensação de que o
espaço estaria “diminuindo” = velocidades para percorrê-lo e
travar relações instantaneidade = tirania da rapidez = aces-
síveis a poucos fonte de poder e dominação.
2. Considerando o que foi apresentado no
texto, diferencie objetos técnicos de objetos
tecnológicos, utilizando exemplos para isso.
68
Espera-se que os alunos apresentem os objetos técnicos
como tudo o que foi produzido pelas sociedades com o in-
tuito de produzir bens materiais e sociais (ferramentas sim-
ples, técnicas de plantio repassadas de geração em geração
ou ainda bens culturais e esportivos). Quanto aos objetos
tecnológicos, devem considerar todos os que resultam de
uma sistematização científica e que na atualidade são cons-
tituídos por redes de comunicação e informação, aparelhos
de ressonância magnética e tomografia; internet; transmis-
sões televisivas; conjunto de aparatos de alta tecnologia liga-
dos à informática etc.
3. Comente a frase: “[...] os tempos de hoje
estão acelerados, estabelecendo, de certo
modo, uma tirania da rapidez”.
Os alunos podem destacar que os meios para atuar com
maior rapidez e velocidade nas relações socioeconômicas
são acessíveis a poucos, sendo, portanto, fontes de poder e
dominação.
4. Em uma entrevista, o geógrafo Milton
Santos afirmou que “o homem criou um
tempo mais rápido que o tempo do próprio
homem”. Considerando o que você apren-
deu até agora sobre o meio técnico-científi-
co-informacional, elabore uma explicação
para a frase de Milton Santos.
Como argumento para essa questão os alunos devem apre-
sentar a constante aceleração do tempo resultante da disse-
minação de objetos tecnológicos e da instantaneidade dos
sistemas de informação e comunicação.
Em seguida, com o auxílio do Quadro 3,
converse com os alunos a respeito de alguns
dos fluxos representativos do meio técnico-
-científico-informacional. Chame a atenção
para o fato de que o comércio ou fluxo inter-
nacional de mercadorias constitui apenas um
tipo de fluxo material, destacando a existên-
cia de outros, como o comércio de drogas
ilícitas, que será estudado na Situação de
Aprendizagem 9.
Leitura e análise de quadro e tabela
1. Analise o Quadro 3 e apresente exemplos de
sistemas técnicos e tecnológicos que com-
põem os fluxos materiais e imateriais.
Fluxos do meio técnico-científico-informacional
Fluxos materiais
– Fluxos de transportes e comércio, considerando desde o processo inicial de
produção até o consumo das mercadorias.
Fluxos imateriais
– Fluxos de informação e comunicação: responsáveis por uma nova qualidade de
comunicação entre os povos, com grandes impactos culturais no mundo, como,
por exemplo, toda a rede tecnológica ligada à internet e à telefonia.
– Fluxos financeiros: junto com os fluxos de informação, constituem os dois maio-
res motores da globalização atual e causam grande desordem em boa parte das
regiões mais vulneráveis economicamente.
Quadro 3 – Fluxos do meio técnico-científico-informacional. Elaborado por Jaime Oliva especialmente para o São Paulo faz escola.
69
Geografia – 3a série – Volume 2
ajude-os a constatar que as quantidades exportadas em
1948 foram multiplicadas por quase dez vezes no primeiro
período (1948-1973) e por 125 vezes no segundo período
(1948-2003). Aponte, ainda, que somente em nove anos
(entre 2003 e 2012), o total mundial mais que dobrou, o
que significa um crescimento real de cerca de 303 vezes
com relação a 1948. Após tecer essas considerações, ar-
gumente como o aumento da quantidade de dólares
envolvida nas exportações fornece uma ideia precisa do
que significou para o comércio internacional o período
da globalização.
2. Com base na tabela a seguir, analise o com-
portamento das exportações de mercado-
rias no mundo no período de 1948 a 2012,
destacando o crescimento real em cada um
dos períodos.
Leve os alunos a perceber que, em 1948, eram exportados
apenas 59 bilhões de dólares em mercadorias e, em 1963,
chegou-se a 157 bilhões de dólares, representando um
crescimento real de quase três vezes em relação ao valor
de 1948. Dirigindo a atenção para os anos de 1973 (579
bilhões) e 2003 (com cerca de 7,4 trilhões movimentados),
Sistemas técnicos e tecnológicos
Fluxos materiais
Toda a variedade de sistemas modais responsáveis por captação, transporte e distribuição das mercadorias por
mar, por terra ou pelo ar. Além disso, poderá ser citada uma infinidade de produtos e objetos que formam o con-
junto de bens comprados e vendidos pelos mais diferentes países.
Fluxos imateriais
Quanto aos fluxos imateriais, espera-se que sejam citadas todas as formas de transações econômicas e sociais
resultantes do uso da internet e que compõem a base imaterial da vida social. Nesse sentido, poderão ser relacio-
nados o compartilhamento de arquivos digitalizados, as redes sociais informacionais, as transações financeiras e a
disseminação das informações por meios televisivos.
Quadro 4 – Sistemas técnicos e tecnológicos.
Exportações mundiais de mercadorias (em bilhões de dólares)
1948 1953 1963 1973 1983 1993 2003 2012
59 84 157 579 1 838 3 677 7 380 17 930
Quadro 5 – Exportações mundiais de mercadorias (em bilhões de dólares). Fonte de dados: World Trade Organization. International trade statistics 2013. p. 22. Disponível em: <http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2013_e/its2013_e.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2014.
70
Após a análise do quadro, propomos fazer a
análise das exportações de mercadorias em 1993
e 2012, por regiões do mundo (Quadro 6).
3. Observe a tabela a seguir.
Exportações mundiais de mercadorias por região (em %)*
Região 1993 2012
América do Norte 18,0 13,2
Américas do Sul e Central 3,0 4,2
Europa 45,4 35,6
Comunidade dos Estados Independentes 1,5 4,5
África 2,5 3,5
Oriente Médio 3,5 7,5
Ásia e Oceania 26,1 31,5
Total 100,0 100,0
*O recorte temporal para o estudo comparativo parte do ano de 1993 em função da data de criação da Comunidade dos Estados Independentes (8 jan. 1991).
Quadro 6 – Exportações mundiais de mercadorias por região (em %). Fonte de dados: World Trade Organization. International trade statistics 2013. p. 22. Disponível em: <http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2013_e/its2013_e.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2014.
a) Em 2012, quais regiões tiveram maior
participação no total mundial de expor-
tação de mercadorias?
De acordo com os dados, os alunos devem indicar que
a maior participação no total mundial de exportações
de mercadorias é da Europa (35,6%), Ásia e Oceania
(31,5%) e América do Norte (13,2%). A soma dessas re-
giões corresponde a 80,3% do total das exportações
mundiais.
b) Quais regiões apresentaram aumento
de sua participação relativa no total
mundial de exportação de mercadorias
entre 1993 e 2012?
De acordo com os dados da tabela, os alunos devem in-
dicar que o maior aumento porcentual das exportações
mundiais entre 1993 e 2012 ocorreu nas seguintes re-
giões: Ásia e Oceania (5,4%), Oriente Médio (4%), Comu-
nidade dos Estados Independentes (3%), Américas do Sul
e Central (1,2%) e África (1%). Houve decréscimo de 9,8%
na Europa e de 4,8% na América do Norte.
Leitura e análise de mapa
Após a análise dos dados, apresente aos
alunos o mapa Comércio mundial de mer-
cadorias, 2010. Tendo como base a tabe-
la (Quadro 6), peça para que respondam à
seguinte questão, presente no Caderno do
Aluno.
Quais são as possíveis correspondências
que podem ser feitas entre os dados da tabela
e os do mapa?
72
Para colocar em marcha a reflexão sobre es-
ses questionamentos, em aula expositiva dialo-
gada comente, ao menos, os seguintes fatores.
O aumento na demanda em todos os países por todo tipo de produto
Discuta com os alunos como, no período
técnico-científico-informacional em curso,
ocorreu um expressivo aumento populacio-
nal – de 2,5 bilhões de habitantes, em 1950, o
mundo passou a contar com 6,1 bilhões em
2000, e 7,1 bilhões em 2012 (ONU, 2013)a.
Em parte, o acréscimo de mais de 4 bilhões
de pessoas no mundo, durante esses 63 anos,
explica o aumento do comércio internacio-
nal. Contudo, é importante salientar que,
além do crescimento da população mun-
dial, houve também, em algumas regiões do
mundo, uma melhoria da qualidade de vida,
principalmente nos países do centro da eco-
nomia capitalista: Estados Unidos, alguns
países da Europa Ocidental e Japão, além de
um incremento do consumo em todos os ní-
veis. Considere também que a expansão do
meio técnico-científico-informacional per-
mitiu que essas regiões se industrializassem
ainda mais e diversificassem a sua produção,
propiciando o assalariamento da maioria da
população e, em consequência, a sua entra-
da no consumo de massa. Além das diferen-
tes características naturais (presença ou não
de petróleo, minerais etc.) e diferentes tipos
de sistemas produtivos, visto que algumas
regiões são essencialmente agrícolas, outras
mais industriais e outras especializadas no
setor de serviços, leve em conta que há uma
tendência para que se ampliem as trocas co-
merciais entre essas regiões, pela diminuição
dos custos dos transportes.
Em princípio, a complementaridade en-
tre as regiões (cada uma exporta aquilo que
produz em excesso e importa o que não pro-
duz ou o que não produz o suficiente) cria
uma interdependência entre elas, típica da
atual fase da globalização. Pondere como
essa interdependência não é neutra, isto é,
como, no mundo capitalista, as trocas co-
merciais acabam sempre favorecendo um
conjunto de certas regiões em detrimento
de outras. Desse modo, tais desigualdades
são resultantes da divisão internacional
do trabalho, porque certas regiões, com
sistema produtivo mais moderno, conse-
guem exportar produtos com maior va-
lor agregado, forçando as regiões menos
modernizadas (principalmente os países
em desenvolvimento) a produzir apenas
alguns tipos de mercadorias, em especial
aqueles de origem agrícola ou mineral. Ao
produzirem somente bens do setor primá-
rio (carvão, petróleo, minerais e produtos
agrícolas), cujos preços no mercado inter-
nacional, no geral, têm declinado, essas
regiões são forçadas a aumentar a produ-
ção e a venda desses produtos para po-
der adquirir mercadorias mais modernas,
como aviões, computadores e aparelhos
eletrônicos (Figura 30).
a ONU. Divisão de População. Population, Development and the Environment - 2013. Disponível em: <http://www.un.org/en/development/desa/population/publications/pdf/development/pde_wallchart_2013.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2014.
73
Geografia – 3a série – Volume 2
a maior integração entre os diferentes tipos
de transporte permitiu criar sistemas modais,
por meio dos quais ocorreram barateamen-
to e agilidade em todos os processos, desde a
coleta até a distribuição e o armazenamento
das mercadorias. Leve em conta também que a
informatização do setor de transportes foi res-
ponsável por sua modernização e que a logísti-
ca de abastecimento, aliada às vendas on-line,
ampliou a capacidade de entrega e distribuição
das mercadorias.
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enel
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Cor
bis/
Lat
inst
ock
Figura 31 – Porto de Roterdã, na Holanda, 2001. Nos por-tos dos países desenvolvidos, a grande movimentação de contêineres é a indicação de que maiores quantidades de mercadorias com alto valor agregado são transportadas.
A melhoria e a queda dos custos dos sistemas de transporte
Ressalte que, apesar dos avanços das tecno-
logias da aviação e dos transportes terrestres,
grande parte das trocas comerciais interna-
cionais, em termos de valores (dólares) nego-
ciados, é realizada até hoje por via marítima.
Aliás, hoje, cada um dos grandes navios tran-
satlânticos consegue transportar muitas tone-
ladas a mais do que conseguia transportar num
navio “moderno” no início do século XX. Uma
segunda melhora importante nos sistemas de
transporte diz respeito à forma de acondicio-
namento das mercadorias. Para exemplificar,
esclareça aos alunos sobre a técnica de trans-
porte em contêineres (Figura 31). Além disso,
Observação: Explique aos alunos que quanto mais tecnologia e conhecimento aplicado forem necessários para produ-zir a mercadoria, maior será seu valor agregado.
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Figura 30 – Carregamento de milho no Porto de Vitória (ES), em 2000. Os portos marítimos dos países em desen-volvimento são, ao mesmo tempo, a porta de entrada de produtos com alto valor agregado e a porta de saída de grandes quantidades de produtos primários, de baixo valor agregado.
Liberalização das regras comerciais que re-gulam as trocas
Informe aos alunos que a difusão do meio
técnico-científico-informacional permitiu às
grandes empresas transnacionais ampliarem
de forma significativa o seu poder na globali-
zação, com reflexos também nas trocas mun-
diais comerciais. Comente, por exemplo, que
em 1947 foi assinado o Acordo Geral sobre
74
Tarifas Aduaneiras e Comércio (em inglês,
General Agreement on Tariffs and Trade – Gatt),
que tinha como principal proponente os Esta-
dos Unidos, e que visava à gradual diminuição
das tarifas aduaneiras comerciais das nações.
Aproveite a oportunidade para esclarecer que
a expressão “tarifas aduaneiras” refere-se à
carga de impostos pagos pelo país exportador
para que suas mercadorias possam ser comer-
cializadas no país receptor, explicando ainda
que esta é uma das principais formas de que
dispõe uma nação para proteger o seu siste-
ma produtivo. Pondere também que os países
detentores de um meio técnico-científico-in-
formacional mais desenvolvido, como, por
exemplo, Estados Unidos, Alemanha e Japão,
sedes de grandes corporações transnacionais,
conseguem produzir mercadorias em maior
quantidade e por preços menores. Esses países
aliam-se na defesa pela diminuição das tarifas
alfandegárias, nos setores em que são compe-
titivos, com vistas a ampliar seus mercados
em países em desenvolvimento. Desse modo,
seus produtos invadem essas nações, dificul-
tando, muitas vezes, a situação de indústrias
locais, que, não tendo a mesma facilidade de
acesso à tecnologia, não conseguem fazer
frente aos preços praticados pelas empresas
transnacionais.
Leitura e análise de imagem
Para finalizar essa etapa, solicite aos alu-
nos que observem as Figuras 30 e 31 no Ca-
derno do Aluno, e expliquem a diferença nos
processos de estocagem e transporte dos pro-
dutos envolvidos.
Espera-se que os alunos percebam que a maior parte de
produtos agrícolas com baixo valor agregado é transporta-
da a granel, o que em muitos casos tem como consequên-
cia grande perda de parte da carga. Já produtos com maior
valor agregado são acondicionados em contêineres, o que
permite colocar e transportar o material em caixas metáli-
cas, resultando em vários benefícios, como: impedir que não
haja rupturas no processo de transporte; facilitar e agilizar o
embarque, o desembarque e o transbordo dos produtos; e
diminuir as possibilidades de acidentes e de perda das mer-
cadorias desde as fábricas onde são produzidas até os estabe-
lecimentos comerciais nos quais serão vendidas.
Por fim, com o objetivo de consoli-
dar os temas até aqui estudados, na
seção Lição de casa, do Caderno
do Aluno, há a seguinte proposta de atividade.
Fuvest 2004 – Considerando a rede mun-
dial de computadores, inovação tecnológica
contemporânea das mais importantes, expli-
que as afirmações:
a) A integração econômica global é facili-
tada pelo uso das mesmas técnicas...
Vistos em conjunto, os dois enunciados requerem dos alunos
a articulação dos conteúdos desenvolvidos, para a qual eles
podem estruturar a argumentação com o objetivo de desta-
car as características da globalização. Desse modo, atenden-
do ao primeiro enunciado, espera-se que ressaltem como a
rede mundial de computadores, a internet, facilita a integra-
ção econômica global. Isso porque permite a conectividade
entre bolsas de valores e mercados financeiros, empresas de
diversos setores econômicos, organizações governamentais
multilaterais e não governamentais, além de pessoas de dife-
rentes lugares. Poderão ainda salientar que os computadores
viabilizam não apenas a aceleração do fluxo de informações,
75
Geografia – 3a série – Volume 2
mas também facilitam o controle a distância dos negócios,
tornando a rede mundial de telecomunicações uma “ferra-
menta” essencial na integração dos vários lugares do mundo.
b) ... contudo, integrar não significa incluir
a todos.
Como em outras ocasiões deste Caderno, para responder
ao segundo enunciado os alunos poderão salientar que
os lugares mais integrados às redes mundiais de fluxos são
aqueles mais densos em termos de “objetos técnicos”, que
apresentam melhores infraestruturas de produção, trans-
portes e telecomunicações.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 6 FLUXOS DE IDEIAS E INFORMAÇÃO
Em franca continuidade com a Situação
de Aprendizagem precedente, esta visa am-
pliar a abordagem sobre os fluxos do meio
técnico-científico-informacional, colocan-
do em evidência os fluxos imateriais. Com
esse objetivo, é sugerido um percurso de
aprendizagem sobre conteúdos e temas rela-
tivos aos fluxos de informação, responsáveis
por uma nova qualidade de comunicação
entre os povos, com grandes impactos cul-
turais no mundo; e aos fluxos financeiros,
que, com os primeiros, constituem os dois
grandes motores da globalização atual,
ocasionando rápidas e intensas transforma-
ções em boa parte das regiões e sociedades
do mundo.
Conteúdos: diferentes formas de manifestação dos fluxos imateriais, representados principalmente pe-los fluxos de informação e pelos fluxos financeiros, e sua repercussão na escala local e global.
Competências e habilidades: ler, associar ideias e linguagens de artigos ensaísticos de diferentes autores e áreas do conhecimento (como Filosofia e Sociologia) com os conteúdos geográficos estudados; apli-car a noção de fluxos imateriais da globalização ao comércio mundial de bens culturais, identificando as assimetrias de poder e suas implicações políticas e culturais com base nos casos da indústria cine-matográfica e das redes televisivas mundiais; transpor dados estatísticos sobre a realidade mundial da produção e da audiência de filmes para a realidade próxima e existencial, como meio de reavaliar as fontes, a qualidade, a diversidade e os hábitos de consumo de informações que influem na formação cultural; analisar os interesses na produção e na difusão de notícias sobre fatos e acontecimentos das conjunturas internacionais por diferentes redes televisivas; visualizar graficamente a noção de rede global, correlacionando-a às inovações resultantes do atual meio técnico-científico-informacional e aos fluxos financeiros; ler e interpretar textos sobre a chamada “migração de cérebros”, identificando as áreas de atração e os interesses dos países receptores.
Sugestão de estratégias: debate; leitura, interpretação e discussão de textos de jornais e da internet; aulas expositivas; leitura e fichamento de textos; grupos de pesquisa.
Sugestão de recursos: artigos de jornais, revistas; internet; material didático adotado.
Sugestão de avaliação: participação individual ou em grupo nas discussões propostas; entrega do ficha-mento de textos.
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Figura 33 – O meio natural transformando-se em meio técnico-científico e em meio técnico-científico-in-formacional: traçada sobre antigos caminhos das tropas de bandeirantes, a atual Rodovia dos Bandeiran-tes, no Estado de São Paulo, abriu passagem para a infovia das redes de fibra óptica. São Paulo (SP), 1999.
A imagem ao lado é uma das que foram di-
vulgadas pela Agência Espacial Europeia (ESA,
na sigla em inglês) em 15 de abril de 2008, re-
tratando o lixo espacial na órbita da Terra. De
acordo com a agência, desde o primeiro lança-
mento (1957) até janeiro de 2008, cerca de 6 mil
satélites foram enviados para a órbita terrestre.
Na data de divulgação das imagens, a estimativa
era de que apenas 800 deles estariam ativos, dos
quais 45% localizados a uma distância de até 32
mil quilômetros da superfície terrestre.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.
Etapa prévia – Sondagem inicial e sensibilização
Reapresente aos alunos a imagem que ilustrava o texto O espaço geográfico como sistema
técnico, trabalhado na Situação de Aprendizagem 5.
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Figura 32 – Representação gráfica dos detritos espaciais em volta da Terra, c. 1989.
77
Geografia – 3a série – Volume 2
Com base na Figura 32 e na Figura 33, sem
deixar de explorar suas nuances ambientais e
tomando-a como mote para refletir sobre a am-
plitude do atual meio técnico-científico-infor-
macional, na seção Para começo de conversa
sugerimos as seguintes perguntas aos alunos: Que
significado se pode deduzir acerca da expressão
“sociedade da informação”? Quais impactos po-
dem ser considerados representativos de sua in-
fluência na cultura e na economia mundiais?
Espera-se que os alunos definam sociedade da informação
como aquela que exprime as diferentes formas de acesso dos
grupos sociais, por meio da tecnologia, às mais variadas infor-
mações e produtos. Como impactos representativos de sua in-
fluência na cultura e na economia podem ser citadas as trans-
missões via satélite de eventos culturais e esportivos, que em
tempo real mostram de forma simultânea a todas as partes do
mundo eventos que ocorrem em determinada região do pla-
neta, além da facilidade de acesso a bens e serviços das mais
diferentes partes do mundo, formando um mercado global.
É interessante destacar com os alunos que essa sociedade da
informação produz uma nova modalidade de lixo, o lixo tec-
nológico, representado na imagem pelo lixo espacial.
Etapa 1 – Trabalho conceitual
Com o propósito de desenvolver o concei-
to-chave desta Situação de Aprendizagem,
os fluxos imateriais, que doravante e paula-
tinamente permitirão tratar os aspectos sus-
citados anteriormente, resgate inicialmente
o Quadro 4 deste Caderno e o texto O espaço
geográfico como sistema técnico, analisados
anteriormente.
Após a retomada do quadro e do texto,
em particular com a atenção dirigida para
os fluxos imateriais, explique a ideia da ace-
leração contemporânea, que altera a natu-
reza do espaço geográfico, imprimindo um
novo ritmo às ações humanas. Utilize ini-
cialmente o texto a seguir e o exemplo de
certas inovações técnicas apresentadas na
Figura 34 e que contribuíram para a mudan-
ça na relação espaço-tempo no atual perío-
do técnico-científico-informacional.
Os fluxos de informação
Assim como os meios de transporte ampliaram os fluxos de mercadorias, outro setor
contribuiu de modo decisivo para a ampliação dos fluxos de informação. Desde a propa-
gação de mensagens a distância, por meio do telégrafo, até o surgimento da internet, uma
grande variedade de novas tecnologias foi incorporada ao nosso dia a dia, provocando
mudanças significativas em nosso modo de viver e produzir.
Em meados do século XX, as famílias se reuniam em volta do rádio para ouvir as no-
tícias e os últimos sucessos musicais. Os programas eram ao vivo e não era possível, como
78
hoje, adquirir um CD dos cantores da época ou, muito menos, baixar hits pela internet.
Grande parte das notícias chegava aos ouvintes com um ou dois dias de defasagem entre o
acontecimento e sua divulgação. Hoje chegam simultaneamente às pessoas no mundo todo!
Com o surgimento da televisão, muita coisa mudou. Primeiro, foi possível ver imagens
dos acontecimentos, assim como assistir aos programas dos artistas conhecidos.
Muitas pessoas que hoje estão na faixa dos 50 a 60 anos devem se lembrar das primeiras
imagens coloridas na telinha! Grande sucesso! Naquela época, as pessoas diziam: “Será
que algum dia haverá a possibilidade de gravar os programas para assisti-los posteriormen-
te?”. Alguns anos depois, surgiu o videocassete, para atender a mais esse sonho!
Em 1969, o Brasil foi integrado ao sistema mundial de comunicações por satélite, permi-
tindo a milhões de brasileiros acompanhar a chegada do homem à Lua!
De lá para cá, a evolução das transmissões tornou-se tão surpreendente que o mundo pôde
acompanhar, on-line, ou seja, ao mesmo tempo, a tragédia que ocorreu no dia 11 de setembro
de 2001, quando um comando terrorista lançou aviões contra as torres gêmeas do World Trade
Center, em Nova Iorque, e o edifício do Pentágono, em Washington, nos Estados Unidos!
Há décadas, falar ao telefone era uma aventura, principalmente quando se necessitava
fazer algum interurbano. Atualmente, as linhas fixas e os celulares se popularizaram! A co-
municação por telefone é instantânea, o que agilizou o contato entre as pessoas. Mas é im-
portante ressaltar que uma parte significativa da população mundial ainda não tem acesso a
esse meio de comunicação. “Há mais telefones na ilha de Manhattan do que em toda a Áfri-
ca, ao sul do Saara!” Essa frase, dita pelo ex-presidente da África do Sul (1999-2008), Tabo
M’Beki, permite-nos compreender a desigualdade na distribuição dos recursos tecnológicos.
A desigualdade também pode ser constatada ao se levar em conta o Relatório do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento de 1999: “As barreiras geográficas podem ter caído
para as comunicações, mas emergiu uma nova barreira, uma barreira invisível, que é como
a ampla rede mundial de computadores – a internet –, envolve os que estão ligados a ela e,
silenciosamente – quase imperceptivelmente –, exclui o resto”.
Referência
KRAJEWSKI, Angela Corrêa. O trabalhador, as tecnologias e a globalização. In: MEC; Inep. Ciências humanas e suas tecnologias – Livro do estudante: ensino médio: Encceja. Brasília: MEC/Inep, 2002. p. 172-173.
Elaborado por Ângela Corrêa da Silva especialmente para o São Paulo faz escola.
79
Geografia – 3a série – Volume 2
A partir das descobertas importantes re-
tratadas na Figura 34 e no texto, ressalte que,
apesar de ainda não haver homogeneidade
na distribuição desses bens, eles influenciam
em demasia nossa vida cotidiana, e boa parte
dessas novas criações acabou revolucionando
um dos setores mais importantes da
atividade humana: as comunicações.
Em seguida, pondere que a aceleração
contemporânea é resultado da proliferação
de invenções técnicas em vários setores da ati-
vidade humana, aumentando os ritmos e os
fluxos do espaço geográfico.
Figura 34 – Invenções que ajudaram o desenvolvimento do meio técnico-científico-informacional.
Fotografia 1727-1839
Bomba atômica 1939-1945
Circuito integrado 1958-1961
Rádio 1867-1902
Telefone 1820-1876
Radar 1925-1940
Transistor 1948-1953
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Em continuidade retome a Figura 32 e
destaque os satélites como uma das mais sig-
nificativas novidades técnicas de transporte
de informações. Esclareça aos alunos que,
operados por meio de estações transmissoras
e receptoras de sinais instaladas em terra, os
satélites contribuíram para quatro importan-
tes mudanças:
A distância está deixando de ser uma bar-
reira para a difusão das informações, pois,
agora digitalizadas, podem ser transferidas
para regiões que possuam os equipamen-
tos necessários (antenas receptoras), onde
esses fluxos são absorvidos.
Cada vez mais, a fala, as imagens e os tex-
tos são transmitidos de maneira semelhan-
te, por meio de impulsos eletromagnéticos.
Desenvolveu-se a chamada “sociedade da
informação”: cada vez mais as pessoas
precisam de informações para o seu tra-
balho (dados sobre a economia, outras
culturas, suas atividades profissionais)
e também para o seu lazer (produção de
80
filmes, televisão a cabo). Para maior pre-
cisão analítica, diferencie “informação” de
“comunicação”, pois estas não podem ser
tratadas como sinônimos. A comunicação
se faz com informações, mas nem todas
as relações comandadas pela informação
realizam plenamente a comunicação.
Também está havendo a associação entre
as tecnologias de computação e de comu-
nicação, por intermédio das mensagens
por bits eletrônicos (explique aos alunos
que o bit é uma unidade de medida da
informação, assim como o grama para
o peso e os centímetros para a distân-
cia; é a conjunção de partes das palavras
binary digit – dígito binário –, em inglês,
linguagem que permite a transmissão e a
decodificação de mensagens pelos compu-
tadores). O exemplo mais importante da
atualidade é a internet.
Leitura e análise de texto
1. Feitas essas observações, peça para que os
alunos explorem melhor o texto Os fluxos de
informação, a partir das questões a seguir.
a) Considerando o que foi apresentado no
texto acerca das mudanças ocorridas
na vida das pessoas depois do advento
das novas tecnologias, acrescente situa-
ções vivenciadas por você ou sua famí-
lia que exemplifiquem mudanças nas
formas como vocês se comunicam com
outras pessoas.
Esta questão tem como objetivo levar os alunos a perceber a in-
fluência dos fluxos imateriais em suas vidas. Assim como as altera-
ções resultantes dos avanços tecnológicos nos setores da eletrô-
nica provocaram grandes mudanças, espera-se que os exemplos
sejam vinculados às modificações acarretadas pela telefonia mó-
vel e pelas diferentes transações por meio da internet.
b) A frase do ex-presidente sul-africano,
Tabo M’Beki, a respeito de haver mais te-
lefones na ilha de Manhattan do que em
toda a África Subsaariana, revela uma:
a) desigual distribuição dos objetos téc-
nicos nos diversos países do mundo.
b) concentração de telefones apenas na
ilha de Manhattan, em Nova Iorque.
c) inexistência de meios de comunica-
ção nas áreas urbanas do mundo.
d) existência de telefones apenas em
áreas urbanizadas do mundo.
Alternativa “a”. Esta é a única alternativa que ressalta a desi-
gual distribuição dos objetos técnicos no mundo expressa na
frase do ex-presidente sul-africano.
2. Estabeleça relações entre o texto Os flu-
xos de informação e a expressão “tirania
da rapidez”, discutida anteriormente.
Espera-se que os alunos verifiquem a desigualdade entre as
regiões do mundo no que diz respeito às diferentes formas
de acessibilidade tecnológica. Nesse sentido, a África, por
exemplo, encontra-se parcialmente à margem dos proces-
sos de inclusão telefônica e digital, exemplificando de for-
ma contundente a expressão “tirania da rapidez”, ou seja, os
meios para atuar com maior rapidez e velocidade nas rela-
ções socioeconômicas da atualidade são acessíveis a poucos,
sendo, portanto, fontes de poder e dominação.
81
Geografia – 3a série – Volume 2
Etapa 2 – Estudo de caso: as redes televisivas mundiais
Em sintonia com o que foi desenvolvido
anteriormente, sugerimos aprofundar o con-
teúdo relativo aos fluxos imateriais, recorren-
do a certos temas familiares aos alunos. Desse
modo, por meio de aulas expositivas dialoga-
das, poderão ser abordados temas que você
julgar pertinentes e, para efeito de ilustração,
propomos o das redes televisivas mundiais,
considerando-as como fontes de fluxos de in-
formação que carreiam impactos culturais ex-
pressivos, inclusive na vida dos alunos.
Se aceita essa proposta, de maneira intro-
dutória valeria ser destacado para os alunos
que, durante o século XX, as trocas interna-
cionais de filmes e bens culturais – como ci-
nema, fotografia, rádio e televisão, material
impresso, literatura, música, artes visuais etc.
– foram importantes para o desenvolvimento
da indústria do entretenimento. Entretanto,
pondere que atualmente a intensificação das
trocas comerciais entre países, somada à exa-
cerbação do consumo (características indis-
sociáveis da globalização), alçou o comércio
mundial de bens culturais a uma posição ja-
mais vista. Apenas para se ter ideia, segundo
dados do Relatório do desenvolvimento huma-
no 2004, do PNUD, em 1980 esse mercado
movimentou cerca de 95 bilhões de dólares em
todo o mundo, passando, em 1998, para mais
de 380 bilhões. De acordo com dados apre-
sentados no Relatório de Economia Criativa
2010, publicado pela UNCTDA (Conferên-
cia das Nações Unidas sobre Comércio e De-
senvolvimento) e pela Unidade Especial para
Cooperação Sul-Sul do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o
valor das exportações mundiais da indústria
criativa, que envolve artes cênicas, audiovi-
suais, mídias, artes visuais, design, entre ou-
tros, chegou a 592 bilhões de dólares em 2008.
No período de 2002 a 2008, “as indústrias cria-
tivas aumentaram suas participações de mer-
cado mundial, crescendo a uma taxa anual de
14%. A tendência de alta deve continuar, dada
a perspectiva positiva para a demanda global,
mesmo em tempos turbulentos”a.
Na sequência, analise como a globalização
e a revolução nos meios de transporte e de co-
municação impulsionaram o aumento do poder
das empresas, particularmente das grandes cor-
porações transnacionais. Notifique que no setor
de produção de informações e de comunicação
o processo não foi diferente: assim como exis-
tem grandes empresas que fabricam e vendem
carros, roupas e computadores, atualmente tam-
bém há empresas especializadas em produzir e
vender artigos relacionados ao mundo da infor-
mação e da cultura de massa. Nesse sentido, su-
gerimos problematizar e discutir com os alunos
o exemplo das redes de televisão ou os provedo-
res de internet, entre tantos outros. Vejamos, ao
menos, o caso das redes de televisão.
Como se sabe, desde a década de 1980 as no-
vas tecnologias das comunicações por satélite
a Relatório de Economia Criativa – 2010, p. 127. Disponível em: <http://unctad.org/pt/docs/ditctab20103_pt.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2014.
82
possibilitaram a intensificação do processo de
difusão cultural e de informações. Entre os efei-
tos importantes dessa inovação tecnológica, des-
taca-se a formação de poderosas redes mundiais
de televisão, que atualmente dispõem de alcance
global. Ao lado disso, o número de aparelhos de
televisão por mil habitantes mais que duplicou
em todo o mundo: em 1980, essa relação era de
113‰; em 1995, 229‰; e, desde então, aumen-
tou para mais de 243‰ (cf. PNUD, 2004)b.
Esses números revelam o forte potencial de
penetração das redes televisivas em todas as
camadas da sociedade. Ao final de 2012, qua-
se 80% da população mundial dispunha de
um televisor, segundo dados da União Inter-
nacional de Telecomunicaçõesc.
Caso avalie pertinente discutir com seus alu-
nos o aumento do poder das grandes empresas
de telecomunicação, poderá ser de grande valia
lembrar que foi por meio de grandes emissoras
estadunidenses que boa parte do mundo foi in-
formada sobre acontecimentos trágicos e guer-
ras recentes que colocaram os Estados Unidos
em evidência: as guerras contra o Iraque (1991 e
2003) e os bombardeios no Afeganistão (2001), os
atentados ao World Trade Center e ao Pentágono
(11 de setembro de 2001), a guerra civil na Síria,
iniciada em 2012, e muitos outros eventos. Desse
modo, em sintonia com o percurso de aprendiza-
gem até aqui sugerido, valeria problematizar com
os alunos de que maneira e intensidade a forma-
ção de nossas opiniões sobre esses atos de violên-
cia passados e outros da atualidade esteve ou está
baseada nas imagens, nos textos e nos comentá-
rios que os jornalistas nos transmitiram.
Inicie a discussão em torno do tema propos-
to, informando aos alunos que, em nosso país,
como em muitos outros, poucas notícias sobre
os conflitos e acontecimentos citados foram
veiculadas segundo a versão dada por emis-
soras de outras nacionalidades e procedência
geográfica, como as europeias ou árabes. Pon-
dere, por exemplo, como, entre nós, não foram
largamente veiculadas versões sobre os fatos
procedentes das emissoras árabes, que contam
com elevada audiência no Oriente Médio e en-
tre os imigrantes árabes que vivem na Europa.
Com base nessa reflexão, valeria lembrar que
as emissoras árabes transmitem com frequên-
cia uma interpretação diferente dos canais te-
levisivos ocidentais sobre fatos importantes da
realidade mundial. Aproveite a oportunidade
para esclarecer que, no contexto televisivo do
mundo árabe, em que os canais de televisão se
caracterizam pelo conformismo diante dos fatos
e pela reverência aos poderes políticos constituí-
dos, existem emissoras que, contrariamente, não
aceitam se submeter a um controle direto ou in-
direto dos poderes políticos que impõem uma
forte censura em face das demais.
b Para saber mais, consulte: PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2004. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/HDR/Relatorios-Desenvolvimento-Humano-Globais.aspx?indiceAccordion=2&li=li_RDHGlobais>. Acesso em: 16 jun. 2014.
c Union Internacional de Telecomunicaciones. Medición de la sociedad de la información, 2013, p. 26. Disponível em: <http://www.itu.int/dms_pub/itu-d/opb/ind/D-IND-ICTOI-2013-SUM-PDF-S.pdf >. Acesso em: 16 jun. 2014.
83
Geografia – 3a série – Volume 2
Por fim, seria essencial refletir com os alunos
sobre um grande dilema. Por um lado, ser in-
formado sobre o que está ocorrendo em outras
partes do mundo é fundamental para que nos-
so próprio conhecimento ou cultura sejam am-
pliados (ou mesmo modificados), no tocante ao
mundo em que vivemos e aos nossos próprios
espaços de vivência. Em contrapartida, frequen-
temente, a informação que nos chega já está ma-
nipulada por redes de comunicação, sediadas
em países cujo governo (no caso, dos Estados
Unidos) foi protagonista direto de guerras ante-
riormente citadas. Com o intuito de levar os seus
alunos a rever hábitos e atitudes quanto às fon-
tes de aquisição de informações, como também
refletir sobre a qualidade do que leem, escutam
e assistem, discuta os elementos fornecidos por
meio das questões a seguir, propostas na seção
Desafio!, no Caderno do Aluno.
1. Quais são os meios de informação em que
nos baseamos para adquirir uma visão mais
apurada e diversificada dos fatos e aconteci-
mentos das conjunturas internacionais?Essa questão tem como propósito levar os alunos a refletir acer-
ca de hábitos e atitudes quanto às fontes de aquisição de infor-
mações, como também refletir sobre a qualidade do que leem,
escutam e assistem. Dessa forma, sugere-se que seja analisada a
credibilidade dos meios de informação utilizados pelos alunos
e, mais do que tudo, que se destaque o poder que esses meios
têm ao apresentar e analisar fatos e acontecimentos, muitas ve-
zes de forma tendenciosa ou mesmo irresponsável.
2. Quais interesses estão em jogo quanto à
produção e à transmissão de notícias so-
bre fatos e acontecimentos para diferen-
tes países “cobertos” por grandes redes
televisivas?
Espera-se que os alunos consigam perceber que, se por um
lado, ser informado sobre o que está ocorrendo em outras par-
tes do mundo é fundamental para que nosso próprio conheci-
mento ou cultura sejam ampliados (ou mesmo modificados),
por outro, como já afirmamos, frequentemente a informação
que nos chega já está manipulada por redes de comunicação
sediadas em países cujos governos muitas vezes são protagonis-
tas diretos de conflitos e de pressões hegemônicas sobre povos
e países excluídos desse mesmo sistema.
Etapa 3 – Rede global e economia especulativa
Para complementar um quadro de referên-
cia junto aos alunos sobre os principais fluxos
imateriais que caracterizam o meio técnico-
-científico-informacional, propomos reservar
um tempo para tratar da intensificação da
economia especulativa.
Inicialmente, explique que a expressão “es-
pecular” significa fazer operações financeiras
ou comerciais com bens negociáveis, a fim
de tirar proveito da variação de preços. Elu-
cidada essa noção, informe que, com a glo-
balização, ocorreu um aumento da atividade
especulativa sobre as moedas.
Fornecidas e explicadas essas informações,
seria de grande valia construir um entendimento
com os alunos sobre as noções de internaciona-
lização da economia, economia especulativa,
liberalização e desregulamentação econômicas
e neoliberalismo. O objetivo é proporcionar oca-
sião para discutir como a internacionalização
das finanças e o aprofundamento da economia
especulativa se tornaram possíveis, em grande
parte devido a dois conjuntos de fatores: a) a
84
liberalização e a desregulamentação das econo-
mias nacionais, estimuladas pelo neoliberalismo;
b) o avanço nos últimos 20 anos da tecnologia
eletrônica, que permite a movimentação instan-
tânea de dinheiro entre as bolsas de valores de
todo mundo por intermédio das redes de com-
putadores integradas em escala global.
Após explicar que as bolsas de valores são
instituições nas quais se negociam ações e títu-
los, ou seja, documentos que certificam a pro-
priedade de um bem ou valor, destaque para os
alunos que, atualmente, são poucas as regiões
do mundo que não são influenciadas de algum
modo pelas operações do sistema financeiro glo-
balizado, ou pelo excesso de capital financeiro
acumulado, ou pela total falta dele, ou, por ve-
zes, pela “fuga” desse capital.
Para exemplificar, seria interessante discor-
rer ou discutir notícias sobre a “quebra” de
países emergentes (como a Tailândia, em 1997;
a Rússia, em 1998; e o Brasil, em 1999), contra-
pondo-a, para o caso do Brasil, à situação al-
cançada por suas condições macroeconômicas
em 2008, quando largamente se noticiou em
jornais nacionais e estrangeiros que fomos ele-
vados a país de grau de investimento pela agên-
cia de classificação de risco Standard & Poor’s.
De qualquer modo, caberia informar aos
alunos que os países em desenvolvimento são
os que acabam sofrendo mais com essa mobi-
lidade financeira no mundo.
Pela própria definição, porém, ressalte que es-
ses fluxos financeiros são especulativos, isto é, mu-
dam de um lugar para outro no mundo de acordo
com as vantagens oferecidas pela praça financeira.
Em outras palavras, é importante salientar que es-
ses investimentos não são produtivos, ou seja, eles
não são direcionados para a abertura de indús-
trias, o comércio, o setor de prestações de serviços
ou para as atividades agropecuárias, enfim, para
atividades que geram empregos e riquezas. São
investimentos que beneficiam apenas aqueles que
possuem o grande capital e prejudicam a maio-
ria da população, pois esses ataques especulativos
deixam as economias nacionais desequilibradas,
levam a falências e ao desemprego e encarecem
os produtos, complicando ainda mais a vida da
população de baixa e média rendas.
Para finalizar essa etapa da Situação de
Aprendizagem, no Caderno do Aluno, na seção
Desafio!, sugerimos três questões.
1. Qual o significado do termo “especulação
financeira”?
Especular, neste caso, significa fazer operações financeiras ou
comerciais com bens negociáveis, com a finalidade de tirar pro-
veito da variação de preços a partir de informações sobre esses
bens que podem aumentar ou diminuir o seu valor.
2. Quais fatores podem ser considerados res-
ponsáveis pela ampliação das transações es-
peculativas no mundo atual?
Espera-se que os alunos identifiquem que o aprofundamen-
to da economia especulativa tornou-se possível, em grande
parte, devido a dois conjuntos de fatores: a) a liberalização e
a desregulamentação das economias nacionais, estimuladas
pelo neoliberalismo; e b) o avanço nos últimos 20 anos das
redes de fluxos imateriais que permitiram a movimentação
instantânea de dinheiro entre as bolsas de valores de todo o
mundo por intermédio das redes de computadores integra-
das em escala global.
85
Geografia – 3a série – Volume 2
3. Levante hipóteses sobre o aumento da fuga
de capitais das bolsas de valores dos países
emergentes.
As economias emergentes são as mais suscetíveis à fuga de
capitais. Isso se explica por que os papéis negociados nestas
bolsas, aliados aos títulos emitidos por seus governos, des-
pertam interesse por ofertar altas taxas de rendimentos como
um atrativo aos investidores. Porém, quando apresentam fa-
tores de risco econômico, normalmente vinculados à fragi-
lidade de suas contas públicas ou à vulnerabilidade de suas
economias, os grandes investidores debandam de forma uni-
forme, o que abala o mercado e, consequentemente, afeta
diretamente as reservas cambiais. Tal fato se explica porque,
ao chegarem, os investidores internacionais necessitam tro-
car suas moedas estrangeiras (em geral, dólar) pela moeda
local para aplicarem no país. Ao fugirem, ocorre um descom-
passo das reservas cambiais, o que diminui ainda mais o nível
de estabilidade das frágeis economias emergentes.
a Caso deseje obter uma síntese e bons apontamentos sobre as origens e o desenvolvimento do conceito de cidade global, recomendamos o seguinte texto: CARVALHO, Mônica de. Cidade global: anotações críticas sobre um conceito. In: São Paulo em Perspectiva. São Paulo, v. 14, n. 4, out./dez. 2000. p. 70-82. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392000000400008>. Acesso em: 10 abr. 2014.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 7 AS CIDADES GLOBAIS
Esta Situação de Aprendizagem resgata
um tema desenvolvido na 2a série do Ensino
Médio. Orientada pelas noções de rede e flu-
xos, desenvolve estratégias e apontamentos
didáticos para subsidiar a abordagem em sala
de aula do conteúdo relativo à classificação da
nova hierarquia da rede de cidades globaisa no
Brasil e no mundo.
Conteúdos: conceito de cidade global; análise e critérios da classificação da Globalization and World Cities Research Network (GaWC), da Universidade de Loughborough, do Reino Unido, sobre a origem dessas cidades, e análise crítica da posição de São Paulo como cidade global; conceito de commodities e diferenciação entre o conceito de megacidade e o de cidade global.
Competências e habilidades: ler e interpretar mapa temático sobre as cidades globais, classificando-as por meio de informações sobre suas origens e seu dinamismo no sistema capitalista mundial.
Sugestão de estratégias: aulas expositivas; leitura e interpretação de esquemas gráficos; leitura e ficha-mento de textos do material didático adotado.
Sugestão de recursos: apresentação de imagens; material didático adotado.
Sugestão de avaliação: entrega de fichamentos de textos; participação nas discussões.
Além de privilegiar o enfoque sobre a cidade
de São Paulo e sua participação como cidade glo-
bal na classificação da Globalization and World
Cities Research Network (GaWC), da Universi-
dade de Loughborough, do Reino Unido, trata
da origem dessas cidades diante das mudanças
profundas na composição e distribuição dos es-
paços produtivos ocorridas no período técnico-
-científico-informacional.
86
Figura 35 – A nova paisagem da globalização: vista lateral. Fonte: LANG, Jared. Atlases (Atlas 3). Globalization and World Cities Research Network. Disponível em: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/visual/lang_atlas3/views3.html>. Acesso em: 10 abr. 2014.
Figura 36 – A nova paisagem da globalização: detalhe de vista do alto. Fonte: LANG, Jared. Atlases (Atlas 3). Globalization and World Cities Research Network. Disponível em: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/visual/lang_atlas.html>. Acesso em: 10 abr. 2014.
A nova paisagem da globalização: vista lateral
A nova paisagem da globalização: detalhe de vista do alto
Etapa prévia – Sondagem inicial e sensibilização
Apresente para os alunos as Figuras 35 e
36 propostas na seção Para começo de con-
versa do Caderno do Aluno, cuja elaboração
dos esquemas gráficos traduz dados de ma-
pas temáticos sobre as conexões de internet e
de telefonia entre as cidades indicadas e ou-
tras do mundo. Solicite que identifiquem São
Paulo – única cidade do Brasil que aparece
nessas figuras – e, com base em seus conheci-
mentos, apontem razões que possam justifi-
car essa inclusão.
Espera-se que os alunos destaquem São Paulo como a
grande metrópole do Brasil e, portanto, possuidora de um
aparato tecnológico responsável por sua conexão com os
demais centros mundiais.
87
Geografia – 3a série – Volume 2
Em seguida, sugerimos informar os alunos
sobre alguns dados a respeito da cidade de
São Paulo. Em 2010, por exemplo, o Produto
Interno Bruto (PIB) da capital paulista foi em
torno de 444 bilhões de reais, o que correspon-
dia a 35,6% do PIB do Estado de São Paulo
e a 11,8% do PIB nacional (IBGE, Produto
Interno Bruto dos Municípios – 2010. Dis-
ponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Pib_Muni
cipios/2010/pibmunic2010.pdf>. Acesso em:
16 jun. 2014). Caso a imaginássemos como
um país na América Latina, a cidade de São
Paulo seria a sétima maior economia (quase
cinco vezes superior ao Paraguai) e, em âmbi-
to mundial, ocuparia a posição de 54a maior
economia, à frente de países como Finlândia,
Hungria e Kuwait (segundo dados da Funda-
ção SEADE, 2011 e CIA, 2012). Por último,
depois de haver esboçado esse tipo de com-
paração, é importante informar que a cidade
de São Paulo está posicionada na 14a colo-
cação do ranking de cidades globais criado
pela Globalization and World Cities Research
Network (GaWC), da Universidade de Lou-
ghborough, do Reino Unido (Ver Classifica-
tion of cities - 2010. Disponível em: <http://
www.lboro.ac.uk/gawc/world2010t.html>.
Acesso em: 10 abr. 2014b, que será objeto de
análise na etapa que se segue.
9o ano, complementando a forma de abor-dagem concedida ao mesmo neste Ca-derno. Além do tratamento conceitual, naquela ocasião houve uma reflexão pormenorizada e rigorosa sobre os signi-ficados e os efeitos sociais dessa configu-ração espacial, com base nas relações es-tabelecidas por uma grande cidade, tanto na escala local como na global.
b Para saber mais, consulte: PIMENTA, Angela. Esqueça os países. O poder está com as cidades. Exame. Negócios, 29 nov. 2007. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0907/noticias/esqueca-os-paises-o-poder-esta-com-as-cidades-m0144514>. Acesso em: 27 nov. 2013.
Professor, o tema das cidades globais também é trabalhado durante a 8a série/
Etapa 1 – Aula expositiva dialogada
Leitura e análise de texto, mapa e quadro
Ao iniciar o trabalho conceitual acerca
das cidades globais, ratificamos o que foi su-
gerido na 8a série/9o ano, ou seja, que você
proponha aos estudantes a análise dos cri-
térios da classificação das cidades globais, e
não, propriamente, buscar apenas classificar
as cidades nesses modelos ou então identifi-
car se correspondem a uma ou outra forma de
classificação. A leitura do texto Classificação
das cidades globais segundo a Globalization
and World Cities Research Network (GaWC),
presente no Caderno do Aluno, contribuirá
para a análise, e os alunos estarão aptos a
perceber que as classificações levam em conta
os aportes ideológicos e devem ser compreen-
didas como uma forma de enxergar o mundo,
e portanto, devem ser vistas de acordo com os
interesses de quem as propôs e considerando
a escala que se quer alcançar.
88
Classificação das cidades globais segundo a Globalization and World Cities Research Network (GaWC)
Uma das primeiras tentativas para definir, categorizar e classificar as cidades globais foi re-alizada, a partir de 1998, pela Globalization and World Cities Research Network (GaWC), cen-tro de estudos do Departamento de Geografia da Universidade de Loughborough, do Reino Unido, que conta com a participação de cientistas de diversos continentes. Embora a biblio-grafia sobre as cidades globais tenha como critério para essa caracterização a existência de transações em nível mundial, a maior parte do esforço de investigação realizada pela GaWC debruçou-se sobre o estudo das estruturas internas das cidades, estabelecendo análises compa-rativas a respeito do alcance mundial dessas estruturas.
De acordo com essa categorização, são quatro as principais atividades que demonstram a força de cada cidade global: os bancos e as bolsas de valores, as empresas de publicidade/marketing, as firmas de consultoria e de seguros e os centros de pesquisa. Com base nesses dados, a GaWC atribuiu, para cada uma dessas atividades, uma nota que varia de 1 a 3, dependendo da importância de cada setor de atividade para o contexto do sistema capitalista mundial, conforme os seguintes critérios:
nota 3 quando o setor possui alcance mundial;
nota 2 quando o setor não tem grande alcance mundial, ficando restrito a apenas algumas
áreas do globo;
nota 1 para o setor com alcance apenas regional.
Para ser considerada global, é necessário que a cidade receba pelo menos um ponto para
cada um dos quatro setores considerados. Com base nessa pontuação, as cidades globais são
classificadas em três categorias:
Categorias Características Notas
Alpha Cidade que possui todos os quatro setores muito desenvolvidos. 10 a 12
BetaCidade que possui parte das empresas com alcance mundial em alguns dos quatro setores.
7 a 9
Gama Cidade que possui apenas alcance regional ou local. 4 a 6Quadro 7.
Todas as cidades que não possuem empresas desses setores em seu meio urbano, ou que têm
apenas um ou outro dos setores desenvolvidos, não poderão ser consideradas cidades globais,
estando “fora” da rede de fluxos que hoje comanda as atividades produtivas mundiais.
Referência
BEAVERSTOCK, J. V. et al. A roster of world cities. Cities, 16 (6), (1999), p. 445-458. Disponível em: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/rb/rb5.html>. Acesso em: 27 nov. 2013.
Elaborado por Angela Corrêa da Silva especialmente para o São Paulo faz escola.
89
Geografia – 3a série – Volume 2
Elucidadas essas informações, conside-
re com a classe que, caso uma cidade global
possua todos os quatro tipos de setores ci-
tados anteriormente muito desenvolvidos,
somará a nota máxima de 12 pontos. Ao
contrário, às grandes cidades que possuírem
apenas empresas dos quatro setores com al-
cance regional ou local será atribuída a nota 1
para cada uma delas, e chegaremos à nota 4,
estando, portanto, na base da pirâmide das
cidades globais.
Perante os alunos, a análise do Quadro
8 e da Figura 37 poderá ser a “plataforma
de lançamento” para estabelecer e estimular
algumas deduções acerca do funcionamen-
to atual da nova rede mundial de cidades
globais. Para entender melhor a hierarquia
dessas cidades, observe com eles que, no
primeiro grupo (as cidades do tipo Alpha),
não existe nenhuma delas situada nos paí-
ses subdesenvolvidos. Todas elas (com exce-
ção de Cingapura e Hong Kong) estão nos
países da chamada tríade do capitalismo
mundial (Estados Unidos, alguns países da
Europa e Japão). O que isso significa? Entre
outros aspectos, significa que, se porventura
um país subdesenvolvido precisar de algum
serviço cuja prestação somente é realizada
em uma dessas cidades globais (como uma
consultoria em finanças ou um empréstimo
do Fundo Monetário Internacional, Banco
Interamericano de Desenvolvimento etc.),
será necessário pagar grandes quantias em
dinheiro, drenando para o centro do sistema
capitalista uma quantidade maior de recur-
sos, o que aumentará ainda mais o fosso en-
tre os países.
Classificação das cidades globais
Alpha12 pontos: Londres; Nova Iorque; Paris; Tóquio.10 pontos: Chicago; Frankfurt; Hong Kong; Los Angeles; Milão; Cingapura.Beta9 pontos: São Francisco; Sydney; Toronto; Zurique.8 pontos: Bruxelas; Madri; Cidade do México; São Paulo.7 pontos: Moscou; Seul.Gama6 pontos: Amsterdã; Boston; Caracas; Dallas; Düsseldorf; Genebra; Houston; Jacarta; Johanesburgo; Melbourne; Osaka; Praga; Santiago; Taipé; Washington.5 pontos: Bangcoc; Pequim; Montreal; Roma; Estocolmo; Varsóvia.4 pontos: Atlanta; Barcelona; Berlim; Budapeste; Buenos Aires; Copenhague; Hamburgo; Istambul; Kuala Lumpur; Manila; Miami; Minneapolis; Munique; Shangai.
Quadro 8 – Classificação das cidades globais. Fonte: BEA-VERSTOCK, J. V. et al. A roster of world cities. Cities, 16 (6), (1999), p. 445-458. (Table 7). Disponível em: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/rb/rb5.html>. Acesso em: 27 nov. 2013.
1. Com base no texto, quais são os setores de
atividades que sustentam a classificação das
cidades globais apresentada pela GaWC? Por
que você acha que são esses os setores consi-
derados para definir uma cidade global?
Espera-se que os alunos apontem os setores bancários e as
bolsas de valores, as empresas de publicidade/marketing, as
firmas de consultoria e de seguros e os centros de pesquisa.
Esses setores definem o alcance dos serviços oferecidos pela
cidade no mercado global.
2. Observe o mapa (Figura 37) e o texto a
seguir, que apresentam as cidades globais
classificadas em 1999 e 2010.
a) Preencha a coluna correspon dente do
Quadro 9, indicando também os países
e os continentes onde se localizam as ci-
dades do tipo Alpha.
90
Cidades globais, 1999
Em 2008, a classificação das cidades globais da GaWC foi atualizada com a contribuição da Academia Chinesa de Ciências Sociais e da Universidade de Ghent, da Bélgica. Essas instituições coletaram dados na rede de escritórios de 175 empresas de serviços localizadas em 525 cidades do mundo. De acordo com os documentos divulgados pela GaWC, esta é a maior e mais consistente coleta de dados sobre o tema. Em 2010, houve uma nova atualização, e de acordo com esta classificação mais recente, são consideradas cidades do tipo Alpha: Londres, Nova Iorque, Hong Kong, Paris, Cingapura, Tóquio, Xangai, Chicago, Dubai, Sidney, Milão, Pequim, Toronto, São Paulo, Madri, Mumbai, Los Angeles, Moscou, Frankfurt, Cidade do México, Amsterdã, Buenos Aires, Kuala Lumpur, Seul, Bruxelas, Jacarta, São Francisco, Washington, Miami, Dublin, Melbourne, Zurique, Nova Deli, Munique, Istambul, Boston, Varsóvia, Dallas, Viena, Atlanta, Barcelona, Bancoc, Taipei, Santiago, Lisboa, Filadélfia e Johanesburgo.
Referência
GAWC. The world according to GaWC 2010. Disponível em: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/world2010t.html>. Acesso em: 10 abr. 2014.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.
Figura 37 – Cidades globais, 1999. Elaborado por Sérgio Adas especialmente para o São Paulo faz escola. Fonte: BEAVERSTOCK, J. V. et al. A roster of world cities. Cities, 16 (6), (1999), p. 445-458. (Table 7). Disponível em: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/rb/rb5.html>. Acesso em: 27 nov. 2013.
91
Geografia – 3a série – Volume 2
Cidades globais do tipo AlphaCidade
País Continente/Localização1999 2010
– Johanesburgo África do Sul África
Nova Iorque Nova Iorque EUA América do Norte
Chicago Chicago EUA América do Norte
– Toronto Canadá América do Norte
Los Angeles Los Angeles EUA América do Norte
– São Francisco EUA América do Norte
– Washington EUA América do Norte
– Miami EUA América do Norte
– Boston EUA América do Norte
– Dallas EUA América do Norte
– Atlanta EUA América do Norte
– Filadélfia EUA América do Norte
– Cidade do México México América do Norte
– São Paulo Brasil América do Sul
– Buenos Aires Argentina América do Sul
– Santiago Chile América do Sul
Hong Kong Hong Kong China Ásia
Cingapura Cingapura Cingapura Ásia
Tóquio Tóquio Japão Ásia
– Xangai China Ásia
– Pequim China Ásia
– Mumbai Índia Ásia
– Nova Deli Índia Ásia
– Taipei China Ásia
– Seul Coreia do Sul Ásia
– Bangcoc Tailândia Ásia
– Istambul Turquia Ásia / Europa
– Kuala Lumpur Malásia Sudeste da Ásia
– Jacarta Indonésia Sudeste da Ásia
– Dubai Emirados Árabes Unidos Oriente Médio
Londres Londres Inglaterra Europa
Paris Paris França Europa
Milão Milão Itália Europa
– Madri Espanha Europa
Frankfurt Frankfurt Alemanha Europa
– Amsterdã Países Baixos Europa
– Bruxelas Bélgica Europa
– Dublin Irlanda Europa
– Zurique Suíça Europa
– Munique Alemanha Europa
– Viena Áustria Europa
– Barcelona Espanha Europa
– Lisboa Portugal Europa
– Moscou Rússia Leste da Europa
– Varsóvia Polônia Leste da Europa
– Sidney Austrália Oceania
– Melbourne Austrália Oceania
Quadro 9.
92
b) Descreva e comente a distribuição das ci-
dades Alpha por continente/localização.
De acordo com a tabela anterior as cidades tipo Alpha
predominam na Europa + Leste da Europa (15), seguida da
Ásia + Sudeste da Ásia (12) e América do Norte (12); América
do Sul (3), Oceania (2), África (1) e Oriente Médio (1). O
caso de Istambul é particular, pois parte da cidade está na
Europa e parte no continente asiático. Como é possível
perceber ainda, as principais atividades sobre as quais cada
cidade global mostra sua força: bancos e bolsas de valores,
empresas de publicidade/marketing, firmas de consultoria
e de seguros e centros de pesquisa concentram-se em ci-
dades dos países ricos. Porém, deve-se registrar o grande
crescimento de cidades do tipo Alpha no continente asiá-
tico, principalmente na China e na Índia, o que demonstra
o desenvolvimento dessas economias na escala mundial.
c) Considerando suas respostas anteriores,
analise a situação das cidades do tipo
Alpha localizadas na América do Sul,
no Oriente Médio e na África.
A pouca quantidade de cidades globais do tipo Alpha de-
monstra a menor inserção dessas três regiões do mundo
nos fluxos que comandam a globalização.
3. Leia o texto a seguir.
Para o geógrafo P. J. Taylor, da GaWC, o foco da classificação das cidades globais proposta por essa instituição de pesquisa não recai na infraestrutura urbana nem na relação hierárquica entre cidades, mas em dados econômicos e tecnológicos coletados em escritórios de empresas transnacionais espalhadas pelo mundo.
Referência
GAWC. GaWC research bulletin 300. Disponível em: <http://www.lboro.ac.uk/gawc/rb/rb300.html>. Acesso em: 27 nov. 2013.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.
Há alguma relação entre essa classificação
das cidades globais proposta pela GaWC e a
melhoria das condições de vida das popula-
ções locais? Justifique.
Espera-se que os alunos reflitam acerca da forma como essa clas-
sificação foi elaborada e possam concluir que é realizada a partir
de dados disponibilizados por escritórios de empresas transna-
cionais. Nesse sentido, essa classificação pode influir muito mais
para auxiliar na escolha de locais favoráveis a futuros empreendi-
mentos e projetos de expansão dessas mesmas empresas, e não
propriamente em função de interesses coletivos voltados para a
melhoria das condições de vida das populações urbanas locais.
Ainda valeria a pena chamar atenção para
a ausência, na Figura 37, da cidade de Roter-
dã, na Holanda, por exemplo. A cidade onde
está localizado o maior e mais bem equipado
porto marítimo do mundo serve de entrada
para boa parte do petróleo consumido por
todos os países europeus (além de um con-
junto muito diversificado de tipos de commo-
dities). Por que, então, Roterdã não consta
na lista de cidades globais? Justamente pelo
fato de comandar um tipo de fluxo ligado ao
capitalismo comercial “tradicional”, e não
à nova economia de serviços do capitalismo
globalizado atual. Saliente para os alunos
que os fluxos materiais (assim como a pro-
dução e a comercialização de mercadorias
industriais) perderam sua importância relati-
va, atualmente, para os fluxos imateriais, das
finanças, das informações etc.
93
Geografia – 3a série – Volume 2
Observações importantes: 1. Caso os alunos não compreendam o que são commodities,
explique que são produtos com origem no setor primário (agricultura ou minerais), que
são comercializados nas bolsas de valores do mundo todo. Exemplos: café, trigo, minério
de ferro, petróleo etc. 2. Não deixe de destacar as diferenças entre as expressões megaci-dade e cidade global. Desse modo, explique que a primeira valoriza o aspecto quantita-
tivo, não importando em que tipo de país ou região a cidade se localiza, referindo-se às
maiores cidades do mundo, considerando-se o patamar mínimo de 10 milhões de habitan-
tes. Em contrapartida, chame a atenção para o fato de que a expressão “cidade global”
não leva em conta o número de habitantes, mas sim a sua capacidade de influenciar os
acontecimentos mundiais, agregando serviços e concentrando grandes fluxos de trans-
porte e comunicações.
Ainda com relação ao mapa da Figura 37,
seria interessante ponderar com os alunos
que, a cada período histórico, algumas regiões
do mundo acabam por concentrar equipa-
mentos importantes para o domínio de outras
regiões e, consequentemente, de outros povos.
Assim foi que Portugal, tendo desenvolvido
as melhores técnicas de navegação, ainda no
final do século XV, fez de Lisboa a principal
cidade no período das Grandes Navegações.
Londres, no século XIX, pode ser conside-
rada outro exemplo de cidade que passou a
“capitanear” ou liderar o desenvolvimento do
mundo a seu favor. Graças às poderosas in-
dústrias, às suas muitas ferrovias e a uma po-
derosa marinha mercante, a Inglaterra, e, por
consequência, Londres, procurou colocar boa
parte das matérias-primas do planeta a serviço
de suas indústrias. A cada período, portanto,
muda o centro do controle das regiões do pla-
neta ou, melhor dizendo, altera-se a estrutura
geopolítica do mundo.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 8 O TERROR E A GUERRA GLOBAL
Nesta Situação de Aprendizagem, é propos-
to um percurso de aprendizagem com vistas a
orientar os alunos a exercitar a compreensão
leitora e a escrita, por meio de consulta a sites,
leitura dos textos do material didático adota-
do, elaboração e entrega de sínteses dissertati-
vas. As ilustrações e os textos a ser trabalhados
pelos alunos têm como objetivo fazer com que
estabeleçam relações entre as disputas globais
de poder e os conflitos resultantes de emba-
tes de caráter étnico, religioso, além dos que
sustentam a premissa de uma ação terrorista
baseada em choques civilizacionais, tema abor-
dado no volume 1 da 3a série.
94
Conteúdos: compreensão e aplicação do conceito de terrorismo; análise das condições geopolíticas e sua influência na distribuição e nas formas de atuação das redes terroristas mundiais; o papel dos Es-tados como contendores e atores nas guerras globais e nas atuações terroristas.
Competências e habilidades: ler e interpretar imagens sobre a atuação de redes terroristas, identificando área de atuação e interesses envolvidos; ler e interpretar textos que distinguem o conceito de terrorismo e identificam as suas principais formas e áreas de atuação.
Sugestão de estratégias: leitura e interpretação de imagens; pesquisa, leitura e sínteses dissertativas de textos na internet.
Sugestão de recursos: internet; material didático adotado.
Sugestão de avaliação: entrega das sínteses dissertativas de textos.
Etapa prévia – Sondagem inicial e sensibilização
A partir da questão a seguir, presente no
Caderno do Aluno, na seção Para começo
de conversa, verifique o que os alunos sabem
sobre a atuação de redes terroristas, se eles
identificam as áreas de atuação e os interes-
ses que as envolvem.
Converse com seus colegas e seu professor a
respeito das imagens a seguir. Depois, responda:
Quais organizações foram responsáveis pelos
atentados terroristas identificados nas imagens?
© D
an J
oyce
/Cor
bis/
Lat
inst
ock
Figura 38 – Vista do segundo avião que se chocou contra a segunda torre do World Trade Center du-rante atentado terrorista aos Estados Unidos. Nova Iorque (EUA), 11 de setembro de 2001.
© D
usko
Des
poto
vic/
Cor
bis/
Lat
inst
ock
Figura 39 – Atentado a bomba em trens da capital espa-nhola causa a morte de cerca de 200 pessoas e deixa outras seriamente feridas. Madri (Espanha), 11 de março de 2004.
© P
eter
Mac
diar
mid
/Get
ty I
mag
es
Figura 40 – Numa série de explosões de bombas no sistema de transporte da capital inglesa, cerca de 50 pessoas morreram e 700 ficaram gravemente feridas. Londres (Inglaterra), julho de 2005.
A B
C
95
Geografia – 3a série – Volume 2
As imagens A e B foram atentados comandados pela rede ter-
rorista Al-Qaeda, do saudita Osama bin Laden. A imagem C
corresponde ao atentado liderado por jovens islâmicos adep-
tos da Al-Qaeda e antiocidentais. A imagem D corresponde ao
atentado coordenado pelo movimento separatista checheno.
Etapa 1 – Pesquisa, leitura e sínteses de textos na internet
Oriente pesquisa na internet de modo que
os alunos tomem contato com a diversidade te-
mática e autoral de textos sobre o terrorismo e
a guerra global. Com base em seu conhecimen-
to sobre a turma de alunos, estabeleça quantos
textos poderiam ser recomendados individual-
mente para leitura. Na sequência, oferecemos
uma sugestão de sites com muitos textos ade-
quados ao exercício de compreensão leitora
proposto. Você poderá expandir ou modificar
as sugestões conforme julgar apropriado.
© K
azbe
k B
asay
ev/A
FP
/Get
ty I
mag
es
Figura 41 – Em setembro de 2004, separatistas chechenos de-flagraram diversos ataques na Federação Russa. Entre eles, uma invasão de uma escola durante três dias acabou levando à morte 332 pessoas, das quais 186 eram crianças, na tenta-tiva de resgate promovida pelas forças de segurança russas. Beslan (Ossétia do Norte), 1o a 3 setembro de 2004. Na foto, tirada em 30 de maio de 2007, diante do muro da quadra de esporte da escola, a mãe de uma das vítimas olha as imagens dos que faleceram no incidente.
Sugestão de sites
No site Le Monde Diplomatique Brasil, dis-
ponível em: <http://www.diplomatique.org.br/
busca.php?palavra=terrorismo&x=8&y=7>,
acesso em: 27 nov. 2013, encontram-se disponí-
veis numerosos textos sobre terrorismo. Oriente
os alunos a consultá-lo livremente ou sob sua
orientação, para que realizem pesquisa temáti-
ca, com o propósito de aplicarem sobre um ou
mais textos selecionados o roteiro fornecido na
sequência para a leitura e a elaboração das sín-
teses de textos.
Estimule os alunos a frequentar o site Clu-
be Mundo, Geografia e Política Internacional,
disponível em: <http://www.clubemundo.com.
br>, acesso em: 27 nov. 2013, no qual poderão
ler, discutir e utilizar o roteiro para a leitura e a
elaboração das sínteses de textos.
Para esta etapa da Situação de Aprendiza-
gem, na seção Desafio!, propomos dois textos,
disponibilizados nos endereços eletrônicos a
seguir, para que os alunos elaborem uma sín-
tese destacando as principais ideias:
Texto 1 – Antiterrorismo, de Ignácio
Ramonet. Disponível em: <http://www.
diplomatique.org.br/acervo.php?id=1001>.
Acesso em: 27 nov. 2013.
Texto 2 – Somália, o país mais perigoso do
mundo, de Luiz Carlos Bresser-Pereira.
Disponível em: <http://www.diplomatique.
org.br/acervo.php?id=2275>. Acesso em:
27 nov. 2013.
D
96
proveitosa para os estudos pré-universitários
e posteriores de seus alunos.
Tenha presente que os procedimentos aqui
indicados poderão ser úteis no contato que
desejamos que eles cultivem cada vez mais
com artigos de jornais e revistas, ou outros, de
qualidade, disponíveis em sites. Nunca é de-
mais lembrá-los que, caso desejem realmente
adquirir melhores instrumentos para a com-
preensão da realidade, precisam “exercitar-se
no pensamento”. E isso, não resta dúvida,
poderá ser realizado por meio da leitura de
textos variados.
Roteiro para a leitura e a elaboração das sínteses de textos
Como levar os seus alunos a ler e entender
textos? Como ajudá-los a se tornar leitores?
Muitos acreditam que o simples fato de se-
rem alfabetizados confere-lhes a capacidade
de compreender o conteúdo de determina-
do texto. Entretanto, como sabemos, apenas
percorrer as linhas de um texto de maneira
apressada não é condição suficiente para
compreendê-lo satisfatoriamente. É preciso ir
um pouco além, esforçando-se para entender
os conceitos enunciados, esmiuçar seu “teci-
do” argumentativo, o que implica não apenas
um, mas vários movimentos de leitura.
A orientação que se segue sobre como
proceder para o aluno obter melhores resul-
tados na compreensão de um texto, é ape-
nas uma sugestão, entre outras, uma vez que
cada profissional deve buscar estabelecer seu
próprio método de trabalho. Essa preocupa-
ção, embora pareça enfadonha, justamente
por requerer esforço e empenho, caso real-
mente seja atendida (e aperfeiçoada ao lon-
go de várias tentativas), será extremamente
Propomos aqui o que poderíamos cha-mar de uma “leitura estrutural” de deter-minado discurso (seja ele jornalístico, seja científico, por exemplo). Vale informar os alunos de que isso implica assumir que não há gratuidade em termos, articulações e estilo empregado pelo autor, devendo-se buscar a totalidade e a inter-relação entre suas partes constituintes (as noções apre-sentadas, o encadeamento das frases nos parágrafos), como também entender a in-tenção do que o autor quer comunicar.
Da leitura passiva à leitura ativa
1. Uma primeira aproximação: da leitura rápida à enumeração dos parágrafos
Leia o texto de forma atenta do início ao fim.
Leia o texto uma segunda vez, porém mais detidamente, buscando afastar seus co-
nhecimentos prévios sobre o tema abordado, prestando atenção aos elementos apre-
97
Geografia – 3a série – Volume 2
sentados pelo autor. Nesse trabalho inicial, sublinhe a lápis os termos ou expressões
desconhecidas e busque num dicionário o esclarecimento dos mesmos. Aproveite para
enumerar os parágrafos do texto, pois isso poderá ajudar quando for discuti-lo com
seus colegas.
2. Descobrir o significado das noções-chave
Realizado o trabalho com o vocabulário, identifique as noções-chave, como as defini-
ções mais visíveis e importantes oferecidas no texto.
Por meio do texto, identifique eventuais noções que não são necessariamente explicita-
das ou evidentes, observando ou procurando descobrir como os elementos do texto as
explicam ou lhes conferem significado.
3. Identificar a argumentação no texto
Procure e assinale no texto “expressões articulatórias” que permitem o encadeamento
e a coesão do raciocínio apresentado. Algumas delas são: assim, daí, além de, apesar
de, enquanto, conforme, em virtude de, portanto, como, todavia, contudo, de modo
que, por um lado... por outro.
Tanto no conjunto dos parágrafos como também no interior deles, identifique os tre-
chos nos quais ocorre a introdução de novas ideias, exemplos e explicações.
4. Questionar o texto
Qual é o assunto tratado no texto? Por meio desta questão, você estará se perguntando
sobre o tema ou objeto do texto.
Qual é a tese defendida pelo autor sobre o tema tratado? Por meio desta pergunta,
espera-se que você identifique qual é a opinião do autor sobre o tema ou objeto
abordado.
5. Sintetizar a leitura de texto realizada
Sob a forma dissertativa, redija respostas para as questões colocadas anteriormente. Ao
respondê-las, busque explicar quais foram as maneiras encontradas pelo autor para tratar
o tema e defender sua opinião sobre o mesmo. Desse modo, você terá realizado um bom
exercício de interpretação de texto!
98
Para finalizar essa Situação de
Aprendizagem, na seção Lição de
casa, do Caderno do Aluno, estão
propostas duas questões:
1. Enem 2008 – Na América do Sul, as For-
ças Armadas Revolucionárias da Colôm-
bia (Farc) lutam, há décadas, para impor
um regime de inspiração marxista no
país. Hoje, são acusadas de envolvimento
com o narcotráfico, o qual supostamente
financia suas ações, que incluem ataques
diversos, assassinatos e sequestros.
Na Ásia, a Al-Qaeda, criada por Osama
bin Laden, defende o fundamentalismo is-
lâmico e vê nos Estados Unidos da Améri-
ca (EUA) e em Israel inimigos poderosos,
os quais deve combater sem trégua. A mais
conhecida de suas ações terroristas ocorreu
em 2001, quando foram atingidos o Pentá-
gono e as torres do World Trade Center.
A partir das informações acima, conclui-
-se que:
a) as ações guerrilheiras e terroristas no
mundo contemporâneo usam méto-
dos idênticos para alcançar os mesmos
propósitos.
b) o apoio internacional recebido pelas
Farc decorre do desconhecimento, pela
maioria das nações, das práticas violen-
tas dessa organização.
c) os EUA, mesmo sendo a maior po-
tência do planeta, foram surpreendi-
dos com ataques terroristas que atin-
giram alvos de grande importância
simbólica.
d) as organizações mencionadas identifi-
cam-se quanto aos princípios religiosos
que defendem.
e) tanto as Farc quanto a Al-Qaeda res-
tringem sua atuação à área geográfica
em que se localizam, respectivamente,
América do Sul e Ásia.Essa questão resgata os conteúdos que foram abordados nesta
Situação de Aprendizagem 8, sob o tema “O terror e a guerra
global”. Considerando-se os conteúdos desenvolvidos nesta Si-
tuação de Aprendizagem, os alunos devem concluir que a alter-
nativa correta é a “c”, pois demonstra, a partir dos ataques de 11
de setembro, que uma das estratégias de atuação terrorista é o
ataque a ícones das grandes potências econômicas. O equívoco
da alternativa “a” está em afirmar que todas as redes terroristas
e guerrilheiras usam métodos idênticos tendo os mesmos pro-
pósitos, quando na verdade são grupos e, consequentemente,
métodos e objetivos diversos e complexos. A alternativa “b” está
errada, pois não há apoio internacional para a atuação das Farc.
Na alternativa “d”, afirma-se haver uma identificação religiosa
entre as organizações guerrilheiras e terroristas, o que é um
equívoco. Por fim, a alternativa “e” está errada, pois não há limi-
tes geográficos de atuação das Farc e da Al-Qaeda.
99
Geografia – 3a série – Volume 2
2. Leia a notícia a seguir
Obama pede parceria com muçulmanos contra Al-Qaeda
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu nesta segunda-feira na Turquia uma parceria maior entre seu país e o mundo muçulmano como forma de derrotar a orga-nização terrorista Al-Qaeda. [...]
Obama iniciou sua visita na manhã desta segunda-feira depositando uma coroa de flores no túmulo do fundador do Estado turco moderno, Mustafa Kemal Atatürk, elogiando sua “visão e coragem”. [...]
Folha On-line, 06/04/2009, fornecido pela Folhapress. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u546662.shtml>. Acesso em: 27 nov. 2013.
De acordo com a notícia, a posição ado-
tada pelo atual governo dos EUA pode ser
compreendida como:
a) um aviso de que os ataques contra ter-
roristas islâmicos vão continuar, mesmo
sem a concordância do mundo islâmico.
b) uma forma de usar as bases militares
dos EUA em solo árabe sem que ocor-
ram retaliações por parte da comunida-
de islâmica.
c) uma política de aproximação e concilia-
ção com o mundo islâmico.
d) uma forma de avisar ao mundo islâmico
que os EUA não abrirão mão de ações
militares em países que possuem terro-
ristas em sua população.
A eleição do democrata Barack Obama para a Presidência
dos EUA em 2008 mudou os fundamentos da política exter-
na estadunidense, que busca aproximar-se do mundo islâ-
mico rompendo com a política unilateral e militar de seu
antecessor.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 9 A GLOBALIZAÇÃO DO CRIME
Esta Situação de Aprendizagem visa com-
plementar um quadro de referência sobre
os fluxos materiais no espaço global. Isso é
realizado propondo-se a formação de gru-
pos de pesquisa para a elaboração de dos-
siês e seminários sobre os fluxos de drogas
e dinheiro ilícitos, tráfico de pessoas, cor-
rupção, fabricação e tráfico ilegal de armas.
De maneira complementar, é proposta aula ex-
positiva dialogada, de modo a abordar os flu-
xos de drogas e dinheiro ilícitos, fazendo desses
exemplos uma oportunidade para destacar
perante os alunos alguns fatores responsáveis
pela ampliação das redes criminosas globais e
suas diferentes formas de atuação com o ad-
vento dos usos das tecnologias da informação.
100
Conteúdos: análise sobre a atuação das redes criminosas globais por meio da identificação e do reco-nhecimento dos fluxos de drogas e dinheiro ilícitos, tráfico de pessoas, corrupção, fabricação e tráfico ilegal de armas; análise do papel facilitador das redes imateriais nas diferentes formas de atuação das redes criminosas.
Competências e habilidades: ler mapas temáticos e textos; construir e aplicar conceitos sobre as redes de crime organizado, de modo a identificar suas origens e padrões de atuação; ponderar razões histórico--geográficas e socioeconômicas que explicam a ampliação da atuação das redes criminosas em escala global; destacar fatores responsáveis pela ampliação das redes criminosas globais e suas diferentes formas de atuação com o advento dos usos das tecnologias da informação; elaborar dossiês temáticos sobre modalidades de atividades ilícitas com amplitude global, para desenvolver habilidades de leitura e produção de textos contínuos (narrativas, textos expositivos e descritivos) e descontínuos (leitura e interpretação de mapas e gráficos), além da sistematização de informações.
Sugestão de estratégias: formação de grupos de pesquisa; elaboração de dossiês e seminários; leitura, interpretação e comparação de mapas e gráficos; aula expositiva dialogada; leitura, síntese e articula-ção de informações pesquisadas em textos de diversas procedências (material didático adotado, jor-nais, revistas e sites).
Sugestão de recursos: apresentação de imagens; material didático adotado e outros disponíveis na bi-blioteca da escola; artigos de jornais; revistas; internet.
Sugestão de avaliação: elaboração e entrega de dossiê; apresentação do seminário; participação nas discussões.
1. Segundo os textos, quais são as ações ado-
tadas no Brasil e no mundo, neste início de
século, para combater o tráfico de drogas?
Segundo a Convenção de Palermo e outros acordos inter-
nacionais, os departamentos de polícia devem agir em con-
sonância, de modo a coibir a extensão dessas redes. Dessa
forma, firmaram acordos para extraditar traficantes e agentes
do crime internacional; desenvolver ações conjuntas para
prevenir, suprimir e punir o tráfico de pessoas, especialmen-
te mulheres e crianças; coibir de modo eficaz o contraban-
do de imigrantes por terra, ar e mar; agir em conjunto com
vistas a controlar e impedir a fabricação ilegal e o tráfico de
armas de fogo, incluindo peças, acessórios e munições.
2. Você acredita que o consumidor de drogas
tem consciência de toda a violência embutida
Etapa prévia – Sondagem inicial e sensibilização
Reúna textos de fontes diversas sobre a glo-
balização do crime, a ser fornecidos para os
alunos individualmente ou em grupos, para
leitura e discussão em sala de aula. Esse pro-
cedimento poderá ajudar a suscitar discussão
inicial sobre o problema, o que certamente per-
mitirá averiguar o que eles conhecem a respeito
e, desse modo, ajustar o que é proposto nesta
Situação de Aprendizagem aos seus alunos. Os
textos 1 e 2, presentes na seção Para começo
de conversa, também poderão auxiliá-lo a des-
pertar a discussão pretendida. Após a leitura
desses textos, sugerimos as questões a seguir.
101
Geografia – 3a série – Volume 2
nos processos de financiamento, produção e
comercialização de entorpecentes? Justifique.
Ao abordar este tema, é preciso que você analise com os
alunos como as redes ilegais se interligam e de que forma
atuam na desestruturação da sociedade. Vale lembrar que
essa é uma discussão necessária e pertinente tanto com
relação ao funcionamento dos fluxos da ilegalidade que
atuam nas diferentes escalas geográficas quanto ao consi-
derar como o narcotráfico afeta a vida em sociedade, disse-
minando outras formas de violência. Dada a relevância do
assunto, também é importante destacar os efeitos perversos
ligados ao narcotráfico, como, entre outros, o fato de que
os usuários de drogas acabam tendo menos tempo de vida
por terem a saúde debilitada em consequência do consu-
mo e a relação entre as atividades do narcotráfico e os altos
índices de violência e de criminalidade. Valeria ponderar
com os alunos que quem acaba pagando o preço mais alto
pelo envolvimento com os fluxos de droga são os pequenos
“passadores”, que têm uma expectativa de vida baixíssima, já
que estão na ponta mais perigosa do circuito.
Texto 1
Diretor da PF avalia que globalização intensifica tráfico internacional de drogas
Brasília – O fenômeno da globalização reflete em setores que vão além da economia mundial,
passando, inclusive, por atividades ilícitas. A avaliação foi feita pelo diretor-geral da Polícia Fe-
deral (PF), Luiz Fernando Corrêa, ao falar hoje (25) sobre o treinamento policial unificado entre
países da América do Sul e África para reduzir o tráfico de drogas para o continente europeu.
“A movimentação de pessoas hoje está facilitada no mundo, as barreiras e fronteiras fo-
ram minimizadas. Além de ter relações institucionais, temos que ter uma operação funcional
mais íntima. Assim como fomos buscar nos países mais experientes, queremos transferir co-
nhecimento para países que estão um passo atrás em termos de capacidade de investigação e
formação de efetivos.”
Corrêa reforçou que, à medida que o país melhora suas relações comerciais e a capacidade
de transporte, não só de pessoas, mas também do próprio comércio legal, tais “facilidades”
tendem a ser utilizadas pelo crime organizado.
“Temos que estar atentos e nos preparar. A rota é aquela possível e favorável no momento.
O que cabe é ter inteligência para detectar que determinada atividade possa ser utilizada inde-
vidamente pelo crime.”
Agentes e peritos de países africanos como Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bis-
sau, além de nações sul-americanas como Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru e Uru-
guai, começaram a ser treinados hoje (25) pela PF brasileira, em parceria com o Escritório
das Nações Unidas Contra Drogas e Crime (UNODC).
102
Ao todo, 350 alunos – incluindo os aprovados no último concurso da PF e 32 estran-
geiros – foram divididos em nove turmas. O curso deve durar quatro meses e meio e tem
como objetivo reduzir a rota do tráfico das drogas que saem da América do Sul rumo à
Europa, passando por países do continente africano.
Corrêa explicou que os 32 estrangeiros receberão o mesmo treinamento destinado aos policiais
federais brasileiros e que, após o fim do curso, o conhecimento será repassado aos seus países.
“Não fica só nisso. Vamos apoiá-los, emprestar policiais mais experientes e, até mesmo, reali-
zar alguma atuação in loco nos seus países, para aplicar esse conhecimento, para que não fique
simplesmente numa troca de cursos.”
Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas, publicado pelo UNODC em 2007, os países
mais citados na rota da cocaína que sai da América do Sul para a Europa e que passa pela
África são Brasil, Peru e Venezuela. Dados apontam ainda que um quarto de toda a cocaína
consumida na Europa chega ao continente por meio de países africanos.
Desde 2005, cerca de 33 toneladas de cocaína foram apreendidas no oeste da África. A
cocaína é contrabandeada por um valor estimado em quase US$ 2 bilhões.
LABOISSIÈRE, Paula. Diretor da PF avalia que globalização intensifica tráfico internacional de drogas. Agência Brasil. 25 fev. 2008.
Texto 2
Convenção de Palermo
Nos últimos anos, o mundo foi colocado diante de uma realidade nova: os sindicatos do
crime ultrapassaram as fronteiras geográficas dos países, com o objetivo de obter maiores
resultados nas operações delituosas e para assegurar proteção e impunidade a seus agen-
tes. Essa mudança de comportamento decorreu da multiplicação do fluxo de mercadorias,
serviços e pessoas entre os países, em consequência do aprofundamento do processo de
globalização.
103
Geografia – 3a série – Volume 2
Em razão disso, a comunidade das nações entendeu a importância da criação de acordos
internacionais para uma ação conjunta contra o crime transnacional organizado. Em 9 de
dezembro de 1998, a Assembleia Geral da ONU determinou a criação de um comitê de traba-
lho com o fim específico de elaborar uma convenção internacional para enfrentar esses crimes.
No ano seguinte, em dezembro de 1999, realizou-se em Palermo, Itália, uma reunião de alto nível para a assinatura da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional. Esse documento – a Convenção de Palermo – expressa a compreensão de que os países estão diante de um gravíssimo problema que só pode ser eliminado mediante uma ação conjunta da comunidade das nações.
A Convenção de Palermo foi adotada pelas Nações Unidas em 15 de novembro de 2000, na Assembleia Geral do Milênio. Ela é suplementada por três documentos que abordam áreas específicas de atuação do crime organizado:
protocolo para prevenir, suprimir e punir o tráfico de pessoas, especialmente mulheres e crianças;
protocolo contra o contrabando de imigrantes por terra, ar e mar;
protocolo contra a fabricação ilegal e o tráfico de armas de fogo, incluindo peças, acessórios e munições.
No artigo 2o, o tratado firmou a seguinte definição:
Para efeitos da presente Convenção, entende-se por: a) “Grupo criminoso organizado” – grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertada-mente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material.
Diversas questões foram tratadas nesses acordos exaustivamente analisados pela ONU. As-sim, entre elas, ficou estabelecido que os países se comprometem a criminalizar a lavagem de dinheiro e a instituir um sistema de controle de instituições bancárias e que não podem deixar de tomar as medidas apropriadas sob a alegação de normas de sigilo bancário. O problema da corrupção também foi abordado nos documentos e neles estão propostas para agravar as sanções contra esse tipo de crime. A Convenção trata também de aspectos relacionados com a extradição de criminosos e a transferência de presos, respeitando a legislação nacional dos países.
Como o Congresso Nacional de nosso país aprovou, em maio de 2003, o texto da Conven-ção de Palermo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Decreto no 5 015, de 12 de março de 2004, sacramentou a adesão do Brasil a esse documento do Direito Internacional.
INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. A hora e a vez de derrotar o crime organizado. Entrevista com Getúlio Bezerra Santos. Estudos Avançados. São Paulo, v. 21, n. 61, dez. 2007. p. 102. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v21n61/a07v2161.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2014.
104
Etapa 1 – Pesquisa, elaboração de dossiês e seminários
Oriente e acompanhe os alunos
na construção, por eles próprios,
de uma visão de síntese e didática
sobre o tema globalização do crime, estimulan-
do durante esse percurso de aprendizagem a
pesquisa em grupo sobre os principais conteú-
dos ou problemas correlatos. Para que esse pro-
pósito seja desenvolvido, estimule a maior
participação dos alunos por meio da formação
de grupos, que poderão ficar responsáveis por
pesquisar um dos temas a seguir, todos relacio-
nados com a globalização do crime, e em segui-
da elaborar um dossiê.
Os fluxos das drogas ilícitas
Os fluxos de dinheiro ilícito
Tráfico de pessoas
Corrupção
A fabricação e o tráfico ilegal de armas
Dossiê é uma palavra de origem france-sa, que significa documento ou documen-tação. Muito utilizado pela imprensa em geral, um dossiê constitui um conjunto de artigos ou textos de vários autores, que po-dem ser acompanhados por dados estatís-ticos, mapas, gráficos, tabelas, infográficos e outros recursos, de modo a abordar um assunto ou tema de forma atual, oferecen-do uma visão de conjunto sobre os mais diversos aspectos. Muitas vezes um dossiê também se assemelha a um relatório, em que informações descritivas são articula-das com análises, geralmente críticas, sobre o assunto ou o tema abordado.
Sugestão de roteiro
1. Iniciem o trabalho buscando subsídios no site
da biblioteca do Escritório das Nações Uni-
das sobre Drogas e Crime. Disponível em:
<http://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/index.
html>. Acesso em: 27 nov. 2013.
2. Pesquisem também em jornais, revistas, atlas,
enciclopédias, internet, no seu material didá-
tico e em outras publicações disponíveis na
biblioteca da escola.
3. Selecionem os diversos tipos de material pes-
quisados e elaborem um dossiê que contenha
informações históricas e atuais sobre o tema
escolhido. Coletem também dados e imagens.
4. Preparem uma apresentação de 15 minutos
para a turma, articulando e sintetizando
ideias e informações sobre o tema, de modo
a socializar os conhecimentos obtidos.
Etapa 2 – Aula expositiva dialogada com análise de mapa temático
Organizados os grupos de pesquisa, su-
gerimos abordar em sala de aula ao menos
uma modalidade de atividades relacionadas
ao crime: os fluxos de dinheiro ilícitos. Além
da especificidade destes conteúdos, que mere-
ce ser levada em conta, o objetivo é formar,
com eles, um quadro de referências mínimo
e comum aos demais sugeridos para a elabo-
ração dos dossiês. Em outras palavras, por
meio das explicações sobre os conteúdos in-
dicados, procure demonstrar que, assim como
105
Geografia – 3a série – Volume 2
no comércio internacional, nas questões da cul-
tura de massa e na geopolítica, as novas tecno-
logias de transporte e de comunicação do atual
período da globalização revolucionaram tam-
bém os setores ligados às práticas criminosas.
Os fluxos de dinheiro ilícito
Com base nos mesmos procedimentos suge-
ridos no início desta etapa, ressalte outro fenô-
meno não menos importante, para que os alunos
construam uma visão de conjunto sobre o avan-
ço dos fluxos internacionais de drogas. Com esse
propósito, explore com eles aqueles constantes
na Figura 42, informando-lhes que hoje existe
um mecanismo de “lavagem de dinheiro” que se
utiliza do sistema financeiro globalizado, dimi-
nuindo os riscos do negócio e aumentando os
lucros dos traficantes, mas também dos bancos
e agentes financeiros envolvidos.
Caso a expressão “lavagem de dinheiro” soe
estranha para os alunos, esclareça que se trata
de um processo pelo qual o dinheiro obtido
por meios ilegais, como o dinheiro provenien-
te do narcotráfico, passa a ser legal. Exempli-
fique a noção comentando que os traficantes
contratam intermediários, que, por sua vez,
subcontratam outras pessoas para que rea-
lizem depósitos em suas contas de pequenas
quantidades do “dinheiro sujo”, proveniente
do narcotráfico (até 10 000 dólares). Após in-
vestirem esses recursos em outras aplicações
(em ações, letras de câmbio), as pessoas sub-
contratadas devolvem as aplicações para os
intermediários, que, por sua vez, depositarão
os montantes numa conta de banco nacional
ou num paraíso fiscal, lugar onde os controles
sobre os depósitos não são rigorosos.
Quanto à expressão “paraíso fiscal”, conte
que o termo designa os lugares (muitas vezes
são pequenas ilhas) em que enormes quantias
de capital financeiro são depositadas. As altas
taxas de juros pagas e a falta de controle sobre
pessoas e empresas que depositam essas gran-
des quantias, permitindo que recursos obtidos
em atividades criminosas sejam depositados,
são algumas das vantagens oferecidas. As Ilhas
Cayman, pertencentes ao Reino Unido e que es-
tão situadas no Mar do Caribe, são um exemplo.
Após haver discorrido sobre essas noções,
tome-as como base para que os alunos enten-
dam que essas estratégias são as mais conheci-
das e que permitem às organizações criminosas
globais “despistar” muitas vezes os agentes
policiais que tentam rastrear esses fluxos
ilegais. Os grandes paraísos fiscais também
se beneficiam dessa situação, pois estão in-
teressados apenas no lucro financeiro e, na
maioria das vezes, não se preocupam com a
origem do dinheiro depositado em seus ban-
cos (são também clientes dos paraísos fiscais
pessoas que realizam contrabandos vultosos
de mercadorias e de armas, políticos e em-
presários corruptos, além dos envolvidos em
outras atividades ilícitas).
Leitura e análise de mapa
Como proposta de consolidação dos temas
tratados nessa etapa, propomos as seguintes
questões, presentes no Caderno do Aluno.
106
1. Pesquise e responda: Qual o significado
dos termos “lavagem de dinheiro” e “pa-
raíso fiscal”?
2. Analise o mapa apresentado a seguir e
responda à questão proposta.
Em que porção do continente americano
se concentra a maioria dos paraísos fiscais?
Analisando-se detidamente o mapa, pode-se verificar que há
maior concentração de paraísos fiscais na América Central,
distribuindo-se principalmente em sua porção insular, ou seja,
nas Antilhas.
Andorra
Ilha de Man (R. U.)
Guernesey (R. U.)
Gibraltar (R. U.)EspanhaMônaco
Anguilla (R. U.)Ilhas Virgens (R. U.)Ilhas Virgens (EUA)
Bahrein
Brunei
Filipinas
Malásia
ChipreMalta
IsraelLíbano
LibériaBostuana
Gana
Liechtenstein
Letônia
São MarinoItáliaSuíça
Ilhas Cook
Ilhas Marshall(EUA)
SeichelesIlhas Maurício
Samoa
Vanuatu
Antígua e Barbuda
São Cristóvão e Névis
GranadaBarbados
BahamasIlhas Turcase Caicos (R. U.)
BelizeCaimãs (R. U.)
Panamá
Bermudas (Reino U.)
Santa LúciaMontserrate (R. U.)
Aruba (P. B.)Antilhas Holandesas (P. B.)
São Vicente e GranadinasDominica
HungriaÁustria
Dublin
BélgicaPaíses Baixos
Dinamarca
Londres (R. U.)
Madeira (Port.)
Dubai
Hong Kong
Japão
Índia
Coreia do Sul
Macao
Uruguai
LuxemburgoAlemanha
Maldivas
Cingapura
Costa Rica
Guatemala
Delaware (EUA)
CanadáJersey (R. U.)
5534 70 80 92
Ate
lier
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nce
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012
Nível de opacidade financeira, 2011(Opacity Score, The Tax Justice Network)
Peso relativo nas finanças globais (índice)
Fontes: The Tax Justice Network, www.secrecyjurisdictions.com; Christian Chavagneux e Ronen Palan, Les Paradis fiscaux, Paris, La Découverte, 2006; Antoine Dulin (Plateforme Paradis fiscaux et judiciaires).
elevadomoderado
menos de 0,0050,020,050,2
Figura 42 – Paraísos fiscais, 2011. ATELIER de Cartographie de Sciences Po. Mapa original.
Para finalizar essa Situação de
Aprendizagem, sugerimos na se-
ção Lição de casa, presente no
Caderno do Aluno, a leitura do texto repro-
duzido a seguir, que discorre sobre o anda-
mento do Tratado sobre Comércio
Internacional de Armas, aprovado pela As-
sembleia Geral da ONU em abril de 2013,
mas que ainda precisa ser ratificado por pelo
menos 50 países para entrar em vigor. Em se-
guida, os alunos deverão pesquisar sobre o
assunto na internet ou na imprensa escrita
para elaborarem uma pequena dissertação
abordando a importância desse tratado e os
procedimentos necessários para que ele entre
em vigor.
Paraísos Fiscais, 2011
107
Geografia – 3a série – Volume 2
Uma fresta se abre na ONU
A longo prazo, dizia o economista John Maynard Keynes, estaremos todos mortos. A lon-
go prazo, talvez seja o caso de parafrasear, estaremos todos menos sujeitos a morrer atingidos
por armas de fogo hoje livremente negociadas nos mercados internacionais. Essa é a expecta-
tiva, entre otimista e realista, que se pode cultivar agora que a Assembleia-Geral das Nações
Unidas – depois de duas décadas de pressões e sete anos de negociações – acaba de aprovar
por esmagadora maioria o primeiro tratado sobre o comércio internacional de armamentos
convencionais, que movimenta cerca de US$ 70 milhões por ano.
Foram 154 votos a favor, entre os quais os do Brasil e dos EUA, 23 abstenções, como as
da Rússia, China e Índia, e 3 votos contrários, do Irã, Síria e Coreia do Norte. Na semana
passada, o trio impediu que o documento fosse aprovado por aclamação, como se pretendia
inicialmente. O acordo regula as exportações de tanques e outros veículos de ataque, sistemas
de artilharia de grosso calibre, aviões e helicópteros de combate, belonaves, mísseis e lançado-
res, além de armas pequenas e leves. [...]
Quando – e se – o tratado entrar em vigor e for obedecido, os países exportadores de
armas, liderados de longe pelos EUA e a Rússia, deverão se abster de vendê-las a governos
que violem direitos humanos, fomentem o genocídio, tenham praticado crimes de guerra,
respaldem movimentos terroristas, permitam que o armamento chegue ao mercado negro ou
estejam proibidos de recebê-lo [...].
O Estado de S. Paulo, 04/04/2013. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/ noticias/impresso,uma-fresta-se-abre-na-onu,1016845,0.htm>. Acesso em: 14 abr. 2014.
PROPOSTAS DE SITUAÇÕES DE RECUPERAÇÃO
Neste tópico destacamos algumas compe-
tências, habilidades e conhecimentos extraí-
dos dos temas trabalhados nas Situações de
Aprendizagem, de modo a mobilizá-los no
caso de defasagens ou encaminhamento de
alunos para a recuperação. A ideia é propor
outras estratégias para que as expectativas
básicas de aprendizagem tenham nova chance
de serem alcançadas, além de indicar formas
para avaliar o desempenho dos alunos que se
encontrem, porventura, nesta situação.
Desse modo, a respeito da Situação de
Aprendizagem 1, sob sua orientação, julga-
mos válido dar orientação aos alunos para
pesquisa sobre textos que configurem regis-
tros artísticos (artes plásticas, letras de músi-
ca, obras literárias e teatrais, fotografias, entre
108
outros) sobre os países que compõem a África
do Norte. Cada aluno poderá pesquisar obras
relacionadas a um Estado específico, elabo-
rando um material iconográfico acompanha-
do de comentários elaborados com o objetivo
de proporcionar aos alunos um maior enten-
dimento sobre a cultura e a sociedade. A ex-
pectativa de aprendizagem, nesse caso, poderá
ser avaliada observando-se se os alunos ressal-
tam e exemplificam, por meio das obras pes-
quisadas e na forma escrita, a riqueza cultural
dos Estados e territórios pesquisados.
Para a Situação de Aprendizagem 2, seria
interessante solicitar trabalho escrito a partir
do monitoramento de notícias sobre a África,
televisivas e veiculadas em jornais impressos,
no intervalo de uma semana. Os alunos pode-
riam selecionar e comentar algumas notícias
com base na leitura dos textos do material
didático adotado, o que propiciaria oportuni-
dade de identificar diferenças entre a lingua-
gem jornalística e a didática (essa última, ao
menos teoricamente, mais preocupada com a
abordagem conceitual e processual dos acon-
tecimentos). Considera-se importante os alu-
nos estabelecerem relações entre os materiais
pesquisados e interpretados, identificando ou
articulando o que leram ou assistiram.
Para a Situação de Aprendizagem 3, pro-
pomos orientar e solicitar a produção de
textos (comentários e dissertações) sobre a
economia e a população da África, com base
na leitura e interpretação de gráficos e tabe-
las previamente selecionados. A expectativa
de aprendizagem é que os alunos manifestem,
no mínimo, entendimento dos dados estatís-
ticos apresentados, elaborando textos descri-
tivos a respeito. É essencial que demonstrem
o domínio dos conceitos contidos em gráfi-
cos e tabelas. De acordo com seu conheci-
mento acerca das dificuldades dos alunos,
avalie também a possibilidade de orientar
a pesquisa pontual sobre as crises humani-
tárias na África em que, além de solicitar a
coleta e seleção de textos descontínuos sobre
o fenômeno, poderá orientá-los acerca da
elaboração de um texto dissertativo no qual
sejam interpretados os fatores responsáveis.
Para a Situação de Aprendizagem 4, propo-
mos uma nova análise do conjunto de mapas
da Figura 24 (“Tráfico atlântico de escravos:
dimensões e destinos”), caracterizando os flu-
xos escravos em cada um dos períodos ilustra-
dos. Na elaboração desse trabalho, os alunos
deverão considerar o que foi estudado em aula
e os materiais disponíveis na escola.
Com relação à Situação de Aprendizagem
5, sob sua orientação, julgamos válido remeter
os alunos para pesquisa de textos descontínuos
(mapas, gráficos e tabelas) sobre os fluxos do
comércio internacional de mercadorias. Cada
aluno poderá pesquisar e elaborar um material
iconográfico, acompanhado de comentários. A
expectativa de aprendizagem, neste caso, po-
derá ser avaliada observando-se se os alunos
ressaltam e exemplificam, com base nos textos
descontínuos selecionados, o aumento dos flu-
xos materiais da globalização, associando aos
comentários conceitos-chave estudados, como
meio técnico-científico-informacional.
109
Geografia – 3a série – Volume 2
Para a Situação de Aprendizagem 6, propo-
mos orientar e solicitar a produção de textos
(comentários e dissertações) sobre o mercado
de filmes no Brasil, baseada na leitura e na in-
terpretação de gráficos e tabelas previamente
selecionados. A expectativa de aprendizagem
é que os alunos manifestem, ao menos, enten-
dimento dos dados estatísticos apresentados,
elaborando textos descritivos a respeito e, o
que é essencial, demonstrem reflexão diante
da prevalência de bens culturais produzidos
nos Estados Unidos.
Para a Situação de Aprendizagem 7, pro-
pomos estimular a pesquisa e a produção
de textos (comentários e dissertações) sobre
a cidade de São Paulo, orientados para o
entendimento da posição por ela ocupada
como cidade global. Além disso, mais espe-
cificamente e de modo a delimitar os desdo-
bramentos do trabalho, problematize com
os alunos as questões internas tanto da ci-
dade de São Paulo como também de outras
cidades globais, de modo que eles articulem
entendimento entre fatos e processos que
ajudam a aprofundar o conteúdo e o tema
indicados.
Para a Situação de Aprendizagem 8, julga-
mos válido reorientar os alunos para a leitu-
ra e a elaboração de sínteses dissertativas de
artigos dos sites do Le Monde Diplomatique
Brasil e do Clube Mundo. Insistir nessa estra-
tégia é fundamental, pois ela é voltada para
a compreensão leitora. Diante de eventuais
dificuldades de seus alunos perante os textos
desses sites, recomendamos aplicar o roteiro
de trabalho fornecido na Situação de Apren-
dizagem para outros textos, como os jornalís-
ticos, cuja seleção poderá ser feita para esse
fim. Além da precisão conceitual que poderá
ser observada com relação aos textos lidos, a
expectativa de aprendizagem merece que se
avalie a coesão textual e a forma de apresenta-
ção da síntese dissertativa.
O mesmo procedimento anterior poderá
orientar o trabalho dos alunos com os con-
teúdos e os temas desenvolvidos na Situação
de Aprendizagem 9.
110
RECURSOS PARA AMPLIAR A PERSPECTIVA DO PROFESSOR E DO ALUNO PARA A COMPREENSÃO DOS TEMAS
Sugestão de filmes
Capitão Phillips (Captain Phillips). Dire-
ção: Paul Greengrass. Estados Unidos, 2013.
134min. 14 anos. Baseado em fatos reais, o
filme conta a história do sequestro do car-
gueiro estadunidense Maersk Alabama por
piratas somalis, em 2009. O filme ajuda a en-
tender por que a costa somaliana é o local
no mundo com maior número de incidentes
com piratas.
Encontro com Milton Santos ou O mundo
global visto do lado de cá. Direção: Silvio
Tendler. Brasil, 2006. 89min. Documentário
de repercussão nacional e internacional feito
com base em uma entrevista com o geógrafo
brasileiro Milton Santos (1926-2001), em 4
de janeiro de 2001. Premiado como melhor
filme pelo júri popular do Festival de Cinema
de Brasília, em 2006, discute o tema da glo-
balização e seus efeitos nos países e cidades
do planeta, proporcionando contato com um
dos principais expoentes do pensamento bra-
sileiro do século XX.
Hotel Ruanda (Hotel Rwanda). Direção: Terry
George. Canadá, 2004. 128min. 14 anos. Du-
rante o conflito em Ruanda, em 1994, cer-
ca de 1 milhão de pessoas foram mortas em
poucos meses. O filme narra a história real de
um gerente de hotel que, no auge das atroci-
dades, corajosamente tomou a decisão de abri-
gar mais de 1 200 pessoas que, graças à ação
individual desse homem, conseguiram sobre-
viver ao genocídio de Ruanda.
Sugestão de livros para o professor
CASTELLS, Manuel. A era da informação: eco-
nomia, sociedade e cultura. Volume 1: A socieda-
de em rede. 10. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
A obra é parte integrante da trilogia do reno-
mado cientista social. Baseada em pesquisas de-
senvolvidas nos Estados Unidos, Ásia, América
Latina e Europa, mostra-se bastante esclarece-
dora quanto às dinâmicas econômica e social
do mundo atual, construindo um quadro amplo
de referências sobre os efeitos fundamentais da
tecnologia da informação na vida urbana, na
política global e na natureza do tempo.
MELLO E SOUZA, Marina de. África e Bra-
sil africano. São Paulo: Ática, 2006. A obra
oferece um amplo panorama do continente
africano, com suas diversas sociedades locais,
sua história e cultura antes e depois da escra-
vidão. De grande valia, discorre sobre as con-
sequências da importação de quase 5 milhões
de escravos africanos ao longo de mais de 300
anos de história do Brasil, evidenciando as
heranças de um legado cultural que até hoje
exerce grande influência em nossa sociedade.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização:
do pensamento único à consciência universal.
Rio de Janeiro: Record, 2000. Ao defender a
ideia de que é preciso uma nova interpretação
111
Geografia – 3a série – Volume 2
do mundo contemporâneo, baseada em análise
multidisciplinar, o geógrafo problematiza as
assimetrias da globalização, enfatizando, entre
outros aspectos, como os avanços técnicos
beneficiam um pequeno número de atores
globais. Não obstante, ao reconhecer o início
de processos positivos nas pequenas reações
que ocorrem na Ásia, África e América Latina,
o autor entrevê a construção de um mundo
menos excludente.
SERRANO, Carlos; WALDMAN, Maurí-
cio. Memória d’África: a temática africana em
sala de aula. São Paulo: Cortez, 2007. A obra
desvenda a percepção da realidade africana
ao criticar mitos, ficções e imagens fantasio-
sas a respeito de seus povos e regiões. Desse
modo, auxilia o entendimento e o traçado de
caminhos para o estudo histórico, geográfico
e antropológico do continente africano, cola-
borando, inclusive, para uma melhor compre-
ensão de suas relações com o mundo e com a
sociedade brasileira.
Sugestão de livros para os alunos
ARBEX Jr., José. Narcotráfico: um jogo de
poder nas Américas. São Paulo: Moderna,
1993 (Coleção Polêmica). Livro importante
para compreender o “império” formado pelo
narcotráfico, destacando a América e, parti-
cularmente, o Brasil.
BACIC OLIC, Nelson; CANEPA, Beatriz.
África. Terra, sociedades e conflitos. São
Paulo: Moderna, 2004. A obra fornece uma
visão de síntese sobre a diversidade étnica do
continente africano. Discute vários outros te-
mas com rigor conceitual e riqueza de infor-
mações, como o processo de colonização e as
lutas de emancipação, os conflitos étnicos e
religiosos, a disputa do subsolo rico em ouro,
diamante e petróleo, além de produtos estra-
tégicos usados para fins bélicos. Sem dúvida,
trata-se de uma das melhores contribuições
para o entendimento do continente africano.
BRIGAGÃO, Clóvis; RODRIGUES, Gil-
berto M. A. Globalização a olho nu: o mun-
do conectado. São Paulo: Moderna, 2004
(Coleção Polêmica). Destacando temas
como a questão dos direitos humanos, as
novas tecnologias e a condução política atu-
al do mundo, os autores trazem uma visão
crítica e responsável dos problemas da atual
fase de globalização.
HELENE, Maria Elisa Marcondes. Ciência &
tecnologia: de mãos dadas com o poder. São
Paulo: Moderna, 1996 (Coleção Polêmica).
Leitura importante para compreender a evo-
lução científica e tecnológica e suas relações
com os impactos ambientais, com os meios de
comunicação de massa e a formação da socie-
dade de consumo.
MÉDICE, Miriam de Cássia; ALMEIDA, Mi-
riam L. de. Geografia: a globalização econômi-
ca. São Paulo: Nova Geração, 1999 (Coleção
Nova Geração). Em linguagem bastante acessí-
vel, as autoras traçam um panorama das princi-
pais características do período da globalização,
numa análise precisa, com grande quantidade
de material cartográfico e de imagens.
112
Sugestão de sites
Revista África e africanidades. Disponível em:
<http://www.africaeafricanidades.com.br>.
Acesso em: 11 abr. 2014. Site destinado à re-
flexão, discussão e divulgação de temáticas
africanas e afro-brasileiras. Além de facilitar
o acesso a vários centros e núcleos de pesquisa
sobre a África no Brasil e no exterior, comenta
filmes e obras literárias sobre o continente e
disponibiliza Biblioteca Virtual em que é pos-
sível fazer o download de vários livros.
Ciudades de Hoy, Ciudades del Mañana.
Disponível em: <http://www.un.org/Pubs/
CyberSchoolBus/spanish/cities/index.asp>.
Acesso em: 27 nov. 2013 (em espanhol). O site do
programa interativo da Escola Cibernética das
Nações Unidas traz unidades de aprendizagem
sobre as cidades do mundo, com textos em
linguagem clara e imagens que formam um
bom resumo da história da urbanização e os
seus problemas atuais.
Com Ciência – Cidades. Disponível em:
<http://www.comciencia.br/reportagens/
cidades/cid01.htm>. Acesso em: 27 nov. 2013.
O site oferece material diversificado e de boa
qualidade sobre temas como biotecnologia,
biopirataria, patentes, transgênicos, problemas
indígenas, além de entrevistas, resenhas e
mapas. Excelente para atualização e pesquisa.
Na seção aqui indicada, apresenta vários
artigos e reportagens sobre as cidades globais
e megalópoles, na nova conceituação do
urbanismo contemporâneo, e discute os
problemas do desenvolvimento urbano.
Revista eletrônica Tempo – Técnica – Território.
Disponível em: <http://inseer.ibict.br/ciga/index.
php/ciga/issue/view/16>. Acesso em: 11
abr. 2014. Revista voltada para publicações cien-
tíficas na qual grande parte dos artigos abordam
a temática africana, tendo como um de seus edi-
tores o Prof. Dr. Rafael Sanzio, geógrafo e profes-
sor da UnB com diversas pesquisas desenvolvidas
sobre a diáspora africana e territorialidades.
113
Geografia – 3a série – Volume 2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) professor(a),
Esperamos que a proposta deste volume
contribua para a condução do seu trabalho
com os conteúdos e conceitos essenciais
para compreensão dos temas do currícu-
lo da 3a série do Ensino Médio. Da mes-
ma forma, nossa maior expectativa é que
as estratégias e os recursos sugeridos tam-
bém sejam úteis para o dia a dia na sala
de aula.
Suas sugestões e críticas serão sempre va-
liosas e bem-vindas, pois, como sabemos, a
educação de nossos jovens é um esforço co-
letivo, e merece ser continuamente discutida.
Desse modo, não se esqueça de complementar
as proposições deste Caderno com sua prática
e experiência, além de enriquecê-las com sua
pesquisa e seu estudo. Não temos dúvida de
que isso poderá valorizar e até mesmo ampliar
a perspectiva ou os caminhos priorizados para
percorrer os temas e conteúdos estudados.
114
1a série 2a série 3a série
Volu
me
1
Cartografia e poderOs elementos dos mapas As projeções cartográficas As técnicas de sensoriamento remoto
Geopolítica do mundo contemporâneoO papel dos Estados Unidos da América e a nova “desordem” mundialConflitos regionais e os deserdados da Nova Ordem Mundial
Os sentidos da globalizaçãoAs mudanças das distâncias geográficas e os processos migratóriosA globalização e as redes geográficas
A economia globalOrganismos econômicos internacionaisAs corporações transnacionaisOs fluxos do comércio mundialFluxos econômicos na escala mundial
Território brasileiroA gênese geoeconômica do território brasileiroAs fronteiras brasileiras Do “arquipélago” ao “continente”
O Brasil no sistema internacionalMercados internacionais e agenda externa brasileira
Os circuitos da produção O espaço industrial brasileiro O espaço agropecuário brasileiro
Redes e hierarquias urbanas A formação e a evolução da rede urbana brasileiraA revolução da informação e as cidades
Regionalização do espaço mundialAs regiões da Organização das Nações Unidas (ONU)O conflito Norte e Sul Globalização e regionalização econômica
Choque de civilizações? Geografia das religiõesA questão étnico-cultural América Latina?
Volu
me
2
Natureza e riscos ambientais Estruturas e formas do planeta Terra O relevo terrestre– Agentes internos: os movimentos da crosta– Agentes externos: clima e intemperismoRiscos de catástrofes em um mundo desigual– A prevenção de riscos
Globalização e urgência ambientalOs biomas terrestres – Clima e cobertura vegetal A nova escala dos impactos ambientaisOs tratados internacionais sobremeio ambiente
Dinâmicas demográficas Matrizes culturais do Brasil A transição demográfica
Dinâmicas sociaisO trabalho e o mercado de trabalhoA segregação socioespacial e a exclu-são social
Recursos naturais e gestão doterritórioA placa tectônica sul–americana e o modelado do relevo brasileiroOs domínios morfoclimáticos e as bacias hidrográficasGestão pública dos recursos naturais
A África no mundo globalO continente africanoÁfrica: sociedade em transformaçãoÁfrica e Europa África e América
Geografia das redes mundiaisOs fluxos materiaisOs fluxos de ideias e informaçãoAs cidades globais
Uma geografia do crimeO terror e a guerra globalA globalização do crime
QUADRO DE CONTEÚDOS DO ENSINO MÉDIO
CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERALNOVA EDIÇÃO 2014-2017
COORDENADORIA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB
Coordenadora
Maria Elizabete da Costa
Diretor do Departamento de Desenvolvimento Curricular de Gestão da Educação Básica João Freitas da Silva
Diretora do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF
Valéria Tarantello de Georgel
Coordenadora Geral do Programa São Paulo faz escolaValéria Tarantello de Georgel
Coordenação Técnica Roberto Canossa
Roberto Liberato
S el Cristina de lb er e o
EQUIPES CURRICULARES
Área de Linguagens Arte: Ana Cristina dos Santos Siqueira, Carlos
Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno e Roseli
Ventrella.
Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria
Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt,
Rosângela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto
Silveira.
Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Espanhol): Ana Beatriz Pereira Franco, Ana Paula
de Oliveira Lopes, Marina Tsunokawa Shimabukuro
e Neide Ferreira Gaspar.
Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria
Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos
Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa,
Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli
Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves.
Área de Matemática Matemática: Carlos Tadeu da Graça Barros,
Ivan Castilho, João dos Santos, Otavio Yoshio
Yamanaka, Rosana Jorge Monteiro, Sandra Maira
Zen Zacarias e Vanderley Aparecido Cornatione.
Área de Ciências da Natureza Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth
Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e
Rodrigo Ponce.
Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli,
Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e
Maria da Graça de Jesus Mendes.
Física: Anderson Jacomini Brandão, Carolina dos
Santos Batista, Fábio Bresighello Beig, Renata
Cristina de Andrade Oliveira e Tatiana Souza da
Luz Stroeymeyte.
Química: Ana Joaquina Simões S. de Mattos Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Batista Santos Junior, Natalina de Fátima Mateus e Roseli Gomes de Araujo da Silva.
Área de Ciências Humanas Filosofia: Emerson Costa, Tânia Gonçalves e Teônia de Abreu Ferreira.
Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati.
História: Cynthia Moreira Marcucci, Maria Margarete dos Santos Benedicto e Walter Nicolas Otheguy Fernandez.
Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de Almeida e Tony Shigueki Nakatani.
PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO PEDAGÓGICO
Área de Linguagens Educação Física: Ana Lucia Steidle, Eliana Cristine Budiski de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes e Silva, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da Silva, Patrícia Pinto Santiago, Regina Maria Lopes, Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves Ferreira Viscardi, Silvana Alves Muniz.
Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva, Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos, Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista Bom m, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Campos e Silmara Santade Masiero.
Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Edilene Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, Letícia M. de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz, Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso, Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar Alexandre Formici, Selma Rodrigues e Sílvia Regina Peres.
Área de Matemática Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima, Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro,
Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda Meira de Aguiar Gomes.
Área de Ciências da Natureza Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Evandro Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Rosimara Santana da Silva Alves.
Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson Luís Prati.
Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula Vieira Costa, André Henrique Ghel Ru no, Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael Plana Simões e Rui Buosi.
Química: Armenak Bolean, Cátia Lunardi, Cirila Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S. Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M. Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus.
Área de Ciências Humanas Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal.
Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez, Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos, Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório, Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato e Sonia Maria M. Romano.
História: Aparecida de Fátima dos Santos Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo, Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas.
Sociologia: Anselmo Luis Fernandes Gonçalves, Celso Francisco do Ó, Lucila Conceição Pereira e Tânia Fetchir.
Apoio:Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE
CTP, Impressão e acabamentoEsdeva Indústria Grá ca Ltda.
São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.
Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo caderno do professor geogra a, ensino médio, 3a série / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araújo, Sérgio Adas. - São Paulo: SE, 2014.
v. 2, 120 p.
Edição atualizada pela equipe curricular do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Pro ssional CEFAF, da Coordenadoria de Gestão da Educação Básica - CGEB.
ISBN 978-85-7849-643-2
1. Ensino médio 2. Geogra a 3. Atividade pedagógica I. Fini, Maria Inês. II. Silva, Angela Corrêa da. III. Oliva, Jaime Tadeu. IV. Guimarães, Raul Borges. V. Araújo, Regina. VI. Adas, Sérgio. VII. Título.
CDU: 371.3:806.90
S239m
Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís
Martins e Renê José Trentin Silveira.
Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu
Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo e
Sérgio Adas.
História: Paulo Miceli, Diego López Silva,
Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e
Raquel dos Santos Funari.
Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza
Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe,
Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina
Schrijnemaekers.
Ciências da Natureza
Coordenador de área: Luis Carlos de Menezes.
Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo
Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene
Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta
Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana,
Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Venturoso
Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo.
Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite,
João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto,
Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida
Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria
Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo
Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro,
Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão,
Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume.
Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol,
Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo
de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti,
Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell
Roger da Puri cação Siqueira, Sonia Salem e
Yassuko Hosoume.
Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse
Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe
Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa
Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda
Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião.
Caderno do Gestor Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de
Felice Murrie.
GESTÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO EDITORIAL 2014-2017
FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI
Presidente da Diretoria Executiva Mauro de Mesquita Spínola
GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADAS À EDUCAÇÃO
Direção da Área Guilherme Ary Plonski
Coordenação Executiva do Projeto Angela Sprenger e Beatriz Scavazza
Gestão Editorial Denise Blanes
Equipe de Produção
Editorial: Amarilis L. Maciel, Ana Paula S. Bezerra, Angélica dos Santos Angelo, Bóris Fatigati da Silva, Bruno Reis, Carina Carvalho, Carolina H. Mestriner, Carolina Pedro Soares, Cíntia Leitão, Eloiza Lopes, Érika Domingues do Nascimento, Flávia Medeiros, Giovanna Petrólio Marcondes, Gisele Manoel, Jean Xavier, Karinna Alessandra Carvalho Taddeo, Leslie Sandes, Mainã Greeb Vicente, Maíra de Freitas Bechtold, Marina Murphy, Michelangelo Russo, Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, Paula Felix Palma, Pietro Ferrari, Priscila Risso, Regiane Monteiro Pimentel Barboza, Renata Regina Buset, Rodolfo Marinho, Stella Assumpção Mendes Mesquita, Tatiana F. Souza e Tiago Jonas de Almeida.
Direitos autorais e iconografia: Beatriz Fonseca Micsik, Dayse de Castro Novaes Bueno, Érica Marques, José Carlos Augusto, Juliana Prado da Silva, Marcus Ecclissi, Maria Aparecida Acunzo Forli, Maria Magalhães de Alencastro, Vanessa Bianco e Vanessa Leite Rios.
Edição e Produção editorial: R2 Editorial, Jairo Souza Design Grá co e Occy Design (projeto grá co).
* Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são indicados sites para o aprofundamento de conhecimen-tos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados.
* Os mapas reproduzidos no material são de autoria de terceiros e mantêm as características dos originais, no que diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos).
* Os ícones do Caderno do Aluno são reproduzidos no Caderno do Professor para apoiar na identificação das atividades.
CONCEPÇÃO DO PROGRAMA E ELABORAÇÃO DOS CONTEÚDOS ORIGINAIS
COORDENAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DOS CADERNOS DOS PROFESSORES E DOS CADERNOS DOS ALUNOS Ghisleine Trigo Silveira
CONCEPÇÃO Guiomar Namo de Mello, Lino de Macedo, Luis Carlos de Menezes, Maria Inês Fini (coordenadora) e Ruy Berger (em memória).
AUTORES
Linguagens Coordenador de área: Alice Vieira. Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins, Geraldo de Oliveira Suzigan, Jéssica Mami Makino e Sayonara Pereira.
Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira.
LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo.
LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia González.
Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar, José Luís Marques López Landeira e João Henrique Nogueira Mateos.
Matemática Coordenador de área: Nílson José Machado. Matemática: Nílson José Machado, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli.
Ciências Humanas Coordenador de área: Paulo Miceli.
Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas
Valid
ade: 2014 – 2017