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43 CAPITULO 2 PROJETO DE ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE NA ANTIGA FAZENDA SÃO ROQUE “Manhattam é arcaica, a Megalópole é algo novo e que não conhecemos, na minha opinião, o desenho urbano deveria adquirir uma escala maior que a atual.” Massimiliano Fuksas (05/2003, Revista AU).

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CAPITULO 2 PROJETO DE ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE

NA ANTIGA FAZENDA SÃO ROQUE

“Manhattam é arcaica, a Megalópole é algo novo e que não conhecemos, na minha opinião, o desenho urbano deveria adquirir uma escala maior que a atual.” Massimiliano Fuksas

(05/2003, Revista AU).

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O homem comum, também tem consciência da Vida Real, apesar de não saber a causa da causa das coisas (que é o conhecimento

filosófico), e também da Crise de Valores e banalização do mal, vivenciados pela contemporaneidade. Mas não compreende direito, como se

posicionar diante da esquizofrenia coletiva que vivemos em nossa contemporaneidade. Contrapor essa cultura das aparências, herança deixada

por uma aristocracia escravocrata, requer um Projeto Coletivo da Sociedade baseado em novos valores, diferentes nossa sociedade atual que

valoriza o consumo através de um ideal de beleza desprovido de qualquer sentido ou significado.

O jurista Miguel Reale afirmou que o fenômeno jurídico possui 3 dimensões, na teoria tridimensional o Modelo Jurídico que é um

conjunto de normas que determina ação em contrato como constituição, esta dividido em dimensões: fática, fenomenológica (axiológica) e

normativa. Tudo isso é cultural e portanto construído, suas relações são estudadas na academia pelas ciências como Antropologia, Sociologia,

etc. Portanto esta fundamentado no modo de vida da sociedade. A ONU neste ponto tem papel fundamental na universalização dos Direitos

Humanos Fundamentais, em 1948 faz a Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana e continua lutando para que as nações em que

ainda não são respeitados pelo poder temporal, sejam instituídos de forma democrática, como em Serra Leoa. O que na prática quer dizer que o

Direito Real está ligado ao momento histórico, assim como o Renascimento só floresceu após a Igreja Católica ter sido reformada, para então se

realizar na dimensão física.

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Existe um sonho de uma sociedade solidária e utópica, fundamentada1 no desenvolvimento endógeno e sustentável. Na qual todos

tenham oportunidades iguais desde o ventre materno, sendo o bem estar do Ser Humano em todas as escalas, o seu foco. Neste capítulo tentamos

mostrar as possibilidades de Espaços de Sociabilidade com as pessoas e coisas que fazem parte do território da antiga Fazenda São Roque.

Questiona-se os objetivos verdadeiros do MST, quais seriam suas reais intenções? Seguirão a lógica do mercado ou se contraporão a essa

lógica? Como dar a terra o seu real valor, que é perene e que portanto precisa ser muito bem cuidada, tal como uma jóia que se deixa para as

futuras gerações. Outra questão é a do Espaço Vital, que seria o espaço necessário para a expansão territorial de um povo, é o desejo que

tentamos esboçar no desenho das vias, também quando estabelecemos o posicionamento dos usos que determinamos.

Para tanto, falta definir quais Relações de Sociabilidade entre os homens, seus grupos e com a Estrutura do Prático Inerte2 que queremos

estabelecer. É assim que estabeleceremos quais inputs e outputs3 iremos ligar e desligar em cada espaço, com isto definido em espaços

pedagógicos e que estimulem a noção de cidadania, que criem a consciência de cidadania formando o cidadão.

1 SAWAYA, N.A. 2 ROUANET, Sergio. 1990. 3 MODESTO, Luiz, 2007.

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Criar a infra estrutura necessária para que a Quarta Geração de Direitos4 (definição criticada pelo professor Paulo Bonavides que afirma

que o Direito não pode ser fragmentado), seja materializada no Espaço Pleno. A saber, entende-se que tais diretos se referem: aos Bio direitos; a

pluralidade Democrática; direito a informação; direito a comunicação com outras esferas culturais. É preciso lembrar das mulheres, que são

oprimidas e vitimas facilmente de violência sexual, assim como dos grupos sociais mais vulneráveis como as crianças, idosos e deficientes.

É preciso mudar a realidade atual na qual a constituição se tornou uma expressão polissêmica, na qual cada um vê aquilo que quer. Essa

questão só poderá ser resolvida com espaços que possibilitem amplas discussões com toda sociedade, pois a efetivação do Direito a comunicação

exige a criação de léxico comum e formação da Razão Comunicativa Habermasiana.

Mas para que eles possam existir, o arquiteto deve propor espaços onde possamos viver em comunhão com aquilo que é natural, com

animais, plantas e principalmente as diferentes individualidades alheias5. Tarefa a ser realizada por um numeroso time de pensadores do futuro,

afinal nenhum projeto pode ser igual ao outro, visto que em cada lugar existem diferentes especificidades que comporão necessariamente

diferentes projetos.

4 Idéia de Gerações de Direito foi criada por Kareo Vasak em 1979. 5 FERRY, Luc. 1994.

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Objetivando os estímulos: visual, tátil, odor, sabor, som e outros modos perceptivos se houverem. Também pela definição das dimensões

a serem despertadas no usuário pelo espaço arquitetônico e urbano. Tais dimensões dizem respeito ao mundo que nos cerca, de modo a tentar

estabelecer um contato que desperte aquele sentido e assim por meio dele mostrar o universo vasto do conhecimento e da existência.

Para São Tomás de Aquino ”razão e fé cada uma encontrando o seu acordo com a outra se encontra em si mesma”... “As coisas

conhecidas são concebidas pelo sujeito, que conhece segundo seu próprio conhecimento”. Diz que a fé é para a razão, aquilo que a graça é para a

natureza, não a destrói a aperfeiçoa... “minha fé não é um transporte místico estranho a minha condição, mas uma comunhão em nível

psicológico, realizada em palavras humanas habilitadas, de acordo com sua lei e o seu comportamento, a enunciar Deus em minhas formulações

terrestres.”

Tudo isso para formar cidadãos que possam viver e conviver em sociedade e, principalmente, capazes de respeitar os ambientes urbano e

natural, para reverter o processo já iniciado de destruição do Planeta Terra6 . A preocupação com o ambiente natural, e principalmente os

recursos hídricos, é o motivo que leva a atenção à ação predatória do homem nesse meio.

6 ROGERS, Richard, 2001.

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Fora essa questão em nível local, outras questões da escala regional para a escala do espaço individual, podem ser envolvidas pelo

projeto do espaço. As questões relacionadas a tais dimensões, ou visões de mundo, direcionado aos objetivos decididos coletivamente.

Nesse sentido, a relação do homem com a Espaço Pleno, externo a problemática da consciência, deverá mudar sistematicamente através

do modo de vida e fundamentalmente do Modo de Produção Industrial, que atualmente usa técnicas poluidoras e irresponsáveis. Métodos

completamente ultrapassados para a contemporaneidade, posto que podemos utilizar sistemas industrializados, tecnológicos e de comunicação,

que podem potencializar muito as ações do Sistema de Produção.

O professor Alessandro Ventura da FAU-USP desenvolveu estudos em seu Doutoramento e Livre Docência, que apontam para o design

como elemento que agrega valor financeiro à economia local, propiciando o desenvolvimento endógeno, e ainda dinamiza a construção da

identidade.

Pensar nos presos, no MST, nos doentes mentais e no grande problema que é o déficit de habitação para moradores de baixa renda, temos

em Franco da Rocha, município da região metropolitana de São Paulo, o lugar que reúne características únicas para a realização de projeto

piloto: A APA “Odette Rocha”.

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Na área da antiga Fazenda São Roque: temos uma Comuna da Terra; dois presídios; e uma unidade psiquiátrica remanescente do

Complexo do Juquery, mas que pertence hoje à uma divisão da Secretaria de Cidadania e Justiça Social do Estado de São Paulo. O local foi

sondado para a implantação de um Abrigo para Crianças em Risco.

O espaço geográfico territorial da Fazenda São Roque se propõe7, ela possui diversas nascentes, além estar localizada exatamente no

centro da Metrópole Expandida. Possui vasta área para implantação de um projeto que poderia materializar uma das intenções da Comissão

Teotônio Vilela, como a implantação do Projeto Piloto das Unidades Integradas.

Além disso na área industrial, as Associações dos Moradores Locais, podem construir uma fábrica de Habitação popular e modular. Os

presos poderiam trabalhar na construção de casas pré-fabricadas, com design, o que poderia ainda diminuir o déficit habitacional e de empregos

do município de Franco da Rocha.

7 SANTOS, Milton. 1996.

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Paralelamente os trabalhadores rurais sem terra, poderiam trabalhar em áreas de cultivo e pecuária. Essa produção devera servir para

abastecer a comunidade local e fomentar as relações territorialidade. Também poderiam produzir algum tipo de matéria prima para o processo

industrial, assim como áreas de habitação e Vida Comunitária; bem como com projetos sustentáveis de sistema de esgoto e para obtenção de

energia. O objetivo é criar formas dos usuários e moradores se integrarem e formarem alianças voltadas para o trabalho, poderiam formar

Cooperativas Auto Gestionárias de Serviços.

Essa forma de organização social tem o potencial de congregar a população, fazendo-a ter conhecimento de seus direitos e deveres, além

de ter o potencial de uni-la, no gerenciamento de um novo Modo de Vida. Esta pode ser a oportunidade de mudar o curso de suas vidas, gerando

novas oportunidades de trabalho e divulgando a importância da Preservação Ambiental. Resolvemos projetar moradias temporárias com

diferentes tipologias8, para que os cooperados pudessem aprender a cuidar da rede usinas limpas, também dos outros serviços e trabalhos a serem

realizados, e principalmente a gerenciar a Cooperativa.

Ainda restam duas questões: o problema do desenvolvimento econômico, como criar mercado consumidor, para o excedente produzido

pela cooperativa? A solução nesse caso parece ser uma só: a criação de pólo de desenvolvimento. Sua localização ao longo de uma das vias que

8 Para respeitar os diferentes modos de vida, pois não existe necessidade de pasteurização, podem ter identidade.

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cruzarão o território, ou próximo ao cruzamento facilitaria o escoamento de seus eventuais produtos, além disso existe a possibilidade um ramal

ferroviário Leste-Oeste ao norte de Franco da Rocha.

O filósofo iluminista o Barão de Mostequieu, teorizou sobre a separação dos poderes, afirmando que a relação de forças e controle

deveriam conduzir a harmonia. Renato Lessa9 afirma, que não temos uma Tessitura de Relações Sociais que caracterize a Fundação da

República. O que levaria séculos para ser formado, uma vez isto feito teríamos a blindagem econômica. Por outro lado os economistas, Marcio

Pochmann e Ricardo Amorim, no “Atlas da Exclusão Social no Brasil”, afirmam: “ a exclusão pode ser interpretada como um processo de

natureza transdisciplinar, capaz de envolver diferentes componentes analíticos.”10

Em São Paulo, assim como em outros Estados, as ações do Governo são divididas em Secretarias, no Governo Federal são os cerca de 38

Ministérios, como reduzir os efeitos nocivos dessa burocracia que também emperra as ações do Poder Judiciário no Brasil? Desse modo as

relações entre os agentes do governo foram pulverizando o poder através de sua descentralização. Criou-se então uma Sistema Burocrático, que

desfavoreceu a objetividade de suas ações. Apesar de já em 1930, o então prefeito Pires do Rio ter contratado o engenheiro Prestes Maia para

9 LESSA, Renato, 1989. 10 AMORIM, Ricardo; POCHMANN, Marcio, 2003.

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projetar a Metrópole11, ela apenas foi mais e mais fragmenta. O poder descentralizado, aumenta a burocracia e diminui a objetividade do Estado.

Hoje na Região Metropolitana vemos que o município central possui a maior arrecadação e portanto emprega mais pessoas, mas ainda assim o

problema vai sendo mandado pra longe dos olhos com a lógica da especulação imobiliária.

A eficiência das Ações do Governo, que depende também do Legislativo, pode novamente ganhar força com a criação de canais (inputs e

outputs)12 de Razão Comunicativa através do Espaço da Praça13. De modo que se torne o Espaço, forma da sensibilidade externa, em lugar

através do qual localizamos objetos fora de nós:

INTERPRETANTE = USO

SIGNO OBJETO

(praça) (praça)

INTERPRETANTE = USUÁRIO Fonte: CARAMELLA, Elaine, 2000. (n.a.)

11 LEME, Maria Cristina S., 1996. 12 MODESTO, Luiz Sergio, 2007. 13 QUEIROGA, Eugenio, 2003.

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A possibilidade de criação de “lugares virtuais” de sociabilidade, que tenham a intenção de serem espaços direcionados para pré-

determinadas dimensões, se torna outro instrumento importante para otimizar os recursos direcionados para o fenômeno jurídico14, por exemplo.

Ciência e tecnologia são as ferramentas de construção do futuro. E temos nelas a possibilidade de conseguir unir a sociedade e a

economia na modificação dos modo de vida e modo de produção contemporâneos. Através destes instrumentos podemos transformar a matéria,

que é o elemento objetivo, fornecido por impressões sensitivas, em forma (elemento subjetivo, que depende do sujeito, da síntese e do

conhecimento).

O tempo, forma da sensibilidade interna, por meio da qual percebemos fatos conscientes, uns depois dos outros, trouxe a necessidade da

mudança do Modelo Econômico. Ela se faz necessária para se alcançar a otimização dos recursos utilizados na produção industrial, por exemplo.

Que deverá ser feita, através do uso de técnicas agregadas no sentido de reduzir o impacto da rede produtora desses recursos.

14 Sistema tridimensional: fática (mundo real); fenomenológica (sistema de valor); e normativa (leis humanas). (N.A.), 2007.

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Estética é aquilo que é puramente subjetivo, na representação de um objeto, isto é, que constitui sua relação com o sujeito e não com o

objeto e a sua qualidade estética. Artigas sabia disso e disse: “A nossa estética é a nossa ética.” Fazia arquitetura brutalista pra expressar a rudeza

do povo brasileiro.

Sendo assim, a arquitetura materializa Espaços de Sociabilidade, mas depende do arquiteto quantas e quais dimensões o projeto abrange.

O espaço se propõe e nós projetamos as suas reações através do desenho urbano onde designamos as: morfologia; relações entre seres humanos,

com coisas e entre os dois15. Isso em diferentes escalas, e que atualmente se encontram completamente desconectadas entre si, posto que não se

relacionam nos Espaços Coletivos e Privados, assim como não existem meios claros de diálogo com os responsáveis pela administração da coisa

pública.

A internet, trouxe uma nova dimensão para a arquitetura. Hoje podemos projetar as formas de relacionamento que poderão estar

presentes no espaço virtual. Uma forma de abstrair completamente o projeto daquilo que é material! Mas nem por isso deixar de projetar o ideal

coletivo, para isso é necessário que saibamos as opiniões alheias, não importa de quem seja todos devem ser escutados, é Projeto Coletivo da

Sociedade que queremos construir no futuro.

15 RAPOPORT, 1968.

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Esta ferramenta aliada ao método, ou maneira de ver, do prof. Sylvio Sawaya possibilita o planejamento territorial visando o

fortalecimento das relações sociais. Para o êxito deste intento será preciso muitas reuniões, pois sem o dialogo e a busca do fortalecimento da

Razão Comunicativa Habermasiana é impossível projetar os Espaços de Sociabilidade, com o uso de dialéticas como a ciência e a tecnologia; a

economia e a sociedade; o direito e o urbanismo (paisagem).

Também em projetos mais complexos com maior número de variáveis, através de Sistemas de Informação e Comunicação, algo que

pudesse ser o lugar da aldeia global, como ela própria a tenha projetado. Os Sistemas de Informação podem relacionar dados que os sistemas

analógicos não conseguem, tornando o acesso a ele mais simples e preciso.

Estes podem ser direcionados para qualquer problema que exista num território. Assim aqueles agentes, atores e lugares referentes ao

fenômeno podem trocar saberes para buscar a otimização dos recursos e harmonização das relações que acontecem no espaço comum.

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Tudo isso é objetivo do nosso projeto, que pode parecer pretensioso, mas que na realidade é apenas um começo para uma discussão bem

maior, com todos os interessados no território da antiga Fazenda São Roque, e se a Sociedade Global quiser participar para iniciarmos a tessitura

que protegerá dos efeitos do Aquecimento Global.

Atualmente com a tendência a universalização do acesso ao computador, atingimos uma escala planetária de possibilidade de

comunicação em tempo real, de qualquer lugar para qualquer lugar através da comunicação via cabos e satélite, o que permite nossa consciência

vivenciar a 4a dimensão, conforme o filósofo e escritor Roberto Costa Pinho afirma: “... a internet e o tempo dão a nossa consciência uma 4a

dimensão...” Hoje a união das duas linguagens possibilita uma comunicação quase que universal para os seres humanos, desde que os direitos

sociais sejam respeitados.

A educação a distância pode acontecer com essas duas ferramentas. Motivo pelo qual a inclusão digital deve ser ainda mais reforçada. A

criação de tele-centros na periferia é inserir a quarta dimensão na vida dos moradores de tais localidades. Outra possibilidade é a criação de um

mobiliário urbano, como um telefone público, que dê acesso universal a internet.

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Um tele-centro pode possibilitar a integração com infinitas dimensões de sociabilidade. Inclusive no espaço físico, pois os usuários

também podem utilizar outros espaços próximos para trocarem saber. Isso já acontece nas Lan Houses, só que não é direcionado, não tem um

sentido planejado de possibilidades de ações e atividades.

A escala planetária é alcançada pela internet e pelo movimento. A outra ponta de uma escala ampliada que se encontra no corpo do

individuo (expressão da persona), esta escala vai diminuindo até abranger o universo (lugares vazios e cheios), mas passa primeiro pela unidade

de habitação familiar, depois pelo espaço coletivo de unidade multi-familiar, condomínio, rua,bairro, cidade, estado, região, pais, continente e

então o Planeta Terra, Sistema Solar, Universo.

Todas essas escalas, inclusive as virtuais, possuem arquitetura, e a qualidade daquelas com as quais nos relacionamos, pode melhorar

muito ao conseguirmos significar para o usuário sem dominação, para chegarmos a este ideal, existe um trabalho imenso para nós arquitetos, o

que pode significar que o nosso valor é muito grande como profissionais. Há necessidade de que tais espaços sejam significados, para que os

conflitos urbanos sejam diminuídos, e assim possibilite o encontro. Com o projeto direcionado para a otimização dos recursos existentes na

busca de finalidades predeterminadas.

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Sendo assim os problemas sociais só dependeriam do peso de cada fator na equação que desenha o cenário atual16. Para tanto a academia

poderia ajudar na busca da interpretação desses fatores, e assim a sociedade através de processo participativo poderá significar e assim colocar

cada coisa em seu lugar.

Agora é a hora de pensar em quem estará nesse futuro, e ainda se é esse o futuro que queremos? A sociedade não quer outro modelo?

Qual é o modelo que se almeja coletivamente? Deveríamos debater para criarmos consenso sobre quais posturas tomar, com relação ao coletivo,

família, próprio individuo, Primeira e Segunda Naturezas. Os valores dos produtos e serviços, também com relação ao suporte biofísico, sua

fauna e flora, também Ambiente Urbano, ou seja projeto urbano deve ser repensado. Mas esse dialogo exige esforço de todos os envolvidos.

O espaço deve propor beleza? Mas qual é o Arquétipo que devemos cultivar? A beleza é um ideal, ou seja, não é o material, mas a idéia

que ela passa, a isso chama-se Teogonia. Ela pressupõe o bem absoluto, e o mundo inteligente (fora da caverna) é o espaço da Razão

Comunicativa de Habermas, pois que segundo Platão, em seu celebre Mito da Caverna17, afirma que o mundo sensível é o mundo das pessoas

que vivem dentro da Caverna, acorrentadas aquilo que vêem: as sombras da Verdade.

16 Pode ser a Teoria da Relatividade, ou a Teoria de Fractal.(N.M.) 17 PLATAO, A República.

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Schiller, em suas Cartas sobre a Educação Estética do Homem, afirma que para o homem, ver a beleza e as coisas belas tem um efeito

positivo sobre como se relaciona com aquilo que faz bem aos olhos, pois deseja preservar.

Essa problemática, segundo o professor dr. Alexandre Delijaicov em sua Tese de Doutorado, tem como a solução para este problema, a

constituição de Escritórios Público de Projetos em cada município. Tais escritórios teriam como objetivo pensar os espaços com designações

democráticas, em debates sobre água, por exemplo. Já que nos centros urbanos e na arquitetura da cidade devem se integrar com a mata ciliar,

evitando que sejam degradados por enchentes, enxurradas ou deslizamento. Através da Arquitetura nas Matas Ciliares Urbanas e Orlas Fluviais

Urbanas, podemos também inserir Floresta artificial fluvial diversificada.

O Escritório será um empreendimento Público Municipal com base na Integração das Redes Urbanas de Equipamento, Infra Estrutura e

Habitação. Para que todos os usuários do Espaço Pleno tenham consciência de conceitos urbanísticos que permeiam a vida de todos os

moradores de uma cidade.

É preciso trabalhar sempre com a idéia de que as cidades devem possuir como espinha dorsal: a Rede Hídrica. Deste modo é preciso

detalhar a construção do olhar e através da ação integrada de um Escritório Público de Projeto. Será um Estúdio Municipal de Arquitetura e

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Engenharia, onde se possa realizar projetos coletivos dos vivos e não vivos. Para contrapor o processo de desertificação, resultado do processo

de Expansão Urbana, assim aflora uma situação do simbólico/iconográfico de construção da Identidade.

Para tanto é preciso existir processos lúdicos e prazerosos de Educação Ambiental. Também é necessária a gestão integrada Espaço

Público. O objetivo é chegar a um meta-projeto identificando quais os mecanismos de articulação do projeto tornando a construção da Segunda

Natureza algo coletivo. O problema da Mobilidade (tempo e custo) faz o morador não ter tempo de se apropriar do território, visto que não pode

fortalecer os vínculos territoriais com os agentes do espaço físico vizinho, afinal o nosso Habitar não é apenas a nossa casa.

Nossa proposta buscou a harmonização desses três aspectos fundamentais: a preservação ambiental; a habitação humana com segurança e

qualidade; e a geração de riqueza. Para tanto percebemos que seria primordial o despertamento de uma consciência ambiental na população, para

que dessa forma os moradores da região pudessem valorizar o Suporte Biofísico, mas só isso não é suficiente quando alguém não tem nem como

sobreviver é impossível cobrar essa conscientização.

Assim pensamos que para a população cuidar de seu entorno, tanto natural, quanto urbano seria ideal, que pudessem tirar o seu sustento

dos recursos hídricos, por exemplo. A apropriação do espaço pode ocorrer com esse fato: a utilização dos recursos naturais para a geração de

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riqueza. Um Centro de Referência em conscientização Sócio-Ambiental, no qual serão abordadas as energias: Eólica (gerada por hélices ligadas

a um dínamo); Termoelétrica (abastecida com metano produzido por aterros sanitários); Energia Fotovoltaica (gerada pelo sol) e a energia

hidroelétrica (gerada pelo movimento da água). Mas ainda há questões referentes a habitação e ao desenvolvimento humano a serem tratadas.

A solução encontrada foi a criação de um Centro de Referência para a região, em forma de uma cooperativa a COOPTEL(Cooperativa de

Tecnologia em Energia Limpa). Ao ponderarmos sobre como esse centro de referência poderia influenciar o cotidiano das pessoas, e sobre como

poderia ser melhor explorado o seu potencial de iniciar um processo de desenvolvimento econômico endógeno, surgiu a idéia de uma

cooperativa.

Essa forma de organização social tem o potencial de congregar a população, fazendo-a ter conhecimento de seus direitos e deveres, além

de visar uni-la no gerenciamento de um bem. Oportunidade de mudar o curso de suas vidas, gerando novas oportunidades de trabalho e

divulgando a importância do Suporte Biofísico e de sua Biodiversidade. Resolvemos criar moradias temporárias, para que os cooperados

pudessem aprender a cuidar da rede usinas limpas a serem instaladas na região, e também a gerenciar a Cooperativa. Problema do

desenvolvimento econômico, e também no comprador da energia excedente produzida pela cooperativa? O Distrito Industrial.

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Porém o arquiteto Keneth Frampton, em “Historia Crítica da Arquitetura Moderna”, que a boa arquitetura depende do cliente; do

arquiteto; dos investimentos; mão de obra; e da indústria. Visto que o neo racionalismo, esquemático e sem detalhe não convence é sem alcance.

O território da antiga Fazenda São Roque, abriga possibilidades de criar espaços de sociabilidade com suas comunidades, projetados para buscar

formas de estabelecer portais de interface com diferentes dimensões presentes no lugar:

Academia = MST = Ciências Sociedade

Indústria = Economia

Estado = Políticas Públicas

BASE = Suporte Biofísico (representado por dados naturais significativos)

Interfaces de Razão Comunicativa

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ZONEAMENTO (Ver mapas cap. 3, p. 95)

I. Área de Proteção Permanente Urbanas – Mata. II. Área de Proteção Permanente Urbanas – Mata a ser recuperada.

III. Produção Agro-floresta Sucessional – Mata com dinâmica de clareiras e Manejo. IV. Produção Agro-floresta Sucessional – para recuperação da mata reconstituída a partir de capoeira. V. Produção Agro-floresta Sucessional – para recuperação da mata reconstituída a partir de campo.

VI. Produção Pecuária. VII. Energia Termo elétrica abastecida por biodigestor;

VIII. Industrial. IX. Estoque e Expedição, áreas de apoio para produções agrícola e pecuária. X. Armazém.

XI. Produção Artesanal. XII. Comércio.

XIII. Turismo – Pousada; albergue; hotel; e SPA terapêutico. XIV. Serviços Saúde – Posto de Saúde; Centro Pioneiro; Aldeia da Esperança. XV. Serviços Diversos.

XVI. APAC – Associação de Proteção Carcerária. XVII. Penitenciária.

XVIII. Semi-Aberto. XIX. Parque de várzea. XX. Educação – Infantil; Fundamental; Médio; Adulto.

XXI. Moradia – com diferentes tipologias: vilas, edifícios e lotes individuais.

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XXII. Praça de Sociabilidade. – Lazer; Parquinho; Lan Houses; Esporte.

SISTEMA DE AGRO FLORESTA SUCESSIONAL, COM DINÂMICA DE CLAREIRAS (SOUZA, 2008).

1. Sementes. 2. Primeiro estágio, produzindo. 3. Segundo estágio, produzindo.

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4. Terceiro estágio, produzindo. 5. Quarto estágio, produzindo. Mata recuperada e produzindo.

PROGRAMA DA APA “ODETTE ROCHA”

a. Produção – Manejo Sustentável de Agro-floresta Sucessional – dinâmica de clareiras para recuperação da área passível de

reconstituição da mata. Constitui o cultivo da agricultura baseada na dinâmica ecológica do ecossistema original do lugar18. O

manejo sustentável e dinâmica de clareiras19, são formas de produção agrícola alicerçadas na estrutura e dinâmica das florestas

18 GOTSCH, 1995. 19 SOUZA, Lisandro Inakake de, 2008.

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naturais e combinação de espécies vegetais nativas aptas que produzem bens e serviços ao ser humano e ao Sistema Florestal,

com o cultivo de espécies que não empobrecem o solo, pois as florestas naturais não perdem, mantém ou aumentam sua

fertilidade. Essa lógica contrapõe a lógica da agricultura, em que a terra era cultivada até que se tornasse improdutiva.

b. Produção Pecuária –– aves (produção orgânica, sem as técnicas industriais que criam frangos com injeção de hormônios para a

aceleração do seu crescimento); suínos (produção otimizada, visando sua venda, assim como a utilização de suas fezes para

alimentar biodigestores); coelhos (produção orgânica); cachorros (para tratamento e auxílio aos doentes mentais e deficientes

físicos); peixes (nos lagos existentes, para sociabilidade dos moradores no Parque de Várzea).

c. Comércio – açougue, mercearia, padaria, etc.;

d. Produção Industrial – nos lotes industriais do Distrito Industrial a ser implantado em área já determinada para este fim (produção

visando agregar valor a produção agropecuária da APA “Odette Rocha”;

e. Produção de energia limpa – Biodigestor, energia solar; parque Eólico, hélices e transformadores; salas de controle; parque de

exposições; usina Termoelétrica: Centro de triagem para reciclagem; aterro Sanitário (tratamento de chorume e canalização do

metano produzido); biodigestores; transformadores; e sala de controle.

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f. Serviços – pintor; pedreiro; eletricista; advogado; etc. Cursos profissionalizantes: oficinas Profissionalizantes; laboratórios; salas

de Aula; biblioteca; especialização – IPT e Pesquisas Científicas na área de energia limpa; salas de Aula; biblioteca; laboratórios;

sala de conferência.

g. Turismo: Spa, Chalés, Albergue, Infra-estrutura de exploração da mata para Eco-turismo, Hotel.

h. Logística; armazenamento da produção local e sua distribuição.

i. Institucional – educação: Escola e Creche de crianças e idosos; salas de aula para as crianças; áreas de convivência coletiva; salas

de recreação coletiva; parque infantil; brinquedoteca; fundamental; salas de Aula; parque infantil; brinquedoteca; biblioteca.

Saúde. Segurança. Áreas de lazer e convívio; piscinas; quadras poli esportivas; quadras de Futebol; vestiários; lanchonete /

Restaurante; ciclovia e via de pedestre, caminho arborizado e pavimentado com pouca declividade

j. Culto – Afro; Judaico; Cristão; Mulçumanos; e Orientais. Três ou mais espaços, para evitar o conflito, um local comum.

k. Parque de várzea: praça de reuniões dos cooperados; tesouraria; restaurante / Café; cinema; diretoria; secretaria; biblioteca;

museu da energia; estacionamento

l. Oficinas – artesanato, horta, granja, ovinos, suínos, etc.;

m. Moradia - Vila terapêutica, vilas rurais, edifícios multi- familiares e lotes individuais. Podem ser temporárias: praças de

convivência; parquinho; estacionamento; unidades habitacionais tipologias diferentes, para os diferentes tipos de modo de vida.

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Outras poderiam um caráter mais coletivo, baseada na intenção de dividir o espaço e o instrumental, para ajuda muutua. As

dimensões destes espaços devem ser mais generosas que as praticadas pelo mercado na Região Metropolitana.

Tanta conceituação formou a base conceitual do Projeto da APA “ODETTE ROCHA”. Entendemos que o sonho somente se tornaria

realidade, se nossa Sociedade iniciar o Processo de transformação, através da Educação Solidária e Cidadã no processo de formação de Plenos

Cidadãos do futuro, através da utilização do instrumento Processo de Projeto Participativo. Para tanto os moradores do local devem ter tempo

para participarem de reuniões sobre a discussão do futuro dos Espaços Públicos e Coletivos Urbanos. Além da necessidade da existência de

Espaço de Sociabilidade com Presente, Passado e Futuro.

Este situa-se na área destinada a sede da Associação de Proteção Carcerária, onde existe um edifício em terreno abandonado, que

pertence agora a Prefeitura de Franco da Rocha. A APAC pode abrigar as reuniões do seu Conselho Gestor, além de dar suporte para os

familiares dos preso nos períodos de visitação. Nos outros horários, pode ser palco das reuniões em que se discutira o destino do território

controlado pelo MST: O Escritório Público de Projetos de Franco da Rocha.

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No Espaço Concreto a Praça é a síntese do Lugar, nele se discute limites e possibilidades do desenho do Espaço Livre Publico. “Os

lugares desenham as ações na esfera pública mais que os desenhos dos arquitetos urbanistas.” Na praça as pessoas se encontram e

principalmente podem se relacionar e conhecer os atores, agentes e objetos da estrutura do Prático Inerte. É no local em que o usuário pode dar

significado as coisas através do uso, o que existe também no projeto. O lugar é relacional e concreto.

É preciso distinguir significado de mensagem, o meio é mensagem, não instrumento. Ele representa alguma coisa que possui significado.

A formação da consciência do “eu” se forma no processo de aquisição da linguagem. A praça pode representar um signo se o usuário possuir a

capacidade de decodificação de signos numa sintaxe. E assim como na linguagem escrita, pode-se deixar um legado para as futuras gerações,

através da Arquitetura.

“A cidade é um produto social, e é preciso começar pelo estudo de seu processo de produção, para tanto é preciso ultrapassar sua

representação neoclássica como conjunto de mercadorias independentes da ação planejadora. Tem-se que analisar ao mesmo tempo a

acumulação do capital nas produções urbanas e o papel das políticas públicas neste processo.”

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Christian Topolov, setembro, 198720.

Como sabemos, as áreas existentes em topos de morros; as matas ciliares; e as áreas com declividade acima de 45%, são APPs Urbanas.

Portanto os topos foram destinados as atividades de encontro como lazer e esporte. As áreas com maior declividade, foram destinadas a

composição do mosaico das matas.

As atividades econômicas desenvolvidas pelos grupos, foram determinadas pela proximidade com as atividades relacionadas a elas.

Dessa forma as oficinas, equipamentos e áreas de moradia, foram locadas nas bordas das Rodovias, e próximas as divisas do território. A gema

da APA fica mais protegida deste modo.

20 Seminário “La investigación urbana en América Latina: caminos recorridos y por recorrer, Centro de Investigaciones CIUDAD, Quito, Ecuador. APUD: Espaços & Debates no 23, 1988.