CangaçO
-
Upload
samuel-andrade -
Category
Documents
-
view
15.085 -
download
4
Transcript of CangaçO
O CANGAÇOO CANGAÇO
Foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao
início do século XX. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se
por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas,
seqüestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão,
praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.
O cangaço surgiu e desenvolveu-se na região
semi-árida do nordeste brasileiro, no império da
caatinga, nome que significa "mata branca".
Não é uma área pequena, cobrindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados.
Na caatinga existe um único rio perene, o São Francisco, o velho
Chico, tão conhecido por todos. Os outros rios secam e desaparecem
durante a época da estiagem, quando os únicos a não sofrer são os
coronéis, muitos deles transformados, atualmente, em
políticos. Se mudaram a roupagem, não mudaram os hábitos, e
continuam, de maneira geral, procurando tirar o máximo proveito
possível da situação.
Nos leitos dos rios secos, durante o período de nossa história, que vai de 1900 a 1940, os sertanejos cavavam
cacimbas, procurando o pouco de água que ainda restava. Ainda hoje, em muito lugares, essa é uma das poucas formas
de se conseguir alguma água, mesmo de má qualidade. Outra maneira era cavar à procura da raiz de uma árvore chamada umbu, extraí-la da terra e espremê-la até
obter um pouco de líquido com as mesmas qualidades da água. Os
cangaceiros utilizavam-se muito desta última forma de conseguir "água".
No sertão, o coronel (latifundiário) é quem decide
sobre homens e coisas. É chefe, juiz, delegado. Suas
vontades são sentença. Sem perigo de sanções, usam a
violência para aumentar seu domínio. Seu instrumento é
o janguço, protegido e protetor.
A origem do Cangaço é o latifúndio, isto é bastante óbvio, e o Cangaço é uma
latente no Brasil, no Nordeste, da Bahia pra cima, desde os tempos da colônia,
quando a terra foi dividida em sesmarias e foi doada para
senhores de terra com grandes latifúndios.
A necessidade de manter a posse da terra, de ter a terra, fez com que esses donos de terra mantivessem exércitos para lutar contra os índios, lutar contra
os pobres, os posseiros, e depois também houve a necessidade de
manter esses exércitos, grupos de capangas, de bandidos, etc... para
manter a própria mão-de-obra, ou seja, para manter o escravo, prisioneiro, para
evitar ou lutar contra a rebeldia do negro escravo.
Dentro desse processo de polícia particular de bandoleirismo do dono da terra, para manter a
posse da terra e o domínio sobre a mão-de-obra, sobre o trabalhador, a primeira figura que emerge, que
já é o cangaceiro surgindo, é o Capitão do Mato, que é o sujeito que vai caçar o trabalhador no
mato quando ele foge – daí o seu nome – ou que mantém a ordem na senzala e dentro das roças.
A outra origem do Cangaço é o sistema que impera ainda hoje no Nordeste, na zona rural, de semi-escravidão. O trabalhador rural no Nordeste
geralmente é um semi-escravo, o nome, inclusive, que se dá a ele é agregado, ou seja, ele
é uma pessoa que se agrega à propriedade, é uma parte da propriedade e é também posse do dono da terra. Geralmente, ele não tem salário, é permitido que ele fique ali pela terra, e o dono da
terra, o latifundiário, dá alguma coisa mínima daquilo que ele produz em troca de seu serviço. Um sistema de semi-escravidão gera miséria,
gera uma série de injustiças sociais que explodem em revoltas pessoais e uma dessas
revoltas dá origem ao cangaceiro; isto quanto às origens.
Quanto às causas do Cangaço, uma delas é a manutenção da propriedade privada. Era preciso, como antigamente, os exércitos particulares dos senhores de engenho, ou dos grandes donos de sesmarias do século XVIII até 1930, grupos de
bandoleiros garantiam a posse de terra. A terra no Nordeste só recentemente começa a ser cercada, antes, ela não era. As divisas eram mais ou menos vagas. O que marcava bem a divisa da terra era o poder de violência do senhor; de ele dizer: "Essa terra é minha, aqui ninguém passa, nessa terra é
o meu gado que vive."
Para ter essa força de manter a propriedade privada, ele precisava de grupos armados, grupos
de capangas que de vez em quando se transformavam em cangaceiros ou vice-versa.
Uma das causas também do Cangaço era a necessidade do dono da terra no Nordeste
controlar as populações rurais, vivendo numa intensa miséria. Era de se esperar,
como aconteceram em várias ocasiões, que o sertanejo se revoltasse e quisesse mudar
sua situação pelas armas. Os grupos de cangaceiros, como vários outros de
repressão no Nordeste, foram estimulados e pagos por grandes senhores de terra para manter a população rural num regime de terror, num regime até de apavoramento,
de letargia, sabendo que se ele se rebelasse, o cangaceiro vinha e o liquidava.
O Cangaço pode ser dividido em três
subgrupos: os que prestavam serviços esporádicos para os
latifundiários; os "políticos", expressão de
poder dos grandes fazendeiros; e os
cangaceiros independentes, com
características de banditismo.
E existem os efeitos do cangaceirismo. O primeiro deles é a violência desmedida que imperava no sertão. Um dos
efeitos mais dramáticos e mais terríveis que podemos ver no Cangaço é o desvio do potencial revolucionário do povo. Aquela latente energia revolucionária que existia no Nordeste era desviada para o Cangaço. Ao invés de
revoltar revolucionariamente, de tomar consciência política, o sertanejo quando se rebelava ao extremo,
entrava para o Cangaço, ou ao contrário, era vítima do Cangaço. Um dos sintomas desses efeitos que se vê hoje
é a alienação e o mito do cangaceiro. Nós ainda mantemos o mito de que o cangaceiro é um herói social, que lutava pela justiça, que roubava dos ricos para dar
aos pobres – a situação não é bem essa. Foi por isso que eu disse que ia entrar aqui como um "estraga festa". Parece que eu estou usando uma linguagem bastante
policial. Não se trata disso, trata-se de colocar as coisas certinhas.
Na verdade, o Cangaço é um sintoma da luta de classe que se processava no
Nordeste. Só que o cangaceiro não tinha consciência social e o Cangaço acabava
sendo simplesmente uma reação à miséria que não se resolvia de forma
racional; se resolvia pela violência. Para entendermos bem tudo isso, é preciso
acompanhar como atuavam os cangaceiros, e, principalmente, o grupo
de Lampião, de quem se tem mais informação.
Os cangaceiros conheciam a caatinga e o território
nordestino muito bem, e por isso, era tão difícil serem
capturados pelas autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de
situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento,
rotas de fuga e lugares de difícil acesso.
O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo
Calado, "Jesuíno Brilhante", que agiu por volta de
1870. E o último foi de "CoriscoCorisco" (Cristino Gomes
da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de
maio de 1940.
Jesuíno BrilhanteJesuíno Alves de Melo Calado, depois chamado
Jesuíno Brilhante, foi o cangaceiro gentil-homem, o bandoleiro romântico, espécie matuta de Robin
Hood, adorado pela população pobre, defensor dos fracos, dos anciões oprimidos, das moças ultrajadas,
das crianças agredidas. Nasceu em Tuiuiú, Patu, Rio Grande do Norte, em
1844 e morreu lutando em Santo Antônio, Águas do Riacho dos Porcos, Brejo da Cruz, Paraíba, em fins de 1879. Sepultaram-no no mato, no lugar “Palha”. Seu crânio, exumado pelo seu amigo Dr. Francisco Pinheiro de Almeida Castro, esteve longamente na
Escola Normal de Mossoró e foi presenteado no Rio de Janeiro ao Prof. Dr. Juliano Moreira.
Uma rixa de sua família com a família dos Limões, em Patu, valentões protegidos pelos políticos, tornou-o de pacato agricultor em chefe de bando invencível em 1871. Ficaram famosos os assaltos à cadeia de
Pombal (PE) para libertar seu irmão Lucas (1874) e, no ano de 1876, à cidade do Martins (RN). Cercados pela polícia local, Jesuíno e seus dez companheiros abriram passagem através das casas, rompendo as
paredes, cantando a cantiga “Curujinha” e desapareceram. Ia sempre, disfarçado, às cidades maiores, hospedando-se em residências amigas, adquirindo munição e víveres. Durante a “Seca dos dois sete” (1877) arrebatava os víveres dos comboios oficiais para distribuí-los com os famintos. Nunca exigiu dinheiro ou matou para roubar. Sua
popularidade prestigiosa perdura na memória do sertão do Oeste norte-rio-grandense e fronteira paraibana com admiração e louvor
inalteráveis. Rodolfo Teófilo estudou-o no seu romance Os Brilhantes e Gustavo Barroso, num ensaio no Heróis e Bandidos; Rodrigues de Carvalho
publicou o “A.B.C. de Jesuíno Brilhante” no Cancioneiro do Norte. Luís da Câmara Cascudo, Flor de Romances Trágicos, com algumas pesquisas em cartórios e reminiscências familiares, 111-128, Rio de
Janeiro, 1966).
O cangaceiro mais famoso foi, Virgulino Ferreira da Silva, o "
Lampião", denominado o "Senhor do Sertão" e também "O Rei do Cangaço". Atuou
durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os
estados do Nordeste brasileiro.
Em 04 de junho de 1898 nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira
de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em
Pernambuco, terceiro filho de José Ferreira da Silva e D.
Maria Lopes.
Seus pais casaram no dia 13 de outubro de 1894, na Matriz do Bom
Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio, tendo seu primeiro filho em
agosto de 1895, que chamaram Antônio em homenagem ao avô
paterno. O segundo filho nasceu dia 07 de novembro de 1896, e foi chamado de Livino. Depois de
Virgulino, o casal teve mais seis filhos, quase que ano a ano que foram: Virtuosa, João, Angélica, Maria (Mocinha), Ezequiel e Anália.
Virgulino foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São
Francisco, sendo seus padrinhos os avós
maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jacosa
Vieira.
A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou:
"Virgulino - explicou o padre - vem de vírgula, quer dizer,
pausa, parada." e arregalando os olhos: - “Quem sabe, o sertão
inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração Por ele”.
Quando menino viveu intensamente sua infância, na
região que chamava carinhosamente de meu sertão
sorridente ! Brincava nos cerrados, montava animais, pescava e nadava nas águas do riacho,
empinava papagaio, soltava pião e tudo o mais que fazia parte dos
folguedos de seu tempo de menino.
A esperteza do menino o fez cair nas predileções de sua avó e madrinha
que aos cinco Anos o levou para a sua casa, a 150 metros da casa paterna. À
influência educativa dos pais, que nunca cessou, acrescentou-se a desta senhora - a "Mulher Rendeira" a quem o menino admirava quando ela, com incrível rapidez das mãos, trocando e
batendo os bilros na almofada e mudando os espinhos e furos, tecia
rendas e bicos de fino lavor.
A crisma aconteceu em 1912, aos quatorze anos e foi celebrada pelo
recém empossado primeiro bispo D. Augusto Álvaro da Silva, sendo
padrinho o Padre Manuel Firmino, vigário de Mata Grande, em Alagoas.
No lugar onde nasceu não havia escola e as crianças aprendiam com os mestres-escola, que ensinavam mediante contrato e hospedagem, durante períodos de três a quatro
meses nas fazendas.
Seu aprendizado com foi os professores Justino Nenéu e Domingos Soriano Lopes.
Ainda menino já trabalhava, carregando água, enchiqueirando bodes, dando comida e água aos
animais da fazenda, pilando milho para fazer xerém e outras atividades compatíveis com sua idade. Mais
tarde, jovem, robusto passou aos trabalhos de gente grande: cultivava algodão, milho, feijão de corda,
abóbora, melancia, cuidava da criação de gado, e dos animais. Posteriormente Virgulino foi também artesão em trabalhos de couro, e exímio tocador de sanfona Pé
de bode e feirante. Antes de se tornar cangaceiro, ganhava a vida, juntamente com seu pai e os irmãos
mais velhos, Antônio e Livino, como almocreve, tangendo tropa de burros e conduzindo mercadorias de
Pernambuco para Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os irmãos mais moços Chamavam-se João e Ezequiel este o último a ingressar no cangaço, em
1927.
Seu alistamento eleitoral e de seus dois irmãos Antônio e Livino foi feito em 1915 por Método Godoi, apesar de não terem ainda os 21 anos exigidos por lei. Sabe-se que votaram três vezes: em 1915,
1916 e 1919.A vida amorosa dos três irmãos era
como a de qualquer jovem de sua idade, e se não houvessem optado pela vida de cangaceiro, certamente teriam cada um
constituído sua família e tido um lar estável como foi o de seus familiares.
Até entrar para o cangaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos, que viviam do trabalho (trabalhavam muito como
qualquer sertanejo) na fazenda e na feira aonde iam vender suas
mercadorias.Virgulino Ferreira da Silva na certa seria
sempre um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar
sua vingança.
FAMÍLIA DE LAMPIÃO:Pai - José Ferreira da Silva
Mãe - Maria LopesIrmão João Ferreira -Nunca participou das lutas de Lampião.
Criou seu irmão Ezequiel e todas as irmãs. Levino Ferreira - Foi o primeiro irmão de Virgulino morto pela
polícia.Antônio Ferreira - Era o irmão mais velho. Morreu num
acidente, quando brincava com seu rifle. Este caiu no chão e disparou um tiro que lhe atingiu o peito. História estranha,
mas verdadeira.Ezequiel Ferreira ”pente fino”- Era o caçula da família.
Passou seis anos no cangaço e era exímio atirador. Foi ferido durante um tiroteio na fazenda Capoeira do Touro, na Bahia. Dizem que foi o próprio Lampião que, após despedir-se do
irmão, deu-lhe o tiro de misericórdia.Irmãs: As irmãs Maria, Amália, Angélica e Virtuosa Ferreira
foram criadas longe da vida do cangaço.Todos os irmãos que participaram do bando de Virgulino
morreram nas lutas contra a polícia.
A ENTRADA NO CANGAÇO :
Os dados históricos com que se preocupa em recompor à entrada de Virgulino no cangaço, são fragmentários,
confusos e, geralmente, contraditórios, contudo todos concordam que o causador da questão foi uma família vizinha aos Ferreira, era a família de José Saturnino.
Saturnino dois anos mais velho que Virgulino possuía uma fazenda vizinha a de Virgulino. Para a sociedade local estava um passo acima dos Ferreira, devido aos seus
laços de parentesco com famílias de prestigio. Sua mulher pertencia a família dos Nogueira, que se consideravam da
elite local, e seu pai era um importante fazendeiro, que tinha um grupo de homens armados. Seu tio Casimiro Honório, era um chefe de cangaceiros conhecidos, que serviu a poderosa família dos Carvalho em suas muitas
lutas rancorosa e sangrenta contra os Pereira. Além disso, era considerado o chefe da família. Os Ferreira, em
comparação era relativamente humilde.
A inimizade entre os Ferreira e os Carvalho começou em 1916, quando
Virgulino tinha 19 anos. As causas foram invasão de propriedade e pretensos
roubos de animais e chocalhos. Segundo os Ferreira um dos moradores de
Saturnino estava roubando suas cabras, deram queixa e o chefe de policia, que
era tio de Virgulino, começou a investigação acompanhado por Livino e Virgulino, foi até a casa do morador e declarou que os couros encontrados
tinha a marca dos Ferreira.
Saturnino achou que a vinda dos Ferreira e seu parente chefe de
policia as suas terras, assim como as acusações, eram um insulto, e declarou que seu morador seria protegido, também acusou os filhos dos Ferreira de maltratar
seus animais e roubar seus chocalhos, e avisou-os para
ficarem longe de suas terras.
A má vontade entre as duas famílias degenerou em violência. Em 1916, num dos primeiros dias
de Dezembro, Virgulino e Levino, depois de recolherem o gado, passaram por um campo onde alguns homens de Saturnino estavam
trabalhando, e foram alertados que não deveriam passar por aquela terra e responderam
que passariam por onde quisessem e avisou a Saturnino que não se metesse, o que resultou
em um dos homens de Saturnino disparando dois tiros. No dia seguinte, se reuniram Virgulino, Levino, e Antônio juntamente com um dos
moradores, com o intuito de novamente recolher o gado, ao passarem perto da casa dos Saturnino ouve um grande tiroteio resultando que Antônio
foi ferido na coxa.
José Ferreira, o pai, resolveu tomar uma atitude para resolver a situação e juntamente com chefes locais e
influentes, procurou entrar em contato com José Saturnino e seus parentes,
esperando assim acabar com a violência. No acordo ficou o pai de Virgulino levou a pior foi obrigado a vender a fazenda e se mudar para outro lugar perto da vila de
Nazaré, na comarca de floresta, e estavam proibidos de retornar a antiga fazenda, José Saturnino e seus parentes
próximos ficaram proibidos de irem a Nazaré.
Feita a mudança os Ferreira se estabeleceram numa fazenda conhecida como Poço do Negro. Mas este
acordo não durou muito tempo, alguns meses depois da mudança quando Virgulino e Manoel
Lopez (um tio que vivia com os Ferreira), decidiram ir a feira semanal em Nazaré. Na vila Virgulino e seu tio conseguiram ver Saturnino e
Nogueira, que foram ate lá para cobrar o pagamento de uma divida de uma venda de um
cavalo. Virgulino se exaltou e queria atacá-los no meio da rua, sendo acalmado pelo seu tio que
sugeriu que fossem atocaiados, e ao anoitecer eles foram atocaiados mais ninguém saiu ferido.
No dia seguinte Saturnino e aproximadamente quinze homens atacaram A fazenda Poço do Negro, e não surpreenderam Virgulino e seu tio Manoel, que já esperavam pelo ataque, estavam sozinhos, pois o velho José Ferreira estava viajando fazendo seus
carretos e a outra parte da família foram visitar uns parentes ao norte. Após este incidente ficou provado o risco que todos os Ferreira estavam expostos e a partir
desse dia todos os rapazes dos Ferreira passaram a andar armados e a adquirirem a reputação de cangaceiros, começaram a usar as roupas que
caracterizavam o bandido profissional: chapéu com a aba virada na frente, lenços vistosos ao redor do
pescoço, e cinturões com cartucheiras.
Sebastião Pereira, um cangaceiro que era bastante conhecido pelos irmãos Ferreira e foi quem lhes serviu de modelo. Era
depois de Antônio Silvino o cangaceiro mais famoso dos Sertões. Era natural de São Francisco, situada perto da
fazenda dos Ferreira, Passagem das Pedras, e além disto, era mais ou menos da mesma idade dos filhos dos Ferreira. Acompanhado de um grande bando, estava desde 1916 agindo na região onde os Ferreira moravam, e Antônio
Matildes (um tio dos irmãos Ferreira) era quem os protegia. E os Nogueira e Saturnino, faziam parte da família dos Carvalho, que eram os principais inimigos dos Pereiras.
A atitude de sempre estar metidos em briga Virgulino e seus irmãos começaram a perturbar a paz dos habitantes de Nazaré que eram dominados pelas famílias ligadas por parentesco ou casamento a Saturnino e aos Nogueira.
A atitude de sempre estar metidos em briga Virgulino e seus irmãos começaram a perturbar a paz dos habitantes
de Nazaré que eram dominados pelas famílias ligadas por parentesco ou casamento a Saturnino e aos Nogueira.As primeiras dificuldades com os irmãos Ferreira foi
devido ao costume de não portar armas nos povoados, ato muito comum, onde se deixavam as armas na casa de amigos ou estabelecimentos comerciais, numa visita a Nazaré, Antônio, Virgulino e Leviano se recusaram a
seguir este costume, pois alegaram que suas vidas corriam risco, isto ocasionou uma troca de ameaças entre eles e os
principais habitantes de Nazaré. Declarando que os Ferreira estavam a paz da comunidade e prejudicando o
comércio as famílias de prestigio do povoado conseguiram designar um policial do estado.
Lampião teve uma vida difícil. Seu pai foi morto quando Virgulino ainda era adolescente, numa busca policial, pelo alagoano José Lucena Maranhão, quando o destacamento procurava Virgulino, Levino e Antônio, os três irmãos já
envolvidos com crimes. A ação policial desastrada o levou definitivamente a assumir a atitude de bandido, e por volta
de 1916 se juntou a um bando de cangaceiros chefiados por um primo seu, Sebastião Pereira, vulgo "Sinhô
Pereira". Já em 1919 liderava o grupo, e sua fama corria o país inteiro. Era o personagem preferido de literatura de
cordel, onde era mostrado como um grande "herói", infalível e indomável. Relatos de suas façanhas contra as
polícias chegavam aos ouvidos dos políticos, que patrocinaram uma caçada para persegui-lo e matá-lo.
Vários coronéis (coiteiros) do sertão ofereciam armas, munição e abrigo em suas terras ao
cangaceiro em troca de ajuda para sua segurança e na luta contra inimigos, assim como participação
no butim dos saques. Lampião se tornou uma "lenda" depois de morto. Desenvolveu-se, depois
da sua morte, a falsa noção de que ele era uma espécie de revolucionário marxista (documentos da
III Internacional à época falam dos cangaceiros como "partisans", ou seja, guerrilheiros), que combatia as injustiças sociais no sertão, e que
tirava dos ricos para dar aos pobres .
Na verdade ele parece ter sido apenas um bandido comum, extremamente cruel e
sanguinário, capaz das piores atrocidades contra as populações rurais no nordeste, e
que sempre viveu em conluio com latifundiários. Extremamente vaidoso,
gostava de perfumes franceses, roupas com enfeites e chapéus enormes adornados com
moedas de prata, e confeccionava suas próprias alpercatas, bornais e cartucheiras,
feitos de couro.
Lampião era um assassino frio. Mau com os fracos e mais terrível ainda com os poderosos.
Lampião era exímio com a faca e não se importava de ver as suas vítimas sangrar
agonizando até a morte. Não se importava com o sofrimento alheio ao testemunhar mães verem a morte de seus filhos, maridos de esposas e vice-
versa. Matou com igual crueldade mulheres, crianças indefesas, mulheres grávidas e até mesmo velhos. Lampião especializou-se em alguns tipos de tortura como a decepação de
membros e olhos.
Famoso ficou o caso de uma mulher que lhe entregara os anéis afirmando "vão-se os anéis e ficam os dedos"
no que Lampião respondeu "pois vão-se os dedos também" e mandou decepar-lhe a mão. Praticou
também estupros coletivos (num deles, mais de 25 homens de seu grupo barbarizaram uma indefesa mulher antes de mata-la). Uma de suas execuções
favoritas era cortar a pessoa com a faca da clavícula ao alto do pescoço. Lampião também costumava empalar algumas de suas vítimas. Essas terríveis
formas de matar eram usadas indiscriminadamente, tanto para com inimigos legítimos e poderosos como
para pessoas inocentes que em alguma coisa desagradacem ao gênio vaidoso de Virgulino.
Apesar de suas atrocidades, era religioso e trazia sempre no bornal um rosário e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Conta-se, aliás,
que em 1926 teria recebido a patente de capitão da Guarda Nacional pelas mãos do Padre Cícero
a fim de combater a Coluna Prestes que, naqueles dias agitados, passava pelo território
cearense - um mito que parece ter como objetivo realçar o prestígio de Lampião ao associá-lo ao maior taumaturgo nordestino. Nesta passagem
por Juazeiro do Norte, Lampião deu uma entrevista para o médico de Crato, Dr Octacílio
Macêdo.
LAMPIÃO, A ENTREVISTA
- Que idade tem?- Vinte e sete anos.
- Há quanto tempo está nesta vida?- Há nove anos, desde 1917, quando me ajuntei ao grupo do Senhor
Pereira.- Não pretende abandonar a profissão?
Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em
abandoná-lo.- Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"?
Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma
oportunidade. - E depois, que profissão adotará ?
Talvez a de negociante. Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades
alheias?- Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando
pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.
MARIA BONITAFoi também graças ao cangaço que conheceu seu grande amor: Maria Bonita. Em suas andanças e
fugas, foi para o Ra-so da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Chegou ao povoado de Santa Brígida,
onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no
bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão
célebre quanto Lampião e Maria Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do
lendário casal. Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos .
MORTE
Em 28 de julho de 1938, no município de Poço Redondo, Sergipe, na fazenda Angico, Lampião foi morto por um
grupamento da Polícia Militar alagoana, as chamados volantes, chefiado pelo tenente João Bezerra, juntamente com dez de
seus cangaceiros, entre os quais se encontrava sua companheira, Maria Bonita, Luís Pedro, este o seu cangaçeiro mais fiel, além de Mergulhão, Elétrico, Quinta-Feira, Caixa de
Fósforo, Adília, Cajarana e Diferente. Foram todos decapitados e suas cabeças, devidamente etiquetadas, levadas como
comprovante de suas mortes, foram expostas nas escadarias da igreja matriz de Santana do Ipanema. De lá foram
conduzidas a Maceió e depois para Salvador. Foram mantidas, até a década de 1970, como "objetos de pesquisa científica" no Instituto Médico Legal de Salvador (Instituto Nina Rodrigues). Nina Rodrigues era fiel seguidor das idéias de médico legista forense italiano Cesare Lombroso segundo a qual a fisionomia
tem uma correspondência direta com a tendência ao banditismo. Nisa esperava encontrar nas amostras colhidas do
bando de Lampião a comprovação da tese lombrosiana.
CORISCO
Uma semana depois do massacre de Angicos, o cangaceiro Corisco, o "Diabo Louro", que havia se separado de Lampião, constituindo um bando
à parte, desfechou ataques fulminantes sobre cidades à margem do Rio São Francisco como
vingança pela morte de seu amigo. Enviou algumas cabeças cortadas ao prefeito do
povoado de Piranhas, com um bilhete: "Se o negócio é de cabeças, vou mandar em
quantidade". Corisco foi morto em julho de 1940.
O final do cangaço ocorreu em 1938, quando o bando de
Lampião foi massacrado, às margem do Rio São Francisco,
em Angicos, Alagoas. Corisco, o Diabo Louro, ainda sobreviveu até 1940, mas sem quase nada fazer para cumprir a promessa
de "vingar a morte de Lampião".
O cangaço teve o seu fim a partir da decisão do Presidente da República, o Ditador Getúlio Vargas, de eliminar todos e qualquer foco de desordem sobre o
território nacional. O regime denominado Estado Novo incluiu Lampião e seus cangaceiros na
categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem.
No dia 28 de julho de 1938 na localidade de Angicos, no estado de Sergipe, Lampião foi vítima de uma emboscada onde foi morto junto com sua mulher,
Maria Bonita e mais nove cangaceiros.
Esta data veio a marcar o final do cangaço pois a partir da repercussão da morte de Lampião os chefes dos outros bandos existentes no nordeste brasileiro vieram a se entregar às autoridades policiais para
não serem mortos.
1 Chapéu - inspirado no modelo francês adotado pelo imperador Napoleão Bonaparte, de quem
Lampião leu a biografia.
2 Lenços - de tafetá francês ou seda pura inglesa; geralmente estampados e coloridos, quebravam a monotonia do tom ocre da roupa.
3 Brincos - ao contrário de outros sertanejos, os cangaceiros usavam brincos e outras jóias.
4 Casaco - desenhado e costurado em algodão ou couro por Lampião, que carregava uma máquina de costura Singer para todos os seus acampamentos; tem também inspirações medievais.
5 Perfume - os cangaceiros costumavam ser reconhecidos pelo cheiro excessivo de perfume, inclusive pelas volantes; Lampião preferia o "Fleur d'Amour", considerado um dos melhores perfumes franceses entre os anos 20 e 40.
6 Calça - o modelo mais usado era com culote e cintura bem alta; usavam até três no inverno devido ao frio à noite.
7 Cabelo - longo. Lampião deixou de cortar os cabelos como promessa, após a morte do irmão, sendo seguido pelos outros cangaceiros; às vezes, eles penduravam anéis no cabelo, depois de lotados todos os dedos das mãos.
8 Arma - como outros adereços, era cravejada de moedas de ouro, influência da marchetaria árabe no sertão nordestino; segundo o historiador Gilberto Freyre, os árabes são uma "eminência parda" na cultura nordestina.
9 Alpargatas - enfeitadas com desenhos costurados; tinham uma lingueta para proteger os dedos
10 Saia - sempre acima do joelho, desrespeitando a convenção da saia rendada até o tornozelo.
11 Anéis - mulheres e homens usavam até três anéis por dedo.
12 Alpargatas - desenhadas e confeccionadas em couro por Dadá, mulher de Corisco, estilista do grupo.
13 Colares - também usados em abundância.