Caminhos históricos do filosofar: Idades Antiga e Média – as questões do ser, conhecer e agir.

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Capítulo VI – Caminhos históricos do filosofar: Idades Antiga e Média – as questões do ser, conhecer e agir. Iremos sentir como os pensadores trabalharam filosoficamente sobre as emergências do seu lugar e do seu tempo, compreender como chegaram a determinadas soluções. Esses dois períodos da história (antigo e médio) da filosofia tiveram à sua frente um único tema: qual é a essência das coisas e como essa essência obriga um determinado modo de conhecer e agir? Ele é classificado como o período essencialista da filosofia, metafísico na antiguidade, e metafísico-religioso na Idade Média. Idade antiga: cosmovisão metafísico-abstrata Na Idade Antiga, as respostas aos problemas tiveram por fundamento formulações abstratas, os conceitos não nasceram da materialidade da experiência, mas de lucubrações mentais, que podem ser lógicas, mas não reais. São soluções bem articuladas, logicamente estruturadas, fazendo sentido. Na maior parte das vezes sem os pés na concreticidade do mundo das coisas e das experiências cotidianas. Sobre a questão do princípio constitutivo das coisas, os gregos buscaram uma forma racional de compreender o mundo, apresentando explicações do mundo a partir do mundo e não mais a partir das divindades. Um pensador chamado Tales de Mileto respondeu que estava na água, um elemento da natureza, pois a água não tem princípio nem fim, é força ativa, “vivente”. Anaximandro, contemporâneo de Tales, entendia que o principal constitutivo e substância (aquilo que sustenta) de todas as coisas era o “Indeterminado” (“apeiron", em grego), vivente, eterno, divino. Tudo tem origem nele e tudo nele se dissolve, mas ele permanece distinto de todas as coisas, como o seu princípio imutável e eterno.

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Capítulo VI – Caminhos históricos do filosofar: Idades Antiga e Média – as questões do ser, conhecer e agir.

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Captulo VI Caminhos histricos do filosofar: Idades Antiga e Mdia as questes do ser, conhecer e agir.Iremos sentir como os pensadores trabalharam filosoficamente sobre as emergncias do seu lugar e do seu tempo, compreender como chegaram a determinadas solues. Esses dois perodos da histria (antigo e mdio) da filosofia tiveram sua frente um nico tema: qual a essncia das coisas e como essa essncia obriga um determinado modo de conhecer e agir? Ele classificado como o perodo essencialista da filosofia, metafsico na antiguidade, e metafsico-religioso na Idade Mdia.Idade antiga: cosmoviso metafsico-abstrataNa Idade Antiga, as respostas aos problemas tiveram por fundamento formulaes abstratas, os conceitos no nasceram da materialidade da experincia, mas de lucubraes mentais, que podem ser lgicas, mas no reais. So solues bem articuladas, logicamente estruturadas, fazendo sentido. Na maior parte das vezes sem os ps na concreticidade do mundo das coisas e das experincias cotidianas.Sobre a questo do princpio constitutivo das coisas, os gregos buscaram uma forma racional de compreender o mundo, apresentando explicaes do mundo a partir do mundo e no mais a partir das divindades.Um pensador chamado Tales de Mileto respondeu que estava na gua, um elemento da natureza, pois a gua no tem princpio nem fim, fora ativa, vivente.Anaximandro, contemporneo de Tales, entendia que o principal constitutivo e substncia (aquilo que sustenta) de todas as coisas era o Indeterminado (apeiron", em grego), vivente, eterno, divino. Tudo tem origem nele e tudo nele se dissolve, mas ele permanece distinto de todas as coisas, como o seu princpio imutvel e eterno.Para Anaxmenes de Mileto o princpio de todas as coisas era o Ar, que gera, rege, governa todas as coisas. Por meio dos processos opostos: rarefazendo-se, o ar torna-se fogo; condensando-se, torna-se vento, depois nuvem, gua, terra, pedra.Pitgoras defende que o Nmero o princpio de todas as coisas, no propriamente no sentido matemtico (nmero que utilizamos para pensar e operar com as quantidades), mas especialmente no sentido ontolgico (constitutivo) das coisas. Os nmeros, sendo pares e dspares, demonstram os contrastes que existem entre todas as coisas no universo. O processo desses contrrios que cria a ordem e harmonia no cosmo. Os nmeros tm sua origem no UM, eterno e imutvel, que d unidade e harmonia. Os pitagricos encontraram um princpio do mundo em um elemento fora da natureza material, mas no mundo racional.Herclito de feso coloca a fonte de todas as coisas no Fogo: o cosmo, que o mesmo para todos, no foi feito nem por algum homem, nem por algum deus, pois ele foi sempre, e ser Fogo. A vida csmica devir (transformao); tudo se move, mas conforme uma ordem, que provm do Fogo. A luta dos opostos a lei do universo, mas eles se unificam no Fogo. Como tudo provm do Fogo, tudo a ele retorna, todas as coisas se regeneram eternamente. Herclito tem o entendimento que o mundo mutvel, permanentemente, assim como a alma humana que se reintegra na alma universal. O princpio constitutivo do universo e de todas as coisas mutvel. Herclito diferiu de todos os seus contemporneos, ele admitiu a mutabilidade como constitutiva do real, enquanto eles pensavam o mundo a partir do ser estvel, eterno e infinito.Sobre as questes do ser e do conhecer temos mais alguns pensadores.Xenfanes, traz baila a questo do ser humano como sujeito do conhecimento e do conhecimento verdadeiro. Diz ele que os deuses no podem ter nada de humano, pois se os bois, cavalos e lees pudessem representar para si mesmos os seus deuses, as suas representaes seriam semelhantes aos bois, cavalos e lees. Os seus conhecimentos dos deuses so suas projees. Xenfanes tecia crticas ao politesmo, especialmente antropomorfizao dos deuses.Parmnides de Elia diz que so duas vias pelas quais podemos proceder a investigao: a aletia (caminho da verdade) e a doxa (caminho da opinio), porque duas so as realidades: a dos Ser e a do Devir (para ele, no-Ser). A primeira a via da razo e da persuaso, que conhece o Ser (que eterno, imutvel), e a segunda a via dos sentidos e das aparncias enganveis, que conhece o devir (aquilo que mutvel). Parmnides afirma que s o Ser e, por isso, somente sobre ele possvel ter conhecimento verdadeiro. Para que o sujeito possa possuir um conhecimento verdadeiro, h necessidade de um objeto que seja verdadeiro, e este o Ser. Desse modo, em Parmnides, pela primeira vez, colocada de maneira crtica a questo do conhecimento e feita a distino entre conhecimento racional e conhecimento sensvel.Empdocles de Agrigento no admitia a imutabilidade do Ser e a mutabilidade e multiplicidade das coisas, tentou uma compreenso do mundo que permitisse uma integrao entre esses elementos. Ele admite o Ser e o Devir, assumindo que h possibilidade de conhecimento verdadeiro sobre ambos. Compreende ele que o fundamento de todas as coisas est nos quatro elementos terra, gua, ar e fogo; e em duas foras a Amizade e a Discrdia. A mistura dos quatro elementos d lugar ao nascimento de todas as coisas e sua separao traz a morte.Para Anaxgoras, todas as coisas so formadas por partculas pequenssimas, qualitativamente distintas e invisveis. A sua forma inicial era catica, todas estavam juntas. O movimento de separao entre essas partculas se processa evolutivamente. Aps iniciar em um ponto, se propaga para o todo. Contudo, tal movimento no se separa do cerne mesmo da mistura primitiva, que foi imprimida por um motor, que uma Mente (Nos). Pela fora de Nos, as coisas se formam a partir da mistura inicial. As partculas dos objetos so divisveis ao infinito e a menor parte da matria contm infinitas dessas partculas. Em cada coisa, h uma parte de cada coisa; em tudo est tudo. Assim, todo elemento componente de um objeto eterno, como so eternas as partculas. Desse modo, nada perece; o nascimento se d pela reunio das partculas e a morte pela separao das mesmas. Anaxgoras entende que o conhecimento sensvel imperfeito, sendo mais perfeito o racional.Nas questes do ser, do conhecer e do agir, a filosofia vai alm da busca do princpio universal de todas as coisas.Os primeiros filsofos que enfrentaram esta nova emergncia na Grcia foram os sofistas, sbios que concentraram sua ateno nas questes humanas: poltica, moral, economia. Os sofistas eram sbios que tinham por misso ensinar a filosofia como um modo de viver a vida pblica. A verdade em si, para os sofistas no existe; ela impossvel. Na sofstica, o ser humano o centro de ateno, como sujeito que conhece age. Os sofistas ensinam a arte de argumentar, a arte da retrica (arte de discutir e argumentar).Protgoras defendia a ideia de que o homem a medida de todas as coisas; das que so, enquanto so, das que no-so, enquanto no-so. Isto significa que a verdade relativa e as afirmaes so subjetivas. O conhecimento aquilo que cada umsente em relao ao mundo, no h possibilidade de um conhecimento que seja verdadeiro e vlido para todos.Grgias de Lencio tem uma afirmao que relativiza tudo: nada ; se algo , no cognoscvel ao homem; se cognoscvel, incomunicvel aos outros. Desse modo, no h nenhuma possibilidade do conhecimento do mundo e, se ele existe, ser frgil e inconsistente; alm de tudo, impossvel de ser comunicado.Scrates contesta os sofistas e d um novo significado ao exerccio de filosofar. Enquanto os sofistas ensinavam a arte de argumentar para convencer os seus pares na vida poltica, Scrates ensinava a busca da verdade, que deveria manifestar-se como juzo universal, moralmente vlido. Enquanto os sofistas defendiam o relativismo da verdade, Scrates buscava os juzos universais, que deveriam ser vlidos para todos. Conhecer, para Scrates, era saber por conceitos; e ter o conceito de alguma coisa defini-la por sua essncia ou por sua natureza. Scrates descobriu o conceito do universal e o mtodo indutivo, segundo o qual, a partir das caractersticas sensveis e particulares das coisas, possvel, por abstrao, chegar aos seus conceitos universais, porque baseados nas essncias e no mais nas suas particularidades.Ele desenvolveu seu mtodo de ensinar em dois passos. Em primeiro lugar, a ironia, por meio da qual o seu interlocutor deveria ser conduzido a reconhecer sua ignorncia. Chegado a esse nvel, era possvel iniciar a senda de busca da verdade. O segundo passo do seu mtodo era a maiutica, meio pelo qual, por meio de perguntas, Scrates conseguia que seu interlocutor tirasse a verdade pura de dentro de si mesmo. Da que o conhece-te a ti mesmo era o modo mais adequado para se descobrir a verdade; conhecendo-se a si mesmo, o sujeito encontraria a verdade, que mora em seu interior. Pensava ele que conhecimento e virtude se identificavam. Quem conhecesse o bem deveria praticar o bem.Saber o que deve fazer a virtude. virtuoso quem sbio; pratica o bem quem o conhece. Os erros so praticados por ignorncia. Importa que todos saibam o que o bem para que a vida coletiva melhore. Para ele, o bem consiste no proveito de todos. O bem bem comum. Cada um, agindo pelo bem comum. Scrates desejava estabelecer um modo moral de conduzir as aes humanas dentro dessa sociedade, sua preocupao estava voltada para o agir humano.Plato, seu verdadeiro nome era Arstocles, abordou os trs grandes temas da filosofia: o ser, o conhecer e o agir. As obras em sua ordenao cronolgica e temtica, dividem-se:Em primeiro, esto os dilogos socrticos e juvenis (expostas as doutrinas socrticas), so: Laqus, Crmides, Eutfron, Hpias menor, Apologia de Scrates, Crton, on, Protgoras, Lsias. Em segundo, os dilogos denominados polmicos (critica os sofistas), so: Grgias, Mnon, Eutidemo, Crtilo, Teeteto, Menexeno, Hpias maior. Em terceiro, esto os dilogos da maturidade (predomina a teoria das ideias, fundamento de todo o seu tratamento filosfico), so: Fedro, O banquete, Fdon, A repblica. Em quarto, os dilogos da plena maturidade (submete a um exame crtico suas prprias ideias), so: Parmnides, Sofista, Poltico, Filebo, Timeu. Por ltimo, a obra da velhice, incompleta e, talvez, resultante de apontamentos reunidos por algum discpulo: As leis. H uma discusso sobre a autenticidade das Cartas.Enquanto Scrates se utilizava do mtodo indutivo (ir das caractersticas particulares das coisas para o seu conceito universal), Plato introduziu o mtodo dedutivo, como modo de deduzir novas verdades a partir de verdades universais estabelecidas. Assumiu que, nas coisas, existem caractersticas particulares (peculiares de cada uma) e caractersticas essenciais. Estas ltimas fazem com que todas as coisas da mesma espcie tenham elementos em comum.Para Plato, tudo o que conhecemos, como existe, no o ser. Uma coisa boa no o Bem. O Bem, O Belo, O Verdadeiro, so essncias que transcendem o existente,so essncias que existem em si. Plato conclui que h um mundo das essncias ideais, universais, incorpreas, imutveis e eternas. Essas essncias so chamadas por ele Ideias. As Ideias so a verdadeira realidade, o que ns vemos como coisas e seres existentes, em nossa experincia imediata, so sombras reflexas das verdadeiras coisas. O mundo verdadeiro o das essncias, as ideias. O Ser constitui o mundo das ideias, o Devir constitui o mundo das sombras. Plato encontra a sua soluo para as oposies entre Ser e Devir.Plato formula seu entendimento dos nveis de conhecimento: a episteme como o mbito do conhecimento verdadeiro, que se refere ao Ser, e a doxa, como o mbito da opinio, conhecimento do mundo das sombras. Ele admite alguma positividade no conhecimento sensorial (primeiro por imagens, e, depois, perceptivo ou por crenas), o nvel da doxa, que possibilita o incio da anteviso do conhecimento verdadeiro, o que incita a alma a ultrapassar o sensvel e buscar o universal, o verdadeiro.Entre a doxa e a episteme, Plato reconhece um conhecimento intermedirio: a diania (pensamento discursivo). um nvel de conhecimento que est voltado para as essncias, mas que, para se processar, necessita ainda utilizar-se das figuras visveis. A diania o preldio indispensvel noesis (conhecimento inteligvel das essncias). No nvel da diania, as contradies (igual/diferente, grande/pequeno) so aplainadas, colocando-se em seu lugar as noes estveis e idnticas.A filosofia um modo de preparao permanente do ser humano para retornar ao mundo das essncias. O conhecimento, por maior que seja o seu refinamento, enquanto for conhecimento humano, ser de alguma forma limitado. O conhecimento pleno pertence alma, quando estiver livre do corpo e retornado ao mundo das essncias. O conhecimento das essncias est no mais recndito lugar da alma de cada um, pois que ela j provou esse conhecimento. O esforo asctico de aperfeioar-se no conhecimento um esforo de recordao dos conceitos. Aqui Plato estabelece a teoria da reminiscncia (recordao de um conhecimento que a alma j teve e que reside no seu mais recndito interior) e retoma o conhece-te a ti mesmo, de Scrates. Para Plato, a alma est aprisionada no corpo e dividida em duas: alma irracional, voltada para as experincias do mundo das sombras, e alma racional, desejosa do divino. A perfeio moral decorrer da ascese do ser humano em busca da contemplao das essncias. A filosofia, com sua dialtica asctica do conhecimento, que vai do sensvel para o inteligvel, o caminho mais adequado para a realizao tica do ser humano.Plato no descarta a necessidade de uma tica para o mundo cotidiano, sensvel. No podemos viver sem o nosso corpo. Ele parte de nossa existncia e, por isso, h que cuidar dele, tambm. Sabendo que o corpo fraco e o estmulo dos sentido forte, importa educar o corpo com a ginstica, para que seja harmnico e belo, desde que ele reflexo da harmonia e da beleza essenciais. Plato insiste na educao da alma, uma vez que ela que conduz o ser humano para a perfeio.Os homens necessitam unir-se para viver em sociedade e satisfazer suas necessidades e o Estado a organizao social capaz de administrar a vida sadia entre os seres humanos. Plato prope a organizao do Estado com trs segmentos. A alma humana dividida por Plato em racional e irracional, sendo que esta ltima dividida em irascvel e concupiscvel. parte concupiscvel corresponde, no Estado, a classe dos produtores, parte irascvel corresponde a classe dos guerreiros, destemidos e audazes; parte racional corresponde a classe dos governantes, importa que cada classe realize o seu papel, so os governantes que devem dirigir a sociedade, por causa de sua sapincia. Plato prev que o governante de um Estado deve ser um filsofo, como aquele que, pela ascese, tem buscado a verdade. O Estado deve garantir a harmonia para que todos os cidados possam purificar sua alma e chegar sabedoria, que o caminho do retorno ao mundo das essncias, mundo divino.A arte, para ele, imita o mundo das sombras; por isso, no uma prtica til ao crescimento, uma vez que opera com a imitao da imitao. Permanecendo nesse nvel, a arte no pode auxiliar o homem no seu caminho. Vale lembrar que na obra O Banquete e em Fedro, ele reconhece o valor teortico da arte e seu papel no processo educativo do cidado, ao afirmar que a Beleza (essncia da beleza) se manifesta sensivelmente, ela luminosa atravs do sensvel.Plato, devido a seus entendimentos metafsicos, no foi capaz de se aperceber que a arte no era pura sensao e, por isso, no pde retirar dela as suas possibilidades para a educao e desenvolvimento do ser humano e do cidado.Aristteles, filsofo da universalidade, desejou abranger e ordenar os conhecimentos da poca, produzindo uma compreenso filosfica de todos os problemas que afligiam o homem naquele tempo e lugar. Trabalhou sobre a questo do ser. E, a partir dela, formulou compreenses sobre o conhecer e o agir.Deixou muitas obras, escritos destinados a dois tipos diferentes de pblico: os escritos exotricos destinados ao pblico externo da sua escola e os acromticos ou esotricos (que encerravam uma doutrina secreta), destinados aos alunos da sua prpria escola. Praticamente sobreviveram estes ltimos, pela organizao feita por Andrnico de Rodes, no sculo I a. C. So eles: a) escritos de lgica reunidos sob a denominao de Organon: Categorias, Sobre a interpretao, Primeiros Analticos, Tpicos, Os elencos sofsticos; b) escritos de fsica: A fsica, Do cu, Da gerao, Da corrupo, Metereologia; c) escritos de zoologia e fisiologia: Histria dos Animais, Das partes dos animais, Do movimento dos animais, Da gerao dos animais; e) escritos de psicologia: Da alma, O sentido, A memria; f) escritos de metafsica: Metafsica; g) escritos de tica e poltica: tica de Nicmaco, tica de Eudemo, A grande tica, A poltica, A constituio poltica de Atenas; h) escritos de retrica e potica: A potica, A retrica. H ainda os escritos de Aristteles dos quais s existem fragmentos, tais como Eudemo, Protrptico, Sobre a filosofia, Sobre a justia, que eram destinados aos ouvintes externos escola.Aristteles foi um discpulo dissidente de Plato, viveu e aprendeu com seu mestre, porm discordou dele a partir da base de seu pensamento. Aristteles desejava compreender o mundo a partir do prprio mundo, compreender o mundo externo ao sujeito a partir do percebido, ou seja, a partir do prprio mundo sensvel.Encontrou a soluo para o problema do ser colocando-o no mundo do mutvel (do devir): o ser o ser que se da no mutvel. preciso descobrir a essncia do que existe naquilo que existe. Como isso se daria? Por meio do processo de abstrao, primeiro, percebe o mundo sensivelmente e, a seguir, vai se libertando das caractersticas particulares do objeto do conhecimento, permanecendo com suas caractersticas essenciais.O real constitudo de matria e forma, esta a famosa teoria do hilemorfismo aristotlico. A matria aquilo do que o objeto feito e a forma sua essncia, distinguindo-o de todos os outros. Todo existente tem uma razo de sua existncia. A matria a manifestao da forma, ou seja, o ser se d no prprio objeto que conhecemos. Desse modo, o mundo real a fonte de todo conhecimento verdadeiro.O indivduo (cada coisa individuada), na sua existncia real, a unio substancial de matria e forma, portanto, da mutabilidade e da essncia. A matria o substrato indeterminado, que ganha sua individuao com a aquisio de uma forma. A forma individualiza a matria.Aristteles explica o movimento: todas as coisas podem se modificar, sendo suporte para uma nova forma. Cada coisa poder ser transformada em outra. Ento, ele diz que as coisas, seres, objetos, existem em ato na medida em que tm uma forma (sua finalidade), mas tambm possuem a potncia de se transformar em outra coisa, ganhando nova forma, que possibilitar uma outra forma de realizao. Essa a teoria do ato e potncia, Aristteles responde a questo da mutabilidade das coisas.Matria e forma, ao constiturem o indivduo, so indissociveis. No h matria que no possua uma forma, no h uma forma que exista independente da matria. A matria expressa a potncia para ser alguma coisa e a forma expressa o ato, a realizao do ser. O movimento indica a passagem de uma potncia para um ato. Um ato qualquer uma potncia para ser outro ato. Assim sendo, o ato que serve de potncia para um novo ato uma perfeio e o novo ato uma nova perfeio, permanecendo, no caso, o movimento (a passagem de um estado para outro) como uma imperfeio.A passagem da potncia (matria prima) a ato (matria individuada), em Aristteles, no implica que a matria gere a forma, o que para ele seria impossvel uma vez que a potncia no perfeio, mas possibilidade de ser. Assim sendo, o movimento de uma potncia para um ato exige um motor, que um ato. Tudo o que se movimenta, se movimenta a partir da existncia de um motor que processa o movimento. Isso implica a existncia de um Primeiro Motor, que seja imvel, ou seja, que no tenha sido movido (originado) por outro e que seja a causa de todo o movimento existente. Regredindo, de causa em causa, iramos ao infinito, o que impossvel. Por isso, a cadeia de causas exige uma Causa Primeira, um Motor Imvel. O Motor Imvel divino, ele ato puro, no tem nenhuma potencialidade; tudo nele plenitude. Nele, essncia e existncia coincidem; a existncia se d na plenitude da essncia. Ele move o mundo, mas no movido. Por ser a plenitude do ser, contm em si todas as qualidades de forma definitiva e infinita. Por ser pura forma e, portanto, plenitude, no Motor Imvel no existem matria (que sempre potencialidade). A soluo aristotlica para o movimento (realidade mutvel) retorna ao dualismo dos filsofos anteriores.Aristteles fez elaboraes tericas sobre o mundo natural, ou fsica, e sobre o mundo espiritual, ou psicologia.A fsica a cincia da natureza, que a manifestao da fuso de matria e forma. A forma pura s se d no Motor Imvel e a matria pura s se daria como matria-prima sem nenhuma forma. A natureza a expresso da matria individuada por uma forma, sntese entre matria e forma. A natureza est ordenada hierarquicamente. So quatro os graus da natureza: reino inorgnico, reino vegetal, reino animal e reino humano. No homem, culmina a hierarquia, mas no se encerra a, apontando-a para Deus, como o Motor Imvel, perfeio absoluta. Essa ordem permanecer para sempre. Todos os seres destinam-se perfeio. Ser e bem coincidem em cada existente. Aquilo que ocorre na natureza aquilo que tinha, e tem, de acontecer. As quebras da ordem so admitidas como situaes excepcionais, por meio de causas acidentais. O mal uma carncia de bem, mas no sua supresso.A psicologia a cincia da alma, que a forma. Unio entre corpo e alma (matria e forma) essencial; sem ela, no existe o indivduo. Aristteles prev a existncia de trs almas: a alma vegetativa para o reino vegetal, a alma sensitiva para o reino animal e a alma intelectiva para o reino humano; cada uma delas tem uma funo diferente. O grau superior de alma contm as perfeies dos graus inferiores; o que quer dizer que, na alma humana, convivem as funes das trs almas; no so trs almas, mas sim trs funes.Tomando por base sua concepo de ser, que evolui do ser metafsico para o fsico e psicolgico, Aristteles investiu tambm no problema do conhecimento. Herdou de Scrates e Plato a compreenso de que o conhecimento verdadeiro o conhecimento que se d por conceitos; porm discordou sobre a origem, admitindo que o conhecimento provm do prprio mundo sensvel. Ele no preexiste na alma. O conhecimento nasce da impresso que o mundo externo processa sobre os rgos receptivos e perceptivos do sujeito. O conhecimento tem seu incio pela presena de um objeto particular que atua sobre o sujeito, oferecendo-lhe a sua forma sensvel. Esse o conhecimento sensvel, do particular. Porm, o conhecimento verdadeiro o universal e se d pela apreenso da essncia das coisas, que processada pelo intelecto. A sensao possibilita umconhecimento do contingente, daquilo que particular, mas no da essncia, que universal.O processo do conhecimento, portanto, vai do particular para o universal. Inicialmente, so impresses sensveis, que, sendo juntadas e guardadas na memria, formam um fantasma do objeto, ou seja, uma forma sensvel, que, por si, no deste ou daquele objeto, mas com a qual todos podem, de certo modo, ser identificados.Para Aristteles, preciso desmaterializar e desindividualizar o fantasma para encontrar a essncia do objeto, ou seja, seu conceito, que universal e aplicvel a todos os seres daquela espcie.O conceito no existe na realidade, mas s no intelecto. O conhecimento se d por um processo de abstrao que vai do sensvel para o inteligvel. Esse o procedimento prprio de induo, que, de um conjunto de casos particulares, conclui pela sua universalidade.O recurso da induo no e suficiente para que se possa processar todas as possibilidade do conhecimento. Importa usar o processo discursivo, procedimento que compem a lgica. Nesse nvel, definir um ser significa, por anlise, determinar seu gnero prximo, que classifica o ser num grupo, e sua diferena especfica, que fazem esse ser diferente de todos os outros que pertencem ao mesmo gnero. Ex.: Aristteles define o homem como um animal racional.As afirmaes e negaes constituem juzos. E esses podem ser verdadeiros ou falsos. verdadeiro quando predica um sujeito com uma essncia que lhe convm; o falso consiste na atribuio de um predicado que no convm ao sujeito. Para se chegar concluso se um juzo verdadeiro ou falso, Aristteles prope a utilizao do raciocnio (relao entre dois ou mais juzos articulados).A forma aristotlica tpica do raciocnio demonstrativo o silogismo, que um raciocnio que funciona pela utilizao de trs juzos, sendo o primeiro e o segundo considerados como premissas maior e menor, das quais se deduz um terceiro, a concluso. Nesse tipo de raciocnio, demonstra-se a adequao, ou no, de um determinado predicado a um determinado sujeito, por meio de um terceiro termo, que atua em duas premissas como intermedirio e, por isso, mesmo, chamado de termo mdio. Aristteles criou 4 figuras diferentes para o silogismo, vamos utilizar somente uma das figuras onde o termo mdio aparece como sujeito de uma premissa e como predicado da outra. Um exemplo: Todo homem mortal; Scrates homem; logo, Scrates mortal. O termo mdio homem encontra-se nas duas premissas e convm tanto ao sujeito, na premissa maior, como ao predicado, na premissa menor. A verdade de um juzo (a concluso) se deduz da verdade dos outros juzos (as premissas).A verdade, para Aristteles, a adequao do conceito, formulado no intelecto, aos dados da realidade. Mas, como uma verdade deduzida pelo silogismo pode expressar a verdade? A verdade de um raciocnio demonstrada por outro raciocnio. Assim, poderamos ir ao infinito, mas, para Aristteles isto no se d assim, uma vez que o processo lgico remonta aos princpios lgicos fundamentais do conhecimento, que so evidentes por si mesmos e no necessitam de outra justificao. So eles: princpio da identidade, pelo qual uma coisa, no mesmo tempo e na mesma relao, sempre igual a si mesma (A, em um mesmo tempo e mesma relao, igual a A); princpio de contradio, pelo qual no possvel que um mesmo predicado convenha e no-convenha, ao mesmo tempo e sob a mesma relao, a um nico sujeito (A no pode ser, ao mesmo tempo e na mesma relao, no-A); princpio do terceiro excludo, pelo qual, entre afirmao e negao de alguma coisa, no existe termo mdio (A, ou igual a B, ou igual a no-B; no existe a possibilidade de ser, ao mesmo tempo e sob a mesma relao, igual a B e a no-B). A inteligncia humana compreende esses princpios, pode deduzir verdades, demonstrando sua validade, pela utilizao dos silogismos.Aristteles encontrou uma sada para que o conhecimento emergente da realidade mutvel fosse vlido, pelo processo de induo, mas ele mesmo confiou mais na deduo que na induo para produzir a cincia verdadeira; a induo necessria para produzir as cincias que tem sua base na experincia, mas tem seus limites de validade. A induo perfeita praticamente impossvel, devido ao fato de que ela deveria ter por base a observao de todos os casos semelhantes; sobra-nos, ento, a induo imperfeita, o que limita a validade do conceito universal formulado. Assim sendo, o valor da induo de auxiliar o processo da deduo, que o procedimento vlido na produo da cincia. Contudo, s as cincias racionais podem proceder adequadamente com a deduo, pois que as verdades fundamentais so evidentes por si mesmas. Nas cincias experimentais, isso no ocorre. Primeiro, h necessidade de extrair o conceito do mundo mutvel, depois, proceder dedues, mas ocorre que os conceitos abstrados no so inteiramente confiveis, pois no tm por base uma induo perfeita. Da o limite das cincias da experincia.Aristteles encontrou solues para o problema do conhecer. No uma soluo definitiva e, parece, nunca o ser.Articulado com sua compreenso do problema do ser e do conhecer, Aristteles formulou sua compreenso do agir humano, incluindo as questes da tica, da poltica e da esttica.A tica aristotlica uma tica finalista, tendo base na racionalidade. Tudo o que o homem faz, o faz em vista de um fim; sobressai-se o fim supremo, que a felicidade. E, por felicidade, ele compreende a realizao do ser. Se o homem um ser racional, sua virtude consiste em viver em conformidade com a razo. O prazer no constitui a felicidade, mas dela decorre; os bens exteriores e materiais contribuem para a conquista da felicidade, mas no a constituem.Contudo, o ser humano no s razo, constitudo tambm de apetite, que, nos sendo racional, pode ser dirigido pela razo. Aristteles distingue dois tipos de virtudes: as intelectivas (ou dianoticas) consiste no prprio exerccio da razo, e as prticas (ou ticas) que consiste no domnio da razo sobre os apetites, para formar os bons costumes (ethos). As ltimas constituem objeto da tica; as virtudes dianoticas no so virtudes ticas, mas virtudes da razo. A virtude o modo correto de ser.Apesar disso, como tica, a virtude est fundada na vontade, que se transformam em hbitos e so os hbitos que fazem o ser humano virtuoso, na medida em que o ato de virtude no eventual, mas permanente. A vontade, que direciona os atos virtuosos, dirigida pela razo que serve de fundamento para os atos ticos; assim, os atos sero bons desde que realizados segundo os ditames da razo, que conhece o ser e direciona o agir a partir desse conhecimento.A mais alta das virtudes ticas se encontra na justia, que o meio de ser equnime entre todos. De to perfeita que a justia, como virtude tica, ela se assemelha a uma proporo matemtica.As virtudes dianoticas referem-se as capacidades do prprio intelecto: cincia, como capacidade de produzir qualquer objeto; sabedoria, como capacidade de distinguir o bem e o mal para o ser humano. Acima de todas as virtudes dianoticas, est a sapincia ou contemplao, que a capacidade de julgar a verdade dos prprios princpios.Aristteles privilegiou as virtudes intelectivas ou dianoticas (que propriamente no so ticas) porque estas esto constitutivamente ancoradas no intelecto, que racional.Quanto poltica, Aristteles entende que o ser humano ( um ser socivel) necessita de leis e de educao. O Estado a instituio social mais perfeita que tem por funo, alm de defender os seus cidados dos ataques alheios, educ-los fsica e moralmente.No props um Estado ideal, quis pensar uma organizao da sociedade que fosse razovel e possvel de ser adaptada a todos os povos. Distinguiu trs formas de governo: a monarquia (governo de um s); a aristocracia (governo dos melhores) e a democracia (governo de todos). Para ele, todas as formas de governo podem ser adequadas. Em todo caso, a melhor forma de governar aquela que se direciona pela justa medida, o caminho do meio,de modo a evitar os extremos. Existem trs desvios do poder: a tirania (garante as vantagens do monarca); a oligarquia (garante as vantagens dos ricos) e a demagogia (governo dos indigentes). O desregramento do Estado provm, pois, da subordinao do bem comum ao bem individual. O melhor grupo da dirigir o Estado, segundo ele, so os mdios, que sabero evitar os extremos. A direo do Estado, tambm, deve ser feita segundo a razo, que capaz de encontrar o meio termo.Aristteles entende que a arte uma imitao da natureza, mas no seu aspecto ideal, no sentido que ela cria um ideal de realidade, sempre imperfeita. Plato entende que a arte recria a natureza agregando-lhe o ideal de beleza. O objeto da arte o belo, com suas respectivas caractersticas de ordem, proporo e harmonia. Dentro desta compreenso, a arte no tem por finalidade somente o deleite, mas tambm um valor educativo. A msica curativa, na medida em que aqueles que, ouvindo-a, so dominados pelo entusiasmo, pelo temor ou pela piedade. A arte propicia a catarse (purificao) e, por isso, traz harmonia e serenidade alma.A eloquncia tem grande importncia na vida poltica, na medida em que a arte da persuaso. Usada a servio da verdade um bem inestimvel. A retrica a cincia que estuda a eloquncia, distinguindo-a em trs segmentos, em conformidade com sua destinao: demonstrativa (quando se destina demonstrar a verdade); judiciria (quando se destina ao uso nos tribunais) e exortativa (quando se destina persuaso).A arte significativa porque auxilia o ser humano na realizao de sua perfeio.Aristteles, com a teoria do ser, conhecer e do agir, cria um grande sistema de compreenso e direo da vida humana.Idade mdia: cosmoviso metafsico-religiosaA experincia religiosa, que fora oficializada, necessitava de suporte filosfico para sua vigncia histrica. Agostinho encontrou em Plato e Toms de Aquino, em Aristteles. As solues filosficas para a questo do ser contaram com a mediao da doutrina religiosa catlica. Os pensadores medievais clssicos continuaram metafsicos, mas, tendo por base a revelao religiosa. Chegou-se a afirmar que a filosofia deveria servir teologia. O perodo filosfico medieval, sob a gide da dogmtica catlica, pode ser denominado de metafsico-religioso. A base doutrinria da filosofia nasce das lucubraes abstratas, somadas, agora, s religiosas. Agostinho pode ser tomado como um sistematizador doutrinrio da primeira experincia crist, que vai do nascimento de Cristo at o sculo V, onde foram fixados pontos essenciais da sua dogmtica; Toms de Aquino pode ser considerado o sistematizador do perodo da escolstica, que se estende at o sculo XIV, formando um corpo teortico da teologia catlica.Agostinho de Hipona: crer para entenderO cristianismo nasce com Jesus Cristo e seus seguidores. Inicialmente, uma experincia vivida sob a gide da perseguio, marcada pela vitalidade existencial da f e, posteriormente, com a oficializao do judaico-cristianismo como Igreja Catlica, marcada, ao mesmo tempo, pela fora e pelas limitaes de uma estrutura administrativa oficialmente admitida.No primeiro momento, a fora est sediada na vitalidade da f vivenciada e garantida pelo testemunho pessoal; no segundo momento, a fora est na estrutura quegarante a validade da f. No primeiro momento est a doutrina em constante construo, no segundo a dogmtica sistematizada.A experincia crist trouxe para o mbito da filosofia a necessidade de se meditar sobre a experincia do cotidiano. As solues evanglicas para a vida no tm nada a ver com o metafsico. So solues simples que no deixa de separar o cotidiano do transcendente, do retorno da alma para a divindade.Agostinho vai ser, de certo modo, o sistematizador da experincia crist at o sculo V, na medida em que anteriormente a ele, os autores cristos (padres da Igreja) se debateram no af de produzir um ordenamento doutrinrio. A organizao da doutrina crist se debateu com as formulaes gregas cristalizadas. Assim, os padres ditos de tradio oriental ou grega esforavam-se por harmonizar o pensamento grego com a nova doutrina, e os padres ditos ocidentais ou latinos trabalharam no sentido de exorcizar o paganismo e firmar o valor da doutrina crist.Agostinho considerado o construtor da grande sntese filosfico-teolgica da Igreja Catlica antiga. Meditou sobre as experincias vigentes e deixou-nos mltiplas obras: De vera religione, Confessionum libri XIII, Soliloquium libri II, Liber de imortalitate animae, De libero arbtrio, De civitate Dei, De trintate.O ponto de partida da meditao filosfica de Agostinho o homem, considerado sede de Deus, que mora no seu interior. Na medida mesma em que o ser humano se investiga a si mesmo, investiga Deus. No h como colocar o problema do homem sem pr o problema de Deus. J o mundo exterior s faz sentido nesse contexto do homem que tem Deus dentro de si. Ele tem uma frmula que diz: de fora para dentro e de dentro para Deus, ou seja, o caminho para o divino, tendo o ser humano como mediador entre o mundo exterior e o divino, que mora dentro dele mesmo. A verdade est dentro de cada um; preciso, pela meditao, pela conversa consigo mesmo (soliloquium) entrar em contato com ela.O homem um inquieto perene que busca sempre; h algo que ele tem e algo que no tem. Se tivesse em si a verdade completa, no a procuraria. Se no tivesse em si alguma parte da verdade, no teria nenhum estmulo para procur-la, pois que a desconheceria totalmente. A sua inquietao provm de, em parte, ter a verdade e, em parte, de no t-la.Para ele, Deus um ser que se manifesta no interior do homem, mas existe independente dele e o transcende. Agostinho elaborou uma prova da existncia de Deus, por meio da inteligncia que s pode conhecer aquilo que existe, uma vez que, se se conhece, porque existe. O seu argumento est formulado da seguinte maneira: no homem e no mundo, nada h que seja superior mente; a mente intui verdades imutveis e absolutas que so superiores a ela mesma; tem a ideia da existncia de Deus; por isso, Deus existe. A mente humana, imperfeita, no teria a ideia do ser perfeito, caso ele de fato no existisse.Sobre o mundo, admite que foi criado por Deus do nada; porm, isso no exclui que, criado, o mundo tenha progresso e transformao. Deus criou o mundo imperfeito e com muitas indeterminaes. o desenvolvimento que vai possibilitar a emergncia de novas e mais perfeitas formas no mundo. Ao criar o mundo, as essncias (sementes) se desenvolvero, porm, no perdero suas qualidades intrnsecas. As essncias permanecem constitutivamente as mesmas, apesar de, na evoluo, ganharem manifestaes externas diferentes. O movimento em Agostinho um movimento interno, que aperfeioa aquilo que j existe. O movimento no cria, somente aperfeioa aquilo que j existe; quem cria Deus.Deus o princpio eterno, criador de todas as coisas; ele o ser, um ser que basta a si mesmo. A contingncia o fundamento metafsico da histria. Se o mundo fosse necessrio, seria pleno e eterno, o que no possibilita a histria, que significa movimento na durao.Agostinho enfrenta o problema do mal, argumenta ele que, para que alguma coisa se corrompa, preciso que seja um bem; caso no fosse um bem, no se corromperia. Ento, as coisas que existem, pelo fato que existem, so boas. Ento, o mal entendido como uma deficincia do bem, que devido ao ser. O mal no existe por si (como um ser), mas s como privao de um bem que devido ao ser. Assim, distinguido o: mal metafsico do mal moral.Mal metafsico (constitutivo) que diz que Deus criou todas as coisas como boas, mas o ser das criaturas no pleno; se assim fosse, seria igual a Deus; as criaturas contm limitaes de hierarquia as menos perfeitas (que tm menos ser) so subordinadas s mais perfeitas, o homem , entre as criaturas, o mais perfeito, por isso, est no topo da criao. O menos ser o mal metafsico, que uma privao do ser como bem, mas no a sua negao, assim, o que chamamos de mal uma carncia de ser, uma privao, mas no uma negao.Mal moral que o pecado, prprio das criaturas racionais, dotadas de livre-arbtrio (um bem, um dom de Deus); o mal pode ser o que fazemos do nosso livre-arbtrio, pecamos devido ao amor que dedicamos s coisas inferiores em detrimento de Deus. O mal moral decorre do uso que o homem faz das criaturas pelo seu livre-arbtrio. O mal moral est no homem e no em Deus. psicologia, Agostinho concebe a alma espiritual e imortal, criada por Deus; simples e una; encarnada no corpo. Ela incorprea, mas unida a um corpo. A alma foi criada para este corpo no qual est encarnada, a alma vem de fora. O corpo no mal, mas um bem; a alma vive nele, o protege e o guia. No pode submeter-se aos desejos do corpo, o que seria o mal, mas sim dirigi-lo aos seus fins.Ele demonstrou a existncia da alma de maneira semelhante ao modo como demonstrou a existncia de Deus: pela presena desse dado na mente.O homem livre como um dom dado por Deus, foi criado por Deus com dons sobrenaturais e preternaturais (poder de no morrer, de no sofrer...). o homem era livre e capaz de escolher entre o bem e o mal, com inclinao para escolher o bem. Para conservar esse bem Ado era ajudado pela graa divina, porm ele pecou e foi abandonado por Deus; a humanidade se corrompeu. Assim, Ado e com ele a humanidade perdeu a liberdade plena, restando-lhe a liberdade de escolha (livre arbtrio). Ento, Deus, na sua bondade, concedeu ao homem a graa de sua remisso, atravs da encarnao do seu Filho, Jesus Cristo. A graa, como dom gratuito de Deus, condio para que o homem faa uso adequado de seu livre-arbtrio. Pela graa o homem participa da redeno, restaurando a sua semelhana com Deus, tornando-se capaz de obras meritrias na ordem sobrenatural. A graa ainda auxilia o homem na obteno da f, incitando a vontade a querer o bem e pratic-lo. S com o auxlio da graa o homem restaura a sua perfeio. E a perfeio, em termos de liberdade, ocorrer no momento em que a vontade, auxiliada pela graa, s conseguir escolher o bem.Agostinho distinguiu a liberdade menor da liberdade maior: a primeira pertence exclusivamente ao homem, que pode escolher entre o bem e o mal; a segunda pertence ao homem, auxiliado pela graa divina, que o conduz a escolher exclusivamente o bem. Portanto, para ele, a graa no nega a liberdade, mas sim, d-lhe um fundamento verdadeiro, na medida em que a liberta do erro.Em sua autoinvestigao, o homem se reconhece como criatura de Deus, feito sua imagem e semelhana.Toms de Aquino: entender para crerToms de Aquino sacralizou Aristteles. Os problemas que mais ocupavam a mente dos escolsticos (filosofia das escolas, onde liam e comentavam textos, emergindo questes de metafsica, psicologia, moral) era a relao entre razo e f e as questes da decorrentes. Toms produziu duas grandes obras filosfico teolgicas: Summatheologiae (sua obra fundamental) e Summa contra gentes; alm de ter escrito Quaestiones disputatae e Quaestiones quoblibetales (que reuniam questes particulares que mereciam discusso e clareamentos); escreveu comentrios das obras de Aristteles e opsculos, tais como: De ente et essncia; De aeternitate mundi; De unitate intellectus contra averroistas; De principio individuationis; De regimine principium.A questo emergente enfrentada por Toms de Aquino foi a revelao entre natureza e sobrenatureza, razo e f. Serviu-se do pensamento aristotlico para dar fundamentao racional s experincias da f, na tentativa de responder s necessidades do momento histrico em que viveu. Demonstrou que f e razo no se opem, pois que ambas derivam de Deus; no haveria verdades discordantes entre esse dois nveis.Toms diz que a filosofia deve oferecer uma compreenso racional das experincias da f, de tal forma que a f no parea ser irracional. Caso haja uma discordncia entre um argumento da teologia e um argumento da filosofia, esta ltima deve rever sua argumentao. A filosofia trata das questes da verdade natural, a teologia trata da verdade sobrenatural; verdades que no se contradize, mas tambm no se confundem.Retoma a concepo metafsica aristotlica do ser, infundindo-lhe as doutrinas religiosas catlicas. Tudo aquilo que existe ser, ou seja, possui uma essncia que o faz ser. Alm dos conceitos de matria e forma, acrescenta os de essncia e existncia. A essncia aquilo que define alguma coisa por suas caractersticas prprias; a existncia aquilo que a faz existir. A essncia necessita da existncia para ser. A essncia potncia para existir e a existncia o ato de existir. A essncia no passa existncia sem a ao de um terceiro em ato; essa passagem se d por um ato criativo de Deus, que o ato eterno, atualizado. O processo de passagem da essncia existncia s podem ser explicados por Deus. Nas criaturas, a essncia pode ser separada da existncia, mas, em Deus, no. As criaturas possuem semelhanas com o ser de Deus e dele participam, mas no em plenitude.Toms de Aquino distinguiu duas cincias bsicas: a metafsica como cincia dos entes existentes (as criaturas), e a teologia como cincia de Deus.Utilizando-se dos princpios lgico-formais de Aristteles, Toms de Aquino formula os princpios fundamentais da teoria do ser: o ser aquilo que (principio da identidade), o mesmo ser no pode, ao mesmo tempo, ser e no ser (principio da contradio), num mesmo lugar e tempo, um ser ou ou no , no h uma terceira possibilidade (princpio do terceiro excludo) e todo ser existente, que no tem a existncia em si mesmo, tem sua causa num outro ser (princpio de causalidade).O ser possui qualidade que, para ele, so transcendentais. O ser uno (no pode ser dividido, caso acontea deixa de ser), todo ser o que ele , verdadeiro (no ser no h falsidade, nosso conhecimento dele que pode ser falso, devido ao nosso limite no ato de conhecer), todo ser bom (se h algum mal, este uma carncia de bem), todo ser belo (a beleza a perfeio do ser). Essas qualidades devem guiar sua existncia.Ao processo de conhecimento, Toms diz que conhecemos a essncia das coisas por meio de um processo de abstrao, que vai da sensao, que forma a percepo, que, forma a imagem, que, desmaterializada, por fora do intelecto, forma o conceito universal. Diz ele que, dos entes criados, antes de existirem na realidade, preexistiam no pensamento divino.O conhecimento tem por base a intencionalidade, a inteligncia se direciona para captar o objeto na sua essncia. Deus conhece todas as coisas na infinitude, por isso, no tem erro; ns conhecemos o mundo por abstrao, por isso temos a possibilidade de incorrer no erro.O ser humano composto de corpo e alma, esta ltima est unida ao corpo de modo indissolvel, de tal forma que a sua separao desfaz o indivduo. A alma a formado corpo, espiritual e sua funo intelectiva. A faculdade da inteligncia, ainda que dependente, extrinsecamente, do corpo, intrinsecamente (na sua essncia) ela independente dele. A alma imortal, criada por Deus. O corpo matria, corruptvel.Na moral tomista, a vontade a faculdade que apetece o bem. O intelecto conhece o ser e, por isso, pode dar direo ao em conformidade com as qualidades do ser.Se o ser humano pudesse apreender o ser divino, absoluta perfeio, no haveria mais liberdade de escolha, pois que estaria totalmente voltado e dedicado essa perfeio. Contudo, nesta experincia de vida, o intelecto s aprende os seres contingentes, diante dos quais a vontade no exigida em sua plenitude; da ser possvel o livre-arbtrio. Se o querer fosse absolutamente definido, no haveria o querer. A liberdade funda-se na vontade que, sendo eliciada (expulsada) pelo conhecer, estabelece a escolha entre os bens possveis.Quando a vontade escolhe em desconformidade com o intelecto, que conhece a essncia das coisas, d-se o mal. O ato moralmente correto praticado segundo a reta razo.O fim da ao humana a sua perfeio, realizada em Deus. O ser humano espira essa fim ltimo, por isso est sempre insatisfeito, em busca da perfeio. Para regular nossa ao, necessitamos conhecer a lei natural, lei que est intrnseca em ns. Para se chegar plenitude da vida, o ser humano possui o caminho das virtudes morais e teologais. As virtudes morais so: prudncia, temperana, justia e sapincia; as virtudes teologais so: f, esperana e caridade. organizao poltica, Toms distinguiu trs tipos de leis que geram a vida humana: a lei natural, comum a todos os homens (conservao da vida, gerao e educao dos filhos); a lei positiva, constituda pelos homens em sociedade para gerir o seu bem comum; a lei divina, inscrita por Deus na natureza que guia cada homem para o seu fim. O Estado deve ser regido pelo direito positivo, deve ter por base o direito natural, no pode haver contradio entre os poderes civil e religioso, ambos devem estar a servio humano.Toda a autoridade deriva de Deus; por isso, respeit-la respeitar Deus. Quanto forma de governo, acredita que todas so boas, desde que respeitem os direitos da pessoa humana. O Estado necessita reconhecer os direitos do indivduo e da Igreja. No deve existir conflito entre razo e f, como no deve existir conflito entre Estado e Igreja. Esta ltima conduz os seres humanos para suas finalidades ltimas, o Estado deve estar subordinado Igreja, que tem o Papa como o seu chefe, responsvel pelo governo religioso da humanidade.