CAPA Eficácia de um sistema de inovação depende de...

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discurso da inovação tec- nológica começa a sair do âmbito das legisla- ções, das formas de finan- ciamento e das metodo- logias para mensurar a capacidade ino- vativa das empresas, e atinge um pon- to nevrálgico: a formação de recursos humanos. Agora, a demanda por pro- fissionais qualificados em todos os níveis — de cientistas e engenheiros, a C A P A por Sabine Righetti Eficácia de um sistema de inovação depende de profissionais altamente qualificados técnicos e pessoal de apoio — é o gar- galo mais identificado na instalação de um verdadeiro ambiente de pesquisa e desenvolvimento nas empresas. Em números gerais, o país vai bem: forma anualmente 10 mil doutores e 35 mil mestres, capacitados nos mais de 2 mil programas de pós-graduação vigentes, a maioria mantidos por verbas oficiais. Mas, nos corredores, as empresas recla- mam a falta de profissionais aptos às ESPECIALISTAS IDENTIFICAM A NECESSIDADE DE FORMULAR UMA AGENDA NACIONAL PARA INTENSIFICAR O INVESTIMENTO EM RECURSOS HUMANOS VOLTADOS À PESQUISA, PRINCIPALMENTE NO SETOR PRIVADO O suas necessidades tecnológicas, e a aca- demia se ressente da não absorção pelo setor privado dos doutores recém-for- mados. Para os especialistas, é preci- so focar em políticas de formação de pesquisadores, ajustados às carências de inovações tecnológicas do mercado. Apesar do crescimento no núme- ro de programas, há problemas no tipo de aperfeiçoamento dos recursos humanos. Um dos aspectos principais 32

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discurso da inovação tec-nológica começa a sairdo âmbito das legisla-ções, das formas de finan-ciamento e das metodo-

logias para mensurar a capacidade ino-vativa das empresas, e atinge um pon-to nevrálgico: a formação de recursoshumanos. Agora, a demanda por pro-fissionais qualificados em todos osníveis — de cientistas e engenheiros, a

C A P A

por Sabine Righetti

Eficácia de um sistema de

inovação depende de profissionais

altamente qualificados

técnicos e pessoal de apoio — é o gar-galo mais identificado na instalação deum verdadeiro ambiente de pesquisa edesenvolvimento nas empresas. Emnúmeros gerais, o país vai bem: formaanualmente 10 mil doutores e 35 milmestres, capacitados nos mais de 2 milprogramas de pós-graduação vigentes,a maioria mantidos por verbas oficiais.Mas, nos corredores, as empresas recla-mam a falta de profissionais aptos às

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ESPECIALISTAS IDENTIFICAM A NECESSIDADE DE FORMULAR UMA AGENDA NACIONAL PARA INTENSIFICAR O INVESTIMENTO

EM RECURSOS HUMANOS VOLTADOS À PESQUISA, PRINCIPALMENTE NO SETOR PRIVADO

Osuas necessidades tecnológicas, e a aca-demia se ressente da não absorção pelosetor privado dos doutores recém-for-mados. Para os especialistas, é preci-so focar em políticas de formação depesquisadores, ajustados às carênciasde inovações tecnológicas do mercado.

Apesar do crescimento no núme-ro de programas, há problemas no tipode aperfeiçoamento dos recursoshumanos. Um dos aspectos principais

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é o perfil dessa formação: cerca de70% dos doutores formados no paísestão na área das humanidades, pro-fissionais dificilmente absorvidosdiretamente no setor produtivo pri-vado. De acordo com dados do IBGE,coletados na Pesquisa de InovaçãoTecnológica (Pintec) de 2003, do totaldo pessoal ocupado em pesquisa,desenvolvimento e inovação (P,D&I)no Brasil, 31,9% eram de nível médio;

48,5% tinham nível de graduação; eapenas 8,1% tinham nível superiornaquele ano.

Na opinião de Guilherme AriPlonski, do Núcleo de Política e GestãoTecnológica (PGT) da Universidade deSão Paulo (USP), a absorção de douto-res não originários das áreas de enge-nharia e de exatas nos setores é possí-vel fora da concepção clássica do queseja o setor industrial. "Nas indústrias

criativas, por exemplo, há inovação emsegmentos que também precisam deoutros tipos de doutores". Plosnki exem-plifica com o desenvolvimento de soft-ware, onde é preciso profissionais qua-lificados em diversas áreas do conhe-cimento, como linguística, comunica-ção e computação.

Plonski coordena trabalho sobrerecursos humanos para ciência e tecno-logia em um dos comitês temáticos da

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Natura: programa leva pesquisadores de universidades

para trabalhar dentro da empresa

Divulgação

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que a política de formação de pesqui-sadores seja uma componente da polí-tica de inovação. "O que existe atual-mente é um sistema de formação depesquisadores que não privilegia áreasdo conhecimento e que responde a cri-térios estritamente acadêmicos"

A receita para formar recursoshumanos altamente qualificados sebaseia principalmente no investimen-to para que mais jovens tenham aces-so à educação superior, na criação deprogramas de pós-graduação de quali-dade e no estímulo de um ambientefavorável à pesquisa, tanto públicaquanto privada, por exemplo, com auxí-lios (bolsas) atrativos.

A receita funciona bem em paísescomo Estados Unidos e europeus. Já noBrasil, o cenário não é o mesmo. Há umevidente descompasso entre o númerocrescente de titulados em pós-gradua-ção e sua absorção pelo setor privado.Segundo dados do IBGE, aproximada-mente 70% da pesquisa nacional estáconcentrada no setor público. Nos EUAesse perfil é inverso: são 70% no setorprivado e quase 20% no setor público.O padrão europeu acompanha essa ten-dência: países como a Alemanha, porexemplo, tem cerca de 65% da pesqui-sa no setor privado, 18% no setor públi-co e 15% nos institutos públicos. "Issonão ocorre no Brasil porque os víncu-los com o setor produtivo ainda são fra-cos", considera Léa Velho.

Para Marco Antonio Zago, presiden-te do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), o impulsionadorprincipal na política de aumento dacontratação de pesquisadores pelo setorprivado deve ser o governo. Nesse sen-tido, é necessária a criação e articula-

O Instituto Israelita deEnsino e Pesquisa do

Hospital Albert Einsteinreúne profissionais paradesenvolver pesquisas em áreas estratégicas

Associação Nacional de Pesquisa,Desenvolvimento e Engenharia dasEmpresas Inovadoras (Anpei), o quedemonstra que a temática já ganhouatenção inclusive nas entidades de clas-se. Em estudo apresentado na reuniãoanual da Anpei, em junho, em Salvador(BA), foram identificadas alguns pro-blemas no quesito recursos humanospara P&D no país, dentre elas: garga-los na parceria entre centros de pesqui-sa, desenvolvimento, inovação e uni-versidades; falta de treinamento espe-cífico para P,D&I; e necessidade da defi-nição de um percurso de carreira espe-cial ao profissional que trabalha empesquisa e desenvolvimento (o que podedesestimular o trabalho em pesquisa).Para ele, a necessidade de formação deuma agenda nacional voltada para RHé clara.

SEM PARTIR DO ZEROA idéia, de acordo com os especialis-

tas, é articular os movimentos que jáexistem na agenda política atual paraconstruir uma política forte. Entre osmovimentos atuais estão as novas legis-lações, como a Lei de Inovação, de 2004,que possibilita um ressarcimento deaproximadamente 40% dos encargossociais de um doutor contratado poruma empresa — o que acaba funcionan-do como um desconto nos impostos —e a Lei do Bem, de 2005, que concedebenefícios fiscais principalmente nosetor de software.

Plonski lembra ainda que o gover-no tem feito um excelente papel emgerar pessoas qualificadas. Mas, comolembra a pesquisadora Léa Strin Velho,do Departamento de Política Científicae Tecnológica (DPCT) do Instituto deGeociências da Unicamp, é necessário

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ção de mais programas como o RHAE-Inovação, inicialmente criado noMinistério da Ciência e Tecnologia, hádez anos sob a coordenação do CNPq.O programa absorve 12% dos recursosdo CNPq e tem como objetivo oferecerbolsas de estudo para treinar pesqui-sadores, engenheiros e técnicos de nívelmédio qualificados a desenvolver pro-jetos em empresas e realizar pesquisaestratégica em universidades. No últi-mo edital de 2006, foram aprovados 41projetos para uma demanda bruta decerca de 500 propostas.

"A criação do RHAE representou oreconhecimento pelo Sistema Nacionalde C&T da necessidade de implemen-tação de mecanismos voltados para acapacitação tecnológica de recursoshumanos em apoio ao desenvolvimen-to tecnológico", explica. Para submeterum projeto, é preciso que a empresaindique que o bolsista possa ser incor-porado à empresa ao término da bolsa.

Para Zago, o problema está na con-solidação da pesquisa no Brasil, quenasceu e se fortaleceu nas universida-des e alguns institutos, enquanto o setorprivado ficou em segundo plano. "O paíssempre foi carente de políticas que esti-mulassem e subsidiassem o desenvol-vimento de pesquisa nas indústrias eempresas", afirma. De acordo com osespecialistas, a demanda crescente porprofissionais qualificados no setor pri-vado, que absorve atualmente cerca de20% da pesquisa nacional, deve ser cres-cente nos próximos anos.

AÇÕES NA INICIATIVA PRIVADAAlgumas empresas têm tomado ini-

ciativas particulares no sentido de atrairpesquisa e de se aproximar das univer-sidades. É o caso da Petrobras, que

apoiou a criação do Centro de Estudosdo Petróleo (Cepetro) na Unicamp.Atuando há 20 anos, o Cepetro tem hojeum programa de mestrado e doutora-do em ciências e engenharia petróleo,além de cursos de extensão de enge-nharia do gás natural e regulação nosetor de petróleo. "A Petrobras é umagrande empresa hoje por causa dos seusrecursos humanos", avalia Plonski, doPGT-USP, para quem a iniciativa daempresa no sentido de capacitar seusprofissionais tem dado certo.

Seguindo outra estratégia, a empre-sa de cosméticos Natura busca, pormeio do programa Natura Campus, atin-gir a meta de que 50% de seus projetossejam realizados em parceria com uni-versidades. O programa surgiu em 2003na forma de um edital lançado junto àFundação de Amparo à Pesquisa doEstado de São Paulo (Fapesp), dentrodo programa Parceria para InovaçãoTecnológica (Pite). Em uma das moda-lidades do programa, denominadoVivência Empresarial, o estudante depós-graduação realiza sua pesquisa emparceria com a Natura, de modo quetenha contato com o dia-a-dia de umdepartamento de P&D empresarial.

Para Sonia Tuccori, gerente deredes da Natura, as universidades,assim como as empresas, estão apren-dendo a trabalhar em parceria. "Trata-se de um processo ainda não comple-tamente maduro no Brasil. A recepti-vidade tem sido boa, mas claro queuma iniciativa pioneira como estagera dúvidas e questionamentos, quevamos esclarecendo aos poucos", con-clui. A Natura tem hoje 230 pesquisa-dores, sendo 51% deles com pós-gra-duação. A meta é chegar a 350 pes-quisadores em 2010.

C A P A

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Assim como a Natura, outrasempresas também têm apostado emparcerias com universidades. É o casoda Santista Têxtil, que trabalha emconjunto com a USP de São Carlosdesde 2005 para a produção de adi-tivos nanoestruturados para melho-rar produtos da indústria de tecidos— por exemplo eliminando a neces-sidade de passar a roupa ou conten-do produtos antialérgicos ou anti-bacterianos.

A parceria da Santista Têxtil coma USP de São Carlos também contoucom apoio governamental: ela seguenormas do Edital de FomentoTecnológico do CNPq e prevê, do totalinvestido em dois anos, aproximada-mente 2/3 do valor em bolsas do CNPqe 1/3 em recursos da empresa. A coor-denação desse trabalho é do profes-sor do Instituto de Física de SãoCarlos (IFSC) da USP, Osvaldo Novaisde Oliveira Junior. O Grupo dePolímeros do IFSC pesquisa mate-riais para os aditivos e a interaçãocom as fibras dos tecidos, e o traba-lho também envolve diretamente fun-cionários da Santista Têxtil.

Para o gerente de desenvolvimen-to da Santista, Rogério Segura, a par-ceria é positiva porque possibilita ocontato com os recursos humanos emateriais disponíveis nas universi-dades e institutos. "Isso nos possi-bilita adquirir conhecimento exter-no e aplicá-los em nossos produtos",afirma.

O setor químico, onde se inseremNatura e Santista, concentra a maiorquantidade de recursos humanos qua-lificados. De acordo com dados do pro-jeto Índice Brasil de Inovação (IBI),dentre as empresas declaradas ino-

vadoras para a Pintec-2003, os seto-res da indústria de transformação quemais empregam doutores em ativida-des de P&D são o químico (217 douto-res), o de produção e refino de petró-leo (86) e o de máquinas e equipamen-tos para informática (66). Os três seto-res também lideram o número de mes-tres e de graduados. O IBI é um traba-lho realizado pela Unicamp, com apoioda Fapesp, cuja iniciativa editorial éda revista Inovação Uniemp. No IBI,o quesito recursos humanos é um dosquinze indicadores usados para cál-culo da capacidade inovativa dasempresas.

PROJETO DETECTA FALHASA escassez de mão-de-obra quali-

ficada, tanto em qualidade quanto em

quantidade, tem sido bastante desta-cada no setor privado. Foi esse o cená-rio que um grupo de pesquisadoresda Unicamp, USP de Ribeirão Preto,Unesp de Araraquara e da PUC-MGencontrou em um projeto, realizadoentre 2005 e 2007, com o objetivo desinalizar os principais entraves à atra-ção de filiais de empresas ao Brasil.Os resultados, divulgados em agosto,revelam que 81,7% das empresas con-sultadas consideram que mão-de-obraqualificada será um fator crítico oumuito importante nos próximos 5anos. Nessa parte da pesquisa, foramconsultadas 88 empresas instaladasno país.

Em outra frente do mesmo proje-to, realizado por meio de entrevistaspessoais em 47 empresas, o proble-

Marco A. Zago,presidente doCnpq: política

oficial de bolsaspara estimular acontratação depesquisadoresnas empresas

Eliane Discacciati/C

NPq

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ma da escassez de profissionais qua-lificados em quantidade foi destaca-do por 58,7% das empresas. A faltamão-de-obra de qualidade foi aponta-da por um número menor de empre-sas: 34,8%.

De acordo com Simone Galina, pro-fessora da Faculdade de Economia eAdministração da USP de RibeirãoPreto, que integra o trabalho, quando setrata de mão-de-obra qualificada, oBrasil tem cada vez mais competidocom países desenvolvidos e menos comos países do BRICs — Rússia, Índia eChina, que têm mão-de-obra mais bara-ta e menos qualificada. "Os países desen-volvidos apresentam mão-de-obra comqualidade bastante próxima da brasi-leira, mas com custos muito superio-res", conclui Galina. Para a pesquisa-

dora, a mão-de-obra é a linha mestranos fatores de atração de investimen-to direto externo para pesquisa e desen-volvimento no Brasil.

Também na Pintec 2003, a falta depessoal qualificado apareceu entre osquatro principais obstáculos à inova-ção no país. Para 47,5% das empresasconsultadas na pesquisa, a carência deRH foi considerado um problema signi-ficativo, junto com elevados custos parainovar, riscos e falta de fontes de finan-ciamento.

A possível escassez de profissionaisem alguns setores já está causando"importação de cérebros". Segundo oConselho Federal de Engenharia(Confea), que concede autorização paraengenheiros estrangeiros exercerem aprofissão no Brasil. Os pedidos de auto-

rização passaram de 34, em 2005, para79 no ano passado, o que representaum crescimento de 132%. Já o númerode concessões passou de 19 para 37,com elevação de 94%. A maior carên-cia de profissionais, de acordo com oConfea, é nas áreas de siderurgia e petro-química.

"Não se prepara pessoas para tra-balhar em inovação de um dia para ooutro", afirma Plonski. "Em quasenenhum lugar do mundo há pessoasprontas. Não dá para ficar sentadoesperando que as universidades for-mem os doutores que as empresas pre-cisam", conclui. Ou, quem sabe, aindaseja preciso aplicar uma receita nova:"talvez nós tenhamos que entendermelhor o que está acontecendo", con-clui Léa Velho.

RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE

A área de saúde costuma ser destaque nos países desenvolvi-dos no quesito absorção de mão-de-obra qualificada pelas empre-sas de biotecnologia, fármacos, química, agrícola, alimentos, entreoutras. O mesmo não ocorre no Brasil, onde os profissionais da áreaencontram pouco espaço para trabalhar com P&D no setor priva-do. "Faltam políticas governamentais fortes para estimular a pes-quisa nas empresas", avalia Márcio José de Almeida, coordenadordo Grupo de Estudos de Desenvolvimento de RH em Saúde, daUniversidade Estadual de Londrina (UEL). Para ele, o setor priva-do no Brasil está longe de absorver os profissionais que se for-mam em saúde e muitos deles acabam encontrando espaço noexterior.

Almeida destaca que, no Brasil, a P&D em saúde tem se con-centrado principalmente no setor público, em institutos de exce-lência como o Butantan (São Paulo) e o Farmanguinhos (Rio deJaneiro). Fora eles, alguns hospitais buscam a excelência em seusserviços e demonstram interesse em criar um ambiente de P&D.Para os hospitais públicos, há incentivo: o governo implementouem 2006 a Rede Nacional de Pesquisa em Hospitais de Ensino, com

recursos da ordem de R$ 34 milhões. O objetivo é garantir a infra-estrutura para o desenvolvimento de pesquisas clínicas em temasque priorizem as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS).

Nos hospitais particulares, há um movimento de estimular opesquisador a atuar nesse mercado de trabalho. Muitos hospitaisda rede privada têm criado seus institutos, amparados por recur-sos de fundações mantenedoras do próprio hospital, para fazerP&D. É onde o pesquisador encontra espaço. É o caso do hospitalpaulistano Albert Einstein, que criou em 1998 o Instituto Israelitade Ensino e Pesquisa (IIEP) para desenvolver pesquisas em áreasconsideradas estratégicas, como neurologia, cardiologia, oncolo-gia e transplantes.

O IIEP hoje reúne 150 profissionais contratados, 50 profissio-nais com bolsa de estudos e conta com 250 projetos de pesquisaem andamento, financiados pelo Fundo de Pesquisa, doações eórgãos de fomento como a Fapesp e o CNPq. O IIEP mantém-se,também, por meio de parcerias com universidades públicas e pri-vadas brasileiras, com outros hospitais nacionais e com universi-dades norte-americanas e israelenses.

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